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ïUDOO üUTË MAUFAZBEM

.tça liyro é uma obra depersuasã.o à moda antiga que,em últi-


wle snólise, procure convencer-vos de ums coisa: de qua nos
ruanr.ostrínta anosa cultura popular tomou-semais complexa
t t#imulante para o intelecto. Onde a maioria d.oscomenta-
it"es vê uma corríd.aaté ao fundo, t)rna.estupidificaçã.o -
'yma socíed.ade cqda vez mais infantiliznda',, nas palavras de
C*orge Wíll - eu vejo uma históría de progresso:a culturq
út massasa tomar-se maís sofsticada.e a exígír um maior
cnpenho cognitivo a cada a.noque passq. pode considerar-se
werlzespécíede lavagemao cérebropositiva: os meiosde comu- ç _
w,;açãopopularesa tomarem a nossq. mentemais aguçada,de 6'n
.fu*o consistenternas quase imperceptível,à medid.o qurffi
BÌorrrosmergulhandocada vez mais em tipos d.eentretenimaflto r:t
n*rmalmente consíderad.os simplistas. Desígnoesta tend.ência
":"
wr 'Curva de Sleeper", segundoa clóssicqsequêncíadof.lme
s*irico deficçdo cíentíf.cade WoadyAllen, onde, em zt7j,
ut to Euipa de cíentistasseinterroga sobrecomo possívela
foi
wiedade do séculoXX nã.oter detectadoos mérítos nutrí-
rimwís d.astartesde natas e d.oca.ramelo.
kpero que as ideias que aqui vou defenderevoqlletn,ern
w;uítosdevós,uma sensaçdoquejó tiveram no passado,rnesrno
W ne oltura a tenham reprímid.o- a sensaçã.o de que a cul-
wra popular nãn estópresaa.uma espiraldescend.ente de dete-
noração d,ospad.rões.Da próxima vez que ouvirem alguém
ryteixar-seda violêncíana televisã.o,
d.euma cenad.enu acíden-
taJ"do inanidade dos reality shows ou do olhar parado d.os
v*iados ene Nintendo, pensernna "Ctnv& de Sleeper,,a
rryuer-sed.eforma consistentepor baíxo de todo essecaos
wperfi^cíal.O céu nãn está.a d.esabar.Sob muitos aspectos,o
vm,ponunca estevetã.obom. É precisoé ter um barórnetronovo
paroperceber
a diferença.
ïilün n üilfl [ MAUFAíB[i'd

>J0G0s

Haverá poucas ideias mais convencionais do que a de que'


hoie emdia, as criançasdeviam passarmais tempo a ler e
menos tempo agarradas aos jogos de vídeo' A última
edição de Dr. Spock- "revista e aumentada paÍa o novo
século", segundo informação constante da capa - diz o
seguinte a propósito dos jogos de údeo: "O melhor que se
poãe dizer deles é que podem ajudar a desenvolver a cooÍ-
denaçãoolho-mão nas crianças. O pior é que sancionam' e
até promovem, a agressividade e as Íespostas violentas ao
conflito. Mas o que com maior certeza se pode dizer é que
são uma tremenda perda de tempo'" Mas, no que diz
respeito à leitura, o conselho que se dá é completamente
diferente: "sugiro que comecem a instilar nos vossos
filhos o gosto pela leitura e pela palavra impressa desde
muito cedo... O que é importante é que os vossos filhos
sejam leitores ávidos."
Em meados de zoo4, o Fundo Nacional para as Artes
publicou um estudo que mostrava que o acto de ler por
prazeÍ tinha diminuído progressivamente nos principais
grtpot demográficos americanos' O escritor Andrew
'As
Solo-ot analisou da seguinte forma esta mudança:
pessoas que lêem por prazer têm muito mais probabili-
ãades do que as pessoas que não o fazem de visitar
museus e assistir a espectáculosmusicais, três vezesmais
probabilidades de se dedicarem a trabalho voluntário ou
PÀRï[| ::J0GIS

