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Diogenes Silva*
diogenes.silva@pop.com.br
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Graduando em Filosofia pela Universidade Federal do Paraná
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A respeito do cuidado Rousseau já afirma a necessidade de não exagerá-los, como
exemplo as quedas que ocorrem rotineiramente com as crianças no período em que
aprendem a andar. Podemos pensar na possibilidade de que, para Rousseau as
crianças que mais são cuidadas, são as que requerem mais cuidados em sua
maturidade.
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A alusão à concepção grega está no fato de Rousseau encontrou em suas leituras
feitas ainda na infância obras de filosofia – que é própria dos gregos – e seus
romances. Este detalhe nós encontramos tanto no teor de seus escritos, quanto na
Os adultos, assim como as crianças, tem suas necessidades,
sendo que nos adultos essas necessidades estão mais trabalhadas
tanto no uso de suas razões, quanto na submissão às leis. Entretanto
as crianças não possuem mais que sensações,3 por isso ela quer
mexer em tudo, sem ter noção do perigo que as impulsiona, e é
desta forma que a criança experimenta as sensações diversas como o
frio, o calor, a dor, e percebe características como forma, tamanho,
peso. Assim, tudo que a criança vê quer experimentar com o tato.
Para Rousseau aqui se inicia o “sinal de vontade, de domínio, ordem
de aproximar-se que ela dá ao objeto ou que vos dá de trazê-lo”
(1968, p. 45). Ao contrário de se levar ou trazer o objeto até a
criança, é de extrema importância fazer com que a criança sinta o
seu estado de submissão, pois é na infância que se encontra o
momento de corrigir alguma má inclinação e é nesta fase que “as
penas são mais sensíveis” segundo o autor; sendo que para tanto, é
necessário considerar que a criança tem um estágio de compreensão
diferente do homem.
Quando Rousseau fala em preservar os instintos naturais, há
equívocos de interpretação se dissermos que ele espera que o
homem volte ao seu estado selvagem; não é mais possível voltar à
selvageria, depois de aceitos as diretrizes sociais, e Rousseau afirma
a impossibilidade deste retorno no segundo discurso, bem como na
resposta a Voltaire4. Pela impossibilidade encontrar o homem natural
será necessário bem conduzir o aluno ao seu estado civil. Neste caso,
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A educação de Esparta, também conhecida como código de Licurgo, apoiava-se na
necessidade de aprimorar os instintos naturais das crianças, sua educação era
concebida por uma casta militarizada, ou seja, as que preparassem para a
resistência e para possíveis guerras; nestas castas, as crianças eram de certa
forma, “adestradas” de tal forma a tornar possível a formação de jovens aptos a
defender a coletividade.
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Rousseau acredita que “quando não há mais pátria não há mais cidadão” (1968,
p.13), e que estas palavras “cidadão” e “pátria” foram esquecidas nas “línguas
modernas”, isto devido à criação de locais que Rousseau critica e classifica de
“ridículos a que chamam colégios” (1968, p.14). Desta forma acreditamos que o
Emílio deve ser educado longe das instituições de ensino, pois estas não
possibilitavam condições para uma educação pela natureza.
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As idéias de Rousseau se aproximam das idéias se Montaigne que acreditava na
educação que preparasse para “a aventura da vida” e que não permitisse que os
filhos se tornassem “demasiadamente relaxados”.
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desta vida” (1968, p.15). Por isso são necessários os exercícios
físicos, o contato com a natureza e suas intempéries quanto aos
acidentes, e toda escassez de mimos e elementos (objetos) que
estimule sua preguiça. “Observai a natureza e sinta o caminho que
ela vos indica, ela exercita continuamente as crianças, ela enrijece
seu temperamento mediante experiências de toda espécie, ela
ensina-lhe desde cedo o que é pena e dor”. (1968, p. 22).
