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Funções da creche segundo suas

Funções da creche
segundo suas
trabalhadoras:

trabalhadoras: situando o cuidado


situando o cuidado
da criança no
contexto educativo

da criança no contexto educativo*


.

FUNCTIONS OF THE NURSERY ACCORDING TO ITS WORKERS: PLACING THE CHILD’S EDUCATION
INTO THE EDUCATIONAL CONTEXT
FUNCIONES DE LOS JARDINES INFANTILES SEGÚN SUS TRABA JADORAS: SITUANDO EL CUIDADO
DE LOS NIÑOS EN EL CONTEXTO EDUCATIVO

Maria De La Ó Ramallo Veríssimo1, Rosa Maria Godoy Serpa da Fonseca2

RESUMO ABSTRACT RESUMEN * Excerto da tese “O


Esta investigação teve como This investigation had the aim Esta investigación tuvo como olhar de trabalhadoras
de creches sobre o
objetivo apreender e analisar of gathering and analyzing the objetivo tomar y analizar las cuidado da criança”,
as representações de representations of workers in representaciones de las apresentada à Escola
trabalhadoras de creches nurseries regarding childcare. trabajadoras de los jardines de Enfermagem da
USP, em 2001.
acerca do cuidado da criança. The data was collected in three de infancia acerca del cuidado 1 Enfermeira. Professora
Os dados foram coletados em nurseries of a São Paulo, SP, de los niños. Los datos fueron Doutora do
três creches de uma Public University, through colectados em tres jardines de Departamento de
Enfermagem Materno-
universidade pública, em São individual interviews and a infancia de una universidad Infantil e Psiquiátrica da
Paulo - SP, mediante pedagogical workshop. The pública en San Pablo- SP, a Escola de Enfermagem
da USP.
entrevistas individuais e uma results showed that the través de entrevistas mdlorver@usp.br.
oficina pedagógica. Os workers try to characterize individuales y un taller 2 Enfermeira. Professora
resultados evidenciaram que their work as educational to pedagógico. Los resultados Titular do Departamento
de Enfermagem em
as trabalhadoras buscam make it more professional, evidenciaron que las Saúde Coletiva da
caracterizar seu trabalho placing the care as a support trabajadoras buscan Escola de Enfermagem
como educativo para function. The Nursing caracterizar su trabajo como da Universidade de São
Paulo. Orientadora
conferir-lhe maior contribution is discussed in the educativo para conferirle deste estudo.
profissionalismo, colocando o definition of a theoretical- mayor profesionalismo,
cuidado como função de conceptual body on the care of colocando el cuidado como
suporte. Discute-se a children in nurseries aiming función de soporte. Se discute
contribuição da Enfermagem for the necessary reach of the la contribución de la
na definição de um corpo integration of the caring-for Enfermería en la definición de
teórico-conceitual sobre o and educational functions un cuerpo teórico-conceptual
cuidado da criança em inherent to these services. sobre el cuidado de los niños
creches visando o necessário en jardines de infancia
alcance da integração das visando el alcance necesario
funções de cuidar e educar de integración de las funciones
inerentes a esses serviços. de cuidar y educar inherentes
a esos servicios.

PALAVRAS-CHAVE KEYWORDS PALABRAS-CLAVE


Creches. Cuidado da criança. Child day-care centers. Jardines infantiles.
Educação infantil. Child care. Child rearing. Cuidado del niño. Crianza del
Saúde infantil. Child welfare. niño. Bienestar del niño.
Cuidados de enfermagem. Nursing care. Atencion de enfermeria.

