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KAFKA, F. “Na colônia penal”. In: Obras Completas, vol 5, São Paulo,
Companhia das Letras, 1998.
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KAFKA, F. “Na colônia penal”. In: Obras Completas, vol 5, São Paulo,
Companhia das Letras, 1998, pg 61.
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personagens de Kafka, incessantemente acompanhado da consciência
amarga da impossibilidade de satisfazê-lo. O tema da justiça é um
dos alicerces da obra kafkiana e é a partir dele que pretendo tentar
contribuir com uma interpretação que segue tateando cautelosa o
interior de suas narrativas.
A estrutura tribunalesca caracteriza inúmeros de seus escritos, desde
“O veredicto”, em que o pai moribundo subitamente se levanta com
toda a força ancestral dos patriarcas e condena o filho à morte até a
“Carta ao pai”4, que foi originariamente escrita como um documento
de ordem pessoal, sem um objetivo literário explícito. Kafka, todavia,
era mestre em transformar vida em literatura e uma carta assim
densa, em que o escritor pretendia um ajuste de contas com o pai,
não escapou ao espírito de sua letra.
A dinâmica da carta se dá como se Kafka estivesse primeiramente
apresentando sua defesa – ele é o réu deste processo, magro como o
condenado da colônia penal, desaprendeu a falar5 como ocorreu a
Gregor Samsa depois da metamorfose. Inúmeros são os atributos e
gestos com os quais Kafka refere-se a si mesmo que nos permitem
identificá-lo a suas personagens, em especial àquelas destinadas à
morte e ao fracasso. Em grande medida, os temas nucleares de sua
literatura estão presentes também nesta carta, o que nos leva a
supor que nela há um impulso literário insuspeitado para o próprio
autor.
Precisamente ao final, depois de apresentadas as provas da defesa,
Hermann Kafka dá o seu veredicto ao filho Franz. Ao desempenhar
simultaneamente os papéis de juiz e promotor, o patriarca dos Kafka
bem como o pai de “O veredicto”, não conhece misericórdia. A crítica
a este poder desmedido é subjacente à obra kafkiana e se configura
4
KAFKA, F. “Carta ao pai”. In: Obras Completas, vol 2, São Paulo,
Companhia das Letras, 1997.
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KAFKA, F. “Carta ao pai”. In: Obras Completas, vol 2, São Paulo,
Companhia das Letras, 1997, pg 21.
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como um desdobramento do tema da justiça. Sobre isto escreve
Kafka:
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KAFKA, F. “Carta ao pai”. In: Obras Completas, vol 2, São Paulo,
Companhia das Letras, 1997, pg 41, 42.
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ADORNO, T. W., HORKHEIMER, M. Dialética do Esclarecimento, Rio de
Janeiro, Jorge Zahar, 1985, pg 19 -52.
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No mundo primitivo, as leis e normas são não-escritas.
O homem pode transgredi-las sem o saber. (...) O
mesmo ocorre com a instância que remete K. a sua
jurisdição. Ela remete a uma época anterior à lei das
doze tábuas, a um mundo primitivo, contra o qual a
instituição do direito escrito representou uma das
primeiras vitórias. É certo que na obra de Kafka o
direito escrito existe nos códigos, mas eles são
secretos, e através deles a pré-história exerce seu
domínio ainda mais ilimitadamente.8
8
BENJAMIN, W. “Franz Kafka. A propósito do décimo aniversário de sua
morte.” In: Obras Escolhidas, Magia e técnica, arte e política, vol 1, Brasília,
Ed. Brasiliense, 1985, pg 140.
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KAFKA, F. “O Processo”. In: Obras Completas, vol 3, São Paulo,
Companhia das Letras, 1998.
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arcaicas”10 – como o próprio poder patriarcal - se mantêm em
diferentes procedimentos judiciais, inclusive nos ditos esclarecidos. O
romance acima referido tem uma incrível profusão de temas
relacionados à justiça que, em face dos limites deste trabalho, não
poderei abordar.
