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Biodiversidade

em Minas Gerais
S E G U N D A E D I Ç Ã O

ORGANIZADORES

Gláucia Moreira Drummond


Cássio Soares Martins
Angelo Barbosa Monteiro Machado
Fabiane Almeida Sebaio
Yasmine Antonini

Fundação Biodiversitas
Belo Horizonte
2005
UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

O Sistema de Unidades de Conservação pode ser entendido como um conjunto de


áreas naturais protegidas capaz de viabilizar os objetivos nacionais de conservação, quando plane-
jado e manejado como um todo, contendo amostras representativas de toda a sua diversidade de
biomas, ecossistemas e espécies (Milano, 1989).
O Sistema Nacional de Unidades de Conservação, criado pela Lei nº 9.985, de 18
de julho de 2000, e regulamentado em 22 de agosto de 2002 pelo Decreto nº 4.340, surgiu da
necessidade de estabelecer critérios e normas para criar, implantar e gerir as Unidades de
Conservação. A lei do SNUC definiu como Unidade de Conservação (UC) o “espaço territorial
e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais rele-
vantes, legalmente instituído pelo poder público, com objetivos de conservação e limites defini-
dos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção”.
As UCs integrantes do SNUC dividem-se em dois grupos, com características específicas:

Grupo Unidades de Proteção Integral Unidades de Uso Sustentável

Objetivo Preservar a natureza, sendo admitido Compatibilizar a conservação da natureza com o


básico apenas o uso indireto dos recursos uso sustentável de parcela de seus recursos naturais.
naturais.

Categorias Estação Ecológica (EE), Reserva Área de Proteção Ambiental (APA), Área de Relevante
Biológica (REBIO), Parque Interesse Ecológico (ARIE), Floresta [Nacional (FLONA),
[Nacional (PARNA), Estadual Estadual (FLOE) ou Municipal (FLOM)], Reserva
(PAQE) ou Municipal (PM)], Extrativista (RESEX), Reserva de Fauna (REFA), Reserva de
Monumento Natural (MONA) e Desenvolvimento Sustentável (REDES) e Reserva Particular
Refúgio de Vida Silvestre (REVISE). de Patrimônio Natural (RPPN).

Entre os principais avanços propiciados pela edição do decreto podem-se citar os


seguintes: o estabelecimento de consulta pública antes da criação de UCs; a definição das
atribuições dos conselhos consultivo e deliberativo das UCs, legitimando a maior participação da
sociedade civil na gestão das unidades; a definição dos critérios para a gestão compartilhada de

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UCs com organizações sociais de interesse público; a definição de dispositivos claros e objetivos
em relação às populações residentes em unidades de proteção integral, quando de sua criação; a
explicitação das regras para aplicação dos recursos advindos de compensação dos empreendi-
mentos de significativo impacto ambiental.
Em Minas Gerais, a Lei nº 13.803, de 27 de dezembro de 2000, estabeleceu critérios
diferenciados para o rateio dos recursos do ICMS destinados aos municípios, com objetivos concretos
de premiar e compensar os municípios que distintamente investem e trabalham de forma respon-
sável na tentativa de solucionar seus problemas de meio ambiente. Assim, o critério do ICMS para
o Meio Ambiente ficou dividido eqüitativamente em dois subcritérios: UCs e Saneamento Ambiental.
Essa medida tem estimulado a ampliação de áreas protegidas no Estado e ajudado
a resolver problemas relacionados ao saneamento básico e à disposição final de lixo, melhorando
a qualidade de vida das populações. Contudo, o ICMS vem sendo distribuído sem que haja
uma avaliação periódica das UCs criadas, bem como dos investimentos e do real envolvimento
das Prefeituras Municipais com a gestão das unidades, o que aponta uma urgência a ser resol-
vida.
A Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, junta-
mente com o IEF, através da Diretoria de Pesca e Biodiversidade, está promovendo a estruturação
do SEUC, com vistas a propor mecanismos de adequação das unidades criadas de modo a possi-
bilitar a unificação das categorias existentes, a avaliação do desempenho das unidades criadas em
função das metas fixadas e o estabelecimento de um fator de qualidade ambiental para a correta
distribuição do ICMS Ecológico. Desse modo, as categorias de manejo deverão ser revistas em
função das novas categorias de unidades propostas pela lei do SNUC.
Novos instrumentos de gestão ambiental, com grande ênfase para os avanços na
legislação ambiental do Estado, sugerem o fortalecimento das UCs já criadas e uma melhoria
significativa na qualidade de sua gestão. Facilitam também a criação de unidades e a regulariza-
ção fundiária, graças à integração do licenciamento ambiental e à regulamentação dos procedi-
mentos para definição de medidas compensatórias e condicionantes ambientais direcionados às
Unidades de Conservação.
Destacam-se ainda as parcerias com as agências internacionais e com os fundos para
a conservação da biodiversidade, o que possibilita o aporte de recursos específicos para a estrutu-
ração do sistema de gestão de áreas protegidas, incorporando a aquisição de bens e serviços
necessários à implantação, gestão, monitoramento e proteção das UCs, bem como a elaboração,
revisão e implantação de seus planos de manejo. Esses procedimentos, já em curso, emergem
como catalisadores do processo de efetivação da política de implantação do SEUC e têm refle-
xos positivos sobre a qualidade ambiental do Estado.
De acordo com o cadastro das UCs executado pelo IEF para fins de distribuição do
ICMS Ecológico, atualmente o estado de Minas Gerais mantém 4.306.652,16 hectares de áreas
protegidas, através de 397 UCs cadastradas. Considerando-se que a superfície do Estado é de
58.685.225 hectares, a proporção de área protegida passou de 3,35 para 7,34% em cinco anos,
conforme apresentado no quadro a seguir:

