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Nº 40.

Abril, Maio e Junho de 2006 ACTUALIDADE 3

Se algo tem caracterizado a política lin-

Autonomia e substituiçom
Maurício Castro
güística aplicada na Galiza desde 1981, ano
em que cristaliza num Estatuto a Espanha
das Autonomias prevista pola Constituiçom
de 1978, é umha medida intervençom a ca-
minho entre o deixar fazer, esse recurso

lingüística na Galiza (1981-2006)


que Carvalho Calero denominou “liberalis-
mo lingüístico”, e umha actuaçom aparen-
temente desleixada ou fruto da improvisa-
çom, o que poderíamos denominar “fazer
de conta que se fai”. No entanto, seria este
um diagnóstico simplista de mais.
A substituiçom da rígida doutrina fran-
quista em matéria lingüística, abertamente Estamos, como se vê, perante dados
intervencionista frente à ameaça do que a contundentes, apesar de maquilhados por
ditadura sempre considerou e tratou de um deficiente procedimento estatístico, e
“línguas separatistas”, deu passagem, é à espera de umha nova ediçom do Mapa
certo, a um liberalismo muito caro ao espí- Sociolingüístico Galego, cuja publicaçom
rito da Transiçom; bem se pode dizer que se prevê para o próximo Outono. Nom te-
essa visom liberal assentou como umha luva mos nengumha dúvida de que essa nova
a esse processo transformista da arquitec- ediçom, catorze anos depois da primeira,
tura institucional espanhola. O tempo véu a apresentará dados que confirmarám a
demonstrar que, tal e como calculárom os ameaça histórica que paira sobre o gale-
“pais da Constituiçom”, nada custava re- go. Nom devia ser necessário dizê-lo, mas
conhecer determinados direitos individuais de facto convém sublinharmos que a aba-
em relaçom ao uso das “línguas cooficiais”, fante pressom do espanhol, e nom outras
desde que ficasse garantida a preservaçom variantes estatais do próprio galego como
do espanhol como único idioma necessário e o português ou o brasileiro, é a única ame-
obrigatório, e assim de facto continua a ser aça real que enfrentamos.
hoje, 25 anos depois da aprovaçom do Es- A evoluçom da processo de substitui-
tatuto de Autonomia. Tal fica demonstrado, çom lingüística em curso na Galiza conti-
em diferente grau e com diversos matizes, nua, ninguém pode negá-lo, a ameaçar
nos casos galego, catalám e basco. seriamente a sobrevivência e o futuro
Foi com essa perspectiva que se arti- da nossa comunidade lingüística, e a fór-
culárom e aplicárom, umha por umha, as mula política-institucional encarnada no
medidas legislativas e políticas tendentes estatal e oficial nos principais organismos periodicidade quinquenal (1991, 1996, lhor prova do bom desempenho histórico autonomismo tem-se revelado em todos
a configurar umha nova situaçom de apa- internacionais? É certo que a dissidência 2001)1 nom apenas para essa Comunidade do Estado espanhol nas últimas décadas, estes anos como a melhor fórmula para
rência democrática, em que o galego, na reintegracionista subsiste, e ainda cresce Autonóma, mas para o conjunto dos terri- e da insuficiência da nossa resposta em dar continuidade ao brutal processo de
altura língua maioritária mas subordinada, ao mesmo ritmo que a consciência lingüís- tórios históricos de fala basca. Entretanto, chave nacional. A assunçom por parte da imposiçom franquista, inclusive superan-
iria ocupar o papel de língua minoritária tica dos sectores mais dinámicos do nosso na Galiza só foi publicada umha ediçom maior parte do nosso nacionalismo, no- do-o, por outras vias de aparência mais
digna de protecçom e cuidados especiais, povo; mas as quase três décadas perdidas do chamado Mapa Sociolingüístico Galego meadamente por parte da sua direcçom amável, no cumprimento de uns objectivos
sem em nengum caso pôr em causa a he- neste terreno nom deixam de constituir (1993), de alcance só autonómico, e cujos política nas últimas duas décadas, dessa substancialmente comuns.
