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31º Encontro Anual da ANPOCS

22 a 26 de outubro de 2007 – Caxambu (MG)


Seminário Temático 22: O Marxismo e as Ciências Sociais

Trazendo o Estado de volta para a teoria:


o debate Poulantzas-Miliband revisitado

Alvaro Bianchi
(DCP/IFCH/Unicamp)
2

Quando publicou The Political System, em 1953, David Easton pretendia


questionar o lugar ocupado pela noção de Estado na análise política e apresentar um
quadro analítico alternativo para estudo da política como um sistema de comportamento
e instituições. O pressuposto desse empreendimento encontrava-se na afirmação de que
“nem o Estado nem o poder constituem um conceito que sirva para desenvolver a
investigação política” (Easton, 1953, p. 106). A análise dos sistemas políticos
desenvolvida por Easton e reformulada a partir do funcionalismo (Almond e Powell,
1966) ou do pluralismo (Dahl, 1956) estimulou um grande número de estudos nas mais
diversas áreas e permitiu à political science estadunidense banir por um longo período a
noção de Estado do âmbito dos estudos sobre a política.
A vitória das teorias sistêmicas sobre as chamadas teorias estadocêntricas foi,
entretanto, uma uma vitória de Pirro. Escrevendo em 1981, quase trinta anos depois de
decretar a morte da noção de Estado, o mesmo Easton, constatava, consternado, que o
“Estado, um conceito que muitos de nós pensavam que havia sido abandonado um
quarto de século atrás levantou-se de sua tumba para assombra-nos mais uma vez.”
(1981, p. 303.) No mesmo ano, o encontro anual da American Political Science
Association assumia como seu tema central as “mudanças do Estado”. Nada mal para
um morto.
Os responsáveis por esse inesperado renascimento foram os marxistas e,
principalmente, Nicos Poulantzas e Ralph Miliband, como reconhecia o próprio Easton.
As publicações de Pouvoir Politique et Classes Sociales (1968) e imediatamente a
seguir de The State in Capitalist Society (1969) marcam uma ruptura no interior do
próprio marxismo. Em sua reconstrução da trajetória do marxismo ocidental, Perry
Anderson havia destacado a subvalorização da política pela teoria marxista do pós-
guerra. Na obra da Theodor Adorno, Max Horkheimer, Herbert Marcuse, Jean Paul
Sartre, Henri Lefebvre e Louis Althusser, a filosofia e a cultura ocupavam os lugares de
destaque, enquanto a economia e a política encontravam-se relegadas a uma posição
secundária, quando não eram simplesmente ignoradas.
A publicação desses livros rompe com as ênfases até então postas e traz de novo
o Estado e a política para o centro do pensamento marxista. Evidentemente essas obras
haviam sido concebidas muito antes das revoltas estudantis e operárias que agitaram o
final dos anos 1960 e boa parte da década seguinte. É certamente um anacronismo
vincular a produção delas a esse contexto. Michael Newman, em sua biografia de Ralph
Miliband, mostra como este estava às voltas com um livro sobre o Estado desde pelo
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menos maio de 1962 (Newman, 2002, p. 185). E Poulantzas se manifestou mais de uma
vez a respeito da política nas páginas de Le Temps Modernes sem obter muito eco (cf.
os textos reunidos em Poulantzas, 1975). Mas foi em um novo contexto político que
essas obras encontraram seu público e que estimularam uma retomada dos estudos
marxistas sobre o Estado e a política.
O impacto desses livros pode ser avaliado pela reação que provocaram no
mainstream da political science estadunidense. O impacto é ainda mais revelador
porque a repulsa que este demonstrou pelo marxismo esteve geralmente sustentada pelo
desconhecimento ou por uma imagem caricatural deste, é foi marcada sempre por uma
indiferença olímpica. Mas o próprio Easton (1981) foi obrigado a reconhecer que o
“sistema político” encontrava-se “sitiado pelo [conceito de] Estado” e a atribuir
principalmente a Poulantzas essa nova relação de forças. Já não bastava a olímpica
indiferença e Easton foi obrigado a lutar em defesa de sua análise sistêmica no campo
do adversário, abandonando a atitude perante a teoria marxista que havia caracterizado
o mainstream até então.
A resposta de Easton tinha razão de ser. Não apenas Poulantzas e Miliband
haviam desenvolvido de modo original a teoria marxista do Estado, como o haviam
feito por meio de uma crítica explícita às teorias hegemônicas na ciência política.
Citando Runciman, o autor de Pouvoir Politique et Classes Sociales, afirmava que o
funcionalismo “não só diretamente se filia no historicismo, como também se apresenta –
através da importância que assume – como a ‘alternativa’ ao marxismo” (Poulantzas,
1977, p. 38).1 Daí importância do marxismo acertas as contas com o funcionalismo, e
principalmente com a teoria de Talcott Parsons, para desenvolver sua própria teoria.
Miliband, por sua vez, escolhia como adversárias as teorias democrático-pluralistas:
“tendo esboçado a teoria marxista do Estado [em Miliband, 1965] eu estava preocupado
em colocá-la de encontro as visões dominantes, democrático-pluralistas, e em mostrar
as deficiências destas últimas da única maneira que me parecia possível,
nomeadamente, em termos empíricos.” (Miliband, 1970, p. 54.)
A opção de Poulantzas e Miliband ao construir sua análises do Estado capitalista
a partir de uma crítica das teorias funcionalistas e pluralistas teve como conseqüência
uma ruptura com o padrão anterior de produção e difusão da teoria marxista. Ao invés
da enésima exegese dos textos marx-engelsianos e da incansável busca da verdade dos
1
Segundo Runciman, “na ciência política só há na verdade um único candidato sério a essa teoria [geral]
- usando teoria em seu sentido não prescritivo - à parte o marxismo. (...) Essa abordagem alternativa ao
marxismo é a funcionalista” (Runciman, 1966, p. 111).
4

