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PALAVRAS CHAVES:
RESUMO:
Sumário
1. Introdução
2. Processo
3. Processo cautelar
4. Objeto do processo cautelar
5. Natureza da providência cautelar
6. Lide e cautelar jurisdicional
7. Direito substancial de cautela
8. Mérito próprio do processo cautelar
9. Conclusões
Notas bibliográficas
2
1. Introdução
2. Processo
1
CALAMANDREI, Piero. Introdução ao estudo sistemático dos procedimentos cautelares. Este e outros autores
fazem referência ao “procedimento cautelar” e não ao processo cautelar, como está consagrado na legislação
brasileira.
2
NERY JUNIOR. Nelson. Do processo cautelar. REPRO, v. 39. p. 180.
3
Exposição de motivos do Código de Processo Civil, n° 6. “A lide é, portanto, o objeto principal do processo e nela
se exprimem as aspirações em conflito de ambos os litigantes”.
4
SOUZA, Gelson Amaro de. Teoria geral do processo cautelar. pp. 10:11.
3
Uma coisa é certa, todo processo tem por causa (objeto) uma lide e esta lide é que
constitui o mérito a ser julgado. Uma vez julgada a lide, estará julgado o mérito e, uma vez
julgado este, estará julgada aquela.
Para uma melhor compreensão do processo cautelar, é aconselhável que antes se faça
uma rápida recordação do que é processo de conhecimento e o que constitui o processo de
execução. Uma pergunta pode surgir-se de imediato: Em que consiste o processo de
conhecimento? Como resposta, pode-se dizer que o processo de conhecimento é o processo de
definição de direito.
É aquele processo que começa sem ser possível naquele momento, dizer quem tem
razão, entre as duas ou mais partes. Somente, ao final quando o juiz estiver satisfeito com o
contexto probatório dos autos é que ele (o juiz) definirá quem tem o direito e quem tem
obrigação e em que proporção os têm. Por isso é que se chama processo de conhecimento porque
visa a que se conheça qual das partes está com razão.
Já no processo de execução, tudo se passa de forma diferente e este começa quando
se sabe quem tem direito e qual é esse direito (credor) e quem tem obrigação e qual será essa
obrigação (devedor). Nesta modalidade de processo, já não mais se visa uma definição de direito,
porque esse direito já está definido. Poder-se-ia perguntar: Para que então serve o processo de
execução? Este serve para realizar (satisfazer) o direito já definido, quando, apesar dessa
definição, a parte obrigada não satisfaça espontaneamente a obrigação.
O processo cautelar, como terceiro gênero, tem outra finalidade, bastante diferente
das que foram visto acima. Não serve para definir direito, como no processo de conhecimento e
nem serve para realizar ou satisfazer direito já reconhecido, como acontece com o processo de
execução. Sua finalidade é bem outra. Serve tão-somente para assegurar (dar segurança) à
eficácia do processo principal. A sua finalidade é prevenir, proteger, acautelar-se de um perigo
atual e iminente, que poderá prejudicar o direito perseguido no processo de conhecimento ou no
processo de execução. Tem como finalidade proteger a eficácia de outro processo, que tanto
pode ser de conhecimento, como de execução.
3. Processo cautelar
Até, há pouco tempo eram conhecidas apenas duas espécies de processo e que se
consubstanciavam em processo de conhecimento e processo de execução. Mais recentemente,
após ouvir os insistentes reclamos da doutrina, o legislador instituiu a terceira espécie, que é o
processo cautelar.
4
Cada uma dessas espécies de processo tem a sua finalidade própria, e, diferente das
demais, muito embora, possam ter alguns pontos em comum. Entre os pontos comuns que devem
existir em todo processo, estão a causa de pedir (lide) e o pedido, elementos necessários (arts.
282, III e IV c.c. 195, I e § único, I, do CPC) e que se consubstanciam no mérito da causa.
Diferenciam-se na estrutura, objeto e finalidade.
Ao tempo em que se considerava o cautelar apenas como procedimento, era natural
que se negasse a presença de lide e mérito, até porque assim sempre entendeu a doutrina em
relação à jurisdição voluntária. É corrente a idéia de que na jurisdição voluntária não há
processo, havendo só procedimento, por inexistentes as figuras da lide e do mérito.
O processo cautelar é extremamente novo e por isso muito tem ainda de ser
aperfeiçoado. Escrevendo sobre a tutela cautelar ESTROUGO (1997), deixou assentado:
“A idéia do presente trabalho nasceu da constatação de que existe uma
profunda e radical divergência doutrinária em torno daquilo que efetivamente
se caracteriza como tutela cautelar, pois existem orientações, aqui e ali,
frontalmente contrárias àquela esposada no nosso ordenamento processual. Tal
divergência não é privilégio apenas da doutrina nacional, mas também
alienígena”.5
Em razão de sua novidade o processo cautelar tem sido tratado com desconfiança por
parte da doutrina, que mesmo sem perceber, tem dado a ele tratamento incompatível com a idéia
de processo. Todo processo tem de ter pedido (art. 282, IV CP) e causa de pedir (art. 282, III.
CPC) que retratam a lide, porque esta é o objeto do processo. Sem lide o processo seria sem
objeto e o pedido (mérito) não poderia ser apreciado.
5
ESTROUGO, Mônica Guazzelli. Visão analítica da tutela cautelar. In Tutela Cautelar. p. 195. Vários autores.
Porto Alegre: Síntese 1997.
5
Outro aspecto que merece relevância, é o de que todo processo tem por finalidade
solucionar uma lide, na busca da promoção da paz social. Se assim é, e como hoje é reconhecida
a existência de lide no processo cautelar, a sentença nesse processo também visa solucionar a
lide cautelar (lide de segurança), no sentido de promover a paz social. Se a finalidade do
processo é solucionar a lide para a promoção da paz social, seria incoerente e contrário a esse
postulado imaginar-se ou pensar-se em sentença que pudesse solucionar a lide de forma
provisória. A promoção da paz social jamais poderá ser vista como finalidade provisória e assim
nenhuma sentença poderá solucionar a lide, apenas provisoriamente. FABREGUETTES,6 já
advertia: “por suas sentenças teem (sic) os juizes a missão de reestabelecerem (sic) a ordem”.
