Vous êtes sur la page 1sur 14

APELAÇÃO CÍVEL N° 439.

885-6
3ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE CASCAVEL

APELANTE: NÓRDICA VEÍCULOS S/A.


APELADA: VIAÇÃO NOSSA SENHORA
DE MEDIANEIRA LTDA.
RELATOR: DES. LUIZ LOPES

APELAÇÃO CÍVEL – INDENIZAÇÃO POR


DANOS MATERIAIS E MORAIS –
CONTRATO DE LOCAÇÃO DE COLETIVO
CELEBRADO POR LONGO PERÍODO E COM
VALOR ELEVADO, CUJA EXISTÊNCIA
DEMANDA A PRODUÇÃO DE PROVA
PERICIAL REQUERIDA PELA RÉ – PROVA
EXCLUSIVAMENTE TESTEMUNHAL –
VEDAÇÃO DO ARTIGO 401, DO CÓDIGO
DE PROCESSO CIVIL.
PRIMEIRO AGRAVO RETIDO PROVIDO.
SEGUNDO AGRAVO RETIDO E RECURSO DE
APELAÇÃO PREJUDICADOS.
1 – Se a celebração do contrato de
locação de coletivo entre a autora e
terceira pessoa, é matéria
especificamente impugnada nos autos, não
podendo ser tida como incontroversa,
configura cerceamento de defesa o
indeferimento de prova pericial
requerida pela ré, a ser realizada na
Apelação Cível N° 439.885-6 2
contabilidade da requerente, para que a
existência da avença pudesse ser
demonstrada.
2 - Não é o caso de se concluir pela
existência do pacto, apenas porque o
mesmo foi reconhecido pela prova oral
colhida, diante do óbice contido no
artigo 401, do Código de Processo Civil,
sendo certo que o artigo 402, I, do
mesmo diploma legal é expresso ao
estabelecer que é admissível a prova
testemunhal, qualquer que seja o valor
do contrato, quando houver começo de
prova por escrito, reputando-se tal o
documento emanado da parte contra quem
se pretende utilizá-lo como prova, o que
não é o caso dos autos, donde permanece
o obstáculo supra-referido.
3 – A determinação de perícia contábil
se mostra mais evidente porque não é
crível que tenha sido celebrada uma
avença em valor expressivo, com uma
sociedade empresária que estava passando
por dificuldades financeiras, tanto que
teve sua falência decretada à época, e
que as partes não tenham, no mínimo,
feito um controle dos quilômetros
rodados, já que teria sido acordado o
preço de R$ 1,00 por quilômetro rodado,
bem como o controle das despesas de
combustível e de manutenção do veículo,
as quais, segundo alega a própria
autora, seriam abatidas do valor do
fretamento final.
Apelação Cível N° 439.885-6 3

VISTOS, relatados e discutidos os


presentes autos de Apelação Cível nº 439.885-6, da
3ª Vara Cível da Comarca de CASCAVEL, em que é
apelante NÓRDICA VEÍCULOS S/A., e apelada VIAÇÃO
NOSSA SENHORA DE MEDIANEIRA LTDA.