textos, Poulantzas e Miliband assumiram esses textos como um ponto de partida para a
reflexão teórica, ao mesmo tempo que admitiam os postulados das teorias hegemônicas
da political science como desafios teóricos que precisariam ser respondidos pela teoria
marxista. Ao proceder desse modo reposicionaram o marxismo no contexto intelectual e
forçaram uma reação por parte do mainstream que acabou por conferir legitimidade
acadêmica a suas obras.2

O Estado como objeto de pesquisa

Depois de uma rápida exposição daquelas que considera ser as linhas gerais do
marxismo e de sua constituição em duas disciplinas unidas mas distintas – o
materialismo histórico e o materialismo dialético –, exposição essa fortemente
amparada na leitura de Althusser, o autor de Pouvoir politique et classes sociales afirma
ser seu objetivo a produção de conceitos e, particularmente, a produção de conceitos de
uma estrutura regional, o político: “é o político o objeto deste ensaio, em particular a
superestrutura política do Estado no modo de produção capitalista, quer dizer a
produção do conceito desta região neste modo, e a produção de conceitos mais
concretos referentes ao político nas formações sociais capitalistas.” (Poulantzas, 1977,
p. 15.)
A distinção entre conceitos teóricos e conceitos empíricos afirmada por
Althusser é fundamental para compreender o objetivo anunciado por Poulantzas.
Rejeitando incisivamente o empirismo, Althusser considerava que os conceitos teóricos
têm por objeto determinações ou objetos abstrato-formais. “Esses conceitos não nos dão
um conhecimento concreto de objetos concretos e sim o conhecimento de
determinações ou elementos (diremos objetos) abstrato-formais que são indispensáveis
para a produção do conhecimento concreto de objetos concretos.” (Althusser, 1997, p.
76.) Os conceitos empíricos, por sua vez, dizem respeito às determinações da
singularidade que caracterizam os objetos concretos que tem lugar na história, como,

2
A recepção da obra de Poulantzas e Miliband não segue o mesmo ritmo devido ao fato do primeiro ter
publicado seu livro originalmente em francês e apenas cinco anos depois ele ter sido traduzido para o
inglês. Essa é uma das razões juntamente com o estilo literário para que a difusão Miliband tenha sido
maior no contexto anglo-saxão. Uma vez que a publicação pela New Left Review dos primeiros artigos da
polêmica Miliband-Poulantzas, que será discutida neste artigo, antecedem a tradução de Pouvoir
Politique et Classes Sociales, não é exagero afirmar que foi por meio destes artigos que Poulantzas se
tornou primeiramente conhecido na Inglaterra e nos Estados Unidos. Vale ressaltar, entretanto, que desde
1969 o público latino-americano tinha acesso à edição mexicana do livro de Poulantzas, publicada pela
editora Siglo XXI e que a mesma editoria publicou o livro de Miliband no ano seguinte.
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por exemplo, as características de uma dada formação social ou de uma forma estatal
que tem uma existência concreta em uma dimensão espacial e temporal dada. Segundo
Althusser, esses “conceitos acrescentam assim uma coisa essencial aos conceitos
teóricos em sentido preciso: as determinações da existência (em sentido preciso) dos
objetos concretos.” (Althusser, 1997, p. 77.)
Afirmando a necessidade de produzir conceitos teóricos sobre a estrutura
regional do político, Poulantzas descarta nesse livro a análise concreta de qualquer
forma estatal historicamente dada e propõe uma análise conceitual do Estado capitalista
em particular. Não se trata, evidentemente de deslegitimar toda análise concreta ou a
produção de conceitos empíricos. Mas devido ao escasso desenvolvimento de uma
teoria regional do político a produção desses conceitos empíricos deveria ser antecedida
pela produção dos conceitos teóricos.
Essa atividade de produção de conceitos teóricos é levada a cabo de modo
rigoroso em Pouvoir Politique, mas chama a atenção que apesar de sua forte crítica ao
funcionalismo, seu autor opte por definir o Estado por meio de suas funções,
explicitando menos o que o Estado é e mais o que ele faz. Tomando como ponto de
partida a existência de diversos níveis ou instâncias no interior da estrutura, que
apresentariam desenvolvimento desigual Poulantzas concebe o Estado como uma
estrutura objetiva que tem a função particular de
“constituir o fator de coesão dos níveis de uma formação social. É
precisamente o que o marxismo exprimiu, concebendo o Estado como
fator da ‘ordem’, como ‘princípio de organização’, de uma formação,
não no sentido corrente dos níveis de uma unidade complexa, e como
fator regulador do seu equilíbrio global enquanto sistema.”
(Poulantzas, 1977, p. 42.)