Sobre o “O veredicto”
10
BENJAMIN, W. “Franz Kafka. A propósito do décimo aniversário de sua
morte.” In: Obras Escolhidas, Magia e técnica, arte e política, vol 1, Brasília,
Ed. Brasiliense, 1985, pg 154.
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um amigo que se encontra no estrangeiro para lhe dar a notícia de
seu noivado. Georg tem dúvidas sobre se deveria ou não contar isso
ao amigo, já que alguém em suas condições poderia se ferir com tal
informação. Assim o narrador descreve o amigo de Georg:
11
KAFKA, F. “O veredicto”. In: Obras Completas, vol 5, São Paulo,
Companhia das Letras, 1998, pg 10.
12
KAFKA, F. “O veredicto”. In: Obras Completas, vol 5, São Paulo,
Companhia das Letras, 1998, pg 10.
13
KAFKA, F. “O veredicto”. In: Obras Completas, vol 5, São Paulo,
Companhia das Letras, 1998, pg 15.
6
fora a de contar ao pai que havia anunciado seu noivado ao amigo de
São Petesburgo. Ao ouvir isto, afirma o pai:
15
BENJAMIN, W. “Franz Kafka. A propósito do décimo aniversário de sua
morte.” In: Obras Escolhidas, Magia e técnica, arte e política, vol 1, Brasília,
Ed. Brasiliense, 1985, pg 155.
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ADORNO, T. W. “Anotações sobre Kafka” In: Prismas, São Paulo, Ática,
2001, pg 242.
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sugere que ele se mude para o quarto da frente, repouse, siga as
prescrições médicas, alimente-se melhor. Seu pai novamente o
acusa: “_ Você não tem nenhum amigo em São Petesburgo. Você
sempre foi um trapaceiro e não se conteve nem mesmo diante de
mim.”18
O rapaz continua sua defesa neste processo simultaneamente aos
cuidados com o velho e leva-o para a cama. “Mas mal o pai ficou na
cama tudo pareceu estar bem”19 diz o narrador sobre como Georg
sentia-se, desse modo, menos ameaçado com a presença do
patriarca. Este é o momento crucial da inversão pois o pai moribundo
se levanta subitamente munido de uma força ancestral. Poderíamos
nos arriscar a propor uma interpretação segundo a qual o fato de ele
estar isolado num quarto escuro, lendo jornais antigos,
aparentemente derrotado e inesperadamente se levantar com todo o
vigor represente o modo como Kafka vê as forças arcaicas que
atravessam sua ficção. Elas estão momentaneamente esquecidas,
mas podem se manifestar a qualquer momento e se fazer valer. Os
conteúdos do mundo primitivo de onde essas forças emanam, podem
significar também esperança e não apenas opressão. Sobre isto
afirma Benjamin:
18
KAFKA, F. “O veredicto”. In: Obras Completas, vol 5, São Paulo,
Companhia das Letras, 1998, pg 18.
20
BENJAMIN, W. “Franz Kafka. A propósito do décimo aniversário de sua
morte.” In: Obras Escolhidas, Magia e técnica, arte e política, vol 1, Brasília,
Ed. Brasiliense, 1985, pg 156.
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Após deitar-se diz o pai: “Estou bem coberto?”21. Com a resposta
afirmativa do filho, “atirou fora a coberta com tamanha força que por
um instante ela ficou completamente estirada no vôo e pôs-se em pé
22
na cama, apoiando-se de leve só com uma mão no forro.” O pai
acusa o rapaz de querer enterrá-lo porque tinha decidido casar-se.
Georg fica atordoado e submete-se cada vez mais à autoridade deste.
Sua tristeza é descrita pelo narrador como se o amigo “que
subitamente o pai conhecia tão bem” estivesse perdido na vasta
Rússia, sua loja estivesse vazia e saqueada, as mercadorias
destroçadas.
