TESTE António Flórido

Dali Ikon
7
A Dinamarca é o país de origem de alguns dos mais
conhecidos nomes do áudio doméstico, e a qualidade
dos seus produtos é sobejamente conhecida no meio de
audiófilos e melómanos. Serei injusto por não nomear
muitos deles, mas nomes como Ortofon, Dynaudio,
Audiovector e Densen, por exemplo, dispensam
apresentações e são dignos representantes do que
de melhor se faz em termos de equipamento destinado
a ser incluído num qualquer sistema de som com
preocupações audiófilas.

A Dali também faz parte dessa lista de honra. Nascida

em 1983, a Danish Audiophile Loudspeaker Industries
procurou preencher um espaço de mercado que
considerava vazio, apesar da existência de outras
propostas oriundas de marcas mais antigas.
A permanente preocupação e a redobrada atenção
dada às verdadeiras necessidades dos clientes, amantes
de música e entusiastas do cinema em casa concretizam
a base do sucesso desta marca dinamarquesa.

O trabalho na Dali é inspirado pela tradição escandinava

de requinte no mobiliário artesanal, aliada à tradição
académica dinamarquesa de investigação na ciência
acústica. Deste modo, a marca crê ter reunido nos seus
modelos performance e elegância no design.

Audio & Cinema em Casa 48

 Janeiro/Fevereiro 2009 | Nº215

Ikon 7
A gama Dali é composta por nove modelos e
o modelo hoje em teste, Ikon7, é referido no
manual como o topo da respectiva gama,
embora o site da marca refira a existência da
Ikon 8 como sendo o modelo que ocupa essa
posição. Seja como for, a Ikon 7 é pelo menos
um dos modelos mais elaborados da gama
audiófila. Excluem-se deste raciocínio, natu-
ralmente, as gamas de colunas destinadas a
sistemas de cinema em casa.

Contra a tendência actual de tudo construir na

China, as Ikon 7 fogem à regra, sendo intei-
ramente construídas na Dinamarca. Trata-se
de um modelo com bass-reflex dianteiro e
três vias. Apresenta-se com três unidades de
idênticas dimensões (6,5 polegadas), sendo
duas delas destinadas a baixas frequências. É
precisamente a segunda unidade de baixas
frequências que faz a diferença entre a Ikon 7
e a Ikon 6, que é, por outro lado, um modelo
de duas vias e meia. A crer nas palavras do
fabricante, esta pequena diferença faz toda a
diferença.

A terceira unidade de 6,5 polegadas destina-

se às médias frequências. No topo da face
frontal da caixa encontram-se as duas unida-
des de altas-frequências, muito diferentes
entre si. Para além do tweeter, em cúpula
mole (tecido, eventualmente seda, não é es-
pecificado pela marca), as Ikon 7 dispõem
ainda de um supertweeter em ribbon, de di-
mensões generosas (17 X 45 mm), que lhes
confere um toque especial nos agudos, como
veremos.

