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Conhecimento científico e senso comum

Cristina G. Machado de Oliveira

O conhecimento científico é uma conquista relativamente


recente da humanidade. A revolução científica do século XVII
marca a autonomia da ciência, a partir do momento que ela
busca seu próprio método desligado da reflexão filosófica.

O exemplo clássico de procedimento científico das ciências


experimentais nos mostra o seguinte: inicialmente há um problema
que desafia a inteligência humana, o cientista elabora uma
hipótese e estabelece as condições para seu controle, a fim de
confirmá-la ou não, porém nem sempre a conclusão é imediata
sendo necessário repetir as experiências ou alterar inúmeras
vezes as hipóteses. A conclusão é então generalizada, ou seja,
considerada válida não só para aquela situação, mas para outras
similares. Assim, a ciência, de acordo com o pensamento do senso
comum, busca compreender a realidade de maneira racional,
descobrindo relações universais e necessárias entre os
fenômenos, o que permite prever acontecimentos e,
conseqüentemente também agir sobre a natureza. Para tanto, a
ciência utiliza métodos rigorosos e atinge um tipo de conhecimento
sistemático, preciso e objetivo.

Nos primórdios da civilização os gregos foram os


primeiros a desenvolver um tipo de conhecimento racional mais
desligado do mito, porém, foi o pensamento laico, não religioso, que
logo se tornou rigoroso e conceitual fazendo nascer a filosofia no século
VI a.C.

Nas colônias gregas da Jônia e Magna Grécia, surgiram os


primeiros filósofos, e sua principal preocupação era a
cosmologia, ou estudo da natureza. Buscavam o principio explicativo
de todas as coisas (arché), cuja unidade resumiria a extrema
multiplicidade da natureza. As respostas eram as mais variadas, mas a
teoria que permaneceu por mais tempo foi a de Empédocles,
para quem o mundo físico é constituído de quatro elementos:
terra, água, ar e fogo.

Muitos desses filósofos, tais como Tales e Pitágoras no


século VI a.C. e Euclides no século III a.C., ocupavam-se com
astronomia e geometria, mas, diferentemente dos egípcios e
babilônios, desligavam-se de preocupações religiosas e práticas,
voltando-se para questões mais teóricas.

Alguns princípios fundamentais da mecânica foram


estabelecidos por Arquimedes no século III a.C., visto por Galileu
como único cientista grego no sentido moderno da palavra devido a
utilização de medidas e enunciação do resultado sob a forma de lei
geral. Dentre os filósofos antigos, Arquimedes constitui uma exceção, já
que a ciência grega era mais voltada para a especulação racional e
desligada da técnica e das preocupações práticas.

O auge do pensamento grego se deu nos séculos V e IV a.C.,


período em que viveram Sócrates, Platão e Aristóteles.

Platão opõem de maneira vigorosa os sentidos e a razão,


e considera que os primeiros levam a opinião (doxa), forma
imprecisa, subjetiva e mutável de conhecer. Por isso é preciso
buscar a ciência (episteme), que consiste no conhecimento racional das
essências, das idéias imutáveis, objetivas e universais. As ciências
como a matemática, a geometria, a astronomia são passos
necessários a serem percorridos pelo pensador, até atingir as
culminâncias da reflexão filosófica.

Aristóteles atenua o idealismo platônico, e seu olhar é


sem duvida mais realista, não desvalorizando tanto os sentidos.
Filho de médico herdou o gosto pela observação e deu grande
contribuição a biologia, mas, como todo grego, Aristóteles também
procura apenas conhecer, estando suas reflexões desligadas da técnica
e das preocupações utilitárias. Além disso, persiste a concepção estática
do mundo, pela qual os gregos costumam associar a perfeição ao
repouso, a ausência de movimento.

Embora Aristarco de Samos tenha proposto um modelo


heliocêntrico, a tradição que recebemos dos gregos a partir de Eudoxo,
confirmada por Aristóteles e mais tarde por Ptolomeu, baseia-se no
modelo geocêntrico: a Terra se acha imóvel no centro do
universo e em torno dela giram as esferas onde estão cravadas a Lua,
os cinco planetas e o Sol.

Nesse sentido, para Aristóteles, a física é a parte da filosofia que busca


compreender a essência das coisas naturais constituídas pelos quatros
elementos e que se encontram em constante movimento retilíneo em
direção ao centro da Terra ou em sentido contrário a ele. Isso porque os
corpos pesados como a terra e a água tendem para baixo, pois este é o
seu lugar natural. Já os corpos leves como o ar e o fogo tendem para
cima. O movimento é então compreendido como a transição do corpo
que busca o estado de repouso, no seu lugar natural. A física aristotélica
parte, portanto, das definições das essências e da análise das
qualidades intrínsecas dos corpos.

