Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
1 - GERMINAÇÃO DO PENSAMENTO DE PAULO FREIRE - Paulo Rosas foi consultor na UEPB para
a implantação de Curso de Mestrado em Educação. Ex-professor da Escola de Serviço Social de
Pernambuco e da UFPE . Colaborou com Paulo Freire no SESI e no MCP.
2 - O TEMPO EM QUE A OBRA DE FREIRE NASCEU - Sonia Alem Marrach é professora de História
da Educação Brasileira na Universidade Estadual Paulista (UNESP) no campus de Marília (SP).
8 - EDUCAÇÃO E MUDANÇA - Jorge Werthein é representante das Nações Unidas, Diretor Oficial da
UNESCO em Nova York e Washington, D.C.
11 - EDUCAÇÃO CONTRA A LOUCURA - Alfredo Moffat é psicólogo social e Diretor do Hospital de Vida
em Buenos Aires. É autor do livro Terapia do oprimido.
22 - PAULO FREIRE E A EDUCAÇÃO RELIGIOSA - John L. Elias é professor no Trenton State College,
New Jersey, EUA. In: Revista Religious Education, Vol. LXXXI, nº 1., Jan/Fev. de 1976, p. 40-56).
24 - POR QUE AS REFORMAS NÃO REFORMAM? - Herbert Kohl, editor da revista Hungry Mind
Review - a midwestern book review. In: Hungry Mind Review, nº 13, março de 1990, pp. 24-25).
31 - PSICANÁLISE E PAULO FREIRE - Cecília Montag Hirchzon e Melany Copit são professoras da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
32 - PAULO FREIRE NAS MINHAS AULAS - Seth Chaiklin é professor do Instituto de Psicologia da
Universidade de Aarhus, Risskov, Dinamarca.
34 - VOLTA AO SER HUMANO COMPLETO - Ladislau Dowbor, é doutor em Ciências Econômicas pela
Universidade de Varsóvia, professor titular da PUC de São Paulo e do Instituto Metodista de Ensino
Superior, autor, entre outros livros, de O que é poder local.
37 - PAULO FREIRE E A PEDAGOGIA CRÍTICA - Kyu Hwan Lee é Professor Emérito no Departamento
de Educação na Ewha Womans University, Seul e diretor do Instituto de Pesquisa em Educação na
Coréia.
40 - O DIÁLOGO: UM ITINERÁRIO COMUM - Marcos Edgar Bassi, Eliseu Muniz dos Santos e João
Raimundo Alves dos Santos, são mestrandos em educação da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo e membros do Núcleo de Engenharia da Formação do Instituto Paulo Freire.
44 - DAS CRIANÇAS PARA LÁ DAS SETE MONTANHAS E MARES - Jürgen Zimmer é professor do
Instituto de Educação Intercultural da Universidade Livre de Berlim e membro do Comitê Executivo da
ICEA (Associação Internacional de Educação Comunitária).
2 - O SR. SABE O QUE ESTÁ FALANDO? - Paulo de Tarso Santos, advogado, foi Ministro
da Educação de João Goulart e Secretário de Educação do Estado de São Paulo no Governo
de Franco Montoro.
5 - PAULO FREIRE: 1964-1969 - Sua passagem pelo Chile e o Chile pelo qual passou
-Guillermo Willianson C., educador chileno, trabalhou no Ministério da Educação do Chile na
coordenação da recente experiência chamada de “Programa das 900 escolas”.
13 - TANGO E PAULO FREIRE - Carta a Moacir Gadotti, Carlos Alberto Torres, um dos
maiores estudiosos de Paulo Freire, é diretor do Latin American Center da Universidade da
Califórnia, Los Angeles, e diretor do Instituto Paulo Freire.
16 - DEZ ANOS DE CONVERSAS, Claudius Ceccon foi um dos fundadores do IDAC (Instituto
de Ação Cultural). É Secretário executivo, no Rio de Janeiro, do Centro de Criação de Imagem
Popular. In: Jornal do Brasil, Caderno "Idéias: livros & ensaios", Rio de Janeiro, 2 de Janeiro de
1992 - nº 327, p. 8).