A caixa é do tipo slim (ver dimensões no qua-

dro em separado), com uma face frontal la-
cada a cinza-alumínio. O exemplar que esteve
em teste apresenta um excelente acaba-
mento, com todos os outros painéis (laterais,
base, topo e traseiro) em nogueira-claro.
Numa caixa à parte são acondicionados os su-
portes que desacoplam as colunas do chão,
através de espigões ou borrachas autocolan-
tes, que também são fornecidos.
Uma palavra para o painel de terminais da co-
luna, um exemplo de boa qualidade neste
nível de preços. Para além de dourados, os
terminais das Ikon permitem a bicablagem e,
para quem não quiser ou não puder utilizar
esta possibilidade, vêm acompanhados de
shunts de origem, placas douradas de boa
qualidade que evitam a utilização de cabla-
gem ou outro tipo de ligação entre terminais
de duvidosa qualidade. Os terminais em si
permitem um aperto seguro e confortável,
sem problemas para terminais banana ou for-
quilha ou até cabo nu, o que se traduz numa
excelente funcionalidade.
Audições
Para o posicionamento, a Dali recomenda que
o par de colunas e o ouvinte façam entre si um
triângulo equilátero, ou seja, a distância entre
as colunas e entre estas e os ouvidos deve ser
idêntica. Para além de outros triângulos, amo-
rosos ou de qualquer tipo, a relação entre este
par e a cara-metade do caro leitor deve ser,
antes de mais, pacífica. O construtor preocu-
pou-se também com este aspecto, porque as
Ikon 7 são discretas e visualmente atraentes,
enquadrando-se bem, em termos de estilo, na
grande maioria das decorações. Quanto a ou-
tras questões mais técnicas, vejamos.
Não foi difícil posicionar as Dali na minha sala.
Sensivelmente na mesma posição que as
Apogee, a cerca de 90 cm da parede traseira
e com 2, 5 metros entre ambas as Ikon 7,
achei que este par precisava de mais distân-
cia entre si para dar o seu melhor. Após algu-
mas tentativas de afastamento, a sua posição
acabou por ficar com cerca de 3 metros entre
ambas as colunas, mantendo os mesmos 90
cm de distância para a parede traseira. Po-
derá haver quem prefira dar ainda maior dis-
tância entre as colunas, mas eu gosto de
ouvir o palco como um todo físico e não como
uma entidade dividida entre três partes, uma
central e duas localizadas sobre as colunas.
Acho que consegui um resultado aceitável e
um bom compromisso nesse aspecto.
As Dali foram ligadas a todo o meu sistema
habitual, quer em termos de cablagens (Wire
World), quer em termos de equipamentos.

49 Audio & Cinema em Casa

TESTE Dali Ikon 7
Assim, utilizei o meu velho conjunto Roksan
Xerxes («artilhado» por mim) / SME V / Benz
Micro Rubi II / Lukaschek PP-1 no analógico e
o Sonic Frontiers SFT-1 / SFD 2 MkII no digital.
Tudo acompanhado do pré-amplificador Sonic
Frontiers SFL-2 e dos monoblocos Krell FPB M-
250. Os resultados são descritos de seguida.
Após o necessário período de «queima» de
componentes, com umas boas horas de tra-
Audio & Cinema em Casa 50
balho em reprodução de ruído rosa, as Dali
prestaram provas e de forma convincente.
Para começar, não me pareceu que as Ikon 7
padecessem de algum mal maior, pelo
menos a tomar como ponto de referência
aquilo que custam. Nesta zona de preços a
concorrência aperta, existem muitos mode-
los defendendo diferentes filosofias sonoras
e de competência inquestionável, mas as
Ikon 7 batem-se com argumentos capazes
de pôr em sentido qualquer um deles.
Senão, vejamos.
Para além de um equilíbrio de atributos a
todos os títulos notável, o que mais depressa
ressalta ao ouvido à primeira impressão é,
sem dúvida, a qualidade das altas-frequên-
cias. A isto não deve ser alheio o supertwee-
ter em fita (ribbon), que confere a esta
sonoridade um toque de vivacidade acetinada
 Janeiro/Fevereiro 2009 | Nº215

muito difícil de igualar por modelos da con-

corrência directa. Não há grão no agudo, os
instrumentos soam com uma alegria e viva-
cidade quase incrível e a sua tangibilidade
torna-se plausível.

Em consequência, são beneficiados outros pa-

râmetros, como a imagem tridimensional, o
foco estéreo e a ausência de véus electróni-
cos que impeçam a noção de transparência
sonora. Mas também a sensação subjectiva
de resposta pronta aos estímulos eléctricos
que lhe são enviados.

