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OS PRINCÍPIOS DO PROCESSO
CONSTITUCIONAL1

Manoel Gonçalves Ferreira Filho2

1 INTRODUÇÃO

Vista do ângulo brasileiro, a identificação dos


princípios do processo constitucional oferece várias
dificuldades.
Umas são de caráter conceitual. Com efeito, a
expressão processo constitucional não é empregada entre nós
no mesmo sentido que toma em Portugal e nos Estados

1
Este trabalho resulta de uma conferência proferida em Lisboa, na
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, em janeiro de 2006.
Por isso, enfatiza uma comparação entre o pensamento brasileiro e o
português a propósito da questão.
2
Professor Titular (Aposentado) de Direito Constitucional da
Faculdade de Direito da USP. Doutor honoris causa da Universidade
de Lisboa. Doutor pela Universidade de Paris. Ex professor visitante
da Faculdade de Direito de Aix-em-Provence (França). Membro da
Academia Brasileira de Letras Jurídicas. Presidente do Instituto
“Pimenta Bueno” – Associação Brasileira dos Constitucionalistas.

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europeus. Acrescente-se, também, que não há um consenso a


respeito da classificação dos princípios do processo
constitucional, portanto, acerca de suas diferentes espécies.
Por outro lado, o sistema brasileiro de controle de
constitucionalidade combina, melhor dizendo, justapõe à
fiscalização difusa, concreta, a fiscalização concentrada,
abstrata. Ora, isto impõe um exame mais detido, pois, os
princípios relativos a um sistema não podem ser atribuídos,
sem exame, à outra, ou a todo o processo constitucional.
Enfim, a Constituição de 1988 não somente é fértil
no enumerar princípios, mas também o faz com referência à
atividade judicial. E, mais, consagra tais princípios como
direitos fundamentais, direitos de garantia, o que lhes
acrescenta uma dimensão peculiar.
Por tudo isto, este trabalho, focado no direito
brasileiro, procurará, numa primeira parte, fixar o processo
constitucional nos seus traços básicos, para, depois, numa
segunda, enfrentar a tarefa de análise de seus princípios
maiores, sempre tendo em mira o direito brasileiro.

2 DO PROCESSO CONSTITUCIONAL: a diversidade das


acepções

2.1 POLISSEMIA DA EXPRESSÃO.

Comece-se com uma citação de Zagrebelsky: “A


fórmula processo constitucional não alude a um objeto

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unitário” (ENCICLOPÉDIA, 1987)

2.2 ORIGEM E SENTIDO RESTRITO

A expressão processo constitucional originou-se na


doutrina européia, tendo em vista a especificidade da
jurisdição constitucional, isto é, a fiscalização constitucional
de modelo concentrado. Foi cunhada para designar, num
sentido restrito, as normas processuais que regem a
fiscalização de constitucionalidade, nesse modelo.
Ora, este processo constitucional, em sentido restrito,
contém normas que não pertencem ao processo comum. Trata-
se, pois, de um processo autônomo.
Tem ele, ademais, uma finalidade precípua: é a
“proteção da ordem constitucional, objetivamente
considerada”. Trata-se, pois, de um processo objetivo.

2.3 O SENTIDO AMPLO

A expressão processo constitucional, todavia, passou

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a ser empregada, mais recentemente, fora de seu ambiente


originário. Isto se deveu à influência e ao prestígio da doutrina
européia. Passou a designar, também, as normas regentes do
controle de constitucionalidade no modelo difuso, concreto.
Isto levou ao emprego genérico da expressão
processo constitucional, como designativa das normas da
fiscalização de inconstitucionalidade, tanto no caso do
processo autônomo, como no caso do processo não autônomo,
quer em face do processo objetivo, quer em face do processo
subjetivo.
Com efeito, no sistema difuso, o processo não é
autônomo. As normas processuais aplicáveis ao controle de
constitucionalidade são normas comuns do processo comum,
previstas para que, no curso deste, se faça o crivo.
Nem é objetivo, mas sim subjetivo. Visa à tutela dos
interesses juridicamente protegidos, dos direitos subjetivos do
cidadão, aqui incluídos os direitos fundamentais.

2.4 A EXPANSÃO DOS SISTEMAS MISTOS.

Hoje são muitos os Estados, em que, no tocante ao


controle de constitucionalidade, se combinam, ou se

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justapõem, o sistema difuso e o sistema concentrado. É o caso


do Brasil – mais de justaposição; de Portugal, que mais parece
de real combinação. Está aí uma forte razão para o emprego
genérico da expressão processo constitucional.
É certo que tais sistemas mistos variam de lugar para
lugar, sendo muito difícil reduzi-los a um padrão único.
No caso português, o processo constitucional guarda
autonomia, na medida em que é por ele, e não pelo processo
comum, que se dá a verificação de constitucionalidade
referente a questões concretas. Já não é este o caso brasileiro,
segundo se verá, onde, no controle, se seguem caminhos
diferentes para a fiscalização em concreto e para a fiscalização
em abstrato.

