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Universidade Federal Fluminense

Escola de Engenharia
Departamento de Engenharia Agrícola e Meio Ambiente
Curso de Graduação em Engenharia de Recursos Hídricos e Meio Ambiente
Metodologia Científica e Tecnológica
Professor James Hall

Isabella Volpini da Silva


Matrícula: 10956028
isabellavolpini@hotmail.com

Impactos da Poluição nos Manguezais

Introdução

Os manguezais funcionam como protetor da linha de costa contra a erosão, filtro


biológico, exportador de matéria orgânica para estuários, refúgio da vida silvestre,
servindo como abrigo, berçário, criadouro e locais de criação para muitas espécies
aquáticas. Além dessa importância incontestável podemos salientar a alta produtividade
e eficiência com que convertem energia solar em matéria orgânica, a qual logo se
transforma em detritos e substâncias solúveis exportadas para os sistemas marinhos
adjacentes, tornando-se o elo básico das cadeias alimentares economicamente
importantes.
Entre a fauna comercial primária, podemos citar as ostras, camarões, búzios,
siris, caranguejos e tainhas, entre outros, que movem esta que é considerada, uma
verdadeira indústria natural. Alagadiços costeiros e estuários servem ainda para a
desova de 2/3 da produção anual de peixes no mundo todo. Uma diversificada
variedade de espécies de camarões e peixes capturados em alto mar, passa sua fase
juvenil no estuário e outras cerca de 80 espécies comerciais dependem dele, dando a
este ambiente o título de maternidade/berçário, já que muitas espécies aquáticas de
vertebrados e invertebrados vivem na marisma, que fornece proteção para larvas e
juvenis.
Apesar dos manguezais serem de suma importância e de serem legalmente
áreas de preservação ambiental permanente (Código Florestal - Lei nº 4.771/61;
Resolução CONAMA nº 004/95; Gerenciamento Costeiro - Lei 7.661 de 16/05/1988)
eles vem sendo constantemente substituídos por porto, represamento de rios,
empreendimentos turísticos e habitacionais, industriais, áreas agrícolas, salinas e
fazendas de camarões etc. Estudo da Organização das Nações Unidas mostra que as
áreas de manguezal vêm sofrendo alterações significativas ao longo da costa brasileira,
sobretudo em razão de ações humanas diretas e ilegais, como o desmatamento e a
conversão da área para outros usos, como desenvolvimento urbano, no Sudeste, e
atividades turísticas e de maricultura (criação de frutos do mar em fazendas marinhas),
no Nordeste.
Além disso, “A poluição ambiental ao nível mundial é um subproduto indesejável
do aumento pela demanda por recursos naturais da civilização moderna”.(LACERDA,
2008, p.173) Entretanto, o seu nível e seus efeitos vêm trazendo não mais o interesse
em saber qual área se encontra poluída e sim o seu grau de contaminação.
De modo geral, podemos dividir os poluentes que mais causam danos aos
ecossistemas em dois grandes grupos. O primeiro inclui substâncias presentes nos
efluentes de grandes áreas urbanas, especialmente associadas à disposição imprópria
de resíduos sólidos (lixo) e ao tratamento inadequado ou inexistente de esgoto
sanitário. Os rios, estuários, mares e oceanos são os mais afetados por esse tipo de
poluente.
O segundo grupo, composto pelos poluentes de origem industrial e da
mineração, inclui substâncias tóxicas, como metais, gases de efeito estufa e poluentes
orgânicos, especialmente aqueles gerados pela queima de petróleo. Ao contrário dos
contaminantes do primeiro grupo, cujo efeito é geralmente local ou, no máximo,
regional, esses têm o poder de afetar o ambiente em escala global. Embora os efeitos
desses contaminantes sejam bem menos visíveis, seus impactos são muito mais
difíceis de remediação. É pouco conhecida a resposta dos ecossistemas naturais à
exposição crônica a esse grupo de contaminantes, vários deles, especialmente metais,
não são degradáveis, acumulando-se progressivamente nos ecossistemas naturais e
afetando seu funcionamento durante décadas ou mesmo séculos. Por exemplo, antigas
áreas de mineração, embora desativadas desde o penúltimo século, como os rejeitos
da corrida do ouro do Oeste americano, ainda hoje afetam a biota local (Mastrine et al.,
1999).
No presente trabalho, abordaremos as diferentes causas da degradação dos
manguezais brasileiros, como construções civis, poluição por resíduos sólidos (lixo) e
metais. Abordaremos também, seus principais impactos para a sua fauna, flora e seres-
humanos.