gemonia da única língua oficial do Estado. um êxito reconhecível na política lingüísti- resultados teriam acendido a luz de alarme dinámica desnacionalizadora e assimilista As novas ferramentas que agora se
ca oficial: o seu segundo objectivo parcial- de qualquer governo que tivesse o mais mí- imposta na Constituiçom de 78 e encarna- nos oferecem para fazer frente à situaçom
Objectivos assimilistas mente conseguido. nimo interesse em levar a bom fim o supos- da no Estatuto de Autonomia de 1981, é, nom mudam substancialmente a estratégia
parcialmente conseguidos A sucessiva aprovaçom do Decreto de to objectivo de “bilingüismo equilibrado”. A nesse sentido, um dos maiores sucessos dos últimos vinte e cinco anos: nem o falso
A própria aprovaçom do Estatuto (1981) Bilingüismo (1979), da Lei de Normaliza- realidade daquele estudo parcial confirmou para um espanholismo hoje trajado de consenso normativo (assinado em 2003),
e a posta em andamento da Administraçom çom Lingüística (1983), e dos decretos e a inviabilidade da estratégia autonómica autonomista. Embora relacionado com nem o Plano Geral de Normalizaçom da Lín-
autonómica galega um ano antes acompa- ordens posteriores, deu forma à estraté- para a normalizaçom do galego, mas nen- o primeiro, podemos considerá-lo, pola gua Galega (aprovado em 2004), que nom
nhou a progressiva substituiçom da própria gia que iria ser seguida nas décadas se- gumha medida foi tomada para corrigir o sua especificidade no plano político-insti- passa de umha série de formulaçons incon-
sociedade como agente normalizador. De guintes e até a actualidade, estabelecen- rumo empreendido em 1978-79. tucional, o quarto objectivo parcialmente cretas que nom questionam os objectivos
umha parte, a adscriçom da Política Lingüís- do como impossível objectivo, carente de O segundo exemplo é referente à ava- conseguido. bilingüistas gestados e impostos entre os
tica ao departamento de Educaçom e Cultura qualquer referente teórico ou precedente liaçom do próprio trabalho concreto da anos 1978 e 1981, mas que sim apresenta
da Junta definiu bem o sentido parcial da pla- prático em qualquer outro contexto de Administraçom. Milhons de euros tenhem Presente e futuro do conflito a novidade de contar com o apoio unánime
nificaçom, reduzida a umha área concreta da conflito lingüístico, o chamado “bilin- sido investidos nestes anos na formaçom lingüístico dos três partidos parlamentares. O próprio
actuaçom dos sucessivos governos e alheia güismo equilibrado”, assim formulado do professorado e de pessoas adultas em A recente publicaçom, por parte do ensaio do primeiro ano de governo alterna-
a umha visom global e abrangente. De outra sobretodo para o ámbito do ensino. Com geral, através dos tam numerosos como oficialista Conselho da Cultura Galega, de tivo ao PP à frente da Junta está a confir-
parte, a assunçom pola Administraçom auto- grandes palavras, os mesmos que até limitados “cursos de iniciaçom e aperfeiço- um estudo comparativo entre o referido mar o continuísmo em matéria lingüística,
nómica da actividade dita “normalizadora”, essa altura participaram abertamente na amento”. Alguém conhece a existência de Mapa Sociolingüístico Galego (com dados enquanto o debate sobre a reforma estatu-
serviu para desactivar progressivamente, se censura e marginalizaçom de quaisquer um acompanhamento oficial dos resultados de 1992) e o mais recente Inquérito de tária tampouco parece apontar para qual-
bem nom por completo, o significativo movi- usos do galego para além das lareiras, as dessas actividades formativas? Todo indica Condiçons de Vida das Famílias (ECVF) por quer mudança substancial no novo Estatu-
mento social pola normalizaçom da década leiras e as tabernas, erigiam-se em novos que se tratou apenas de justificar gastos parte do Instituto Galego de Estatística to, que continuará a consagrar a estratégia
anterior. Primeiro objectivo parcialmente defensores da convivência lingüística e ini- em Política Lingüística sem mais objectivo (dados de 2003)2, apesar de nom tomar lingüicida que o espanholismo tem aplicado
conseguido. migos do conflito. que fornecer diplomas, tendo sido mui dis- em consideraçom as falhas do estudo de historicamente na Galiza.
