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Origens das orientações da pesquisa educacional na

Faculdade de Educação da USP

Celso de Rui Beisiegel


Universidade de São Paulo

Apresentada originalmente na mesa-re- dade de Direito, a Escola Politécnica, a Escola


donda preparada em 2003 para a recepção aos Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, a
novos alunos da graduação em Pedagogia, esta Faculdade de Medicina e o Instituto de Edu-
incompleta e modesta exposição é dedicada cação. (Antunha, 1974, p. 85)1
aos companheiros de viagem na Faculdade de Em estudo sobre a fundação e a reforma
Educação da Universidade de São Paulo. Foi da Universidade de São Paulo, Heladio Antunha
preparada a partir da convicção de que a iden- informa que o Instituto de Educação realizava
tidade construída na história de uma instituição parcialmente um antigo projeto de criação de
é importante na formação intelectual e moral uma faculdade de educação em São Paulo. Datava
de seus servidores. Atendendo à distribuição dos primeiros anos da segunda década do sécu-
das tarefas da mesa-redonda entre os colegas lo a discussão sobre a conveniência e a possibi-
da faculdade, a exposição focalizou a questão lidade de criação de uma escola superior de es-
das origens das orientações da pesquisa. Mas é tudos pedagógicos especializados e de aperfeiço-
evidente que as observações poderiam esten- amento para professores e administradores esco-
der-se também às orientações das atividades no lares, ou de “aperfeiçoamento pedagógico dos
ensino e na extensão universitária. professores e disseminação da cultura geral”
Algumas instituições contribuíram para (Ibid., p. 98-99). O autor acompanha o percur-
a definição das primeiras orientações da pes- so do Instituto de Educação desde suas origens,
quisa educacional na Faculdade de Educação. ainda como curso de nível médio na Escola Nor-
Por ordem de antigüidade, aparece em primei- mal da Praça, até o nível superior. O processo de
ro lugar o antigo e efêmero Instituto de Edu- criação do Instituto de Educação começou quan-
cação, que por sua vez aponta para suas ori- do o Decreto estadual nº 4.888, de 12 de feve-
gens na Escola Normal Secundária da praça da reiro de 1931, criou “na antiga Escola Normal da
República. Depois, registra-se a presença deci- Praça, que então passa a denominar-se de Insti-
siva da Faculdade de Filosofia, Ciências e Le- tuto Pedagógico”, um Curso de Aperfeiçoamen-
tras, criada em 1934, no âmbito do processo de to, como órgão de preparação técnica para ins-
fundação da Universidade de São Paulo, para petores, delegados de ensino, diretores de esta-
constituir-se na espinha dorsal da nova univer- belecimentos e professores do curso normal. Esse
sidade. O Centro Regional de Pesquisas Educa- Instituto Pedagógico, transformado, em 1933, no
cionais (CRPE) de São Paulo, criado em 1956, Instituto de Educação, seria incorporado, no ano
e o Colégio de Aplicação da Faculdade de Fi- seguinte, à Universidade de São Paulo.
losofia, Ciências e Letras, criado no ano se-
guinte, completam a relação das mais impor- Encerrou-se o processo, finalmente, com a
tantes. extinção do Instituto de Educação e a sua con-
O Decreto de fundação da Universidade versão, em 1938, na Seção de Educação da Fa-
de São Paulo (Decreto estadual nº 6.283, de 25 culdade de Filosofia, depois transformada em
de janeiro de 1934) criou a Faculdade de Filo-
sofia, Ciências e Letras e determinou que fica- 1. O autor informa que a Escola de Medicina Veterinária existente foi
vam incorporados à nova universidade a Facul- extinta, criando-se logo em seguida outra em seu lugar.