Desenvolvimento

1. Poluição das águas por Mercúrio (Hg)

Metais são contaminantes presentes em efluentes de diferentes atividades


antrópicas. A maior parte dos metais, entretanto, apresenta compostos com pouca
solubilidade em águas, o que resulta em concentrações baixas mesmo quando da
emissão pontual de efluentes. Alguns metais em particular são capazes de apresentar
espécies químicas estáveis em solução, o que pode resultar em uma acumulação na
coluna d’água atingindo concentrações relativamente elevadas e mesmo tóxica. Dentre
esses metais destacam-se o arsênio (As) e o mercúrio (Hg), este último componente
ubíquo de diferentes efluentes industriais, agrícolas e que apresenta em diversas
regiões níveis naturais relativamente elevados.O mercúrio é entre os outros metais
contaminantes um dos mais perigosos, porque além da sua toxicidade em
determinadas concentrações da coluna d’água ele representa um grande perigo para as
cadeias alimentares. Ele é uma substância bioacumulativa, ou seja, capaz de sofrer
biomagnificação. O mercúrio é o único metal que comprovadamente causou óbito em
seres humanos por ingestão de animais contaminados.(Barkay ET.al.,2003; Dorea et
AL.,2003)
Além dessas características o mercúrio possui outro fator químico de suma
importância e periculosidade. Por ser uma espécie química estável na atmosfera, em
sua forma volátil, o mercúrio pode ser transportado por ela atingindo lugares distantes
das fontes pontuais de contaminação.
A poluição das águas por mercúrio está associada especialmente à possibilidade
de metilação no meio ambiente de sua forma inorgânica Hg2+ por bactérias e à
complexação com compostos orgânicos dissolvidos que possibilita a manutenção de
concentrações relativamente elevadas na coluna d’água e acesso preferencial à biota.
O metilmercúrio por ser lipossolúvel é muito bem absorvido pelas membranas
biológicas em geral, assim como pelos tratos digestivos de praticamente todas as
cadeias alimentares. Esses processos facilitam a permanência e o transporte de
mercúrio no meio aquático, assim como transferem a contaminação para ecossistemas
bastante afastados da fonte de contaminação. Assim, a organificação do mercúrio
acelera a bioacumulação na cadeia alimentar e maximiza seus efeitos sobre riscos em
ecossistemas naturais e a saúde humana (Porcella, 1994).
Alguns ambientes e condições ambientais contribuem para maximizar os
mecanismos de metilação e complexação orgânica do mercúrio, resultando em
processos de contaminação diferenciados. No presente estudo, será discutida a
dinâmica de mercúrio em dois sistemas onde, pelas suas características
biogeoquímicos dominantes, a contaminação das águas e organismos aquáticos por
esse metal é mais acentuada, expondo, mesmo, populações humanas que se utilizam
de seus recursos naturais. Esses sistemas são os ambientes aquáticos continentais,
incluindo os amazônicos submetidos à influência do garimpo de ouro e areas estuarinas
naturalmente enriquecidas com concentrações elevadas de matéria orgânica dissolvida.

