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“a greve (...) é antes de tudo um fato, que historicamente não esperou pela lei para
tornar-se uma realidade inextirpável da sociedade moderna. O que às vezes
pretendeu o Direito positivo, e quase sempre condenado a inocuidade, foi proibi-la,
foi vedá-la. Quando, ao contrário, a própria Constituição a declara um direito, isso
basta para impedir que, à falta de lei, o fato se considere ilícito” (Trecho do voto do
Ministro Sepúlveda Pertence proferido no MI 20-DF)
INTRODUÇÃO
CONCEITO
“Art. 2º - Para os fins desta Lei, considera-se legítimo exercício do direito de greve a
suspensão coletiva, temporária e pacífica, total ou parcial, de prestação pessoal de
serviços a empregador.”
Assim, pode-se definir greve, no serviço público, como uma manifestação dos
servidores que caracteriza-se pela paralisação coletiva, parcial ou total, das
atividades funcionais, como forma de pressionar a Administração, no intuito de
defender seus interesses, buscando melhorias nas condições de trabalho, bem
como, uma remuneração justa.
I - DA PREVISÃO CONSTITUCIONAL
1.1 De início convém destacar que a greve do servidor público está prevista na
Constituição Federal em seu art. 37, inciso VII, senão vejamos:
“Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao
seguinte: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
(...)
VII - o direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em lei
específica (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)”
1.2 Apesar da Constituição determinar que a greve no serviço público deva ser
regulamentada, essa regulamentação é de competência tão somente do Poder
Legislativo, não podendo qualquer outro ato normativo do Poder Executivo regular ou
limitar o exercício de tal direito.
1.6 Ora, não é razoável que um direito garantido há 17 anos não possa ser exercido
por inércia do Poder Legislativo, tampouco pela “regulamentação” do Poder
Executivo, que não é competente para restringir o exercício de tal direito.
1.7 Dessa forma, tal inércia não resulta na impossibilidade do exercício do direito de
greve pelo servidor público, porque este existe e foi reconhecido pela Constituição
Federal. Este é o entendimento dos Tribunais numa demonstração clara de que a
arbitrariedade da Administração Pública, aliada à inércia do Poder Legislativo, deve-
se recorrer ao Poder Judiciário para resguardar a segurança do ordenamento jurídico
e os direitos inerentes à coletividade, principalmente quando se trata de direito
expressamente garantido pela nossa Constituição.
1.8 Assim, em que pese a inércia do Poder competente para regulamentar esse
direito garantido aos servidores públicos, não pode o Poder Judiciário esquivar-se de
reconhecer o direito de greve dos servidores públicos, sob pena de violar o art. 4ª, da
Lei de Introdução ao Código Civil, que não admite lacunas, em função do princípio da
auto-integração do ordenamento jurídico.
2.3 Em decisão proferida pelo Ilustre Juiz Federal Dr. Ronivon de Aragão, em 15 de
julho de 2003, no Processo n° 2003.85.00.004294-2 – 2ª Vara Federal de Sergipe,
Mandado de Segurança, foi decidido de forma a não permitir descontos em razão de
paralisação, senão vejamos:
1.1- Legitimidade:
A Constituição existe para valer. E tal assertiva é básica, eis que se se admite haver
uma norma em cujo âmbito as demais devem apoiar-se, o seu descumprimento, por
qualquer motivo, gera uma quebra no sistema. Se a norma constitucional existe, é
porque deve ter força que lhe permita gerir os atos a que se destina, não apenas ser
um objeto condicionado pelas circunstâncias. Nisso reside sua força normativa, de
que falou com propriedade Konrad Hesse em texto já tornado clássico, oriundo de
uma aula inaugural proferida pelo eminente professor e juiz da Corte Constitucional
Alemã, nestes termos:
(...)
a força normativa da Constituição não reside, tão-somente, na adaptação inteligente
a uma dada realidade. A Constituição jurídica logra converter-se ela mesma, em
força ativa, que se assenta na natureza singular do presente (individuelle
Beschaffenheit der Gegenwart). Embora a Constituição não possa por si só realizar
nada, ela pode impor tarefas. A Constituição transforma-se em força ativa se essas
tarefas forem efetivamente realizadas, se existir a disposição de orientar a própria
conduta segundo a ordem nela estabelecida, se, a despeito de todos os
questionamentos e reservas provenientes dos juízos de conveniências, se puder
identificar a vontade de concretizar essa ordem. Concluindo, pode-se afirmar que a
Constituição converte-se-à em força ativa se fizerem-se presentes, na consciência
geral – particularmente na consciência dos Principais responsáveis pela ordem
constitucional -, não só a vontade de poder (wille zur Machi), mas também a vontade
de Constituição (wille zur Verfassung)” (A força normativa da constituição. Tradução
de Gilmar Ferreira Mendes. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris Editor, 1991, p. 19).
