Vous êtes sur la page 1sur 3

AS COMPLICAÇÕES NEUROLÓGICAS PELO

VÍRUS DO SARAMPO

CARMEM LÚCIA PENTEADO LANCELLOTTI1


SÉRGIO ROSEMBERG2

São bem conhecidas as complicações neuroló- dia após o aparecimento do exantema 27 e se carac-
gicas que ocorrem no curso do sarampo. Represen- terizam por distúrbios de consciência, convulsões e
tam uma séria preocupação, principalmente em paí- sinais neurológicos focais, cerebelares ou medulares.
ses nos quais a incidência da doença ainda é alta. A incidência da encefalite perivenosa varia se-
Aponta-se o vírus do sarampo como responsá- gundo os diversos autores, mas, em geral, situa-se
vel por três entidades anátomo-clínicas distintas: a em torno de 1/1000 3 ' " • 1 9 e 2 7 . A taxa de mortalidade
encefalite perivenosa, a pan-encefalite esclerosante dos casos com essa complicação, de acordo
subaguda e a encefalite aguda tipo retardado. Recen- com a a maioria dos autores, mantém-se entre 10 e
tes estudos tendem a implicar esse paramixovírus 20% 3 > 6 ' 7 e 19.
também na patogenia da esclerose múltipla. As bases anatomopatológicas da encefalite do
A encefalite perivenosa, ou simplesmente ence- sarampo foram assentadas por diversos autores ] ' 7 »
falite, ou encefalomielite do sarampo, é a forma 9,23 e 24 t NOS Casos mais agudos predominam os fe-
mais comum e melhor conhecida do comprometi- nômenos inflamatorios. Quanto aos casos com dura-
mento neurológico do sarampo. Parece ter sido des- ção mais longa, predominam os fenômenos degene-
crita, primeiramente por Lucas, em 1790. Seguiram- rativos da mielina. Trata-se de fenômenos observados
se outras referências esporádicas como as de Aber- principalmente na substância branca cerebral, em
crombie em 1845 e de Henoch em 1892. Todavia, só situação perivascular.
a partir da publicação de Neal & Appelbaum é que Propõe-se atualmente, como patogenia da ence-
a encefalite perivenosa passou a ser reconhecida falite do sarampo, aquela decorrente da ação direta
como uma entidade clínica. do vírus 6 « 2 0 e 25, além da que resulta de uma reação
Ford 7 reviu os 113 casos publicados até 1928, auto-imune 6 - 1 6 e 2 5 .
acrescentou doze de suas análises e classificou as
manifestações neurológicas no sarampo. Posterior- A pan-encefalite esclerosante subaguda acome-
te crianças e adultos jovens, ocorrendo vários anos
mente publicaram-se várias outras série de ca-
sos 3- n e 19 nas quais seus autores descreveram os após o aparecimento do quadro clínico do sarampo.
sintomas e sinais neurológicos, predominando inicial- É uma doença mais rara e se manifesta clinicamente
mente aqueles de um quadro encefalítico. como uma encefalopatía progressiva, subaguda e fa-
tal, no prazo de seis meses a dois anos 10 e 26.
Clinicamente, o início dessas manifestações neu-
rológicas ocorre, em geral, entre o segundo e o sexto Anatomopatologicamente 33, corresponde a uma
encefalite difusa, com infiltrado inflamatorio, desmie-
linização, astrogliose difusa e inclusões nucleares
tipo A de Cowdry em neurônios e células gliais.
Departamento de Patologia da Santa Casa e da Faculdade de Medicina da O vírus do sarampo foi isolado de cérebros de
Santa Casa de São Paulo. Departamento de Patologia da Faculdade de Me-
dicina da Universidade de São Paulo. pacientes com a doença. E a ultra-estrutura das in-
1 Médica Assistente, Anatomia Patológica — Fac. Med. Santa Casa — SP
2 Médico Assistente, Disciplina de Neuropatologia— FMUSP
clusões é idêntica ao desse paramixovírus 13. Há
Aceito para publicação em 09 de setembro de 1963. altos títulos de anticorpos de sarampo no soro e no
líquido cefalorraquidiano desses pacientess. De- 4. BURNET, F. M. — Measles as an index of immunological