1.1. Disponibilidade de mercúrio em estuários


Diversas regiões estuarinas brasileiras têm registrado problemas de
contaminação por metais, em particular de mercúrio. Os estuários são regiões de
interface continente-oceano que apresentam características físico-químicas singulares
que podem resultar em uma acumulação de substâncias poluentes. Os estuários atuam
como mediadores do transporte de poluentes do continente para o mar, agindo como
reatores biogeoquímicos que alteram a biodisponibilidade do mercúrio. Um dos
processos mais importantes é a complexação do mercúrio com a matéria orgânica
dissolvida que aumenta a solubilidade e estabilidade do mercúrio em águas,
favorecendo sua incorporação pelas cadeias alimentares e sua exportação para águas
costeiras adjacentes (Paraquetti et al., 2004).
Na baía de Sepetiba, Rio de Janeiro, esses processo vêm sendo investigados
por pesquisadores do Instituo do Milênio Estuários há vários anos. A baía de Sepetiba
recebe importante contribuição de efluentes urbanos e industriais de atividades
localizadas em sua bacia e também contribuição significativa da transposição da bacia
do Rio Paraíba do Sul que atravessa a região mais industrializada no país. Balanços
realizados ao longo da transposição das águas daquele rio para a baía de Sepetiba
mostram que até 30% da carga total de mercúrio que atinge a baía é originada nas
águas do Rio Paraíba do Sul (Molisani et al., 2007).
Estudos realizados sobre transporte, distribuição e especiação do mercúrio em
águas da baía de Sepetiba mostram que ao longo do transporte pelo gradiente
estuarino da baía ocorre um aumento relativo das espécies reativas solúveis de
mercúrio, sugerindo que a baía possa atuar como exportadora de formas biodisponíveis
de mercúrio para as águas da plataforma continental adjacente. Esse resultado tem
sido observado em outros estuários brasileiros, mesmo naqueles onde não existem
fontes pontuais significativas deste elemento (Marins et al., 2002).
O fluxo anual de mercúrio para a baía foi estimado em de 201 kg/ano, sendo
94,5% na forma de mercúrio particulado e 5,5% como frações de mercúrio dissolvido.
De uma maneira geral, o conteúdo total de mercúrio na baía de Sepetiba pode ser
dividido em duas frações: uma fração particulada, que representa 45% do conteúdo
total de mercúrio na baía, e uma fração dissolvida que representa 55% do conteúdo
total de mercúrio. A fração dissolvida apresenta cerca de 40% do mercúrio sob formas
orgânicas, 13% de mercúrio reativo (Hg2+) e 1% de mercúrio elementar (Hg0). Esses
resultados demonstram que a fração particulada domina (45%?) o transporte de
mercúrio na baía, enquanto a fração orgânica de mercúrio representa a forma
predominante na fase dissolvida (Paraquetti et al., 2004).
A Figura 1 apresenta a distribuição de mercúrio total e sua relação com o
percentual de mercúrio reativo, isto é, aquela fração da concentração total presente na
água que se encontra imediatamente disponível para absorção pela biota, ao longo do
gradiente estuarino da baía de Sepetiba. Existe uma relação direta entre a
concentração total de mercúrio presente na água e a concentração de mercúrio reativo.
Ocorre um aumento significativo da concentração de mercúrio total da porção interna
da baía, onde deságuam os principais rios, para valores de até 5 ng.L-1, em relação a
porção externa (~1 ng.L-1). As concentrações de mercúrio reativo também aumentam
na porção interna para valores de até 1,7 ng.L-1 em relação à porção externa (<1 ng.L-
1) (Figura 1a). Entretanto, o porcentual de mercúrio biodisponível (reativo) em relação à
concentração total (Figura 1b) é menor na região interna (<40%) do que na região
externa da baía, onde atinge até 90% da concentração total (Paraquetti et al., 2007),
sugerindo um aumento significativo em sua biodisponibilidade.
Estudos realizados durante ciclos de maré na entrada da baía de Sepetiba
sugerem que, embora a principal forma de mercúrio que entra na baía de Sepetiba seja
a particulada, o mercúrio orgânico dissolvido na água é a principal forma de transporte
do metal para sistemas aquáticos adjacentes na plataforma continental ou na baía da
Ilha Grande.
O aumento da reatividade do mercúrio ao longo do transporte estuarino ocorre
simultaneamente ao aumento da concentração de mercúrio orgânico (Figura 2a) e está