A sentença paterna continua e a questão central do processo deixa de
ser a existência ou não do amigo, que agora o pai afirma conhecer e
amar, mas sim o casamento de Georg, a vivência de sua sexualidade,
que teria profanado a memória da mãe. A esta altura o pai se
proclama o representante do amigo, alguém que teria lhe mandado
cartas contando a situação de Georg a sua revelia, sobretudo em
relação ao noivado. O poder do pai vai gradativamente se
intensificando até culminar no veredicto.
O patriarca então confessa que havia esperado por anos o momento
de sentenciar o filho e brada : “Por isso saiba agora: eu o condeno à
morte por afogamento! ”23
Georg sai do quarto ao som do desabar do pai sobre a cama, como se
suas últimas forças tivessem sido consumidas neste julgamento. Isso
poderia ser visto como uma confirmação de que ser juiz neste
processo em que ele, de fato, é parte foi extenuante. Por outro lado
21
KAFKA, F. “O veredicto”. In: Obras Completas, vol 5, São Paulo,
Companhia das Letras, 1998, pg 20.
22
KAFKA, F. “O veredicto”. In: Obras Completas, vol 5, São Paulo,
Companhia das Letras, 1998, pg 20.
23
KAFKA, F. “O veredicto”. In: Obras Completas, vol 5, São Paulo,
Companhia das Letras, 1998, pg 24.
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fica também a impressão de que esta era a sua “missão”, seu papel
obrigatório numa história que há séculos se repete.
Georg passa correndo pela escadaria e quase atropela a criada que
vendo-o naquele estado cobriu o rosto com o avental e exclamou
24
assustada : “_ Jesus ! ” Tudo se passa como se o rapaz estivesse
sedento por seu próprio sacríficio. “Já agarrava firme a amurada
como um faminto à comida.”25 Salta sobre esta como o excelente
atleta que tinha sido para orgulho dos pais e morre confirmando em
voz baixa seu amor por eles, como se seu sacrifício fosse em seu
nome. Ambos os patriarcas, Deus e o pai de Georg, pela sua honra,
exigiram dos filhos a morte.
O tema da repetição na ficção kafkiana pode ser acompanhado em
inúmeras passagens, como por exemplo em “O Processo”26, quando
os guardas corruptos que levaram as roupas de K. e comeram seu
café-da-manhã foram por ele mesmo acusados e, em razão disso,
torturados. K. tenta evitar que o espancador cumpra sua função,
tenta suborná-lo, mas justamente este é incorruptível. Neste sentido,
a corrupção muitas vezes é vista como uma esperança. Ao perceber
que seus esforços eram em vão, K. foge do quartinho de despejo pois
não agüenta a crueldade da cena. No dia seguinte abre novamente a
porta e, para sua surpresa, tudo continua igual. Talvez isso possa
indicar que, para Kafka, o que se desenrola diante de nossos olhos é
a repetição do mito e não propriamente história. A partir desta
afirmação poderíamos colocar a idéia de que o mito que Kafka critica
parte do direito mas vai muito além dele. Sobre isto nos diz Adorno:
24
KAFKA, F. “O veredicto”. In: Obras Completas, vol 5, São Paulo,
Companhia das Letras, 1998, pg 24.
25
KAFKA, F. “O veredicto”. In: Obras Completas, vol 5, São Paulo,
Companhia das Letras, 1998, pg 25.
26
KAFKA, F. “O Processo”. In: Obras Completas, vol 3, São Paulo,
Companhia das Letras, 1998.
10
A sua obra também se relaciona hermeticamente com a
história: um tabu pesa sobre este conceito. A noção do
caráter invariante e natural do curso do mundo
corresponde à eternidade do instante histórico; o
instante, o absolutamente transitório, é uma parábola
da eternidade do perecimento, da danação. O nome da
história não deve ainda ser pronunciado, pois aquilo
que seria história, o outro, ainda não se iniciou.27
2001, pg 254.