2.5 A CONVERGÊNCIA DOS SISTEMAS.

É verdade, como diversos juristas já apontam, estar


em curso uma convergência entre os dois sistemas que,
ordinariamente, se distinguem. E, obviamente, isto se
manifesta de modo claro no caso dos sistemas ditos “mistos”.
Entretanto, no momento atual, é exagero falar na

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“obsolescência”3 da distinção entre os dois modelos.


(SEGADO, 2005).
Razões há que justificam a persistência da distinção.
Uma está em que, no sistema praticado nos Estados Unidos –
o típico modelo difuso – inexiste controle abstrato, o que é
elemento essencial do sistema chamado de “europeu-
kelseniano”. Outra transparece da finalidade do controle.
Neste último sistema, o processo é objetivo, porque visa
principalmente à guarda da Constituição; no difuso, o processo
é subjetivo, já que se destina a garantir os direitos do
indivíduo.

2.6 PROCESSO CONSTITUCIONAL EM SENTIDO


AMPLÍSSIMO.

Vale apontar, enfim, que, no Brasil, a doutrina utiliza


a expressão num sentido amplíssimo.

3
Francisco Fernández Segado, “Controle de constitucionalidade e
justiça constitucional”, em Lições de Direito Constitucional em
homenagem ao jurista Celso Bastos, coordenado por André Ramos
Tavares, Gilmar Ferreira Mendes, Saraiva, São Paulo, 2005, p. 205,
cujo item primeiro tem por título “A obsolescência da bipolaridade

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É o que se depreende do livro Teoria Geral do


Processo de autoria de Cintra; Grinover; Dinarmarco (1991).
No seu apreciado manual, entendem que “o direito processual
constitucional abrange, de um lado, a) a tutela constitucional
dos princípios fundamentais da organização judiciária; b) de
outro, a jurisdição constitucional”. Quanto a esta última,
ensinam compreender “o controle de constitucionalidade das
leis e atos da administração, bem como a chamada jurisdição
constitucional das liberdades, com o uso dos remédios
constitucionais processuais – hábeas corpus, mandado de
segurança, mandado de injunção, hábeas data e ação popular.4
Não estão isolados. É o que faz também Baracho
(2004), que, de há muito, estuda o assunto.5

2.7 PROCESSO CONSTITUCIONAL E JUSTIÇA


CONSTITUCIONAL.

Vale concluir, com Zagrebelsky ainda, que a

tradicional (modelo americano – modelo europeu-kelseniano) dos


sistemas de justiça constitucional”, p. 366.
4
Teoria Geral do Processo, várias edições. Cito na 8ª, Revista dos
Tribunais, São Paulo, 1991, p. 76.
5
Processo constitucional, s/ editor, Belo Horizonte, 1981 tese de
concurso para professor titular da Universidade Federal de Belo
Horizonte. Mais recentemente voltou ao tema, no estudo “Teoria
geral do processo constitucional”, em Revista Brasileira de Estudos

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referência, atualmente generalizada, a processo constitucional


obedece a uma razão política de alto relevo. Assinala o Mestre
italiano:

Sublinhar ... o caráter jurisdicional das


formas da justiça constitucional é
...aludir, ao menos genericamente, a um
modo específico de conceber a própria
função de justiça constitucional, como
função qualitativamente diferenciada
daquela dos órgãos constitucionais
estritamente políticos e, portanto, como
função que, se se quiser dizer política
(como certamente o é num sentido
particular), deve, todavia, ao menos ser
distinguida daquela que reside noutros
órgãos operando de forma
absolutamente diversa.
(ENCICLOPEDIA DEL DIRITTO,
1987)6

3 OS PRINCÍPIO DO PROCESSO CONSTITUCIONAL

3.1 OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS EM GERAL

3.1.1 A proposta de Canotilho

Não há, como já se disse, na doutrina uma

Políticos, vol. 90, julho/dezembro de 2004, Belo Horizonte,


Universidade Federal de Minas Gerais, p. 69 e s.

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classificação, nem mesmo uma tipologia, unanimemente


adotada acerca dos princípios constitucionais.
Canotilho [199-?], por exemplo, ao tratar da
articulação de princípios e regras na Constituição, distingue,
no ápice, princípios estruturantes, logo abaixo, princípios
gerais, em seguida, princípios especiais, e, ao rez do chão,
regras constitucionais.7
Princípios estruturantes são “constitutivos e
indicativos das idéias diretivas básicas de toda a ordem
constitucional. São, por assim dizer, as traves-mestras
jurídico-constitucionais do estatuto jurídico do político”8
(CANOTILHO, [199-?], p. 1047)
Estes princípios estruturantes se densificariam por
meio de princípios constitucionais fundamentais, que, por sua
vez, podem concretizar-se por meio de princípios
constitucionais especiais, e, ou, por regras constitucionais.