páginas anteriores:
Gruta do Janelão,
Parque Nacional
Cavernas do Peruaçu.
Lago Dom Helvécio,
Parque Estadual
do Rio Doce
Fotografia: Miguel Aun
Unidade de
Quantidade Área (ha) % do Estado
Conservação

Proteção Integral 97 estadual (33); federal (08); municipal (56) 848.458,93 1,446

Uso Sustentável 187 estadual (APAE 12, APEE 20, REDES 01, 3.358.329,54 5,723
FLOE 02); federal (APAF 04, FLONA 03);
municipal (APAM 142, APEM 02,
FLOM 01)

RPPN 109 estadual (47); federal (62) 40.504,69 0,069

Área Indígena 04 59.359,00 0,101

Total 397 4.306.652,16 7,339


APAE – Área de Proteção Ambiental Estadual; APEE – Área de Proteção Ambiental Especial Estadual; APAF – Área de Proteção Ambiental Federal;
APAM – Área de Proteção Ambiental Municipal; APEM – Área de Proteção Especial Municipal.

Distribuição
das Unidades
de Conservação
em Minas Gerais,
de acordo com a
Lei estadual nº
13.803, dezembro
de 2003 – Lei do
ICMS Ecológico
A administração das UCs de Minas Gerais é feita por diferentes órgãos e entidades,
conforme quadro abaixo:

% Área
Órgão ou Entidade Nº Áreas Área (ha)
do Estado

IBAMA 15 1.099.390,30 1,87

ESTADO DE MG 110 2,29


• IEF 48 1.137.023,31 1,94
• COPASA-MG (APEE, áreas de proteção de mananciais) 20 197.927,00 0,34

MUNICÍPIOS 201 1.772.599,86 3,02

De acordo com o Censo 2000, a população de Minas Gerais é de 17.891.494 habi-


tantes. Apesar das iniciativas que resultaram em avanços significativos, a superfície protegida no
Estado – cerca de 4,28 m2/hab – ainda está muito aquém do mínimo sugerido para a manutenção
da diversidade biológica original, de 10 m2/hab. Além disso, o padrão de distribuição das UCs não
garante uma representatividade significativa dos diferentes hábitats e ecossistemas, ou mesmo dos
biomas, que necessitam ser conservados. A falta de avaliação, de um monitoramento sistemático
do desempenho de cada unidade ou de cada categoria de manejo em relação à representativi-
dade dos ambientes protegidos e à situação de implantação e gestão das UCs representa ainda
uma meta a ser perseguida, uma vez que um melhor conhecimento dos recursos naturais e dos
processos administrativos dessas áreas é o primeiro passo para a estruturação sistêmica das UCs
no Estado.
Segundo dados da Diretoria de Pesca e Biodiversidade do IEF, para os 22 Parques
Estaduais, nove Estações Ecológicas e duas Reservas Biológicas, totalizando 322.854,51
hectares, apenas 759.897,65 hectares (24,35%) encontram-se regularizados, conforme quadro
a seguir:

117
Área regularizada Área a
Nome Área total (ha)
(ha) regularizar (ha)

Parque Estadual 298.679,40 76.494,50 222.108,97

Reserva Biológica 13.495.00 6.210,00 7.285,00

Estação Ecológica 10.670,11 8.283,67 2.386,42

Total 322.854,51 91.988,17 231.670,40


Fonte: IEF/Agrimenssura/DPB, 2003.