Cabe perguntar, se é possível aos pais ou aos professores – nos
dias atuais – educar um Emílio, estando mergulhados em um mundo
tecnológico, entregues às comodidades de consumo, mais propensos
à estagnação física; repito, como poderá se integrar às propostas
sugeridas por Rousseau no Emílio? As cidades, os bairros, escolas, o
excesso de segurança, a conjuntura social permite que preparemos
as crianças para suportar os bens e males da vida? Com tanto
benefício que avança vertiginosamente é possível uma educação pela
natureza?
Apesar de sua crítica rígida aos estabelecimentos de ensino,
importa lembrar que o olhar de Rousseau estava voltado para os
problemas de seu tempo, bem como, para o caráter próprio de sua
educação9, Rousseau se distancia de Montaigne quanto ao rigor da
educação ministrada à criança. Para Montaigne, a necessidade de
indulgência para com os filhos é fundamental, ou seja, a educação
deve estar afastada de toda violência por parte dos pais no trato de
seus filhos, e afirma que é “estultice e injustiça [...] manter em
relação a eles uma altivez austera e desdenhosa, na esperança de
assim os educar no respeito e na obediência” (Montaigne, 1962, p.
141). Ele se opõe até mesmo a Maquiavel “mas ainda que me fosse
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Acreditamos que estes bens e males, não são apenas de ordem física, mas
principalmente sociais.
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A educação de Rousseau reflete na sua própria escrita. Nas Confissões ele detalha
que foi “tratado como filho querido, mas nunca como filho mimado [...] nunca
tiveram que me reprimir em mim, ou me satisfizerem nenhum desses
extravagantes caprichos que se imputam à natureza e que nascem unicamente da
educação” (Rousseau, 1936, p.14).
possível tornar-me temido, preferia ser amado” (Montaigne, 1962, p.
142). Não somente quer o autor afastar a violência dos pais, como
também das instituições de educação, isto fica claro quando diz: “Sou
inteiramente contrário a qualquer violência na educação de uma alma
jovem que se deixe instruir no culto de honra e da liberdade”
(Montaigne, 1962, p. 138).
Portanto, o primeiro e o segundo livro do Emílio, são escritos
como alerta às mães que, em vez de aperfeiçoar os órgãos dos
sentidos – pois as necessidades físicas são as necessidades iniciais –
sobrecarregam a memória da criança “com palavras que não podem
entender ou com coisas que em nada lhe auxiliam” (Rousseau, 1968,
p. 24), e acrescenta a crítica aos preceptores que não a preparam
para as necessidades práticas da vida, o preceptor, “o qual acaba de
desenvolver os germes artificiais que já encontram formados e lhes
ensina tudo manos a se conhecer10 [...] menos, a saber viver bem e
se tornar feliz.” (Rousseau, 1968, p. 24). Por isso a criança que
amadurece “cheia de conhecimentos e desprovida de sentidos”
(Rousseau, 1968, p. 24), é lançada na sociedade sem preparação e
cheia de atributos geralmente não condizentes com uma educação
virtuosa, o que significa dizer, inepto, soberbo, vaidoso. E após
perdidas as condutas e a inadequação social, geradas pelo capricho
dos pais e negligência dos professores, tem eles condições de se
sociabilizarem? Restará a Rousseau perguntar: “como pode ocorrer
que uma criança seja bem educada por quem não o foi ele próprio?
(1968, p. 26).
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Vemos aflorar as idéias platônicas em seu texto, tanto no que tange a República
– no qual Rousseau afirma se tratar de um compêndio de educação e não de
política – quanto no que buscava o maior preceito que estava contido no Oráculo de
Delfos: “conhece a ti mesmo”.
Para Rousseau o mal não é originário, pois “é somente em um
estado primitivo que o equilíbrio do poder e do desejo se encontram e
que o homem não é infeliz” (Rousseau, 1968, p. 62). Mas é possível
preservar este estado mesmo nascendo livre e se encontrando
acorrentado? Depois de preservado, o desenvolvimento posterior
ocorrerá concomitante com o equilíbrio inicial entre poder e desejo?
