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Dos Defeitos do Negócio Jurídico – do Erro

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DOS DEFEITOS DO NEGÓCIO
JURÍDICO – DO ERRO
Sumário: 22.1 – Apresentação. 22.1.1 – Ausência total da vontade.
22.2 – Existência de uma vontade manifestada. 22.3 – Erro e
ignorância (conceito). 22.4 – Pressupostos do erro. 22.4.1 – Erro
substancial. 22.4.1.1 – Erro sobre à natureza do ato. 22.4.1.2 – Erro
sobre o objeto principal da declaração no que tange à sua
identificação (error in corpus). 22.4.1.3 – Erro sobre algumas
qualidades essenciais do objeto adquirido (error in substancia).
22.4.1.4 – Erro sobre as qualidades essenciais de determinada
pessoa. 22.4.2 – A escusabilidade do erro. 22.5 – Espécies de erro.
22.6 – Erro de fato e erro de direito. 22.7 – Transmissão errônea da
vontade por instrumento ou por interposta pessoa. 22.8 – Motivos que
dão origem ao negócio jurídico (falso motivo).

22.1 APRESENTAÇÃO
O negócio jurídico, para ter eficácia, depende da manifestação
da vontade do agente. Somente quando ela for manifestada,
exteriorizada, é que passa a ter influência na ordem jurídica. Mas, a
manifestação deve revelar exatamente a vontade do sujeito, tanto que,
se essa vontade não corresponder ao desejo do agente, havendo um
desvio da vontade de ação, o negócio jurídico torna-se suscetível de

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Parte Geral

nulidade ou anulação.
22.1.1 Ausência total da vontade

Certo proprietário de duas casas alegou em juízo que, a partir


de 1974, começou a ter problemas psiquiátricos, internando-se em
março de 1976, para tratamento.
Nesta ocasião outorgou à sua irmã uma procuração para que
ela cuidasse de seus interesses, como receber aluguéis, administrar
contas bancárias, receber seus proventos, porém, tal procuração não
lhe dava poderes para vender ou adquirir bens.
Após 8 anos de internações, curou-se do mal que o afligia e
passou a assumir os próprios negócios, quando descobriu que seus
dois imóveis haviam sido transferidos à sua irmã e cunhado.
Fica fácil concluir de que não houve manifestação de vontade
a respeito da transferência da propriedade. É importante colocar a
vontade como elemento fundamental na existência de qualquer
negócio jurídico. E se ela não se manifestou, o negócio jurídico
inexistiu.
A manifestação da vontade se dá pelo consentimento do
agente. É pela palavra, pela escrita, geralmente que essa
exteriorização se concretiza. Não havendo esse consentimento,
embora o ato seja praticado, em verdade não existiu, por falta de
elemento essencial. É o caso, por exemplo, de uma senhora que
concorda com a venda de um imóvel sob efeito de hipnose207. Há, aí,
a abolição completa da vontade.

22.2 EXISTÊNCIA DE UMA VONTADE


MANIFESTADA

A exteriorização da vontade deve revelar exatamente o desejo

207
Hipnose = estado particular que se caracteriza pelo sono nervoso e pela
sugestão; sono provocado por meios artificiais.

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íntimo do agente; se essa manifestação não revela fielmente a


