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Até meados dos anos 80, sempre que acontecia um acidente, dava-se somente importância à
identificação do responsável pelo ato inseguro. Decorrente disso, criou-se a época da caça às
bruxas, definiu-se que a responsabilidade básica da segurança era do engenheiro e do
técnico de segurança, sendo esses profissionais vistos como um mal necessário ou como uma
absurda exigência imposta pela legislação que somente atrapalhava e dificultava as
operações. Isto somente servia para gerar conflitos e frustrações de toda espécie e para
todos, além de criar a falsa impressão de que tudo estava perfeito.
► Certificação ISO colocada como fim – costuma originar uma série de procedimentos,
documentos e ações somente ligados à certificação, e não à finalidade da segurança.
► Excesso de documentos – é outro erro inerente aos sistemas de gestão, ocasionando uma
carga de trabalho administrativo enorme, especialmente das áreas de produção, com
desânimo das pessoas, e falta de tempo para as atividades fins (os meios se tornam mais
importantes que os fins).
► Não balanceamento entre lastro e vela – se um navio tiver lastro demais, tornar-se-á
moroso e inadequado para navegar, se tiver vela demais e pouco lastro, bem, lembremo-
nos do vexame da nau capitânea por ocasião da comemoração dos 500 anos do
descobrimento do Brasil. Essa situacão hoje é frequente nas empresas: as áreas de
segurança costumam ser encaradas como lastro demais, como dificultadoras, (olhe que
algumas vezes isso é verdade, num apego sem sentido a regras e rituais desprovidos de
uma base estatística ou técnica ou mesmo bom senso que o justifique); o contrário disso é
exatamente a vela excessiva, sem lastro, que costuma ser a atitude de muitos gerentes que,
no afã de produzirem, deixam de considerar alguns cuidados importantes, correndo riscos.
► Soluções rápidas – essa é uma armadilha própria dos tempos atuais de trabalho
de alta densidade: não se envolve a fundo nos problemas, não se procura a solução
detalhada, trabalha-se na superficialidade e, consequentemente, corre-se o risco de
adotar soluções inadequadas.
► Havia uma tolerância implícita com atitudes inadequadas, incorretas, mas que
eventualmente resultavam em aumento da produtividade?
► Adotar a regra da chapa quente sempre, para todos, sem exceção; (a regra da chapa
quente é uma comparação muito feliz à regra básica de abordagem dos comportamentos
fora da conformidade: quando você toca numa chapa quente, você se queima; assim
também, qualquer um que cometesse um deslize de comportamento, um comportamento
fora da conformidade, deveria ser abordado e advertido, qualquer que fosse o seu nível);
► Considerar que o ser humano precisa ser acompanhado quanto ao seu estado
psíquico, que tende a se deteriorar em situações comuns do cotidiano, tornando-se nestas
condições, inapto para trabalhos perigosos;
► Considerar a coerência no trato de assuntos de pessoal como uma das regras mais
importantes visando um gerenciamento eficaz de pessoas no trabalho;
► Acostumar-se a ter bom senso na relação lastro e vela; no caso de dúvida, favorecer as
decisões colegiadas;
► Considerar que, se se quer realmente uma mudança eficaz, uns 20% dos facilitadores e
gestores terão que ser trocados.
► O acordo de que na origem dos acidentes existe alguma forma de falha administrativa, e
que o caminho da prevenção dos acidentes é através de uma melhor performance
administrativa dos gestores, da média gerência e dos facilitadores;
► A noção do longo caminho curto – isto é, que resultados consistentes nessa área
vão ocorrendo gradativamente, por mudança de valores (que se refletem em mudanças de
atitudes) – caracterizando a “empresa escada” - e que propostas imediatistas quase
sempre resultam em fracassos e no retrocesso do curto caminho longo, com retrabalhos e
retomadas (“empresa serrote”).
Isso pressupõe voltar a investir na qualidade dos técnicos de processo, dos que detêm
controle técnico das máquinas, com estudos, atualização através de congressos e
benchmarks, conhecimento de experiência de perdas e acidentes graves naquele tipo de
processo. (Historicamente, a revisão frequente de perdas ocorridas, de acidentes graves de
outras empresas, de danos ambientais importantes, funciona melhor para manter vívida a
lembrança de como fazer certo do que a exortação de sucessos). Pressupõe ainda preparar
uma documentação de evidência dos riscos inerentes ao processo (de forma a manter esse
controle no caso de perda de pessoas do corpo técnico), bem como que esse pessoal deva
estar capacitado não só tecnicamente, mas também que sejam pessoas de bom senso e que
possam tomar atitudes responsáveis, não apenas contraindicando operações quando
perceberem riscos não controlados, mas também liberando operações diante de situações
controladas. Um bom exemplo, para comparação, é com o comandante da aeronave, que,
dotado de um conhecimento profundo das condições mínimas de viagem (tanto
metereológicas quanto do equipamento), tem a autoridade final para definir se a viagem
ocorrerá ou não.
Os 10 instrumentos mais eficazes para prevenir acidentes do trabalho e perdas em geral são:
► Sistema gerencial de análise dos acidentes, dos quase-acidentes e perdas, sinalizando
prioridades de ação
► Regras de trabalho
► Práticas-padrão
O Sistema deve estar suportado por uma estrutura organizacional em três níveis, a saber:
► Operacional, representado por Unidades Gerencias Básicas, onde os planos de ação são
estabelecidos. Nos comitês operacionais, deve-se ter, necessariamente, a presença dos
representantes dos trabalhadores na Cipa.
Parece óbvio, mas um Sistema de Gerenciamento da Segurança deve estar em harmonia com
os demais processos de qualidade existentes, aproveitando o potencial de seus instrumentos,
complementando-os com as necessidades de segurança presentes em qualquer processo
produtivo e/ou administrativo. Afinal todos os processos de qualidade têm como indicadores
a qualidade intrínseca do produto ou serviço, o custo do mesmo, o atendimento ao cliente
externo ou interno, o moral do grupo responsável pelos resultados e, finalmente, a segurança
deste grupo.
8 - Leve o Sistema de Gestão como Processo, e não como Programa- isso é um dos itens
de garantia da perpetuação do mesmo
► Corrigir os desvios.
Como os resultados iniciais são mais fáceis de serem obtidos, com o passar do tempo,
acostumados com o entusiasmo inicial, achamos ter alcançado a perfeição. Aí é a hora de
saber que as nossas taxas deverão sempre tender para zero. Sempre é possível melhorar.
O Sistema de Gerenciamento da Segurança, para que seja eficaz, tem que tratar o acidente
com lesão humana como perda, bem como abranger os demais tipos de perdas, tais como: na
propriedade (equipamentos e instalações), no processo produtivo e/ou administrativo e
perdas no meio ambiente. Assim sendo, para o estabelecimento de um bom Sistema de
Gerenciamento da Segurança, o melhor caminho é a implantação do Processo de Prevenção
de Perdas.
Na análise dos acidentes, o modelo causal sempre nos leva para a origem da perda,
apontando-nos uma ou mais falhas administrativas. O sucesso do sistema de gestão de
segurança reside na aceitação deste paradigma. Sem essa aceitação, como mais de 90% dos
acidentes têm como causa imediata o ato inadequado, sempre iremos atrás de um culpado e a
falha administrativa, que deu origem ao acidente, permanecerá.
Conclusão