Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
Armando Pinto
Engº Mecânico, Assistente de Investigação, LNEC, Lisboa, Portugal, apinto@lnec.pt
Resumo
Para assegurar a qualidade do ar interior em edifícios de habitação em vários
países são adoptadas diferentes estratégias, que incluem a limitação de fontes
de poluição bem como caudais mínimos de ventilação. Da comparação dos
caudais de ventilação recomendados verifica-se existirem variações de 1 para
3. Nesse sentido foi efectuado um estudo destinado a definir os caudais de
ventilação mínimos recomendado para edifícios Portugueses, apresentando-
se nesta comunicação um resumo dos critérios adoptados e dos resultados
obtidos.
Introdução
A renovação do ar interior dos edifícios é imprescindível para assegurar a qua-
lidade do ar interior para a respiração humana, para diluir e remover os
poluentes gerados no interior dos edifícios, para fornecer ar para os aparelhos
de combustão e para controlar a humidade relativa do ar interior de forma a
minimizar a ocorrência de condensações superficiais e o desenvolvimento de
microrganismos.
Durante vários anos a renovação do ar dos edifícios de habitação em Portugal
foi assegurada pelas infiltrações de ar através das várias fendas e frinchas exis-
tentes na envolvente, bem como pela frequente abertura das janelas. Nos anos
mais recentes, com as alterações introduzidas na construção, a permeabilidade
ao ar da envolvente foi substancialmente reduzida (por exemplo alteração de
janelas de madeira sem vedantes e com folgas, por janelas menos deformáveis
e com vedantes e folgas inferiores a 0,1 mm), bem como a vida moderna redu-
ziu o hábito de arejar a habitação através da abertura das janelas. Deste modo,
nas construções recentes, sem um sistema de ventilação adequado e nas quais
as janelas permanecem fechadas grande parte do tempo, as taxas de renovação
do ar são baixas, conduzindo a vários problemas, desde uma maior frequência
de ocorrência de condensações, deficiente funcionamento dos aparelhos de
combustão (com eventual emissão significativa de monóxido de carbono) e,
provavelmente, a um aumento de doenças respiratórias.
Para que a concentração de poluentes no ar interior não seja causa de irritação,
de desconforto ou de doenças nos ocupantes e minimize as condições propícias
ao desenvolvimento de microrganismos devem ser assegurados pelos sistemas
de ventilação (natural, mecânicos ou híbridos [1] e [2]) caudais mínimos de
ventilação. Efectuando uma apreciação dos caudais de ventilação recomenda-
dos em várias normas e regulamentos, verifica-se que existem diferenças
importantes, em que no caso da Bélgica é recomendado o triplo do caudal de ar
especificado na Alemanha (figura 1). Em Portugal no regulamento RCCTE é
recomendada uma taxa de ventilação de 0,6 rph, enquanto no regulamento
RSECE é recomendado um caudal de ar de 30 m3/h/p.
1.8
1.6
1.4
Renovações por hora (h-1)
1.2
1.0
0.8
0.6
0.4
0.2
0.0
T0 T1 T2 T3 T4 T5 T6
RSECE NP-1037 ASHRAE
França Bélgica Alemanha
Dinamarca, Noruega, Suécia Finlândia Holanda
Itália-UNI
H2O CO2
Banho 200 g, 10 min
Pequeno-almoço 250 g, 30 min
Almoço 750 g, 1h
Jantar 1000 g, 1 h
Lavar loiça 400 g, 45 min
Lavar roupa 500 g, 1 h
Combustão
Gás natural* 150 g/h/kW 0,027 l/s/kW
GPL* 130 g/h/kW 0,033 l/s/kW
Combustíveis sólidos 0,048 l/s/kW
Materiais de construção
Em relação à taxa de emissão de poluentes dos materiais de construção em
habitações portuguesas as informações são limitadas, tendo sido considerados
dois cenários: um correspondente a um edifício com materiais que satisfazem
aos critérios de baixa emissão de poluentes [3] e outro em que não é satisfeita
essa exigência.
Para estimar as emissões de poluentes foram considerados compartimentos
com 2,5 m de pé-direito: um quarto com 10 m2, um quarto com 15 m2 e uma
sala de 30 m2. Foi considerado que é aplicado um piso de madeira, que as
paredes e tecto são pintadas e que as portas interiores e o mobiliário são de
derivados madeira. A estes materiais e superfícies foram aplicadas as taxas de
emissão de poluentes determinadas experimentalmente por Won [11].