Ora, se assim é, nenhuma sentença poderá estabelecer uma ordem com caráter provisório.
Em brilhante trabalho doutrinário CASEIRO (1996), deixou claro que “há cautelas
que não geram ação cautelar e há outras que somente, via de ação, podem ser resolvidas”.7
Esse autor, em verdade, confirma o que foi exposto anteriormente, no sentido de que
existem medidas cautelares que somente são resolvidas pela via contenciosa (com ação e
processo cautelar) e outras que poderão ser estabelecidas pela via voluntária, por simples
procedimento em separado, sem necessidade de ação e processo ou até mesmo via medida
cautelar simples que pode ser tomada dentro do mesmo processo principal. Nesse último caso,
como adverte BERMUDES (2002) “é sempre embutida em outro processo”.8
A doutrina vez por outra fala, também, em medida cautelar administrativa e que essa
pode ser determinada de ofício pelo juiz ou a requerimento da parte, dentro do processo
principal, sem a necessidade de procedimento ou processo em separado.Importante é a
observação feita pelo doutrinador e magistrado FRANCISCO ANTONIO DE OLIVEIRA
quando assim se expressou:
“Mister se faz separar as medidas acautelatórias de natureza jurisdicional e as
de natureza administrativa. As medidas cautelares administrativas bastam a si
mesma e não dependem de nenhum processo principal, e.g. protesto,
notificação, interpelação, produção antecipada de prova etc. Assim, o simples
fato de alguém pedir uma antecipação de prova ou uma vistoria ad perpetuam
rei memoriam, não quer dizer que esteja obrigado a propor uma ação principal
em trinta dias, posto que sequer está obrigado a propor a ação”.9
6
FABREGUETTES, M.P. A lógica judiciária e arte de julgar. p. 7.
7
CASEIRO, Luciano. Lide cautelar. p. 77. São Paulo: LEUD 1996. No mesmo sentido foi julgado pelo TJRS, cujo
teor do julgamento encontra-se publicado na RJTJRGS 133/239.
8
BERMUDES, Sérgio. Introdução ao processo p. 156.
9
OLIVERIA, Francisco Antonio. Medidas cautelares.... p.27.
6
10
STJ. Resp. 41.076-2. Rel. Min. Pádua Ribeiro. RDC. 68/175.
11
FREDERICO MARQUES, José. Ensaio sobre a jurisdição voluntária, p. 117.
12
TJRS. “in” RJTJRS 133/239.
13
FREDERICO MARQUES, José. Ensaio sobre a jurisdição voluntária. p. 117. Millennium. Campinas. 2000.
7
Por sua vez REIS FRIEDE (2001) com clareza e lucidez esclareceu a questão e o fez
nas seguintes palavras:
“Assim o conteúdo intrínseco de uma de Ação de Conhecimento é, sem dúvida,
o direito material litigioso, caracterizador de uma lide substantiva associada ao
seu aspecto meritório; ao passo que nas Ações Cautelares, ao reverso, o
conteúdo intrínseco é, por seu turno, o Direito Processual cautelar,
caracterizador de uma lide de dano associada ao seu aspecto acautelatório, que
revela, em última análise, segundo expressiva parcela da doutrina, na
denominada medida cautelar”.19
14
DABUS MALUF. Carlos Alberto. O seqüestro no processo civil. REPRO 11-12, p. 65.
15
STJ. REsp. 41.017-7-SP. J. 9.2.94. “in” Revista de Direito Civil, vol. 68, pp.172 e 173.
16
MARINS, Victor A. A. Bomfim.Com.CPC. vol. 12, p. 278.
17
THEODORO JUNIOR, Humberto. Processo Cautelar. 3ª edição. São Paulo: LEUD 1978.
18
THEODORO JUNIOR, Humberto. Processo cautelar. 19ª edição. p. 89. São Paulo: LEUD 2000.
19
REIS FRIEDE. Mérito próprio e específico das ações cautelares. Revista Jurídica Consulex. n° 118, p.43.
Brasília. Dezembro 2001.
8
São os casos em que se apresenta uma lide de segurança e, como já se sabe, toda lide
somente poderá ser dirimida através de processo. A lide é o objeto do processo (exposição de
motivos do CPC) e sem lide não haveria razão para se instaurar o processo.
Se existe processo, logo, é porque existe lide. Bem adverte MUNHOZ DA CUNHA
(2001), que a alegação de dano irreparável importa a enunciação de uma outra lide, que se
compraz apenas com a tutela cautelar, secundária, residual.20
A ação cautelar nasce também da lide, da necessidade de segurança da parte contra
um risco a provocar a antecipação da medida na luta contra o tempo, ou a manutenção do status
quo entre as partes.21
Antigamente, a maioria dos autores negava a existência de lide no processo cautelar.
Isso se dava porque somente se voltava o pensamento para o processo principal e se imaginava a
existência de uma única lide, que era a principal, não admitida lide secundária ou lide apenas de
segurança. Mas, se se cuida de processo cautelar e como se sabe o objeto do processo é a lide,
logo não poderá haver processo cautelar sem lide. Não houvesse a lide cautelar, seria então
processo sem objeto.
BULOW sempre negou categoricamente a existência de um direito de acionar e de
qualquer direito processual anterior à lide ou quando inexistente a lide.22 Sem lide não há
processo. Todavia, PONTES DE MIRANDA (1976) que sempre esteve à frente de seu tempo,
naquela ocasião, já reconhecia a existência de lide e de mérito no processo cautelar, a ponto de
afirmar que a sentença de mérito no processo cautelar somente poderia ser modificada via ação
rescisória.23 Por serem expressivas as palavras de PONTES DE MIRANDA (1976), seguem
transcritas:
“A meia ciência, que andava por aí não admitia a ação rescisória de sentença
proferida em ação preventiva ou cautelar (Código de Processo Civil, 1973, art.
