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PARTE III – TENSÕES E Págª 1
DEFORMAÇÕES
NOÇÕES DE TENSÕES E DEFORMAÇÕES
Suponha-se uma peça prismática, de comprimento L e secção transversal de área A
que, em cada uma das extremidades é submetida à acção de forças F, iguais, com a
mesma direcção e sentidos contrários.
De acordo com a 1ª Lei de Newton (matemático e físico inglês, 1642 – 1727), aquele
corpo está em equilíbrio porque é nula a resultante das forças nele aplicadas.
F F
L S
F F
Considere-se agora uma secção transversal imaginária, S, perpendicular ao eixo da
peça. Esta secção tem duas faces, a face superior e a face inferior.
Isolando cada uma das partes em que a peça é dividida, ela permanece ainda em
equilíbrio, o que significa que a face inferior da secção S faz actuar sobre a parte
superior uma força de valor e direcção ainda igual a F e de sentido contrário.
De igual forma se pode pensar para o equilíbrio da parte inferior ou, considerando a
2ª Lei de Newton (da acção e reacção) se a face inferior da secção S faz actuar
sobre a face superior uma força de valor F, a face superior faz actuar sobre a face
inferior uma reacção igual e de sinal contrário.
De acordo com o Princípio de Saint-Venant (físico francês, 1797 – 1886), a
distribuição de tensões numa secção suficientemente afastada do ponto de
aplicação das forças é independente da sua forma de aplicação dependendo apenas
da sua resultante.
Assim pode imaginar-se que em qualquer das faces da secção S actua uma
distribuição de forças que equilibra a força F, forças que se distribuem
uniformemente pela secção e com um valor igual a:
σ = F/A
A noção de tensão está assim ligada ao conceito de força, e pode definir-se tensão
num ponto de um corpo como “o limite, se existir, para que tende a resultante
das forças aplicadas a uma faceta elementar contendo esse ponto quando a
área da faceta tende para zero”. Como é óbvio o valor, direcção e sentido da
tensão está directamente relacionado com a orientação da faceta considerada.
A noção de tensão pode ser generalizada e, considerando um cubo elementar no
interior de um corpo solicitado, de facetas perpendiculares a um sistema de eixos
coordenados, em cada uma das suas facetas actuam tensões com componentes
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segundo os três eixos coordenados, como se representa na figura ao lado para a
z
faceta perpendicular ao eixo Oz.
zz
zy
zx
y
x
Os corpos reais com que trabalhamos não são corpos rígidos, ideais, mas
deformam-se quando sobre eles se fazem actuar forças.
Consideremos ainda a mesma peça prismática submetida em cada extremidade à
actuação de uma força F, que por tender a esticar a peça se designa de “tracção”;
se tivesse sentido contrário seria designada de “compressão”.
Sob a actuação da força F a barra deforma-se, aumentando de comprimento,
passando do comprimento L para um comprimento L+∆L.
F F
L L
L
F
F
A taxa de variação do comprimento de cada uma das fibras longitudinais que
constituem a barra tem um valor médio igual a
εm=∆L /L
que se designa por extensão média. Atendendo à natureza do problema e aplicando
sucessivamente a lei da simetria, pode concluir-se que todas as secções estão nas
mesmas condições (com excepção das que se localizam nas vizinhanças dos
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pontos de aplicação das forças F, pelo que a extensão média é igual à extensão que
se verifica em cada uma das múltiplas secções que se podem considerar na barra.
Podemos também definir extensão num ponto como “o limite, se existir, do
quociente entre a variação de comprimento de um troço elementar de uma
fibra passando por esse ponto e o comprimento desse mesmo troço quando
este tende para zero”.
Interessa agora apresentar um outro conceito, conhecido como Hipótese de
Bernoulli (físico francês, 1667 – 1748), aplicado às peças lineares (do tipo da barra
que temos vindo a considerar), e segundo a qual “as secções planas de uma barra
se mantêm planas após a deformação”.
L
F
F/2 F/2
L
Material Plástico
A elasticidade diz-se perfeita ou linear se existe uma relação de proporcionalidade
constante entre as forças aplicadas a um corpo e os deslocamentos dos seus pontos
ou, mais exactamente entre as tensões e as deformações. Tal corresponde à Lei de
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Hooke (físico inglês, 1635 – 1703) que postulou a sua expressão (“ut tensio sic vis”)
e que ainda actualmente é utlizada, depois de generalizada, na solução de grande
parte dos problemas estruturais:
σ=Eε
em que σ representa as tensões, ε as deformações e E o módulo de elasticidade
ou de Young (físico inglês, 1773 – 1829, que lhe deu a expressão matemática).
Se o corpo tem comportamento elástico perfeito o módulo de elasticidade é
constante e independente do nível de tensão.
Em geral os corpos não apresentam uma elasticidade perfeita ou linear, variando o
módulo de elasticidade com o nível de tensões H = H(σ). Para aplicações em casos
práticos podem definir-se módulos de elasticidade tangentes (Et) para qualquer nível
de tensão (na figura representado na origem) e módulos de elasticidade secantes
(Es).