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Rev Esc Enferm USP
2003; 37(2):25-34.
INTRODUÇÃO por não incluir seus dados no estudo, com-
Maria De La Ó R. Veríssimo
Rosa Maria G.S. da Fonseca pondo o grupo com cerca de 14% do total
Em nosso meio, é corrente a visão de que das educadoras. O único critério para inclu-
as creches são serviços para crianças pobres, são foi o vínculo há mais de dois anos na
cuja qualidade de atendimento é precária, instituição. O outro grupo contou com o to-
podendo constituir-se até mesmo em risco ao tal das profissionais das equipes técnicas (7),
desenvolvimento infantil. Tal visão justifica- responsáveis pela coordenação e supervisão
se pelo histórico de implantação desses ser- das atividades.
viços e pelas precárias condições em que
Realizamos entrevistas semi-estruturadas
grande parte deles encontra-se, a despeito
com as coordenadoras e uma oficina peda-
de todos os conhecimentos acumulados so-
gógica com as educadoras. As entrevistas
bre as necessidades e direitos infantis(1-3).
individuais e coletivas foram gravadas, trans-
A crítica ao modelo assistencialista, que critas na íntegra e submetidas à análise de
caracterizou o atendimento desde os conteúdo, segundo a técnica de análise
primórdios da creche, tem sido feita mediante temática(4). Ao final da análise, foram obtidas
ênfase na sua missão educativa(1-3). Sob a jus- quatro categorias: A creche, O trabalho na
tificativa de que a missão da creche ou pré- creche, O cuidado da criança na creche e A
escola é educar, muitas instituições têm che- creche e a família. Considerando o grande
gado ao extremo de organizar sua programa- volume de dados, apresentamos neste texto
ção em torno de atividades pedagógicas ex- o conteúdo da categoria A creche, visando
clusivamente, dando tarefas para a casa e afir- subsidiar a reflexão sobre as funções da cre-
mando que lugar de brincar é em casa, não na che, colocada em pauta com as mudanças
escola. atuais devidas à inserção das creches na edu-
cação básica, enquanto instituições de edu-
Entendemos que as concepções elabora- cação infantil. Os demais temas serão apre-
das nesse formato excludente incorrem em sentados em outros artigos.
reducionismo, pois rejeitam funções ine-
rentes à creche e culminam na atenção O projeto foi apreciado por Comitê de Éti-
parcializada, além de restringirem a possibili- ca e as trabalhadoras assinaram termo de con-
dade de utilizar as contribuições das diferen- sentimento livre e esclarecido, após conhe-
tes disciplinas para a construção de um pro- cerem o objetivo e finalidade do trabalho, for-
jeto de atendimento integrado e global à cri- ma de coleta dos dados e de apresentação do
ança. Visando contribuir para a superação relatório, e a garantia quanto ao anonimato
dessas questões, desenvolveu-se esta inves- das informações.
tigação, cujo objetivo foi apreender e anali-
sar as representações de profissionais de cre- RESULTADOS
ches acerca do cuidado da criança.

A categoria A creche foi composta pelas


METODOLOGIA
subcategorias funções da creche, a vida da
criança na creche e controvérsias sobre a
O cenário do estudo foram três creches creche, que serão apresentadas a seguir.
de uma Universidade Pública, situadas no
município de São Paulo, tendo-se como pre-
missa que as creches universitárias são exce- Funções da creche
lentes experiências que reúnem teoria e práti- Todas as coordenadoras apontaram como
ca, permitindo o aprofundamento científico funções da creche educar e cuidar, apresen-
do atendimento. tando, porém, diferentes ênfases. A maioria
A população foi constituída por 16 traba- definiu a creche como instituição de educa-
lhadoras, em dois grupos. O grupo das edu- ção, conceituando educação como um pro-
cadoras, responsáveis pelas atividades dire- cesso amplo que engloba a transmissão de
tas às crianças, formou-se após adesão es- conhecimentos, cultura, valores e regras so-