A acomodaçom do idioma ao guiom Umha grande embalagem legislativa cutida a sua utilidade para a incorporaçom campo do IGE3, só véu a confirmar os prin- Só a articulaçom das forças sociais
previsto obrigou a que os primeiros passos e normativa, embrulhada com crescentes de novos falantes e até para o aumento da cipais problemas detectados em estudos comprometidas com a língua à volta de
dados pola Junta pré-autonómica (1980), somas de dinheiro e projectos tam caros competência lingüística das pessoas que os parciais anteriores e no próprio Mapa So- uns objectivos verdadeiramente normaliza-
no sentido de ser oficialmente reconhecida e fastosos como inúteis para o avanço so- freqüentam. No entanto, nom havendo es- ciolingüístico Galego publicado em 1993. dores, para a defesa activa dos nossos di-
a unidade lingüística galego-portuguesa, cial do galego, tem servido durante todos tudos concretos sobre tam ampla como eté- Continua a queda percentual do galego reitos lingüísticos, individuais e colectivos,
fossem rapidamente emendados. Forçou- estes anos para, como dizíamos, “fazer de rea rede formativa, quase ninguém se deu como língua habitual na Galiza (passando em todos os campos da vida social, poderá
se entom, mediante a intervençom directa conta que se fai”. Seria errado, portanto, nestes anos ao trabalho de pedir contas aos de um índice de 2,97 sobre 4 em 1992 para possibilitar essa mudança, mais necessária
do poder político-institucional, a ruptura da concluirmos que nom existiu política lingü- sucessivos executivos autonómicos. Como 2,89 em 2003, e ficando por baixo do ponto do que nunca. Existem iniciativas que cami-
linha histórica nom apenas do nacionalismo ística, ou que a sua caracterizaçom tenha se vê, estamos diante de exemplos claros médio da escala nos menores de 25 anos); o nham nessa direcçom, e outras muitas irám
galego desde os seus primórdios, mas tam- sido o puro desleixo. Houvo objectivos, de funcionamento exemplar da estratégia de monolíngües em espanhol é o grupo so- surgir sem dúvida. Cumpre insistir, organi-
bém do próprio mundo científico da roma- estratégia e medidas concretas que con- de “fazer de conta que se fai”; umha es- ciolingüístico que mais cresceu nesse mes- zar, coordenar, empurrar de todas as fren-
nística tradicional, e inclusive da tradiçom duzírom à situaçom actual. tratégia que, além do mais, conseguiu criar mo período (de 10,6% em 1992 para 18,5% tes possíveis, com toda a diversidade que
documentalmente recolhida nas enciclopé- Houvo também desleixo, é verdade, umha percepçom social bastante estendida em 2003), mantendo-se a diminuiçom do quigermos e formos capazes de alimentar;
dias espanholas, já a partir dos anos 20 do mas um desleixo medido e aplicado como de que, efectivamente, existe umha política grupo de monolíngües em galego; assisti- mas numha única direcçom, a da plena e
século passado, que sempre reconheceu a parte de umha política sistemática e de oficial favorável ao galego. Terceiro objecti- mos à primeira geraçom em que o espanhol efectiva oficializaçom do galego como lín-
unidade lingüística enquanto o nosso idio- umha efectividade indiscutível. Além do vo parcialmente conseguido. é a língua habitual maioritária, sem que o gua nacional da Galiza. Só assim evitare-
ma se mantivo afastado de qualquer possi- combate surdo contra os sectores fiéis ao É verdade que o grau de desfigura- ligeiro incremento de monolíngües em ga- mos que o projecto nacional espanhol poda