Apesar da incerteza quanto à aplicação dos resultados dos ensaios de Won [11]
aos materiais portugueses, refere-se que as taxas de emissão de TVOC ao fim
de 28 dias apresentados por Won [11] se enquadram na gama de valores deter-
minada experimentalmente por Silva para materiais Portugueses [12].
Na análise da qualidade do ar foram consideradas as taxas de emissão de
poluentes ao fim de 6 meses, correspondente ao limite temporal preconizado
pela FiSIAQ para apreciar a qualidade do ar interior após a conclusão da cons-
trução e início da ocupação.
No quadro 4 encontram-se indicadas as taxas de emissão de poluentes dos
materiais de construção para os dois casos em análise: caso 1 correspondente a
construção corrente e o caso 2 correspondente à situação em que são seleccio-
nados materiais com baixa emissão de poluentes para o ar interior e que satis-
fazem à classe M1 [3].
Pela análise das taxas de emissão dos diferentes materiais considerados,
salienta-se que o formaldeído é a fonte de poluição mais sensível pois tem uma
baixa taxa de decaimento, perdurando ao longo do tempo, ao contrário da
generalidade dos VOC, em que existe um decaimento acentuado na fase inicial
após a sua aplicação. Na figura 2 encontra-se indicada a taxa de emissão de
formaldeído de uma placa de MDF e de TVOC de uma tinta de látex.
60000 120
HCHO (µg/h/m2)
TVOC (µg/h/m2)
350 120
40000 300
100 80
HCHO (mg/h/m2)
TVOC (mg/h/m2)
250
80
30000 200 60
60
150
40
20000 100 40
50 20
10000 0 0 20
100 150 200 250 300 350 400
Dias
0 0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200
Dias
Compartimentos principais
Dióxido de carbono
A análise da concentração de CO2 foi realizada com base no risco para a saúde
dos ocupantes (limite de 3500 ppm) e como indicador dos bioefluentes huma-
nos (800 ppm acima da concentração exterior).
Da análise efectuada verifica-se que a condição limite é imposta pelo critério
de conforto, sendo recomendada uma taxa mínima de ventilação de 4 l/s/p nos
quartos e de 6 l/s/p na sala.
Humidade relativa
Para analisar a humidade relativa interior foi considerado o caso em que se
consideram os materiais impermeáveis e um segundo caso em que se considera
materiais higroscópicos, figura 3.
Tendo em conta a variabilidade das condições exteriores, além da análise para
condições exteriores de referência (10ºC e 95% HR) foi efectuada a determi-
nação das taxas de ventilação com base nos anos climáticos de referência de
algumas cidades, quadro 5.
100%
90%
80%
70%
60%
HR (%)
50%
40%
30%
20% Mat impermeável
10% Mat Higroscopico
0%
0 4 8 12 16 20 24
Hora
Figura 3 - Evolução da humidade relativa interior dum quarto com dois ocupantes para
Text=10ºC, HRext=95%, Tint=18ºC e Qar=5 l/s/p
Fogão
De forma a minorar a dispersão dos poluentes gerados na cocção dos alimentos
(produtos da combustão, vapor de água, odores), sobre o fogão deve ser apli-
cada uma hote para a extracção desses produtos.
O caudal de ar a extrair depende da posição do fogão e do tipo de hote. No
caso de uma hote com um dos lados delimitado por uma parede e com uma
área igual à do plano de trabalho do fogão, considera-se como caudal mínimo a
extrair 50 l/s. Com base nos ensaios realizado numa cozinha com uma hote a
extrair 50 l/s (figura 4) obteve-se uma eficácia na captação de poluentes de
90%. Nos ensaios foi utilizado como gás traçador o CO2 produzido pelo fun-
cionamento de 2 queimadores (potência térmica total de 3,5 kW) e o sensor
encontrava-se situado próximo do plano de trabalho.
Caudal de base
Nas secções anteriores foi detalhado o caudal de ponta recomendado para a
cozinha. Nas situações em que não estejam a ser desenvolvidas actividades
poluidoras na cozinha, de forma a assegurar a renovação do ar e a diluição de
odores, é recomendada uma taxa de ventilação mínima de 2 rph, de forma a
assegurar um decaimento de odores de 40% ao fim de sensivelmente 30 min.