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Rev Esc Enferm USP
pontânea de 10 trabalhadoras a convite da
pesquisadora, durante reuniões rotineiras nas
creches. Uma destas participou apenas do
ciais. Para elas, tal processo inclui não só ati-
vidades pedagógicas como também o cuida-
do, o qual foi definido enquanto promotor do
2003; 37(2): 25-34. primeiro encontro, motivo pelo qual optamos bem-estar e das interações na creche.
Para as crianças, é um espaço de educa- crianças. Entretanto, em muitos casos, hou-
Funções da creche
ção. Quando eu cuido eu estou educan- ve importação do modelo do ensino funda- segundo suas
do, quando eu educo, eu cuido. mental, criando situações nada compatíveis trabalhadoras:
situando o cuidado
Creche serve pra atender crianças de 0 a
com as características e necessidades da cri- da criança no
ança pequena(5). Este é, inclusive, um dos as- contexto educativo
6 anos, no que diz respeito a educação e
cuidados. Cuidados cada vez mais en- pectos conflitantes do Referencial Curricular
tendido como função da educação. Nacional para a Educação Infantil(3), no qual
a educação infantil é tratada, muitas vezes,
O educar pra mim é o todo, educar e cui- como ensino, utilizando terminologia e con-
dar é uma coisa só, e o objetivo mesmo teúdos disciplinares correntes nos níveis
nosso é o pedagógico em primeiro lugar.
posteriores de ensino, e o cuidado aparece
A concepção de creche como instituição como secundário.
educativa é recente na história do Brasil, pois,
As educadoras manifestaram concepção
em sua origem, no século XIX, tinha como
semelhante à das coordenadoras, destacan-
função primordial a guarda e a proteção in-
do que a realização da função pedagógica não
fantil, particularmente das crianças pobres.
pode ser cumprida caso não se propicie o bem-
A partir dos anos 70, a sociedade civil pas-
estar infantil. Assim, estas percebem o cuida-
sou a lutar organizadamente em defesa de
do como função subsidiária e de apoio ao
novas propostas para a creche e pré-escola
papel educativo do serviço.
que foram legitimadas pela Constituição Fe-
deral de 1988. A educação infantil tornou-se O princípio da creche é o bem-estar da
um dever do Estado e direito da criança, em- criança, tudo é centrado na criança. A
bora não obrigatória. O Estatuto da Criança e troca, a alimentação, o sono, como ambi-
do Adolescente (lei nº 8.069/90) e a Lei de ente confortável para a criança. Ela es-
Diretrizes e Bases da Educação (lei nº 9394/ tando limpa, bem alimentada, descansa-
da, você está criando um ambiente
96) vieram definir que as instituições para a
facilitador para poder propor um ambiente
criança de 0 a 6 anos sejam subordinadas ao
de desenvolvimento cognitivo. A nossa
órgão responsável pela educação nos muni- parte pedagógica, de linguagem, matemá-
cípios brasileiros. tica, é facilitada pelo bem-estar dela, en-
tão ela está disponível para aprender.
Uma única coordenadora apontou como
função da creche proporcionar o saber cons- Outra função destacada pelas coordenado-
tituído como saber escolar: da língua (escrita ras foi favorecer a socialização ou promover si-
e leitura), da matemática, das artes e ciências. tuações de interação social, o que entendem
De acordo com esta visão, defende-se que é como possível graças à diversidade de adultos
função da creche preparar a criança para a e crianças com as quais se dá a convivência
escolarização, oferecendo conhecimentos diária, assim como à variedade de atividades
formalizados, para favorecer seu ingresso no oferecidas. Segundo estas, a aprendizagem das
ensino fundamental. interações sociais favorece o desenvolvimento
infantil. Cabe destacar que somente uma edu-
[a creche] ensina a ler, escrever, conhe-
cer pintores. Tudo isso faz parte da edu-
cadora citou a importância da experiência da
cação pra ela chegar na primeira série com criança na creche para sua socialização.
um conhecimento que ela é capaz. [A par-
É importante a criança desde muito peque-
te educativa] são as atividades planejadas
na ir para uma escola, para uma creche, ir
previamente, pensadas, não são aleatóri-
conviver com outras crianças. Ela se soci-
as, tem um estudo posterior, qual é a faixa
aliza muito cedo, isso é o lado positivo.
etária, o que nós vamos ensinar pra ela.
Na instituição tem os amigos, vai tendo
Essa concepção surgiu na década de 80,
uma relação, experimentando outras pes-
em experiências isoladas em diversos esta-
soas, outros adultos, essa rede de co-
dos brasileiros e na literatura especializada, nhecimentos, tanto cognitivo como afetivo,
visando à superação do determinismo é fundamental.
assistencialista em vigor nas instituições de
atendimento à criança. Chamados generica-
mente de educacionais, esses novos mode-
los enfatizavam o planejamento e programa-
Esse é um aspecto de suma importância,
particularmente considerando que nos tem-
pos modernos a família tem sido definida como o
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Rev Esc Enferm USP
ção pedagógica das atividades junto às lugar da socialização primária(6). Nos últimos anos, 2003; 37(2):25-34.
porém, as pesquisas no campo da creche evi- A esse respeito, cremos ser importante
Maria De La Ó R. Veríssimo
Rosa Maria G.S. da Fonseca denciaram que os limites entre aquilo que tradici- aprofundar a reflexão acerca do que postula
onalmente era definido como socialização primá- a literatura: a creche, como serviço, tem como
ria (de incumbência da família) e socialização se- referência a família, pois
cundária (de incumbência de outras agências)
é realmente uma abstração pensar nas
estão se diluindo cada vez mais(7). Esse dado
necessidades da criança como aspectos
coloca em crise as teorias (...) que afir- separados da realidade social na qual se
mam a necessidade das crianças em ad- encontra inserida e, portanto, das neces-
quirir estruturas estáveis de socialização sidades da própria família(8).
primária antes de ampliar suas experiên-
cias e outras formas de sociabilidade (7). A vida da criança na creche
A questão da socialização precisa, então, re- Ao exporem seus conceitos sobre as fun-
ceber atenção e reflexão. ções da creche e sobre o cuidado, as coorde-
nadoras descreveram intervenções que
Um dos aspectos a estar atento é o fato julgam fundamentais para o bem-estar da
de que o processo de socialização no ambi- criança. Em todos os depoimentos, pode-se
ente institucional coletivo implica a aprendi- extrair preocupação em proporcionar as con-
zagem de normas específicas, muitas vezes dições mais adequadas e satisfatórias para a
diferentes das familiares, que precisam ser criança, quais sejam: a vivência de experiên-
analisadas sob várias óticas, inclusive a das cias prazerosas, garantia de espaço e tem-
influências sobre o desenvolvimento po para brincar. As intervenções mais des-
cognitivo e emocional. Crianças que freqüen- tacadas relacionaram-se ao processo de
tam creches vivem experiências simultâneas adaptação durante a inserção da criança
de sociabilidade na família e na creche na creche, à flexibilidade das regras e às
e,portanto, “não é possível isolar a contribui- formas de garantir a individualidade das
ção da experiência da creche no desenvolvi- crianças.
mento da criança”, bem como “a freqüência à
creche modifica, direta e indiretamente, a na- Alguns itens evidenciados como pontos-
tureza da experiência em família” (7). chave do processo de adaptação apontados
pelas coordenadoras podem ser qualificados
Finalmente, os dois grupos de trabalhado- como ações de cuidado à criança e família,
ras colocaram que a creche supre necessida- embora não tenham sido assim enunciados,
des da criança, proporcionando-lhe bem-es- e permitem a individualização do atendimen-
tar. Para algumas, a creche oferece “o que a to: 1) fase de conhecimento recíproco creche,
família não pode oferecer em virtude de suas família e criança, mediante a realização da
condições de vida”: atividades diversificadas, entrevista, reunião e exame de saúde; 2) indi-
promoção da independência, estimulação do cação de uma educadora de referência, res-
aprendizado da convivência e proteção dos ponsável por acompanhar de perto a criança
perigos da rua. Foi feita apenas uma referência e a família durante o período de adaptação;
à creche como um serviço que atende à neces- 3) entrada gradativa das crianças, permitin-
sidade da mulher trabalhadora. do maior atenção nos primeiros momentos
de sua presença na creche e 4) presença de
Foi possível constatar que toda a aten- um membro da família com a criança até que
ção do serviço está direcionada para a crian- ela adquira confiança nas educadoras.
ça, uma vez que as atividades realizadas vi-
sam atender suas necessidades, provendo Como exemplos de flexibilidade, as coor-
oportunidades de desenvolver o potencial denadoras relataram mudanças de regras, tais
infantil. É o que buscam alcançar na maneira como permitir que as crianças passassem a
como organizam o ambiente e a rotina. ter a opção de trazer um brinquedo seu todos
os dias, e a organização da rotina que prevê
Essas falas se coadunam com a idéia que as crianças possam realizar seu momen-
que vem sendo difundida atualmente, a res- to de repouso quando o necessitam. Confor-
peito da creche como direito da criança e me as coordenadoras, as estratégias utiliza-

