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Lógica Formal e ideologia

Histórica e tradicionalmente o conhecimento tem sido problematizado no


âmbito da filosofia -- mais especificamente, naquele ramo da filosofia
conhecido como Epistemologia. Recentemente, o problema mais específico
do conhecimento científico tem sido objeto, dentro da filosofia, de uma área de
investigação que ficou conhecida como Filosofia da Ciência (que,
freqüentemente, é dividida em Filosofia das Ciências Naturais, Filosofia das
Ciências Humanas, Filosofia das Ciências Lógico-Matemáticas, etc.Mas o
conhecimento, em geral, e o conhecimento científico, em particular, não são,
hoje em dia, o objeto de investigação somente por parte da filosofia. Ramos da
própria ciência, como a história, a sociologia, e a psicologia, têm voltado sua
atenção para o estudo do conhecimento, em geral, mas, principalmente, do
conhecimento científico, dando origem a áreas de especialização como
História da Ciência, Sociologia do Conhecimento e Sociologia da Ciência,
Psicologia do Conhecimento, etc.

O estudo do conhecimento, mormente do conhecimento científico, pode,


portanto, ser dividido em filosófico e científico. Em decorrência da
investigação do problema do conhecimento científico, existem, presentemente,
várias teorias da ciência, ou teorias do conhecimento científico, que podem
ser divididas, em linhas gerais, em teorias filosóficas e teorias científicas da
ciência (ou do conhecimento científico), dependendo do tipo de abordagem que
privilegiem: a filosófica ou a científica.

O estudo filosófico do conhecimento e da ciência se interessa,


primariamente, dentro de um enfoque mais tradicional, por questões como
as seguintes. Como é que se deve conceituar (ou, se se prefere, definir) o
conhecimento: como é que se distingue conhecimento de mera crença, ou de
mera opinião? Ou será que é o ceticismo que está certo quando afirma que o
que se considera conhecimento não passa de mera crença e opinião? Qual a
relação que existe entre conhecimento e evidência? Entre conhecimento e
verdade? Será que existem verdade absoluta e conhecimento objetivo? Ou
será que toda verdade e todo conhecimento (supondo que existam) são
sempre relativos a um dado sujeito e a um dado contexto? Dentro de um
enfoque mais contemporâneo, o estudo filosófico do conhecimento científico
se interessa, primariamente, pela lógica do discurso científico e pelas
implicações filosóficas do método e dos resultados da ciência, caracterizando-
se, portanto, como um discurso (filosófico) sobre o discurso (científico), ou seja,
como metadiscurso científico, ou como discurso de segunda ordem. Mas
mesmo esse enfoque mais contemporâneo ao problema do conhecimento
científico não dispensa a discussão das questões tradicionais. Como
caracterizar corretamente o que seja conhecimento científico (ou ciência)?
Como delimitar a ciência da pseudo-ciência? Astrologia é ou não ciência?
Talvez a resposta aqui seja fácil, mas e a psicanálise? E o marxismo, é ciência
ou ideologia? Outras questões tradicionais que não se deixam abafar nem
mesmo dentro do enfoque mais contemporâneo são as seguintes. Faz sentido
falar em verdade na ciência -- verdade tout court, num sentido absoluto, e não
apenas dentro de um "paradigma"? Ou será que existem várias verdades, a
minha, a sua, a deles? Ou será, ainda, que a noção de verdade deve ser
abandonada e substituída pela noção de probabilidade? Existem fatos
científicos? Que relação há entre verdade e fatos, supondo que estes existam?
Qual o papel da evidência no conhecimento científico? E a evidência é
evidência de quê? Faz sentido falar em conhecimento objetivo? Se faz, em que
sentido? Qual o papel do sujeito, no conhecimento científico? É possível
estudar o conhecimento científico apenas a partir do chamado contexto da
validação, ignorando o contexto da descoberta? Qual a importância do
processo psicológico da produção do conhecimento na mente do indivíduo? E
o papel do contexto sócio-cultural e econômico e da evolução histórica do
conhecimento?