Situação
fundiária

Diante da carência de recursos financeiros para a promoção das desapropriações que


irão possibilitar a regularização fundiária das UCs, principal deficiência do atual SEUC, o IEF
tem analisado e buscado soluções para essas áreas. Uma das iniciativas é o convênio com o
Instituto de Terras para levantamento das terras devolutas do Estado, com o objetivo de orientar
a definição das áreas para desapropriação imediata, sem problemas fundiários, através dos proces-
sos de compensação ambiental, e das áreas devolutas pertencentes ao Estado com potencial para
criação de UC. Exemplo disso é o Parque Estadual de Serra Nova, em Rio Pardo de Minas, e a
Reserva de Desenvolvimento Sustentável Veredas do Acari, nos municípios de Chapada Gaúcha
e Urucuia.
Considerando os instrumentos de gestão das UCs, tem-se buscado realizar os
Planos de Manejo dos parques e o Zoneamento Ecológico e Econômico das áreas de proteção
ambiental. Todas as unidades estaduais de proteção integral possuem planos estratégicos para
prevenção e combate a incêndios florestais, com instalação de brigadas de incêndio volun-
tárias, equipadas e treinadas. As Reservas Particulares do Patrimônio Natural têm possibilitado
aos proprietários oficializarem iniciativas espontâneas de conservação de áreas particulares que,
segundo análises de Wiedmann (in Benjamin, 2001), possuem “natureza jurídica de proteção
integral”.
O ecoturismo tem sido considerado como alternativa no desenvolvimento regional
e na busca da sustentabilidade e manutenção das áreas de uso público das UCs estaduais, tendo
os Planos Turísticos e de Interpretação Ambiental como instrumentos de planejamento e mane-
jo. Para implantação das Unidades de Conservação de Proteção Integral estaduais que não
possuem plano de manejo, tem-se utilizado um planejamento inicial, ou pré-zoneamento, para
definição de suas áreas de desenvolvimento, ou seja, dos espaços, em cada unidade de categoria,
onde as construções serão necessárias ao seu manejo. Esse planejamento baseia-se nos programas
de manejo, meio ambiente, uso público e operações, conforme estabelecido por Milano (1989)
e consolidado pelo IBAMA, com a publicação “Roteiro metodológico para elaboração de Planos
de Manejo” (IBAMA, 2002).
Os Parques Estaduais Rio Doce, Ibitipoca, Itacolomi, Rio Preto, Rola Moça e Nova
Baden possuem estruturas implantadas e estão estruturados de forma a atender a todos os progra-
mas de manejo, inclusive de uso público, sendo que a maior dificuldade de operacionalização é
a falta de recursos humanos para desenvolvimento das principais atividades e para atendimento
aos usuários. Estão em fase de implantação os Parques Estaduais da Serra do Brigadeiro e da
Serra do Papagaio. Os parques nacionais estruturados são o do Caparaó, da Serra do Cipó e da
Serra da Canastra. As Estações Ecológicas de Acauã, Mata dos Ausentes, Corumbá e Água Limpa
possuem estruturas de proteção e apoio à pesquisa e educação ambiental, bem como a Reserva
Biológica da Jaíba. A APA Fernão Dias possui sede própria e a APA Carste de Lagoa Santa tam-
bém (Tabela 1).

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Estaduais Nacionais Municipais Particulares Tabela 1.
Situação
Plano de manejo Parque Estadual do Rio Grande Sertão Vere- Inexistente Inexistente das UCs
aprovado Doce (em elaboração os das, Serra do Capa- mineiras
em relação
planos de uso público e raó, Serra da Canas-
ao plano
de operacionalização). tra e Serra do Cipó. de manejo e
A Estação Ecológica do Possuem planos de zoneamento
Tripuí possui plano de manejo aprovados e
manejo, em parte em fase de implan-
implantado. tação.

Pré-zoneamento Parques Estaduais do Ibi- Inexistente Inexistente Inexistente


tipoca, Itacolomi, Nova
Baden, Serra do Brigadei-
ro, Serra do Rola Moça,
Rio Preto e Biribiri.

Plano de manejo Parques Estaduais Serra PAQF Cavernas do Inexistente Inexistente


em execução das Araras, Pico do Itam- Peruaçu
bé, Rio Preto e Biribiri.

Plano de manejo Serra do Brigadeiro, Serra Inexistente Inexistente Inexistente


para execução do Papagaio, Ibitipoca,
(por 2 anos) Serra do Rola Moça,
Itacolomi e Sete Salões.

Conselho Parque Estadual do Inexistente Inexistente Inexistente


administrativo Rio Doce.

Conselho Parque Estadual do Inexistente Inexistente Inexistente


consultivo Rio Doce.