vontade, ou seja, não se deu como o agente realmente gostaria de
expressar, essa exteriorização encontra-se viciada, deturpada,
contaminada, tornando-se anulável o ato então praticado (CC, art.
171, II).
É o caso, por exemplo, do marido que mantinha relações
sexuais com sua própria genitora antes do casamento, e que continua
a mantê-las após a sua celebração. A esposa, ao tomar conhecimento
desse estado de coisa após o matrimônio, constatará que houve erro
sobre a pessoa do cônjuge, o que a colocará ao abrigo da lei, que
anulará o casamento (in RT 390/371). É o caso, também, da mulher
que contrai casamento com um homossexual. O fato, ignorado por ela
antes do casamento, constitui erro essencial quanto à pessoa do
marido, que assim afeta a honra e boa fama da mulher tornando
insuportável a vida em comum. Se ela tivesse conhecimento deste fato
antes do matrimônio, não teria consentido em se casar, razão pela
qual o juiz anula o ato em virtude da existência de vício da vontade.
As causas que podem desvirtuar o processo de formação da
vontade são previstas e reguladas por lei, sob a denominação de
vícios da vontade. São eles: o erro, o dolo, a coação, a lesão e o
estado de perigo.
A lei também prevê outro tipo que, embora não atinja
diretamente a vontade na sua formação, conduz a idêntico resultado,
anulando o negócio jurídico. É ele a fraude contra credores,
denominado vício social, porque afeta diretamente o negócio jurídico,
ocasião em que há o conluio entre duas pessoas com a intenção de
violar direito de terceiro.
O nosso Código Civil analisa esses vícios no capítulo IV, do
Livro III, sob a denominação “DOS DEFEITOS DO NEGÓCIO
JURÍDICO”.
Passaremos a seguir, a tratar apenas do erro; nos capítulos que
seguem, focalizaremos os demais.

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Parte Geral

22.3 ERRO E IGNORÂNCIA (conceito)

Os exemplos citados acima servem para fornecer uma exata


noção de erro, um dos vícios mais freqüentes. Se a mulher conhecesse
a realidade antes do enlace matrimonial jamais teria consentido em se
casar. Houve uma noção falsa sobre a pessoa do seu cônjuge; uma
discordância entre a vontade interna e a vontade declarada e que não
sofreu qualquer influência externa.
Portanto, erro é uma falsa idéia da verdade entre aquilo que o
agente pretendia e aquilo que realizou, ou seja, importa em uma
divergência entre a vontade declarada e aquela que manifestaria se
porventura melhor conhecesse. O agente crê em uma realidade que
não é verdadeira. Roberto Ruggiero ensina ser “em geral, qualquer
conhecimento falso”.208 Pontes de Miranda conceitua o erro: “Se o
que o figurante do ato jurídico tinha por verdadeiro não o é, dá-se o
erro”209. Para Orlando Gomes, “o erro é uma falsa representação”210.
Compra-se um automóvel adulterado na montagem de peças e com
chassi trocado. O Tribunal decidiu que a divergência substancial entre
aquilo que se quis adquirir e o que realmente se adquiriu impõe a
rescisão do contrato (in RT 580/255). “Demonstrado que somente
após o casamento veio o marido a conhecer a vida desregrada da
mulher no ambiente de trabalho e que tal fato tornou insuportável a
vida em comum, impõe-se a anulação do casamento” (in RT 632/89).
Portanto, a eficácia do ato depende da coincidência do querer íntimo
do sujeito e a sua vontade manifestada. Havendo tal desavença e
desde que esta não tenha sofrido qualquer influência externa, - repita-
se - configurado estará o erro. É que o erro deve ser espontâneo, sem
a provocação interesseira de terceiro, pois se houver alguma
influência malévola visando beneficiar o provocador com a
manifestação, surge a figura do dolo, que será analisado no próximo
capítulo.
O nosso Código Civil trata desse vício de vontade na seção I,

208
Ob. e vol. cits., p. 226
209
Ob. cit., vol. IV, p. 271
210
Introdução, n. 314, Forense, Rio, p. 389

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no capítulo IV, do Livro III, sob a denominação “Do Erro ou


Ignorância”.
Não se deve confundir erro com ignorância, pois esta é o
completo desconhecimento acerca de determinado objeto, ao passo
que aquele é a noção falsa, infiel a respeito de certo objeto ou de
determinada pessoa. Contudo, neste capítulo, o erro e a ignorância
são tratados como se fossem a mesma figura, pois o Código os
equipara quanto aos seus efeitos. Assim, tudo quanto se diz sobre o
erro aplica-se à ignorância.

22.4 PRESSUPOSTOS DO ERRO

Quando uma pessoa realiza um negócio jurídico, o faz de


acordo com a sua vontade; se a vontade se apresenta viciada por um
erro que a deturpa, permite a lei a invalidade do negócio jurídico,
desde que presentes os seguintes pressupostos: 1) que o erro seja
substancial; 2) que seja escusável.

