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CONCEPÇÃO DE LINGUAGEM: UMA ANÁLISE EPISTEMOLÓGICA PARA O


ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA
Regilberto José Silva1
RESUMO

Neste artigo, pretende-se efetuar uma reflexão epistemológica acerca das concepções de linguagem e o ensino de
Língua Portuguesa. Nessa perspectiva, a análise teórico-conceitual da origem, das definições e das diferentes
concepções de linguagem constitui o escopo deste trabalho. Além da observação pragmática na abordagem de
atividades que norteiam as várias concepções. A princípio, discernimos sobre os vários cursos de graduação,
considerados em nosso trabalho como “papa-léguas”, os quais não conseguem cumprir com os cronogramas das
disciplinas. Para tal comentário, apropriamo-nos de argumentos na Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional – LDB. Depois, fizemos uma revisão crítica e reflexiva sobre as obras de fundamentação lingüística
moderna, contextualizando historicamente o desenvolvimento da linguagem em todo o seu processo diacrônico.
Por fim, descrevemos e discorremos sobre a relação intrínseca entre as concepções de linguagem e o ensino da
língua materna, explicitando sistematicamente os suportes técnico-metodológicos projetados para o pragmatismo
da sala de aula e possibilitando ao professor uma formação teórica e proficiente no plano epistemológico das
concepções de linguagem.

Palavras-chave: Epistemologia – Concepção de Linguagem – Ensino de Língua Portuguesa.

01. INTRODUÇÃO
A prática docente no ensino de Língua Portuguesa vem, desde muito tempo, abrindo
um leque de discussões e debates no meio acadêmico e em todos os espaços de questões
pedagógicas. Nessas discussões, observamos, com certo entusiasmo, o debate sobre a escolha
ou não das concepções de linguagem adotadas pelos professores de Língua Portuguesa e a
influência dessas concepções no processo ensino-aprendizagem.
Mas será que podemos partir do princípio de escolha ou não? Será que os mestres
estão cientes da importância das Concepções de Linguagem para o ensino de Língua
Portuguesa? Essas e outras perguntas irão nortear o nosso trabalho.
Sabemos que muitas Faculdades, devido à péssima qualidade instrumental e
profissional, não conseguem concluir no final do ano letivo o cronograma instituído pelas
disciplinas, ou seja, alguns conteúdos dessa ou daquela disciplina deixam de ser exploradas.
Além disso, com a nova Lei n.º 9.394/96 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional que em
seu Art. 62 diz “A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível
superior, em curso de licenciatura de graduação plena, em universidades e institutos
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Graduado em Letras pela UERN – RN e Especialista em Língua Portuguesa: Leitura e Produção de
Textos pela Faculdade do Vale do Jaguaribe – FVJ / Aracati-Ce. Professor da EEM João Barbosa
Lima / Itaiçaba-Ceará. regilberto@fvj.br / regilbertos@bol.com.br
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superiores de educação,...”, surgiram Faculdades “Papa-Léguas”, isto é, Faculdades com


cursos nos finais de semana e no período de férias, tendo uma duração mínima de (03) três
anos e dificultando ainda mais a conclusão dos cronogramas das disciplinas. Tudo isso vem
prejudicando, de maneira significativa, o corpo discente em sua formação cognitiva sobre a
linguagem.
É com esta preocupação na qualidade de ensino que procuraremos refletir sobre a
epistemologia acerca das concepções de linguagem e da prática docente no ensino de Língua
Portuguesa. Pretendemos, com este artigo, pensar criticamente a respeito da realidade das
concepções linguística no ensino de língua portuguesa. Além de promovermos aos docentes
um material de ampla abrangência teórica no combate às deficiências do ensino de Língua
Portuguesa.
Por fim, a escolha consciente da concepção de linguagem pelo professor aprimorará
significantemente o ensino da Língua, abrindo possibilidades para o lente consolidar a teoria à
prática, prazerosamente. Neste sentido, cabe àqueles que constroem a escola repensar as
práticas pedagógicas, redefinindo o conceito de linguagem, priorizando a formação de sujeitos
detentores da competência comunicativa, com sólida formação lingüística e preparados para
assumirem o papel efetivo de sujeitos agentes no processo de interação comunicativa.