Essa função geral de coesão da unidade se traduz em diversas modalidades


referentes ao diversos níveis nos quais se articula uma formação. Na sua função técnico-
econômica o Estado é “intérprete dos interesses da classe dominante e direção geral do
processo de trabalho”, enquanto em sua função ideológica organiza a educação, o
ensino, etc. e a função propriamente política consiste na “manutenção da ordem política
no conflito de classe” (Poulantzas, 1977, p. 51). Esta última função política
sobredetermina as demais funções exercidas pelo Estado nos diferentes níveis na
medida em que estas são necessárias para a manutenção da unidade de uma formação
social o interior da qual há uma dominação de classe.
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Miliband deu a conhecer que teve acesso a essa idéias de Poulantzas pouco antes
de completar The State in Capitalist Society (cf. Miliband, 1972, p. 8). Newman
revelou, por meio da correspondência entre Poulantzas e Miliband que foi o próprio
autor de Pouvoir politique et Classes Sociales quem lhe enviou o livro, com uma carta
na dizia: “Conheço seu livro, Parliamentary Socialism e seus artigos, particularmente
‘Marx and the State’, o qual ajudou muito em meu trabalho. Seus comentários e
conselhos seriam muito úteis.” (apud Newman, 2002, p. 203.) Miliband agradeceu o
livro e respondeu prontamente: “Seu livro tornou-me apenas mais consciente das
deficiências teóricas de meu próprio trabalho e das limitações do método que escolhi
usar. Mas talvez exista alguma utilidade em mostrar os mecanismos de dominação”
(idem). A resposta de Poulantzas destacava a complementariedade dos projetos:
“Estou verdadeiramente entusiasmado com seu projeto e seu livro:
acredito que é indispensável e, certamente, não duplicará o meu.
Penso, sem falsa modéstia, que será muito mais importante que o meu,
já que estou consciente de ter permanecido em um nível ainda muito
teórico.” (Idem.)

O livro de Miliband já estava quase pronto quando dessa troca de


correspondência e veio à luz um ano após. The State in Capitalist Society iniciava com
uma forte crítica das teorias pluralistas da política, para a seguir, expor rapidamente
aquela que considerava ser a única alternativa teórica: o marxismo. O ponto chave dessa
rápida exposição era a conhecida passagem do Manifesto comunista na qual Marx e
Engels afirmavam ser o Estado “um comitê para gerir os negócios comuns de toda a
burguesia” (apud Miliband, 1972, p. 16). Segundo Miliband, os autores do Manifesto
“jamais abandonaram o ponto de vista de que, na sociedade capitalista, o Estado era,
acima de tudo, o instrumento coercitivo de uma classe dominante, ela própria definida
em termos de sua propriedade e de seu controle sobre os meios de produção.”
(Miliband, 1972, p. 16.)
A escolha desse texto já marca uma importante diferença com a abordagem de
Poulantzas. É absolutamente surpreendente que em Pouvoir Politique et Classes
Sociales não cite essa que é, certamente, a mais conhecida definição de Marx e Engels
sobre o Estado. Miliband, por sua vez, não apenas reivindicava explicitamente essa
definição, como fazia dela o fio vermelho sobre o qual conduzia seu argumento. Com
base nesse texto, a relação estabelecida entre poder econômico e poder político era uma
relação profunda:
7

“No esquema marxista, a ‘classe dominante’ da sociedade capitalista é


a classe que possui e controla os meios de produção e que é capaz, em
virtude do poder econômico que em decorrência disso lhe é conferido,
de usar o Estado como instrumento de dominação da sociedade.”
(Miliband, 1972, p. 36.)

Estabelecida essa relação a função do Estado passava a ser concebida como


sendo a de guardar e proteger os interesses econômicos da classe dominante:
“o Estado, naquelas sociedades de classe, é antes de mais nada e
inevitavelmente o guardião e protetor dos interesses econômicos que
nela estão dominando. Seu objetivo e missão ‘real’ é assegurar o seu
predomínio continuado e não impedi-lo.” (Miliband, 1972, p. 322.)