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Rev Esc Enferm USP
não só da mãe, portanto, potencialmente
dirigida a todas as crianças e tendo como
finalidade atender suas necessidades
das durante a adaptação e a flexibilidade das
normas permitem a individualização do aten-
dimento, o que traz um sentimento de segu-
2003; 37(2): 25-34. específicas de desenvolvimento. rança, favorável também ao aprendizado ne-
cessário para lidar com as imposições da con- nomia. Mostra uma concepção de que o cres-
Funções da creche
vivência em grupo. cimento saudável não é aquele em que a pes- segundo suas
soa é poupada de todas as dificuldades, mas trabalhadoras:
Para as educadoras, as intervenções para situando o cuidado
sim ajudada a aprender a lidar com conflitos, da criança no
promover o bem-estar da criança também se porque eles fazem parte da realidade. Autono- contexto educativo
iniciam no período de adaptação. Trazer a mãe mia significa não só o direito de escolha, mas
para participar desse período, deixar a cri- também a conseqüente responsabilidade.
ança com seu objeto de apego, estabelecer
uma educadora para referência, promover São várias as situações em que as crian-
vínculo afetivo, são exemplos de como atendê- ças são estimuladas a exercitar a autonomia.
la. Da mesma forma, o momento da chegada São-lhes oferecidas opções concretas, com
da criança na creche apareceu como muito sig- garantia de que sua escolha será respeitada:
nificativo, muito importante, pois é esperado o bolo de aniversário, os ateliês e até mesmo
que a criança proteste para se despedir dos a preferência por uma educadora.
pais e até mesmo reaja à eminente separação
Desde o ano passado, a gente viu no ber-
deles. Os cuidados para acolher a criança nes- çário que a criança também elege a pes-
se momento são: recebê-la carinhosamente, soa, o adulto que irá fazer a adaptação
oferecer atividades diversifi-cadas para ela dela. E a gente tem que levar em conside-
escolher, permitir que continue o sono. Além ração, respeitar essa opinião, por menor
disso, ressaltam a importância do ritual de que ela seja, não importa. A gente pode
despedida, pois sabem que a criança precisa chegar e falar: vamos fazer a adaptação
ser informada sobre o que vai lhe acontecer e de tal criança. Só que chega no dia, a cri-
ter segurança de que a mãe ou o pai vai voltar. ança bate o olho e fica com a outra. E aí?
Você vai “não, é só com a gente”? Não, a
No cotidiano, as educadoras realizam uma outra educadora assume e faz a adapta-
série de ações que constituem intervenções ção, porque a criança se identificou mais
educativas e de cuidado, e visam favorecer o com ela.
desenvolvimento infantil. Destacam que tais Destaca-se aqui a capacidade empática das
ações não são iguais para todas as crianças, educadoras de identificar a necessidade e o dese-
pois cada uma tem suas demandas, sendo a jo individual das crianças e responder a eles ativa-
idade o primeiro fator que as diferencia, ha- mente, o que entendemos como característica de
vendo uma progressiva autonomia, conforme profissionalismo ou de cuidado profissional.
a idade aumenta. Apontam como objetivos
ajudar a criança no aprendizado sobre com- Um aspecto que também as preocupa é o de
partilhar, manter ou melhorar sua auto-estima, garantir a atenção individual dentro do cole-
e desenvolver autonomia e responsabilidade. tivo. Isto foi exemplificado com uma situação
entre uma criança e a cozinheira, destacando-se
O quanto a gente tem trabalhado esse
que a individualização do atendimento é impor-
compartilhar quando eles chegam na cre-
tante para a criança e também para a educadora,
che, no ateliê, na acolhida deles, na hora
que eles vão embora.
que diz emocionar-se, denotando o grande va-
lor que atribui a essa forma de atenção.
Me preocupa bastante trabalhar a auto-
estima da criança. Estar valorizando o Tem uma criança que gosta muito de sala-
desenho que a criança faz, reforçar a da de fruta, e a [cozinheira] falou: “eu vou
auto-estima dela. fazer salada de fruta especialmente para
você” e tinha um outro brincando lá. Ele
Os combinados começam a aparecer de registrou isso e foi no comecinho do ano. E
verdade, com significado pra eles, no se- ele gosta muito de creme de abacate, e
gundo semestre, no G2, “lembra do nos- ontem teve creme de abacate, fazia tempo
so combinado?” eles conseguem falar que não tinha. Os pais vêem no cardápio
“lembro”, eles estão tomando proprieda- que fica no corredor, aí ele foi lá falou “R.,
de disso, estão criando autonomia, fican- hoje tem creme de abacate?” ela falou “tem”.
do independentes e tomando um pouco E ele “então quando for na hora da sobre-
de responsabilidade. mesa depois do almoço, você fala pra todo