Zoneamento APA São José, recursos APA Carste de Lagoa Aproximadamente Inexistente
Ecológico- financeiros aprovados Santa e APA da 90% das APAs munici-
Econômico para APA das Andorinhas Mantiqueira pais cadastradas. As
e APA Águas Vertentes. ações para gestão
A APA Fernão Dias possui dessas unidades
Plano de Gestão em fase encontram-se,
de implantação, e a APA contudo, bastante
Sul está com plano de inconsistentes e sem
manejo e zoneamento controle de qualidade
em execução. eficaz.

Observações Os parques munici- Não foram localizados


pais, principalmente registros de que sejam
em regiões como a do oficializados os “planos
Triângulo e do Alto de utilização” ou mes-
Paranaíba, onde não mo zoneamento de
existem Unidades de RPPN. No IEF, os
Proteção Integral, proprietários apresen-
estaduais e federais, tam a comprovação de
podem significar uma posse (escritura), entre
contribuição efetiva outros documentos
para proteção dos jurídicos e fiscais, exi-
fragmentos de Cerrado gidos para criação da
e veredas. unidade.

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Síntese das Tema Problemas Detectados Recomendações
recomendações
do grupo 1. Planejamento das • Escassez de informações sobre as • Criar e implementar um banco de dados sobre
temático Unidades de características físicas, biológicas e de áreas protegidas no Estado.
Unidades de
Conservação Conservação infra-estrutura das UCs.

• Não-valorização e integração da • Desenvolver, implementar e disponibilizar um


gestão de UCs no planejamento sistema de informações sobre áreas protegidas
regional. e potenciais.

• Falta de planos de manejo/gestão • Criar mecanismos para absorver informações


das UCs. existentes sobre áreas potenciais;
• Elaborar e implementar zoneamento e planos
de manejo/gestão.

• Pequena porcentagem da área • Incentivar a criação de áreas.


protegida em relação às áreas
naturais do Estado.

• Criação de unidades sem • Planejar a gestão e a criação de unidades


critérios técnicos. de conservação em áreas prioritárias,
incluindo biomas e ecossistemas pouco
protegidos.

• Insuficiência de pessoal capacitado • Capacitar pessoal para o planejamento e


para a gestão de UCs. gestão de UCs.

• Inexistência dos conselhos • Implantação dos Conselhos para gestão


consultivos das UCs. participativa das UCs, envolvendo os
atores sociais de seu entorno;

• Inexistência de alternativas • Implantação de programas de desenvolvimento


sustentáveis de geração de trabalho junto às comunidades do entorno de UCs.
e renda nas comunidades do
entorno.

2. Necessidade da criação • Inexistência do Sistema Estadual • Criar um grupo de trabalho inter-institucional


do Sistema Estadual de Unidades de Conservação. para discutir o SEUC, considerando as
de Unidades de categorias de manejo para compor esse
Conservação (SEUC) sistema.

• Falta de política nacional • Definir estratégias para a proteção das


voltada para a proteção dos grutas e das áreas úmidas do Estado.
biomas e que subsidie o
planejamento de UCs em nível
estadual.

• Definicão inadequada das categorias • Avaliar e adequar as categorias de manejo das


de manejo. UCs quanto aos limites, jurisdição, entre
outros.

• Falta de integração entre os órgãos • Estabelecer procedimentos técnicos e


gestores de UCs na condução de administrativos para a criação e implantação
uma política de criação/implantação de UCs.
de UC.

120
Tema Problemas Detectados Recomendações

3. Aprimorar o pro- • Falta de estrutura administrativo- • Desenvolver uma estrutura técnico-administra-


cesso de criação e financeira de suporte à demanda de tiva nos órgãos gestores para suportar a
gestão de RPPNs criação e monitoramento das RPPNs. demanda crescente de criação e o efetivo
monitoramento de RPPNs.

• Falta de incentivo (técnico e finan- • Aprimorar os mecanismos de incentivo


ceiro) aos proprietários para o aos proprietários.
estabelecimento de RPPNs.

• Não-regulamentação, junto às • Incentivar a capacitação profissional de


agências de fomento, dos itens técnicos envolvidos com a questão;
previstos nos artigos 12 e 13 do • Definir e uniformizar critérios para a criação
Decreto nº 1.922/96, que trata de de RPPNs e de procedimentos para sua gestão;
linhas de crédito para gestão e • Estabelecer, junto às prefeituras, programas
manejo das RPPNs. para apoio à criação e implementação de
RPPNs;
• Revisar os prazos processuais para criação de
uma RPPN, visando adequá-los à estrutura
das partes envolvidas;
• Maior divulgação junto à comunidade sobre
vantagens da criação de RPPNs e instruções
sobre os procedimentos.

4. Aprimorar o processo • Criação de APAs municipais sem • Regulamentação do fator de qualidade,


de criação e gestão representatividade para conservação para avaliação da qualidade ambiental
de APAs municipais da biodiversidade. das áreas criadas.