22.4.1 Erro substancial

“Se o cônjuge varão contrai núpcias com a mulher em


razão de sua gravidez e vem a descobrir posteriormente que o
filho, na realidade, pertence a terceiro, resta configurado o
erro essencial quanto à pessoa do outro, investido de força
bastante à anulação do casamento, a teor do art. 218 (novo,
art. 1.556) do CC, independentemente de a esposa ter ou não
agido dolosamente” (in RT 767/235).

Não são todos os tipos de erro que anulam o negócio jurídico,


mas somente os essenciais ou substanciais. É o que se extrai da dicção
textual do art. 138 do CC, in verbis: “São anuláveis os negócios
jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de erro
substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência
normal, em face das circunstâncias do negócio”.

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Parte Geral

Erro substancial é aquele de tal relevância que, se fosse


conhecida a verdade, o negócio jurídico não seria celebrado; é o caso
acima exposto ou dos exemplos dados inicialmente: se a esposa
soubesse das relações sexuais incestuosas do marido, ou que ele era
homossexual, jamais teria praticado o ato jurídico do casamento. “É
indisputável que o homossexualismo do marido torne insuportável a
vida em comum - decidiu certa vez o Tribunal. Entretanto, para
justificar a anulação do casamento, deve a mulher comprovar que o
conhecimento do fato foi posterior ao matrimônio” (in RT 577/119).
O nosso Código Civil esclarece as espécies de erro
considerado substancial:

“Art. 139 O erro é substancial quando:


I – interessa à natureza do negócio, ao objeto principal
da declaração, ou a alguma das qualidades a ele
essenciais;
II – concerne à identidade ou à qualidade essencial da
pessoa a quem se refira a declaração de vontade,
desde que tenha influído nesta de modo relevante;
III – sendo de direito e não implicando recusa à aplicação
da lei, for o motivo único ou principal do negócio
jurídico.

À luz deste artigo, o erro poderá incidir no negócio, no objeto


ou na pessoa.
Vejamos as várias espécies indicadas pela lei:

22.4.1.1 Erro sobre a natureza do negócio (error in


negotio)

Ocorre quando uma pessoa realiza determinada negociação, e,


na realidade, está realizando outra. Pensava estar assinando um
contrato de comodato (empréstimo gratuito), mas estava assinando

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Dos Defeitos do Negócio Jurídico – do Erro

um contrato de locação, ou seja, o ato foi realizado de forma diversa


da pretendida. Se uma pessoa, por exemplo, entrega a outra um
objeto a título de empréstimo e esta outra o recebe como doação, o
erro recai sobre a natureza do ato. É a própria natureza do ato que é
alterada. Vale, a respeito, a ementa que segue: “Caracteriza-se erro
substancial quando o contratante pensa estar dando em garantia de
dívida os seus direitos possessórios, mas firma instrumento por meio
do qual aqueles direitos são dados em pagamento” (in RT 760/392).

22.4.1.2 Erro sobre o objeto principal da declaração, no


que tange à sua identificação (error in corpore)

Ocorre quando determinada pessoa adquire uma coisa em


lugar de outra. O engano incide sobre a identidade do objeto. O
adquirente recebe outra coisa que não aquela que comprou. Faltou ao
objeto que foi entregue uma qualidade importante, com a qual o
adquirente contava e que influiu decisivamente no seu consentimento.
Por exemplo, se alguém compra um cavalo árabe, mas recebe um
cavalo de outra raça não tão nobre, trata-se de erro substancial,
porque a raça árabe era a qualidade do animal que o levou a
manifestar o seu consentimento e a realizar o ato negocial.

