Fadiga

*por Dr. Lucas Caseri Câmara.

O estudo da fadiga em condições Nesse sentido, para jovens

de exercício é importante no sentido de
esclarecer aspectos de redução da
capacidade física observada em idades
avançadas ou em indivíduos doentes,
tendo em vista que para a realização de
esforços da vida diária é necessário que
tenhamos boa capacidade muscular e boa
condição física.
Podemos definir a fadiga como a
incapacidade de manter esforços em uma
mesma intensidade, reduzindo assim o
desempenho.
A intensidade da atividade
realizada é individual, podendo uma
caminhada ser muito leve para um jovem
bem condicionado ou muito extenuante
para um cardiopata descondicionado, por
exemplo.
A fadiga apresenta suas
manifestações em caráter central e
periférico, nos quais uma série de
alterações metabólicas e neurais estão
presentes, guardando íntima relação com
a intensidade da realização de atividades
físicas a medida que estas aumentam
(quanto maior a intensidade da atividade
física mantida por períodos prolongados,
maior a suscetibilidade à fadiga).
Diversos fatores influenciam o
aparecimento da fadiga, como: o nível de
condicionamento físico, a capacidade
aeróbia, quantidade de força e massa
muscular, presença de doenças
associadas (ex. anemia, doenças
cardiovasculares, doenças pulmonares,
doenças neuromusculares), idade
avançada, nível de hidratação, e dieta
adequada.
Quanto menor o nível de
condicionamento físico, menor a oxigênio aos tecidos (atualmente têm sido
capacidade de realizar esforços, e maior a
suscetibilidade do indivíduo apresentar
fadiga aos pequenos esforços. Exercícios
quando realizados em intensidades não
adequadas individualmente podem
precipitar o aparecimento da mesma.
saudáveis, praticamente todas as
atividades cotidianas podem ser
realizadas com baixa e moderada
solicitação aeróbia, o mesmo não
acontecendo para pessoas doentes que
têm a capacidade do sistema
cardiorrespiratório diminuída (ex.
insuficiência cardíaca congestiva).
O avançar da idade geralmente
vêm acompanhado de redução da massa
muscular (sarcopenia), e alterações
neurais degenerativas, gerando em
conjunto a diminuição da capacidade de
realizar contrações musculares vigorosas
(redução das unidades motoras, da
capacidade de gerar estímulos para
contração muscular, e da capacidade de
recrutamento das unidades motoras;
maior ativação da musculatura
antagonista e maior inibição neural da
contração muscular) e conseqüentemente
da força.
O nível de hidratação deve ser
mantido dentro de parâmetros razoáveis
para garantia da boa execução de
exercícios, para que não ocorra a redução
do desempenho, visto que alterações
pequenas (2%) já ocasionam essa
redução. Um fator externo que pode
contribuir para o aumento da possibilidade
de desidratação, é a temperatura, que
quanto mais elevada, maior a
possibilidade desta ocorrência.
A inadequação da dieta pode
contribuir para a fadiga precoce durante
atividades físicas. A ingestão inadequada
de ferro (anemia) prejudica o desempenho
por reduzir o número de células vermelhas
do sangue e a conseqüente entrega de
descritos que atletas usam EPO como
doping, uma substância chamada
eritropoetina, que aumenta o número de
células carreadoras de oxigênio,
aumentando assim o desempenho).

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 A inadequação das quantidades de
vitamina D e proteínas são fatores
contribuintes para a redução da massa
muscular. O consumo adequado de
creatina (contida em alimentos como
peixes a carne vermelha) e de
carboidratos (açúcares que serão
metabolizados em glicose – principal fonte
de energia para o sistema nervoso),
garantem a manutenção e até a melhoria
do desempenho.
A presença de comorbidades
(doenças associadas) também aumenta a
ocorrência da fadiga, pois acabam por
reduzir (principalmente) a capacidade
aeróbia, força e massa muscular.
As alterações metabólicas
responsáveis pela fadiga são geralmente
citadas como: redução do aporte de
oxigênio para a musculatura em atividade
intensa; aumento da acidose (H+) e
temperatura local, com conseqüente
alteração de atividades enzimáticas;
redução dos níveis de glicogênio e
fosfocreatina intramusculares; e, aumento
de radicais livres e metabólitos tóxicos.
Ainda hoje não se tem um
consenso de que a fadiga é de causa
única, o que a maioria das pesquisas
aponta é que seria causada por uma
séries de fatores interligados que não
foram ainda totalmente esclarecidos.
Assim, não podemos imaginar que
exista alguma fórmula mágica ou
substância única que promova a redução
da fadiga e aumento do desempenho,
mesmo apesar de algumas terem sido
bastante estudadas (ex. creatina
monoidratada, suplementação protéica,
esteróides anabólicos), apresentando
resultados positivos em casos específicos,
pois como pudemos observar a fadiga
(assim como o desempenho), têm
causalidade multifatorial.
Aliás, ela não deve ser evitada a
todo e qualquer custo, pois muitos
métodos de treinamento, como por
exemplo o treinamento resistido
(musculação), se baseia na ocorrência da
fadiga durante o exercício para obtenção
de aumento de força e massa muscular.
A dieta adequada, o aumento dos
níveis de condicionamento físico (aumento
da capacidade aeróbia, da força e massa
muscular), correta hidratação, prescrição
e realização da atividade física compatível
com seu objetivo e nível de
condicionamento ainda parecem ser as
melhores estratégias para a redução da
ocorrência da fadiga durante o exercício.

* Dr. Lucas Caseri Câmara – médico especializado em Fisiologia do Exercício e Treinamento Resistido na
Saúde, na Doença e no Envelhecimento– CECAFI – FMUSP; e em Fisiologia do Exercício – CEFE – UNIFESP.
Pós – graduando em Fisiatria – DMR – FMUSP. Mestrando pela Fisiopatologia Experimental – FMUSP.
e-mail: lccamara@usp.br

Bibliografia:

Pereira B, Souza Jr TP. Metabolismo Celular e Exercício Físico – Aspectos Bioquímicos e

Nutricionais. Phorte Editora, São Paulo, 2004.

Evans WJ, Lambert CP. Physiological basis of fatigue. Am J Phys Med Rehabil, 2007; 86(suppl):S29-
S46.