796-889)”;
“Ora, as pessoas que chegam a tal conclusão partem de premissa falha (...)”.24
20
MUNOZ DA CUNHA, Alcides. A tutela jurisdicional de direitos e a tutela autônoma do fumus boni juris.
Revista Jurídica 288, p. 44.
21
CALMON DE PASSOS, Elizabeth N. Mérito e lide no processo cautelar. REPRO 70/212. RT. São Paulo:
abril/junho 1993.
22
Nota em apêndice feita por CHIOVENDA in La accion en nel sistema de los direchos. p. 41.
23
PONTES DE MIRANDA. Tratado da ação rescisória, local citado.
24
PONTES DE MIRANDA, Obra citada, p. 402.
9
“O prazo preclusivo para a ação rescisória é pequeno (dois anos), mas pode
haver interesse em que se rescinda a sentença favorável ou desfavorável. Por
que algo pode advir que se teve por fito obstar com a cautelar”.25
Como é por demais sabido, a ação rescisória somente é cabível contra julgamento de
mérito, conforme expressamente dispõe o artigo 485 do CPC. Além de se referir à sentença de
mérito, essa norma exige que a sentença haja transitado em julgado, o que implica em coisa
julgada material.
Se a ação rescisória, somente, é cabível de sentença de mérito que faz coisa julgada
material e se se admite a ação rescisória da sentença cautelar, é porque essa tem mérito e coisa
julgada material. Não existisse mérito na sentença cautelar, não existiria a coisa julgada material
e por certo essa sentença não poderia ser objeto de ação rescisória.26 Entendendo haver lide no
processo cautelar, sempre se pronunciou FREDERICO MARQUES e nesse aspecto é possível
destacar a seguinte passagem: “Se o réu não contestou o pedido do autor, o juiz proferirá
julgamento antecipado da lide cautelar – o que também deve ocorrer, na hipótese de não haver
provas a ser produzidas em audiência (art. 803, Parágrafo único)”.27
De nossa parte já havíamos escrito em 1987, que:
“Ficou visto que, para justificar a tutela cautelar, são necessárias mais de que
uma lide. Isto é, além da lide principal, ainda se torna necessária a lide
secundária ou parcial no dizer de Galeno Lacerda”.
“Não havendo lide, não há processo cautelar, já que a lide é condição “sine qua
non” de todos os processos, conforme nos ensinou José Frederico Marques”.28
Como processo que é, o processo cautelar também se inicia com a petição inicial (art.
282, CPC) e para preenchimento dos requisitos da petição inicial necessita de indicar qual é o
pedido (art. 282, IV, CPC). Sem a indicação do pedido, a petição inicial será inepta (art. 295, I,
parágrafo único, I, CPC). Por ser processo, necessariamente, deve conter um pedido de direito
material e esse pedido genericamente considerado será pedido de segurança.
25
PONTES DE MIRANDA, idem , pp. 403-404;
26
O Egrégio Superior Tribunal de Justiça já reconheceu a existência de mérito no processo cautelar e assim
proclamou: “Definida a ação cautelar, como “processo cautelar”(art. 270 do CPC), a “sentença” que lhe puser termo
– como ou sem julgamento de mérito – condenará o vencido a pagar ao vencedor as despesas que antecipou e os
honorários advocatícios(CPC, arts. 20, 162, § 1°). REsp. 28.407-0. Rel. Demócrito Reinaldo. Revista de Direito
Civil 68/173. No mesmo sentido: STJ. REsp. 41.076-2. Rel. Pádua Ribeiro. J. 7.2.94. RDC. 68/174.
27
FREDERICO MARQUES, José. Manual de Direito Processual Civil. vol. 4. p. 386.
28
Nossos Comentários sobre o Acórdão proferido na Apelação 58.682-1, j. 1.2.85. publicado na Revista de Crítica
Judiciária, vol. 1. p. 77/94. Rio de Janeiro: Forense: 1° trimestre de 1987.
10
GALENO LACERDA, com a acuidade de sempre, deixou claro que não pode pensar
em processo sem pensar em direito material, visto que todo processo está a serviço de direito
material. São suas as seguintes palavras: “Processo não se compreende, separadamente do direito
material. O processo é um instrumento pelo qual se realiza essa obra maravilhosa que é a justiça
em concreto”.29 Diz o professor SHIMURA: “Por sua vez Ovídio Baptista da Silva, lastreado
em Allorio escreve que, se devemos afirmar a existência de uma res in judicium deducta da ação
cautelar, somos levados a supor que essa tutela direta e imediata corresponda à pretensão à
segurança, tenha uma peculiar função satisfativa, enquanto atende a pressuposto específicos com
acertamento, de maneira definitiva, sobre a res in judicium deducta”.30 Ainda o mesmo professor
SHIMURA reconhece: “a sentença de procedência na ação cautelar reconhece a existência de
uma pretensão à segurança (...) inevitável que se reconheça, à luz do Texto Magno (art. 5°,
XXXV), um direito substancial à cautela”.31 No mesmo sentido proclamou NERY JUNIOR, ao
dizer: “Vejo na ação cautelar realmente autonomia e vejo também um direito material à cautela,
um direito substancial de cautela, em oposição à tese de alguns processualistas, que crêem não
tutelar o processo cautelar direito algum”.32 Segue-se na mesma balada SAMPAIO, para quem
no processo cautelar há de se reconhecer a existência de um direito substancial de cautela, de lide
cautelar autônoma e diferenciada da principal.33 Em verdade o mérito do processo cautelar está
no direito substancial de cautela. Quando reconhecido o direito à cautela, é porque se está
reconhecendo o direito substancial de cautela. Reconhecendo o direito à cautela ou negando a
existência desse direito no caso concreto, estar-se-á julgando o mérito do processo cautelar.
29
GALENO LACERDA. Processo cautelar. Repro 44/188. São Paulo: RT. Outubro/dezembro 1986.
30
SHIMURA, Sérgio. Arresto cautelar, p. 42.