Dito assim parece que este tweeter é uma

panaceia para os males que geralmente afec-
tam ou pelo menos apoquentam a maioria
dos modelos. É, em grande parte, verdade:
não é por acaso que na maioria dos projectos
é sempre dada uma atenção especial às uni-
dades de altas-frequências, porque delas de-
pende a qualidade de muitos parâmetros na
reprodução sonora.
Pegando precisamente no aspecto da res-
posta pronta aos estímulos eléctricos, as Dali
possuem a agilidade e a flexibilidade duma
ginasta de alta competição – ao mesmo
tempo que não apresentam gorduras em ter-
mos tímbricos, dir-se-ia que «têm tudo no
seu sítio», permitindo-se, por isso, responder
sem dificuldade, saindo-se bem em momen-
tos de maior complexidade instrumental, por
exemplo, mas sem contudo comprometerem
a delicadeza necessária em momentos de
maior intimismo musical. Nesse aspecto, são
exímias em pôr a nu, na reprodução sonora
de um tuti orquestral, as diferenças que re-
sultam entre a clarividência e o discernimento
do gira-discos e, por comparação, a amál-
gama sonora e anárquica do CD…
Uma palavra para a ausência de coloração
tímbrica de caixa, que se revela muito eficaz.
Como consequência, não é perceptível a sen-
sação de enclausuramento das médias fre-
quências. Na maioria dos modelos de caixa
este efeito traduz-se na sensação de que os
músicos tocam em ambientes fechados, e
muitas vezes este sintoma vem associado a
nasalação das vozes, um resultado quase ubí-
quo em colunas de preços não estratosféri-
cos, como é o caso. Um excelente tiro no alvo,
que coloca os modelos da concorrência em
grandes dificuldades.
 TESTE Dali Ikon 7

Deixei para o final o aspecto que considero
menos positivo na prestação destas Dali – a
extensão das baixas frequências. Como referi,
coerentemente com a agilidade de resposta a
estímulos, as Dali respondem bem na zona
mais baixa do espectro sonoro. No entanto, a
extensão de frequência deixa, em meu en-
tender, um pouco a desejar. Claro que aqui o
leitor deve dar o devido desconto pela minha
«habituação» aos baixos das Apogee, mas
nada posso fazer quanto a isso. Ainda que a
marca tenha prestado uma atenção especial
a este modelo, integrando nele mais uma
unidade de baixas frequências em relação às
Ikon 6, foi a sensação que retive, sempre a
necessidade das baixas irem… mais abaixo.
De resto, mais uma unidade não significa
baixo mais extenso, mas sim mais pressão
sonora das (mesmas) baixas frequências. Há
que não confundir as coisas. O resultado pode
traduzir-se numa melhoria do efeito de pre-
sença de baixos em termos psicológicos, mas
não passa de um artifício expedito que não
resolve o problema principal. Este assunto
daria motivo para escrever bastante, mas fi-
quemo-nos por aqui, lembrando que são vá-
rios os construtores que recorrem a este
«truque», e que com unidades com pequeno
diâmetro não se podem fazer milagres em
termos de extensão. A B&W, por exemplo,
com os seus modelos Nautilus 801, por um
lado, e Nautilus 800 e 802, por outro, é disso
um exemplo. Sabe-se também, por outro
lado, que unidades de diâmetro mais pe-
queno são, por natureza, mais ágeis na res-
posta de transitórios, por serem mais leves.
O engenho e arte dos projectistas decidirá
qual o melhor compromisso em cada caso.
Voltando às Ikon em concreto, não é grande
a deficiência; é preferível, naturalmente, a
termos uma extensão de frequência avassa-
ladora, capaz de fazer vibrar o prédio e de-
pois não serem capazes de «aguentar a
pedalada», tendo dificuldades em controlar
aquilo que normalmente é difícil de contro-
lar. Quer dizer, depressa e bem não há quem,
e ter o melhor de dois mundos não é traba-
lho fácil para ninguém, muito menos para
modelos deste campeonato. Parece-me que
os projectistas dinamarqueses criaram um
compromisso aceitável.
Especificações
Resposta em frequência
Sensibilidade
Impedância nominal
Unidades
Dimensões
Peso
Acabamentos disponíveis
Cúpula de altas frequências
Ribbon
Conclusão
Pelo preço que custam, as Ikon 7 oferecem
muito prazer auditivo com qualidades indes-
mentíveis e são capazes de enfrentar a concor-
rência, não apenas com um sorriso nos lábios,
mas também com muita alegria na alma.
Valem todos os cêntimos que custam e, se o
leitor não se importa de trocar uma extensão
de baixos ligeiramente limitada por um equi-
líbrio assinalável numa lista infindável de qua-
lidades, então terá encontrado um modelo
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