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John Wesley
'Em que vós grandemente vos alegrais, ainda que agora importa, sendo necessário,
que estejais por um pouco contristados com várias tentações' (I Pedro 1:6)
Mas eles estão longe disto. Escuridão é uma coisa; opressão é outra. Existe
uma diferença; sim, uma diferença ampla e essencial, entre a primeira e a última. E tal
diferença, todos os filhos de Deus devem estar profundamente interessados em
compreender: Do contrário, nada será mais fácil para eles, do que trocar opressão por
escuridão. Com o objetivo de prevenir isto, eu me esforçarei para mostrar:
2. Nem a opressão destruiu a paz deles; 'a paz que ultrapassa todo
entendimento'; que é inseparável da fé verdadeira e viva. Isto nós podemos facilmente
reunir do segundo verso, em que o Apóstolo não diz que a graça e a paz podem ser
dadas a eles; mas, tão somente, que elas poderão 'ser multiplicadas junto a eles'; que a
bênção, que eles já desfrutam, poderia ser mais abundantemente conferida junto a
eles.
3. As pessoas das quais o Apóstolo aqui fala estavam também cheias de uma
esperança viva. Porque assim ele fala em (I Pedro 1:3) 'Bendito seja o Deus e Pai de
nosso Senhor Jesus Cristo que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de
novo para uma esperança viva, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos', --
eu e você, todos nós que somos 'santificados pelo Espírito', e desfrutamos 'do sangue
aspergido de Jesus Cristo', -- 'para uma esperança viva, para uma herança', -- ou
seja, para a esperança viva de uma herança, 'incorruptível, imaculada, e que não se
desvanece'. De modo que, não obstante sua opressão, eles ainda retém uma esperança
cheia da imortalidade.
(I Pedro 1:7-9) 'Para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o
ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória, na
revelação de Jesus Cristo; ao qual, não o havendo visto, amais; no qual, não o vendo
agora, mas crendo, vos alegrais com gozo inefável e glorioso; - Alcançando o fim da
vossa fé, a salvação das vossas almas'.
A opressão deles, portanto, não era apenas consistente com aquela esperança
viva, mas também com a alegria inexprimível: Ao mesmo tempo em que eles estavam
assim oprimidos, eles, apesar disto, eles se regozijavam com alegria cheia de glória.
6. Uma vez mais: Embora eles estivessem oprimidos, ainda assim, eles eram
santos; eles retiveram o mesmo poder sobre o pecado. Eles ainda estavam 'protegidos'
disto, 'pelo poder de Deus'; eles eram 'filhos obedientes, não modeladas de acordo
com seus desejos anteriores'; mas 'como Aquele que os havia chamado era santo';
então, eles eram 'santos em todas as formas de conversação'. Sabendo que foram
'redimidos pelo precioso sangue de Cristo, como um Cordeiro, sem mácula, e sem
culpa'; eles, através da fé e esperança que tinham em Deus, 'purificaram suas almas,
através do Espírito'. Assim sendo, o que se conclui é que a opressão deles era
constituída com a fé, com a esperança, com o amor de Deus e homem, com a alegria
no Espírito Santo, com a santidade interior e exterior. Eles, de modo algum
diminuíram, muito menos, destruíram, alguma parte da obra de Deus em seus
corações. Ela não se interpôs com aquela 'santificação do Espírito', que é a raiz de
toda obediência verdadeira; nem com a felicidade que precisa resultar da graça e paz
reinando no coração.
II
1. Disto, nós podemos facilmente aprender o tipo de opressão que eles tinham;
-- e que, em Segundo Lugar, eu me esforçarei para mostrar. A palavra no original,
"islupEthentes", -- feito pesaroso, afligido; de lupE, -- aflição ou tristeza. Este é o
significado constante, literal, da palavra: E isto, sendo observado, não existe
ambigüidade na expressão; nem alguma dificuldade na compreensão dela. As pessoas,
das quais se fala aqui, estavam afligidas: A opressão em que eles se encontravam, não
era, nem mais, nem menos, do que tristeza ou aflição; -- uma paixão que todo filho do
homem está bastante familiarizado.