de beneficênciae quaseduasvezesmais probabilidadesde


assistirema espectáculos desportivos.Por outraspalavras,
os leitoressãoactivos,ao Passoque os não-leitores- mais
de metadeda população- caíramnuma certaapatia.Há
uma divisão essencialna sociedadeentre aquelespara
quem a vida é um acumular de novasexperiênciase conhe-
cimentose aquelesparaquem a maturidadeé um processo
de atrofiamental.O número de pessoasque estáa deslocar-
-separaestasegundacategoriaé assustador."
Q3ljgçnto intelectual proveniente da leitura está tão
ptffi é
;*noï; ãr-ëõríviõffis"Qiíë
ãifi.it equaãionái*ürii põnto de vista difËrànte.-úãs,
nselJle
'S""do"fâmõíïotõËëtriõãô"ae'viôÌ-ìtriãri,;"prffi
novos culturais em si meslgglj?.9119-
?*Pre-
lulggr !:l$gs
a
q.g"+ç*-É--o-"P*?.q-9"4d9",l.-eç-ç*{ìJ-e-.,14*fl-u-.e
i"-ç:tJegçhttggÏs-
os
4i:1" vi.q-4o".d+ç.*+_p3sq*{oJrr-ti!-,.çn93g"gnte;.1
Osiogostêmsofridocronica-
seusde,Qilg;_g#ggffiçQg;.
mente destesíndroma,em grandemedida por terem sido
postosem contrastecom as antigasconvençõesda leitura.
Paraultrapassarestasideias preconcebidas,tente pensar
do seguintemodo. Imagine um outro mundo idêntico ao
rÌosso,à excepçãode uma pequenaalteraçãotécnica e
histórica:os jogosde údeo foram inventadose populariza'
dos antesdos livros. Nesseuniversoparalelo,há séculos
que as criançaspraticam jogos de údeo - até que apare-
cem aquelesmolhos de páginascompiladase começama
fazer fixor. O que diriam os professorese os pais e as
autoridadesculturais destaloucura pelosliwosl Acho que
seriaqualquercoisanestalinha:

A prática crónicada leitura subestimaos sentidos.


Ao contrárioda longa tradiçãodos jogosde údeo -
que transportama criançapara um mundo animado,
tridimensional,cheiosde imagensem movimento
e paisagenssonoras,pelo qual navegae que controla
ïUÜOO OUEE MAUFAZBTM

com complexos movimentos muscltlares -, os liwos


são apenas uma sucessãode palawas numa página.
Durante a leitura, só uma pequena parte do cérebro
dedicada ao processamento da linguagem escrita
é activada, ao passo que os iogos ocupam todos
os córtices sensoriais e motores.
Por outro lado, os liwos criam um isolamento terrível.
Enquanto, durante muitos anos, os jogos obrigaram
os iovens a estabelecercomplexas relações sociais
com os seus pares, construindo e explorando mundos
em coniunto, os liwos forçam a criança
a sequestrar-senum espaçoisolado, sem interacção
com as outÍas crianças. As novas "bibliotecas', que têm
surgido nos últimos anos para promover a leitura
proporcionam uma imagem assustadora:dezenas
de crianças, normalmente tão enérgicas e socialmente
interactivas, sentadas sozinhas em cubículos, a lerem
em silêncio, esquecidas dos seus pares.
É óbvio que há muitas crianças que gostam de ler e,
sem dúvida, alguns dos arroubos de imaginação
proporcionados pela leitura têm os seus méritos como
forma de fugir às realidades da vida. Mas, para uma
percentagem considerável da população, os liwos são
profundamente discriminatórios. A febre de leitura dos
últimos anos é um insulto aos dez milhões
de americanos que sofrem de dislexia problema
que nem sequer existia sob a forma de doença até
ao momento em que o texto impresso veio estigmattzar
todos os que dela padecem.
Mas talvez a característica mais perigosa destes liwos
seja o facto de seguirem um caminho linear. Não temos
qualquer forma de controlar as suas narrativas -
limitamo-nos a ficar sentados e a história é-nos ditada.
Para todos nós, que fomos habituados a narrativas
interactivas, esta característica pode ser assombrosa.
PÂRïI| ::J0tÜS

Porquehaveriaalguémde querer embarcarnuma


avenflrrainteiramentecoreografadapor outra pessoaì
Mas a geraçãoactualembarcanessasaventurasmilhões
de vezespor dia, o que podeinstilar nos nossosfilhos
uma passividadegeneralizada,fazendo'ossentir
que sãoimpotentespara mudar as circunstâncias
da suavida. Ler não é um processoactivo
e participativo,mas antesde submissão.Os leitores
da nova geraçãoestãoa aprendera "seguir o enredo"
em vez de aprenderema seremelesa dirigi-lo.

Escusadoserâ dizer,mas talvez seja melhor dizer, que


não concordocom este argumento.Mas também não é
inteiramentecorrectodizer que os seuspressupostosestão
errados.A discussãocentra-senuma espéciede selectivi-
dadeque é amplificada:salientacertaspropriedadesindi-
viduais dos liwos e depoisprojectaos piores cenáriospos-
síveisa partir dessaspropriedadese dos seus efeitos
potenciais sobre a 'Írova geração".Mas não põe em
destaquenenhum dos beneÍíciosóbviosda leitura: a com-
plexidadedo argumentoe da narrativaque o liwo enceÍra;
a possibilidadede dar asasà imaginaçãodespertadapela
leitura daspalawas;a experiênciapartilhadaquandotoda a
genteestáa ler a mesmahistória.
Estamosperante a mesma atitude quando ouvimos
alguém queixar-seda actual obsessãocom os iogos de
údeo e o seu efeito estupidificantesobreas geraçõesvin-
douras.Os iogos não sãoromancese, quandotêm aspi-
raçõesa conter elementosromanceados,essaé normal-
mente a característicamenos interessanteque eles têm'
Podemosjulgar os jogos pelos critérioscom que se ava-
liam os Íomances:as personagenssão credíveisìO diá-
logo é complexoìSeo fizermos,os iogosficarãoinevitavel-
mente a perder. Os iogos são tão bons a contar uma
história como Michael fordan a iogat basebol.Talvezpu-

