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ESTADO DO CEARÁ

MINISTÉRIO PÚBLICO
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA
1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ACOPIARA

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA DA


COMARCA DE ACOPIARA/CE

AÇÃO CIVIL PÚBLICA

“Escute aqui companheiro


Preste-me bem atenção
Porque eu vou explicar
A causa da confusão
É o carro da escola
Que quer nos deixar na mão
O motorista não entende
Por isso faz confusão
Prejudicá-lo porém
Não é nossa intenção
Nós só queremos um ônibus
No lugar do caminhão”1

Procedimento Preparatório nº 0093/2005/PJA

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO CEARÁ, por seu


Promotor de Justiça in fine subscrito, com fundamento nos preceitos insertos nos
arts. 127 e 129, inciso III, da Constituição Federal; art. 130, inciso III, da
Constituição do Estado do Ceará; art. 25, inciso IV, letra a, da Lei 8.625, de
12.02.93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público), combinado com o art.
1º, inciso II, art. 5°, caput, da Lei 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública) e demais
dispositivos legais aplicados à espécie, vem perante Vossa Excelência propor
AÇÃO CIVIL PÚBLICA, COM PEDIDO DE LIMINAR, contra o
MUNICÍPIO DE ACOPIARA, com endereço funcional na sede na Prefeitura
Municipal, situada no Centro desta urbe, representado pelo Sr. Prefeito Antônio
Almeida Neto, e EMPRESA LOCMAQ RTS DE SOUZA LOCAÇÃO,
sediada no município de Ubajara/CE, na Avenida Monsenhor Gonçalo Eufrásio,
nº 172, Centro, CNPJ nº 07.730.296/0001-45, através de seus representantes
legais, pelos motivos de fato e de direito a seguir expostos e no final requerido:

1
Trecho do cordel A Saga da Catástrofe Escolar de autoria de Irene Maia.
“O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa
da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis” (CF, art. 127).
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DA COMPETÊNCIA

A presente Ação Civil Pública visa tutelar os interesses de


crianças e adolescentes que dependem do transporte escolar para terem
acesso ao direito fundamental da educação. Entretanto, como ficará
demonstrado, estas crianças e adolescentes estão sendo colocados em riscos,
na medida em que o serviço de transporte escolar prestado pelo Município
de Acopiara mediante Contrato Administrativo celebrado com a Empresa
LOCMAQ está precário e em desacordo com as normas legais.

O Estatuto da Criança e do Adolescente garante o acesso à educação


às crianças e adolescentes, senão vejamos:

Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao


pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da
cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II - direito de ser respeitado por seus educadores;

III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às


instâncias escolares superiores;

IV - direito de organização e participação em entidades estudantis;

V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência

O juízo da Infância e da Juventude é competente para conhecer as


ações civis públicas que tenham com objeto os interesses individuais, difusos e
coletivos afetos à criança e ao adolescente, conforme preceita o artigo 148, inciso
IV, do ECA, in verbis:

Art. 148. A Justiça da Infância e da Juventude é


competente para:
IV - conhecer de ações civis fundadas em interesses
individuais, difusos ou coletivos afetos à criança e ao
adolescente, observado o disposto no art. 209;

“O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa
da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis” (CF, art. 127).
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DOS FATOS

Ab initio, é importante registrar que a Empresa RTS DE SOUZA


LOCAÇÃO, no objeto de seu contrato de constituição apresenta como atividade
econômica principal a locação de automóveis sem condutor.

A referida empresa LOCMAQ celebrou com o Município de Acopiara


vários contratos administrativos, desde o ano de 2005, albergando o transporte
escolar de alunos do ensino fundamental.

Não possuindo frota de veículos e nem empregados capacitados para


efetuar o transporte escolar, a empresa LOCMAQ celebrou diversos contratos
particulares com pessoas físicas para cumprir o objeto do Contrato
Administrativo, sublocando veículos e subcontratando motoristas.

Frise-se que a empresa contratada pelo Município de Acopiara


subcontratou integralmente o objeto do contrato, transferindo a terceiros,
que não participaram do certame licitatório, todos os encargos a que se
sujeitou por força do contrato público!