3. Mesmo nesses, essa opressão pode ser, algumas vezes, tão profunda, que
obscurecesse toda a alma; para dar uma aparência de verdade, por assim dizer, a todas
as afeições, tais que irão aparecer em todo o comportamento. Ela pode igualmente ter
uma influência sobre o corpo; particularmente, naqueles que são tanto de uma
constituição naturalmente fraca, ou estão enfraquecidos por alguma doença acidental,
especialmente, do tipo nervoso. Em muitos casos, nós nos certificamos que 'o corpo
corruptível deprime a alma'. E nisto, a alma, certamente, deprime o corpo, e o
enfraquece mais e mais. Eu não direi que a tristeza profunda e duradoura do coração
não pode, algumas vezes, enfraquecer uma constituição forte, e causar tais desordens
corpóreas, não facilmente removidas: No entanto, tudo isto pode ainda consistir com a
medida daquela fé que é operada pelo amor.
4. Esta bem pode ser denominada uma 'provação ardente': E embora não seja a
mesma que o Apóstolo fala no quarto capítulo [I Pedro 4:12 'Amados, não estranheis
a ardente prova que vem sobre vós para vos tentar, como se coisa estranha vos
acontecesse']; ainda assim, muitas das expressões lá usadas, com respeito aos
sofrimentos exteriores, podem ser adaptadas a essa aflição interior. Na verdade, elas
não podem, com alguma propriedade, serem aplicadas àqueles que estão na escuridão:
Esses, não podem regozijar-se; nem é verdade que 'o Espírito da glória e de Deus
repousa sobre' eles. Mas Ele freqüentemente o faz naqueles que estão na opressão; de
modo que, embora pesarosos, eles, mesmo então, se regozijam sempre.
III
1. Mas para prosseguir para o Terceiro ponto: Quais são as causas de tal
tristeza ou opressão em um verdadeiro crente? O Apóstolo nos diz claramente: 'Vocês
estão contristados', diz ele, 'pelas múltiplas tentações'; múltiplas, não apenas muitas
em número, mas de muitos tipos. Elas podem ser variadas e diversificadas, em
milhares de formas, pela mudança ou adição de numerosas circunstâncias. E esta
mesma diversidade e variedade tornam mais difícil nos protegermos delas. Entre essas
nós podemos classificar todas as doenças corpóreas; particularmente, as enfermidades
repentinas, e a dor violenta de todo tipo; quer afetando o corpo todo, ou a menor parte
dele. É verdade, que aqueles que têm desfrutado de saúde ininterrupta, e não têm
sentido qualquer uma dessas enfermidades podem fazer pouco delas; e se admirarem
de que a doença ou a dor do corpo possa trazer opressão sobre a mente. Talvez, um,
em mil, seja de uma constituição tão peculiar, que não sinta dor como os outros
homens. De modo que Deus tem se agradado de mostrar seu poder, produzindo alguns
desses prodígios da natureza, que parecem não se preocupar com a dor, afinal; mesmo
a dos tipos mais severos, se este desprezo pelas dores não se dever parcialmente à
força da educação; e, parcialmente, a uma causa sobrenatural, -- ao poder tanto dos
bons, quanto dos maus espíritos, que elevam estes homens, acima do estado da mera
natureza. Mas, abstraindo esses casos particulares, em geral, a justa observação é que
a dor é miséria plena e extrema; aniquilando completamente toda resignação. E
mesmo onde esses são protegidos pela graça de Deus; onde os homens 'mantêm suas
almas pacientes, ela pode, não obstante, ocasionar muita opressão interior; com a
alma compadecendo-se do corpo.