associado à sua complexação com a matéria orgânica dissolvida, demonstrado pela
significativa correlação entre as duas variáveis (Figura 2b) (Marins et al., 2002;
Paraquetti et al., 2004; Miolisani et al., 2007). A complexação com a matéria orgânica
dissolvida resulta em elevada biodisponibilidade de mercúrio, mesmo em áreas sem
fontes pontuais significativas desse metal, como ao longo de litorais tropicais
dominados por ecossistemas de manguezal, caracteristicamente ricos em matéria
orgânica dissolvida (Lacerda et al., 2001). Como resultado, a biodisponibilidade do
mercúrio aumenta paradoxalmente em regiões mais afastadas da fonte.
Na baía de Sepetiba, concentrações relativamente elevadas de mercúrio foram
relatadas para peixes coletadas na área mais externa da baía e mesmo na região
adjacente da baía da Ilha Grande (Marins et al., 1998), mais afastadas em relação à
principal fonte de entrada de mercúrio na baía mediante as descargas fluviais. Embora
a concentração total de mercúrio seja maior nas áreas internas da baía, sua
biodisponibilidade é menor.
Em áreas do litoral do Estado do Ceará, caracteristicamente isentas de fontes
pontuais de mercúrio, resultados semelhantes foram obtidos (Lacerda et al., 2007). As
concentrações de mercúrio total e mercúrio orgânico determinadas em diferentes
populações da garoupa-piraúna Cephalopholis fulva capturadas em águas costeiras e
em bancos oceânicos mostraram-se bem diferentes. A comparação entre as duas
populações permitiu investigar o efeito da proximidade de fontes sobre as
concentrações e a especiação de mercúrio em músculo e fígado dessa espécie. As
concentrações médias de mercúrio total em músculo (104 ng.g-1 w.w.) e fígado (2,865
ng.g-1 w.w.), e as concentrações de mercúrio orgânico em músculo (169 ng.g-1 w.w.) e
fígado (1,038 ng.g-1 w.w.) foram muito maiores na população capturada nos bancos
oceânicos do que na população costeira. As concentrações das duas formas químicas
de mercúrio foram significativamente maiores no fígado do que na musculatura. As
concentrações de mercúrio total e mercúrio orgânico na musculatura e no fígado de C.
fulva mostraram- se positivamente correlacionadas com o tamanho do animal,
sugerindo um processo de bioacumulação. Entretanto, na população costeira somente
as concentrações dessas espécies de mercúrio na musculatura apresentaram
correlações significativas com o tamanho do animal. Embora o ambiente costeiro seja
relativamente enriquecido em mercúrio em relação aos bancos oceânicos, as maiores
concentrações foram verificadas na população oceânica de C. fulva. A correlação signifi
cativa entre mercúrio orgânico no músculo e tamanho do animal sugere uma maior
biodisponibilidade do mercúrio em águas oceânicas, quando comparada às águas
costeiras, de forma similar aos resultados obtidos na baía de sepetiba.
Assim a matéria orgânica dissolvida é capaz de formar complexos com vários
contaminantes e os mantém solúveis e por mais tempo na coluna d’água, aumentando
sua biodisponibilidade à biota. O processo de eutrofização resultante do lançamento de
esgotos em corpos d’água também pode ser crítico, pois pode criar essas condições
que potencializam os efeitos das substâncias tóxicas por tornarem essas mais solúveis
e biodisponíveis, como no caso de diversos estuários ao longo da costa brasileira. A
contaminação ambiental por mercúrio é uma realidade, apesar da diminuição das fontes
pontuais nas últimas três décadas e da implementação de uma legislação ambiental
mais rígida. A grande quantidade de mercúrio emitida por atividades humanas no último
século encontra-se, em várias situações, passível de remobilização por processos
antrópicos, naturais e também pelas variações climáticas globais e de mudanças nos
usos dos solos.
Uma vez que a relação carga/efeito não depende mais da dimensão das
emissões pontuais e sim de emissões de fontes difusas e dos processos de
remobilização do mercúrio acumulado no ambiente, torna-se muito mais importante
conhecer os processos biogeoquímicos controladores da dinâmica de mercúrio no
ambiente do que propriamente os processos antrópicos que o geraram. Assim, torna-se
possível a construção de cenários que permitam entender e prever os efeitos da
contaminação por mercúrio no Antropoceno.