Na verdade, várias dessas últimas questões vieram a se tornar problemas


filosóficos, ou epistemológicos, a partir do estudo científico do
conhecimento, em geral, e do conhecimento científico, em particular. Áreas de
especialização como a História da Ciência e a Sociologia do Conhecimento e
da Ciência têm levado muitos filósofos à aceitação de um relativismo
epistemológico. A colocação do conhecimento e da ciência em seu contexto
histórico e sócio-cultural (para não mencionar econômico) tem levado muitos à
convicção de que as noções de verdade e objetividade devem ser descartadas
do horizonte das preocupações filosóficas, pois o conhecimento (inclusive
científico) é sempre relativo a um dado contexto, e, portanto, não pode ser
qualificado como verdadeiro, em um sentido absoluto, e objetivo.

Mas e esse relativismo epistemológico? Será ele próprio também relativo a um


dado contexto, e, conseqüentemente, não-verdadeiro e não-objetivo? Se não é,
então é possível chegar a conhecimento verdadeiro e objetivo. Se é, então por
que aceitá-lo? Velho dilema que já aos céticos de antigamente se colocava: o
ceticismo, quando afirma que não há verdade e não há conhecimento, está
afirmando algo verdadeiro? Se está, então há verdade (pelo menos esta); se
não, por que aceitá-lo?

Esta não é uma questão meramente acadêmica. O mesmo problema se coloca


na discussão da contemporânea e relevante questão da ideologia. Existe um
patamar não-ideológico (científico, talvez) a partir do qual se possa fazer uma
crítica das ideologias? Ou será que só se pode criticar uma ideologia a partir de
uma outra ideologia? Se só se pode criticar uma ideologia a partir de uma outra
ideologia, essa crítica parece fútil: pode levar à conversão, ou, talvez, a
persuasão decorrente da retórica, mas não à convicção racional, que resulta do
reconhecimento da força lógica de argumentos válidos e sólidos. É a retórica
ou é a lógica que leva à aceitação de uma ideologia? Existem critérios
objetivos (extra-ideológicos) que permitem concluir que uma ideologia é melhor
do que a outra? Esses critérios não podem ser definidos dentro das próprias
ideologias cujos méritos estão em discussão. Mas se não ali, onde? Se não
existe um patamar não-ideológico a partir do qual se possa fazer uma crítica
das ideologias, os próprios critérios de avaliação das ideologias têm que ser
definidos ideologicamente, e cada ideologia definirá os seus -- e assim
voltamos ao relativismo epistemológico. Neste caso, a chamada discussão
crítica, que antigamente era chamada de racionalidade, desaparece. Não é
consolo ouvir que pode haver discussão crítica dentro de casulos ideológicos.
O que interessa saber é se é possível haver discussão crítica entre (inter, não
intra) ideologias, pois, se não é, torna-se impossível avaliá-las -- e teremos que
concluir que uma ideologia é tão boa -- ou tão ruim -- quanto a outra.

São estas algumas das questões que serão discutidas na presente disciplina.
No título da disciplina usa-se o termo "Epistemologia" e não "Filosofia da
Ciência" deliberadamente e por duas razões. Em primeiro lugar, porque não se
pretende discutir apenas o conhecimento científico, mas também o
conhecimento filosófico e o conhecimento do senso comum. Em segundo lugar,
porque a disciplina não se limitará à discussão da abordagem filosófica do
conhecimento, levando em conta, principalmente, os enfoques históricos,
sociológicos e psicológicos ao problema do conhecimento.

Ao final, e como sempre, em se tratando de filosofia, não se chegará a


nenhuma resposta final e definitiva a essas questões. Talvez fosse totalmente
desnecessário frisar isso. Mas, diante dos vários dogmatismos que
continuamente competem pela nossa atenção e pela nossa adesão, nunca é
demais enfatizar que, principalmente no domínio da Epistemologia, é através
da discussão crítica que o conhecimento progride. Embora o objetivo dessa
discussão crítica seja alcançar a verdade, é preciso sempre cuidar para que a
busca aberta e humilde da verdade não seja precocemente interrompida pela
presunção, freqüentemente dogmática e orgulhosa, de que ela foi encontrada.

Rodrigo Zanardo

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