31
SHIMURA, Sérgio. Arresto cautelar, p. 43.
32
NERY JUNIOR. Nelson. Do processo cautelar. Revista de Processo, REPRO. v. 39, p. 182. RT: São Paulo,
julho/setembro, 1985. Novamente faz referência ao mérito do processo cautelar à página 189.
33
SAMPAIO, Marcus Vinícius de Abreu. O poder geral de cautela do juiz. p. 184.
11
34
DINAMARCO, Cândido Rangel. O conceito de mérito em processo civil. REPRO, v. 34, p. 37.
35
“O julgamento desse conflito de pretensões, mediante o qual o juiz, acolhendo ou rejeitando o pedido, dá razão a
uma das partes e nega-a a outra, constitui uma sentença definitiva de mérito”. Exposição de motivos n° 6.
36
LIMA GUERRA, Marcelo. Estudos sobre o processo cautelar. pp. 54, 77 e 79.
37
MONIZ DE ARAGÃO, E.D. Medidas cautelares inominadas. Rev. Brasileira de Dir. Processual, v. 57, p. 64.
38
NERY JUNIOR, Nelson. Do processo cautelar. Revista de Processo – REPRO. 39/189.
12
acolhe ou rejeita o pedido”.39 Esse eminente professor faz ligação entre a lide, o pedido e o
mérito e reconhece a existência de uma lide cautelar capaz de ensejar o mérito do processo
cautelar. São suas as palavras seguintes:
“Muito embora a ação cautelar não vise à solução da lide, objeto do processo
principal, o certo é que, em se tratando de medida contenciosa, lícito é falar-se
numa “lide cautelar”, ou seja, numa pretensão à segurança, que encontrou
resistência ou contestação. Assim, quando se exerce a ação cautelar, o autor
deduz em juízo um pedido, em face do réu, que expressa a pretensão de uma
providência concreta de ordem jurisdicional.
A solução do pedido cautelar, há de ser feita à luz dos pressupostos da tutela
cautelar, que são o fumus boni iuris e o periculum in mora. Logo, o juiz
examinará tais requisitos, não para determinar a eficácia da relação processual,
mas sim para acolher ou rejeitar o pedido. Ora, sentença que acolhe ou rejeita o
pedido é sentença de mérito (CPC, art. 269, I); pelo que não se pode tratar de
simples condição da ação o que é requisito de acolhimento do próprio
pedido”.40
Outra não é a orientação indicada por DE PLÁCIDO E SILVA, para quem o mérito
quer dizer a matéria em que se funda ou se baseia a questão posta em julgamento e nele é que se
funda o pedido do autor. São palavras suas: “A designação de mérito, pois, mostra a relevância
do assunto, porquanto representa ou se mostra aquele que deve ser decidido, visto ser ele o
próprio motivo ou razão de ser da demanda”.41
SHIMURA,42 anota que DONALDO ARMELIN, coloca o periculum in mora e o
fumus boni iuris como integrantes do mérito da ação cautelar. Em outro ponto o mesmo autor
reafirma a existência de mérito no processo cautelar e disse que nesse inegavelmente, há mérito
(mérito cautelar) que é diferente do mérito da ação principal.43
Também, SAMPAIO entende que existe mérito no processo cautelar e assim gizou:
“Por toda nossa argumentação e posicionamento manifestados no tocante ao processo cautelar,
no sentido de nele se reconhecer a existência de direito substancial de cautela, de lide cautelar
autônoma e diferenciada da principal, assim como de mérito próprio, devemos também e por
coerência reconhecer que as sentenças proferidas nas demandas cautelares, reconhecendo ou não
o direito à tutela, são efetivamente decisões de mérito, a teor das disposições constantes do art.
269. Consideramos possível a ocorrência, no âmbito do processo cautelar, de qualquer das
hipóteses legais que impõem ao juiz o julgamento de mérito da demanda, tal como disposto no já
39
THEODORO JUNIOR, Humberto. Pressupostos processuais e condições da ação no processo cautelar. REPRO.
v.. 50, p. 10. São Paulo: RT. Abril-junho, 1968.
40
THEODORO JUNIOR, Humberto. Pressupostos. cit. REPRO. Vol. 50, pp. 18 e 19.
41
DE PLÉCIDO E SILVA. Vocabulário Jurídico. Vol. 1. Rio de Janeiro: Forense, 1968.
42
SHIMURA, Sérgio. Arresto cautelar. p. 128.
43
SHIMURA, Sérgio, obra citada, p. 241.
13
citado art. 269, do CPC”.44 Na jurisprudência desde há muito se encontram julgados que
expressamente consignaram a existência de mérito no processo cautelar.45 ASSIS, seguindo esse
mesmo caminho assim se expressou: “Bem ponderada, a própria tese genérica, refugando a coisa
julgada material em sede de cautelar, revela-se inaceitável”.46
Até mesmo quem não admite diretamente a coisa julgada material no processo
cautelar, acaba por via indireta acolhendo-a, ao reconhecer a existência de lide e de mérito47. Da
mesma forma também a aceita de forma indireta aqueles que, embora negando-a, acabam por
acolher a definitividade da sentença cautelar.48 A respeito da existência de mérito no processo
cautelar, expressivas são as observações de MALACHINI (1996):
44
SAMPAIO, Marcus Vinicius de Abreu. O poder geral de cautela do juiz. p. 184.
45
“A cautelar possui o seu próprio mérito”. JTA-Lex 40/40; “O mérito da cautelar não pertine com a causa, origem
ou validade do título cambiário, possui esta seu próprio mérito. Porque diversos são os fundamentos da cautelar e
da ação principal, o juiz não pode deixar de proferir na primeira ainda que o faça conjuntamente com a segunda”.
RT. 719/152; “O mérito em sede cautelar é diverso daquele que se agita em processo de conhecimento, como o que
se pretende instaurar. Sua solução substitui e extingue a prestação jurisdicional cautelar, e não inversamente. O
mérito em sede cautelar é o concurso do periculum in mora e fumus boni iuris, tão-só”. RT. 719/134; “ No processo
cautelar, um pronunciamento final do juiz, aprecie ou não o respectivo mérito, é pedido”. (...) “Esta (a sentença) tem
que ser proferida examinando-se as condições ou os pressupostos e o mérito da ação cautelar”. RT. 719/152.