Que garantia de boa prestação de serviço de transporte escolar os


cidadãos de Acopiara têm? Qual o critério utilizado pela empresa LOCMAQ para
sublocar os veículos? Por que os veículos não atendem às exigências das normas
de trânsito vigente? Por que uma empresa sediada em Ubajara subloca veículos
usados e precários de camponeses de Acopiara? Como uma empresa sem
patrimônio suficiente pode realizar contratos milionários com o poder público
municipal?

Nos autos do procedimento administrativo que instrui esta ação,


consta inspeção veicular feita pelo DETRAN/CE, em 58 (cinquenta e oito) dos
veículos destinados ao transporte escolar de Acopiara (vol. VI, fls. 1.552 e
seguintes) a qual constatou que os veículos sublocados não são registrados
como transporte escolar; não se submetem a inspeção semestral para
verificação de equipamentos obrigatórios; não possuem faixas obrigatórias
no tamanho e cores prescritas em lei; e em sua maioria encontram-se em
precário estado de conservação.

O DETRAN verificou ainda (fls. 1.291 - vol. V) que do total de


motoristas contratados para conduzirem os veículos sublocados, 48 (quarenta e
oito) não possuíam registro de participação em Curso de Condutores de Veículos
de Transporte Escolar.
“O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa
da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis” (CF, art. 127).
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No ano de 2010, o Município de Acopiara gastou R$ 3.489.395,28


(três milhões e quatrocentos e oitenta e nove mil e trezentos e noventa e
cinco reais e vinte e oito centavos) com os serviços prestados pela sublocadora
RTS DE SOUZA LOCAÇÃO, conforme informação disponível no sítio
eletrônico do Tribunal de Contas dos Municípios (Portal da Transparência),
obtidos através dos dados do SIM.

E somente neste ano de 2011, até o último mês de abril, já foram


empenhados e pagos R$ 915.833,79 (novecentos e quinze mil e oitocentos e
trinta e três reais e setenta e nove centavos) referente às despesas com locação
de veículos destinados ao transporte escolar do ensino fundamental, tendo como
fornecedor mais uma vez a RTS DE SOUZA LOCAÇÃO.

É de salientar que a empresa contratada, embora a sua atividade


econômica principal seja a locação de veículos sem condutor, conforme o CNPJ
cadastrado na Receita Federal, a RTS DE SOUZA LOCAÇÃO não possui
veículos destinados ao transporte escolar em sua frota, mas apenas duas
motocicletas, segundo dados obtidos através do INFOSEG, cujo resultado da
pesquisa segue em anexo.

Logo, o Município de Acopiara é omisso em fiscalizar e cobrar


qualidade e eficiência da empresa “locadora de veículos”.

Ademais, levando-se em consideração que o valor de um ônibus


escolar gira em torno de R$ 123.000,00 (cento e vinte e três mil reais),
conforme dados do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – FNDE
(anexo) e que somente no ano de 2010 o Município de Acopiara teve como
despesa com a locação de veículos destinados ao transporte escolar através do
contrato com a LOCMAQ o montante de R$ 3.489.395,28 (três milhões e
quatrocentos e oitenta e nove mil e trezentos e noventa e cinco reais e vinte e
oito centavos), conclui-se que seria possível a aquisição de aproximadamente 28
(vinte e oito) ônibus adequados, com capacidade para 29 (vinte e nove) alunos,
cada um.

Continuando tal raciocínio, conclui-se que o Município de Acopiara


poderia adquirir ao fim de 04 (quatro) anos cerca de 112 (cento e doze) ônibus
escolares e garantir o transporte de qualidade para 3.248 (três mil e duzentos e
quarenta e oito) alunos.

“O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa
da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis” (CF, art. 127).
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Apenas neste ano de 2011, até o último mês de abril, o valor


empenhado e pago pelo Município de Acopiara para fazer face ao contrato
firmado com a LOCMAQ, totaliza R$ 915.833,79 (novecentos e quinze mil e
oitocentos e trinta e três reais e setenta e nove centavos), já permitiria a
compra de mais de 07 (sete) ônibus escolares.

É importante salientar que a referida empresa NÃO POSSUI FROTA


DE VEÍCULOS.

Então, por que o Município de Acopiara insiste em locar veículos


através de uma empresa de locação que só possui em seu patrimônio duas
motocicletas?