2. Atividade de canicicultura marinha no Brasil


Em todo litoral brasileiro, a pesca do camarão é uma das importantes atividades
econômicas, tanto no campo da pesca artesanal como no da industrial. Além dos
camarões, outros invertebrados são explorados comercialmente. O manguezal é um
ecossistema explorado em larga escala no cultivo do camarão marinho, atividade que
tem apresentado elevado crescimento em diversos pontos da costa brasileira. Embora
haja esse fator positivo, essa atividade, apesar de trazer muita rentabilidade ao Brasil –
especialmente à região nordestina – tem gerado impactos ambientais diversos ao
manguezal , à medida que afeta o seu equilíbrio. Esses impactos dizem respeito
principalmente à redução do desenvolvimento estrutural dos bosques de mangue e da
sua biodiversidade.
Como será visto nesse trabalho, o Brasil apresenta excepcionais condições para
a carcinicultura marinha, mas para que ela alcance o seu pleno desenvolvimento, é
indispensável e urgente a adoção de um programa de apoio à realização de pesquisas,
à formação de mão-de-obra qualificada e, especialmente, à revisão da legislação
ambiental, notadamente no que se refere ao manejo dos manguezais, tentando ao
máximo reduzir os impactos que essa atividade causa ao meio ambiente, levando em
consideração a análise de custo-benefício a longo prazo, buscando a qualidade de vida
das gerações futuras.