O Estado não era concebido por Miliband como uma coisa ou um objeto. “O
‘Estado’ significa um número de determinadas instituições que em seu conjunto
constituem a sua realidade e que interagem como partes daquilo que pode ser
denominado sistema estatal.” (Miliband, 1972, p. 67.) Governo, administração, forças
armadas, governos subnacionais e assembléias legislativas são as principais instituições
que dão forma a esse sistema estatal.
“É nessas instituições que se apóia o ‘pode estatal’ e é através delas
que esse poder é dirigido em suas diferentes manifestações pelas
pessoas que ocupam as posições dirigentes em cada uma dessas
instituições (...). São essas as pessoas que constituem aquilo que pode
ser descrito como a elite estatal.” (Miliband, 1972, p. 72-73.)

Demonstrar a relação existente entre essa elite estatal e os detentores do poder


econômico é o objetivo de The State in Capitalist Society. Tal demonstração torna-se
necessária uma vez que aquela relação profunda que era estabelecida entre o poder
político e o poder econômico não se manifestava imediatamente nos processos
históricos concretos. Miliband recordava que esse problema já havia sido posto por Karl
Kaustky, o qual observava que “a classe capitalista domina, mas não governa” e que
essa classe “se contenta em dominar o governo” (apud Miliband, 1972, p. 74.)
Estabelecer o nexo profundo entre poder político e poder econômico era, assim
fundamental para contra-restar o argumento pluralista.
Miliband procura demonstrar essa relação por meio de uma intensa pesquisa
empírica. Já em sua correspondência com Poulantzas havia reconhecido que o objetivo
principal de seu livro não era expor a teoria marxista do Estado e sim revelar os
mecanismos de dominação. Para tal, ao contrário de Pouvoir Politique et Classes
Sociales, no qual era raro o recurso a casos concretos, as referências a situações
8

históricas concretas e a estudos empíricos são abundantes em The Sate in Capitalist


Soceity.
O debate Poulantzas-Miliband tem início com a publicação pela New Left
Review de uma resenha do livro The State in Capitalista Society escrita por Poulantzas
(1969). O resenhista reconhecia que o livro de Miliband tinha uma “importância
capital” (Poulantzas, 1969, p. 667) e afirmava que seu autor havia mobilizado uma
assombrosa massa de material empírico que permitiu-lhe “não apenas demolir
radicalmente as ideologias burguesas do Estado, mas fornecer-nos um conhecimento
positivo, coisa que aquelas ideologias nunca haviam sido capazes de produzir.” (Idem,
1969, p. 69.)
O tom do texto publicado era francamente amigável, como reconheceu Miliband
em carta a Poulantzas na qual afirma ter apreciado muito o artigo e embora discordasse
de algumas críticas considerava-as uma “contribuição crucial ao tema” (apud Newman,
2002, p. 204). A resposta de Miliband, publicada no número seguinte da mesma revista
reforçava essa atitude e destacava a importância dessa discussão para a elucidação de
conceitos e temas “de importância crucial para o projeto socialista” (1970, p. 53). As
questões principais que organizaram o debate, não disseram respeito, entretanto,
diretamente à teoria do Estado e sim ao método e objeto de uma pesquisa marxista sobre
o Estado.

Empirismo e teoricismo: questões de método

O debate Poulantzas-Miliband tem, em primeiro lugar um caráter fortemente


metodológico. Segundo Clyde Barrow, “o debate Miliband-Poulantzas nunca foi apenas
um desacordo conceitual ou empírico sobre a natureza do Estado capitalista; ele foi
desde o começo uma disputa epistemológica sobre a existência de uma metodologia
especificamente marxista.” (Barrow, 2002, p. 4. Cf. tb. Laclau, 1975, p. 88.) Poulantzas,
de fato, inicia seu primeiro comentário afirmando que eles “derivarão de posições
epistemológicas aqui apresentadas que diferem daquelas de Miliband.” (Poulantzas,
1969, p. 67.) A crítica principal que lhe dirige está na ausência de um tratamento teórico
do Estado:
“uma precondição de qualquer enfoque científico do ‘concreto’ é
tornar explícitos os princípios epistemológicos de seu próprio
tratamento deste. Agora, é importante notar que Miliband em lugar
algum trata da teoria marxista do Estado como tal, embora ela esteja
9

constantemente implícita em sua obra. Ele a toma como uma espécie


de ‘dado’ de modo a responder às ideologias burguesas examinando
os fatos a sua luz.” (Poulantzas, 1969, p. 69.)

