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em Minas Gerais
S E G U N D A E D I Ç Ã O
ORGANIZADORES
Fundação Biodiversitas
Belo Horizonte
2005
UNIDADES DE CONSERVAÇÃO
Categorias Estação Ecológica (EE), Reserva Área de Proteção Ambiental (APA), Área de Relevante
Biológica (REBIO), Parque Interesse Ecológico (ARIE), Floresta [Nacional (FLONA),
[Nacional (PARNA), Estadual Estadual (FLOE) ou Municipal (FLOM)], Reserva
(PAQE) ou Municipal (PM)], Extrativista (RESEX), Reserva de Fauna (REFA), Reserva de
Monumento Natural (MONA) e Desenvolvimento Sustentável (REDES) e Reserva Particular
Refúgio de Vida Silvestre (REVISE). de Patrimônio Natural (RPPN).
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UCs com organizações sociais de interesse público; a definição de dispositivos claros e objetivos
em relação às populações residentes em unidades de proteção integral, quando de sua criação; a
explicitação das regras para aplicação dos recursos advindos de compensação dos empreendi-
mentos de significativo impacto ambiental.
Em Minas Gerais, a Lei nº 13.803, de 27 de dezembro de 2000, estabeleceu critérios
diferenciados para o rateio dos recursos do ICMS destinados aos municípios, com objetivos concretos
de premiar e compensar os municípios que distintamente investem e trabalham de forma respon-
sável na tentativa de solucionar seus problemas de meio ambiente. Assim, o critério do ICMS para
o Meio Ambiente ficou dividido eqüitativamente em dois subcritérios: UCs e Saneamento Ambiental.
Essa medida tem estimulado a ampliação de áreas protegidas no Estado e ajudado
a resolver problemas relacionados ao saneamento básico e à disposição final de lixo, melhorando
a qualidade de vida das populações. Contudo, o ICMS vem sendo distribuído sem que haja
uma avaliação periódica das UCs criadas, bem como dos investimentos e do real envolvimento
das Prefeituras Municipais com a gestão das unidades, o que aponta uma urgência a ser resol-
vida.
A Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, junta-
mente com o IEF, através da Diretoria de Pesca e Biodiversidade, está promovendo a estruturação
do SEUC, com vistas a propor mecanismos de adequação das unidades criadas de modo a possi-
bilitar a unificação das categorias existentes, a avaliação do desempenho das unidades criadas em
função das metas fixadas e o estabelecimento de um fator de qualidade ambiental para a correta
distribuição do ICMS Ecológico. Desse modo, as categorias de manejo deverão ser revistas em
função das novas categorias de unidades propostas pela lei do SNUC.
Novos instrumentos de gestão ambiental, com grande ênfase para os avanços na
legislação ambiental do Estado, sugerem o fortalecimento das UCs já criadas e uma melhoria
significativa na qualidade de sua gestão. Facilitam também a criação de unidades e a regulariza-
ção fundiária, graças à integração do licenciamento ambiental e à regulamentação dos procedi-
mentos para definição de medidas compensatórias e condicionantes ambientais direcionados às
Unidades de Conservação.
Destacam-se ainda as parcerias com as agências internacionais e com os fundos para
a conservação da biodiversidade, o que possibilita o aporte de recursos específicos para a estrutu-
ração do sistema de gestão de áreas protegidas, incorporando a aquisição de bens e serviços
necessários à implantação, gestão, monitoramento e proteção das UCs, bem como a elaboração,
revisão e implantação de seus planos de manejo. Esses procedimentos, já em curso, emergem
como catalisadores do processo de efetivação da política de implantação do SEUC e têm refle-
xos positivos sobre a qualidade ambiental do Estado.
De acordo com o cadastro das UCs executado pelo IEF para fins de distribuição do
ICMS Ecológico, atualmente o estado de Minas Gerais mantém 4.306.652,16 hectares de áreas
protegidas, através de 397 UCs cadastradas. Considerando-se que a superfície do Estado é de
58.685.225 hectares, a proporção de área protegida passou de 3,35 para 7,34% em cinco anos,
conforme apresentado no quadro a seguir:
páginas anteriores:
Gruta do Janelão,
Parque Nacional
Cavernas do Peruaçu.