• Falta de estrutura administrativa • Capacitação dos gestores municipais em plane-


e financeira das prefeituras para jamento e gerenciamento das áreas.
implantação e gestão das áreas. • Integração entre os gestores municipais,
estaduais e federais, na administração das UCs.

5. Necessidade de revisão • Inexistência de critérios metodológi- • Avaliar anualmente e reenquadrar as categorias


da Lei nº 13.803/2000/ cos para investigação e avaliação da existentes na Lei nº 13.803/00 (APEs, Áreas
ICMS Ecológico da qualidade ambiental das áreas Indígenas, Parques Urbanos, entre outras);
cadastradas. • Estabelecer parâmetros para avaliação
periódica dos estado de conservação das UCs.

6. Necessidade de contro- • Inexistência de um banco de • Elaboração de um banco de dados que


le e monitoramento das dados sobre RFLs. contemple sua quantificação, localização
reservas florestais através de georreferenciamento, tipologia
legais (RFLs) - vegetal, entre outros.
Lei nº 14309/2002

7. Áreas de conectivi- • Isolamento dos fragmentos, dificul- • Selecionar as áreas prioritárias para formarem
dade tando sua sustentabilidade. os corredores ecológicos, com critérios especí-
ficos relativos ao potencial e biodiversidade,
existência de áreas protegidas nas várias moda-
lidades (fazendo a relação de conectividade,
com base no mapa de cobertura vegetal) e
potencial quanto ao desenvolvimento de ações
de uso sustentável.

121
UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DE MINAS GERAIS
Espécies Exóticas Invasoras

O estabelecimento de unidades de conservação não pode mais ser considerado sufi-


ciente para o cumprimento da conservação de diversidade biológica e de processos ecossistêmi-
cos. O manejo permanente, a restauração e o esclarecimento da sociedade são tarefas essenciais,
especialmente em paisagens fragmentadas e ecossistemas degradados. As leis concebidas no pas-
sado para proteger essas áreas, assim como a grande parte dos cursos de gestão ambiental, não
foram desenhadas para considerar a presença de ameaças como espécies exóticas invasoras e
aquecimento global. Muitas premissas necessitam de revisão, requerendo mudança de mentali-
dade e visão de dinâmica ecológica, de modo a permitir que os responsáveis pelo manejo possam
trabalhar para prevenir problemas futuros. Essas ameaças precisam ser inseridas no contexto legal
e em práticas de manejo para assegurar a viabilidade e auto-sustentabilidade de áreas protegidas
e a eficiência do seu manejo.
Espécies exóticas invasoras constituem hoje a segunda causa mundial de perda de
diversidade biológica no planeta, perdendo apenas para a conversão direta de ambientes para uso
humano. O agravamento do problema tem origem na facilidade de transporte de espécies ao
redor do mundo, tanto propositalmente quanto de forma acidental. Ainda assim, mais de 80% das
espécies hoje invasoras no Brasil foram introduzidas voluntariamente para uso econômico, sem
análise dos riscos que oferecem ao ambiente, à sociedade e à própria economia.
Espécies exóticas invasoras são aquelas que estão fora de seu ambiente natural, seja de
dentro ou de fora dos limites políticos de um país ou estado. O tucunaré é nativo da Amazônia e,
uma vez introduzido em rios do sul e sudeste, tornou-se um voraz predador de espécies nativas,
prejudicando o equilíbrio de ecossistemas aquáticos e de populações de peixes. Espécies cultivadas
como tilápia, carpa e bagre africano igualmente geram impacto sobre a fauna nativa, pois quando
escapam dos tanques alteram o ambiente natural de rios e córregos, inviabilizando a sobrevivência
de espécies aquáticas nativas. O mexilhão-dourado tem causado danos econômicos a produtoras de
energia elétrica e a sistemas de abastecimento de água. A rã-touro foi introduzida para produção de
carne e atualmente é predadora de espécies nativas de anfíbios, peixes e outros animais em toda a
Floresta Atlântica.
Gramíneas africanas como braquiária e capim-gordura foram introduzidas como for-
rageiras e atualmente substituem grandes extensões de campos e cerrados naturais que tinham
elevada biodiversidade. Essa substituição empobrece o sistema e inviabiliza a permanência de
animais, pois não há diversidade alimentar. A leucena, também usada como forrageira, está na
lista da União Mundial para a Natureza entre as cem invasoras mais agressivas do planeta. Árvores
de uso comercial como pinus e acácias, embora importantes na indústria, também são invasoras
e requerem manejo adequado e controle permanente de dispersão sobre áreas vizinhas a plantios,
não devendo ser usadas como plantas ornamentais ou ao longo de rodovias.
Reconhecido o problema, é preciso entender a dinâmica desses processos. A grande
parte dos grandes impactos ecológicos, como vazamentos de petróleo, gera um forte dano inicial
e é gradativamente amenizado ao longo do tempo, ainda que possa demorar mais de um século
para que os efeitos desapareçam. Invasões biológicas funcionam ao contrário. Inicialmente são
apenas alguns indivíduos que não costumam receber atenção até que ocorra uma explosão popu-
lacional. Quando a invasão chega a esse ponto, em geral é irreversível, pois a erradicação de uma
espécie amplamente dispersa é cara e difícil de atingir. Ainda assim, em não havendo ação de
controle, o crescimento continua sempre, os impactos aumentam ao longo do tempo e não desa-
parecem sem intervenção humana.
Quanto mais tempo passar sem ação de controle e esforço para erradicação, maior a
dificuldade e o custo envolvidos. Por isso, a melhor estratégia a adotar é a da prevenção, que rege
a Convenção Internacional sobre Diversidade Biológica e consiste em impedir a entrada de espé-