Neste ponto, o julgador deve aquilatar qual o maior risco. Seguramente, este se
demonstra existente em relação aos servidores.
2. Conclusão
:
Antes o exposto, defiro a liminar requerida, para determinar à autoridade impetrante
que se abstenha de descontar dos vencimentos dos substituídos, no âmbito da
Delegacia da Receita Federal em Sergipe, e exclusivamente, as faltas decorrentes
da paralisação efetuada nos dias 11 e 12 de junho de 2003.
Notifique-se a autoridade apontada como coatora para que preste, querendo, as
informações pertinentes.
Com ou sem estas, vista ao Ministério Público Federal.
Após, conclusos para sentença.
Intimar.
Aracaju, 15 de julho de 2003.
Ronivon de Aragão
Juiz Federal Substituto”
3.3 As normas de eficácia plena são aquelas normas constitucionais que, desde o
início da vigência da Constituição, produz, ou tem a possibilidade de produzir todos
os efeitos essenciais, relativamente aos interesses e comportamentos que o
legislador constituinte quis regular direta e normativamente, são de aplicabilidade
imediata.
3.5 As normas programáticas, que não têm aplicabilidade imediata , pois dependem
de intermediação legislativa para dar efetividade aos programas alvitrados, são
normalmente enunciações diretivas formuladas em termos genéricos e abstratos, às
quais quase sempre se atribui a escusa evasiva da programaticidade para justificar o
seu descumprimento, servindo de pretexto para a inobservância da Constituição.
3.7 Embora o legislador tenha sido sucinto em sua disposição sobre o direito de
greve, o bom sendo indica necessariamente que se trata de norma de eficácia
contida, de aplicação direta e imediata, podendo ser limitada somente pelo legislador
infraconstitucional, em decorrência do interesse público.
3.11 Destaca-se ainda o posicionamento do Exmo. Sr. Ministro Marco Aurélio, por
ocasião da greve dos trabalhadores federais da Educação e da Saúde do ano de
2001, quando o Egrégio Supremo Tribunal Federal pronunciou-se contrariamente ao
corte de vencimentos dos professores universitários em greve:
3.12 Esse entendimento vem sendo adotado pelo E. Tribunal Regional Federal da 1ª
Região, em especial no sentido da garantia constitucional do direito de greve
estendido aos servidores em estágio probatório, conforme excerto da liminar
concedida em 16 de maio de 2002, nos autos do MS 2002.34.00.013530-4/DF,
Exma. Juíza Federal Dra. Ednamar Silva Ramos – 16ª Vara Federal, ora transcrita:
Nesse contexto, tem-se que o trabalhador pode decretar greve por diversos motivos
e no momento em que sua categoria, em assembléia geral assim o decidir, desde
que mantidos atendimentos mínimos á população, de modo a prestar atendimento
aos serviços considerados inadiáveis para a comunidade. Tais serviços, a lei o
definirá, na sua ausência, deve prevalecer o bom senso.
3.13 Nesse sentido ainda, tem-se a decisão proferida pelo mesmo Tribunal, na
pessoa do Exmo. Juiz Federal Dr. José Parente Pinheiro, quando da análise de
situação idêntica, qual seja, ameaça de corte de ponto numa paralisação ocorrida
nos meses de maio e junho de 2000, decisão de 31.07.2000 no autos do Mandado
de Segurança nº 2000.34.00.024508-2. Ao deferir a liminar, assinala o direito de
greve e a ilegalidade do ato, verbis:
3.14 Convém apontar notícia veiculada no dia 28/07/2005 pelo Egrégio Tribunal
Regional Federal da 4º Região justamente sobre o desconto dos dias parados dos
servidores do INSS, senão vejamos:
quinta O juiz federal Márcio Antônio Rocha, convocado para atuar no Tribunal
Regional Federal (TRF) da 4ª Região, determinou que o Instituto Nacional do Seguro
Social (INSS) se abstenha de descontar os dias parados dos servidores que estão
participando da greve da categoria. A liminar foi concedida ontem (27/7) e atende a
uma solicitação do Sindicato dos Trabalhadores Federais da Saúde e da Previdência
no Estado do Rio Grande do Sul (Sindisprev).