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Seção de Pedagogia e mais recentemente em Embora defendesse a necessidade de
Departamento de Educação. (...) Finalmente muitos anos de escolaridade para todos os bra-
(com a Reforma de 1970), e com o desdobra- sileiros, pois dessa instrução dependeriam não só
mento da antiga Faculdade de Filosofia, consti- a qualidade da vida social, a democracia e a
tuiu-se a Faculdade de Educação (voltando-se à capacidade produtiva do povo, mas também a
denominação de 1920), à base da antiga Seção de própria integridade nacional, ameaçada pelo
Pedagogia, ou melhor, do antigo Departamento de melhor nível de instrução das legiões de imigran-
Educação, que a sucedeu. (Antunha, 1974) tes estrangeiros, Sampaio Dória, na conhecida
carta aberta que, ainda em 1918, enviou em res-
Os primeiros ocupantes dos cargos do- posta a Oscar Thompson, propunha que o Esta-
centes do Instituto de Educação eram antigos do estendesse somente para dois anos a escola-
professores do curso normal na Escola Normal ridade gratuita a todos. Recomendava, portanto,
da Praça. Entre eles encontravam-se, nas pala- a fixação do curso primário em dois anos; a pro-
vras de Antunha, “algumas das figuras mais moção automática da primeira para a segunda
expressivas e mais respeitáveis da educação série, com eliminação ao fim da segunda, e, no
paulista”. Fernando de Azevedo, Almeida Júnior, fim do ano letivo, o pagamento aos professores
Noemy da Silveira Rudolfer, Roldão Lopes de de uma gratificação proporcional ao número de
Barros, Milton da Silva Rodrigues, entre outros, alunos alfabetizados (Beisiegel, 1999).
vinculavam as preocupações e os estudos edu- O educador defendia bem mais do que
cacionais agora realizados na Faculdade de Fi- quatro anos de instrução primária para todos. Mas,
losofia à tradição de estudos e reflexões que considerando a inexistência de recursos, “não sen-
marcaram as primeiras décadas do século na do possível, imediatamente, elevar o povo brasilei-
Escola Normal da Praça. Cabe destacar, como ro a um nível de educação ideal,” dever-se-ia “agir
expressões pioneiras na definição dessa tradição de forma progressiva, promovendo-se, inicialmente,
de estudos, as contribuições de Antonio Sampaio a alfabetização popular. O governo do povo, pelo
Dória, Manuel Bergstrom Lourenço Filho e povo e para o povo, tem a sua legitimidade na
Fernando de Azevedo. educação mesma do povo” (Ibid.).
São antecessores ilustres. A Reforma da Inspirada nessas idéias e conduzida
Instrução Pública de 1920, de Sampaio Dória, pelo próprio Sampaio Dória, a reforma da ins-
constituiu-se na primeira afirmação radical da trução pública de 1920 teve curta duração.
necessidade de levar a instrução básica a todas Mas deixou registrada na história da educação
as crianças do estado de São Paulo. Nessa épo- da República a afirmação da absoluta necessi-
ca, calculava-se em cerca de 250 mil, isto é, em dade de estender a instrução primária para
mais ou menos a metade da população em ida- todas as crianças em idade escolar.
de escolar, o número de crianças ainda não Lourenço Filho diplomou-se na Escola
alcançadas pela escola primária. Nos meios po- Normal Primária de Pirassununga, em 1914. Pou-
líticos discutia-se a criação de um “imposto co tempo depois, em 1917, obteve novo diploma
escolar”. Mas o governo do Estado entendia que de professor, agora na Escola Normal Secundária
a população não aceitaria aumentos na carga da Praça. Para manter-se, trabalhou na redação
tributária. O Diretor da Instrução Pública, Oscar do Jornal do Comércio (edição de São Paulo) e
Thompson, em carta circular na qual solicitava na Revista do Brasil, então dirigida por Monteiro
sugestões para a solução do problema do anal- Lobato. Como auxiliar e depois secretário de
fabetismo, perguntava aos destinatários como Lobato, conheceu numerosos intelectuais. Foi
seria possível estender o ensino primário a to- também redator de O Estado de S. Paulo, onde
das as crianças sem aumento dos recursos conviveu com Júlio de Mesquita, Júlio de Mes-
públicos destinados à instrução popular. quita Filho, Nestor Rangel Pestana e Plínio Barreto