02. A ORIGEM DA LINGUAGEM


A busca pela origem e pelo destino de tudo é característica primordial do ser
humano. A religião e a ciência sempre se empenharam nessa dualidade. Com relação às
diversidades de Línguas, não foi diferente, a Bíblia, no Gênesis 11, fala que havia um único
idioma para comunicação entre os povos. Mas os homens, em sua pretensão de chegar ao céu
a fim de ficar mais próximo do “Pai Celeste”, tentaram construir uma torre, chamada de
Babel. Deus observando o ato soberbo, castigou-os, fazendo com que todos falassem
diferentes idiomas de modo que a construção parasse por não haver entendimento entre eles.
Ao contrário disso, a ciência explica que no século XIX, os estudos comparativos
levaram a hipóteses de uma proto-língua, originária das línguas européias e asiáticas
pertencentes a uma mesma família lingüística, denominada indo-europeu. No entanto, os
cientistas da linguagem descobriram que essa língua não deu origem a todas as línguas
existentes.
Assim, o homem desde a Antigüidade Clássica vem buscando explicações para a
origem da linguagem, tornando-se um interesse milenar. Ao pesquisar sobre essa origem, o
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lingüista e professor do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), da Unicamp Eduardo


Guimarães em seu artigo “Os estudos sobre Linguagens: uma história das idéias” diz:

Tal interesse se apresenta, na Grécia, no interior da filosofia, que se viu levada a


estudar a estrutura do enunciado para poder tratar do juízo. Isto levou Platão a
estabelecer a primeira classificação das palavras de que se tem conhecimento. Para
ele as palavras podem ser nomes e verbos. Depois dele Aristóteles considerou uma
outra classificação das palavras: nomes, verbos e partículas.

Dessa forma, percebe-se que o homem, no início, para compreender a linguagem,


procurou dividi-la em categorias mórficas. Essa necessidade se dá principalmente por ser a
decomposição do texto nessas categorias, na época, uma maneira de relacionar a linguagem
com o conhecimento para conhecer o todo, perfazendo a estrutura de juízo. Como se observa,
os primeiros estudos da linguagem partiram do particular para o universal, deixando de lado
os valores lingüísticos e semânticos do texto em seu todo.
Na verdade, essa maneira de compreender o todo, dividindo a língua em categorias
gramaticais e relacionando a linguagem ao conhecimento, deu origem à gramática e à retórica
na Grécia Antiga. A gramática era utilizada para ensinar a ler e a escrever corretamente, ou
seja, era o centro no domínio dos estudos da linguagem, a qualidade da correção. A retórica se
apresentava como a técnica do convencimento dos ouvintes por aquele que fala.
Em remate, sabemos que o homem ainda continuará na busca da verdade para
explicar a origem de tudo e como isso vai interferir em seu meio. Isso sempre ocorrerá seja
através da ciência seja através da religião. Com a linguagem não seria diferente, pois sua
origem não poderia ser definida de imediato, sabendo que antes da escrita, o homem já se
comunicava de várias formas através da linguagem verbal e não verbal. Sendo assim, a
origem da linguagem é um enigma por “constituir o apanágio do homem”, assim diz o
professor Ismael de Lima Coutinho (1976:21) no livro Gramática Histórica.

03. CONCEITOS DE LINGUAGEM


Há tempos, vários linguistas tentam desmistificar o conceito de Linguagem. Antes de
Saussure, a lingüística comparativa, no início do século XIX, apresentava como objeto a
mudança lingüística a partir de sua evolução histórica. Isso era determinado por uma posição
naturalista biológica da linguagem, ou seja, a linguagem era estudada a partir da diacronia,
uma reconstituição do passado lingüístico das línguas européias e asiáticas. O botânico e
lingüista A. Schleicher (2007:33) confirma essa visão naturalista da linguagem a partir de sua
“concepção que tomava a língua como um organismo vivo”. Tal concepção até hoje é aceita
nos meios acadêmicos quando se trata em estudar a língua.
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Com as idéias inovadoras de Ferdinand de Saussure em seu Curso de Lingüística