126
cies exóticas a um ambiente ou local. A segunda melhor estratégia está em montar um sistema
de detecção precoce e ação imediata, ou seja, um sistema de alerta em que qualquer espécie que
não pertence a um ambiente deve ser eliminada antes que tenha a oportunidade de se tornar um
problema. O momento da percepção da existência de poucos indivíduos é o ponto ideal de elimi-
nação dos mesmos, pois o processo é viável e de baixo custo. Isso é especialmente importante em
unidades de conservação, onde não há conflito de interesses do setor produtivo.
Assim, é fundamental que planos de manejo de unidades de conservação identi-
fiquem os problemas existentes e proponham soluções práticas de ação rápida para a remoção de
espécies exóticas invasoras. O acompanhamento e a repetição periódica de ações de controle é
igualmente fundamental e precisa ser previsto para garantir que as invasões sejam de fato con-
troladas ou eliminadas. O processo requer atenção e persistência, e quanto antes for iniciado,
maior a chance de sucesso e menor o custo. É fundamental que não haja hesitação para a toma-
da de ação, pois assim se formam as grandes invasões biológicas que representam problemas per-
manentes e perdas cada vez maiores de recursos naturais.

Levantamento preliminar de espécies exóticas invasoras em unidades de conservação

127
Lacunas no Sistema de Áreas Protegidas para a Conservação de Espécies
de Mamíferos Ameaçadas de Extinção em Minas Gerais

Uma das estratégias de conservação comprovadamente eficiente é o estabelecimen-


to de áreas protegidas que garantam a persistência de espécies ameaçadas em longo prazo. Desta-
cam-se nesse contexto as Unidades de Conservação (UCs) de Proteção Integral. Dada a limitação
de recursos, surge a necessidade de estabelecer prioridades de investimento em UCs, de forma a
garantir a conservação da maior parcela possível da diversidade biológica em uma dada região.
Vários métodos e ferramentas têm sido empregados na definição de oportunidades
para a conservação, conjugando dados biológicos, abióticos, sociais e econômicos. Nesse sentido,
a realização de workshops para a definição de áreas prioritárias para a conservação, incorporando
à tomada de decisões o conhecimento acumulado de um grande número de especialistas, cons-
titui um importante instrumento de planejamento e subsídio à elaboração de políticas públicas
para conservação.
Outra ferramenta empregada para a identificação de áreas prioritárias é a análise de
lacunas (GAP Analysis), cujo foco é a representatividade de um determinado sistema (de áreas
protegidas ou unidades de planejamento) para que metas explicitamente definidas para a con-
servação de espécies sejam atingidas (Scott et al., 1993; Caicco et al., 1995; Jenning, 2000). A
análise de lacunas incorpora conceitos de complementaridade e importância (irreplaceability)
(Pressey, 1994; Scott, 2001; Rodrigues et al., 2003) e possibilita a replicação das análises e a
adição de novas informações, na medida em que mais dados sobre a diversidade biológica são
obtidos.
De acordo com o Livro Vermelho da Fauna de Minas Gerais, 40 espécies de
mamíferos estão ameaçadas de extinção (Machado et al., 1998), o que representa mais de 16%
dos mamíferos que ocorrem no Estado (Rylands, 1998). Elas são, portanto, candidatas naturais à
priorização dos esforços de conservação. À beira da extinção, listadas como “Criticamente em
Perigo” – o estágio mais preocupante para a conservação de uma espécie (IUCN, 2001) – estão
13 espécies, entre elas o cervo-do-pantanal (Blastoceros dichotomus), a onça-pintada (Panthera
onca) e o sagüi-da-serra (Callithrix aurita).
Neste trabalho, procurou-se identificar as lacunas no atual Sistema de Unidades de
Conservação em Minas Gerais para a conservação das espécies de mamíferos ameaçadas de ex-
tinção no Estado, indicando as espécies que não se encontram efetivamente protegidas (as espé-
cies-lacuna), bem como outras áreas importantes para o estabelecimento de novas UCs.
Para tanto, foram utilizados dados sobre a ocorrência de 40 espécies de mamíferos
compilados da literatura e de coleções depositadas em museus (Tabela 1) e sobre a localização
de Unidades de Conservação de Proteção Integral. A análise de lacunas foi realizada utilizando
o programa C-Plan (NSW-NPWS, 2001). Para realizar a análise, definiu-se as unidades de plane-
jamento para a extensão total do Estado como quadrículas de 15 x 15 km.
Medidas de “importância” (irreplaceability) são probabilidades que refletem a relevân-
cia de uma determinada unidade de planejamento para que um conjunto de metas de conser-
vação seja alcançado (Pressey, 1994). Os valores de importância variam de 0% – quando uma
unidade de planejamento não é importante para o alcance da meta de conservação – a 100%,
quando a unidade de planejamento não apresenta substitutos, sendo essencial para que a meta
de conservação seja atingida. A importância de uma unidade de planejamento foi definida com
base na ocorrência de espécie(s) ameaçada(s), na meta de conservação predefinida para cada
espécie e no número de outras localidades que contêm a mesma espécie.
Para a definição das metas de conservação foram considerados a abundância de re-
gistros existentes para a espécie, assumindo que os registros existentes denotam o status real de
sua distribuição, e o número de ocorrências da espécie em UCs com área superior a 1.000 hecta-
res, superfície mínima definida como supostamente necessária ao alcance de resultados.