A maioria dos veículos locados para o transporte escolar, vistoriados


pelo DETRAN, são aqueles popularmente conhecidos por “paus-de-arara”,
conforme se verifica nas fotografias de fls. 1.807/1.812, vol. VI).

É estranho que a empresa ubajarense, vencedora do certame licitatório


para locação de veículos, mantém contratos com 07 (sete) municípios do Estado
do Ceará, conforme informação disponível no Portal da Transparência do
TCM/CE.

Como a referida empresa LOCMAQ não possui veículos e nem frota


de veículos, então adotou uma atitude que afronta à REGRA LEGAL e aos
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS que regem a matéria, senão vejamos.

A Lei de Licitações (Lei nº 8666/93), em seus artigos 72 e 78, inciso


V, estabelecem o seguinte:

“Art. 72. O contratado, na execução do contrato, sem


prejuízo das responsabilidades contratuais e legais, poderá
subcontratar partes da obra, serviço ou fornecimento, até
o limite admitido, em cada caso, pela Administração.

Art. 78. Constituem motivo para rescisão do contrato:

VI - a subcontratação total ou parcial do seu objeto, a


associação do contratado com outrem, a cessão ou
transferência, total ou parcial, bem como a fusão, cisão ou
incorporação, não admitidas no edital e no contrato;
(grifo nosso)
“O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa
da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis” (CF, art. 127).
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O contrato administrativo é, em regra, por sua natureza, pessoal, daí


por que, cumprindo preceito constitucional, através da licitação, a Administração
Pública examina a capacidade e a idoneidade da contratada, cabendo-lhe executar
pessoalmente o objeto do contrato, sem transferir as responsabilidades ou
subcontratar. Os contratos firmados com a LOCMAQ não prevêm
subcontratação total. A Administração só pode fazer o que a lei permite e não o
que a lei não veda.

A idéia, portanto, é que a pessoa jurídica que ganhou o certame


licitatório realize o serviço ou a obra, pois é a pessoa que demonstrou capacidade
técnica e de pessoal para o exercício deste mister. A partir do momento em que a
empresa vencedora do certame licitatório transfere a totalidade do serviço ou
obra para outras pessoas (jurídicas ou físicas), automaticamente, viola o caráter
intuitu personae que norteia os contratos administrativos.

A subcontratação, se permitida fosse, levaria à situação fática absurda


de empresas perdedoras da licitação serem subcontratadas pela empresa
vencedora! Assim, é lógico que a subcontratação e sublocação integral viola os
princípios norteadores da administração pública.

No caso em questão, a Empresa LOCMAQ celebrou com o Município


de Acopiara vários CONTRATOS ADMINISTRATIVOS para prestação de
serviços de transporte escolar (fls. 2.793/2.798).

Como a promovida LOCMAQ não possui veículos, simplesmente,


celebrou vários CONTRATOS PARTICULARES com diversas pessoas físicas,
com o fito de atender ao cumprimento do objeto do Contrato Administrativo
supramencionado e, portanto, desta forma, SUBCONTRATOU POR INTEIRO
O OBJETO DO CONTRATO EM QUESTÃO, violando o caráter intuitu
personae que norteia a celebração dos contratos administrativos.

Este caráter intuitu personae (confiança reciproca) decorre do fato de


que o “contratado é, em tese, o que melhor comprovou condições de contratar
com a Administração, fato que, inclusive, levou o legislador a só admitir a
subcontratação de obra, serviço ou fornecimento até o limite consentido, em
cada caso, pela Administração, isso sem prejuízo de sua responsabilidade legal
e contratual (art. 72 do Estatuto)”.2

2
FILHO, José dos Santos Carvalho. Manual de Direito Administrativo. 13.ed. Rio de Janeiro: Lumen
juris, 2005, p.145.
“O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa
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Acrescente-se, ainda, que, recentemente, chegou ao conhecimento


desta Promotoria de Justiça documento oriundo do Conselho Tutelar Local,
através do Ofício nº 110/2011, de 04 de maio de 2011, informações de que
crianças e adolescentes estão correndo risco, na medida em que estão sendo
transportadas em veículos sem condições mínimas, por pessoal sem habilitação
específica.