3.2 OS PRINCÍPIOS DO PROCESSO CONSTITUCIONAL

6
Id. loc. cit.
7
J.J. Gomes Canotilho, Direito Constitucional e Teoria da
Constituição, Coimbra, Almedina, 2ª ed., p. 1.047 e s.
8
Seriam, no caso português, os princípios do Estado de Direito, o
princípio democrático e o princípio republicano. Ob. cit., p. 1.047.

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PORTUGUÊS

3.2.1. A lição de Jorge Miranda.

Ao tratar do processo constitucional, oferece o


Mestre da Universidade de Lisboa uma distinção clara e
importante.
O Mestre de Lisboa, (MIRANDA, 2005) aponta que,
além de “princípios comuns a todas as formas de processo”,
outros há específicos, decorrentes da “função de garantia” e da
“estrutura do órgão” fiscalizador.9
Indo mais fundo, distingue entre princípios
“estruturantes” e princípios “instrumentais”, que são “todos
reconduzíveis à idéia-força de processo eqüitativo (art. 20º, nº
4º, 2ª parte da Constituição e art. 6º da Convenção Européia
dos Direitos do Homem”).
São princípios estruturantes: 1) O princípio da
igualdade dos intervenientes processuais; 2) O do
contraditório; 3) O da legalidade dos atos do processo; 4) O da

9
Manual de Direito Constitucional, tomo VI, Inconstitucionalidade
e garantia da Constituição, Coimbra Ed., Coimbra, 2ª ed., 2005, p.
61 e s.

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fundamentação das decisões que não sejam de mero


expediente.
São princípios instrumentais: 1) O princípio do
pedido; 2) O do conhecimento oficioso do Direito; 3) O da
utilidade da decisão; 4) O da economia processual; 5) O da
celeridade; 6) O do processo escrito; 7) O da subsidiariedade
do direito processual.

3.2.2 O entendimento de Canotilho.

Preocupando-se essencialmente com o aspecto


instrumental, Canotilho [199-?] ensina serem “princípios
gerais do direito processual constitucional10: 1) O princípio do
pedido; 2) O da instrução; 3) O da congruência ou da
adequação; 4) O princípio da individualização; 5) O princípio
do controlo material”.

3.3 OS PRINCÍPIOS DO PROCESSO CONSTITUCIONAL

10
Canotilho, ob. cit., p. 862 e s.

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NO DIREITO BRASILEIRO

3.3.1 A complexidade da questão

Sendo misto o sistema brasileiro de controle de


constitucionalidade, não parece haver identidade entre os
princípios que regem o processo constitucional autônomo e o
processo constitucional não autônomo.

3.3.1.1 O sistema difuso e seus princípios.

a) Perfil do sistema difuso.

Como é sabido, o direito brasileiro adotou, com a


República, o chamado modelo americano de controle de
constitucionalidade.
Vale apontar que isto decorreu de uma única norma
constitucional inscrita na Lei Magna de 1891. Tratava-se de
preceito arrolado na definição de competência do Supremo
Tribunal Federal para julgar um recurso extraordinário (art.
59, III, “b”). E, se se perquirir de sua fonte na Lei Magna em

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vigor, é esta o disposto no art. 102, III. Esta disposição atribui


ao Supremo Tribunal Federal competência para julgar o
recurso extraordinário. Verbis:

Julgar, mediante recurso extraordinário,


as causas decididas em única ou última
instância, quando a decisão recorrida:
a) contrariar dispositivo desta
Constituição;
b) declarar a inconstitucionalidade de
tratado ou lei federal;
c) julgar válida lei ou ato de governo
local contestado em face desta
Constituição.

Tal recurso era e é disciplinado e regulamentado pelo


Código de Processo Civil, ao qual completa o Regimento do
Supremo Tribunal Federal.
A única outra regra existente a este propósito é a que
exige a maioria absoluta do Tribunal para a decretação da
inconstitucionalidade, editada pela Constituição de 1934, hoje
no art. 97 da Lei Magna.

b) Ausência de autonomia.

Do apontado, resulta patente a inexistência de um


processo constitucional autônomo no sistema difuso brasileiro.

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Por isto, a doutrina entendeu, unanimemente no passado, estar


o processo de fiscalização de constitucionalidade integrado no
processo comum e sujeito aos mesmos princípios gerais.
Esta posição ainda hoje tem defensores, como
Baracho (2004).11 E isto bem se viu na polêmica travada a
propósito da instituição da ação declaratória de
12
constitucionalidade (TUCCI, 1994). Na verdade, tal se
explica pela prevalência do sistema difuso até há pouco,
quando da formação da tradição doutrinária.

c) Os princípios comuns.

São estes, segundo apontam os mestres, decorrentes


do “devido processo legal”.13 (CINTRA; GRINOVER;
DINARMARCO, 1991) Variam em número de autor para
autor, mas existe um consenso entre estes sobre alguns deles.

