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Colegao Pensamento Criminolégico Loic Wacquant PUNIR OS POBRES: anova gestdo da miséria nos Estados Unidos [A onda punitiva] Tradugdo de: Sérgio Lamarao & tesa Ehimincioaie Editora Revan Pensamento Criminologico Diregio Prof. Dr. Nilo Batista © 2007 Instituto Carioca de Criminologia Rua Aprazivel, 85 Santa Teresa Rio de Janeiro RJ Cop 20241.270 tel: (21) 2221 1663 fax: (21) 2224 3265 criminologia@ice-tio.org.br Edicao Edilora Revan Av, Paulo de Frontin, 163, Rio de Janeiro RJ Cep 20260-010 Tel. (21) 2502 7495 Fax (21) 2273 6873, Projeto grafico Luiz Fernando Gerhardt Reviséio Sylvia Moratzsahn Diagramagao Alexandre Gost - WIIsp Loic, Waequant Punir os pobres: a nova gestéo da iistria nos Estados Unidos [A onda punitiva] Lote ‘Wacquant. Tradueao de Sérgio Lamardo,~ Rio de Janeizo: Revan, 2003, 3¥edig, revista eampiada, agosto de 2007. 1 reimpresio, margo de 2013, 4976p. Ler I Série. ISBN 85-353-0218-2 inologia — Aspectos sociais 2, Direito penal. 1. Titulo. DD: 345 Sumirio jogo: Os Estados Unidos, laboratério vivo do future neoliberal se rmonnnnnnnssnnie 9 Figuras ¢ fontes da pornografta penal 9 As cargas materiais ¢ simbdlicas do encarcerament0 non 13 Notas 04 1. Inseguranga social e surgimento da politica de seguranca . 25 A generalizagao da inseguranca social ¢ seus efeitos 28 Desculpas sociolégicas” ¢ “responsabilidade individual” 35 Uma. “via européia” para 0 Bstado pen? .r.rnnesersn SO A policia socorre “jovens com dificuldade de insergao” ..... 36 A penalizagao da precariedade como producto de realidade... 62 Dois érgdios oficiais de propaganda sobre seguranca o7 Notas dala Ete tatateatalect ta 1S PARTE 1: MISERIA DO ESTADO SOCIAL 1H. A criminalizagio da pobreza na era pés-direitas eivis... 85 Algumas propriedades distintivas do Estados Unidos wu. 90 O declinio do Estado caritativo 9% O avango do Estado penal conn oH Os edrceres do subproletariado: wna verifcagto experimental... 1 Notas... II1. A “reforma” da assisténeia social como di pobres ¢ as ages do Estadd samme Uma reforma verdadeira-falsa As mulheres e as criangas primeiro, os negros como novos VIDS neers ws 149 Enguadrando os pobres 161 Tecendo a rede assistencial-correcional 0. 7 Notas 194 PARTE 2: GRANDEZA DO ESTADO PENAL “A vergonha da América" 356 “Basta, basta, basta!”: Oprah Winfrey levanta-se contra o pior 1V. O “grande confinamento” do final do séeulo .... dos “males” Pile seinnnnanennnnns 39 Hiperinflacao e superpopulagdo Supervisionar e estigmatizar sn 362 A saga das barcas-prisio de Nova torque Uma nova arragdo nas feiras: 0 “outing” dos ex-delingitentes A“matha penal” se estreita e se amplia sexuais. 367 Fichay, testar, (re)eapnurar. Os efeitos perversos da elaboragi do tad das “perventidos” 373 “Caos controlado” na primeira coldnia penal da mundo livre . 249 Daa entrada no index 60 descOP2 re raiesosennsenenenone, 388 NOUS si nmnninmnnnininneininaniennimnninnsnnnnnnan 256 NOLO oe soeunans 395; V.O advento do “Big Government” carcerario csunsns 263 PARTE IV: FAC-SIMILE EUROPEU Terceivo empregador do pais : sence 265 : ‘i A Califémiana ponta 268 VIII. Os mitos cientificos da nova doxa sobre seguranga... 405 Caridade ou castigo ve BB Como os Estados Unidos “supereriminoses" foram paciicados e “A face altiva da América”. 