A pobreza tem alguma coisa pior, do que fazer os homens serem capazes de
rirem dela? É um sinal de que esse poeta inútil falou, sem pensar, das coisas que ele
não conhecia. Não é a falta de alimento, alguma coisa pior do que isto? Deus a
decretou como uma calamidade sobre o homem, para que ele possa prover, 'através
do suor de sua testa'. Mas quantos existem, nesta região cristã, que labutam, e
trabalham, e suam, e não o têm, afinal, mas lutam com fraqueza e fome juntas? Não é
pior para alguém, depois de um dia de trabalho, voltar para sua moradia pobre, fria,
suja e desconfortável, e encontrar nem mesmo o alimento que é necessário para
reparar suas forças perdidas? Vocês, que vivem confortavelmente na terra; que nada
necessitam, a não ser, de olhos para verem, ouvidos para ouvirem, e corações para
entenderem o quanto bem Deus tem partilhado com vocês, -- não é pior buscar o pão,
dia a dia, e encontrar nada? Talvez, encontrar o conforto também de cinco ou seis
crianças, clamando pelo que ele não tem para dar! Não fosse ele refreado por uma
mão invisível, ele não poderia logo 'amaldiçoar a Deus e morrer?'. Ó necessidade de
pão! Necessidade de pão! Quem pode dizer o que isto significa, sem ter sentido isto
em si mesmo? Eu estou surpreso que isto ocasione não mais do que opressão, mesmo
nesses que crêem!
5. Uma tristeza ainda mais profunda, nós podemos sentir por aqueles que
estavam mortos, enquanto viviam; com respeito à indelicadeza, ingratidão, apostasia
daqueles que estavam unidos a nós na mais íntima aliança. Quem pode expressar o
que um amante das almas pode sentir por um amigo, um irmão, morto para Deus? Por
um marido, uma esposa, um pai, um filho, precipitando-se no pecado, como um
cavalo dentro da batalha; e, a despeito de todos os argumentos e persuasões,
apressando-se para executar a sua própria condenação? E esta angústia do espírito
pode ser intensificada a um grau inconcebível, ao se considerar que ele que agora
caminha para a destruição, uma vez, seguiu bem no caminho da vida. O que quer que
ele tenha sido no passado, serve agora a nenhum outro propósito, do que nos fazer
refletir no que ele está mais penetrado e afligido.
8. Uma causa mais da opressão, é mencionada por muitos daqueles que são
denominados autores místicos. E a noção tem se arrastado, eu não sei como, até
mesmo entre as pessoas sinceras que não têm familiaridade com eles. Eu não posso
explicar isto melhor, do que nas palavras de uma recente escritora, que relata isto
como sua própria experiência: -- 'Eu continuei tão feliz no meu Amado, que, mesmo
que eu tivesse sido forçada a perambular no deserto, eu não teria encontrado
dificuldade nisto. Este estado, porém, não durou muito, quando, em efeito, eu me
encontrei conduzida ao deserto. Eu me achei numa condição de desamparo,
completamente pobre, desgraçada e miserável. A fonte apropriada desta aflição, o
conhecimento de nós mesmos; através do qual, nos certificamos que existe uma
extrema dessemelhança entre Deus e nós. Nós nos vemos em maior oposição a Ele;
vemos que no fundo de nossa alma, somos inteiramente corruptos, depravados, e
cheios de toda espécie de mal e malignidade, do mundo e da carne; e todas as sortes
de abominações'. – Disto, pode-se concluir que o conhecimento de nós mesmos, sem
o que podemos perecer eternamente, deve, mesmo depois de termos conseguido a
justificação pela fé, nos ocasionar a mais profunda opressão.
(2) Supondo-se que ela fosse justificada, quase no mesmo momento em que
ela foi convencida da falta de fé, não houve, então, tempo para aquele
crescimento gradual do autoconhecimento, que costuma preceder a
justificação: Neste caso, portanto, ele veio depois, e foi, provavelmente, o
mais severo, o menos esperado.