46
ASSIS, Araken de. Breve contribuição ao estudo da coisa julgada. AJURIS 46/91. Porto Alegre: Julho de 1989.
47
THEODORO JUNIOR, Humberto. Processo cautelar. 19ª edição. pp. 73 e 89.
48
NERY JUNIOR, Nelson e NERY, Rosa Maria Andrade. Código de Processo Civil Comentado. 2ª edição. Pág.
1151. São Paulo: RT. 1996. Também FUX, Luiz, assim se expressou: A definitividade do provimento é algo que
escapa ao plano normativo. Não nos parece que se possa estabelecer que não há possibilidade de definitividade
através de sumaria cognitio. Obra citada, p. 58.
49
MALACHINI, Edson Ribas. Cessação da eficácia da medida cautelar e extinção do processo. RDPC. Vol. 1. p.
11. Curitiba: Gênesis. Janeiro/abril. 1996.
50
Em relação à existência de lide encontram-se: GALENO LACERDA, Comentários ao CPC. vol. VIII, tomo I,
págs. 19, 26, 27, 334, 335. Rio. Forense 1980; CASCONE, Francisco Antonio. Cautelar e tempo para propor a
ação principal. “in” Temas de Processo Civil. Coordenação de Kiyoshi Harada, pág. 41. São Paulo: Editora Juarez
de Oliveira 2000; ORIONE NETO, Luiz. Obra citada pág. 440;FREDERICO MARQUES, José. Manual de Direito
Processual Civil. vol. 4. pág. 386;FABRÍCIO, Adroaldo Furtado. Breves notas sobre provimentos antecipatórios,
cautelares e liminares. “in” Estudos de Direito processual em memória de Luiz Machado Guimarães, p. 21,
14
Com relação existência de lide no processo cautelar até mesmo a jurisprudência vez
por outra utiliza a palavra “litigiosidade”, para expressar a existência de lide no processo
cautelar.51
Nessa modalidade de cautelar, tem ação cautelar e por via de conseqüência a
formação de processo cautelar, que por sua vez forma uma nova relação jurídica processual.
O processo cautelar, como qualquer outro processo, poderá ser extinto sem
julgamento do mérito, sempre que faltar qualquer das condições da ação, pressuposto processual
ou for inepta a petição inicial. Neste caso a sentença faz coisa julgada apenas formal. Caso o
processo não seja extinto sem julgamento do mérito, o juiz ao final proferirá sentença de mérito
que poderá ser pela procedência ou improcedência do pedido do autor em que pleiteia a
providência cautelar de seu interesse. O processo será extinto sem que ocorra julgamento do
mérito sempre que o pedido não chegar a ser conhecido (julgado). Todavia, como é por demais
sabido, sempre que o juiz apreciar o pedido, seja para concedê-lo ou denegá-lo, faz julgamento
de mérito. Como na ação cautelar o autor faz pedido, logo o julgamento deste pedido será
julgamento de mérito. Nesse sentido, encontra-se interessante julgado do Superior Tribunal de
Justiça, cuja ementa está assim redigida:
Coordenação de Barbosa Moreira, J.C. Rio de janeiro: Forense 1997; FERNANDES, Iara Toledo. Alimentos
provisionais. P. 59. São Paulo: Saraiva, 1994; SHIMURA, Sérgio Seiji. Arresto cautelar. p. 349, 2ª edição. São
Paulo: RT. 1997; CUNHA, Alcides Alberto Munhoz da. A lide cautelar no processo civil. Págs. 77 e 138. Curitiba:
Juruá 1992; CASEIRO, Luciano. Lide cautelar. págs. 34, 102 e 109. São Paulo: LEUD 1996; BARBOSA
MOREIRA, José Carlos. Novo processo civil brasileiro. 20ª edição. Pág. 309. Rio de Janeiro: Forense 2000;
MARINONI, Luiz Guilherme. Tutelar cautelar e Tutela antecipatória. Pág. 66. Nota 83. São Paulo: Editora RT.
1992; REIS FRIEDE, obra citada p. 43. Na jurisprudência: RJRGS. 133/239. RDC 68/172-175.
51
A palavra “litigiosidade”, foi utilizada pelo TJRJ. na apelação 2.697/86 em 30.9.86 e pelo TJPR na apelação
1.294/83 em 12.12.84 ; A palavra “conflitos” utilizada pelo TJPR, na ap. 65/86, em 20.8.86; A palavra “disputa”
utilizada pelo TJSP, na apelação 42.173-2 em 11-05.83; Todas essas palavras dão a perfeita conotação da existência
de lide no processo cautelar.
52
STJ. RMS. 6.185-RJ. J. 18.10.95. Revista do STJ. Vol. 81. Pág. 153. Brasília: Brasília jurídica, maio. 1996.
15
“Nessa linha, a decisão que indeferiu a petição inicial por razões de mérito (a
necessidade ou não da tutela cautelar constitui o mérito da cautelar) merece
reforma(...)”53
Vê-se que tanto a ementa do julgamento, bem como o voto do relator, afirmam o
entendimento da existência mérito no processo cautelar, que nada mais é do que a análise do
pedido em relação a necessidade ou não da concessão da tutela cautelar. THEODORO JUNIOR,
nesse sentido expressou: “Assim, esse pedido, em sentido lato, constitui o mérito da ação
cautelar, que nada tem que ver com o mérito da ação principal”.54 A sentença julgando o mérito,
seja pela procedência ou pela improcedência, faz coisa julgada material e não mais poderá ser
modificada pelo juiz da causa. O juiz não poderá modificar a sentença em face da coisa julgada
formal e nem poderá decidir de novo a mesma lide cautelar no mesmo e nem em outro processo
cautelar, em face da coisa julgada material.