11
“Teoria geral do processo constitucional”, art. cit., passim, p. ex.,
p. 96.
12
Cf., por exemplo, José Rogério Cruz e Tucci, “Aspectos
processuais da denominada ação declaratória de
constitucionalidade”, em Ação declaratória de constitucionalidade,
livro coordenado por Ives Gandra da Silva Martins e Gilmar Ferreira
Mendes, Saraiva, São Paulo, 1994, p. 137 e s.

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Dentre tais princípios consensuais, destacam-se


como fundamentais: 1) o do contraditório; completado 2) pela
ampla defesa; 3) o do juiz “natural” (ou juiz pré-constituído);
completado 4) pela imparcialidade do juiz; 5) o da igualdade
processual – a par condicio - igualdade de meios.
Afora outros, também relevantes, mas instrumentais
ou ancilares, como o do 1) impulso oficial; 2) o da motivação
das decisões; 3) o da publicidade, 4) da celeridade, etc.
Na verdade, são eles adotados e respeitados pela
legislação que os regula no Brasil, a partir do lacônico perfil
constitucional.

3.3.1.2 O perfil do sistema concentrado.

a) A conformação do sistema concentrado.

O sistema concentrado insinuou-se no direito


brasileiro, por meio do acréscimo, feito pela Emenda nº 16/65,
de uma nova competência originária às do Supremo Tribunal
Federal, enunciadas no art. 101 da Constituição de 1946. Era

13
Cf., por todos, Teoria Geral do Processo, já citado, cap. 4, p. 51 e
s.

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esta nova competência a de processar e julgar: “k) a


representação contra inconstitucionalidade de lei ou ato de
natureza normativa, federal ou estadual, encaminhada pelo
Procurador Geral da República;”
Afora essa atribuição de competência ao Supremo
Tribunal Federal, nada se dispôs no plano constitucional ou na
legislação ordinária sobre essa “representação”. Apenas o
Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal é que cuidou
dela.
Tal situação não mudou na Constituição de 1967,
nem na sua reescritura de 1969.

b) A Constituição vigente.

A Constituição de 1988, na sua redação primitiva,


não foi muito além. Discriminou – é certo – os titulares da
legitimação para propô-la, alargando-a (art. 103) e previu a
inconstitucionalidade por omissão no mesmo artigo, § 2º,
definindo o seu alcance. Também, atribuiu ao Advogado-Geral
da União a tarefa de defender a constitucionalidade de ato
impugnado na ação direta (art. 103, § 3º}, bem como firmou a
exigência da manifestação do Procurador Geral da República

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nas ações de inconstitucionalidade (art. 103, § 1º).


A criação da ação declaratória de constitucionalidade
fez-se pela sua inclusão na competência originária do Supremo
Tribunal Federal (art. 102, I, “a”). É verdade que se
acrescentou que as decisões nesta ação produziriam “eficácia
contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais
órgãos do Poder Judiciário e ao Poder Executivo”.

3.3.1.3 O nascer de um processo constitucional autônomo.

a) O surgimento de normas autônomas de processo


constitucional.

O quadro veio a mudar com a Lei nº 9.868, de 10 de


novembro de 1999, que veio regulamentar as ações direta de
inconstitucionalidade e declaratória de constitucionalidade.
Nesta, veio a ser previsto um tratamento para o processo
constitucional, relativamente distinto do processo comum.
Estaria aí, embora incipiente, embrionário, um processo
constitucional autônomo.
A ela, como reforço, deve-se acrescentar a Lei nº

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9.882, de 3 de dezembro do mesmo ano. Esta, embora voltada


para a regulamentação da argüição de descumprimento de
preceito fundamental, reitera normas da Lei nº 9.868.
E, mais recentemente, a Emenda Constitucional nº
45/04 trouxe uma contribuição no mesmo sentido.

b) A regulamentação legal das ações direta de


inconstitucionalidade e declaratória de constitucionalidade.

A Lei nº 9.869/99, por um lado, procurou suprir


omissões da Constituição, como a não atribuição ao
Governador do Distrito Federal e à Câmara Legislativa
Distrital do poder de iniciar a ação de inconstitucionalidade;
por outro, ela inovou, estabelecendo regras específicas.
O pólo passivo da ação direta de
inconstitucionalidade é, por força do art. 103, § 3º da Lei
Magna, obrigatoriamente, ocupado pelo Advogado Geral da
União (que tem a obrigação de defender a constitucionalidade
do ato impugnado). A Lei em exame deu, todavia, ao autor do
ato questionado a oportunidade de oferecer “informações”
sobre o mesmo, o que evidentemente serve para justificá-lo
(art. 6º).