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mundo que é especialmente pra mim”, até
A preocupação de trabalhar com a crian- emociona, por conta do tempo. Já faz qua-
ça o que significa compartilhar, cooperar, res- se quatro meses. Tem essa relação tam-
peitar acordos ou combinados, também é uma bém muito próxima que tem um monte de
Rev Esc Enferm USP
forma de promover sua auto-estima e auto- coisa positiva. 2003; 37(2):25-34.
A festa de aniversário da criança é outro Para atender bem as crianças, as educa-
Maria De La Ó R. Veríssimo
Rosa Maria G.S. da Fonseca exemplo da individualização do cuidado: doras buscam formas de superar as dificul-
dades que encontram, como a escassez de
O dia do aniversário da criança é come-
brinquedos e os problemas do espaço físico,
morado na creche. Os maiores escolhem
a fim de tornar a creche um local prazeroso.
o bolo, o pai e a mãe vêm, vem a avó.
Canta parabéns para a criança e o grupo, A gente vê no nosso relato, o quanto são
é um momento muito legal, muito gostoso, grandes as dificuldades, e quanto a gen-
e a criança curte mesmo. te tem superado essas dificuldades e
transformado esse ambiente, pra criança
Esses exemplos validam que a proposta
gostar da creche.
de atendimento está sendo implementada, que
os princípios de respeito às escolhas, de pro- Finalmente, destacou-se a preocupação
moção da autonomia e de individualização do com a alimentação:
cuidado não estão presentes só no discurso,
mas também na operacionalização das ações. A alimentação aparece tanto no berçário
quanto nos maiores. Quando o bebê não
Outro aspecto fundamental é a compreensão mama, as educadoras ficam desespera-
acerca de como deve ser a relação da educadora das porque o bebê não comeu. E, no
com a criança: sem autoritarismo ou imposições. módulo 2, que as crianças deixam de co-
mer pra brincar no pátio, as educadoras
A justificativa é um fator predominante com se preocupam do mesmo jeito porque elas
relação aos limites às regras, porque tudo a estão deixando de comer também. É uma
gente sabe justificar e argumentar o por- coisa que permeia todos os grupos, inde-
que. Não é “não, e pronto”. Existem momen- pendente da idade.
tos que a criança pode decidir o que fazer.
Há momentos que não, que eu tenho o cui- Controvérsias sobre a creche
dado de planejar, de estudar, e de trazer
isso para o grupo. O momento que eu pla- O ponto mais discutido pelas educadoras
nejei e que eu pensei em todos, você acaba referiu-se à concepção de creche e suas funções.
justificando porque ela tem que fazer aqui- Num primeiro momento, colocaram que, no ima-
lo, porque seria legal ela estudar junto. ginário da população, há uma confusão sobre
essas funções, e explicaram que tal confusão
No relato seguinte, a educadora apresenta deve-se à própria história desse serviço que teve
como lidou com um problema sobre o qual ela sempre como premissa o assistencialismo.
havia comentado no encontro anterior da oficina:
A palavra creche é um pouco pejorativo,
Lembra que eu falei semana passada das é difícil de derrubar isso. A creche foi
caixas? Mudamos a rotina do meu grupo criada porque as mães precisavam tra-
com relação a essas caixas, que eles es- balhar na época, 100 anos atrás, e tinha
tavam comendo correndo, para ir brincar. que ter um local pra deixar seu filho só
Tive uma conversa de roda, para eles co- pra ser assistido fisicamente.
merem tranqüilos com calma, o que eles
gostavam de comer. Acaba de almoçar, Assim, as educadoras manifestaram que,
vai para a salinha, brincam lá, com as coi- segundo o senso comum, a creche é vista
sas que eles trazem de casa. Eles trazem como instituição que visa apenas suprir as
brinquedos, mas não têm a oportunidade necessidades de sobrevivência infantil, ou
de brincar na salinha deles, só com os seja, como uma solução para atender crian-
amigos. Ou divide com a creche inteira, ças cujos pais não podem cumprir seu papel
ou guarda. Encontramos o momento. Divi-
enquanto “os adultos que deveriam ficar com
dem com o amigo da salinha, quer ficar no
ela [a criança]”. As discrepâncias entre essa
canto sozinho fica. Enquanto isso, a edu-
visão e as propostas atualmente preconiza-
cadora da tarde vai chegando e vai cha-
das, da creche como local de educação e di-
mando aqueles que estão com sono. Quer
dizer, nem eles saíram para disputar a
reito da criança, foram representadas por elas
caixa, nem fizeram aquela construção de como um emaranhado de fios. Ao mesmo tem-
casa, que eles tinham feito. É lógico, de- po, porém, que apontaram tal visão como um
problema que enfrentam no contato com os