KAFKA, F. “Na colônia penal”. In: Obras Completas, vol 5, São Paulo,
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KAFKA, F. “Na colônia penal”. In: Obras Completas, vol 5, São Paulo,
Companhia das Letras, 1998, pg 52.
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fica num lugar escondido, embaixo de uma mesa na casa de chá pois
não foi permitido seu sepultamento no cemitério. Isto é visto como
uma desonra por seu maior adepto, o oficial.
A controvérsia em torno da qual se move a história refere-se ao
procedimento judicial da colônia penal, onde, segundo o explorador,
“eram necessárias medidas excepcionais” e “se precisava proceder
até o limite de modo militar”30. É interessante notarmos como Kafka
criou uma atmosfera em que tudo tem caráter excepcional. Trata-se
de um regime de exceção em um lugar isolado... Esta é a mesma
técnica literária que Kafka utilizou para construir “O foguista”31
porque nesta narrativa ocorre um julgamento num navio, seu
comandante concentra todas as figuras de poder, inclusive as de juiz
e legislador, as pessoas não conhecem as leis que se modificam a
cada novo país onde navio aporta, etc.
Podemos intuir que o novo comandante desaprova o procedimento
judicial instituído pelo antigo comandante, de acordo com o qual os
condenados são executados através de um aparelho que inscreve em
sua pele a lei infringida. Tal aparelho é composto por três partes, a
cama, o desenhador e o rastelo, ao qual cabe a execução da sentença
propriamente dita. Este aparelho tem uma organização complexa e
promete a redenção.
Tal organização merece ser analisada mais detalhadamente. O oficial
a explica admirado ao explorador que se deixa encantar pelo aparelho
a despeito de toda crueldade que ele possa representar. Isso indica
uma afinidade entre a “visão européia” do explorador, que inclusive
falava francês - referência clara ao Iluminismo - e o oficial e seu
barbarismo. Creio que o que Kafka quer nos mostrar é que entre as
luzes, não obstante os progressos que tenha de fato alcançado, há
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KAFKA, F. “Na colônia penal”. In: Obras Completas, vol 5, São Paulo,
Companhia das Letras, 1998, pg 39.
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KAFKA, F. “O foguista”. In: Obras Completas, vol 7, São Paulo,
Companhia das Letras, 1998.
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um elemento regressivo, não humanista, que se perpetua desde as
épocas mais remotas e que se manifesta de modo privilegiado nos
sistemas jurídico-políticos. A sugestão de leitura que faço neste
trabalho é a de que esse núcleo de injustiça que se perpetua é uma
“força arcaica” constitutiva do direito em seus primórdios. Trata-se da
relação desigual entre pai e filho, que serve de modelo para todas as
outras num sistema patriarcal.
A posição do explorador é ambígua porque ele, no início, ouve de
maneira desinteressada as explicações do oficial sobre o aparelho,
mas aos poucos se vê conquistado por sua organização elaborada.
Esta foi obra do antigo comandante, que além de exercer os papéis
de poder era também engenheiro, químico etc. Esta é uma nova
referência ao Iluminismo e a seu espírito enciclopedista.
Há também a questão da autonomização do aparelho, cujo exemplo
máximo é a execução do oficial, seu único operador, pois em princípio
não haveria quem o acionasse.
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KAFKA, F. “Na colônia penal”. In: Obras Completas, vol 5, São Paulo, Companhia das Letras, 1998,
pg 65.
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poderia mudar nada durante muitos anos. O novo comandante
inclusive reconheceu isso.