22.4.l.3 Erro sobre algumas qualidades essenciais do


objeto adquirido (error in substancia)

Interessante trazer à baila, para melhor ilustrar o tema em


apreço, a ementa publicada pela RT 735/377: “Ocorrendo compra e
venda de quadro a óleo, de famoso pintor, e posteriormente
verificado, por renomados peritos europeus, que o quadro não fora
pintado pelo referido pintor o qual constava seu nome na tela, não
restando a menor dúvida sobre o erro essencial a que foi conduzido o
comprador, que à evidência não teria realizado o negócio se soubesse
que o quadro era falso, sendo assim, a conseqüência é a anulação do
negócio jurídico, com a volta ao statu quo ante, nos termos do art. 86

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Parte Geral

do CC-16, e ainda com acréscimo das despesas necessárias para a


verificação da autenticidade do quadro”. De fato, quando na
suposição da existência de determinada qualidade essencial do objeto,
esta não corresponde, o erro existe. É o caso, por exemplo, da
encomenda de um trailer a um fabricante, mediante contrato
contendo as características, sendo entregue um outro, completamente
diferente (in RT 316/150); ou é o caso de uma pessoa adquirir um
candelabro de metal prateado supondo estar adquirindo de prata ou,
ainda, “a entrega de um automóvel diverso do pactuado, adulterado
na montagem de peças e chassi trocado” (in RT 580/255). A pessoa
que pratica o ato negocial pensa existir determinada qualidade na
coisa e ela inexiste.

22.4.1.4 Erro sobre as qualidades essenciais de


determinada pessoa (error in persona)
Quando penso tratar-se de determinada pessoa, mas sendo
outra completamente diferente, o erro recai sobre as qualidades
essenciais da pessoa. “Procede ação de anulação de casamento,
proposta pela esposa, por ser o marido portador de epilepsia, fato que
a mulher veio a conhecer após o matrimônio” (in RT 447/92). “A
hemofilia é moléstia grave e transmissível por herança e a sua
existência, preexistente ao casamento, constitui erro essencial,
principalmente se ignorada pela esposa, autorizando a anulação do
casamento” (in RT 450/78). Veja, ainda, outro caso decidido pelo
tribunal: “A impotência coeundi, anterior ao casamento, manifesta e
permanente, constitui motivo justo para a sua anulação” (in RT
464/77). “Anula-se o casamento por erro essencial de pessoas, se
comprovado ficou que a mulher, no casamento, desconhecia ser, o
marido, portador de esquizofrenia transmissível por herança genética
à descendência” (in RT 676/149).
Quando o erro recai sobre as qualidades essenciais da pessoa,
o prazo para anular o casamento é de três anos a contar da data da
celebração (CC, art. 1.560, III).
Convém aqui invocarmos a lição de José Abreu Filho que,
com precisão, observa: “Erro sobre as qualidades essenciais de

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Dos Defeitos do Negócio Jurídico – do Erro

determinada pessoa se consubstancia, também, “quando alguém


consuma uma negociação em razão de erro no que respeita à
identificação do outro contratante ou de sua idoneidade moral. Pode
também o erro essencial sobre a pessoa dizer respeito ao destinatário
da declaração”211.

22.4.2 A escusabilidade do erro

Há o casamento e, logo após, o marido toma conhecimento da


vida desregrada da mulher no ambiente de trabalho, tornando-se
insuportável a vida em comum; ou adquire-se um imóvel a ser
desapropriado, circunstância ignorada pelo comprador antes da
compra. Pergunta-se: o marido deveria investigar a conduta da
mulher antes de praticar o ato jurídico do casamento? O comprador
deveria inteirar-se da existência da desapropriação antes da compra?
Seus erros são inescusáveis por terem eles agidos com culpa?
A doutrina distingue o erro escusável, do erro inescusável. Só
o escusável pode ser anulado.
O erro escusável é aquele que pode ser cometido por pessoa
sensata, isto é, pessoa de atenção e inteligência mediana. Só será
inescusável o erro escandaloso que procede de culpa grave do
declarante; “é aquele em que não teria caído uma pessoa dotada de
normal inteligência, experiência e circunspecção”. Um técnico, por
exemplo, não pode pedir que se desfaça um negócio jurídico baseado
em erro inescusável, ocorrido dentro de sua especialidade. O STJ
decidiu que o “erro pode ser escusado, mas não pode invocá-lo quem
foi culpado pelo mesmo, não empregando a diligência ordinária” (in
RT 119/229). “Em cada caso deve-se analisar a cultura, a inteligência
e especialmente a atividade profissional daquele que o alega” (in RT
520/116). “Não se admite, outrossim, a alegação de erro por parte
daquele que atuou com acentuado grau de displicência. O direito não
deve amparar o negligente” – escrevem Pablo S. Gagliano e Rodolfo

