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1 Introdução
Quem pode contar para nós qual é a diferença entre ciência e falsidade1?
Quando se trata desses assuntos, em quem nós podemos confiar? Podemos
confiar na tradição filosófica ou nos cientistas, para estabelecer essa
diferença? Se não são os filósofos ou os cientistas, quem poderá despertar
essa confiança nessa distinção? Ao que parece, em nossas sociedades, são
os filósofos e os cientistas que legitimam essa diferença para nós todos. São
as características epistêmicas ou as características morais ou éticas que os
filósofos e os cientistas usam para demarcar a diferença entre ciência e
falsidade? Não há uma característica epistêmica da diferença entre ciência e
falsidade que seja clara e de comum acordo entre todos, a qual os filósofos
tenham apontado em seus sistemas éticos.2 O que nos sobra são as
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Cf. o artigo do autor intitulado ‘Entre o Contexto de Descoberta Amplo e o
Contexto de Justificação Restrito’ (Outubro 2006). O termo ‘falsidade’ surge aqui
fazendo menção à idéia de que aquilo que não é ciência dever-se-ia considerar
como falso. Ora, se isso é correto, então a ciência e a pesquisa científica é
detentora de uma verdade que não faz parte daquilo que é considerado não-ciência,
isto é, a não-ciência nunca poderá tornar-se ciência. No entanto, é isso que a
historia da ciência mostra? Parece que não! O endosso é dado quando nos
deparamos com a diferença entre contexto de descoberta e de justificação como um
problema impositivo para qualquer entendimento da demarcação entre ciência e
pseudociência ou não-ciência.
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Podemos falar das relações estreitas entre Epistemologia e Ética. A indicação que
damos ao leitor é a obra de Brandt, (1982, cap. III) pergunta se a ciência pode
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2 Algumas definições
coisa. Assim, ter boas razões é estar justificado. E, ser racional é estar
justificado.
Em terceiro lugar, antes que alguém se assuste, os termos ética e moral são
usados com pequenas diferenças, mas essencialmente podem significar a
mesma coisa. A diferença encontra-se em que a ética se refere a princípios
que podem ser universalizáveis e a moral se refere a casos particulares de
aplicação desses princípios. A ética é teórica e a moral é empírica. Esses
termos significam a mesma coisa quando se refere à ação, ou seja, ao agir.
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Cf. LaFollette, (2001) Há duas grandes classes de teorias éticas —
consequencialistas e deontológicas — que têm dado forma ao entendimento que a
maior parte das pessoas tem da ética. Os consequencialistas defendem que
devemos escolher a ação disponível que tem as melhores conseqüências globais, ao
passo que os deontologistas defendem que devemos agir de modos circunscritos por
regras e direitos morais e que estas regras ou direitos se definem (pelo menos em
parte) independentemente das conseqüências.
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3.2 Tolerância
3.3 Verdade
não conhecemos nada. O ônus da prova cabe a quem diz que conhece
alguma coisa. É importante entendermos aqui que conhecimento não é
familiaridade com alguém ou alguma coisa; não é uma habilidade; mas é,
conhecimento proposicional (de proposições). A mera crença não é
conhecimento. O conhecimento é crença, verdadeira e justificada. Diz Platão
em seu diálogo sobre a ciência, o “Teeteto”: “Eu mesmo já ouvi alguém fazer
essa distinção, Sócrates; tinha-me esquecido dela, mas voltei-me a lembrar.
Dizia essa pessoa que a opinião verdadeira acompanhada de razão é ciência,
e que, desprovida de razão, a opinião está fora da ciência e que as coisas
que não é possível explicar são incognoscíveis (é a expressão que
empregava) e as que são possíveis explicar são cognoscíveis”4. O cético dirá
que há crença, verdadeira, mas que não é justificável5.
4
Conferir Platão (1990, p. 159). Teeteto ou da Ciência.