Trata a espécie de ação de


indenização por danos materiais e morais, em
virtude da atitude da ré que teria movido, de forma
inadvertida, ação de reintegração de posse em face
da autora.
O feito seguiu seus trâmites
normais, com produção de prova oral, sobrevindo
sentença de procedência parcial do pedido, para o
fim de condenar a ré ao pagamento de indenização
por danos materiais, apenas, cujo valor deve ser
apurado em sede de liquidação de sentença, até o
limite de R$ 437.000,00 (quatrocentos e trinta e
sete mil reais), em valores de 22.03.2000, pelas
despesas que teve em fretar/alugar um ônibus da
empresa Transportes e Turismo Pawitur Ltda. para
substituir, no serviço de transporte de
passageiros, o ônibus de propriedade da autora que
ficou apreendido nos autos sob nº 737/1996, de
Reintegração de Posse, no período de 12.07.96 a
22.12.97. Determinou, ainda, que a liquidação fosse
por artigos, cabendo à parte vencedora provar: a
Apelação Cível N° 439.885-6 4
identificação do ônibus fretado; b) a quantidade de
quilômetros rodados entre a apreensão e a liberação
do ônibus; c) o valor ajustado de aluguel/frete
para cada quilômetro rodado; d) se tiver feito, o
pagamento da dívida gerada por esse contrato de
arrendamento/aluguel. A correção monetária sobre o
valor apurado incidirá a partir de 22.03.00, medida
pela média do IGP-DI e do INPC, sendo que os juros
de mora contar-se-ão da citação, ocorrida em
27.10.00. Considerando que houve sucumbência
recíproca, condenou cada parte no pagamento de
metade das custas processuais e, quanto a verba
honorária, determinou que cada qual suportasse os
honorários do seu respectivo advogado.
Insatisfeita, a ré apela a este
Tribunal, aduzindo, preliminarmente, que deve ser
conhecido o agravo retido interposto às fls.
131/138, contra a decisão que indeferiu a produção
de prova pericial contábil nos registros e livros
da apelada e da empresa Pawitur LTda, cujo objetivo
era verificar a existência ou não de contrato de
aluguel/fretamento firmado entre elas, bem como o
pagamento das quantias contratadas; e o interposto
à fl. 203, da decisão proferida em audiência de
Instrução e Julgamento, que ouviu o Sr. Clóvis
Augusto Maciel Leme como informante, sem tomar-lhe
o compromisso. Ainda, em preliminar, aduz que a
sentença é nula, por dois motivos: o primeiro
porque houve cerceamento de defesa, e o segundo
Apelação Cível N° 439.885-6 5
porque houve julgamento extra petita, pois o pedido
formulado foi exclusivamente fundamentado na
responsabilidade subjetiva, mas a sentença baseou-
se somente na responsabilidade objetiva. No mérito,
sustenta que inexiste ato ilícito, e que agiu no
exercício regular de um direito, pois diante da
inadimplência da apelante, notificou-a
extrajudicialmente e, como ela permaneceu inerte,
de acordo com o previsto na cláusula 6ª do contrato
de compra e venda com reserva de domínio, ingressou
com ação de reintegração de posse, sendo certo que
em momento algum, até a presente data, ficou
comprovado o pagamento dos valores devidos.
Ademais, a apelada tinha conhecimento dos termos do
contrato de compra e venda que previa a
reintegração de posse; estava ciente do equívoco no
cumprimento da liminar, que recaiu sobre o bem dado
em garantia e não sobre o bem vendido e não pago; e
era a maior interessada em ficar com ele para que
continuasse na sua frota, mas em momento algum
denunciou tal fato nos autos de reintegração de
posse. Por outro lado, não foi comprovada a
existência de um contrato de aluguel/fretamento
entre a apelada e a empresa Pawitur, nem o
pagamento efetivo do valor decorrente do contrato,
sendo certo que a intuição do Magistrado não é meio
de prova e também diante da regra do artigo 401, do
Código de Processo Civil. Argumenta, também, que
apenas exerceu seu direito em buscar seu crédito,
Apelação Cível N° 439.885-6 6
provocado por culpa exclusiva da apelada, que
deixou de efetuar o pagamento de algumas parcelas
decorrentes da aquisição de veículo, sustentando
que a privação do bem dado em garantia e não
daquele vendido, decorreu de um ato do Estado-Juiz
que, após analisar o pedido formulado na inicial, e
todos os documentos acostados, por livre
convencimento, concedeu a liminar reintegratória.
Segue afirmando que o pedido inicial foi certo e
determinado, razão pela qual deveria ser observado
o disposto no artigo 460, do CPC. Ainda, é
incabível a liquidação por artigos, pois não há
nenhuma alegação e prova nova a ser analisada capaz
de autorizar esta modalidade de liquidação. Mesmo
que cabível esta liquidação, eventual condenação
somente poderá cingir-se aos prejuízos decorrentes
dos danos efetivamente sofridos. Por fim,
considerando que a apelada não sofreu nenhum
prejuízo efetivo até o presente momento, pois foi
reconhecido na própria sentença que não efetuou
qualquer pagamento a Pawuitur, a correção monetária
deverá incidir a partir da data em que houver o
efetivo pagamento, sob pena de locupletamento
ilícito, o mesmo valendo para os juros moratórios.
Contra-arrazoando o recurso, a
apelada pugna pela manutenção da decisão recorrida.
A suplicante apresentou, ainda,
recurso adesivo que não foi recebido pelo Juízo a
quo, ante o reconhecimento da deserção.
Apelação Cível N° 439.885-6 7

É o relatório.