bilidade de recuperaçom funcional. idioma, marginalizados na elaboraçom e çom actual do que era um país com língua lego nas cidades compense a desgaleguiza- finalmente entoar, sobre os restos de um
Porém, na nova situaçom, o galego aplicaçom dos estéreis projectos; oculto própria de uso muito maioritário, embora çom geral do meio urbano e da gente mais corpo nacional galego já liquidado, o que
devia constituir-se em idioma “indepen- no incumprimento de todo o que a legis- subordinada a funçons só primárias e in- nova; continua a espanholizaçom dos usos seria o seu quinto e definitivo objectivo
dente”, facilitando assim a sua posiçom de laçom pudesse ter de favorável para o formais, responde a umha mais complexa lingüísticos no seio das famílias e o espa- conseguido.
fraqueza face ao todo-poderoso e interna- galego (o ensino é o caso paradigmático), evoluçom socioeconómica do próprio capi- nhol é já a língua em que a maioria apren- 1 Os chamados Inquéritos Sociolingüísticos de Euskal Herria (I, II e
cional espanhol. Daí que o isolacionismo, mantivo-se durante todo este tempo umha talismo num país secularmente atrasado de a falar; o espanhol continua a ser mui 2
III)
A sociedade galega e o idioma. A evolución sociolingüística de Gali-
umha posiçom sem qualquer sustento evidente renúncia a conhecer a fundo o e incorporado bruscamente à moderniza- maioritário nos usos escritos (82,3% face a cia (1992-2003). Consello da Cultura Galega (Sección de Lingua),
2006.
teórico anterior, passasse a constituir-se terreno sobre o qual se agia, incluídos os çom na sua fase neoliberal. Mas nom é 14%); e carência de monolíngües galegos 3 Segundo detectou Bernardo Maiz Bar, o ECVF de 2003 falseia a rea-
lidade ao sobredimensionar as povoaçons de menos de 10.000
em doutrina oficial, a partir da aprova- resultados das medidas aplicadas pola menos certo que o franquismo primeiro, completados lingüisticamente no próprio habitantes (as menos espanholizadas) em relaçom às entidades
urbanas mais povoadas (as mais espanholizadas), tomando como
çom do Decreto Filgueira, em 1982, e até própria administraçom. e a segunda Restauraçom bourbónica idioma (que o falem e escrevam sempre), referência as percentagens reais recolhidas no censo de habi-
tantes do mesmo ano. Assim, se as primeiras representavam em
hoje. Se o objectivo do “golpe normativo” Vejamos só dous exemplos significati- depois, soubérom acompanhar essa di- face ao carácter completo dos monolíngües 2003 32,58%, no inquérito do IGE representam 56,6% das entre-
vistas, dando assim à populaçom rural um peso que já nom lhe
tivesse sido a verdadeira recuperaçom e vos. O primeiro, visível por contraste num námica histórica conduzindo-nos para a em espanhol, questiona a solidez do mino- corresponde na Galiza actual.
normalizaçom do galego, em que cabeça período em que o Governo basco realizou inaniçom como povo. Certamente, houvo ritário sector caracterizado polos diversos
teria cabido descartar séculos de história e publicou três inquéritos globais sobre e há resistências a esse processo, mas a estudos de campo como “monolíngües em Maurício Castro é membro do Comité Central de
e o seu potencial de futuro como língua falantes, usos, atitudes, atitudes, etc, de grave situaçom actual da língua é a me- galego”. Primeira Linha

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