Lago Dom Helvécio,
Parque Estadual
do Rio Doce
Fotografia: Miguel Aun
Unidade de
Quantidade Área (ha) % do Estado
Conservação
Proteção Integral 97 estadual (33); federal (08); municipal (56) 848.458,93 1,446
Uso Sustentável 187 estadual (APAE 12, APEE 20, REDES 01, 3.358.329,54 5,723
FLOE 02); federal (APAF 04, FLONA 03);
municipal (APAM 142, APEM 02,
FLOM 01)
Distribuição
das Unidades
de Conservação
em Minas Gerais,
de acordo com a
Lei estadual nº
13.803, dezembro
de 2003 – Lei do
ICMS Ecológico
A administração das UCs de Minas Gerais é feita por diferentes órgãos e entidades,
conforme quadro abaixo:
% Área
Órgão ou Entidade Nº Áreas Área (ha)
do Estado
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Área regularizada Área a
Nome Área total (ha)
(ha) regularizar (ha)
Situação
fundiária
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Estaduais Nacionais Municipais Particulares Tabela 1.
Situação
Plano de manejo Parque Estadual do Rio Grande Sertão Vere- Inexistente Inexistente das UCs
aprovado Doce (em elaboração os das, Serra do Capa- mineiras
em relação
planos de uso público e raó, Serra da Canas-
ao plano
de operacionalização). tra e Serra do Cipó. de manejo e
A Estação Ecológica do Possuem planos de zoneamento
Tripuí possui plano de manejo aprovados e
manejo, em parte em fase de implan-
implantado. tação.
Zoneamento APA São José, recursos APA Carste de Lagoa Aproximadamente Inexistente
Ecológico- financeiros aprovados Santa e APA da 90% das APAs munici-
Econômico para APA das Andorinhas Mantiqueira pais cadastradas. As
e APA Águas Vertentes. ações para gestão
A APA Fernão Dias possui dessas unidades
Plano de Gestão em fase encontram-se,
de implantação, e a APA contudo, bastante
Sul está com plano de inconsistentes e sem
manejo e zoneamento controle de qualidade
em execução. eficaz.
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Síntese das Tema Problemas Detectados Recomendações
recomendações
do grupo 1. Planejamento das • Escassez de informações sobre as • Criar e implementar um banco de dados sobre
temático Unidades de características físicas, biológicas e de áreas protegidas no Estado.
Unidades de
Conservação Conservação infra-estrutura das UCs.
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Tema Problemas Detectados Recomendações
7. Áreas de conectivi- • Isolamento dos fragmentos, dificul- • Selecionar as áreas prioritárias para formarem
dade tando sua sustentabilidade. os corredores ecológicos, com critérios especí-
ficos relativos ao potencial e biodiversidade,
existência de áreas protegidas nas várias moda-
lidades (fazendo a relação de conectividade,
com base no mapa de cobertura vegetal) e
potencial quanto ao desenvolvimento de ações
de uso sustentável.
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UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DE MINAS GERAIS
Espécies Exóticas Invasoras
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cies exóticas a um ambiente ou local. A segunda melhor estratégia está em montar um sistema
de detecção precoce e ação imediata, ou seja, um sistema de alerta em que qualquer espécie que
não pertence a um ambiente deve ser eliminada antes que tenha a oportunidade de se tornar um
problema. O momento da percepção da existência de poucos indivíduos é o ponto ideal de elimi-
nação dos mesmos, pois o processo é viável e de baixo custo. Isso é especialmente importante em
unidades de conservação, onde não há conflito de interesses do setor produtivo.