Para Rousseau isto é possível, pois “Todo homem que só quisesse
viver, viveria feliz, conseguintemente seria bom, pois que vantagem
teria em ser mal? (Rousseau, 1993, p. 64). Apesar da sutil
ingenuidade de Rousseau, percebe-se que aqui se encontra a maior
esperança do que ele esperava da sociedade.
Por isso é fundamental perceber que a vida em si mesma é o
que há de mais precioso e a educação do Emílio se voltará para as
necessidades de conservar a vida, encontrar a felicidade não fora de
si, se despojando assim do supérfluo e dos apegos11, pois “É na força
de trabalhar para aumentar a nossa felicidade que a transformamos
em miséria.” (Rousseau, 1968, p. 64). A filosofia de Rousseau se
aproxima dos pensamentos agostinianos, sem necessariamente aderir
aos preceitos cristãos. O que podemos notar, é que Rousseau quer
mostrar a necessidade de olhar para a vida enquanto ela se faz em
plenitude e buscar a virtude enquanto restar tempo para encontrá-la.
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O homem se apega não somente aos bens materiais supérfluos, mas
principalmente da vida “a primeira lei da resignação, nos vem da natureza, e esta
aceita a morte sem queixas, pois segue a natureza, quando esta lei é destruída, a
segunda se formará na razão” (Rousseau, 1968, p. 65).
parte da vida em busca dos nossos bens materiais? No mesmo fio
que foi tecido a filosofia dos estóicos e dos cínicos, Rousseau
arremata as suas idéias na busca por uma moral condizente com os
costumes.
Portanto, o Emílio deve ser educado para se libertar da
preocupação de “aumentar sua felicidade” e “alimentar sua miséria”,
pois “a miséria não consiste na privação das coisas e sim na
necessidade que delas se faz sentir (Rousseau, 1968, p. 63). Desta
forma ele não amontoará bens para o porvir. Para aqueles que
negligenciam a própria vida em busca de riquezas que gozará na
incerteza do futuro é possível que encontre sofrimento como acentua
Rousseau “Tua liberdade, teu poder, só vão longe quanto tuas forças
naturais, vão além, tudo mais não passa de escravidão, ilusão e
prestígio.” (1968, p.66).
O que queremos destacar é que a criança não podendo
conhecer senão as particularidades de um mundo novo, pela
sensibilidade, devem ser preservadas em seu estado inocente, por
não ser um adulto, está livre dos exageros e apegos. Mas, é comum
os pais evidenciarem o amparo excessivo; primam por preparar seus
filhos, preocupados com o mercado de trabalho desde a infância, ou
seja, prematuramente; dão aos filhos objetos, comidas, brinquedos,
que geralmente vão além das necessidades, e neste ponto é que
vemos o aumento da dependência e a solidez da necessidade. É
assim que vemos formar a primeira “escravidão” e aumentar sua
“fraqueza”, pois a dependência se desenvolve amiúde.
Tudo isso gera um novo lugar para a criança, que pode
ultrapassar a dependência e está na contramão da simplicidade que a
natureza já mostrava no nascimento. As crianças estão submetidas
às decisões dos pais, porém o excesso de caprichos geralmente traz
resultados que ampliam a liberdade da criança: ela manda e,
Rousseau alerta, “é preciso que peça e não que mande” (1968 p. 68);
ela ordena, e o emprego de sua liberdade depois de ultrapassado o
limite, se entrega aos seus caprichos. Por trás deste severo manual
de pedagogia, está a preocupação com os limites da criança, que
deverá encontrar uma sociedade não disposta a aceitar suas
obstinações, esta preocupação com os prejuízos que a criança
possivelmente terá em seu futuro, faz parte desta proposta que
Rousseau traz nos escritos do Emílio. Ensinar os limites da liberdade,
não é cercear todos os desejos das crianças: uma criança pode ser
livre sem ser autoritária. Para Rousseau é fundamental que a criança
“pule, que corra, que grite quanto tem vontade” (Rousseau, 1968, p.