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(Lourenço Filho, 1996). Discípulo dileto de tal aos jovens e adultos analfabetos. Em 1947,
Sampaio Dória, seria indicado, pelo mestre, em iniciou e coordenou a Campanha de Educação
1920, para assumir, como substituto, a cadeira de de Adultos, inaugurando a inserção da alfabe-
Pedagogia e Educação Cívica na Escola Normal tização de jovens e adultos nas políticas públi-
Primária anexa à Escola Normal da Praça. Em cas do Estado. Signatário do Manifesto dos
1921, foi nomeado professor da Cadeira de Pioneiros da Educação, de 1932, destacou-se
Psicologia e Pedagogia da Escola Normal de como notável defensor e divulgador do pensa-
Piracicaba. Logo em seguida, por solicitação do mento comprometido com a renovação educa-
governo do Ceará e por indicação do governo de cional do país.
São Paulo, assumiu a Direção da Instrução Pública Quando o Instituto de Educação foi in-
daquele estado, aí permanecendo até 1923. Após corporado à Universidade de São Paulo, Fernando
reassumir sua cadeira na Escola Normal de Pira- de Azevedo já era um dos educadores mais pres-
cicaba, foi nomeado, em 1925, para a cadeira de tigiados do país. Fora o responsável pela reforma
Psicologia e Pedagogia da Escola Normal Secun- do ensino no Distrito Federal. Redigira o “Mani-
dária da Praça, onde permaneceu até novembro de festo dos Pioneiros da Educação Nova”. Logo em
1931. Em outubro de 1930, foi nomeado Diretor seguida, teria importante participação na funda-
Geral da Instrução do estado de São Paulo. Em 19 ção da Universidade de São Paulo.
de dezembro de 1931, transferiu-se para o Rio de O Manifesto continha posições inegavel-
Janeiro, para assumir a chefia de gabinete do Mi- mente avançadas. Para os educadores empenha-
nistério da Educação e Saúde. dos na construção de um sistema de ensino mais
É importante salientar que Lourenço justo, respeitadas as diferenças de época e de
Filho viveu os primeiros tempos de sua forma- conjuntura, muito do que defendia continua
ção intelectual no âmbito de um movimento tendo validade, ou como afirmação de valores e
radical de afirmação da necessidade de educa- objetivos a serem alcançados ou como orienta-
ção para todos (Beisiegel, 1999). Tratava-se, até ções para a realização da pesquisa educacional.
então, de estender o ensino fundamental a to- O próprio relator o entendia como um divisor de
das as crianças. As necessidades educacionais de águas da opinião pública e dos educadores entre
jovens e adultos não-escolarizados deveriam es- duas correntes, “a do pensamento conservador,
perar ainda pouco mais de uma década para co- se não reacionário, e a dos renovadores” (Aze-
meçarem a despertar a atenção dos responsáveis vedo, 1958, p. 55). Essa orientação renovado-
pela política educacional do Estado brasileiro. ra estava presente, entre muitos outros itens, na
Lourenço Filho teve atuação relevante afirmação das finalidades da educação nova,
em quase todos os setores da educação nacio- como “uma reação categórica, intencional e sis-
nal por um longo período, desde os primeiros temática contra a velha estrutura do serviço
anos da década de 1920. Suas contribuições educacional (...)”, uma educação nova que, dei-
para a definição de campos de pesquisa na área xando de servir aos interesses de classes,
da educação foram amplas e diversificadas.
Pelo maior alcance, cabe destacar sua partici- a que tem servido, (...) deixa de constituir um
pação na criação e na direção do Instituto privilégio determinado pela condição econômi-
Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP). Em ca e social do indivíduo, para assumir um “ca-
boa parte como conseqüência dos estudos pro- ráter biológico”, com que ela se organiza para
movidos pelo INEP e atendendo às preocupa- a coletividade em geral, reconhecendo a todo o
ções despertadas pelo recenseamento geral do indivíduo o direito a ser educado até onde o
país, Lourenço Filho, já a partir dos primeiros permitam as suas aptidões naturais, indepen-
anos da década de 1940, começou a articular dentemente de razões de ordem econômica e
o projeto de extensão da educação fundamen- social. (Azevedo, 1958, p. 64)