281 Lirapossados pela Franca 422 Custos e lucras do encarceramento Mm MASSA ...s.ssenrves 282 Ea policia que fae a criminlidade “se csolver 419 “Saltos & fren 288 Por detris da “tolerancia zero”, reorganizagtio buroerdtica ¢ “Néo €antoricada nenuana roupa vinda do mundo livre” 303 ativisno. = 429 Tornar os prisioneivos ieis 306 Das "janclas quebradas” aos “clhdesqurbrados™ 435 “0 padrao para as casas de detengtio do século XXI” 313 0 anquiteto da "‘olerincia zero” rejeita a “teoria da jancla NOUS sneweunmsnsnnsinnesnneninmnmnnsennimnninnne 321 quebrada” mane 439 NO en Salah smn AE PARTE Hl: OS ALVOS PRIVILEGIADOS EX. A aberragiio carcerdiria que vem da Franga ssnmneue 454 VIA pristio como substituta do gueto wa... A prisio como aspirador da escéria social... . 455 A “desproporcionalidade racial” do encarceramento nos Como se livrar da armaditha da seguranga.. . 463 Estados Unidos ts 333 Notas.. 471 Vetores para a exploragio da forga de trabalho e a divisto de casta z 335 O gueto como prisdo etno-racial, a pristio como gueto judicial 343 Notes 350 VIL. Moralisme e panoptismo put qilentes sexuais Prélogo Os Estados Unidos, laboratério vivo do futuro neoliberal A sociedade contemporinea, que alimentaahosilidade entze 0 hhomern individual e todos os demas, produ, assim, unin guerra social de todos contra todos, que assume, inevitavelmente, em casos individuss, partcularmente entre pessoas sem educacdo, ‘uma forma brutal, barbara e violents~a do crime. Para se pro- teger do crime e dos atos diretos de violencia, a soviedade re- quer um vasto © complexo sistema de corpos sdministativos © Jdiciros, que demanda uma imensaforga de trabalho. FRIEDRICH ENGELS Discurso de Blberfeid, 8 de fevereiso de 1845 A gesta piiblica sobre a “seguranga” criminal (securité, Sicherheit, seguridad) — que surgiu repentinamente, no final do século XX, no cenério politico dos pafses da Unitio Européia, entre 0s quais, e no primeiro plano, a Franga, apés ter invadido 0 espago piiblico nos Estados Unidos 20 anos antes — apresenta muitas caracteristicas que a aproximam estreitamente da gesta pornogréfica, a qual ja foi deserita por suas analistas feministas! Figuras e fontes da pornografia penal Para comegar, a gesia da seguranca € concebida e executada nao tanto por ela mesma, mas sim com a finalidade expressa de ser exibida e vista, examinads e espionada: a prioridade absoluta é fazer dela um espetéculo, no sentido préprio do termo. Para tal, as pala- vras e ages anti-crime devem ser metodicamente colocadas em cena, exageradas, dramatizadas mesmo ritualizadas. Isso explica porque, a exemplo dos confusdes carnais pré-planejadas que povo- am os filmes pomograficos, elas sio extraordinariamente repetitivas, mecéinicas, uniformes e, portanto, eminentemente previsiveis. Assim, as autoridades responsdveis pela ordem ptiblica dos diferentes governos que se sucedem num determinado pais ou em diferentes paises, em um dado momento, combinam, todos eles, ‘com 0 mesmo ritmo entrecortado e com apenas umas poucas va- riagdes menores, as mesmas figuras obrigatérias com os mesmos, parceiros: fazer patrulha numa estago de metré ou num trem de subtirbio, exaltando as medidas anti-erimes visitar, em cortejo, 0 posto de policia de umn bairro mal afamado; deixar-se posar numa foto coletiva de vitsria apés uma batida de drogas anormalmente ‘grande; fazer algumas adverténcias viris aos malfeitores para que, de agora em diante, eles “se comportem bemn”; e langar os far6is, da atencio puiblica sobre os transgressores reincidentes, os men- digos agressivos, 0s refugiados errantes, os imigrantes que aguar- dam ser expulsos, as prostitutas de calgada e outros dettitos soci- ais que se acumulam nas ruas das metr6poles fin-de-siecle, para a indignagio dos cidadios “respeitaveis”. Por toda a parte, ecoam as mesmas loas A devogfio e & compe- t@ncia das foreas da ordem, o mesmo lamento em relagio a escan-

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