30
1UüOO QUEÉ MAUFAZBIM

especialé noutra
dessemsingrar assim,mas o seu talento
área.
querodizer algumas
Antesde passarmosa essestalentos'
que conste'acho
plawas *oür" virtudesda leitura' Para
", porque
i.r. virtudes são imensas - e não apenas
"rr", liwos' Deúamostodosencorajaros
;"h" a vida a escrever bem a ler e a
ïorro, filhos a lerem mais' a sentirem-se
mesmoo leitor
i.r.* o gostodaleitura' Mas' nestacultura'
tempo com ou-
mais ávião passaráinvariavelmentealgum
jogos' televisão'cinema ou
tros meios ãe comunicação-
têm as suas
Internet. E essasoutras formas de cultura
comparáveisàs re'
próprias virtudes - diferentes' mas
compensasda leitura'
da leitura? Em
E quais sãoexactamenteas recompensas
informação veiculada
termos gerais, são de dois tipos: a
para processare
pelo Hwã, e o trabalhomental necessário
nisto como sendouma
ïr^^rrn^ressa informação'Pense
e exercitar a mente'
ãii.t."ç" entre obter informação
as criançasa lerem por ptazer'faze-
Quandoencoraiamos
mental que isso
,ioJo normalmente pelo exercício
"[Ler]requeresforço'
envolve.Comodiz Andiew Solomon:
proporcionao esúmu-
concentraçãoe atençãoe' em troca'
SegundoSpock:'Ao
1oe os frutos do pensare do sentir'"
a leitura é uma
contrário da maior parte dos divertimentos'
activa' Somosnós
actividadeqrr" ,.qt'"' uma participação
os olhos'perce-
que temosã. ler - percorrerasletrascom
fio da história'" Os elo-
ber o sentidod"s paàwas e seguiro
leitura também invo-
gio, f"ito, aosbeneÍíciosmentais da
ler um liwo obri-
cam geralmenteo poder da imaginação;
mundo' em vez de
ga-nosa compor mentalmente úo tt*
*ingetir" uma série de imagens previa'
nos limitarmos a
o argumento' um
mente preparadas'Depois há ainda
espiral- de indubitavelmenteverdadeiro
;;;;;"; "p"'"' ser
1, do, benãÍíciosprãfissionaisalongo prazoié bom
e o mercadode
um leitor ávido,poi' o sistemaeducativo
?1
I :: JÜGOS
P,ARTE

trabalho dão grandevalor às capacidadesde leitura'


Em resumo, os benefícioscognitivosda leitura envol-
vem as seguintesfaculdades:esforço,concentração'aten-
das palavras'de
çao, capaãidadede percebero sentido
seguir o fio da narrativa,de esculpir mundos imaginários
a partir das simples frases que estãona página' Esses
beneÍíciossão amplificadospelo facto de a sociedadedar
uma importânciaconsiderávelprecisamentea estetipo de
competências.
O próprio facto de estar a apresentareste argumento
atravesde um liwo, e não de um Programade televisãoou
de um jogo de vídeo,devedeixarbem daro que,paramim'
a palawaimpressacontinua a seÍ o veículomais poderoso
pira transmitir informaçõescomplexas- apesarde a
palawa eleçtrónicoestara começara dar ao liwo impresso
comPensação pelo esforçodispendido' O argu-
"lg,t*"
mento que se seguecentra-seinteiramenteno aspectodo
exercíciãmental. O meu obiectivoé persuadiros leitores
de duascoisas:
**{
;i ì. Segundopraticamentetodos os padrõesque
utilizamos para avaliaros benefícioscognitivosda
leitura - atenção,memória, seguiros fios da narrativa'
etc.-, a cultura popular não literária tem-setornado
mais estimulanteao longo dos últimos trinta anos'
2, A cultura popular não literária estáa desafiarcada
competênciasmentais,tão
vez mais d.iferentes
importantescomo as que sãoexercitadaspelaleitura'

Apesardas advertênciasdo Dr. Spock,os exemplosmais


fortesdestasduastendênciasestãono mundo dosjogosde
údeo. Nos últimos anos,tem-seassistidoao aparecimento
de certostipos de artigossobrea culturadosjogosnos prin-
cipaisjornais e publicaçõesperiódicas.Em última análise'
a mensagemdessesartigosé a de que a práticadosiogosde

32.
ïUÜüÜ çIJI I MAUFAZBTM

vídeo pode não ser afinal uma completa perda de tempo.