A entidade ingressou com uma ação civil pública contra o INSS na Justiça Federal de
Porto Alegre. No entanto, como a liminar foi negada, o sindicato recorreu ao TRF,
argumentando que o direito de greve é uma garantia constitucional e que o desconto
dos dias parados não é cabível, uma vez que não existe decisão judicial declarando
a abusividade do movimento.
Ao analisar o recurso, Rocha entendeu que o direito postulado pelo sindicato é
verossímil, tendo em vista julgamentos anteriores da 4ª Turma do TRF sobre o
assunto. O juiz lembrou ainda que há risco de dano irreparável, dada a natureza
alimentar dos vencimentos dos servidores. Além disso, afirmou, a medida não é
irreversível. "Os valores relativos aos dias parados, se assim for determinado na
decisão de mérito, poderão ser posteriormente descontados em folha".
No final de junho, em uma outra ação ajuizada pelo Ministério Público Federal (MPF)
na 4ª Vara Federal da capital gaúcha, foi ordenado o retorno ao trabalho de 50% dos
servidores da área de benefícios do INSS. O Sindisprev recorreu ao TRF contra essa
liminar, mas ainda não há decisão sobre o caso. Assim, a determinação ainda está
em vigor.
AI 2005.04.01.033222-2/RS
(Notícia enviada pelo serviço do TRF4 sob medida, fornecido pelo site
www.trf4.gov.br)
IV - CORTE DE PONTO - DA ILEGALIDADE E DO ABUSO DE PODER
4.1 O Administrador não poderá determinar o corte do ponto dos servidores que
aderirem ao movimento reinvidicatório, com o conseqüente rebaixamento de suas
remunerações, pois esbarra em evidente ilegalidade e abuso de poder, ferindo direito
líquido e certo do servidor.
4.2 O servidor que exerce o seu direito de greve não está faltando deliberadamente
ao serviço, mas sim lutando por melhores condições de trabalho e valorização,
garantia conferida pela Carta Magna, que somente poderia ser restringida pelo
legislador por meio de lei.
4.5 A ilegalidade do corte de ponto dos servidores é flagrante. O desconto dos dias
de paralisação somente poderá ser feito por meio de declaração judicial sobre a
abusividade da greve e somente dessa forma. Além disso, nenhuma lei permite a
retenção de salários em razão de greve, paralisações, fenômeno sócio-laboral e não
uma simples ausência ao trabalho, conforme preceitua o artigo 45 da Lei nº 8.112/90:
“Art. 45. Salvo por imposição legal, ou mandado judicial, nenhum desconto incidirá
sobre a remuneração ou provento.”
4.7 O texto legal é claro e deverá imperar no caso em tela, no sentido de que a
Administração Pública, caso entenda que a paralisação não é legítima, busque a via
judicial própria para permitir-lhe não proceder aos pagamentos, bem como se
entender que atividade seja essencial que se utilize dos meios judiciais cabíveis para
garantir um quantitativo mínimo de servidores assegurando a continuidade dos
serviços, pois ante a ausência de lei limitadora do direito de greve deve prevalecer o
bom senso e a eqüidade, o que somente poderia ser feito com o respaldo de decisão
judicial.
“A administração pública rege-se pelo princípio da legalidade. Não havendo lei que
regule a greve, aplica-se a analogia. Greve não é faltar ao serviço, mas paralisar as
suas atividades. A lei 8.112/90 (Estatuto do Servidor Público Federal) não permite o
corte de ponto, a não ser nos casos previstos. Corte de ponto em razão de greve não
está previsto no Regime Jurídico do Servidor Público Federal. Corte de ponto é
abuso de autoridade.”
4.9 O razoável é que ante a inércia legislativa o direito de greve do servidor público
não seria também um direito ilimitado, deve-se portanto, utilizar da analogia com as
normas que disciplinam o direito de greve no setor privado, o que não se pode de
forma alguma é inviabilizar indefinidamente o seu exercício, pois um direito garantido
há 17 anos que até hoje não foi regulamentado é porque não há interesse em
regulamentá-lo, é muito mais confortável ao Estado proibir o servidor de fazer greve
do que negociar com os servidores e garantir condições dignas e respeitáveis de
trabalho, mas esta não foi a intenção do constituinte que inseriu na Carta de 1988 o
direito de greve no serviço público.