R. Trib. Reg. do Trabalho 13ª Região. João Pessoa. v. 14, n. 1, p. 16-48, 2006.
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Observe-se que, em relação ao pólo passivo na ação


declaratória de constitucionalidade, a Lei manteve-se em
silêncio. É de notar que a Constituição não o atribuiu a quem
quer que seja, visto não caber ao Advogado Geral da União
sustentar a inconstitucionalidade, mas apenas a
constitucionalidade do ato.
Quanto ao princípio da ampla defesa, evidentemente,
nada dispôs de modo direto. Entretanto, previu no art. 9º, § 1º
que:

Em caso de necessidade de
esclarecimento de matéria ou
circunstância de fato ou de notória
insuficiência das informações existentes
nos autos, poderá o relator requisitar
informações adicionais, designar perito
ou comissão de peritos para que emita
parecer sobre a questão, ou fixar data
para, em audiência pública, ouvir
depoimentos de pessoas com experiência
ou autoridade na matéria.

No tocante à decisão, introduziu uma regra formal, a


exigência de que a deliberação não poderia ser tomada sem a
presença de ao menos oito dos onze ministros (evidentemente
mantendo a exigência da maioria absoluta para a decretação da
inconstitucionalidade).
Consagrou, ainda quanto à decisão, as técnicas da

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“interpretação conforme a Constituição”, da “declaração


parcial da inconstitucionalidade sem redução de texto” que o
Supremo Tribunal Federal já praticava no seu dia a dia, mas
que não tinham reconhecimento formal (art. 28, parágrafo
único).
Admitiu a restrição material ou temporal dos efeitos
da declaração de inconstitucionalidade. Leia-se o art. 27:

Ao declarar a inconstitucionalidade de
lei ou ato normativo, e tendo em vista
razões de segurança jurídica ou de
excepcional interesse social, poderá o
Supremo Tribunal Federal, por maioria
de dois terços de seus membros,
restringir os efeitos daquela declaração
ou decidir que ela só tenha eficácia a
partir de seu trânsito em julgado ou de
outro momento que venha a ser fixado.

Enfim, estendeu às decisões na ação de


inconstitucionalidade a “eficácia contra todos e efeito
vinculante em relação aos órgãos do Poder Judiciário e à
Administração Pública federal, estadual e municipal” que a
Constituição, tal como vigia na época não admitia senão para
as ações declaratórias de constitucionalidade (art. 28,
parágrafo único).
As duas últimas disposições ensejaram forte
polêmica, argüindo parte da doutrina a sua

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inconstitucionalidade (TUCCI, 1994, p. 137).14

c) A regulamentação legal da argüição de descumprimento de


preceito fundamental decorrente da Constituição.

Veio esta com a Lei nº 9.882, de 3 de dezembro de


1999.
Embora esta ação vise a “evitar ou reparar lesão a
preceito fundamental, resultante de ato do Poder Público” (art.
1º), ela se inscreve de fato entre os instrumentos de controle
concentrado de constitucionalidade. Realmente, a lesão pode
ser a inconstitucionalidade do ato (como resulta do art. 1º,
parágrafo único, I), e, em conseqüência, para evitar ou reparar
a lesão, torna-se necessária a fiscalização que compete
exclusivamente ao Supremo Tribunal Federal.
E tanto assim é que o art. 11 repete, ipsis litteris, o
disposto no art. 27 da Lei nº 9.868/99, acerca da restrição aos
efeitos da declaração de inconstitucionalidade.
Aponte-se que a referida Lei amplia o alcance do
controle concentrado além do que previa a Constituição. Com

14
V. José Rogério Cruz e Tucci, trabalho citado, p. 137 e s.

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efeito, esta admite o controle concentrado relativamente a lei


ou ato normativo federal ou estadual (art. 102, I, “a”), mas a
controvérsia que enseja a argüição pode concernir também a
ato municipal (art. 1º, parágrafo único, I).
De modo geral, a Lei segue o padrão da de nº
9.868/99. Estipula a possibilidade de solicitação de audiência
dos órgãos ou autoridades responsáveis pelo ato, bem como o
Advogado Geral da União e o Procurador Geral da República
(art. 5º, § 2º). Também, a possibilidade de designação de
perito ou comissão de peritos, audiência pública, etc. (art. 6º),
como na Lei nº 9.868/99. Etc.
Ponto crucial, porém, está em que esta argüição pode
levar para o controle concentrado, numa avocação, as questões
discutidas no controle difuso. Realmente, segundo está no art.
5º, o Supremo Tribunal Federal poderá, por maioria absoluta,
deferir pedido de medida liminar. Conforme dispõe o § 3º
desse artigo:

A liminar poderá consistir na


determinação de que juízes e tribunais
suspendam o andamento de processo ou
os efeitos de decisões judiciais, ou de
qualquer outra medida que apresente
relação com a matéria objeto da argüição
de descumprimento de preceito
fundamental, salvo se decorrentes da
coisa julgada.