22 - CONVIVENDO COM PAULO FREIRE - Uma experiência inusitada, Ana Maria Saul é
professora do Curso de Pós-graduação em Educação (Supervisão e Currículo) da PUC-SP. Foi
diretora do Departamento de Orientação Técnica na Secretaria Municipal de Educação de São
Paulo durante a gestão de Paulo Freire.
23 - MOMENTOS QUE NÃO DÁ PARA ESQUECER, Maria Stela Santos Graciani, professora
e coordenadora do Núlceo de Trabalhos Comunitários da Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo e autora do livro Pedagogia do educador social de rua. É Presidente do Conselho
Municipal de Direitos da Criança e Adolescente do Município de São Paulo.
1 - A EXPERIÊNCIA DE BRASÍLIA
A experiência do método Paulo Freire em Brasília teve início quando Paulo de Tarso, Ministro
de Educação e Cultura, instituiu junto ao seu gabinete a Comissão Nacional de Cultura Popular
com o objetivo de “implantar em âmbito nacional novos sistemas educacionais de cunho
eminentemente popular, de modo a abranger áreas não atingidas pelos benefícios da
educação” (Portaria Ministerial nº 195, de 8/7/63). Essa comissão, presidida por Paulo Freire,
seria o passo inicial dado pelo MEC para a implantação do Plano Nacional de Alfabetização.
Dias depois, outro ato legal - a Portaria Ministerial nº235, de 29/07/63 - cria a Comissão
Regional de Cultura Popular do Distrito Federal, com o propósito de desenvolver e avaliar
experiências de alfabetização em Brasília pelo método Paulo Freire, cujos resultados
determinariam a conveniência de adoção do método em nível nacional, através do Plano
Nacional de Alfabetização.
A experiência, que se estendeu até 31 de março de 1964, foi desenvolvida nas cidades-
satélites do Gama, Sobradinho, Candangolândia, Núcleo Bandeirante, Setor de Límpeza
Pública, entre outros, onde eram instalados os Círculos de Cultura em pequenas igrejas,
galpões ou escolas, com auxílio do próprio grupo interessado, funcionando muitos à luz de
lampiões e com mobiliário improvisado com recursos da própria comunidade.
A preparação dos animadores dos Círculos da Cultura esteve a cargo do MEC, que
promovia a seleção, a inscrição e os cursos de treinamento (Correio Braziliense, 19/07/63).
Para esse treinamento, dado por técnicos vindos de Recife e pertencentes à equipe de Paulo
Freire, o pré-requisito de escolaridade exigido era o de 2º Ciclo.
Um fato curioso que se pode relatar é que a escassez de pessoas com nível de
instrução de 2º Ciclo - à época, Brasília contava com raríssimos estabelecimentos desse nível
de ensino - levou o grupo executor da experiência a recrutar para função de coordenador
pessoas já alfabetizadas pelo método, montando-se assim um esquema de participação em
que os próprios concluintes do curso ou da escola primária regular se alistavam para os postos
de coordenação.
Uma vez apresentada a palavra, a essa era associada uma situação que originava uma
discussão ente o grupo. Assim, à palavra tijolo correspondia como situação um grupo de
pedreirosnuma construção de Brasília, levantando uma parede. Estudados os fonemas
consonânticos correspondentes às letras t, j e l, acompanhados das vogais i e o, esses eram
associados às vogais a, e e u, levando o alfabetizando a formar novas sílabras. Num Círculo de
Cultura de Sobradinho, um dos alfabetizandos, na decomposição fonêmica da palavra tijolo,
demonstrou ter aprendido o mecanismo da leitura ao juntar as sílabas e formar a frase: “tu ja le
“(que, no Português gramaticalmente aceito, seria “tu já lês”). Esse momento, testemunhado
por autoridades do MEC que visitavam o círculo, foi registrado em seqüência fotográfica pelo
fotógrafo que acompanhava o ministro Paulo de Tarso. Essa circunstância, segundo alguns
depoimentos, de tal forma impressionou o ministro que o levou a considerar como válida a
experiência, cujos resultados ele próprio tivera a oportunidade de avaliar pessoalmente. O
resultado prático da visita foi a instituição do método Paulo Freire em nível nacional, através do
Plano Nacional de Alfabetização de Adultos, pelo Decreto nº 53.465, de 21 de janeiro de 1964.