Ao considerar as proposições da ciência politica democrático-pluralista como


proposições empíricas, Miliband não levaria o terreno da disputa para a arena da teoria
(cf. Laclau, 1975, p. 88). Ao invés de confrontar teoricamente a teoria democrático-
pluralista, The State in Capitlaist Society procurava demonstrar sua inadequação aos
fatos. O efeito resultante dessa opção metodológica era, segundo Poulantzas, uma
subordinação às problemáticas teóricas adversárias e, particularmente, ao empirismo
característico da ciência política anglo-saxã (Poulantzas, 1969, p. 69). Uma vez que esse
empirismo era elemento fundante da perspectiva democrático-pluralista, percebe-se
como a elisão do confronto teórico não apenas deixava de pé os fundamentos dessa
teoria como, também, resultava na incorporação pelo marxismo de seus pressupostos
metodológicos.
A ausência de uma explícita afirmação da problemática teórica que organizava
sua pesquisa implicava na ausência daquele sistema de referências internas que daria
inteligibilidade não apenas às perguntas que direcionavam a pesquisa como também as
respostas às quais poderia chegar.3 A unidade da idéias, noções e conceitos que
compõem o campo teórico a partir do qual um autor explica seu próprio pensamento e a
partir do qual outros podem chegar a uma compreensão efetiva – e não apenas alusiva –
do pensamento desse autor permaneceria oculta em The State in Capitalist Society. Mas
existiria em Miliband uma problemática propriamente marxista, insinuava Poulantzas?
Miliband respondeu um tanto incomodado que já havia feito a exposição de sua
“problemática” em outra ocasião (Miliband, 1965) e que não necessitava repeti-la. O
incomodo era maior porque na correspondência pessoal Poulantzas havia dito ter lido
“Marx and the State” e ter feito uso dele. A questão não é, portanto, se Miliband tinha
ou não uma teoria do Estado e sim qual o método adequado para a pesquisa marxista
sobre o Estado. De fato, todo o empenho do autor em The State in Capitalist Society
parece ter um viés popperiano e estar voltado para falsear a teoria democrático-
pluralista por meio de dados empíricos. Laclau resumiu de modo apropriado esse
método quando escreve que ele “consiste substancialmente do seguinte: começar com
uma afirmação corrente da ciência política burguesa, demonstrar que os fatos estão em

3
Sobre o conceito de problemática ver Althusser (1979, p. 43-59).
10

contradição com ela e, concluir, conseqüentemente, que a afirmação é falsa.” (Laclau,


1975, p. 88.)
Miliband prontamente rejeitou em sua resposta a acusação de empirismo e
procurou marcar a diferença entre a pesquisa empírica e o empiricismo. De modo geral
considerava necessário destacar “a absoluta necessidade de pesquisa empírica e de
demonstração empírica das falsidade dessas ‘problemáticas’ opostas e apologéticas”
(Miliband, 1970, p. 55). Mas a afirmação dessa necessidade não implicaria em uma
problemática empirista subjacente, ou seja, não implicara em reconhecer
exclusivamente na experiência a fonte de todo conhecimento ou a fonte da validação
desse conhecimento. Embora uma “problemática” propriamente marxista não fosse
explicitada no texto de seu livro, Miliband argumentava que ela se encontrava implícita,
o que era reconhecido pelo próprio Poulantzas (idem, p. 54 e Poulantzas, 1969, p. 69).
Essa argumentação será desenvolvida e aprofundada em uma resenha da versão
inglesa de Pouvoir Politique et Classes Sociales, publicada na mesma New Left Review
em 1973. O tom desse artigo será, entretanto, outro. Antes mesmo da primeira troca de
artigos entre Poulantzas e Miliband, este último havia escrito a Rosana Rossanda que o
livro publicado no anterior na França lhe havia desapontado. Segundo ele, “as
acrobacias hiperteóricas pareciam demonstrar a fraqueza do método althusseriano”
(apud Newman, 2002, p. 203). Foi, provavelmente a irritação crescente com o
teoricismo de Poulantzas o que levou o autor inglês a tornar mais agressivo seu texto.
Nesta nova intervenção no debate, Miliband abandonou a noção de
“superdeterminismo estrutural”4 por meio da qual procurava caracterizar o pensamento
de Poulantzas e procurou seus traços distintivos nos pressupostos epistemológicos deste.
Assim, o o teoricismo da obra de Poulantzas residiria em um “abstracionismo
estruturalista” que orientava epistemologicamente a pesquisa do autor de Pouvoir
Politique et Classes Sociales. Por abstracionismo estruturalista, entendia Miliband que
“o mundo das ‘estruturas’ e ‘níveis’ os quais [Poulantzas] habita tem
tão poucos pontos de contato com a realidade histórica ou
contemporânea que isso lhe barra qualquer possibilidade de realizar o
que ele denomina como ‘a análise política de uma conjuntura
concreta’.” (Miliband, 1973, p. 86.)