128
Meta % Tabela 1.
Nº de Nº de Lista das
de Meta
Espécie Nome vulgar Status regis- registros Classificação espécies
Conser- atin-
tros em UC utilizadas
vacão gida
na análise
Blastoceros dichotomus Cervo-do-pantanal CR 3 3 1 33,3 Parcial. protegida de lacunas
Ozotoceros bezoarticus Veado-galheiro CR 19 4 5 125 Protegida
Pecari tajacu Cateto EN 17 4 5 125 Protegida
Tayassu pecari Queixada EN 5 3 4 133 Protegida
Chrysocyon brachyurus Lobo-guará VU 40 5 10 200 Protegida
Leopardus pardalis Jaguatirica CR 31 5 11 220 Protegida
Leopardus tigrinus Gato-do-mato EN 13 4 5 125 Protegida
Leopardus wiedii Gato-maracajá EN 6 3 6 66 Parcial. protegida
Lontra longicaudis Lontra VU 31 5 10 200 Protegida
Oncifelis colocolo Gato-palheiro VU* 5 3 4 133 Protegida
Panthera onca Onça CR 12 4 6 150 Protegida
Pseudalopex vetulus Raposinha VU 29 5 5 100 Protegida
Puma concolor Onça-parda CR 32 5 9 180 Protegida
Chironectes minimus Cuíca-d'água EN 6 3 0 0 Lacuna
Tapirus terrestris Anta CR 21 5 8 160 Protegida
Alouatta guariba clamitans Barbado VU 47 5 5 100 Protegida
Alouatta guariba guariba Barbado CR 22 5 1 20 Lacuna
Brachyteles hipoxanthus Muriqui EN 29 5 7 140 Protegida
Callicebus melanochir Sauá VU 8 4 0 0 Lacuna
Callicebus nigrifrons Sauá VU 90 5 7 140 Protegida
Callicebus personatus Sauá VU 15 4 1 20 Lacuna
Callithrix aurita Sagüi-da-serra CR 24 5 4 80 Parcial. protegida
Callithrix flaviceps Sagüi-da-serra EN 20 4 1 25 Lacuna
Callithrix kuhli Sagüi-de-Wied VU 9 5 1 20 Lacuna
Cebus robustus Macaco-prego VU* 21 5 2 40 Parcial. protegida
Cebus xanthosternos Macaco-prego-do- CR 8 4 1 25 Lacuna
peito-amarelo
Leontopithecus chrysomelas Mico-leão-da-cara-dourada CR 6 3 0 0 Lacuna
Abrawayaomys ruschii Rato-do-mato CR 1 1 1 100 Protegida
Chaetomys subspinosus Ouriço-preto VU* 2 2 0 0 Lacuna
Kannabateomys amblyonyx Rato-do-bambu VU 5 3 0 0 Lacuna
Phillomys brasiliensis Rato-de-árvore EN 1 1 0 0 Lacuna
Chiroderma doriae Morcego VU 3 3 1 33,3 Parcial. protegida
Lonchophylla bokermanni Morcego EN 1 1 1 100 Protegida
Platyrrhinus recifinus Morcego VU 4 4 1 25 Lacuna
Cabassous tatouay Tatu-de-rabo-mole-grande VU 2 2 1 50 Parcial. protegida
Cabassous unicinctus Tatu-de-rabo-mole-pequeno VU 13 4 4 100 Protegida
Myrmecophaga trydactyla Tamanduá-bandeira EN 30 5 7 140 Protegida
Priodontes maximus Tatu-canastra CR 18 4 6 150 Protegida
Tamandua tetradactyla Tamanduá-de-coleira EN 33 5 10 200 Protegida
Tolypeutes tricinctus Tatu-bola CR 6 3 5 166 Protegida
CR – Criticamente ameaçada; EN – Em perigo; VU – Vulnerável
* Listada como ameaçada pelo IBAMA