Com isso, podemos estabelecer uma relação de afinidade entre os
procedimentos judiciais do antigo e do novo comandante, além da já
citada afinidade do oficial com o explorador. Temos, portanto, três
modelos de sistemas judiciais que remetem à autoridade do primeiro
patriarca, o fundador. Lembremo-nos de que ao final, quando o
explorador entra na casa de chá, tem que se ajoelhar para ler a
profecia inscrita na lápide do antigo comandante. Quando o
explorador terminou de ler viu os homens ao seu redor rindo como se
a profecia fosse ridícula e como se “o convidassem a ser da mesma
opinião”33. Em face desta atitude, o explorador “agiu como se não o
notasse”, o que nos deixa margem a pensar que ele teve uma atitude
de reverência em relação ao antigo comandante.
A mesma relação patriarcal estaria, portanto, no centro dos três
procedimentos judiciais já citados. O mesmo núcleo mítico é o
referencial de todas. Pensemos agora sobre a (im)possibilidade de
redenção propiciada por ambas e sobre como Kafka denunciou a
reposição da injustiça que ocorre em razão do mito.
“Como captávamos todos a expressão de transfiguração no rosto
martirizado, como banhávamos as nossas faces no brilho dessa
justiça finalmente alcançada e que logo se desvanecia ! Que tempos
aqueles, meu camarada !”34 diz o oficial ao explorador em defesa do
sistema jurídico que se condensa no aparelho. O oficial foi nomeado
juiz após a morte do antigo comandante porque esteve sempre ao
lado dele quando ele era o juiz. O princípio segundo o qual ele toma
decisões é o de que a culpa é sempre indubitável. Isto faz referência
a uma culpa originária, como o pecado original, que torna as
33
KAFKA, F. “Na colônia penal”. In: Obras Completas, vol 5, São Paulo,
Companhia das Letras, 1998, pg 69.
34
KAFKA, F. “Na colônia penal”. In: Obras Completas, vol 5, São Paulo,
Companhia das Letras, 1998, pg 50.
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intimações e interrogatórios desnecessários. No caso do condenado
por não ter respeitado o mandamento de honrar o superior, não
houve, de fato, nem inquérito nem nenhuma espécie de apuração da
denúncia. Após a acusação do capitão o oficial rapidamente julgou o
caso e contou ao explorador que se tivesse intimado e interrogado o
homem só teria surgido confusão. Isso porque ele teria mentido e se
o oficial quisesse desmenti-lo, fatalmente substituiria uma mentira
por outra. A dificuldade em encontrar a verdade é também um
importante tema em Kafka e reaparece em outras narrativas como “A
Toupeira Gigante”.
Ao condenado foi imputada, portanto, a pena de ter a lei infringida
inscrita em sua pele. Ele deveria entender o mandamento de honrar o
superior com seu próprio corpo.
35
KAFKA, F. “Na colônia penal”. In: Obras Completas, vol 5, São Paulo,
Companhia das Letras, 1998, pg 44.
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esclarecido, cujo porta-voz é o explorador, tivesse sentenciado o
oficial e seu aparelho como injustos.
O oficial escolhe em sua carteira de couro a sentença desenhada pelo
antigo comandante com a inscrição “Seja justo!”. Em seguida, coloca-
a no aparelho, ajusta as engrenagens e se deita. Condenado e
soldado prendem-no às correias e a máquina começa a trabalhar
sozinha. O oficial esperava, com isso, a sublime redenção que
iluminava os condenados. Em seu caso, todavia, não foi possível pois
as engrenagens do aparelho começaram a se soltar. O oficial foi
executado antes que pudesse chegar a tão esperada sexta hora.
Creio que, com esta passagem, Kafka retoma sua crítica ao mito da
justiça ao mostrar como um procedimento judicial cruel – com
afinidades com o esclarecido - não poderia salvar nem mesmo o seu
maior adepto, sobretudo da acusação de ser injusto.
Bibliografia
KAFKA, F. “Na colônia penal”. In: Obras Completas, vol 5, São Paulo,
Companhia das Letras, 1998.
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BENJAMIN, W. “Franz Kafka. A propósito do décimo aniversário de
sua morte.” In: Obras Escolhidas, Magia e técnica, arte e política, vol
1, Brasília, Ed. Brasiliense, 1985.
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