monstrou-se o antígeno de sarampo em tecido cere- function. Lancet 2: 610, 1968.
bral afetado 5 , conseguindo-se a transmissão da 5. CONNOLLY, J. H. et al. — Measles virus antibody and antigen
in subacute sclerosing panencephalitis. Lancet 1: 542, 1967.
doença para animais de experimentação 15, mas sua
6. DACHY, A. & THIRY, L. — Les affections neurologiques en
patogenia não está estabelecida4. rapport avec la rougeole. Considerations virologiques et immu-
Quanto à encefalite aguda Upo retardado, re- nologiques. Acta Paediatr. Belg. 24: 171, 1970.
centemente descrita 21 , ocorre em crianças geralmen- 7. FORD, F. R. — The nervous complications of measles. Bull.
te imunodeprimidas. Clinicamente se manifesta como Johns Hopkins Hosp. 43: 140, 1928.
um quadro encefalítico, em geral a partir de três me- 8. GIBBS, F. A. & ROSENTHAL, I. M. — Electroencephalograhy
ses após o surgimento do sarampo. Evolui em poucas in natural and attenuated measles. Amer. J. Dis. Child. 703: 395,
1962.
semanas até o óbito.
9. GREENFIELD, J. G. — The pathology of measles encephalo-
Do ponto de vista anatomopatológico há um myelitis. Brain 52: 171-95, 1929.
quadro inflamatorio geralmente discreto, com infiltra- 10. GREENFIELD, J. G. — Infectious diseases of the central
do perivascular e inclusões nucleares tipo A de nervous system. In BLACKWOOD, W. — Greenfield's neuropa-
Cowdry 2 e 22. thology. London, Edward Arnold, 1976. p. 312.
Verificou-se síntese de anticorpos de sarampo 11. HAMILTON, P. M. & HANNA, R. J. — Encephalitis compli-
cating measles. A report on two hundred and forty-one cases
no líquido cefalorraquidiano 22, presença de antígeno collected from the literature an on forty-four additional cases.
de sarampo em tecido cerebral2 e o isolamento do Amer. J. Dis. Child. 67: 483, 1941.
vírus do sarampo de tecido cerebral afetado pela 12. HANNINEN, P. et al. — Involvement of the central nervous
doença. Sua patogenia é discutível1Ô. system in acute, uncomplicated measles virus infection. J. Clin.
Microbiol. 77: 610, 1980.
No que se refere à esclerosa múltipla, classica-
13. HORTA-BARBOSA, L et al. — Isolation of measles virus
mente considerada entre as doenças desmielinizan- from brain cell cultures of two patients with subacute sclerosing
tes primárias 30, as evidências na literatura a favor panencephalitis. Proc. Soe. exp. Biol. (N. Y.) 732: 272, 1969.
do envolvimento do vírus do sarampo não são tão 14. KATZ, M. — Measles and central nervous system disease.
convincentes 14 e 34. A critical appraisal. Med. Microbiol. Immunol. 760: 247, 1974.
Em casos de sarampo na sua fase aguda, sem 15. KATZ, M. et al. — Immunohistological microscopical and
manifestação neurológica, já se descreveram altera- neurochemical microscopical and neurochemical studies on en-
cephalitides. VII. Subacute sclerosing panencephalitis. Suscepti-
ções subclínicas liquóricas 1 2 « 2 9 e 32 e eletrencefalo- bility of dogs to the virus, and characterization of host response.
gráficas 8 ' 1 2 > 3 1 e 3 2 . Estas alterações indicam que o Acta Neuropathol. (Berl) 25: 81, 1973.
envolvimento do sistema nervoso central deve ser 16. LAMPERT, P. W.; JOSEPH, B. S. & OLDSTONE, M. B. A. —
muito mais freqüente do que sugere a manifestação Morphological changes of cells infected with measles or related
de sintomatologia neurológica. virus. In ZIMMERMAN, H. M. — Progress in neuropathology. Vol.
3 New York, Gruñe & Stratton, 1976. p. 51.
Procuramos, em recente trabalho, estudar o sis-
17. LANCELLOTTI, C. L. P. — Estudo Anatomopatológico do
tema nervoso central em casos de sarampo na sua Sistema Nervoso Central no Sarampo. São Paulo, 1982. (Disser-