4
Segundo Miliband, “Poulantzas condena o ‘economicismo’ da Segunda e da Terceira Internacionais e
atribui a isso o fato delas terem negligenciado o Estado, Mas sua própria análise parecem conduzir
diretamente para um tido de determinismo estrutural, ou ainda um superdeterminismo estrutural o qual
torna impossível uma abordagem verdadeiramente realista da relação dialética entre o Estado e ‘o
sistema’.” (Miliband, 1970, p. 57.).
11

O modelo epistemológico que sustenta o projeto de pesquisa de Populantzas em


Pouvoir Politique et Classes Sociales é explicitamente referenciado naquele
apresentado por Althusser em Pour Marx. O processo de conhecimento nesse modelo é
um processo de produção em grande parte análogo ao processo de produção material. A
prática que organiza ambos os processos é definida de modo geral como uma
“transformação de uma determinada matéria-prima dada em um produto determinado,
transformação efetuada por um determinado trabalho humano, utilizando os meios (‘de
produção’) determinados.” (Althusser, 1979, p. 144.) Embora defina a prática como um
processo, o autor de Pour Marx destaca que o momento determinante desse processo é o
trabalho de transformação. A partir dessa definição de prática em geral, a teoria é
apresentada como uma “forma específica de prática”, a prática teórica, capaz de
transformar uma matéria-prima formada por representações, conceitos e fatos de modo
a produzir conhecimento. O processo do conhecimento é, assim, o processo de
realização dessa prática teórica no qual conceitos gerais, denominados por Althusser de
Generalidades I, constituem a matéria-prima que será transformada em conceitos
especificados, as Generalidades III:
“Quando uma ciência já constituída desenvolve-se, ela elabora sobre
uma matéria prima (Generalidades I), constituída seja de conceitos
ainda ideológicos, seja de ‘fatos’ científicos, seja de conceitos já
cientificamente elaborados mas que pertencem a um estágio anterior
da ciência (uma ex-Generalidade III). É por conseguinte, ao
transformar essa Generalidade I em Generalidade III (conhecimento)
que a ciência trabalha e produz.” (Althusser, 1979, p. 160)

A transformação da Generalidade I em Generalidade III ocorre por meio da


Generalidade II, o sistema teórico determinado de uma ciência, que não é, senão, a
generalidade que “trabalha” sobre a generalidade trabalhada de modo a produzir uma
generalidade especificada, um concreto teórico produto desse trabalho. Para
compreender essa exposição do trabalho teórico feita por Althusser, é importante,
destacar, em primeiro lugar que a passagem da Generalidade I á Generalidade II e,
portanto, do abstrato ao concreto, ocorre completamente no âmbito da prática teórica, é,
portanto, um ato de conhecimento. No processo de conhecimento o abstrato não é,
portanto a teoria, assim como o concreto não é o real.
Concebendo o processo de conhecimento como uma processo que tem lugar
integralmente no âmbito da teoria, Althusser descarta a idéia de que a ciência trabalharia
sobre um existente imediatamente dado. Tal idéia, própria do emprirismo implicaria no
12

reconhecimento de que a teoria operaria sobre os fatos. Ora, a teoria opera sempre sobre
o geral e produz seus próprios fatos:
“O seu trabalho peculiar consiste, ao contrário, em elaborar os seus
próprios fatos científicos, através de uma crtícia dos ‘fatos’
ideológicos elaborados pela prática teórica ideológica anterior.
Elaborar os seus próprios ‘fatos’ específicos é, ao mesmo tempo,
elaborar a sua própria ‘teoria’, pois o fato científico – e não o assim
chamado fenômeno puro – só é identificado no campo de uma prática
teórica.” (Althusser, 1979, p. 160.)

Althusser reconhece, já no prefácio da edição italiana de Ler o Capital que sua


concepção inicial encontrava-se marcada pelo teoricismo. Mais tarde confessou que sua
abordagem tratava-se de uma modalidade do racionalismo especulativo na qual a teoria
assumia prioridade sobre a prática (Althusser, 1978, p. 95). O ponto principal da
autocrítica concentrava-se no conceito de prática teórica e na produção pr meio deste
de uma epistemologia especulativa. Em um sentido materialista uma epistemologia
poderia ter permitido o estudo do conjunto das condições materiais e ideais de produção
do conhecimento, mas no sentido especulativo que ela havia recebido nos primeiros
textos de Althusser, ela não era, senão, uma teoria da prática científica e, nesse sentido
identificava-se com a própria filosofia, definida então como a “teoria da prática teórica”
(Althusser, 1979, p. 149.) Por meio do conceito de prática teórica o antigo problema da
relação teoria-prática era resolvido por Althusser restringindo essa relação ao âmbito da
própria teoria:
“É nesse duplo sentido que a teoria importa à prática. A ‘teoria’
importa á sua própria prática, diretamente. Mas a relação de uma
‘teoria’ com a sua prática, na medida em que está em causa, interessa
também com a condição de ser refletida e enunciada a própria Teoria
geral (a dialética), onde se exprime teoricamente essência da prática
teórica em geral, através desta a essência da prática em geral, e através
desta a essência das transformações, do ‘devir’ das coisas em geral.”
(Althusser, 1979, p. 146.)