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Como decorrência da defesa desse direi- termos do Decreto nº 6.283, de fundação da Uni-
to de cada indivíduo à sua educação integral, versidade de São Paulo. No estudo sobre as con-
impunha-se ao Estado o “dever de considerar a cepções que orientaram a criação da nova uni-
educação, na variedade de seus graus e manifes- versidade, Antunha atribui especial importância à
tações, como uma função social e eminentemente idéia de construir a Universidade de São Paulo
pública, que ele é chamado a rea-lizar, com a com base numa Faculdade de Filosofia, Ciências
colaboração de todas as instituições sociais” (Ibid., e Letras, encarregada do cultivo de todos os ra-
p. 66). Ainda como decorrência dessa concepção mos do saber, da promoção do ensino das disci-
de educação, defendia a laicidade, que situa a plinas de caráter não-utilitário, da realização de
escola acima de crenças e disputas religiosas; a pesquisas científicas e altos estudos de caráter de-
gratuidade, extensiva a todas as instituições ofi- sinteressado, de realizar cursos básicos de disci-
ciais de educação e a obrigatoriedade, que por plinas comuns a outros institutos universitários e
falta de escolas ainda não se realizava nem no de colaborar na formação de professores. Ainda
ensino primário, mas que deveria estender-se pro- segundo Heladio Antunha, nesses momentos ini-
gressivamente até aos dezoito anos, uma idade ciais de implantação, “a peculiar concepção dos
conciliável com o trabalho produtor. objetivos e das funções integradoras da Faculda-
Entre muitos outros aspectos de grande de de Filosofia é que dava ao modelo paulista a
interesse para a reflexão e a pesquisa no campo sua característica própria e inconfundível”
educacional, o Manifesto tratava da questão (Antunha, 1974, p. 87).
crucial do planejamento da reconstrução educaci- Mas, sob o ponto de vista da formação
onal. Apontava, antes de tudo, para a necessida- das orientações da pesquisa, talvez a mais impor-
de de corrigir a “falta de continuidade e articula- tante das decisões sobre a organização da nova
ção do ensino, em seus diversos graus, como se escola tenha sido a de contratar professores es-
não fossem etapas de um mesmo processo...”. A trangeiros para iniciar, na Faculdade de Filosofia,
escola primária deveria articular-se com uma edu- “sem os impedimentos do regime de cátedras, o
cação secundária unificada, com base comum de estudo das disciplinas ainda não consolidadas no
três anos, que deixaria de ser “a velha escola de um país”. Foi possível, assim, aprofundar na universi-
grupo social”, para ser um “aparelho flexível e vivo, dade a construção de uma tradição de pesquisas
organizado para ministrar a cultura geral e satisfa- e de altos estudos, “com a conseqüente formação
zer às necessidades práticas de adaptação à vari- de um novo quadro de intelectuais e de especia-
edade dos grupos sociais”. Defendia, ainda, a ne- listas de alto gabarito” (Ibid., p. 45).2 A instituição
cessidade de “uma reforma integral da organiza- do tempo integral, a valorização dos laboratórios
ção e dos métodos de toda a educação nacional”, e o cuidado na constituição das bibliotecas univer-
para substituir o conceito estático do ensino por sitárias, entre outras medidas, favoreceram a forma-
um conceito dinâmico, que apontasse, “desde o ção de hábitos de trabalho intelectual e o cultivo
jardim de infância até à universidade, não à dos procedimentos da pesquisa científica.
receptividade mas à atividade criadora do aluno”
(Ibid., p. 72). 2. O autor relaciona os professores estrangeiros que lecionaram na FFCL
Fernando de Azevedo continuaria a atu- no período anterior à guerra. Incluem-se, entre eles, Luiggi Fantappié, Gleb
ar na definição das orientações das pesquisas edu- Wataghin, Heinrich Reinboldt, Ettore Onorato, Felix Rawistscher, Ernest
Breslau, Pierre Deffontaines, Michel Berveiller, Robert Garric, Francesco
cacionais da Feusp também durante suas ativida- Piccolo, Paul-Arbousse Bastide, Claude Lévi-Strauss, Edgard Otto Gotsch,
des na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras e Francisco Rebelo Gonçalves, Pierre Hourcade, Jean Maugué, Pierre
Monbeig, Fernand Braudel, Ernest Marcus, Paul Shaw, François Perroux,
no Centro Regional de Pesquisas Educacionais, que Luigi Galvani, Giuseppe Ungaretti, George Readers, Ottorino de Fiore di
dirigiu entre 1956 e 1961. Cropani, Heinrich Hauptmann, Roger Bastide, Jean Gagé, Pierre Froment,
Atilio Venturi, Fidelino de Figueiredo, Alfred Bonzon informa, ainda, que o
A Faculdade de Filosofia, Ciências e Le- fluxo de professores, praticamente interrompido com a guerra, prosseguiu
tras foi criada em 25 de janeiro de 1934, nos depois de 1945, embora com menor intensidade.