2.1. Impactos da Carnicicultura Marinha no Manguezal

A estrutura e a produtividade dos manguezais estão controladas, principalmente,


pela freqüência de inundação pelas marés, taxa de evaporação e aporte de água doce
(pluvial e fluvial). Tais fatores estão diretamente relacionados à biodiversidade do
ecossistema, sendo muitas espécies de importância econômica, e a alta produtividade
primária e secundária.
Atualmente, tem-se dado grande ênfase à conservação dos manguezais. Isso se
deve a diversos fatores que mostram a importância do perfeito equilíbrio desse tipo de
ecossistema. Dentre eles, podem ser citados:
a) Servem de berçário favorável ao desenvolvimento de diversas espécies
de plantas e animais;
b) A utilização de sua área para turismo ecológico, educação ambiental e
criação de espécies marinhas;
c) É utilizado como fonte de proteína e produtos diversos, associados às
subsistências de comunidades que vivem próximas às áreas de
manguezais;
d) Fonte de matéria orgânica particulada e dissolvida para as águas
costeiras adjacentes constituindo a base da cadeia trófica com espécies
de importância econômica e/ou ecológica.
Com relação ao cultivo de camarão em regiões de manguezais, nas quatro
últimas décadas, a carcinicultura marinha teve um crescimento vertiginoso, em função
da demanda de países como os EUA, Japão e alguns países europeus no consumo de
camarões peneídeos. Em alguns países da Ásia e América Latina, a construção
indiscriminada de tanques de carcinicultura e canais de abastecimento de água
representa uma redução nas áreas de manguezais que podem afetar a produtividade
pesqueira da região.
O ecossistema do manguezal sofre grande impacto com a carcinicultura. Por
tensor, entende-se qualquer evento, condição ou situação que cause um incremento
nos gastos de energia na manutenção de um sistema. O tensor opera de forma que
pode ocasionar uma regressão do ecossistema até etapas similares as etapas
sucessionais prévias.
No caso do ecossistema manguezal, toda obra de engenharia, como a
construção de canais e tanques para carcinicultura por exemplo, causa impacto e seu
grau dependerá da qualidade e intensidade do tensor. Em linhas gerais, os impactos
estão relacionados às mudanças na drenagem, desvio ou impedimento do fluxo das
marés e mudanças nas características físicoquímicas do substrato. Na tabela disposta
abaixo são descritos alguns tipos de impactos relacionados à carcinicultura:
Todos esse fatores citados levam a um grande impacto nesse ecossistema, à
medida que afeta seu estado de equilíbrio. Além disso, Em todos os casos descritos,
haverá perda das produtividades primária e secundária, redução do desenvolvimento
estrutural dos bosques de mangue e da biodiversidade.
Um exemplo de impacto em escala regional é as modificações impostas por
alterações no hidrodinamismo do ecossistema, através da construção de barreiras e
retirada da cobertura vegetal, afetando o equilíbrio dinâmico dos estuários e
acarretando num maior aporte de sedimentos terrígenos e materiais suspensos e
dissolvidos que são transportados pelas correntes de marés e pela deriva ao longo da
costa. Naturalmente, esse material é aprisionado e/ou assimilado pelo ecossistema
manguezal, minimizando o impacto provocado pela erosão e pela contaminação das
águas costeiras.
Tal fato, nos alerta para o impacto do aporte de sedimentos finos e
contaminantes de origem terrestre sobre as bancos de corais, devido à fragilidade dos
organismos a turbidez e a qualidade das águas, com conseqüências diretas sobre a
indústria do ecoturismo.
A construção de tanques sobre sedimentos ricos em matéria orgânica (tais como
os de mangue-vermelho, Rhizophora mangle) engendra sérios problemas. Os tanques
logo após as construções são drenados e secados para promover a oxidação da
matéria orgânica. Com a dessecação e a oxidação, os compostos de enxofre do
sedimento formam ácido sulfúrico e a decomposição das argilas devido à ação do ácido
podem liberar íons de ferro e alumínio em quantidade tóxicas à biota. A presença do
ácido sulfúrico no fundo dos tanques causa um decréscimo no pH quando aqueles se
inundam, alcançando valores de pH 5 e 4.
A GAA (Global Aquaculture Aliance) preparou códigos de práticas para o cultivo
responsável de camarão. O código foi criado para fomentar maior conscientização
ambiental da indústria de camaroneira para assegurar a proteção dos bosques de
mangue e os impactos potencialmente adversos da aqüicultura costeira. Prevê, dentre
outros objetivos, o não desenvolvimento de fazendas camaroneiras em áreas de
manguezal, recuperação de bosques de mangue degradados por esta atividade,
monitoramento dos impactos e medidas mitigatórias para se evitar danos ao
ecossistema com o lançamento de dejetos dos tanques aos estuários eliminados de
forma irresponsável. As áreas de manguezal são apontadas por esta organização como
as piores para a construção de tanques de engorda, devido ao pH ácido com alto grau
de matéria orgânica e instáveis, pois estes terrenos são dificilmente drenados e
secados adequadamente e porque os manguezais e outras áreas úmidas costeiras não
deveriam ser destruídos pelo seu valor ecológico e seu papel na proteção da zona
costeira contra tormentas e ondas.
A valoração do ecossistema manguezal quando comparado ao lucro líquido de
fazendas intensivas de camarões é basicamente equivalente. Entretanto, numa análise
de custo-benefício, as perdas econômicas geradas com o declínio da pesca somadas
aos prejuízos econômicos advindos dos assoreamentos dos canais navegáveis, da
perda da balneabilidade das praias adjacentes, da perda de divisas com o turismo,
dentre outros, levará a cifras muitas vezes maiores àquelas estimadas para a indústria
camaroneira.
A destruição dos manguezais gera grandes prejuízos, seja direta ou
indiretamente, uma vez que são perdidas importantes frações ecológicas
desempenhadas por esses ecossistemas. Problemas observados são o desmatamento
e o aterro de manguezais para dar lugar a portos, estradas, agricultura, carcinicultura
estuarina, invasões urbanas e industriais; derramamento de petróleo; lançamento de
esgotos, lixo, poluentes industriais, agrotóxicos, assim como a pesca predatória, onde é
muito comum a captura do caranguejo-ucá durante a época de reprodução, quando se
torna presa fácil.
Conforme visto, o Brasil apresenta cenário promissor ao desenvolvimento da
carcinicultura marinha no entanto, para que essa atividade alcance pleno
desenvolvimento, faz-se indispensável principalmente a revisão da legislação
ambiental.

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