Como visto, era essa epistemologia althusseriana o pressuposto metodológico


que orientava a pesquisa de Poulanzas. O efeito desses pressuposto não deixou de ser o
teoricismo que carregava originalmente. Definindo abstratamente os diferentes
conceitos a partir dos quais organizava sua exposição, Poulantzas construía um
argumento circular no qual um conceito abstrato encontrava sua explicação em outro
conceito abstrato produzindo um sistema conceitual incapaz de estabelecer qualquer
nexo com o real. Em sua intervenção no debate, Ernesto Laclau manifestou sua
discordância com a noção de “superdetermnismo estrutural” apresentada inicialmente
13

por Miliband, mas concordou com a caracterização do “abstracionismo estruturalista”.


Argumentava Laclau que a pesquisa marxista da política deveria ser capaz de
“(a) indicar os pontos de conflito entre a esfera da confrontação
‘empírica’ e o sistema teórico em questão (...); (b) começar com os
pontos em discórdia para identificar os problemas teóricos; (c)
começar com os problemas teóricos para demonstrar as contradições
teóricas internas as quais levam ao colapso do sistema teórico; (d)
propor um sistema teórico alternativo o qual pode ultrapassar as
contradições internas do precedente.” (Laclau, 1975, p. 95.)

Miliband, como já foi visto procurava confrontar em The State in Capitalist


Society, os pressupostos da teoria democrático-pluralistas com os resultados da pesquisa
empírica por ele levantados para, desse modo, procurar falseá-los, ou seja, mostrar a
inadequação desses pressupostos para a análise do real. O escasso tratamento teórico
dedicado à questão do Estado em seu livro impedia Miliband, entretanto, de ir além dos
testes de falseabilidade e de chegar até o ponto de desenvolvimento da pesquisa no qual
seria possível propor um sistema teórico alternativo que ultrapssasse aquele que tinha
sido objeto da crítica.
Poulantzas, por sua vez, segundo Laclau não confrontaria nem empírica nem
teoricamente as problemáticas adversárias pulando diretamente para a apresentação de
um sistema teórico alternativo. De fato, chama a atenção de que embora tenha
começado sua obra criticando as teorias concorrentes, marcadamente as teorias
estrutural-funcionalistas, Poulantzas forneça poucos argumentos para rejeitar essas
teorias, restringindo-se à apresentação rigorosa dos conceitos que constituiriam a teoria
regional do político na expectativa de que o rigor da exposição bastaria para rejeitar as
teorias concorrentes. Assim,
“Poulantzas não procura demonstrar as contradições internas das
problemáticas que rejeita e o modo a partir da qual sua própria
problemática superaria aquelas contradições, mas confina a si próprio
à descrição dos pontos de discrepância” (Laclau, 1975, p. 96.)

Procedendo dessa maneira, Poulantzas apenas demonstraria a inadequação de


outras problemáticas a sua própria problemática chegando à conclusão banal de que as
teorias estrutural-funcionalistas não eram marxistas. Ora, essa demonstração é
obviamente insuficiente para justificar a recusa das problemáticas opostas e carrega
consigo uma enorme carga de dogmatismo. Segundo Laclau, “o que está faltando em
Poulantzas é uma concepção dialética do processo de conhecimento, mas essa
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concepção é incompatível com a idéia de problemáticas como universos fechados, sem


