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Este trabalho é parte integrante da dissertação que venho desenvolvendo no Mestrado em
Memória Social e Documento da UNIRIO sob orientação do Profº Doutor Marco Aurélio Santana.
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ESCOREL (2000) em artigo incluído na obra organizada por Bursztyn (2000) apresenta algumas
definições sobre população de rua, entre elas a do Sebes/SP (1992) que consideram a estadia
temporária como situação de rua. Além dessa, cita ainda a definição mais abrangente de Rodrigues
& Silva Filho (1999), que entende como ”o conjunto daqueles que vivem permanentemente nas
ruas ou que dependem de atividade constante que implique ao menos um pernoite semanal na rua”.
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vida. Já que, entendemos que o sujeito não recita simplesmente sua vida, ele
reflete sobre ela a medida que a conta”(Preuss,1997:117).
O objetivo central do trabalho é, portanto, analisar a construção de
memórias de um grupo de moradores de rua, através de suas histórias de vida.
Trata-se de verificar também na população escolhida, o processo de re-construção
dessas memórias no presente vivido e perceber como acontece a articulação com o
passado com vistas ao futuro.
Quando a questão é apontar o tamanho deste universo temos um problema.
Quantificar a população de rua sempre foi difícil. No nosso caso são cerca de 400
pessoas por dia, mas a mobilidade deste contingente não permite uma contagem
em termos tradicionais para fins estatísticos. Os técnicos que lidam com dados
deste tipo reconhecem que é difícil aferir com precisão a soma de um universo
que flutua.
Entre as pesquisas feitas para traçar o perfil do morador de rua destacamos
a da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj)3. Segundo o estudo, em
geral ele é negro ou pardo, tem menos de 45 anos, primeiro grau incompleto e
vive como catador de lata ou papelão. A maioria está na rua por causa do
desemprego ou da desestruturação da família.. Idosos são em menor número: 69%
da população de rua tem até 45 anos; 22,4%, entre 46 e 60 anos.
Para entender a construção e reconstrução da memória do morador de rua
enfocado nesta investigação, é fundamental sublinhar como entendemos a
memória e suas relações com o espaço e a identidade. Optamos pela definição de
memória como presença do passado (Rousso,2001). Seria uma representação
seletiva do passado, em que o indivíduo vai separando o que lhe interessa em
termos de significação e passa a construir novas atitudes e maneiras de agir, a
partir dela. Estas escolhas, no entanto, envolvem o contexto social e familiar, isto
é, a memória faz parte do processo social, devendo ser entendida como construção
social.
Convém ressaltar que, apesar das pessoas recordarem de acordo com o
espaço social na qual estão inseridas, entendemos que cada um, individualmente,
possui também autoria sobre a construção de suas memórias. Entendemos, no
entanto, que é impossível conceber a questão da evocação e da localização das
lembranças se não tomarmos como ponto de apoio, os quadros sociais reais, que
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Jornal O Globo. 20.01.2004. p-16
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Utilizamos a obra póstuma do mesmo autor A Memória Coletiva, de 1968.
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Eu venho para rua para trabalhar para arrumar dinheiro para levar para
os meu filhos. (...) Porque, geralmente, parece que é mentira, mas
geralmente eu venho para cá mais para trabalhar mesmo.(...) Eu quero um
emprego fixo.(...) que eu tô nova ainda dá pra arrumar emprego ainda.
Trabalhar com a carteira assinada para poder ajudar meus filhos.
pra juntar para entregar para uma pessoa, que vai direto pra casas que
recebe..
(...) eu fui trabalhar de camelô, vinte anos, mas não tava na rua
não. Agora com a idade, as coisas tão mais difícil, né? As coisas
também tão acabando. Tudo está mais difícil, é onde eu de vez
em quando eu tô na rua. Mas eu tenho fé em Deus, que quando
eu sair agora eu não vou mais voltar.
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Revista Veja 7 de julho,2004 ,p.35
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IV – BIBLIOGRAFIA.