R. Trib. Reg. do Trabalho 13ª Região. João Pessoa. v. 14, n. 1, p. 16-48, 2006.
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Supremo Tribunal Federal que a julgará. Ao fazê-lo,


fixará “as condições e o modo de interpretação e aplicação do
preceito constitucional”. O que quer dizer, fixará, nessa
ocasião, se a norma é constitucional ou inconstitucional, bem
como o seu sentido e alcance.
Disto resulta, obviamente, que a questão de
constitucionalidade é subtraída ao controle difuso. Passa ela ao
Não pára aí, todavia, a inovação. Com efeito, o mais
importante, porém, resulta da combinação dessa regra com o
prescrito no art. 10, § 3º: “A decisão terá eficácia contra todos
e efeito vinculante relativamente ao Poder público”.
Aparece aqui, sem dúvida, um primeiro passo no
sentido da integração, no processo constitucional objetivo e
autônomo, do processo constitucional subjetivo. A eficácia
contra todos é inerente ao processo objetivo, como de há muito
registra o Supremo Tribunal Federal; ao contrário, no processo
subjetivo, o efeito é ordinariamente inter partes. Acrescente-se
que o efeito vinculante, consoante o direito constitucional
positivo brasileiro (art. 102, § 2º da Constituição, com a
redação dada pela Emenda constitucional nº 45/2004), é
próprio dos instrumentos do controle concentrado, não sendo
referido em relação ao difuso. Portanto, a norma ordinária está
estendendo esse instituto do processo objetivo ao processo
subjetivo.

R. Trib. Reg. do Trabalho 13ª Região. João Pessoa. v. 14, n. 1, p. 16-48, 2006.
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Em conseqüência, pode-se dizer que o art. 10, caput,


da Lei nº 9.882/99 opera uma ponte entre o processo objetivo e
o processo subjetivo, no direito brasileiro, cedendo este
àquele.
Será um primeiro passo para a eliminação do
processo constitucional não autônomo?

d) A Emenda constitucional nº 45/2004.

Esta, designada como Reforma do Judiciário, dispõe


nalguns pontos sobre o controle de constitucionalidade.
Expressamente, conferiu “eficácia contra todos e o
efeito vinculante” (art. 102, § 2º), em relação aos demais
órgãos judiciais, bem como aos da administração direta e
indireta, federal, estadual e municipal, às decisões definitivas
tomadas pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas de
inconstitucionalidade (o que não estava no texto
constitucional, mas apenas na Lei nº 9.868/99) e nas ações
declaratórias de constitucionalidade (para as quais já era
previsto).
Além disto, previu a edição pelo Supremo Tribunal
Federal de súmulas que terão efeito vinculante, em relação aos

R. Trib. Reg. do Trabalho 13ª Região. João Pessoa. v. 14, n. 1, p. 16-48, 2006.
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demais órgãos judiciais, bem como aos da administração direta


e indireta. Tais súmulas serão extratos articulados da
jurisprudência constitucional do Supremo Tribunal Federal no
controle difuso (art. 103-A).

e) Princípios divergentes.

Do perfil acima traçado, necessariamente se deduz


não obedecer o processo constitucional no sistema
concentrado aos princípios comuns do direito processual,
como é o caso do sistema difuso.
Isto se discutiu no Supremo Tribunal Federal, no
curso da Ação Declaratória de Constitucionalidade nº 1.
Sustentou o seu relator, o Min. Moreira Alves, ser todo o
sistema de controle em abstrato de constitucionalidade,
estruturado num “processo objetivo”, quer dizer, “não
contraditório, sem partes”. Assim seria, porque a “finalidade
única” desse controle abstrato “é a defesa da ordem jurídica,
não se destinando diretamente à tutela de direitos subjetivos”
(TUCCI, 1994).15

15
Ação Declaratória de Constitucionalidade nº 1-1, Distrito
Federal, texto extraído do livro Ação declaratória de
constitucionalidade, já citado, p. 188.

R. Trib. Reg. do Trabalho 13ª Região. João Pessoa. v. 14, n. 1, p. 16-48, 2006.
41

Tal entendimento prevaleceu. Assim sendo, o


Supremo Tribunal Federal, na sua jurisprudência, vê as ações
do controle concentrado como processos sem contraditório
nem partes. Cabe, sem dúvida, ao Advogado Geral da União
defender a constitucionalidade; há, sem dúvida, a oportunidade
de o autor do ato impugnado oferecer “informações”;
igualmente, na legislação, se prevê a eventualidade de
audiência pública, ou de perito, ou de comissão de peritos etc.
Mas isto não chega a significar contraditório.
E, por reflexo, inexiste ampla defesa. Ou, a fortiori,
par condicio.
Certamente, porém, respeitam-se os princípios
instrumentais.

3.3.1.4 Os princípios processuais constitucionalizados.

a) Os princípios processuais constitucionais.