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Após 1938, o Departamento de Educação, cinco centros regionais de pesquisas educacionais,
em que fora transformado o antigo Instituto de sediados, respectivamente, em Recife, Salvador, Belo
Educação, funcionou na FFCL como responsável Horizonte, Porto Alegre e São Paulo.
pelo curso de Pedagogia e pela formação pedagó- O Decreto 38.460 consolidava um pro-
gica dos cursos de licenciatura, até a reforma de jeto amadurecido ao longo de muitos anos por
1970. Durante todo esse período, seus professores Anísio Teixeira. Desde sua permanência no car-
e alunos puderam integrar-se plenamente no cli- go de Secretário da Educação na Bahia, entre
ma de trabalho intelectual e na tradição de rigor 1947 e 1950, e especialmente após sua nome-
acadêmico que marcaram a Faculdade de Filoso- ação para a direção do INEP, em 1952, Anísio
fia desde o início de suas atividades. Teixeira vinha incentivando a realização de pes-
Data desses primeiros tempos a constitui- quisas com a intenção explícita de colocá-las a
ção dos três departamentos que, com algumas serviço da renovação educacional do país. De
alterações, continuam a responder pelas ativida- acordo com Márcia dos Santos Ferreira (2001,
des da Faculdade de Educação. O Guia da Facul- p.18), enquanto secretário na Bahia, criou a
dade de Filosofia, Ciências e Letras da USP (Filo- Divisão de Pesquisas do Departamento de Edu-
sofia e Educação), de 1966, relata a origem dos cação e Cultura da Secretaria e a Fundação para
atuais departamentos, ainda na Escola Normal da o Desenvolvimento da Ciência na Bahia, órgãos
Praça. Os estudos de Administração Escolar, Legis- que possibilitaram a realização de importante
lação Escolar e Educação Comparada foram ini- intercâmbio com a Universidade de Colúmbia,
ciados regularmente no Instituto de Educação com a colaboração dos etnólogos Charles
sob a orientação de Roldão Lopes de Barros, Wagley e Eduardo Galvão, que alguns anos mais
conjugados com os estudos de Estatística Educa- tarde participariam ativamente na criação e na
cional, conduzidos por Milton da Silva Rodrigues. implantação dos centros de pesquisas educa-
A Orientação Educacional incluía-se na cadeira de cionais. Outros intelectuais e educadores, em di-
Administração Escolar e Educação Comparada até ferentes momentos, participaram na discussão e
1961, quando passou a constituir-se em disciplina na elaboração do projeto (Ibid.).4 As repetidas
autônoma do Departamento de Educação. afirmações de Anísio a propósito dos centros de
A cadeira de História e Filosofia da pesquisa como instrumentos da renovação edu-
Educação, igualmente instituída no antigo Ins- cacional do país reencontravam, agora, cerca de
tituto de Educação, teve em Roldão Lopes de vinte anos depois, os ideais já advogados pelo
Barros seu primeiro titular. educador ao lado dos “Pioneiros da Educação
O guia informa ainda que os estudos Nova” no Manifesto de 1932.
no campo da didática também foram iniciados Criado em maio de 1956 e instalado
no Instituto de Educação (ainda Instituto Pe- no mês seguinte, em prédio originalmente des-
dagógico) em 1936, no curso de Formação Pe- tinado pelo MEC a um Centro Regional de
dagógica do Professor Secundário, destinado
exclusivamente aos licenciandos da Faculdade
3. Em 1948, a cadeira foi assumida pelo professor José Querino Ribeiro.
de Filosofia da USP.3 A cadeira de Filosofia e História da Educação foi assumida pelo professor
O Centro Regional de Pesquisas Educacio- Laerte Ramos de Carvalho em 1951. Em 1942, por transferência de dis-
nais (CRPE) de São Paulo foi criado em 22 de maio ciplina afim (Metodologia do Ensino Primário), a cadeira de Didática foi
assumida pelo professor Onofre de Arruda Penteado Júnior. Em 1961, a
de 1956, nos termos de um convênio celebrado disciplina de Orientação Educacional passou a ser regida pela professora
entre o Ministério da Educação e Cultura e a reito- Maria José Garcia Werebe. (Universidade de São Paulo, 1966, p. 32-33.)
4. Além dos já mencionados Charles Wagley e Eduardo Brandão, a pesqui-
ria da Universidade de São Paulo. Antes disso, o De- sadora relaciona, entre outros colaboradores, Almir de Castro, João Roberto
creto 38.460, de 28 de dezembro de 1955, havia Moreira, Armando Hildebrand, Carl Withers, Paulo Carneiro, Delgado de
Carvalho, Francisco Montojos, Jayme Abreu, R. Atcon, Frederico Rangel,
instituído o Centro Brasileiro de Pesquisas Educa- Marvin Harris, Aroaldo J. Aires, Henry Laurentie, Otávio Martins, Otto
cionais (CBPE), com sede no Rio de Janeiro, e mais Klinenberg, Bertram Hutchinson, Florestan Fernandes, L. A Costa Pinto.