211
O negócio jurídico e sua teoria geral, Saraiva, São Paulo, 1995, p. 248.

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Parte Geral

Pamplona Filho212.
22.5 ESPÉCIES DE ERRO
O erro pode ser substancial ou acidental. O primeiro vicia o
ato em sua substância, ou seja, influi decisivamente no consentimento
do declarante de tal modo que, se soubesse do verdadeiro estado da
coisa, o negócio jurídico não ocorreria. O último, no dizer de Clóvis
Beviláqua, “é o que recai sobre as qualidades secundárias do objeto
ou sobre os motivos do ato, quando não são eles as causas
determinantes da declaração da vontade”. É aquele que não influi na
validade do negócio jurídico. Se adquiro, por exemplo, um carro de
cor amarela, quando ele é de cor azul, não altero a validade do
negócio, pois o erro recai sobre as qualidades secundárias do objeto.
“O erro de indicação da pessoa ou da coisa, a que se referir a
declaração de vontade, não viciará o negócio quando, por seu
contexto e pelas circunstâncias, se puder identificar a coisa ou
pessoa cogitada” (CC, art. 142).
Só o erro substancial tem o condão de anular o ato. “É
anulável o ato jurídico por erro substancial, escusável e real, capaz de
viciar a vontade de quem o pratica (art. 147, II, do CC-16)” (in RT
666/147).

22.6 ERRO DE FATO E ERRO DE DIREITO


Vimos que o erro de fato possibilita a anulação do negócio
jurídico. Se a vontade manifesta do homem não está em harmonia
com o seu real querer interior, incidindo em erro, isso pode dar causa
à anulação do negócio jurídico. E o erro de direito, aquele referente a
uma norma jurídica, supondo que ela se encontra em vigor, mas não
está, também pode possibilitar a anulação do negócio jurídico?
Clóvis Beviláqua não admitiu o erro de direito para anular o
negócio jurídico. Por isso o Código Civil tratou tão-somente do erro
de fato, nada mencionando a respeito do erro de direito como causa
determinante da anulação do negócio jurídico.
212
Ob. e vol. cits., p. 358.

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Dos Defeitos do Negócio Jurídico – do Erro

A lei existe para todos e vale o princípio do art. 3.º da LICC:


“Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a
conhece”. Ninguém, portanto, se escusa de seu cumprimento; a sua
ignorância ou a sua errada compreensão a ninguém exime de
apenação (CP, art. 16). Portanto, a presunção é de que todos
conheçam a lei e lhe devam obediência. Se deixasse de valer para
alguns, seria discriminatória, fazendo-se em prêmio a sua ignorância.
“O erro de direito - decidiu o Tribunal - invalida o ato jurídico, não
procedendo invocar contra essa tese o princípio do art. 3º da Lei de
Introdução ao CC, pois, no caso, não se invoca esse erro para
“descumprir” a lei” ( in RT 545/192).
De fato, o que não se admite é invocar o erro de direito em
oposição ou simples recusa à aplicação da lei. O que é admitido é o
agente emitir a declaração de vontade no pressuposto falso de que
procedia de acordo com a lei, podendo, portanto, invalidar o negócio
jurídico.
Consiste o erro de direito na conhecida síntese de Pontes de
Miranda, “em não se ter da regra jurídica o conhecimento exato do
que ela diz, ou em não se saber que existe, ou em se lhe afirmar a
existência, se não existe”.
Como exemplo, citamos o caso de alguém emitir um cheque
pré-datado, sem saber que este é uma ordem de pagamento à vista. O
emitente não pretendeu furtar-se ao cumprimento da lei, tanto que o
emitiu colocando data posterior. É o caso típico em que a vontade foi
manifestada, mas viciada por erro. Analise o exemplo dado pelos
Juízes Pablo S. Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho: Alguém celebra
um contrato de importação de uma determinada mercadoria, sem
saber que, recentemente, foi expedido decreto proibindo a entrada de
tal produto no território nacional213.