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Com base nesses critérios, foram definidas as seguintes metas de conservação (Tabela 1):
• Espécies registradas em 1 a 4 localidades – 100 % delas devem ser UCs com área
maior que 1.000 hectares;
• Espécies registradas em 5 a 10 localidades – 50% delas devem ser UCs;
• Espécies registradas em 10 a 20 localidades – 4 delas devem ser UCs;
• Espécies registradas em mais de 20 localidades – 5 delas devem ser UCs.
Uma espécie foi considerada como totalmente “lacuna” quando não atingiu o míni-
mo de 30% da meta de conservação predefinida. Entre 30 e 90% dessa meta, a espécie foi
considerada como “parcialmente protegida” e, para valores acima de 90% da meta, a espécie foi
considerada “protegida” no Estado.
Das 40 espécies de mamíferos ameaçadas, 12 (30%) foram identificadas como espé-
cies-lacuna, ou seja, não protegidas pelo atual Sistema de Unidades de Conservação do Estado;
seis espécies (15%) foram consideradas parcialmente protegidas; as demais 22 (65%) foram
consideradas protegidas (Tabela 1). Os pequenos mamíferos e os primatas foram os grupos
que apresentaram as maiores proporções de espécies-lacuna, enquanto os carnívoros, os edenta-
dos e os ungulados apresentaram as maiores proporções de espécies protegidas. Esse padrão
pode ser explicado pelo fato de os pequenos mamíferos e primatas serem grupos cujas espécies
apresentam menores áreas de distribuição geográfica e, principalmente no caso dos primatas, de
se encontrarem predominantemente na Mata Atlântica, bioma altamente fragmentado e pouco

Distribuição da riqueza de espécies de mamíferos ameaçadas no estado de Minas Gerais,


baseada nos registros pontuais de ocorrência de cada espécie em uma grade de células de
15 km x 15 km.

130
representado no Sistema de UCs no Estado. Já as espécies de carnívoros, ungulados e edentados
são geralmente de ampla distribuição e relativamente mais tolerantes quanto ao tipo de ambiente,
podendo ocorrer tanto na Mata Atlântica quanto no Cerrado.
Das 13 espécies CR – Criticamente em Perigo –, apenas três foram indicadas como
espécies-lacuna: os primatas Alouatta guariba guariba, Cebus xanthosternos e Leontopithecus
chrysomelas. Para as duas últimas, os registros no Estado representam o limite da distribuição das
espécies. Por outro lado, nove espécies de mamíferos de status CR e outras sete de status EN (Em
Perigo) estão bem representadas nas Unidades de Conservação do Estado. Alguns exemplos
são o muriqui (Brachyteles hypoxanthus), presente em sete UCs com mais de 1.000 hectares, a
onça-parda (Puma concolor), presente em nove UCs, e a jaguatirica (Leopardus pardalis), presente
em 11 UCs (Tabela 1). Duas espécies raras, o morcego Lonchophylla bokermanni e o roedor
Abrawayaomys ruschii, ambas com apenas um registro para o Estado, foram consideradas prote-
gidas, pois esse único registro corresponde a uma UC (PARNA Serra do Cipó e PE Rio Doce,
respectivamente). Na verdade, a situação para essas espécies não é exatamente de proteção, uma
vez que, por conta de sua raridade, elas estão extremamente vulneráveis a eventos catastróficos.
Para essas e outras espécies raras, é de fundamental importância a realização de inventários, para
se obterem mais informações sobre o estado de suas populações.
De acordo com o mapa de distribuição da riqueza de espécies de mamíferos
ameaçadas em Minas Gerais, boa parte do Estado apresenta um vazio em relação à presença de

Grau de importância (“irreplaceability”) das Unidades de Planejamento para proteção de


espécies de mamíferos ameaçadas em Minas Gerais.

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