Geral, a linguagem passa a ter uma dinâmica conceitual mais concreta, sendo relevante na
escolha do objeto de estudo da Lingüística. Essa evolução, principiada no século XX, dá-se a
partir de algumas dicotomias esclarecidas por Saussure: língua x fala, diacronia x sincronia,
significante x significado, relação associativa x sintagmática e identidade x oposição. Essas
dicotomias são bem explicitadas em seu livro.
Antes de definir Linguagem, Saussure (2002:16) diz que “A linguagem tem um lado
individual (fala) e um lado social (língua), sendo impossível um conceber um sem o outro.”
Essa afirmação demonstra a dinamicidade da linguagem. Sua realização se dá através de
comportamentos internos e externos ao homem. Nesse caso, a linguagem não requer apenas
um estudo sobre a evolução histórica (diacronia); requer também um estudo dos fatos no
momento em que eles acontecem (sincronia). Essa nova conjectura propõe uma visão mais
sistemática sobre o estudo da linguagem.
Dessarte, Saussure (2002:17) conceitua a Linguagem em oposição à língua:

Tomada em seu todo, a linguagem é multiforme e heteróclita; o cavaleiro de


diferentes domínios, ao mesmo temo física, fisiológica e psíquica, ela pertence além
disso ao domínio individual e ao domínio social; não se deixa classificar em
nenhuma categoria de fatos humanos, pois não se sabe como inferir sua unidade.
A língua, ao contrário, é um todo por si e um princípio de classificação. Desde que
lhe demos o primeiro lugar entre os fatos da linguagem, introduzimos uma ordem
natural num conjunto que não se presta a nenhuma outra classificação.

Assim é a linguagem. Em seu todo, possui várias formas no ato da interlocução e não
segue princípios gramaticais. Como não segue preceitos gramaticais, não podemos estabelecer
divisão em categorias mórficas, sintáticas ou semânticas. Ela também é natural e heterogênea,
ou seja, ao mesmo tempo em que é particular também é coletiva. Ao contrário, a língua
constitui algo adquirido e convencional, externo ao ser humano. É classificada em categorias
mórficas, sintáticas e semânticas. Por isso, o indivíduo tem a necessidade de uma
aprendizagem para conhecê-la.
Segundo Evanildo Bechara (1999:28), entende-se por linguagem qualquer sistema de
signos simbólicos empregados na intercomunicação social para expressar e comunicar idéias e
sentimentos, isto é, conteúdos da consciência.
Nessa perspectiva, a linguagem se forma através de um conjunto de unidades que se
ordenam para a materialização dos pensamentos no processo de interação comunicativa entre
os interlocutores do discurso. Essa intercomunicação social se dá principalmente pela
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necessidade do ser humano estar no mundo com o outro, fazendo parte de uma comunidade e
de uma vivência social.
Em resumo, essas concepções são análogas enquanto concebem a linguagem como
sistema de signos para a realização do processo de interação sócio-comunicativa entre os
indivíduos. Na verdade, a linguagem se caracteriza através da exploração dinâmica da
inteligência e da relação social que a caracteriza, favorecendo a expressão dos pensamentos e
idéias para a construção do sentido e da retórica no convívio social e na interpretação
expressiva do signo ideológico (Bakhtin: 1929-1930).