É preciso, todavia, ter presente que o direito


constitucional brasileiro inscreve no corpo da Lei Magna
determinados princípios processuais. Isto é flagrante na
Constituição de 1988, contudo muitos deles já aparecem no
direito anterior, como a ampla defesa e o contraditório.
Acrescente-se que tais princípios estão inscritos no

R. Trib. Reg. do Trabalho 13ª Região. João Pessoa. v. 14, n. 1, p. 16-48, 2006.
42

art. 5º, da Constituição, e este no Título II – Dos Direitos e


Garantias Fundamentais, no capítulo I – Dos Direitos e
Deveres individuais e coletivos. Por isto, a sua observância
torna-se questão de respeito aos direitos humanos
fundamentais, ao menos formalmente considerados.
O exame desses princípios que são direitos e
garantias revela que alguns são princípios “puros” de direito
processual, enquanto outros são vinculados a princípios de
direito penal, ou de direito civil. Em razão de sua
generalidade, ou especificidade, podem-se distinguir, de um
lado, princípios de ordem geral (que regem toda a atividade
jurisdicional); de outro, princípios processuais penais – que
na ânsia de defender a liberdade a Constituição houve por
bem desde logo fixar, e minudentemente; e de um terceiro,
princípios processuais civis.

b) Princípios de ordem geral.

São estes: 1) o princípio do acesso ao Judiciário (art.


5º, XXXV); 2) o de ampla defesa e do contraditório, tão
interligados que se exprimem na mesma norma (art. 5º, LV);
3) o princípio do juiz natural (art. 5º, LIII); 4) com a
proibição de tribunais de exceção (art. 5º, XXXVII); 5) o

R. Trib. Reg. do Trabalho 13ª Região. João Pessoa. v. 14, n. 1, p. 16-48, 2006.
43

princípio da publicidade (art. 5º, LX); 6) o princípio da


celeridade (explicitado pela Emenda Constitucional nº
45/2004 que incluiu no art. 5º um inciso LXXVIII, mas que
já vigia no Brasil, eis que o consagra o Pacto de São José da
Costa Rica, de 1969, em vigor no país, art. 8º, 1); 6) o
princípio do devido processo legal (art. 5º, inciso LV); afora o
princípio da igualdade processual (decorrente do princípio
geral de igualdade – art. 5º, caput e inciso I).
Note-se que, embora a doutrina considerasse o
princípio do devido processo legal implícito no sistema
constitucional, tanto que servia de fundamento para os
demais,16 (GRINOVER, 2000) a Constituição enunciou
explicitamente o próprio princípio do devido processo legal.
Isto significaria, para uns, a adoção do chamado devido
processo legal substantivo; para outros, mera explicitação
enfática. De qualquer forma, abre espaço para a dedução de
novos sub-princípios.

c) O processo constitucional brasileiro e os princípios


constitucionalizados.

A explicitação constitucional de princípios regentes


da função judicial não provoca questionamento em relação à

16
Cf., por todos, Ada Pellegrini Grinover, no ensaio “As garantias
constitucionais do processo”, publicado no livro Novas tendências

R. Trib. Reg. do Trabalho 13ª Região. João Pessoa. v. 14, n. 1, p. 16-48, 2006.
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fiscalização difusa de constitucionalidade. O processo, em que


esta se desenvolve, não fere tais princípios.
Não se passa o mesmo em relação ao controle
concentrado. É certo que o Supremo Tribunal Federal entende
ser a fiscalização abstrata um “processo objetivo”. Isto
certamente exclui per se a aplicação da maioria dos princípios
constitucionalizados, adequados ao processo subjetivo (ou,
particularmente, ao processo penal). Entretanto, dentre os
constitucionalizados, dois princípios, ao menos, não são, por
sua natureza, incompatíveis com um “processo objetivo”: o do
acesso ao Judiciário e o do contraditório e ampla defesa.
O primeiro já é atenuado pela Constituição ao
restringir a legitimidade ativa para as ações do controle
abstrato. Compreende-se a razão de ser: evitar seja o Supremo
Tribunal Federal soterrado por uma enxurrada de ações
“populares” constitucionais.
Quanto ao segundo, o problema é mais grave. De
fato, na própria Constituição, a propósito da ação direta de
inconstitucionalidade, é prevista a defesa da
constitucionalidade. É esta atribuída expressamente ao
Advogado Geral da União (art. 103, § 3º). Por que não prever
norma equivalente noutras ações em que se dá o controle

do Direito Processual, Ed. Forense Universitária, Rio de Janeiro, p.


1 e s.

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abstrato? É verdade que a legislação infraconstitucional veio


abrir espaço para um pálido contraditório...
Não se levante impedimento constitucional, ou seja,
que a Constituição apenas prevê defesa relativamente à ação
direta de inconstitucionalidade. Com efeito, prever a ampla
defesa e o contraditório na fiscalização abstrata é dar
aplicação de princípio constitucional, o que é menos chocante
do que, em lei ordinária, permitir a restrição, material ou
temporal, dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade...