Presentes os pressupostos de
admissibilidade, conheço dos recursos.
Impõe analisar, primeiramente, o
Agravo Retido interposto às fls. 131/138, da
decisão que indeferiu a produção de prova pericial
requerida pela ré, ora agravante.
Pretende a autora, com a presente
demanda, o recebimento da quantia de R$ 437.000,00
(quatrocentos e trinta e sete mil reais) a qual,
segundo alega, diz respeito à locação de um
coletivo nas mesmas condições daquele apreendido
inadvertidamente pela ré, aduzindo que ajustou
referida locação com a Pawitur Turismo, ficando
acertado o valor de R$ 1,00 (um real) o quilômetro
rodado, ou o valor da época do acerto, se maior,
ficando estabelecido, ainda, que ela, suplicante,
arcaria com as despesas de combustível e manutenção
do veículo e que, posteriormente, todos os valores
despendidos a tais títulos seriam abatidos do valor
do fretamento no acerto final.
Como prova do referido contrato,
trouxe a requerente aos autos dois documentos (fls.
31/32), emitidos por Transportes e Turismo Pawitur
Ltda., vazados nos seguintes termos,
respectivamente:
Apelação Cível N° 439.885-6 8
“Vimos através desta notificá-lo, pois
consta em aberto pagamento do serviço de fretamento
efetuado por esta empresa entre os meses de Julho de
1.996 a Dezembro de 1.997.
Conforme o combinado, este pagamento
deveria ter sido efetuado até o início do ano de
2.000.
Aproveitando a oportunidade, estamos
enviando o recibo solicitado, a fim de que possa
efetuar o mencionado reembolso, ressalvado que tal
recibo não vale como quitação da dívida.”

Ainda:

“Recebi a importância de R$ 437.000,00


(Quatrocentos e trinta e sete mil reais) por
serviços prestados para viação Nossa Senhora de
Medianeira Ltda no período de 15 de julho de 1996 a
31 de dezembro de 1997.”

A requerida, na peça contestatória,


rebateu de forma veemente a existência do referido
contrato, fazendo referência, inclusive, ao
documento de fl. 100, o qual, segundo ela, “dá a
certeza de que nunca existiu locação”, aduzindo,
ainda, que, “apesar de não pairar qualquer dúvida
acerca da inexistência da locação de veículo ou
pagamento de valores entre a autora e a empresa
Pawitur Turismo, o que se retira da simples análise
dos autos, as razões que traz a ora ré poderão
ainda ser confirmadas através de prova pericial
Apelação Cível N° 439.885-6 9
técnica contábil naquelas duas empresas (autora e
Pawitur), o que desde logo se requer”.
Ocorre, todavia, que o MM. Juiz a
quo, ao fixar os pontos controvertidos, indeferiu a
produção de prova pericial, cuja decisão está sendo
desafiada no presente agravo retido, nos seguintes
termos:

“3 – A prova pericial pleiteada pela


requerida, não é de ser realizada. O objetivo da
realização da prova é a existência de um contrato
firmado entre as partes, cuja prova, sem olvidar dos
relevantes argumentos colocados no petitório de fls.
108/109, não é hábil a comprovar os fatos mediante
realização de perícia. Além disso, porque a
celebração de contrato entre as partes é matéria
incontroversa, sendo que eventual pagamento não se
comprova mediante prova pericial e sim mediante
quitação. Por tudo isso, indefiro a realização da
prova pericial.”

Primeiramente, é de se ver que não


haveria que se falar em quitação, como fez o MM.
Juiz Singular, pois, ao fazer um cotejo entre os
documentos de fls. 31/32 dos autos, se percebe
claramente que o recibo só foi emitido pró-forma,
sem que tenha havido pagamento.
Ademais, a celebração do contrato
entre as partes, data venia, jamais poderia ser
considerada incontroversa, pois, como visto, salta
Apelação Cível N° 439.885-6 10
aos olhos que houve impugnação à existência do
contrato.
Destarte, assistia total razão à ré
ao pretender a produção de prova pericial, a ser
realizada na contabilidade da requerente, para que
pudesse ser demonstrada a efetiva existência de
qualquer contrato firmado entre as partes.
Não é o caso de se concluir pela
existência do pacto, apenas porque o mesmo foi
reconhecido pela prova oral colhida, diante do
óbice contido no artigo 401, do Código de Processo
Civil.
A jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça é pacífica quanto ao tema,
consoante se infere dos seguintes julgados:

Compra e venda de imóvel. Prova


exclusivamente testemunhal. Cabimento.
Artigo 401 do Código de Processo Civil.
Prova do adimplemento do contrato e não
da existência do contrato. Precedentes.
- A jurisprudência deste Tribunal se
firmou no sentido de que a prova
exclusivamente testemunhal é admitida
para a demonstração do cumprimento de
obrigações contratuais, não admitindo o
artigo 401 do CPC tal prova tão-somente
quando o objetivo for comprovar a
existência do contrato em si.
Apelação Cível N° 439.885-6 11
(STJ – 3ª Turma, AgRg no Ag 487413/GO,
relatora Ministra Nancy Andrighi).