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Aperfeiçoamento do Magistério, o CRPE/SP teve permutar comunicações, para manter-se atualiza-
Fernando de Azevedo como seu primeiro dire- do sobre os progressos realizados no país e no
tor. O novo órgão acompanhava os objetivos exterior nesse domínio de estudos e atividades
fixados para o Centro Brasileiro: (Ferreira, 2001, p. 29). Esse plano, fixado em ja-
neiro de 1957, formalizava programação que em
1. pesquisa das condições culturais e escola- boa parte já vinha sendo seguida nas divisões do
res e das tendências de desenvolvimento de CRPE. Em correspondência dirigida a Fernando de
cada região e da sociedade brasileira como Azevedo, em 24 de outubro de 1956, Anísio
um todo, para o efeito de conseguir-se a ela- Teixeira já havia delineado as orientações dos
boração gradual de uma política educacional trabalhos do Centro para os anos seguintes.
para o país; Nessa carta, Anísio Teixeira expunha
2. elaboração de planos, recomendações e suas idéias a respeito da pesquisa educacional
sugestões para a revisão e a reconstrução e dos trabalhos que deveriam ser empreendidos
educacional do país  em cada região  pelo CRPE. Começava por recomendar a neces-
nos níveis primário, médio, e superior e no sidade de transmitir,
setor de educação de adultos;
3. elaboração de livros de fontes e de textos, a todo o sistema escolar, da classe à sala do dire-
preparo de material de ensino, estudos espe- tor, a idéia de que todo esse imenso aparelho é
ciais sobre administração escolar, currículos, um aparelho de coleta e registro de fatos; que
psicologia educacional, medidas escolares, tais fatos constituem a matéria-prima para a pes-
formação de mestres e sobre quaisquer ou- quisa, e que, portanto, se forem melhoradas as
tros temas que concorram para o aperfeiçoa- formas de registro dos fatos e os mesmos se fize-
mento do magistério nacional; rem cumulativos – na escola e na classe – encon-
4. treinamento e aperfeiçoamento de admi- trará sempre um material abundantíssimo para o
nistradores escolares, orientadores educacio- estudo dos alunos, dos métodos e do conteúdo do
nais, especialistas de educação e professores ensino. Isso posto, um dos primeiros trabalhos-
de escolas normais e primárias. raiz do Centro seria o preparo de formulário e fi-
chas para o registro de fatos escolares. Substituir
De acordo com o “Plano de Organização o espírito puramente estatístico ou, se quiser,
do CRPE de São Paulo”, (Ferreira, 2001, p.29) quantitativo dos registros escolares, pelo qualita-
para atender a esses objetivos, o Centro propu- tivo. Haveria então uma ficha do aluno, desenvol-
nha-se a empreender e financiar levantamentos, vida e cumulativa, que nos daria a história do
inquéritos e pesquisas educacionais e sociais; aluno na escola. Uma ficha idêntica do professor.
promover experiências e demonstrações práticas E, possivelmente, outra de fatos escolares, algo
de novas técnicas de ensino em suas escolas ex- como o diário de bordo de um navio. Com esses
perimentais; contribuir para a complementação da três documentos, teríamos sempre um conjunto de
formação, o aperfeiçoamento e a especialização fatos seguidos e, repito, acumulados, isto é, lon-
dos professores diplomados pelas escolas nor- gitudinais sobre o aluno, o professor e a escola:
mais; aproveitar os resultados das pesquisas para verdadeiro tesouro para pesquisas de toda espécie.
o aperfeiçoamento das reformas educacionais em Segundo – Além da acumulação desse material, o
andamento e para o planejamento da reconstru- professor e o diretor da escola seriam instruídos de
ção educacional do país; procurar esclarecer pro- que eles sempre se poderiam dirigir ao Centro para
fessores, diretores e inspetores de escolas sobre os estudar problemas que lhes tivessem surgido e que
problemas de educação, por meio de publicações não tivessem capacidade de resolver. Deste modo,
ou diretamente, atendendo a pedidos e consul- não seriam apenas coletores de fatos, mas pes-
tas; divulgar os trabalhos científicos realizados e soas que estariam refletindo sobre esses fatos e