Curva de carga
Curva de descarga
Et Es
r
Material Elasto-Plástico
Material Elástico Não Linear
e
Diagramas Tensão-Deformação Diagramas Tensão-Deformação do Betão
de aço macio Fe 360 Diagramas Tensãao-Deformação de Rochas
r
% crescente e % crescente
de Carbono de Carbono
r(0,2%)
Diagramas Tensão-Deformação
Diagramas Tensão-Deformação do Aço de aço de alta resistencia
À medida que cresce o teor de carbono nos aços, estes vão progressivamente
endurecendo apresentando tensões de ruptura mais elevadas e também tensões de
limite elástico mais elevadas, diminuindo no entanto o patamar de fluência como se
representa no diagrama da página anterior. A extensão máxima na ruptura vai-se
tornando cada vez menor dizendo-se que os aços são cada vez menos dúcteis ou
mais frágeis.
A partir de certa altura, o que é particularmente notório nos aços de alta resistência,
deixa de ser identificável o patamar de fluência. Neste aços
define-se o que se chama de “limite convencional de
elasticidade a n%” (geralmente 0,2%), que corresponde à
tensão para a qual, na descarga, se verifica uma
deformação residual permanente de n%. Nos casos de aços
de alta resistência para pré-esforço o limite convencional de
elasticidade a 0,2% corresponde a cerca de 80 a 90% da
tensão de ruptura.
A compreensão do comportamento dos materiais pode ser
evidenciada pelo recurso a modelos de simulação, ditos
reológicos, em que a mola representa o comportamento
elástico e o amortecedor o comportamento plástico ou
viscoso.
O comportamento elástico não linear pode assim ser
representado pela associação, em paralelo, de uma mola e
de um amortecedor. Quando cessa a acção que provoca a
deformação do conjunto, a rigidez da mola leva o conjunto à sua posição inicial.
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O comportamento elasto-plástico (não linear) pode ser representado pela
associação do conjunto anterior em série com um segundo amortecedor. Enquanto
as deformações do primeiro amortecedor são recuperadas pelo funcionamento
inverso da mola, já as do segundo amortecedor não são recuperáveis,
permanecendo no final uma deformação residual.
Decorre destes dois modelos que o comportamento elasto-plástico que caracteriza o
comportamento do aço macio na fase inicial do diagrama de tensões–deformações e
do patamar de fluência pode ser representado pela associação em série de uma
mola e de um amortecedor.
Combinando estes dispositivos de formas progressivamente mais complexas podem
obter-se modelos analógicos representando comportamentos sucessivamente mais
complexos. Note-se, para clarificação, que o amortecedor é um órgão que, até um
certo nível de forças nele aplicadas, se opõe ao movimento relativo das
extremidades ( a causa pode ser o atrito interno entre os seus órgãos) mas, uma vez
vencida essa resistência, as suas extremidades se afastam (ou aproximam) sem
variação da força necessária, apenas a velocidade de afastamento (ou aproximação)
sendo função (linear ou não) da grandeza da força.
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RELAÇÕES TENSÕES-DEFORMAÇÕES E
FORÇAS-DESLOCAMENTOS
Retome-se agora o exemplo já dado na introdução às noções de tensões e
deformações.
F F
L L
L
F
F
Por acção das forças F instalam-se nas secções perpendiculares ao eixo de
actuação das forças tensões de valor
σ = F/A
em que A é a área da secção transversal.
Por outro lado as fibras longitudinais sofrem extensões de valor dado por
ε = ∆L /L
Aplicando a lei de Hooke tem-se
σ=Eε
donde
F/A=E ∆L/L
podendo concluir-se que
F =∆L E A/L ou F=K u
sendo u=∆L o deslocamento relativo das extremidades da barra e K = E A/L o
factor que relaciona aquele deslocamento com a força aplicada.
A este valor de K chama-se de rigidez da barra (neste caso rigidez axial), e para
uma dada barra sob a acção de um par de forças F o deslocamento u é tanto menor
quanto maior for a sua rigidez. A rigidez é assim a força que provoca um
deslocamento unitário, e tem por unidades uma força por unidade de comprimento.
Ao inverso da rigidez dá-se o nome de flexibilidade.
Existe uma analogia entre as relações tensões – deformações e as relações forças –
deslocamentos, podendo dizer-se que a rigidez está para as estruturas da mesma
forma que o módulo de elasticidade está para os materiais.
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Como imagem, e não só como imagem, pode dizer-se que os materiais são
estruturas complexas em que os seus componentes são os cristais (no caso de
terem estrutura cristalina) ou cadeias moleculares nos outros casos.
CASOS PARTICULARES
Designa-se por acção todo e qualquer fenómeno que pode modificar o estado de
deformação ou de tensão num corpo e, consequentemente, as forças e
deslocamentos de uma estrutura.
Fenómenos há que se manifestam de uma forma peculiar.
L
L