69). Assim como não queremos pequenos ditadores na sociedade, é
necessária que não sejamos da mesma forma.
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Desde que sua educação tenha sido exímia e voltada para esta virtude, ou seja,
saber governar.
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Estas idéias fazem parte das referências que Rousseau apresenta em seus
escritos, em especial os contidos nas confissões em que ele tira lições dos
procedimentos do pai, “meu pai não era apenas um homem de honra, era homem
duma probidade segura, tinha uma dessas almas fortes que as grandes virtudes
engendram [...] esse procedimento de meu pai, de quem eu conhecia tão bem a
ternura e as virtudes, me levaram a fazer reflexões sobre mim mesmo que não
contribuíam pouco para me manter o coração sadio. Terei daí esta grande máxima
de moral, a única talvez em uso na prática, de evitar as situações que põe nossos
deveres em conflito com os nossos interesses e que nos mostram o nosso benefício
nos males de outrem” (1936, pp. 81, 82)
A reciprocidade entre ensino e vivência social é direta. A
criança sai do seio familiar e entra em uma escola e, se após esses
longos anos ela “mergulha” no mundo da violência, temos razão
suficiente para reavaliar o que estamos propondo como educação,
pois é fato que uma escola está mais dependente das tendências do
mundo moderno, do que o mundo preocupado com a importância de
se ter uma sociedade de Emílios.
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Neste texto Rousseau parece prenunciar o Emílio.
para Rousseau “aprender é também um esquecimento” (Rousseau,
1993, p. 35), então que a educação se volte para algo prático15, e
prático não quer dizer técnico, e sim que se volte para a prática da
virtude. Assim, podemos a partir desta exposição rediscutir a
educação sob dois aspectos, um está no que se ensina para uma
criança de acordo com sua realidade biológica16, e o outro na
realidade do nosso tempo17. Diante de toda esta problemática, ainda
perguntamos por que tanta violência na juventude? Não seria
suficiente repensar o que estamos entregando como educação para
as crianças e jovens? Como dizia Rafael, personagem de Tomas
Morus:
Conclusão
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Nesta obra ele destaca a educação do eunuco que era entregue a guarda de
quatro mestres, que são: o mais sábio, o mais justo, o mais moderado e o mais
valente.
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A criança tem seu tempo próprio de maturação e desenvolvimento cognitivo, a
própria natureza se encarrega de desvelar o mundo que se põe a sua frente, esta é
a fase em que tanto seus sonhos quanto sua vigília são povoados pelas fantasias,
heróis e encantos.
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A idade contemporânea é fruto da preocupação dos pais que acrescentam
atividades extras para ocupar o tempo da criança, sobretudo para prepará-los para
o mundo corporativo e competitivo. Como cabe também as escolas rever suas
prioridades, que hoje estão voltadas, em sua maioria, para atender as demandas
tecnológicas que o capitalismo exige. Isto é para que não transformemos as
crianças em joguetes do mundo moderno.
violência, acreditamos que está na hora de repensar a educação
ministrada a criança e a juventude, e o que é realmente prioridade
na vida da sociedade: modernidade ou virtude?
Desta forma acreditando que a sociedade está carente de
reflexões sobre o próprio cotidiano, o artigo propõe um olhar para a
importância do ensino de filosofia nas escolas, na esperança de que
as sementes deste ensino sejam transportadas pelos alunos tanto
para o seio de suas famílias, como para as suas comunidades, assim
como o pássaro que carrega as sementes propagando a vida que se
esparrama pela floresta. E se a educação é o melhor caminho e a que
ditará o futuro das próximas gerações, esperamos que esta
educação, esteja repleta das virtudes necessárias para vida.
Bibliografia