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sentindo os problemas que eles suscitavam. E as- acervo do CRPE foi incorporado ao patrimônio
sim estariam fazendo parte do grande corpo de da Faculdade de Educação.
pesquisadores educacionais em que se deve trans- O Colégio de Aplicação da FFCL com-
formar toda a profissão do magistério. pleta o quadro institucional considerado nesta
Terceiro – Por sua vez, o Centro não deveria ser exposição.
apenas um foco de pesquisas, mas, um núcleo de Criado em 13 de março de 1957, por
preparação de material de ensino, compreendido convênio celebrado entre a Faculdade de Filo-
nesta expressão, tudo que fossem recursos mate- sofia e a Secretaria de Educação do Estado, o
riais para a educação, desde livros, de texto e de Colégio, como centro de experimentação e
fontes (...). (Ferreira, 2001, p. 178-179)5 demonstração pedagógica, visava a promover
ensaios de renovação pedagógica do ensino
Comprometido acima de tudo com a secundário; estágios de observação e prática de
reconstrução da escola pública no país, o pro- ensino, estudos e investigações pedagógicas de
grama então proposto por Anísio vinculava os professores e alunos da Faculdade de Filosofia;
estudos e as pesquisas da instituição às neces- e aperfeiçoamento de professores do ensino
sidades sociais na área da educação. Os primei- secundário. (USP, 1966, p. 42)
ros trabalhos inicia-dos e desenvolvidos pelas O Colégio de Aplicação mantinha um
divisões do CRPE cor-responderam, na medida Serviço de Orientação Pedagógica e um Serviço
do possível, a essas orientações. A nova insti- de Orientação Educacional, que atendiam à prá-
tuição apoiou a realização de um levantamen- tica de ensino dos alunos das licenciaturas e à
to do ensino normal. Sua Divisão de Estudos prática em orientação educacional dos alunos
Sociais promoveu um amplo levantamento do do curso de Pedagogia. Os serviços respondiam
ensino primário. A Divisão de Estudos Educaci- pela orientação pedagógica e educacional dos
onais iniciou pesquisas para a elaboração de alunos do próprio Colégio e promoviam estudos
uma “ficha de observação do aluno” e de uma e pesquisas nos respectivos campos de atuação.
“escala de escolaridade” (Ferreira, 2001, p. 62, Muitos professores da Faculdade, sobretudo no
64 e 170). Essas orientações prevaleceram du- Departamento de Metodologia do Ensino e Edu-
rante a gestão de Fernando de Azevedo, que se cação Comparada, foram recrutados entre os do-
estendeu até maio de 1961. Nesse ano, com a centes do Colégio de Aplicação.
renovação do convênio entre o MEC e a USP, A partir de 1970, a transformação do
a Direção do Centro foi atribuída a Laerte Ra- antigo Departamento de Educação da Faculdade
mos de Carvalho, que então dirigia o Departa- de Filosofia na atual Faculdade de Educação, a
mento de Educação da FFCL. No ano seguin- institucionalização da pós-graduação e a amplia-
te, o Departamento de Educação e o Curso de ção das atividades de ensino, pesquisa e extensão
Pedagogia passaram a fun-cionar nas instala- universitária resultaram em considerável aumento
ções do CRPE. Funcionando no mesmo prédio do número de docentes e favoreceram as tendên-
e dirigidas pelo mesmo professor, as duas ins- cias à progressiva diversificação de campos de
tituições estreitaram bastante suas relações. Nos trabalho e especialização dos pesquisadores. A
anos seguintes, houve progressiva participação instituição dos concursos públicos como instru-
de professores do Departamento de Educação mento de seleção de candidatos à docência na
nos cursos e atividades do CRPE e, depois, Universidade intensificou a diversificação das ori-
diversos pesquisadores do Centro foram contra- gens dos novos quadros da Faculdade. Constituí-
tados por diferentes setores do Departamento
de Educação da FFCL. Em 1976, com a conclu-
5. A autora informa que essa carta encontra-se reproduzida no livro
são do demorado processo de extinção dos organizado por Diana Vidal, Na batalha da educação: correspondência entre
centros de pesquisas educacionais do INEP, o Anísio Teixeira e Fernando de Azevedo (1929-1971) .