Assim, é fundamental que planos de manejo de unidades de conservação identi-
fiquem os problemas existentes e proponham soluções práticas de ação rápida para a remoção de
espécies exóticas invasoras. O acompanhamento e a repetição periódica de ações de controle é
igualmente fundamental e precisa ser previsto para garantir que as invasões sejam de fato con-
troladas ou eliminadas. O processo requer atenção e persistência, e quanto antes for iniciado,
maior a chance de sucesso e menor o custo. É fundamental que não haja hesitação para a toma-
da de ação, pois assim se formam as grandes invasões biológicas que representam problemas per-
manentes e perdas cada vez maiores de recursos naturais.
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Lacunas no Sistema de Áreas Protegidas para a Conservação de Espécies
de Mamíferos Ameaçadas de Extinção em Minas Gerais
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Meta % Tabela 1.
Nº de Nº de Lista das
de Meta
Espécie Nome vulgar Status regis- registros Classificação espécies
Conser- atin-
tros em UC utilizadas
vacão gida
na análise
Blastoceros dichotomus Cervo-do-pantanal CR 3 3 1 33,3 Parcial. protegida de lacunas
Ozotoceros bezoarticus Veado-galheiro CR 19 4 5 125 Protegida
Pecari tajacu Cateto EN 17 4 5 125 Protegida
Tayassu pecari Queixada EN 5 3 4 133 Protegida
Chrysocyon brachyurus Lobo-guará VU 40 5 10 200 Protegida
Leopardus pardalis Jaguatirica CR 31 5 11 220 Protegida
Leopardus tigrinus Gato-do-mato EN 13 4 5 125 Protegida
Leopardus wiedii Gato-maracajá EN 6 3 6 66 Parcial. protegida
Lontra longicaudis Lontra VU 31 5 10 200 Protegida
Oncifelis colocolo Gato-palheiro VU* 5 3 4 133 Protegida
Panthera onca Onça CR 12 4 6 150 Protegida
Pseudalopex vetulus Raposinha VU 29 5 5 100 Protegida
Puma concolor Onça-parda CR 32 5 9 180 Protegida
Chironectes minimus Cuíca-d'água EN 6 3 0 0 Lacuna
Tapirus terrestris Anta CR 21 5 8 160 Protegida
Alouatta guariba clamitans Barbado VU 47 5 5 100 Protegida
Alouatta guariba guariba Barbado CR 22 5 1 20 Lacuna
Brachyteles hipoxanthus Muriqui EN 29 5 7 140 Protegida
Callicebus melanochir Sauá VU 8 4 0 0 Lacuna
Callicebus nigrifrons Sauá VU 90 5 7 140 Protegida
Callicebus personatus Sauá VU 15 4 1 20 Lacuna
Callithrix aurita Sagüi-da-serra CR 24 5 4 80 Parcial. protegida
Callithrix flaviceps Sagüi-da-serra EN 20 4 1 25 Lacuna
Callithrix kuhli Sagüi-de-Wied VU 9 5 1 20 Lacuna
Cebus robustus Macaco-prego VU* 21 5 2 40 Parcial. protegida
Cebus xanthosternos Macaco-prego-do- CR 8 4 1 25 Lacuna
peito-amarelo
Leontopithecus chrysomelas Mico-leão-da-cara-dourada CR 6 3 0 0 Lacuna
Abrawayaomys ruschii Rato-do-mato CR 1 1 1 100 Protegida
Chaetomys subspinosus Ouriço-preto VU* 2 2 0 0 Lacuna
Kannabateomys amblyonyx Rato-do-bambu VU 5 3 0 0 Lacuna
Phillomys brasiliensis Rato-de-árvore EN 1 1 0 0 Lacuna
Chiroderma doriae Morcego VU 3 3 1 33,3 Parcial. protegida
Lonchophylla bokermanni Morcego EN 1 1 1 100 Protegida
Platyrrhinus recifinus Morcego VU 4 4 1 25 Lacuna
Cabassous tatouay Tatu-de-rabo-mole-grande VU 2 2 1 50 Parcial. protegida
Cabassous unicinctus Tatu-de-rabo-mole-pequeno VU 13 4 4 100 Protegida
Myrmecophaga trydactyla Tamanduá-bandeira EN 30 5 7 140 Protegida
Priodontes maximus Tatu-canastra CR 18 4 6 150 Protegida
Tamandua tetradactyla Tamanduá-de-coleira EN 33 5 10 200 Protegida
Tolypeutes tricinctus Tatu-bola CR 6 3 5 166 Protegida
CR – Criticamente ameaçada; EN – Em perigo; VU – Vulnerável
* Listada como ameaçada pelo IBAMA
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Com base nesses critérios, foram definidas as seguintes metas de conservação (Tabela 1):
• Espécies registradas em 1 a 4 localidades – 100 % delas devem ser UCs com área
maior que 1.000 hectares;
• Espécies registradas em 5 a 10 localidades – 50% delas devem ser UCs;
• Espécies registradas em 10 a 20 localidades – 4 delas devem ser UCs;
• Espécies registradas em mais de 20 localidades – 5 delas devem ser UCs.