Esses artigos referem invariavelmente um novo estudo
centrado num qualquer efeito secundário dos jogos -
muitas vezes, a destreza manual ou a memória visual - e
e4plicam que os jogadores têm competências superiores às
dos não-iogadores. (O outro argumento vulgarmente apre-
sentado para que se encarem os jogos a sério é de ordem
financeira e aponta normalmente paÍa o facto de a indús-
tria dos jogos gerar mais receitas do que Hollywood.)
Não tenho quaisquer dúvidas de que jogar os
iogos que
existem hoje em dia desenvolve de facto a inteligência
visual e a destreza manual, mas as virtudes dos jogos vão
muito além da coordenação mão-olho. euando leio essas
descriçõesostensivamentepositivas de jogos de vídeo,
vejo-as como os artigos que se escrevem sobre os méritos
da grande literatura e de como ler pode desenvolver a
capacidadeda escrita. É verdade, mas não faz justiça ao
rico manancial de experiências obtidas através da leitura
de um romance. A mesma falta de visão está patente na
forma como os jogos têm sido descritos até hoje. Na dis-
cussãoa que assistimos sobre a cultura dos jogos,lrá
U-g]" f t
coisa que é sempre estranhamente
4'
*- . . ' € *-'

l9ïtg5ïii::*-{:LgSgríqF-": *. '- - - " P ì


jogoi.õüïïãosmuitos
'" --'--
comentarlos soDre o conteudo dos ij ogos: as carnificinas,
l.
os acidentes de carro e as fantasias de adolescentes"mas
raramente ouvimos d_escriç_õe_s precisas.:g!*1g*gs.y_ffi !
reãfdêËtar nessesmiíntiõivi'tüAi;. pieoc;Ë-àgg A
{";r"
qïc"êïtffi ã ïiïãi"a" -õ.pttte'tiCta'éiiÍre'ãs pessoasque se
deixamabsorverpelos jogos e as pessoasque só orrue* X;l b-
descriçõesde terceiros,porque essefossotorna difícil i
fazer uma discussãocoerentedos jogos.Faz-melembrar a
S
forma como a crítica socialfane |acobsencaravaa expan-
à
são dos bairrosurbanosa que assistiunos anos 6o: "As
E,
pessoasque conhecembem essasruas tão animadas
.;Ì
sabemcomo é. As pessoasque não as conhecemterão il''
{ j}r,rr"* Ç . : , ' - r i; i . . . "i ' , ,,,1 -' * i .l S : ,,. ,{ *
^t* t:^
PARïE| :: J0G05

sempre uma ideia errada na cabeça- como as antigas


gravuras de rinocerontes feitas a partir das descrições dos
viajantes."
Afinal, como é na realidade o rinocerontel A primeira e
última coisa que deve ser dita sobre a experiência de jogar
jogos de vídeo, aquilo que quase nunca ouvimos nas
descriçõesdas principais publicações,é que os
iogos são
terrivelmente, às vezes loucamente, d.ifl ceis.

)'t+\/'Íì<

O segredoobscurode quem se dedicaaosjogosde údeo é


o tempo que as pessoaspassamsem estarema divertir-se-
Podemficar frustradas;podemficar confusasou desorien-
tadas;podem ficar viciadas.euando deixamoso jogo e
voltamosao mundo real, apercebemo-nos de que mental-
mente continuamosa tentar resolvero problema,como se
tivéssemosum dentea abanar.Seé uma forma de escapis-
mo, é estranhamentemasoquista.euem é que quer fugir
para um mundo onde estáirritado noventapor cento do
tempol
Veja-sea história de T?oyStolle,um operárioda cons-
trução de Indianápolis,descritopelo crítico tecnológico
|ulian Dibbell. Quandonão estáa trabalhar- o seutraba-
lho consisteemfazer moldesde madeira-, Stollevive no
mundo virhral de Utima Online,o jogo que permite criar
uma personagem- por vezesdesignadapor avatar_ e
interagir com milhares de avatarescontroladospor outros
sereshumanos que estãoa jogar o mesmo jogo atravésda
Internet. (Imaginem uma versãode Dungeonse Dragons
que possaser jogadacom milharesde desconhecidos de
todoo mundo e terãouma ideia.)O Ultírnaeos jogosafins
como o EverQuesú desenvolveram economiassimuladas,
muito activas,que em certa medida contaminaram o
mundo real. Podecomprar-seuma espadamágicaou um

34

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