04. AS DIFERENTES CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM


Como sabemos, há pouco tempo os estudos lingüísticos vêm tomando novos rumos
quanto ao estudo da linguagem. Agora os estudos lingüísticos não só se concebem através das
teorias estruturalistas de Saussure e nem das transformacionais de Chomsky mas também
através da pragmática em que a situação contextual é relevante para o processo de interação
comunicativa. Nesse sentido, a linguagem normalmente se divide em três concepções
distintas as quais serão expostas de forma a abranger os objetivos do nosso trabalho.
A primeira concepção se caracteriza por ser a linguagem uma expressão do
pensamento. Nessa concepção, quem pensa consegue expressar-se corretamente, ou seja,
pessoas que não conseguem se expressar não pensam (Geraldi:2002). Está arraigada
principalmente as correntes filosóficas da Cultura Clássica a qual deu origem a gramática
tradicional (conhecida também como prescritiva e normativa) que até hoje é muito utilizada
por professores de Língua Portuguesa e por Instituições de Seleção para concursos. O estudo
da frase se faz individualmente sem interferências de fatores lingüísticos funcionais e
extralingüísticos, isto é, não se observam o contexto situacional e nem relações semânticas e
funcionais do enunciado que favorecem a interação comunicativa.
Luiz Carlos Travaglia (2001:21) diz que a expressão se constrói no interior da
mente, sendo sua exteriorização apenas uma tradução, ou seja, a linguagem se constrói a
partir da representação do mundo e do pensamento. Assim, para os puristas, a arte de bem
falar e escrever se associa e materializa-se principalmente em o falante conhecer as regras
gramaticais as quais servem para organizar o pensamento e a linguagem, justificadas pela
elegância, historicidade e estilo advindos dos escritores clássicos.
Infelizmente, muitas atividades, como as apontadas abaixo, caracterizam o uso
freqüente dessa concepção nas aulas de Língua Portuguesa:
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01. Preencha a lacuna com o verbo indicado entre parênteses, fazendo sua concordância com o sujeito de acordo
como o exigido pela norma culta.
a) Eu com meus colegas _________________ (limpar – passado) o teatro da escola.
b) Maria como os filhos _______________ (dar – passado) muito trabalho no hospital.
c) Todos os anos, diretor com os professores _______________________ (fazer – presente) uma campanha de
esclarecimento dos alunos sobre as drogas.

02. Qual a correta classificação das orações subordinadas abaixo? Assinale a resposta correta:
01. Convém que não durmas na aula...
02. Eu espero que ninguém cole...

a) “que não durmas na aula” é oração substantiva objetiva direta; “que ninguém cole” é substantiva predicativa.
b) “que não durmas na aula” é substantiva subjetiva; “que ninguém cole” é objetiva direta.
c) as duas orações em destaque são objetivas diretas.

A segunda concepção trata da linguagem como instrumento de comunicação. A


Lingüística Moderna, consolidada nas bases teóricas do estruturalismo de Saussure e do
transformalismo de Chomsky, estuda a língua como um código virtual, isolado de sua
utilização, preconiza Travaglia (2001:22), ou seja, os estudos da língua estão dissociados da
sua funcionalidade em determinada situação ou contexto. Nesse caso, a principal função do
emissor é a pura e simples transmissão da mensagem (informação) ao receptor sem considerar
os fatores extralingüísticos, havendo um canal e um código para facilitar a decodificação. A
gramática, nessa concepção, se preocupa apenas em descrever os elementos lingüísticos sem
levar em conta a semântica e a interação verbal (Bakhtin: 1929-1930). Esses estudos
formalistas separam a língua de sua natureza social e do seu processo de produção textual
(verbal e não-verbal).
É oportuno exemplificarmos essa concepção. Nela a descrição do objeto de estudo é
bem perceptível em atividades como estas:
01. Analise sintaticamente os termos da oração abaixo:
“Junto à porta, cochila o negro feiticeiro.” (M. Del Pichia)
o negro feiticeiro – junto à porta –
feiticeiro – cochila –
o negro –

02. Coloque sobre o que, pronome relativo, a letra R; e sobre o que, conjunção integrante, a letra I.
01. “D. Maria apenas entrou, mandou chamar o licenciado, que, depois de examinar o doente, declarou que o
caso era perdido.” (Manuel A. de Almeida)
02. “A única palavra com que lhe agradeci é a mesma que ora lhe mando.”
03. “O meio, em que seus romances se passam, tem quase sempre um ar feérico.”
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Por último, a linguagem é vista como forma ou processo de interação. Nessa


concepção, a língua transforma os interlocutores do discurso em sujeitos do processo de
comunicação. Os fatores extralingüísticos e funcionais da língua interferem no processo de
aquisição e produção da linguagem, facilitando e favorecendo a boa comunicação entre o
emissor e o receptor da mensagem. Agora a palavra também está representada em sua função
ideológica e social, como aborda Mikhail Bakhtin (2002:36):

A palavra é o fenômeno ideológico por excelência. A realidade toda da palavra é


absorvida por sua função de signo. A palavra não comporta nada que não esteja
ligado a essa função, nada que não tenha sido gerado por ela. A palavra é o modo
mais puro e sensível de relação.