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pois que você constrói uma casa com uma
caixa, não vai querer sair para dormir. Se pais e com o público externo à instituição em
a gente tem essa percepção, a gente pode geral, parece que as educadoras misturam-se a
Rev Esc Enferm USP pensar e mudar direções, para o bem- esse imaginário do senso comum e também se
2003; 37(2): 25-34. estar, para melhorar. sentem confusas, de certa forma. Nesse senti-
do, enquanto definem educar como função Cabe destacar que as creches pesquisadas
Funções da creche
precípua da creche, também afirmam que é divergem dessa situação alarmante, pois vêm segundo suas
seu papel cuidar, pois “as crianças precisam construindo seu trabalho numa perspectiva trabalhadoras:
situando o cuidado
estar bem para sentirem-se dispostas a apren- e condições totalmente diversas. Por essa da criança no
der”. Por outro lado, evidencia-se que o cui- razão, as educadoras manifestam confiança contexto educativo
dado foi incorporado por elas como sinôni- de que realizam um trabalho diferenciado e
mo de assistencialismo, o que o distancia de favorável ao desenvolvimento infantil e, por
um atributo profissional. Essa idéia denota isso, gostariam que possibilidades semelhan-
carência de discussão sobre o modelo de tes fossem acessíveis a todas as crianças.
cuidado presente em cada momento da
história da creche. As educadoras apontam, ainda, como bar-
reira à compreensão da população em geral
De fato, a conotação pejorativa resulta de
uma realidade concreta em que a forma mais sobre a função educativa da creche o fato de
difundida sobre essa proposta de atendimen- que “crianças pequenas não recebem aulas”.
to infantil baseia-se numa postura assisten-
Embora as coordenadoras tenham citado
cialista, caritativa, visando à população mais
muitos pontos positivos, destacaram ques-
desfavo-recida socialmente, centrada na guar-
tões que entendem como desvantagens da
da ou abrigo da criança e nas atividades de
saúde, higiene e alimentação (1,2). Os enfoques creche para a criança: os limites à individuali-
compensatório e médico-higienista, esteios dade gerados pela divisão de tudo e porque
desse atendimento, levaram a uma série de todas as decisões se restringem pelos inte-
distorções, culminando em propostas cuja tô- resses coletivos; a permanência em período
nica, dentre outros sérios problemas, é a falta integral, considerada muito longa, especial-
de capacitação das pessoas que cuidam das mente para as crianças menores; a ausência
crianças. Ainda persiste a concepção de uma figura única de ligação afetiva.
estigmatizadora de que a creche, ao invés de
A marca do ambiente institucional é a ausên-
uma solução de boa qualidade para atender a
cia da família, mas também a divisão de tudo,
criança pequena, seja um “mal necessário”(2).
um espaço onde tudo é coletivo, até o adulto
Na verdade, grande parte das instituições ain- que cuida dele. Na casa se dividem as coi-
da tem esse caráter: em 2000, um jornal de sas, mas tem um espaço bastante individua-
grande circulação no estado de São Paulo lizado, tem uma falta de rotina regradinha, e
apresentou como uma das manchetes “Pes- uma instituição que tem 250 crianças, não dá
quisa mostra má qualidade de creches”(9), tra- para cada um comer na hora que quer. Mes-
zendo dados de uma investigação nacional mo que eu ache que eu não tenho que res-
realizada pelo Ministério da Previdência e peitar totalmente isso, mas não dá para cada
Assistência Social em parceria com o Institu- um ter vontades, não posso fazer a cozinha
to de Estudos Especiais da Pontifícia Univer- funcionar desse jeito, eu tenho um tanto de
sidade Católica de São Paulo, em 1999. Foram flexibilidade que, para algumas crianças, é
destacados os seguintes problemas: educa- uma imposição drástica.
dores recebendo baixos salários e com esco-
Eu questiono um pouco, para a criança
laridade insuficiente (no Município de São
muito pequenininha, o período integral. Eu
Paulo, apenas 14,7% dos profissionais das
sinto que, às vezes, as crianças peque-
creches públicas concluíram o ensino médio);
nas ficam um pouco cansadas. Sabe,
instalações precárias que não garantem às aquele momento de ficar no seu cantinho,
crianças condições mínimas de uso e baixo com as suas coisinhas, e aqui é tudo mui-
investimento em material pedagógico. to coletivo, na hora de comer todo mundo
Podemos afirmar que senta junto, o brinquedo é de todo mundo,
por mais que a gente tente deixar um mo-
o assistencialismo que predominou por mento de ficar na almofada quietinha, é o
longo tempo nas creches nem sempre barulho, a outra criança. Tem a rotina que
deu a devida importância à questão da tem que se seguir: agora é hora de dormir,
qualidade dos serviços prestados, agora é hora de comer, que é importante