Interessante é a observação de ASSIS (1989):
“Se depois de emanada aquela sentença, fato superveniente extinguiu o direito,
depara-se o juiz com nova demanda, totalmente diferente da primeira.
No estágio atual dos estudos concernentes à coisa julgada, não impressiona
mais a alterabilidade dos efeitos, que tanto inquietava o mestre Lobão”.55
Não podendo haver processo sem lide57 e petição inicial sem pedido, porque petição
sem pedido será inepta (art. 295, I, parágrafo único , I, do CPC) e se lide58 e pedido formam o
mérito, logo o processo cautelar necessariamente terá mérito. CHIOVENDA (1986), advertiu
que todo o processo assume uma autonomia formal, como meio de obter mediante uma
53
STJ. Acórdão citado. Parte do voto do Ministro Ari Pargendler (relator). RSTJ. 81/156. No mesmo sentido:
“Sendo, contudo, contrária a sentença de mérito ao autor da ação cautelar, esses gastos de sucumbência na esfera
cautelar incluir-se-á no montante da reparação a ser feita ao vencedor nos termos do art. 811.”. STJ. REsp 41.076-2.
RDC 68/175. Vê-se que o Acórdão utilizou-se das expressões: “sentença de mérito” e “ação cautelar”.
54
THEDODRO JUNIOR, Humberto. Processo cautelar. 19ª edição. n° 48-a, p. 73.
55
ASSIS, Araken de. Breve contribuição ao estudo da coisa julgada. AJURIS 46/91.
56
FREDERICO MARQUES, José. Manual citado p. 389, n° 1075.
57
Consta da exposição de motivos do CPC elaborada pelo Ministro e Professor Alfredo Buzaid que a lide é o objeto
principal do processo. Exposição de motivos n° 6.
58
A mesma exposição de motivos em seu número 6, diz que o projeto do CPC somente utiliza a palavra lide para
designar o mérito.
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declaração lógica este pronunciamento quanto ao mérito59. O processo, segundo ele, existe com
a finalidade de julgar o mérito. Outros autores reconhecem a existência de mérito no processo
cautelar, o que indiretamente já estão admitindo a existência de lide e sentença de mérito, que é
sentença definitiva, somente modificável via ação rescisória.60
Em abordagem bastante feliz REIS FRIEDE (2001) expôs:
“(...) a questão vertente não se encontra em admitir o fumus boni iuris como
sendo um direito substancial (meritório) de cautela, e sim reconhecer, como
parece desejar Ovídio Baptista da Silva, ambos os requisitos cautelares
principais – o periculum in mora e o fumus boni juris – como elementos de
análise do conteúdo valorativo da Ação Cautelar, ou seja, a própria concepção
descritiva da medida cautelar que, desta feita, somente poderá ser julgada por
meio de sentença, pondo termo ao processo cautelar com julgamento de seu
correspondente conteúdo intrínseco, chamado por alguns de “mérito próprio e
específico” da Ação Cautelar”.61
59
CHIOVENDA, Giuseppe. La accion el el sistema de los derechos. p. 29. Bogotá: Editorial Temis. 1986.
60
Admitindo mérito no processo cautelar: GALENO LACERDA, obra citada, p. 325 e 337; GUERRA, Marcelo
Lima. Estudos sobre o processo cautelar. pp. 78 e 79. São Paulo: Malheiros, 1995; FABRÍCIO, Adroaldo Furtado,
obra e local citados; SAMPAIO, Marcus Vinícius de Abreu. O “fumus boni juris” e o “periculum in mora” no
processo cautelar. REPRO 61/264; ORIONE NETO Luiz, obra citada pp. 283 e 440; PEIXOTO, Adriana.
Sumarização do processo e do procedimento. “in” Tutela de Urgência. p. 147. Porto Alegre: Síntese 1997;
ESTROUGO, Mônica Guazzelli. Visão analítica da tutela cautelar. “in” Tutela de Urgência. p. 229. Porto Alegre:
Síntese 1997; CAMINHA, Vivian Josete Pantaleão. Anatomia da jurisdição cautelar. “in” Tutela de Urgência
citada, pág. 319; MARINS, Victor A. A. Bomfim. Tutela cautelar. pp. 114, 115, 148 e 152. Curitiba: Juruá 1996;
MONIS DE ARAGÃO, Egas. Medidas cautelares inominadas. RBDP 57, pp. 63-64; BAPTISTA DA SILVA,
Ovídio A. As ações cautelares e o novo Processo Civil. p. 74, 3ª EDIÇÃO. Rio. Forense: 1974; SANCHES, Sydnei.
Poder cautelar geral do juiz no Processo Civil Brasileiro. P. 40. São Paulo: RT. 1978; BEDAQUE, José Roberto dos
Santos. Tutela cautelar e tutela antecipada: Tutelas sumárias e de urgência. Pág. 154. São Paulo: Malheiros 1998;
FERNANDES, Iara de Toledo. Obra citada, p. 67; SHIMURA, Sérgio Seiji. Arresto cautelar, 2ª edição. p. 349. São
Paulo: Editora RT. 1997; CUNHA, Alcides Alberto Munhoz da. Obra citada pp. 135 e 162; CASEIRO, Luciano,
obra citada. p. 115; ARMELIN Donaldo. Legitimidade para agir no direito processual civil brasileiro, p. 79. São
Paulo: Editora RT, 1979; BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Novo processo civil brasileiro, p. 310. Rio de
janeiro: Forense, 2000; MARINONI, Luiz G. obra e local citados; MALACHINI, Edson Ribas, obra citada, p. 7 e
11; REIS FRIEDE, obra citada p. 43; GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Processo de execução e cautelar. p.
102;. Na jurisprudência: STJ. REsp 41.976-2 RDC. 68/174-175; REsp 30.096, 20.407, 12.554 e 41.017, RDC
68/172. TACRJ. EI. 307/93. RF. 328/212; Revista de Direito 41/168; RDCPC. 5/102; RJ 293/122; RT. 719/134,
797/330; RSDCDPC 15/117; JSTJ e TRF.-Lex 145/525.