22.7 TRANSMISSÃO ERRÔNEA DA VONTADE


POR INSTRUMENTO OU POR INTERPOSTA
PESSOA

213
Ob. e vol. cits., p. 358.

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Parte Geral

Se uma pessoa recorre a outrem para transmitir uma


declaração de vontade, como, por exemplo, uma mensagem ao
telégrafo, e este a transmite com incorreções, ocasionando uma
divergência entre a vontade e a declaração, o ato pode ser anulado,
nas mesmas condições da transmissão direta. Tal situação está
prevista no art. 141 do CC, in verbis:
“A transmissão errônea da vontade por meios
interpostos é anulável nos mesmos casos em que o é a
declaração direta”.
Os danos causados a terceiro, devido à transmissão errônea,
serão da responsabilidade daquele a quem couber a culpa na
transmissão.

22.8 MOTIVOS QUE DÃO ORIGEM AO


NEGÓCIO JURÍDICO (falso motivo)

Suponhamos a venda de um estabelecimento comercial


ficando pactuado a existência de um certo movimento diário ou
mensal.
Tem-se aí o motivo determinante da compra e que ficou
expresso, conhecido de ambas as partes como pressuposto da
convenção. Se o comprador, posteriormente, verifica não ser aquele o
movimento, tal situação afeta a validade do negócio jurídico, nos
termos do art. 140 do CC: “O falso motivo só vicia a declaração de
vontade quando expresso como razão determinante”. É claro que,
se o comprador soubesse do movimento real, não adquiriria o fundo
de comércio.
De um modo geral, os motivos que dão origem ao negócio
jurídico não são investigados pelo Direito, pois são considerados
razões estranhas ao objeto do ato. Entretanto, se esses motivos
vierem expressos como razão determinante, ou fizerem parte
integrante do negócio, aí o Direito os reconhece, de sorte que, se
forem falsos, o negócio jurídico estará viciado, tornando-se anulável.

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Dos Defeitos do Negócio Jurídico – do Erro

É o caso, por exemplo, de alguém deixar testamento e neste


beneficiar uma pessoa com um legado, declarando o testador de que
assim procede por ter o legatário salvo a sua vida. Se ficar provado
que o beneficiário nem mesmo participara do salvamento, o legado
não prevalece, impondo-se-lhe a anulação.
Em conclusão, os motivos que dão origem ao negócio jurídico
só serão causa de anulação, se vierem expressos como razão
determinante do ato negocial, porque, normalmente a causa constitui
erro acidental que não gera a anulação do negócio jurídico.

JURISPRUDÊNCIA

1. “A moléstia grave de um dos cônjuges ignorada pelo outro à


data do consentimento, só seria razão jurídica para anulação, se
preenchidos os demais requisitos legais: transmissibilidade da patologia,
e colocação, sob risco de vida e de saúde, do marido, ou da prole” – RT
706/61.
2. “Anula-se o casamento por erro essencial de pessoas, se
comprovado ficou que a mulher, no casamento, desconhecia ser, o
marido, portador de esquizofrenia transmissível por herança genética à
descendência” – RT 676/149.
3. “A admissão pela vendedora de que transferiu ao comprador
lotes impróprios para a construção, porque localizados em um banhado,
não configura simples hipótese de vício redibitório, mas, sim, de vício do
ato jurídico, sob a modalidade do dolo, vez que induzido em erro o
adquirente pelo vendedor, que buscava, assim, proveito indevido. Na
melhor das hipóteses para o alienante, se estaria frente a erro
substancial, por dizer respeito a qualidades essenciais que levaram à
realização do ato jurídico. E em ambas essas hipóteses o prazo
prescricional não é o semestral previsto para o vício redibitório, mas o
de quatro anos, nos termos do art. 178, § 9.º, V, “b”, do CC” – RT
669/172. No mesmo sentido: RT 610/135. No mesmo sentido: RT
605/235.