(3) Pode ser que vá existir um conhecimento de nosso pecado inato, de nossa
corrupção total pela natureza, mais profundo, mais claro e mais completo,
depois da justificação, e que nunca houve antes dela. Mas esta necessidade
não ocasiona obscuridade da alma: Eu não direi que ela deva nos trazer
para a opressão. Se fosse assim, o Apóstolo não teria usado aquela
expressão; se fosse preciso, haveria uma necessidade absoluta e
indispensável dele, para todos que conhecessem a si mesmos; ou seja, em
efeito, para todos que conhecessem o amor perfeito de Deus, e fossem,
por meio disto, 'feitos adequados para serem parceiros na herança dos
santos na luz'. Mas isto, de modo algum, é o caso. Ao contrário, Deus
pode aumentar o conhecimento de nós mesmos em algum grau; e
aumentar na mesma proporção, o conhecimento de Si mesmo e a
experiência de Seu amor. E, neste caso, não haveria 'deserto, miséria,
condição de abandono'; mas amor, paz, e alegria, gradualmente brotando
para a vida eterna.
IV
1. Para que finalidade, então, (a Quarta coisa que deverá ser considerada) Deus
permite que a opressão caia sobre tantos de seus filhos? O Apóstolo nos dá uma
resposta clara e direta a esta importante questão: - 'Para que a prova da vossa fé,
muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em
louvor, e honra, e glória, na revelação de Jesus Cristo' (I Pedro 1:7). Pode haver uma
alusão a isto, naquela bem conhecida passagem do quarto capítulo (embora
primeiramente relacione-se a quase outra coisa, como já foi observado): 'Amados, não
estranheis a ardente prova que vem sobre vós para vos tentar, como se coisa estranha
vos acontecesse; mas alegrai-vos no fato de serdes participantes das aflições de
Cristo, para que também na revelação da sua glória vos regozijeis e alegreis' (I
Pedro 4:12, &c).
6. E todas essas têm como grande objetivo, que nossa fé, esperança, amor, e
santidade 'possam ser encontrados', se eles ainda não apareceram; 'para o louvor' do
próprio Deus; ' e a honra' de todos os homens, e anjos; 'e a glória', imputada, pelo
grande Juiz, a todos que perseverarem até o fim. E isto será imputado naquele dia
terrível, a todo homem, 'de acordo com suas obras'; de acordo com a obra que Deus
tem forjado em seu coração, e as obras exteriores que ele tem forjado para Deus; e
igualmente de acordo com o que ele tem suportado. De modo que todas essas
tentações são um ganho inexplicável. De várias maneiras, essas 'aflições brandas, que
são apenas para o momento, forjam em nós um mais excelente, e eterno ônus de
glória!'.
V
1. Eu vou concluir, com algumas inferências. Em Primeiro Lugar, quão
ampla é a diferença entre a escuridão da alma e a opressão; que, não obstante, são tão
geralmente confundidas uma com a outra; mesmo pelos cristãos experientes!
Escuridão, ou estado de deserto, implica uma total perda da alegria no Espírito Santo:
A opressão não; em meio a ela, nós podemos 'nos regozijar com alegria inexprimível'.
Eles que estão na escuridão perderam a paz de Deus. Eles que estão na opressão não a
perderam. Longe disto, naquele mesmo momento, 'a paz', assim como 'a graça'
podem 'ser multiplicadas' junto a eles. No primeiro caso, o amor de Deus tornou-se
frio, se não foi totalmente extinguido; no segundo, ele retém toda sua força; ou
melhor, aumenta, diariamente. No primeiro, a própria fé, se não totalmente perdida,
está, não obstante, gravemente em declínio: A evidência, e a convicção das coisas que
não são vistas; particularmente, do amor redentor de Deus, não está mais tão clara ou
forte, quanto no passado; e a confiança deles em Deus está proporcionalmente
enfraquecida: No segundo, embora eles não o vejam, ainda assim, têm uma confiança
clara e inabalável em Deus; e uma evidência duradoura do amor, por meio do qual,
seus pecados foram apagados. De modo que, assim como nós podemos distinguir a fé
da descrença; esperança do desespero; paz da guerra; amor a Deus do amor do
mundo; nós podemos infalivelmente distinguir opressão de escuridão!
[Editado por Tim Dawson, estudante da Northwest Nazarene College (Nampa, ID),
com correções por George Lyons para a Wesley Center for Applied Theology.]