61
REIS FRIEDE. Obra e local citados.
62
MALACHINI, Edson Ribas. Obra citada, p. 7.
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Esse autor fala em sentença final e expressamente faz alusão à sentença de mérito no
processo cautelar. Expressivamente clara nesse sentido encontra-se a lição de MARINS (1996)
quando assim expôs:
Seguindo esses passos outros autores também de grande nomeada vêm admitindo e
apregoando a existência de mérito no processo cautelar. Aliás, se a petição inicial do processo
cautelar exige pedido (art. 282 e 295, I, Parágrafo único, I, do CPC) e esse pedido passa a ser
objeto de julgamento, é porque existe mérito. Porque o pedido é integrante do mérito.
Assim é que para FACHIM (1988): “A rigor todo processo cautelar comporta
mérito”.64 No mesmo sentido pensa MARINONI (1992), que também observara: “É certo que a
sentença cautelar jamais poderá decidir o mérito do processo principal. Mas isto não significa
que no processo cautelar não exista mérito”.65
GONÇALVES, cuidando do processo cautelar, ao se referir ao fumus boni iuris e o
periculum in mora, acaba por reconhecer a existência de mérito no processo cautelar, quando
assim expressou:
“O mérito cautelar não se confunde, porém, com o mérito da ação principal.
Parece-nos que os dois estão ligados ao mérito, porque a presença de ambos é
requisito de procedência da ação”.66
Até mesmo, o eminente professor THEODORO JUNIOR67 que antes não admitia a
existência de mérito no processo cautelar, agora mais recentemente como acima ficou anotado
em relação à lide, passou também a admitir a existência de mérito no processo cautelar, quando
expôs: “Assim, esse pedido, em sentido lato, constitui o mérito da ação cautelar, que nada tem
que ver com o mérito da ação principal”.68
Na jurisprudência já existe exemplo claro desse entendimento e que pelo grande
interesse merece ser transcrito:
“Direito Processual Civil – Ação Cautelar – Extinção sem julgamento de seu
conteúdo associado à lide de dano (mérito cautelar).
63
MARINS, Victor A. A. Bomfim. Obra citada p. 152.
64
FACHIN. Luiz Edson. Coisa julgada no processo cautelar. REPRO 49/53.
65
MARINONI, Luiz Guilherme. Obra citada, p. 66.
66
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Processo de execução e cautelar. vol. 12, p. 102.
67
THEODORO JUNIOR, Humberto, Processo cautelar. São Paulo: LEUD, 1978.
68
THEODORO JUNIOR, Humberto. Processo cautelar. 19ª edição. n° 48-a, p.73.
18
Em se julgando o mérito, nada mais natural e, óbvio, que a sentença atinge a coisa
julgada material e a questão decidida não mais poderá ser julgada no mesmo ou em outro
processo. Julgando-se o mérito do processo cautelar, a sentença atinge a coisa julgada material,
como acertadamente já acenou a doutrina pátria.70
BAUER (1985), ao cuidar das medidas cautelares referindo-se à coisa julgada,
observou que se o pedido feito pela parte interessada de tutela cautelar em julgamento por
sentença, for concedido ou rejeitado não poderá ser repetido pela mesma razão de fato (mesmo
fato) e ao depois assim se expressou:
“Além disso, a coisa julgada material sempre repercute sobre um segundo
procedimento, e isto no sentido de que a decisão prolatada neste segundo
procedimento, de alguma maneira, é tangida pela coisa julgada material da
primeira sentença”.71
69
TRF. 2ª Região. Ap. Civel. N° 76010-RJ. 2ª Turma. Relator Juiz Reis Friede. Revista Jurídica Consulex. 188. P.
43. Brasília: Dezembro 2001.
70
PONTES DE MIRANDA, obra e local citados; CAMINHA, Vivian Josete Pantaleão. Obra citada, p. 322;
ESTROUGO, Mônica Guazzelli. Obra citada p. 229/230, nota 19; FERNANDES, Iara de Toledo, obra citada.
64/69; CALMON DE PASSOS, J.J. Comentários ao CPC. p. 237, Vol. 10, tomo I. São Paulo: Editora RT. 1978;
ORIONE NETO, Luiz. obra citada, p. 268 e 269; SHIMURA, Sérgio Seiji. Obra citada p. 349-356; ASSIS, Araken
de. Breve contribuição ao estudo da coisa julgada. AJURIS 46/96; BAUER, Fritz. Tutela jurídica mediante
medidas cautelares. p. 111 e 128. Tradução de Armindo Edgar Laux. Porto Alegre: Sérgio A. Fabris Editor, 1985;
CUNHA, Alcides Alberto Munhoz da. Obra citada 162; CASEIRO, Luciano. Obra citada p. 140; MARINONI, Luiz
G. obra citada, p. 68.
71
BAUER, Fritz. Obra citada p. 128.
19
acautelado, este detém vida própria, com ação própria, lide e mérito próprios,
ter-se-á, sem fictícios temores, sem tartamudeios e colocações reticentes, de
assentar-se que no processo cautelar presente se faz o instituto da coisa julgada
em sua plenitude formal-material.
Faz coisa julgada formal tornando imutáveis os atos “intraprocesso”, e faz
coisa julgada material extravasando o gradil processual (“extraprocessual”)
para tornar imutáveis os efeitos da decisão”.72
Com a sua pena forte e segura, a mesma eminente e expressiva professora, depois,
conclui:
“Em suma, pontifique-se, mormente em prol de razoabilidade lógica e
coerente, ser aplicável em sua plenitude o instituto da coisa julgada, em sua
ambivalência: formal e material, na tutela cautelar”.73
72
FERNANDES, Iara de Toledo, obra citada p. 67.
73
FERNANDES, Iara de Toledo. Obra citada, p. 69.
74
MARINONI, Luiz Guilherme. Obra citada, p. 68.
20
modificar a sentença cautelar já decidida pelo mérito, porque impedido pelo artigo 463, do CPC.