Uma espécie foi considerada como totalmente “lacuna” quando não atingiu o míni-
mo de 30% da meta de conservação predefinida. Entre 30 e 90% dessa meta, a espécie foi
considerada como “parcialmente protegida” e, para valores acima de 90% da meta, a espécie foi
considerada “protegida” no Estado.
Das 40 espécies de mamíferos ameaçadas, 12 (30%) foram identificadas como espé-
cies-lacuna, ou seja, não protegidas pelo atual Sistema de Unidades de Conservação do Estado;
seis espécies (15%) foram consideradas parcialmente protegidas; as demais 22 (65%) foram
consideradas protegidas (Tabela 1). Os pequenos mamíferos e os primatas foram os grupos
que apresentaram as maiores proporções de espécies-lacuna, enquanto os carnívoros, os edenta-
dos e os ungulados apresentaram as maiores proporções de espécies protegidas. Esse padrão
pode ser explicado pelo fato de os pequenos mamíferos e primatas serem grupos cujas espécies
apresentam menores áreas de distribuição geográfica e, principalmente no caso dos primatas, de
se encontrarem predominantemente na Mata Atlântica, bioma altamente fragmentado e pouco
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representado no Sistema de UCs no Estado. Já as espécies de carnívoros, ungulados e edentados
são geralmente de ampla distribuição e relativamente mais tolerantes quanto ao tipo de ambiente,
podendo ocorrer tanto na Mata Atlântica quanto no Cerrado.
Das 13 espécies CR – Criticamente em Perigo –, apenas três foram indicadas como
espécies-lacuna: os primatas Alouatta guariba guariba, Cebus xanthosternos e Leontopithecus
chrysomelas. Para as duas últimas, os registros no Estado representam o limite da distribuição das
espécies. Por outro lado, nove espécies de mamíferos de status CR e outras sete de status EN (Em
Perigo) estão bem representadas nas Unidades de Conservação do Estado. Alguns exemplos
são o muriqui (Brachyteles hypoxanthus), presente em sete UCs com mais de 1.000 hectares, a
onça-parda (Puma concolor), presente em nove UCs, e a jaguatirica (Leopardus pardalis), presente
em 11 UCs (Tabela 1). Duas espécies raras, o morcego Lonchophylla bokermanni e o roedor
Abrawayaomys ruschii, ambas com apenas um registro para o Estado, foram consideradas prote-
gidas, pois esse único registro corresponde a uma UC (PARNA Serra do Cipó e PE Rio Doce,
respectivamente). Na verdade, a situação para essas espécies não é exatamente de proteção, uma
vez que, por conta de sua raridade, elas estão extremamente vulneráveis a eventos catastróficos.
Para essas e outras espécies raras, é de fundamental importância a realização de inventários, para
se obterem mais informações sobre o estado de suas populações.
De acordo com o mapa de distribuição da riqueza de espécies de mamíferos
ameaçadas em Minas Gerais, boa parte do Estado apresenta um vazio em relação à presença de
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