A partir deste breve esboço, podemos conferir a ciência grega


as seguintes características:

1) Encontra-se ligada à filosofia, cujo método orienta o tipo de


abordagem dos problemas;

2) é qualitativa, porque a argumentação se baseia na análise


das propriedades intrínsecas dos corpos;

3) não é experimental, e se acha desligada da técnica;

4) é contemplativa, porque busca o saber pelo saber, e não a


aplicação prática do conhecimento;

5) baseia-se em uma concepção estática do mundo.

A Idade Média, período compreendido do século V até o século


XV, recebe a herança grego-latina e mantém a mesma concepção de
ciência. Apesar das diferenças evidentes, é possível compreender essa
continuidade, devido ao fato de o sistema de servidão também se
caracterizar pelo desprezo a técnica e a qualquer atividade
manual.

Fora algumas exceções – como as experimentações de


Roger Bacon e a fecunda contribuição dos árabes -, a ciência herdada da
tradição grega se vincula aos interesses religiosos e se subordina aos
critérios da revelação, pois, na Idade Média, a razão humana devia se
submeter ao testemunho da fé.

A partir do século XIV, a Escolástica – principal escola


filosófica e teológica medieval – entra em decadência. Esse
período foi muito prejudicial ao desenvolvimento da ciência porque
novas idéias fermentavam nas cidades, mas os guardiões da velha
ordem resistiam as mudanças de forma dogmática. Esterilizados pelo
princípio da autoridade, aferravam-se às verdades dos velhos livros,
fossem eles a Bíblia, Aristóteles ou Ptolomeu.

Tais resistências não se restringiam apenas ao campo intelectual,


mas resultavam muitas vezes em processos e perseguições. O Santo
Oficio, ou Inquisição, ao controlar toda produção, fazia a
censura prévia das idéias que podiam ser divulgadas ou não.
Giordano Bruno foi queimado vivo no século XVI porque sua teoria
do cosmos infinito era considerada panteísta, uma vez que a infinitude
era atributo exclusivo de Deus.

O método científico, como nós o conhecemos hoje,


surge na Idade Moderna, no século XVII. O Renascimento
Científico não constituiu uma simples evolução do pensamento
científico, mas verdadeira ruptura que supõe nova concepção de
saber.

É preciso examinar o contexto histórico onde ocorreram


transformações tão radicais, a fim de perceber que elas não se
desligam de outros acontecimentos igualmente marcantes: emergência
da nova classe dos burgueses, desenvolvimento da economia
capitalista, revolução comercial, renascimento das artes, as
letras e da filosofia. Tudo isso indica o surgimento de um novo
homem, confiante na razão e no poder de transformar o mundo.

Os novos tempos foram marcados pelo racionalismo, que


se caracterizou pela valorização da razão enquanto instrumento
de conhecimento que dispensa o critério da autoridade e da
revelação. Chamamos de secularização ou laicização do pensamento a
preocupação em se desligar das justificativas feitas pela religião, que
exigem adesão pela crença, para só aceitar as verdades resultantes da
investigação da razão mediante demonstração. Daí a intensa
preocupação com o método, ponto de partida para a reflexão de
inúmeros pensadores do século XVII: Descartes, Spinoza, Francis
Bacon, Galileu, entre outros.

Outra característica dos novos tempos é o saber ativo, em


oposição ao saber contemplativo. Não só o saber visa a
transformação da realidade, como também passa ele próprio a ser
adquirido pela experiência, devido à aliança entre a ciência e a
técnica.

Uma explicação possível para justificar a mudança é que a


classe comerciante, constituída pelos burgueses, se impôs pela
valorização do trabalho, em oposição ao ócio da aristocracia.
Além disso, os inventos e descobertas tornam-se necessários para o
desenvolvimento da indústria e do comércio.

O novo método científico mostrou-se fecundo, não


cessando de ampliar sua aplicação. Os resultados obtidos por
Galileu na física e na astronomia, bem como as leis de Kepler e
as conclusões de Tycho-Brahe, possibilitaram a Newton a
elaboração da teoria da gravitação universal.Ao longo desse
processo surgem as academias científicas onde os cientistas se
associam para troca de experiências e publicações.

Aos poucos o novo método é adaptado a outros campos de


pesquisa, fazendo surgir diversas ciências particulares. No século XVIII
Lavoisier torna a química uma ciência de medidas precisas; o
século XIX foi o do desenvolvimento das ciências biológicas e da
medicina, destacando-se o trabalho de Claude Bernard com a
fisiologia e o de Darwin com a teoria da evolução das espécies.