2500
2000
Hote Fechada
Hote Aberta
1500
CO2 (ppm)
1000
500
0
0 5 10 15 20 25 30
Tempo (min)
HR (%)
n=4 rph, vol =11 m3
70% 70%
60% 60%
50% 50%
0 20 40 60 80 0 20 40 60 80
Tempo (min) Tempo (min)
Conclusões
Nesta comunicação apresentou-se um resumo do estudo efectuado destinado a
estabelecer os caudais de ventilação mínimos recomendáveis para assegurar a
QAI em edifícios de habitação.
Para os compartimentos principais são recomendadas as taxas de ventilação de
base indicadas no quadro 6.
Para a cozinha, dependendo da existência de aparelhos de combustão do tipo B
para a produção de água quente [14], são recomendados os caudais de ponta
indicados no quadro 7. Na hote é recomendado um caudal de ponta mínimo de
50 l/s, que poderá ser superior função das características e localização da hote.
Como caudal de base na cozinha é preconizado 2 rph.
Nas instalações sanitárias com ventilação contínua é recomendado um caudal
mínimo de 4 rph ou 12,5 l/s. Nas instalações sanitárias com ventilação intermi-
tente é recomendado um caudal de ponta de 8 rph ou 25 l/s.
No dimensionamento da ventilação das habitações deve promover-se a admissão
de ar novo nos compartimentos principais e a extracção de ar nos compartimentos
de serviço e deve existir compatibilidade entre os caudais admitidos e os extraí-
dos [1] e [2]. No caso de edifícios com ventilação natural os caudais de base cor-
respondem ao valor médio diário, devido à variabilidade dos fluxos de ar.
Os caudais de ventilação propostos são baseados numa utilização corrente da
habitação, em condições particulares de sobre-ocupação dos espaços ou de
actividades particularmente poluidoras (nomeadamente o uso de tabaco) é
recomendável que a ventilação seja intensificada com a abertura de janelas.
Referências bibliográficas
[1] NP 1037-1: 2002; Ventilação e evacuação dos produtos da combustão dos locais com
aparelhos a gás. Parte 1:Edifícios de habitação. Ventilação natural. Lisboa: IPQ.
[2] Pinto, A. – Ventilação mecânica de edifícios de habitação. Lisboa: LNEC. 2006.
Relatório 01/2006-NCI.
[3] CR 1752. 1998, Ventilation for buildings - Design criteria for the indoor envi-
ronment. Brussels: CEN.
[4] World Health Organization (WHO) - Air Quality guidelines for Europe. Copen-
hagen: WHO, 2000.
[5] Canadian Department of national health and welfare - Exposure guidelines for resi-
dential indoor air quality. Ottawa: Minister of supply and services Canada, 1987.
[6] EN 13779: 2004; Ventilation for non-residential buildings - performance re-
quirements for ventilation and room -conditioning systems. Brussels: CEN.
[7] European Collaborative Action (ECA) Indoor air quality & its impact on man -
Guidelines for ventilation requirements in buildings. Luxembourg: Office for
Official Publications of the European Communities, 1992. Report nº11.
[8] Office of the Deputy Prime Minister - The Building regulations 2000 - Ventila-
tion. Draft Approved Document F1 Means of ventilation. London: 2005.
[9] CEN/TR 14788. 2006, Ventilation for buildings - Design and dimensioning of
residential ventilation systems. Brussels: CEN.
[10] BS 5295. 1991, Code of practice. Ventilation principles and design for natural
ventilation. London: BSI, 1991.
[11] Won D. et al - A material emission database for 90 target VOCs. In Indoor air
2005. Beijing: 2005.
[12] Silva, G. V. A. - Estudo de emissões de COVs por materiais usados em interio-
res de edifícios. Porto: FCUP. Porto: 2000. Tese de Doutoramento.
[13] Janssens, A.; Paepe, M. D. - Effect of moisture inertia models on the predicted
indoor humidity in a room. In 26th AIVC Conference. Brussels: AIVC, 2005.
[14] NP 4415. 2002, Modelo europeu para a classificação dos aparelhos que utilizam
os combustíveis gasosos segundo o modo de evacuação dos produtos da combus-
tão. Lisboa: IPQ.
[15] NP 1037-3: 2002, Ventilação e evacuação dos produtos da combustão dos locais
com aparelhos a gás. Parte 3: Volume dos locais. Posicionamento dos apare-
lhos. Lisboa: IPQ.
[16] ASHRAE Standard 62.2: 2003, Ventilation and acceptable indoor air quality in
low-rise residential buildings. Atlanta: ASHRAE.