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Parte Geral

4. “É anulável o ato jurídico por erro substancial, escusável e


real, capaz de viciar a vontade de quem o pratica (art. 147, II, do CC).
Há necessidade, contudo, de ser demonstrado por quem o invoca, mas,
por ser fenômeno de ordem subjetiva, que muitas vezes não comporta
prova direta, essa demonstração pode ser feita através de indícios e
presunções, devendo ser reconhecido se emergir cristalino de elementos
objetivos” – RT 666/147.
5. “Improcede ação de anulação de casamento por erro essencial
quanto à pessoa do outro cônjuge sob a alegação de estar acometido de
moléstia grave se a doença não for transmissível, o desconhecimento
prévio do autor não for comprovado e a insuportabilidade da vida em
comum não estiver caracterizada” – RT 640/71.
6. “Demonstrado que somente após o casamento veio o marido a
conhecer a vida desregrada da mulher no ambiente de trabalho e que tal
fato tornou insuportável a vida em comum, impõe-se a anulação do
casamento” – RT 632/89. No mesmo sentido: RT 609/169.
7. “O concubinato anterior ao casamento e a existência de filhos
dessa união irregular não são motivos suficientes para autorizar a
anulação do matrimônio baseada em erro essencial quanto à pessoa do
cônjuge, mormente se o casal ainda houver convivido durante certo
período não obstante a descoberta daqueles fatos, que ensejariam,
quando muito, uma separação” – RT 622/177.
8. “O erro fica caracterizado se a mulher se casou apenas para
provocar ciúmes no antigo amante, que a abandonou para casar-se com
outra mulher, não conseguindo, por isso, a esposa copular com o
marido, em face da aversão sexual que admitiu existir em relação ao
cônjuge” – RT 614/167.
9. Erro essencial quanto à pessoa do outro cônjuge. “Ignorância
por parte de um dos cônjuges de condenação criminal do outro por
sentença definitiva e decorrente de crime inafiançável anterior ao
casamento” – RT 614/176.
10. “Caracteriza o induzimento em erro essencial quanto ao
caráter, quanto à identidade moral do outro cônjuge, o fato de estar a
mulher grávida de outrem anteriormente ao matrimônio, imputando ao
cônjuge varão a paternidade” – RT 612/85.
11. “A diferença de juros e correção monetária não caracteriza

348
Dos Defeitos do Negócio Jurídico – do Erro

“erro substancial”, na exegese dos arts. 86 e 87 do CC-16, por não


afetar a natureza do ato (error in ipso negotio) nem, tampouco, o objeto
principal da declaração (in ipso corpore rei). Reputar-se essencial tal
erro equivale a reviver o instituto da lesão, que não constitui causa de
nulidade do ato jurídico”– RT 596/89.
12. “Provada a impotência instrumental do marido, anula-se o
casamento realizado há menos de dois anos, dando-se pela procedência
da ação intentada pelo outro cônjuge” – RT 596/225.
13. “Recusando-se a mulher ao debitum conjugale, com frustração
integral do casamento em seu precípuo fim, procede a ação anulatória
ajuizada pelo marido, tendo em vista o disposto no art. 218 do CC” –
RT 590/75.
14. “O fato de o preço do negócio jurídico ser superior ao valor
real das mercadorias não constitui erro essencial ou substancial,
podendo constituir apenas erro acidental, que não induz à anulação do
ato” – RT 589/126.
15. “Não há erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge se a
autora admitiu, explicitamente, em depoimento pessoal, saber da ligação
amorosa existente, desde antes do casamento, entre o marido e sua
concubina, adiantando ter conhecimento de que ambos tinham um filho
em comum e confessando, igualmente, que o casal viveu bem, nos tempos
iniciais” – RT 587/55. No mesmo sentido: RT 545/226.
16. “É improcedente a ação de anulação de casamento se a
pretensa insuportabilidade da vida em comum, alegada pela mulher, não
deflui da ignorância, contemporânea às bodas, de vício anterior de seu
marido, mas sim do comportamento posterior do cônjuge, representado
pela falta de amparo e maus tratos” – RT 584/114.
17. “Não há se falar em vício redibitório quando não se trata de
simples defeito, mas de divergência substancial, erro material entre
aquilo que se quis adquirir e o que realmente se adquiriu.
A entrega de um automóvel diverso de pactuado, adulterado na
montagem de peças e chassi trocado, impõe a rescisão por
inadimplemento contratual, com a discussão indenizatória em face da
impossibilidade da manutenção da posse e utilização do veículo” – RT
580/255.
18. “É indisputável que o homossexualismo do marido torna