Poder-se-ia argumentar que haveria


um início de prova por escrito, consistente nos
documentos de fls. 31/32, acima transcritos, donde
seria admissível a prova testemunhal
independentemente do valor do contrato, na forma do
artigo 402, I, do Código de Processo Civil.
Todavia, referida regra é expressa
ao estabelecer que é admissível a prova
testemunhal, qualquer que seja o valor do contrato,
quando houver começo de prova por escrito,
reputando-se tal o documento emanado da parte
contra quem se pretende utilizá-lo como prova, o
que não é o caso dos autos, porque os documentos
trazidos pela autora foram confeccionados pela
Pawitur, donde permanece o obstáculo do artigo 401,
supra-referido.
Confira-se:

CIVIL. LOCAÇÃO. AÇÃO DE DESPEJO POR


FALTA DE PAGAMENTO. CONTESTAÇÃO DO
PEDIDO. LOCATÁRIO. PURGAÇÃO DA MORA.
DEPÓSITO COMPLEMENTAR. INTIMAÇÃO.
DESCABIMENTO. PROVA EXCLUSIVAMENTE
TESTEMUNHAL. ART. 401 E 402, I, DO CPC.
INDEFERIMENTO. POSSIBILIDADE.
I – Omissis.
II – Omissis.
Apelação Cível N° 439.885-6 12
III – Não padece de ilegalidade a
decisão do juiz que indefere a produção
de prova exclusivamente testemunhal ao
constatar que o valor do contrato de
locação excede o décuplo do valor do
salário mínimo (art. 130 c/c 401, CPC).
IV – É admissível a prova testemunhal,
qualquer que seja o valor do contrato,
quando houver começo de prova escrita,
reputando-se tal o documento emanado da
parte contra quem se pretende utilizá-lo
como prova (art. 402, I, CPC). Alterar a
conclusão do julgado que se fundamenta
na inexistência de início de prova
material, demandaria o reexame do acervo
fático-probatório, providência
incompatível com a instância especial.
(Súmula 7/STJ).
Recurso especial conhecido em parte, e,
nesta parte, desprovido.

(STJ – 5ª Turma, Resp. nº 725914/MS,


relator Ministro Felix Fischer).

O entendimento doutrinário, a
respeito da interpretação desta regra, é no
seguinte sentido:

Começo de prova é qualquer documento


escrito pela pessoa contra quem se quer
fazer prova do contrato (ou escrito por
aquela que a representa) cujo teor torna
verossímil ou crível que o contrato
Apelação Cível N° 439.885-6 13
realmente existe (v.g., uma carta,
telegrama ou bilhete dirigido a
terceiro, em que a parte, contra quem se
quer fazer prova do contrato, refere
expressamente a sua existência)...
(in Código de Processo Civil
Interpretado e Anotado, editora Manole,
Costa Machado, pág. 767, edição 2006).

Assim, diante do cerceamento de


defesa, impõe dar provimento ao Agravo Retido, na
forma pleiteada no item I, do apelo, para que seja
realizada perícia contábil nos documentos da
suplicante, a fim de demonstrar a existência do
contrato, máxime in casu, onde não é crível que
tenha sido celebrada uma avença no valor de R$
437.000,00 (quatrocentos e trinta e sete mil
reais), com uma sociedade empresária que estava
passando por dificuldades financeiras, tanto que
teve sua falência decretada à época (fls. 100/101),
e que as partes não tenham, no mínimo, feito um
controle dos quilômetros rodados, já que teria sido
acordado o preço de R$ 1,00 por quilômetro rodado,
bem como o controle das despesas de combustível e
de manutenção do veículo, as quais, segundo alega a
própria autora, seriam abatidas do valor do
fretamento final.
Não é o caso de remeter a análise
de tal matéria à liquidação de sentença, porque o
que está em discussão é a existência do próprio
Apelação Cível N° 439.885-6 14
contrato, cuja comprovação, pelos critérios atrás
sugeridos, se ausente, conduzirá a inexistência do
dever de indenizar

Ex positis, o voto é no sentido de


dar provimento ao Agravo Retido, para que os autos
retornem à origem, a fim de que seja realizada a
prova pericial requerida, restando prejudicada a
análise do Agravo Retido interposto à fl. 203 e do
Recurso de Apelação.

ACORDAM OS DESEMBARGADORES
INTEGRANTES DA DÉCIMA CÂMARA CÍVEL DO TRIBUNAL DE
JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ, POR UNANIMIDADE DE
VOTOS, EM DAR PROVIMENTO AO AGRAVO RETIDO, PARA QUE
OS AUTOS RETORNEM À ORIGEM, A FIM DE QUE SEJA
REALIZADA A PROVA PERICIAL REQUERIDA.

Participaram do julgamento os
Excelentíssimos Senhores Desembargadores NILSON
MIZUTA e MARCOS DE LUCA FANCHIN.

Curitiba, 03 de abril de 2.008.

DES. LUIZ LOPES


Relator

Vous aimerez peut-être aussi