Ademais, observa-se que a postura do Município de Acopiara, ao


utilizar recursos públicos para pagamento de transporte escolar no montante
anual de R$ 3.489.395,28 (três milhões e quatrocentos e oitenta e nove mil e
trezentos e noventa e cinco reais e vinte e oito centavos) afronta o PRINCÍPIO
DA EFICIÊNCIA E DA ECONOMICIDADE que, também, rege a
Administração Pública.

Ora, tal gasto anual que o Município de Acopiara está tendo com o
transporte escolar (a locação de veículos cumulado com o serviço de transporte)
daria para COMPRAR VÁRIOS VEÍCULOS NOVOS que atenderiam às
necessidades da Administração.

Portanto, em apenas um ano de gasto de locação de veículos para


transporte escolar, o Município de Acopiara teria condições de criar uma grande
estrutura nesta área de transporte, inclusive, inserindo tais bens no Patrimônio do
ente municipal, evitando, desta forma, gastos de locação para os anos
subsequentes, bem como evitaria a irregularidade das subcontratações acima
referenciadas.

Eminente julgador, não se trata do Poder Judiciário substituir à


vontade da Administração Pública, mas, sim, de exercer o controle de atos
administrativos eivados de nulidades, que trazem prejuízos ao erário
público e estão pondo em risco a vida e a segurança de crianças e
adolescentes, conforme recente entendimento do STF na ADPF nº 45:

“A omissão do Estado - que deixa de cumprir, em maior ou em menor


extensão, a imposição ditada pelo texto constitucional - qualifica-se
como comportamento revestido da maior gravidade político-jurídica,
eis que, mediante inércia, o Poder Público também desrespeita a
Constituição, também ofende direitos que nela se fundam e também
impede, por ausência de medidas concretizadoras, a própria
aplicabilidade dos postulados e princípios da Lei Fundamental” (RTJ
185/794-796, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Pleno).

“Tal incumbência, no entanto, embora em bases excepcionais, poderá


atribuir-se ao Poder Judiciário, se e quando os órgãos estatais
“O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa
da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis” (CF, art. 127).
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competentes, por descumprirem os encargos político-jurídicos que


sobre eles incidem, vierem a comprometer, com tal comportamento, a
eficácia e a integridade de direitos individuais e/ou coletivos
impregnados de estatura constitucional, ainda que derivados de
cláusulas revestidas de conteúdo programático. Cabe assinalar,
presente esse contexto - consoante já proclamou esta Suprema Corte -
que o caráter programático das regras inscritas no texto da Carta
Política "não pode converter-se em promessa constitucional
inconseqüente, sob pena de o Poder Público, fraudando justas
expectativas nele depositadas pela coletividade, substituir, de
maneira ilegítima, o cumprimento de seu impostergável dever, por um
gesto irresponsável de infidelidade governamental ao que determina
a própria Lei Fundamental do Estado" (RTJ 175/1212-1213, Rel.
Min. CELSO DE MELLO).

Cumpre advertir, desse modo, que a cláusula da “reserva do possível”


- ressalvada a ocorrência de justo motivo objetivamente aferível - não pode ser
invocada, pelo Estado, com a finalidade de exonerar-se do cumprimento de suas
obrigações constitucionais, notadamente quando, dessa conduta governamental
negativa, puder resultar nulificação ou, até mesmo, aniquilação de direitos
constitucionais impregnados de um sentido de essencial fundamentalidade.

Repita-se, o Ministério Público recebeu, também, um Relatório


elaborado pelo Departamento Estadual de Trânsito do Estado do Ceará –
DETRAN/CE (vol. VI, fls. 1.552 e seguintes), o qual analisa as condições do
transporte escolar no âmbito do Município de Acopiara.

Tal Relatório aponta para o grave diagnóstico de que os veículos


utilizados no transporte escolar em Acopiara, bem como as qualificações técnicas
dos condutores, NÃO SÃO ADEQUADOS REGULARMENTE PARA O
TRANSPORTE ESCOLAR.

De lá pra cá, nada foi feito, e tal risco detectado no ano de 2005
continuou nos anos subsequentes, conforme constatado pelo DETRAN/CE e,
agora, em 2011, temos a mesma situação caótica, inclusive, com a notícia de que
um dos motoristas de determinado transporte escolar teria, em tese, torturado e
lesionado crianças durante o transporte escolar – LAMENTÁVEL O DESCASO
COM A VIDA E SEGURANÇA DESTAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES.