“Mas essa conclusão não induz à construção de exegese que permita ao estado
promover o desconto relativo aos dias em que o movimento paredista se manteve
firme, pois reduzir o conceito de greve (movimento de resistência de índole coletiva,
motivada por fatores de ordem social, política e econômica) ao de falta ao serviço
(ato individual – somente acidentalmente coletivo –, desidioso, imotivado, despido de
qualquer conotação de resistência democrática) seria destempero desmedido.”
“Decreto nº 1.480/95
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA , no uso das atribuições que lhe confere o art. 84,
incisos II e IV, da Constituição, e tendo em vista o disposto nos arts. 116, inciso X, e
117, inciso I, da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990,
DECRETA:
Art. 1º Até que seja editada a lei complementar a que alude o art. 37, inciso VII, da
Constituição, as faltas decorrentes de participação de servidor público federal, regido
pela Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990, em movimento de paralisação de
serviços públicos não poderão, em nenhuma hipótese, ser objeto de:
I - abono
II - compensação ou
III - cômputo, para fins e contagem de tempo de serviço ou de qualquer vantagem
que o tenha por base.
§ 1º Para os fins de aplicação do disposto neste artigo, a chefia imediata do servidor
transmitirá ao órgão de pessoal respectivo a relação dos servidores cujas faltas se
enquadrem na hipótese nele prevista, discriminando, dentre os relacionados, os
ocupantes de cargos em comissão e os que percebam função gratificada.
§ 2º A inobservância do disposto no parágrafo precedente implicará na exoneração
ou dispensa do titular da chefia imediata, sem prejuízo do ressarcimento ao Tesouro
Nacional dos valores por este despendidos em razão do ato comissivo ou omissivo,
apurado em processo administrativo regular.
Art. 2º Serão imediatamente exonerados ou dispensados os ocupantes de cargos em
comissão ou de funções gratificadas constantes da relação a que alude o artigo
precedente.
Art. 3º No caso em que a União, autarquia ou fundação pública for citada em causa
cujo objeto seja a indenização por interrupção, total ou parcial, da prestação dos
serviços desenvolvidos pela Administração Pública Federal, em decorrência de
movimento de paralisação, será obrigatória a denunciação à lide dos servidores que
tiverem concorrido para o dano.
Parágrafo único. compete ao Advogado-Geral da União expedir as instruções
necessárias ao cumprimento do disposto neste artigo.
Art. 4º Este decreto entra em vigor na data de sua publicação.”
4.14 Diante da grave lesão aos direitos sociais e fundamentais de todo trabalhador
por tanto tempo de omissão legiferante, impõe-se adoção de regra de exceção
interpretativa para aplicar ao caso vertente a norma positivada no §1° do art. 5° da
Constituição, segundo a qual “As normas definidoras dos direitos e garantias
fundamentais têm aplicação imediata”.
4.16 Assim, até que se promulgue lei disciplinando o direito de greve dos
servidores públicos deve-se, por analogia, aplicar ao setor público as normas
regentes do direito de greve no âmbito das atividades privadas, aplicando-se o
Decreto n° 1.480/95 apenas na parte relacionada exclusivamente com a disciplina do
funcionamento dos serviços públicos considerados essenciais, e assim declarados
por lei ou decisão judicial, pois somente quanto a esse aspecto afigura-se legítimos
os aludidos decretos regulamentares, não prestando para modificar, criar ou extinguir
direitos consagrados constitucionalmente.
4.17 Ademais nem mesmo a lei formalmente concebida pode inovar ou contrariar o
texto da Constituição para, por via oblíqua, suprimir direitos relacionados ao legítimo
exercício da greve – o direito aos vencimentos dos dias não trabalhados é um deles
-, a menos que, também por analogia com o setor privado, haja declaração judicial da
sua ilegalidade e abusividade da greve.
“Lei 7783/89
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Congresso Nacional decreta e
eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre
a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele
defender.
Parágrafo único. O direito de greve será exercido na forma estabelecida nesta Lei.
Art. 2º Para os fins desta Lei, considera-se legítimo exercício do direito de greve a
suspensão coletiva, temporária e pacífica, total ou parcial, de prestação pessoal de
serviços a empregador.
Art. 3º Frustrada a negociação ou verificada a impossibilidade de recursos via
arbitral, é facultada a cessação coletiva do trabalho.
Parágrafo único. A entidade patronal correspondente ou os empregadores
diretamente interessados serão notificados, com antecedência mínima de 48
(quarenta e oito) horas, da paralisação.