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Parte Geral

insuportável a vida em comum. Entretanto, para justificar a anulação do


casamento deve a mulher comprovar que o conhecimento do fato foi
posterior ao matrimônio” – RT 577/119.
19. “Inocorre erro substancial e fraude se o comprador comprou
bens sabendo serem usados.
Erro acidental juridicamente irrelevante não afeta a validade do
negócio. Erro leve não contamina o ato (art. 91 do CC).” – RT 550/206.
20. “Anulável é a compra e venda de veículo automotor se o
número do chassi não corresponde ao da coisa vendida, pois existe erro
substancial” – RT 548/212.
21. “Ao consentir no casamento ignorando a esterilização
voluntária do marido, incide a mulher em erro essencial quanto à pessoa
do outro cônjuge, impondo-se a anulação do casamento” – RT 547/55.
22. “O erro de direito invalida o ato jurídico, não procedendo
invocar contra essa tese o princípio do art. 3.º da Lei de Introdução ao
CC, pois, no caso não se invoca esse erro para “descumprir” a lei” – RT
545/192.
23. “Constitui requisito do erro essencial ser este real e recair
sobre o objeto do contrato, e não, simplesmente, sobre o nome ou sobre
as qualificações” – RT 539/78.
24. “Configurado o erro essencial sobre a pessoa do marido, pode
ser pleiteada a anulação do casamento, pela esposa que desconhecia
ocorrências criminosas em que aquele se envolvera” – RT 535/108.
25. “Não constitui erro essencial quando à identidade civil do
outro cônjuge, com força anulatória do casamento, o fato de alguém
fazer-se passar por engenheiro, sem o ser, ter sido apontado algum título
de cobertura das despesas feitas com cartão de crédito anos antes do
casamento ou, depois dele, haver emitido dois cheques seriados sem
suficiente provisão de fundos, mas afinal resgatados” – RT 527/211.
26. “O conhecimento ulterior ao casamento de que o marido, ao
casar-se, tinha amante e filhos constitui erro essencial sobre a identidade
do outro cônjuge, acarretando a insuportabilidade da vida em comum,
atentos à formação moral, condição familiar e profissional da esposa” –
RT 526/221.

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Dos Defeitos do Negócio Jurídico – do Erro

27. “Uma coisa é vício de consentimento, consentimento


defeituoso, e aí, muito diferente, a ausência absoluta desse
consentimento. Num caso o ato existe, ainda que imperfeito e, no outro
caso, o ato não se constitui, não existe, não se forma, por faltar-lhe a
própria “via agens”. Por conseguinte, o dispositivo do Código Civil, que
apenas prevê o caso de erro, dolo, simulação ou fraude, não se pode
aplicar no caso em que ocorre a ausência mesma de consentimento” –
RT 724/296.
28. “Caracteriza-se erro substancial quando o contratante pensa
estar dando em garantia de dívida os seus direitos possessórios, mas
firma instrumento por meio do qual aqueles direitos são dados em
pagamento” – RT 760/392.
29. “Ocorrendo compra e venda de quadro a óleo, de famoso
pintor, e posteriormente verificado, por renomados peritos europeus,
que o quadro não fora pintado pelo referido pintor o qual constava seu
nome na tela, não restando a menor dúvida sobre o erro essencial a que
foi conduzido o comprador, que à evidência não teria realizado o
negócio se soubesse que o quadro era falso, sendo assim, a conseqüência
é a anulação do negócio jurídico, com a volta ao statu quo ante, nos
termos do art. 86 do CC, e ainda com acréscimo das despesas
necessárias para a verificação da autenticidade do quadro” – RT
735/377.
30. “O desemprego ou a ociosidade do marido não são motivos
suficientes a levar à anulação do casamento, fundada em erro essencial
sobre a pessoa do cônjuge, mormente se a esposa aceitou por algum
tempo, a indolência do esposo” – RT 779/330.

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Parte Geral

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