DA LIMINAR

Registre-se que o pedido de liminar encontra fundamento nas


disposições do art. 21 da Lei Federal n.º 7.347, de 24 de julho de 1985,
“O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa
da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis” (CF, art. 127).
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combinado com o art. 83 da Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990 e art. 796 e


demais disposições do Título Único do Livro III do Código de Processo Civil.

Observa-se que está ocorrendo a violação das normas legais


disciplinadoras das licitações e dos contratados públicos, vez que a promovida
empresa LOCMAQ, por não dispor de condições para execução do objeto do
contrato, vem subcontratando tal objeto, por completo, para várias pessoas
físicas, fato este que, como dito alhures, contraria os princípios da Administração
Pública.

Ademais, estes contratos particulares entre LOCMAQ e terceiros


prestadores de serviço estão sendo feito sem qualquer fiscalização por parte da
Prefeitura de Acopiara.

O descaso pelo transporte escolar de qualidade tem uma história longa


no Município de Acopiara, pois, como ficou comprovado acima, desde o ano de
2005 tal transporte vem sendo feito de forta inadequada e PONDO EM RISCO A
VIDA DESTAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES. Lembramos o caso do
estudante JOSÉ JAILSON DE SOUSA, que faleceu em razão da queda do “pau-
de-arara” que lhe transportava, nesta urbe.

É necessário, portanto, que o PODER JUDCIÁRIO intervenha


nesta história tão triste e perigosa, adotando a medida adequada para
resguardar a vida destas crianças e adolescentes.

Caso o contrato celebrado entre os Promovidos tenha seu curso


normal, continuará havendo o dispêndio financeiro irregular do erário público,
provocando prejuízos financeiros à Administração e causando uma péssima
imagem para o ente Municipal e, além do mais, continuará colocando em risco a
vida destas crianças e adolescentes. Portanto, a demora de uma medida judicial
visante corrigir tais irregularidades, continuará colocando em risco a vida de
inocentes.

O fumus boni iuris é cristalino, visto que o direito pleiteado perante V.


Exa. está delineado na principiologia constitucional que rege os princípios
constitucionais da impessoalidade e da economicidade, bem como das normas
legais disciplinadoras dos contratos administrativos e das licitações públicas, os
quais devem ser resguardados frente à vontade ilegal dos promovidos e, ainda,
pelo fato de que o transporte escolar está sendo realizado de forma inadequado e
violadora das normas previstas no Código de Trânsito Nacional, colocando em
risco a vida de crianças e adolescentes, fato este comprovado pelo DETRAN/CE

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e, também, pelo Conselho Tutelar de Acopiara que flagrou o caso gravíssimo


supracitado.

AÇÃO CIVIL PÚBLICA- Deferimento de liminar inaudita


altera parte. Possibilidade. Poder geral de cautela.
Existência dos requisitos previstos no artigo 84, parágrafo
3º, do CDC: in casu, as circunstâncias fáticas e a
possibilidade graves danos ao meio ambiente ensejam o
deferimento da liminar. (TJMG - AG 000.274.753-3/00 - 2ª
C. Cível. - Rel. Des. Brandão Teixeira - J. 13.05.2003)

PROCESSO CIVIL CONSTITUCIONAL DEFERIMENTO


DE LIMINAR EM AÇÃO CIVIL PÚBLICA,
POSSIBILIDADE, PRINCIPIO CONSTITUCIONAL DO
DIREITO DE AÇAO, SUPENSÃO DE NOMEÇAO E
POSSE DE CANDIDATOS, ALEGAÇÃO DE OFENSA
AOS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. É
cabível sim, o ajuizamento de ação civil pública para
anular concurso público, por quanto a suposta burla de
princípios da Administração pública afeta o patrimônio
público tanto na esfera moral quanto patrimonial, o que
evidencia a mácula a interesses difusos e coletivos.
Admite-se a concessão de liminar, ainda que de natureza
satisfatória, em ação civil pública, quando a situação de
fato assim exigir, sob pena de mácula ao princípio
constitucional do direito de ação (CF 5º, XXXV).
Suspende-se, liminarmente, a nomeação e a posse de
candidatas, quando, num juízo de cognição sumária, restar
evidenciado que o concurso público maculou os princípios
da igualdade, da acessibilidade a cargo público, da
moralidade, da impessoalidade e da razoabilidade.
(TJMG, Proc. nº 1.0083.04.911036-0/001(1), Rel. Des.
Maria Elza, j, em 02/12/2004).