para a criança, para ela se organizar, mas
que são
ela precisa um pouco dessa coisa indivi-
considerados favores oferecidos à po-
pulação, e os pais não têm direito a qual-
quer controle ou intervenção sobre o que
acontece com seus filhos na creche(10).
dual, de um cuidado individual, de estar
sozinha, sem precisar dividir sempre tudo,
os brinquedos, o adulto. Talvez o meio-pe-
ríodo seria o ideal.
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Essas questões evocam a idéia de que a contexto que, em função de suas carac-
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Rosa Maria G.S. da Fonseca melhor estrutura para a criança seria o mo- terísticas, oferece oportunidades espe-
delo de família nuclear, em seu próprio lar, e cíficas e complementares àquelas da fa-
que o cuidado que a criança necessita seja mília e constitui um ambiente de socializa-
ção e educação de crianças em grupo,
intrínseco a essa estrutura. Esta é uma re-
complementar à família, e não uma tenta-
presentação social construída bem recente-
tiva de reprodução do ambiente familiar,
mente na história ocidental. Estudos histó-
ricos acerca da família evidenciam seu cará- pode prever uma razão adulto-criança um
ter de instituição social dinâmica, que assu- pouco mais alta. Isso desde que se
me características e sentidos em conformi-
organizem espaços mais práticos para os
dade com os sistemas de valores, crenças e
adultos, ao mesmo tempo seguros e esti-
práticas vigentes no meio e no tempo em
mulantes para os bebês”, bem como “es-
que se constitui. tratégias que permitam às crianças rela-
cionarem-se entre si e possibilitem ao
As transformações ocorridas na família
adulto maior atenção individual às crian-
desde o período medieval até o contemporâ-
ças ou grupos que necessitem (12).
neo, mostram profundas diferenças em sua
estrutura e funções(11). Até o século XV, a fa-
mília era uma realidade moral e social mais do REFLETINDO SOBRE O
que sentimental. As crianças eram educadas e CUIDADO DA CRIANÇA
socializadas na casa de outras famílias que não NO CONTEXTO EDUCATIVO
as suas. Os moralistas e os educadores do sé-
culo XVII despertaram um sentimento da in- A legislação brasileira atual determina
fância que inspirou toda a educação até o sé- que a creche é parte integrante do sistema
culo XX: as crianças como frágeis criaturas de escolar, mas a política educacional a define
Deus que era preciso preservar e disciplinar. A como instituição educativa sem caráter esco-
literatura e a propaganda da nova ordem moral lar, enfatizando que “é no binômio educar e
ensinaram aos pais que eles eram guardiões cuidar que devem estar centradas as funções
espirituais, responsáveis perante Deus pela complementares e indissociáveis dessa ins-
alma e pelo corpo de seus filhos. A família dei- tituição”(13). Assim,
xou de ser apenas uma instituição de direito
uma estruturação escolar, por si só, não
privado para a transmissão dos bens e do nome,
dá conta da operacio-nalização de mode-
e assumiu uma função moral e espiritual, pas- los de atendimento à criança de 0 a 6 anos,
sando a formar os corpos e as almas. O cuida- com o caráter multifa-cetado que pressu-
do dispensado às crianças passou a inspirar poria a integração de ações de Saúde,
sentimentos novos, uma afetividade nova: o Educação, Assistência Social e Cultura(13).
sentimento moderno de família (11).
Como pontos principais dos resultados
Lembrando que essa formação familiar refe- aqui apresentados, verificamos o predomínio
re-se particularmente à Europa ocidental, de onde da representação de creche como ambiente
vieram nossos colonizadores, cabe destacar que educativo, ao lado de uma visão de cuidado
o discurso da família nuclear como o melhor am- como algo necessário e imprescindível, po-
biente de cuidados infantis pressupõe uma famí- rém cujo valor é inferior em termos de papel
lia idealizada, em sua estrutura e funções, o que profissional. Apesar disto, em consonância
nem sempre corresponde à realidade. Assim, é com os dados da pesquisa, as creches do
imperioso aprofundarmos a reflexão acerca de estudo caracterizam-se como instituições que
quais são efetivamente as necessidades infantis privilegiam igualmente o cuidado, embora não
para o desenvolvimento e como elas podem ser o designem explicitamente assim. Em resu-
supridas nos diferentes contextos: o familiar, o mo, o que nos permite tal conclusão: identifi-
educativo, o comunitário. camos que as regras são orientadas para a
criança e, portanto, não interpretadas rigoro-
Em relação à questão da divisão do adul- samente; a creche é um local onde a criança
to, “se a instituição quiser pautar seu atendi- pode desenvolver laços afetivos com os adul-
mento no modelo materno-substitutivo, pre-