Nessa situação, a linguagem deixa de ser apenas expressão do pensamento e a língua


não é apenas um meio para a transmissão da informação, ou seja, a linguagem é, pois, um
lugar de interação humana, de interação comunicativa pela produção de efeitos de sentido
entre os interlocutores, em uma dada situação de comunicação e em um contexto sócio-
histórico e ideológico, assim afirma Travaglia (2001:23). Nessas condições, tudo que é
lingüístico e extralingüístico fomenta a eficaz comunicação escrita ou oral dos falantes da
língua nas diversas situações de uso.
Tais situações podem ser analisadas e percebidas a partir de atividades como estas
que iremos propor abaixo:

01. Procure o maior número de palavras e expressões que são usadas pelas pessoas para dizer que alguém
“roubou” algo e palavras e expressões usadas para se referir a quem rouba. Escreva pequenos textos com estas
palavras ou expressões e discuta com seus colegas quando, em que tipo de situação e/ou por que tipo de pessoas
cada uma das palavras e expressões é utilizada

02. Qual a diferença de sentido entre os textos (a), (b) e (c) e em que situações seriam usadas?
(a) Eu estou tão cansado. Eu precisava descansar.
(b) Eu estou tão cansado. Eu precisaria descansar.
(c) Eu estou tão cansado. Eu preciso descansar.

05. AS CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM E O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA


Nas aulas de Língua Portuguesa, muitos professores se vêem em uma corda bamba,
ou seja, sem saber como ministrá-las. Isso acontece devido ao emaranhado de informações
propostas pelas novas tendências científicas como o gerativismo, construtivismo,
estruturalismo etc. para o ensino de Língua Portuguesa. Todos esses ismos se não forem
assimilados de maneira organizada, diferenciando as concepções e as características de cada
um, provocarão um certo medo ao professor em utilizá-los em sala de aula.
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Saber usar um método ou uma concepção nova é uma tarefa que requer coragem e
espírito de aceitação e de disposição às novas práticas, uma vez que a alteração para uma nova
concepção proporciona reformulações de concepções internas e externas no indivíduo, ou
seja, mudança de ideologia, de cognição, de prática e de comportamento com relação à língua
e a outras instituições sociais.
Com referência às concepções de linguagem, não é diferente. Mudar a concepção
interfere não só em uma mudança conceitual ou de postura ideológica mas também em uma
mudança de postura cognitiva. Nessa acepção, Geraldi, (2002:45.) afirma:

Nesse sentido, a alteração da situação atual do ensino de língua portuguesa não


passa apenas por uma mudança nas técnicas e nos métodos empregados em sala de
aula. Uma diferente concepção de linguagem constrói não só uma nova
metodologia, mas principalmente um ‘novo conteúdo’ de ensino.