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ram-se novos grupos de pesquisa, com associação um “ethos” acadêmico solidamente assentado nas
de pesquisadores da Feusp a colegas de outras raízes da instituição.
unidades universitárias do estado, do país e do Não obstante a atual multiplicação de
exterior. Nesse período, muitos professores da campos de interesse, a diversificação das filiações
Faculdade de Educação aprofundaram a interação intelectuais e o crescente aprofundamento das
com docentes de outras unidades da USP, de especialidades, as marcas de origem na Faculdade
outras universidades e dos sistemas federal, esta- de Filosofia continuam presentes nos hábitos de
dual e municipal de ensino. Com maior velocida- trabalho e na permanente exigência de rigor nas
de, a partir dos últimos anos da década de 1980, investigações. Ao mesmo tempo, guardadas as di-
intensificaram-se os contatos com universidades ferenças de tempo e de circunstâncias, é razoável
do exterior. A inserção internacional da Faculdade afirmar-se que a Feusp continua ao menos par-
cresceu significativamente, com ativa interação cialmente fiel às orientações de seus precursores.
dos pesquisadores com colegas e instituições es- Continua sendo intensa e significativa a participa-
trangeiras, sobretudo em Portugal, Espanha, Fran- ção de professores da Faculdade na orientação e
ça, Inglaterra, Alemanha, Itália, Estados Unidos, na condução de políticas públicas de educação no
Japão, Cidade do Vaticano e, especialmente, paí- país, no estado e em numerosos municípios. Em
ses da América Latina. Nesse quadro de multiplica- parte significativa das pesquisas e dos estudos rea-
ção dos contatos, de diversificação das eventuais lizados na Faculdade, reencontram-se orientações
fontes de referências e de crescente especialização e preocupações identificadas com os valores da
das áreas de estudos e pesquisas, aumentaram con- educação democrática. Há, nesses trabalhos, um
sideravelmente também as alternativas de orienta- claro compromisso com a educação pública. E, à
ção intelectual dos docentes e de influência na medida que a escola pública vai-se identificando
definição dos respectivos campos de investigação. principalmente com a educação das grandes mas-
Percebe-se, porém, que pelo menos uma sas populares, numerosos estudos, pesquisas e
parte dos estudos e pesquisas realizados pelos atividades da instituição passaram a orientar-se para
professores da Faculdade ainda tende a preservar os imensos desafios colocados pela educação
um núcleo de características comuns, algo como popular, em todos os níveis do ensino.

Referências bibliográficas

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BEISIEGEL, C. R. Lourenço Filho e a educação popular no Brasil. In: PILETTI, N. (Org.) A atualidade de Lourenço Filho. São Paulo:
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FERREIRA, M. S. O Centro Regional de Pesquisas Educacionais de São Paulo (1956/1961). 2001, 195p. Dissertação
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VIDAL, D. (Org.) Na batalha de educação: correspondência entre Anísio Teixeira e Fernando de Azevedo (1929-1971). Bragança
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Celso de Rui Beisiegel é Professor Titular da Faculd ade de Educação da Universidade de São Paulo.

364 Celso R. BEISIEGEL. Origens das orientações da pesquisa educacional...

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