Art. 4º Caberá à entidade sindical correspondente convocar, na forma do seu
estatuto, assembléia geral que definirá as reivindicações da categoria e deliberará
sobre a paralisação coletiva da prestação de serviços.
§ 1º O estatuto da entidade sindical deverá prever as formalidades de convocação e
o quorum para a deliberação, tanto da deflagração quanto da cessação da greve.
§ 2º Na falta de entidade sindical, a assembléia geral dos trabalhadores interessados
deliberará para os fins previstos no "caput", constituindo comissão de negociação.
Art. 5º A entidade sindical ou comissão especialmente eleita representará os
interesses dos trabalhadores nas negociações ou na Justiça do Trabalho.
Art. 6º São assegurados aos grevistas, dentre outros direitos:
I - o emprego de meios pacíficos tendentes a persuadir ou aliciar os trabalhadores a
aderirem à greve
II - a arrecadação de fundos e a livre divulgação do movimento.
§ 1º Em nenhuma hipótese, os meios adotados por empregados e empregadores
poderão violar ou constranger os direitos e garantias fundamentais de outrem.
§ 2º É vedado às empresas adotar meios para constranger o empregado ao
comparecimento ao trabalho, bem como capazes de frustrar a divulgação do
movimento.
§ 3º As manifestações e atos de persuasão utilizados pelos grevistas não poderão
impedir o acesso ao trabalho nem causar ameaça ou dano à propriedade ou pessoa.
Art. 7º Observadas as condições previstas nesta Lei, a participação em greve
suspende o contrato de trabalho, devendo as relações obrigacionais, durante o
período, ser regidas pelo acordo, convenção, laudo arbitral ou decisão da Justiça do
Trabalho.
Parágrafo único. É vedada a rescisão de contrato de trabalho durante a greve, bem
como a contratação de trabalhadores substitutos, exceto na ocorrência das hipóteses
previstas nos arts. 9º e 14.
Art. 8º A Justiça do Trabalho, por iniciativa de qualquer das partes ou do Ministério
Público do Trabalho, decidirá sobre a procedência, total ou parcial, ou improcedência
das reivindicações, cumprindo ao Tribunal publicar, de imediato, o competente
acórdão.
Art. 9º Durante a greve, o sindicato ou a comissão de negociação, mediante acordo
com a entidade patronal ou diretamente com o empregador, manterá em atividade
equipes de empregados com o propósito de assegurar os serviços cuja paralisação
resultem em prejuízo irreparável, pela deterioração irreversível de bens, máquinas e
equipamentos, bem como a manutenção daqueles essenciais à retomada das
atividades da empresa quando da cessação do movimento.
Parágrafo único. Não havendo acordo, é assegurado ao empregador, enquanto
perdurar a greve, o direito de contratar diretamente os serviços necessários a que se
refere este artigo.
Art. 10 São considerados serviços ou atividades essenciais:
I - tratamento e abastecimento de água produção e distribuição de energia elétrica,
gás e combustíveis
I - assistência médica e hospitalar
III - distribuição e comercialização de medicamentos e alimentos
IV - funerários
V - transporte coletivo
VI - captação e tratamento de esgoto e lixo
VII - telecomunicações
VIII - guarda, uso e controle de substâncias radioativas, equipamentos e materiais
nucleares
IX - processamento de dados ligados a serviços essenciais
X - controle de tráfego aéreo
XI compensação bancária.
Art. 11. Nos serviços ou atividades essenciais, os sindicatos, os empregadores e os
trabalhadores ficam obrigados, de comum acordo, a garantir, durante a greve, a
prestação dos serviços indispensáveis ao atendimento das necessidades inadiáveis
da comunidade.
Parágrafo único. São necessidades inadiáveis, da comunidade aquelas que, não
atendidas, coloquem em perigo iminente a sobrevivência, a saúde ou a segurança da
população.
Art. 12. No caso de inobservância do disposto no artigo anterior, o Poder Público
assegurará a prestação dos serviços indispensáveis.
Art. 13 Na greve, em serviços ou atividades essenciais, ficam as entidades sindicais
ou os trabalhadores, conforme o caso, obrigados a comunicar a decisão aos
empregadores e aos usuários com antecedência mínima de 72 (setenta e duas)
horas da paralisação.
Art. 14 Constitui abuso do direito de greve a inobservância das normas contidas na
presente Lei, bem como a manutenção da paralisação após a celebração de acordo,
convenção ou decisão da Justiça do Trabalho.