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tos ou com outras crianças e há uma preocu-
cisa garantir o que pede a literatura norte- pação com sua tranqüilidade emocional; as
americana”, ou seja, “um adulto para cada 3 educadoras referem-se continuamente às ne-
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crianças de 0 a um ano e meio”(12). Por outro cessidades das crianças, seus desejos e an-
2003; 37(2): 25-34. lado, uma concepção de creche como um gústias, investindo seus conhecimentos e
habilidades para detectar e atender as neces- vez que há diretrizes claras acerca do objeti-
Funções da creche
sidades afetivas, as angústias da separação vo de promover a autonomia e o bem-estar segundo suas
durante a adaptação e a chegada, tentando infantil, as ações propostas são delineadas trabalhadoras:
situando o cuidado
lidar com a confusão que muitas vezes se com essa meta. Isso faz com que as ativida- da criança no
estabelece nesses momentos. des contemplem todas as necessidades das contexto educativo

crianças, ainda que as trabalhadoras não as


Assim, cabe refletir sobre as razões que estruturem segundo um referencial de pro-
levam as trabalhadoras a priorizar a função cesso de cuidados.
educativa em seu discurso.
Concordamos que a integração cuidar-
Primeiramente, verificamos a presença da educar é o núcleo do trabalho pedagógico
representação de cuidado como fenômeno com a criança pequena(8) e permite consoli-
que não é socialmente reconhecido como tra- dar a responsabilização pela criança. A cre-
balho(14). Essa representação decorre de que che assume, em parceria com a família, a for-
o cuidado com o corpo da criança implica um mação da criança, a transformação do ser na-
trabalho manual, que vem sendo realizado em tural em um ser social, um cidadão. Assim,
toda história da humanidade como atividade uma alternativa para essa questão é pensar a
simplesmente prática, segundo bases definição da creche como “um contexto de
empíricas e culturalmente associado a uma vida num espaço educativo”(8), ou como “um
tarefa naturalmente feminina e doméstica ten- ambiente de cuidado e educação num con-
do, portanto, menor valor social. Por outro texto educativo”(16). Para que essas defini-
lado, percebemos que a busca de reconheci- ções se concretizem, defendemos a contribui-
mento social quanto ao trabalho realizado, ção da Enfermagem na construção de um
especialmente para as educadoras, encontra marco referencial que fundamente, dê segu-
resposta na possibilidade de serem conside- rança e valorize para a equipe da creche suas
radas professoras, o que elevaria seu status. ações de cuidado, fortalecendo a idéia do
Também contribui para essa representação a “cuidado como elo entre a saúde e a educa-
atual situação político-legal brasileira que ção”(15).
definiu a creche e a pré-escola como institui-
ções de Educação Infantil, que compõem a Tal proposta sustenta-se na compreensão
Educação Básica juntamente com o Ensino de que: ser cuidada é uma necessidade primor-
Fundamental. Por fim, na trajetória para a dial da criança; é através do cuidado que o ser
construção da nova definição para a creche se torna humano; e que “o cuidado entra na
muitas vezes tem-se rejeitado qualquer as- natureza e na constituição do ser humano”(17).
pecto assistencial e de cuidado como resquí- A inserção da criança pequena em qualquer ins-
cios da visão caritativa e assistencialista(15) tituição torna essa instituição co-responsável
que se quer degredar. por sua socialização, educação e cuidados.
Assim, ainda que o equipamento seja educaci-
Uma explicação para que o cuidado reali- onal, como é o caso das creches e pré-escolas,
zado seja de boa qualidade é a perspectiva o instrumental da pedagogia não é suficiente
educacional defendida nessas creches. Uma para que se cumpram todas as suas funções.

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1999.

Recebido: 06/06/2002
Aprovado: 04/06/2003

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