O método científico inicialmente ocorre do seguinte modo: há um


problema que desafia a inteligência; o cientista elabora uma hipótese e
estabelece as condições para seu controle, a fim de confirmá-la ou não.
A conclusão é então generalizada, ou seja, considerada válida
não só para aquela situação, mas para outras similares. Além disso,
quase nunca se trata de um trabalho solitário do cientista, pois, hoje em
dia, cada vez mais as pesquisas são objeto de atenção de grupos
especializados ligados as universidades, as empresas ou ao
Estado. De qualquer forma, a objetividade da ciência resulta do
julgamento feito pelos membros da comunidade científica que avaliam
criticamente os procedimentos utilizados e as conclusões, divulgadas em
revistas especializadas e congressos.

Assim, dentro da visão do senso comum (isto é, um vasto


conjunto de concepções geralmente aceitas como verdadeiras
num determinado meio social. Repetidas irrefletidamente no
cotidiano, algumas dessas noções escondem idéias falsas,
parciais ou preconceituosas.
É uma falta de fundamentação, tratando-se de um
conhecimento adquirido sem base crítica, precisa, coerente e
sistemática), a ciência busca compreender a realidade de maneira
racional, descobrindo relações universais e necessárias entre os
fenômenos, o que permite prever os acontecimentos e,
conseqüentemente, também agir sobre a natureza. Para tanto, a
ciência utiliza métodos rigorosos e atinge um tipo de
conhecimento sistemático, preciso e objetivo. Entretanto, apesar
do rigor do método, não é conveniente pensar que a ciência é um
conhecimento certo e definitivo, pois ela avança em contínuo
processo de investigação que supõe alterações à medida que
surgem fatos novos, ou quando são inventados novos instrumentos. Por
exemplo, nos séculos XVIII e XIX, as leis de Newton foram
reformuladas por diversos matemáticos que desenvolveram
técnicas para aplicá-las de maneira mais precisa.
No século XX, a teoria da relatividade de Einstein
desmentiu a concepção clássica que a luz se propaga em linha
reta. Isso serve para mostrar o caráter provisório do conhecimento
científico sem, no entanto, desmerecer a seriedade e o rigor do método
e dos resultados. Ou seja, as leis e as teorias continuam sendo de
fato hipóteses com diversos graus de confirmação e
verificabilidade, podendo ser aperfeiçoadas ou superadas.

A partir da explanação feita acima será que podemos afirmar que


existe um método universal? Será que os métodos universais devem ser
considerados válidos para situações diversas? E tendo situações
diferentes podemos qualificá-las como universais? Como descrever
relações universais através de métodos “individuais”? Será que esse tipo
de método é realmente válido universalmente? Será que podemos
nomear o método como sendo universal?

Segundo Alan Chalmers, em sua obra A Fabricação da ciência, “a


generalidade e o grau de aplicabilidade de leis e teorias estão sujeitos a
um constante aperfeiçoamento”.[1] A partir dessa afirmação
podemos concluir que o método universal, na realidade, não é
tão genérico assim, ou melhor, não é tão absoluto, pois está
sujeito a uma substituição constante. Para Chalmers não existe
nenhum método universal ou conjunto de padrão universal, entretanto,
permanecem modelos a-históricos ocasionais subentendidos nas
atividades bem-sucedidas, porém, isso não significa que vale tudo na
área epistemológica.

A questão da substituição constante das teorias ficou


bem explícita na sucinta explanação da história da ciência
realizada anteriormente, onde tivemos a clara mudança de uma
teoria, método ou hipótese por outra mais coerente dentro de
sua época histórica e/ou científica.

Diante disso tudo que foi visto podemos, pelo menos,


fundamentar que a ciência tem por objetivo estabelecer
generalizações aplicáveis ao mundo, pois desde a época da
revolução estamos em posição de saber que essas generalizações
científicas não podem ser estabelecidas a priori; temos que aceitar que
a exigência de certeza é mera utopia. Entretanto, a exigência de que
nosso conhecimento esteja sempre sendo transformado, aperfeiçoado e
ampliado é pura realidade.

[1] Chalmers, Alan. A fabricação da ciência. p.19

Bibliografia:
CHALMERS, Alan. A fabricação da ciência. Tradução: Beatriz
Sidou. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1994.

COTRIM, Gilberto. Fundamentos da Filosofia – Ser, Saber e Fazer.


São Paulo: Ed. : Saraiva, 1997.

LALANDE, André. Dicionário técnico e crítico da filosofia. São


Paulo: Martins Fontes, 1996.

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