Outro exemplo que se pode acrescentar como significativo na experiência de Brasília é
o que diz respeito à palavra Sobradinho. Esta palavra pretendia introduzir os fonemas
consonânticos correspondentes às letras s, br, d e nh, apresentando como situação a ser
discutida uma ilustração representada por um ônibus com a placa “Sobradinho”, que é uma
cidade-satélite de Brasíla. Durante a discussão que se seguiu, sobre a palavra e sobre a cidade
de Sobradinho e sua função no contexto de Brasília, um dos participantes sentenciou: “nós
também somos satélite”.
Início
Foi esta a resposta que me deu Paulo Freire quando eu, Ministro da Educação do
Governo Goulart, o convidei a vir para Brasília, com o fim de coordenar, em nível nacional, seu
programa de educação popular. Tal programa se tornara conhecido no nordeste, a partir do
Projeto Angicos, no Rio Grande do Norte.
Nessa época, quem defendeu Paulo Freire foi nada menos que o Diretor Interino da da
USAID (United States Agency for International Development), James W. Howe. Este diplomata
afirmou, na ocasião, que “o Projeto Angicos, no Rio Grande do Norte, estava longe de ser uma
campanha maciça de alfabetização... já que atingia apenas cerca de 300 adultos”.
Mas na verdade o que eu propus a Paulo Freire, como Ministro da Educação, foi
realmente uma ampliação, em nível nacional, da experiência de Angicos. O objetivo era a
multiplicação, por todo o país, dos chamados “Centros de Cultura”, a partir de uma experiência
piloto que deveria abranger toda a população analfabeta de Brasília.
Mas convém voltar à carta do Sr. Howe para localizar indicações que assinalam a
evolução de Paulo Freire, de Angicos até a sistemática formulação da Pedagogia do oprimido.
Vejamos dois tópicos do texto dirigido ao jornalista Swann, que era, naquela ocasião, membro
da Embaixada dos Estados Unidos: “Sua coluna pode levar alguém à conclusão de que ensinar
pessoas a ler é ruim porque as leva à doutrinação... Em realidade, o método Paulo Freire,
como qualquer outra técnica de ensino não política, prepararia o indivíduo para ser influenciado
por qualquer escola de pensamento político”.
Por exemplo, Paulo Freire sempre insistiu em que não existe “técnica de ensino não
política”. E isso porque as técnicas assim rotuladas, na verdade correspondem a manifestações
“conservadoras”, que indicam a solidariedade da escola com as demais instituições, em suas
respectivas sociedades.
Além disso, Paulo Freire caminhou não para uma pedagogia dos homens em geral, fora
de qualquer contexto social. Sua meta sempre foi a de formular uma pedagogia do oprimido,
num contexto de convivência em sociedade.
Mas meus encontros com Paulo, no exílio chileno, no Brasil post-exílio, ou na Europa,
levam a outras perspectivas de análise de seu pensamento educacional que eu pude
acompanhar de perto, em múltiplas experiências.
Vivemos uma impressão, ainda hoje muito presente em minha memória, quando um
candango, observando o quadro e a palavra - chave Tijolo foi capaz de compor uma nova
junção de sílabas, concatenando a frase “Tu-Ja-Le”.
Inúmeros documentos foram escritos então por nós que trabalhávamos no ICIRA,
procurando definir os contornos de um processo educacional novo, inspirados - muitos deles -
no pensamento de Paulo Freire.
Mas não terminaram aí meus vínculos educacionais com Paulo Freire. Dele recebi, de
presente, o livro de Guimarães Rosa “Grande Sertão Veredas”, cuja leitura, atenta e renovada,
tanto me impressiou que cheguei a escrever um livro sobre o “Grande Sertão”, fiz questão de
afirmar na introdução: “devo a sugestão da primeira leitura ( do “Grande Sertão”) ao prof. Paulo
Freire”.
Detalhe significativo: o exemplar que me fora dado havia sido por ele lido na prisão e no
exílio e trazia duas inscrições: “Olinda. Prisão e Saudade. Desespero Não. Setembro de 1964”.
E a outra: “La Paz. Exílio e Saudade. Desespero não. Outubro de 64”.