Em face do exposto, requer o Ministério Público a concessão de


LIMINAR inaudita altera pars, que seja determinada a imediata suspensão da
execução dos Contratos Administrativos acima especificado, celebrados entre
o Município de Acopiara e a Empresa LOCMAQ - RTS DE SOUZA
LOCAÇÃO, impondo-se, aos promovidos, a aplicação de multa diária
equivalente a R$ 5.000,00 (cinco mil reais), nos termos do art. 12 da Lei
7347/85, sem prejuízo de outras cominações, em caso de desobediência à ordem

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judicial, a serem revertidas em favor do Fundo de Direitos e Intereses Difusos e


Coletivos do Ceará – FDID.

Caso esse douto Juízo entenda que tal medida poderá acarretar
prejuízos à educação destas crianças e adolescentes, os quais dependem do
transporte escolar, requer o MP, como pedido subsidiário, que seja determinado
ao Município de Acopiara a realização imediata de uma acurada fiscalização em
todos estes veículos e condutores relacionados ao transporte escolar, devidamente
acompanhado pelo Conselho Tutelar de Acopiara e o Conselho Municipal de
Educação e, ainda, pelo DETRAN/CE, adequando todos os veículos e condutores
às exigências previstas no Código Nacional de Trânsito, e, ainda, seja
determinado que o Município de Acopiara realize imediatamente novo
procedimento licitatório que possibilite a escolha de empresa que atenda às
qualificações técnicas necessárias para prestação do referido serviço de
transporte escolar, visto que a atual Empresa não tem condições para fazê-lo,
inclusive, como já ficou demonstrado supra, houve violação das normas que
regem às licitações e contratos administrativos, na medida em que o objeto do
contrato foi totalmente subcontratado ou adquira diretamente os veículos
através do FNDE.

DOS PEDIDOS

Em face do exposto, requer o Ministério Público:

a) O recebimento da presente Ação Civil Pública, a citação dos


promovidos para, no prazo legal, se defenderem, querendo, sob pena de revelia,
ficando ciente que os fatos alegados e não contestados serão tidos como
verdadeiros.

b) Seja julgada procedente o presente pedido, mantendo in totum a


liminar requestada e, por fim, seja decretada a NULIDADE dos Contratos
Administrativos acima especificado, celebrados entre o Município de Acopiara
e a Empresa LOCMAQ – RTS DE SOUZA LOCAÇÃO.

c) Seja determinado que o Município de Acopiara realize


imediatamente novo procedimento licitatório que possibilite a escolha de
empresa que atenda às qualificações técnicas necessárias para prestação do
referido serviço de transporte escolar, visto que a atual Empresa não tem
condições para fazê-lo, inclusive, como já ficou demonstrado supra, houve
violação das normas que regem às licitações e contratos administrativos, na

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medida em que o objeto do contrato foi totalmente subcontratado ou adquira


diretamente os veículos através do FNDE.

Requer o Ministério Público seja dado ciência da presente Ação Civil


Pública à Câmara Municipal de Acopiara, ao Conselho Tutelar de Acopiara, ao
Conselho Municipal de Educação, ao Conselho Municipal do FUNDEB, FNDE e
ao DETRAN/CE.

Requer, desde já, seja determinado ao DETRAN/CE nova avaliação


dos veículos e condutores que fazem o transporte escolar no Município de
Acopiara neste ano de 2011, encaminhando Relatório a esse Juízo.

Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito


admitido, juntada de novos documentos, tudo desde já requerido, inclusive, segue
abaixo a relação dos documentos juntados à presente Inicial.

Dá-se à causa o valor de R$ 1.000,00 (hum mil reais).

Termos em que, espera-se deferimento.

Acopiara, 08 de junho de 2011.

DANIEL ISÍDIO DE ALMEIDA JÚNIOR


PROMOTOR DE JUSTIÇA

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