Parágrafo único. Na vigência de acordo, convenção ou sentença normativa não
constitui abuso do exercício do direito de greve a paralisação que:
I - tenha por objetivo exigir o cumprimento de cláusula ou condição
II - seja motivada pela superveniência de fatos novo ou acontecimento imprevisto que
modifique substancialmente a relação de trabalho.
Art. 15 A responsabilidade pelos atos praticados, ilícitos ou crimes cometidos, no
curso da greve, será apurada, conforme o caso, segundo a legislação trabalhista,
civil ou penal.
Parágrafo único. Deverá o Ministério Público, de ofício, requisitar a abertura do
competente inquérito e oferecer denúncia quando houver indício da prática de delito.
Art. 16. Para os fins previstos no art. 37, inciso VII, da Constituição, lei complementar
definirá os termos e os limites em que o direito de greve poderá ser exercido.
Art. 17. Fica vedada a paralisação das atividades, por iniciativa do empregador, com
o objetivo de frustrar negociação ou dificultar o atendimento de reivindicações dos
respectivos empregados (lockout).
Parágrafo único. A prática referida no caput assegura aos trabalhadores o direito à
percepção dos salários durante o período de paralisação.
Art. 18. Ficam revogados a Lei nº 4.330, de 1º de junho de 1964, o Decreto-Lei nº
1.632, de 4 de agosto de 1978, e demais disposições em contrário.
Art. 19 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.”
5.2 Existem dispositivos da legislação supra citada que podem ser aplicados por
analogia ao servidor público, que somente poderá ser penalizado ou punido se
durante a paralisação incorre em ato definido como ilícito ou crime, e a adesão ao
movimento, tendo, por conta disso, recusado a cumprir seus deveres de ofício,
conseqüência natural que resulta do ato volitivo de cruzar os braços na busca de
melhores condições de trabalho e de remuneração mais digna não há que se
prosperar qualquer processo administrativo, pois o exercício de um direito subjetivo,
que é o direito de greve, previsto na Constituição Federal, não pode jamais ser
elevado à categoria de ato de indisciplina, muito menos um crime.
5.3 A greve é um direito social reconhecido e conferido pela nossa Constituição para
todos os trabalhadores, tanto os trabalhadores da iniciativa privada regidos pela
Consolidação das Leis Trabalhistas, como para os servidores públicos.
5.4 O Direito Positivo deve ser analisado e interpretado em seu conjunto, a norma
constitucional que prevê o direito de greve no serviço público, norma de eficácia
contida, que pode ser limitada por lei, apesar de, ainda, não existir lei
regulamentadora por total inércia legiferante, a razoabilidade indica que apesar de
não haver limitação legal tal direito não se configura ilimitado em sua essência, nem
em seu contéudo.
5.6 Observa-se, por via de conseqüência, que não pode a Administração aplicar a
sua própria interpretação e seus critérios, pois afrontaria os princípios da legalidade e
da finalidade, a Administração figura no mesmo pólo que o empregador, como
poderia então a Administração regular o direito de greve?
5.8 Cumpre destacar que o ilustre Professor José Afonso da Silva, in Curso de
Direito Constitucional Positivo, 22º edição, Malheiros, 2003, quanto à
regulamentação da greve, ainda acrescenta que a lei deveria existir somente para
garantir o direito de greve e nunca para restringí-lo:
6.1 Pode a Administração cortar o ponto dos servidores que participam da greve?
Não, não existe previsão legal para o desconto dos dias de paralisação que não
podem ser considerados como faltas injustificadas, o direito de greve é garantia
constitucional. Somente pode ser cortado o ponto do servidor, reduzindo a sua
remuneração, se a Administração obtiver junto ao Judiciário decisão que declare a
greve abusiva.
6.2 Por que então o SINDIRECEITA impetra mandado de segurança preventivo para
evitar o corte de ponto?
6.4 A folha de ponto deve ser assinada em dias de greve ? E se houver Mandado
de Segurança no qual tenha sido deferido pedido da categoria "para que a
autoridade impetrada se abstenha de efetuar os descontos dos dias parados em
virtude do movimento grevista ou fazer anotações nos assentamentos funcionais por
esse mesmo motivo, com relação aos substituídos, referentes à participação na
greve."?
6.5 Qual o risco de plantonistas aderirem à greve (em ambos os casos: estando
seguro por liminar em Mandado de Segurança, ou não sendo a liminar concedida)?