O livro, que guardo como relíquia, traz a assinatura de mais de 50 exilados, alguns dos
quais foram seus companheiros de prisão.
Devo mencionar que essa minha leitura inicial do livro de Guimarães Rosa foi feita à luz
de algumas categorias teóricas de Paulo Freire. Cito um trecho de “O diálogo no Grande Sertão
Veredas”: “Assim, minha primeira atitude, frente ao Grande Sertão, foi a de quem havia
encontrado um imenso filão para o estudo da cultura de uma parcela da populaçãp brasileira. E
Rosa surgia, aí, como uma espécie de pesquisador, genial e metódico, que teria baseado sua
obra em prévio e amplo estudo empírico”. Posteriormente, fui levado a matizar essas
afirmações: “Contatos posteriores com amigos de Guimarães Rosa e estudiosos de sua obra
reduziram essa primeira impressão a proporções mais realistas: no Grande Sertão há mais do
poder criador de Rosa, que de investigação científica”.
Mas, tocado, cada vez mais, pela leitura do Grande Sertão, passei a fichar o livro de
acordo com aquelas categorias que discutira com Paulo Freire, no Chile: a consciência de si,
do outro e do mundo, em Riobaldo e mais a utopia e a contra-utopia, no Grande Sertão.
Como está dito no livro que venho citando: “a ‘ficha da descoberta’, que longamente
comentada com Paulo Freire, deu motivo a este trabalho, é a que transcreveu o que diz
Riobaldo, à pagina 96 do Grande Sertão” (3a ed. Liv.José Olimpio Editora, 1963).
Na verdade, essa “ficha da descoberta”, elogiada por Paulo Freire, constitue um dos
textos lapidares de Rosa que, descodificado, permite encontrar todas as características
essenciais do diálogo: “o senhor me ouve, pensa e repensa, e rediz e então me ajuda”.
Por outro lado, o “ouvir”supõe a humildade de reconhecer que o outro pode estar
dizendo coisas importantes, mesmo que não sejam eruditas. Já o “pensar e repensar” é uma
reflexão sobre a palavra do outro, à luz da cultura do interlocutor. E quando o interlocutor
“rediz” isso já implica numa síntese das culturas dos dois sujeitos do diálogo.
Felizmente, meus encontros com Paulo Freire foram sempre dialógicos e neles eu
sempre estive mais preocupado em ouvir, pensar e repensar. E quando pude “redizer” eu o fiz
na esperança de contribuir, nos meus limites, para o desdobrar das concepções novas do
magistral criador da “Educação como Prática da Liberdade”.
Início
Pierre Furter
Uma outra noite com outras circunstâncias: Arraes era agora candidato à Presidência;
Paulo Freire tinha chegado a Aracaju para dinamizar mais uma vez a Campanha Nacional de
Alfabetização. No batepapo noturno geral, os seus assessores comentavam não sei que
fofocas com o MEB dos bispos ou o MCP dos camaradas... Pouco a pouco pareceu claramente
que a Campanha tinha um apoio oficial porque se pensava que uma rápida alfabetização podia
modificar radicalmente a composição do corpo eleitoral num país em que os analfabetos eram
marginalizados por lei de qualquer processo de eleição. Ainda que hoje ache eu que este
desafío estava certo, no entanto esta noite, na minha ingenuidade helvética, discordei
violentamente desta opção política: parecia-me contraditória com um projeto de uma
conscientização popular para uma democratização autêntica. O embate entre uma visão
radicalmente utópica e uma exigência imediata para a tomada do poder terminou mal: as
tensões foram tão fortes que cada um se fechou na sua frustração solitária.
Início
Meu interesse pelo Método Paulo Freire de alfabetização de adultos data dos meados de 1963.
Já um pouco antes ficara sabendo, pelos noticiários da imprensa, primeiro, que havia um
método, recém-elaborado, que alfabetizava em cerca de 40 horas e, segundo, que esta
eficiência possibilitava verdadeira revolução no curso da velha batalha nacional contra o
analfabetismo. No momento dei pouca importância às informações: mais um "milagre", pensei,
e destinado à vala comum das panacéias vez por outra anunciadas para os problemas de
educação popular. Logo percebi que estava enganado. O método de Paulo Freire era coisa
realmente séria.