5
Conferir Gettier (2004, p. 104-106) Como tentativas de resposta ao problema de
Gettier podemos referir: Pojman ( 2001. p.80-97 cap.7.).
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A discussão racional pode ser entendida como sendo outra condição da ética
na pesquisa. A discussão racional é a busca da verdade e é norteada por
princípios éticos: (a) princípio da falibilidade: é possível que eu não tenha
razão e tu tenhas. Mas pode acontecer que ambos não tenhamos razão,
porque defendemos teses opostas; (b) o princípio da discussão racional:
temos que ponderar, o mais impessoalmente possível, os nossos argumentos
a favor e contra uma certa idéia ou teoria, passível de crítica, como diz
Popper; (c) o princípio da aproximação da verdade: através da discussão
objetiva aproximamo-nos quase sempre mais da verdade, conseguimos uma
mais perfeita compreensão, mesmo que não cheguemos a acordo porque
toda a discussão pode levar-nos a compreender alguns pontos fracos de
nossa posição. A ética se abraça nos seguintes quesitos: não existem
autoridades do saber; é impossível evitar todos os erros; é nosso dever
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A ética de Popper sobre a pesquisa científica pode ser entendida como uma
ética deontológica ou conseqüencialista? Para um deontologista o que
interessa é o que fazemos e não o que acontece no mundo. A prioridade é de
evitar o mal, não interessando as conseqüências. Para a ética deontológica, o
sujeito não está sob a obrigação permanente de maximizar o bem. Cada
sujeito desenvolve os seus projetos e compromissos pessoais. O problema é
como resolver a rivalidade entre deveres, se o deontologista privilegia o
dever de beneficência? E, por outro lado, os deontologistas reconhecem
restrições centradas no agente, admitindo no mínimo uma restrição geral
contra maltratar os outros. Aqui o deontologista enfrenta o problema de
justificar a existência de restrições. Essas restrições são ou não são
absolutas. Uma das melhores defesas da posição absolutista é a de Charles
Fried (1978) que sustenta que em situações catastróficas o próprio
pensamento moral colapsa e, portanto, aquilo que o agente fizer não será
moralmente certo ou errado. Há, no entanto, os absolutistas moderados
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como David Ross. As restrições dão origem não a deveres absolutos, mas a
deveres prima facie. Se em algumas circunstâncias as restrições podem
ceder, então é permissível violá-la. Mas se for assim estamos expostos à
intuição moral. Qual é o dever prima facie mais forte em determinada
situação? A pergunta leva ao problema da força das restrições. Por outro
lado, o deontologista se coloca frente a frente à questão da restrição geral
contra maltratar alguém. O alcance das restrições recai nas distinções entre
fazer / permitir e intenção / previsão. Assim, como podemos analisar a
distinção entre fazer o mal a alguém e permitir que alguém sofra um mal?
Outras restrições são ainda alvo de discussões como as restrições contra
mentir e as restrições contra quebrar promessas. Quais dessas restrições
podem traduzir o dever do sujeito consigo mesmo?
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Conferir Galvão (2006).
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6 A ética na pesquisa
7 Egoísmo e Altruísmo
A principal questão aqui é a seguinte: se tiver boas razões para crer ou fazer
algo, então devo crer e fazer o que é melhor para mim (egoísmo) ou o que é
melhor para os outros (altruísmo)? Há aqui uma questão conceitual que
poucos consideram, falo da diferença entre Egoísmo e Egotismo, antes de se
dizer algo sobre o altruísmo. O Egoísmo ético não é uma ação, não é uma
atitude, não é um traço de caráter, mas é uma teoria. O Egoísmo é
compatível com um sujeito que pode ser humilde e altruísta na prática. Não
é necessariamente egoístico, egocentrista ou narcisista. As teses do egoísmo
ético são as seguintes, conforme William K. Frankena (1969):
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8 Conclusão
Bibliografia
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