fase aguda, com ou sem manifestações neurológicas. tação de mestrado — Faculdade de Medicina da Universidade
Afinal, depois de analisarmos a literatura competen- de São Paulo).
te, não constatamos a presença de pesquisa orienta- 18. LÉBON, P.; PONSOT, G. & LYON, G. — Un troisieme type
da especificamente para o estudo neuropatológico d'encephalite de la rougeole? Arch. Fr. Pediatr. 35: 469, 1978.
do sarampo, independentemente da sintomatologia 19. LITVAK, A. M.; SANDS, I. J. & GIBEL, H. — Encephalitis
neurológica. complicating measles. Report of fifty-six cases with follow-up
studies in thirty-two. Amer. J. Dis. Child. 65, 1943.
O estudo dos achados patológicos do sistema 20. LOPEZ FERNANDEZ, F.; PEREZ SORA, E. & RAMIREZ
nervoso central sugeriu um aspecto evolutivo lesio- CORRIA, F. — Meningo-encephalomielitis en el curso del sa-
nal. Fizemos a correlação anatomoclínica dos casos, rampión: transmission experimental del virus al Macacus rhesus.
observando-se o comprometimento neuropatológico Rev. Med. Cirurg. Habana 52: 385, 1947.
no sarampo foi maior do que a sintomatologia neu- 21. LYON, G. — Action des ¡mmuno-supresseurs sur une encé-
phalite vírale (rougeole) inhibition de la réation ¡nflammatoire.
rológica indicada. Por outro lado, em quase todas C. R: Acad. Sei. (D) Paris 274: 1878, 1972.
as vezes que essa sintomatologia se manifestou, fi-
22. LYON, G.; PONSOT, G. & LEBON, P. — Acute measles en-
caram evidenciadas lesões anatomopatológicas no cephalitis of the delayed type. Ann. Neurol. 2: 322, 1977.
sistema nervoso central. 23. MALAMUD, N. — Encephalomyelitis complicating measles.
Arch. Neurol. Psych. 38: 1025, 1937.
24. MALAMUD, N. — Sequelae of postmeasles encephalomye-
litis: chinicopathologic study. Arch. Neurol. Psych. 41: 943, 1939.
REFERÊNCIAS 25. MEULEN, V. et al. — Isolation of infectious measles virus in
measles encephalitis. Lancet 2: 1172, 1972.
1. ADAMS, J. M.; BAIRD, C. & FILLOY, L — Inclusion bodies in 26. MEULEN, V.; KATZ, M. & MÜLLER, D. — Subacute scle-
measles encephalitis. JAMA, 795: 290, 1966. rosing panencephalitis: a review. Curr. Top. Microbiol. Immunol.
2. AICARDI, J. et al. — Acute measles encephalitis in children 57: 1, 1972.
with immunosuppression. Pediatrics 59: 232, 1977. 27. MILLER, H. G.; STANTON, J. B. & GIBBONS, J. L — Pa-
3. BOCCETTA, A. C. & TORNAY, A. S. — Measles encephalitis: rainfectious encephalomyelitis and related syndromes. CK J.
report of a 61 cases. Amer. J. Dis. Child. 707: 247, 1964. Med. 25: 427, 1956.
28. NEAL, J. B. & APPELBAUM, E. — Encephalitis associated 32. REINICKE, V.; MORDHORST, C. H. & INGERSLEV, N. —
with measles. 88: 1552, 1927. Central nervous system affection ¡n connection with "ordinary"
measles. Scand. J. Infect. Dis. 6: 131, 1974.
29. OJALA, A. — On changes ¡n the cerebrospinal fluid during
measles. Ann. Med. Intern. Fenn. 36: 321, 1947. 33. SALLUM, J. — Contribuição ao Estudo Anátomo-patológico
da Panencefalite Esclerosante Sabaguda: Estudo de Estruturas
30. OPPENHEIMER, D. R. — Demyelinatmg diseases. In BLACK- Profundas dos Hemisférios Cerebrais. São Pauío, 1973. (Tese —
WOOD, W. — Greenfield's Neuropathology. London, Edward Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).
Arnold, 1976. p. 470. 34. WEINER, H. L — Multiple sclerosis. In TYLER, H. R. &
31. PAMPIGLIONE, G. — Measles and EEG. Br. Med. J. 21: DAWSON, D. M. — Current neurology. Vol. 1 Boston, Houghton
1296, 1964. Mifflin, 1978. p. 53.

Endereço para correspondência:


Santa Casa de Misericórdia de São Pauto
Departamento de Patologia
Rua Dr. Cesário Mota Jr., 112
São Paulo — SP — CEP = 01221
Brasil

Vous aimerez peut-être aussi