Meus primeiros contatos com a prática do método ocorreram por força de atribuições
docentes, no antigo CRPE (Centro Regional de Pesquisas Educacionais) Professor Queiroz
Filho. Na época, alguns jovens pernambucanos, ex-alunos de Paulo Freire e meus orientandos
no Seminário de Treinamento de Pessoal em Pesquisas Educacionais, ao selecionarem o
objeto de sua "pesquisa de treinamento", optaram pelo estudo de uma experiência de
alfabetização de adultos que estava para ser iniciada em Vila Helena Maria, no município
paulista de Osasco. Era a "experiência piloto" de alfabetização de adultos da União Estadual de
Estudantes e seria realizada mediante o emprego do método de Paulo Freire. A escolha do
tema não fora aleatória. Era natural que jovens formados no Recife procurassem acompanhar o
desenvolvimento dos trabalhos realizados sob a orientação do método elaborado por um ex-
professor. E, por outro lado, um desses bolsistas, funcionário da Secretaria da Educação do
Estado do Rio Grande do Norte, atuara no Programa de Alfabetização promovido pelo Governo
Aluízio Alves e, aqui em São Paulo, vincula-se ao movimento de alfabetização então iniciado
pela União Estadual de Estudantes. Acolhi a decisão do grupo e, enquanto orientador da
"pesquisa de treinamento", fui levado a acompanhar de perto os preparativos da experiência e
o desenvolvimento dos trabalhos de alfabetização.
Em julho desse mesmo ano, o professor Laerte Ramos de Carvalho, diretor do CRPE,
incentivou-me a viajar para o Estado do Rio Grande do Norte, em companhia de alguns outros
colegas da instituição, a fim de obtermos informações sobre a campanha de alfabetização que
aí se desenvolvia sob a supervisão direta de Paulo Freire. Favoravelmente impressionado pelo
que já pudera conhecer sobre as idéias e as atividades do educador pernambucano, o
professor Laerte acreditava que o método talvez viesse a contribuir para a superação das
"bobagens" que então dominavam a prática da educação de adultos analfabetos no país.
A partir dos meados de 1970 pude finalmente dedicar-me à redação do estudo que apresentei
como tese de doutoramento, em 1972. Deveria ter sido um estudo sobre o método de Paulo
Freire. Era este, aliás, o projeto inicial. Contrariando estas intenções, entre as muitas perguntas
que viera formulando nos anos anteriores, algumas, mais gerais e não elucidadas na precária
bibliografia então disponível, impuseram-se à minha atenção e de certo modo forçaram a
alteração do projeto. Estas perguntas giravam em torno de questões tais como: as conexões
entre a educação popular e o processo de desenvolvimento; os fundamentos da crença
generalizada nas virtualidades desenvolvimentistas da educação popular; as origens dos
movimentos de educação em massa; as razões do descrédito que envolvia o "ensino supletivo"
realizado no âmbito do sistema escolar estadual; as causas do "processo de ritualização" do
"ensino supletivo"; por que o método de Paulo Freire era diferente e o que explicava sua
inegável capacidade de arregimentação dos universitários para o trabalho educativo, etc. Como
não poderia deixar de acontecer, tendo em conta a variedade das questões aí envolvidas e a
escassez de trabalhos a propósito do assunto, impunha-se de início uma investigação geral e
preliminar, destinada mais ao levantamento de problemas para futuras pesquisas do que à
discussão, em profundidade, de uma ou outra dentre as muitas indagações relevantes no
estudo da educação popular. Era necessário situar as origens e as vicissitudes das idéias, da
legislação e das práticas da educação de adultos no âmbito de outros processos ideológicos e
jurídico-políticos mais abrangentes. Sob o meu ponto de vista, o que estava investigando era
apenas uma introdução ao estudo que pretendia realizar.
Tudo tem seu tempo. O estudo sobre o método de Paulo Freire foi sendo adiado para
outras oportunidades. Os anos foram passando e somente agora creio estar atendendo aos
compromissos então assumidos com o saudoso mestre e amigo Laerte Ramos de Carvalho e
com os companheiros de aventuras na prática da educação popular.
CANÇÃO ÓBVIA
“Escolhi a sombra de uma árvore para meditar
Paulo Freire
PAULO FREIRE