O processo cautelar é autônomo em relação ao processo principal, e não será o resultado deste
último capaz de influenciar diretamente no processo cautelar, como corretamente já se tem
decido. A extinção da ação principal não torna insubsistente o mérito da ação cautelar.75 A se
pensar que a cessação da execução da medida cautelar implicasse em modificação da sentença,
assim também haveria de se pensar em relação ao processo de conhecimento condenatório, onde,
após proferida sentença condenatória (definitiva) e iniciada a execução, o devedor resolve pagar
a dívida. Nesse caso cessa também a execução porque extinta a obrigação de pagar. Aqui
também, uma vez paga a dívida, cessa a execução da sentença condenatória e nem por isso a
sentença é considerada modificada. Mais uma vez recorre-se aos ensinamentos de ASSIS (1989)
que com a sua segurança esclarece:
“Ora, o fato de os efeitos práticos da sentença que concede um arresto
desaparecerem porque, na demanda principal, se repeliu a condição de credor
ao arrestante, não possui nenhum relevo na espécie. Ocorre, à toda evidência,
uma alteração dos efeitos sentenciais tão vulgar quanto à reconciliação dos
cônjuges separados”. 76
75
.Julgado do TRF. 1ª Região. DJU 17.03.2000 e RDCPC. Síntese. 5/102. Também Revista de Direito 41/168.
76
ASSIS, Araken de. Obra citada, . 93-94;
77
BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Eficácia da sentença e autoridade da coisa julgada. AJURIS, vol. 28, p. 28.
78
MARINONI, Luiz Guilherme. Obra citada. nota 87, . 68.
21
situação fático- jurídica existente no momento em que é proferida. O que ocorrer posteriormente,
poderá atingir apenas os efeitos da sentença e não a própria sentença no sentido de reformulá-la
ou refazê-la. De sua vez FACHIN (1988) em brilhante passagem deixou assentado:
“Em que pese, de um lado, a controvérsia, e de outro, a opinião ainda
dominante sobre a inexistência de coisa julgada no processo cautelar, há
produção de coisa julgada nas efetivas ações cautelares (vg. seqüestro, arresto,
inominadas com esse caráter e sob a égide do art. 799 do CPC, arrolamento, e
dependendo das circunstâncias na caução, busca e apreensão, exibição (...)”.79
79
FACHIM, Luiz Edson. Coisa julgada no processo cautelar. REPRO. Vol. 49. p. 57. São Paulo: Editora RT.
Janeiro/março de 1988. Obs. O autor no texto se referiu à opinião dominante, mas estava escrevendo em 1988, hoje
a opinião sobre a inexistência de coisa julgada no processo cautelar talvez já não mais é a maioria.
80
ORIONE NETO, Luiz. obra citada, p. 278.
81
MALACHINI, Edson Ribas. Obra citada, .p. 7.
22
O Juiz pode, ao julgar o mérito, acolher ou rejeitar o pedido do autor (art. 269, I, do
CPC). Negar a existência de apreciação de mérito no processo cautelar, é o mesmo que negar a
apreciação do pedido, como se o juiz não se pronunciasse sobre o pedido.
O julgamento de mérito em qualquer processo envolve o julgamento do pedido e no
processo cautelar a situação não muda. Poderá o juiz extinguir o processo cautelar, sem
julgamento de mérito (art. 267, do CPC) como, por exemplo, a falta de pressupostos processuais
ou de alguma das condições da ação (art. 267, VI, do CPC), mas, não o caso de julgamento nessa
hipótese, somente resta ao juiz analisar e julgar o pedido (art. 269, I, do CPC). No processo
cautelar existe pedido e o julgamento desse pedido é o julgamento de mérito no processo
cautelar.
9. Conclusões
Notas bibliográficas
--------------------- Julgamento de mérito sem a citação do réu. Revista Jurídica, vol. 275,
Notadez, Setembro. 2.000, Porto Alegre-RS e Revista de Direito Civil e Processual Civil, vol. 6,
Porto Alegre-RS. Julho/agosto de 2.000.
-----------------------Validade da decisão do Juízo incompetente. Revista Jurídica, vol. 277.
Notadez. Porto Alegre: Novembro 2000.
THEODORO JUNIOR, Humberto. Processo Cautelar, 19ª ed. São Paulo: LEUD, 2000.
------------------------------------------- Processo cautelar. São Paulo: LEUD, 1978.
TESHEINER, José Maria. Eficácia da sentença e coisa julgada no processo civil. S P: RT. 2001.
ZAVASCKI, Teori Albino. Antecipação de tutela. São Paulo: Saraiva. 1997.
MÉRITO
“A questão não escapou à pena da jurisprudência do STJ, sendo dominante naquele Tribunal a
orientação de que “para verificar se houve exame de mérito há que pesquisar se a pretensão
formulada foi decidida. Isso tendo ocorrido, não importa que a sentença haja, equivocadamente,
afirmado que o autor era carecedor da ação. Fica o tribunal, no julgamento da apelação,
autorizado a examinar todas questões pertinentes ao merecimento”. MEDINA, José Miguel
Garcia. O preqüestionamento nos recursos extraordinário e especial. p. 71. 4ª ed. RT. 2005.
“A tutela jurisdicional possível, em cada caso, tem por dimensão máxima a dimensão posta
como objeto do processo e a decisão da causa tem por precisa dimensão a deste. Decidir o mérito
é julgar a pretensão trazida pelo autor, seja para acolhê-la ou rejeitá-la. Julgar o mérito é julgar o
pedido”. DINAMARCO, Cândido Rangel. Nova era do processo civil. São Paulo: Malheiros,
2003.
“MEDIDA CAUTELAR – Ação principal não ajuizada no prazo – Fato que acarreta a perda da
eficácia da liminar concedida – Hipótese, no entanto, em que estando presentes os requisitos, a
tutela cautelar poderá ser concedida no mérito do processo instrumenta – Inteligência do art. 806
do CPC”. TJMS. Ap. 2004.000310-2/0000-00 j. 20.06.2006. RT. 854, p. 283, de dezembro de
2006.