4 OBSERVAÇÕES FINAIS.

4.1 UM RESUMO.

Na doutrina brasileira, a expressão processo


constitucional tem uma abrangência bem maior do que no
ensinamento dos juristas portugueses. Ainda quando ela não é
tomada num sentido amplíssimo, compreendendo não somente
as normas regentes do controle de constitucionalidade, mas
igualmente as que regulam os remédios constitucionais,
sempre tem de abarcar o processo autônomo e o processo não
autônomo. Estes, de fato, estão justapostos no corpo da

R. Trib. Reg. do Trabalho 13ª Região. João Pessoa. v. 14, n. 1, p. 16-48, 2006.
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Constituição e assim no ordenamento brasileiro.


O sistema brasileiro de fiscalização de
constitucionalidade é, como se usa dizer, misto. Nele, há
espaço para o sistema difuso, adotado desde 1891, quando da
primeira Constituição republicana, que recebe e mantêm a Lei
Magna em vigor; como para o sistema concentrado, que,
introduzido em 1965, vem ganhando cada vez mais terreno.
Na verdade, a Constituição de 1988 deu a este grande
amplitude e a evolução subseqüente acentuou o seu alcance.
Torna-se isto claro, quando se registram os desdobramentos
posteriores à promulgação da Lei Maior. Aqui, vale não
apenas mencionar a instituição da ação declaratória de
constitucionalidade, em 1993, ou a Emenda Constitucional nº
45/2004, mas, outrossim, a edição de uma legislação
infraconstitucional, em 1999, que configura o ponto de partida
de um processo constitucional autônomo.
Não se olvide que a justaposição importa na
coexistência de um processo constitucional subjetivo, com um
processo constitucional objetivo. Sim, porque, no processo
constitucional objetivo, é que se enquadram, segundo a
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, todas as ações do
sistema concentrado, enquanto incontestavelmente é no
processo subjetivo que se insere a fiscalização concreta.
Ora, o caráter objetivo assim reconhecido – mas

R. Trib. Reg. do Trabalho 13ª Região. João Pessoa. v. 14, n. 1, p. 16-48, 2006.
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reconhecido jurisprudencialmente – não compadece – na


aparência, pelo menos, com todos os princípios que estão
constitucionalizados em vista da atividade judicial. Choca, ao
menos, a ausência de contraditório e ampla defesa, presentes
apenas na ação direta de inconstitucionalidade.
Tenho falado em justaposição. Entretanto, num
ponto já se desenha um propósito de integração. Tenho em
mente uma norma inscrita na regulamentação da argüição de
descumprimento de preceito fundamental decorrente da
Constituição – a que permite a avocação de questões
constitucionais pelo Supremo Tribunal Federal e a decisão em
abstrato da constitucionalidade da regra em causa. Decisão
esta com eficácia contra todos e efeito vinculante.
Está aí um passo. É provável virem outros que
operem uma integração desejável. Integração – permito-me o
vaticínio talvez imprudente – que, se vier, virá, com a
prevalência do sistema concentrado.

REFERÊNCIAS

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processo constitucional. Revista Brasileira de Estudos
Políticos. Belo Horizonte, n.90, p.69-169, jul./dez.. 2004.

R. Trib. Reg. do Trabalho 13ª Região. João Pessoa. v. 14, n. 1, p. 16-48, 2006.
48

CANOTILHO, J. J. GOMES. Direito constitucional e teoria


da Constiutuição. 2. ed.. Coimbra: Almedina, [199-?].

CINTRA, Antonio Carlos de A.; GRINOVER, Ada Pellegrini;


DINARMARCO,Cândido Rangel. Teoria geral do processo.
8ª ed.. São Paulo: R. dos Tribunais, 1991.

ENCICLOPEDIA del Diritto. Milano: Giuffrè, 1987, v.36.

GRINOVER, Ada Pellegrine. As garantias constitucionais do


processo. In: ______. Novas tendências do direito
processual. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2000.
(Ensaio).
MIRANDA, Jorge. Inconstitucionalidade e garantia da
Constituição. In: Manual de Direito constitucional. 2ª ed..
Coimbra: Coimbra Ed., 2005.
SEGADO, Francisco Fernández. Controle de
constitucionalidade e justiça constitucional. In: TAVARES,
André Ramos: MENDES, Gilmar Ferreira. (Org.) Lições de
Direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 2005.

TUCCI, José Rogério Cruz e. Aspectos processuais da


denominada ação declaratória de constitucionalidade. In:
Martins Filho, Ives Gandra da Silva; Mendes, Gilmar Ferreira
(Coord.) Ação declaratória de constitucionalidade. São
Paulo: Saraiva, 1994.

R. Trib. Reg. do Trabalho 13ª Região. João Pessoa. v. 14, n. 1, p. 16-48, 2006.

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