conexão com as contradições internas das problemáticas precedentes.” (Idem, 97.)
Esse modo de tratar as diferentes problemáticas não era decorrente, entretanto,
dos pressupostos metodológicos assumidos, uma vez que o processo de transformação
das Generalidades I em Generalidades III por meio do trabalho teórico presente nas
Generalidades II poderia ser, também, um processo de retificação dos erros presentes
em problemáticas anteriores. Ou seja, as Generalidades I poderiam ser, muito bem os
conceitos ideológicos próprios das problemáticas precedentes, a partir dos quais o
trabalho da teoria daria lugar a novos conceitos. A radical descontinuidade entre as
Generalidades I, II e II era o que permitiria falar de corte epistemológico e recusar a
autogênese do conceito própria do pensamento hegeliano.
A critica de Miliband e Laclau ao abstracionismo estruturalista tocou em temas
importantes e motivou uma resposta de Poulantzas na qual evidenciava-se importantes
inflexões em seu pensamento. Embora Poulantzas discordasse prontamente da acusação
que lhe havia sido lançada, estava disposto a reconhecer os problemas que sua
perspectiva carregada. A perspectiva epistemológica anti-empirista e anti-positivista que
orientava Pouvoir Politique et Classes Sociales exigia que os fatos concretos fossem
analisados com a ajuda de um aparelho teórico. As análises concretas estariam presentes
nessa obra, ao contrário do que Miliband afirmava, mas elas estariam aí como objetos
da teoria. Mas se a crítica referente à ausência de análises concretas era infundada era
preciso reconhecer que essa perspectiva epistemológica envolvia certo teoricismo
(Poulantzas, 1976, p. 66).
No processo de produção de conhecimento por meio das Generalidades II, o fato
de começar com as Generalidades I e terminar com as Generalidades III movendo-se
sempre no âmbito da teoria criava a impressão de que “o processo teórico, ou
‘discurso’, poderia encontrar o critério de sua validação ou ‘cientificidade’ em si
mesmo.” (Poulantzas, 1976, p. 66.) A adequação do resultado do processo de produção
do conhecimento seria, desse modo, validada por meio da adequação dos meios teóricos
utilizados para a obtenção desse resultado. Se o trabalho da Generalidade II tivesse sido
levado de modo correto o resultado seria correto. Esse viés teoricista que encontrava sua
máxima expressão no conceito de prática teórica era entretanto, afirmava, Poulantzas,
mais forte em Althusser (e ainda mais em Balibar) do que nele próprio. Os cuidados que
teria tomado na introdução de Pouvoir Politique et Classes Sociales, bem como a
inexistência desse termo em sua obra atestariam a distância que ele teria tomado, desde
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um primeiro momento, desse conceito e das formas mais exacerbadas de teoricismo que
a este associadas.
O teoricismo entretanto ainda estaria presente, embora de forma atenuada e teria
levado Poulantzas a uma distinção muito aguda entre a ordem da pesquisa e a ordem da
exposição, destacando unilateralmente esta última o que fazia com que, freqüentemente,
as análises concretas fossem apresentadas “como meros exemplos ou ilustrações do
processo teórico” (Poulantzas, 1976, p. 67.) Esse problema próprio da exposição
destacava ainda mais o teoricismo original e criava a falsa impressão de que as análises
concretas emanavam dos conceitos abstratos. Esta posição secundária ocupada pelas
análises concretas, por sua vez, implicava em um elevado formalismo, conforme havia
apontado Laclau.
A posição de Poulantzas não lhe permite uma resposta eficaz. Argumentava a
respeito da necessidade de tratar os “fatos concretos” teoricamente e assinalava que
tanto em Fascisme et Dictadure (1970) como em Classes sociales dans capitaliste
aujourd’hui (1974) tinha levado a cabo análises históricas concretas. Por outro lado,
escrevia que ao contrário do que seria de se esperar essas análises se encontravam
ausentes em Miliband que se limitava a apresentar “descrições narrativas” que se
assemelhavam fortemente aquilo que Wright Mills havia chamado de “abstracionismo
empiricista”. As questões metodológicas postas em discussão por Laclau, entretanto,
permaneciam sem uma resposta adequada.

Conclusão

No contexto intelectual anglo-saxão, esse debate foi interpretado freqüentemente


como uma oposição entre teorias instrumentalistas (Miliband) e teorias estrutualistas do
Estado (Poulantzas). É assim, por exemplo, na conhecida apresentação do debate sobre
o Estado publicada por Gold, Lo e Wright na revista Monthly Review (1975).5 Se fosse
aplicado neste caso o critério metodológico mínimo da abordagem contextualista – um
autor deveria ser capaz de reconhecer aquilo que disse na interpretação que é feita dele
– provavelmente Poulantzas e Miliband não se reconheceriam nessa interpretação. De
fato, ambos criticaram mais de uma vez as simplificações do marxismo oficial e
protestaram mais de uma vez contra essas etiquetas.

5
Ver a crítica desta abordagem em Carnoy (2003, p. 137) e Barrow (2002).
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Lido como uma suposta oposição entre teorias instrumentalistas e estruturalistas


ele não deixaria de ser um capítulo irrelevante da história do pensamento político
marxista assim que o equívoco se desfizesse. (cf. afirmaram p. ex. Jessop, 1982, p. xiv e
Holloway e Piccioto, 1979, p. 2, Panitch, 1995, p. 13). Se o debate ainda desperta
interesse (cf. Aronowitz e Bratsis, 2002) é porque ele tocou em questões vitais para o
desenvolvimento da teoria marxista do Estado e da política. Particularmente importante
foram as questões metodológicas tratadas nesse debate. É de se questionar, entretanto,
se algum dos participantes desse debate chegou a alguma solução satisfatória às
questões levantadas.
A própria trajetória de Poulantzas e Miliband revela o impacto da discussão e os
impasses aos quais haviam chegado. O primeiro dedicou-se cada vez com maior ênfase
à “analise de casos concretos” (Poulantzas, 1970, 1974 e 1974a), enquanto que o
segundo voltou à teoria (Miliband, 1977). Debatendo-se contra os limites de suas
próprias formulações esses autores revelaram o estagio incipiente de desenvolvimento
de uma teoria marxista do Estado e da política. Continuaram desse modo empenhados
na superação dos limites empíricos, teóricos e metateóricos que haviam ficado evidentes
ao longo do debate. As alternativas teórico-analíticas que procuraram construir após o
debate aprecem indicar um empenho cada vez mais intenso de fusão dos materiais da
pesquisa empírica com o processo de construção de uma teoria. Desenvolver essa teoria
passados quase quarenta anos da redação de Pouvoir Politique et Classes Sociales e de
The State in Capitalist Society trinta anos desse debate implica percorrer novamente os
caminhos abertos por esses pioneiros.

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