Nessas condições, é importante que o professor de Língua Portuguesa esteja pré-


disposto para encarar com entusiasmo e profissionalismo as mudanças proporcionadas pela
dinamicidade da língua para que saiba discernir conceitual e cognitivamente sobre as três
concepções de linguagem citadas no capítulo anterior, a fim de que o aluno tenha condição de
usar a língua adequadamente nas diversas situações comunicativas, desenvolvendo assim a
competência comunicativa (Travaglia:2001:17).
Outra característica importante, ao conhecer os conceitos e características dessas
concepções, é que o professor pode definir e usar textos, exemplos, conteúdos e temas
consoante a concepção adotada naquela aula sem mesclar idéias e conceitos. Além de permitir
ao educando possibilidades infinitas de entrar em contato com os mais diferentes textos
possíveis, tornando-o capaz de interpretar e produzir textos de maneira mais proficiente. Por
isso, a escola não pode centrar o ensino de Língua Portuguesa apenas em uma determinada
concepção de linguagem. Tem que abrir espaço para o conhecimento de todas as concepções e
suas diferenças de conteúdos.
Portanto, está atento para as inovações do ensino de língua materna e,
principalmente, conhecer as diferentes concepções de linguagem são uns dos desafios para os
mestres contemporâneos de Língua Portuguesa. A aprendizagem e o desenvolvimento das
habilidades cognitivas e funcionais dos alunos no processo de interação comunicativa
depende da compreensão da evolução da língua e do reconhecimento da importância do
ensino de Língua Portuguesa.
06. CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Como se sabe, o ensino de Língua Portuguesa ainda está longe da qualidade que
merece. Essa realidade não se dá apenas nas escolas de Educação Básica. Isso acontece
também nas Faculdades Privadas e Públicas, sendo esta última mais conceituada na
sociedade. Temos a certeza disso porque os exames do SAEB (Sistema de Avaliação do
Ensino Básico), ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) e o ENADE (Exame Nacional de
Desempenho de Estudantes), que integra o Sistema Nacional de Avaliação da Educação
Superior (Sinaes) comprovam que muitos alunos terminam a Educação Básica e o Ensino
Superior sem a mínima condição de se comunicar decodificando ou produzindo com clareza e
coerência um pequeno texto.
Para que o ensino da língua materna seja eficiente e não mais considerado como “um
bicho de sete cabeças”, precisamos que os professores/orientadores, mesmos com as
dificuldades, possam ter conhecimento da necessidade de mudar as metodologias e as
posturas cognitivas. Para isso acontecer, afirma Bagno (2002:35):

No dia em que o nosso ensino de português se concentrar no uso real, vivo e


verdadeiro da língua portuguesa do Brasil é bem provável que ninguém mais
continue a repetir essa bobagem ‘Português é muito difícil.

Nessas condições, o ensino de língua seria mais atraente e concreto, dando ao aluno
oportunidade para que ele reflita sobre a importância da língua no seu dia-a-dia. Com isso, o
professor seria um orientador nas atividades de caráter funcional e semântico. Não perderia
tanto tempo em apenas classificar ou descrever os termos das orações como também em fazer
leituras para apenas preencher o tempo da aula.
Além disso, outro fator que interfere no desempenho dos alunos em língua
portuguesa é a falta de preparo dos professores em reconhecer as necessidades e
características dos alunos. Muitos não se preocupam com os conhecimentos de língua que os
alunos já trazem consigo, deixando de aproveitar esse recurso de interação comunicativa.
Preocupado com isso, Martinet (1979:34) diz:

O que precisa ser conscientizado antes de tudo é que a criança que chega à escola,
ou, mais tarde, ao ginásio, conhece a sua língua. Conhece a fonologia, o essencial da
morfologia e da sintaxe. Como todos, em graus diversos, ela conhece também o
léxico que talvez deva completar no decorrer dos seus anos de escola; mas quem
dentre nós pode se gabar de conhecer todo o léxico de sua língua?

Na verdade, essa postura dinamizaria mais a aula numa perspectiva epilingüística,


tornando-se mais funcional e objetiva. O aproveitamento das habilidades dos alunos já
trazidas por ele impulsionaria mais as atividades gramaticais para a reflexão. Afinal, as
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pessoas falam — exercem a linguagem, usam a língua — para produzir sentidos, e, desse
modo, a linguagem se tornaria um mecanismo de interação entre o emissor e o receptor nos
mais diversos processos de comunicação.
Em remate, o conhecimento das concepções de linguagem é condição precípua a um
ensino de qualidade. Para tanto, o educador tem que ter uma sólida formação holística, saber
ensinar, atualizando seus conhecimentos, produzindo novos saberes (pesquisa) e construir sua
identidade profissional, a fim de formar o aluno para a cidadania e para a intervenção
transformadora em sua própria realidade.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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BAKHTIN, Mikhail. (V. N. VOLOCHINOV). Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do
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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Lei n.º 9.394 - Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Promulgada em
20/12/1996. Editora do Brasil S/A. Art. 62. p. 29.
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RIEDLINGER, Albert (Colab.). Tradução de CHELINI, Antônio; PAES, José Paulo; BLIKSTEIN, Izidoro. 24.
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TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1.º e 2.º
graus. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2001.

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