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Caderno 2
A Mundialização do Capital
Este material foi produzido com o intuito de fornecer melhores subsídios aos alunos
dos diversos cursos, tomando como base informações contidas em diversos livros,
periódicos e sites da Internet, preferencialmente àqueles indicados no programa do
curso, reunindo várias pesquisas e conhecimentos adquiridos ao longo da vida
acadêmica. Quero esclarecer que este material não possui nenhum vínculo com as
Instituições de Ensino onde atuo, nem nenhuma forma de comércio autorizada. Peço
apenas a gentileza de não fazer nenhum uso comercial ou inserção em livros,
periódicos, ou quaisquer outras mídias sem minha expressa autorização, garantida
pela Lei 9610/98. Quaisquer críticas ou sugestões serão muito bem recebidas e
podem ser enviadas ao meu e-mail. Periodicamente faço uma revisão do material de
modo a aprimorá-lo ainda mais, e agradeço as colaborações recebidas.
Transnacionais
O termo multinacional está progressivamente saindo de uso já que ele podia induzir à
idéia de que uma empresa teria várias nacionalidades. Atualmente, tais empresas
recebem a denominação de Empresa transnacional, pois na realidade tem suas
matrizes em um determinado país e atuam em inúmeros outros.
Empresas transnacionais são corporações que não têm seus capitais originários
especificadamente deste ou daquele país e não necessariamente dominam o
processo de produção em seus diferentes segmentos, ou seja, a totalidade da cadeia
produtiva de um produto. Um certo produto pode, dentro deste sistema, ter seus
componentes produzidos em diversas regiões do mundo e montados em alguma
localidade específica. Isso acontece principalmente sob a economia dita globalizada,
em que as corporações (empresas) buscam a redução de seus custos (de mão-de-
a) A força intrínseca do capital adquirida graças à longa fase de acumulação dos "trinta
anos gloriosos" (após a II Guerra Mundial”)
b) As novas tecnologias que as corporações transnacionais, perseguidas pela
concorrência dos grupos japoneses, souberam utilizar para seus próprios fins,
principalmente com o intuito de modificar suas relações com os trabalhadores
assalariados e as organizações sindicais.
c) Um apoio fundamental por parte dos próprios Estados capitalistas, sob a forma das
políticas de liberalização, desregulamentação e privatização (as políticas neoliberais).
Texto de Apoio
Tudo começou quando, no fim dos anos 60, as empresas multinacionais (EMNs) dos EUA
colocaram grande parte se suas reservas financeiras no euro-mercado, um mercado até então
inexpressivo e completamente excluído de qualquer supervisão e controle por autoridades
monetárias nacionais.
O euro-mercado começou a crescer rapidamente, atraindo dinheiro particular e público de
todos os países, até se transformar no grande mercado financeiro internacional, cuja
rentabilidade sobrepujava à dos mercados nacionais porque os bancos que nele operavam
estavam dispensados de manter reservas obrigatórias proporcionais ao valor dos depósitos.
No início dos anos 70, os governos dos grandes países poderiam ter instituído o controle do
euro-mercado por parte do FMI (Fundo Monetário Internacional) ou de alguma outra entidade
intergovernamental, mas não o fizeram.
Esta não-decisão está custando caro á economia mundial, pois ela ficou cada vez mais sujeita
às vicissitudes da especulação financeira internacional.
É interessante observar que a desregulamentação financeira só se tornou política explícita dos
principais governos capitalistas na década de 1980.
Ela se impôs de forma casual, como efeito periférico da crise do sistema internacional de
pagamentos erigido em Bretton Woods, em 1944.
Este sistema tinha por base taxas cambiais não propriamente fixas, mas negociáveis apenas
multilateralmente. Isto significava que um país poderia alterar sua taxa cambial desde que
contasse com o consentimento dos outros países-membros do FMI.
Alterada a taxa, cabia ao governo intervir no mercado de câmbio – vendendo ou comprando
divisas – para manter a taxa de câmbio de sua moeda dentro de uma estreita faixa de variação
ao redor do novo valor "declarado".
O sistema de Bretton Woods pressupunha que cada governo não só dispusesse de reservas
cambiais suficientes para regular adequadamente o mercado de divisas, como também que ele
pudesse em última análise subordinar o movimento internacional dos capitais controlados por
seus cidadãos a objetivos nacionais.
O sistema era administrado pelo FMI, mas a moeda chave era dos EUA, cujo governo deveria
dar o exemplo, ao garantir a conversibilidade do dólar em ouro a uma taxa "declarada".
Mas, em 1971, o governo de Nixon (presidente dos EUA) foi incapaz de resistir ao ataque
especulativo contra o dólar e também não teve competência para negociar com os outros
governos um realinhamento das taxas cambiais que permitisse reequilibrar as contas externas
do país. Preferiu então quebrar unilateralmente o compromisso da conversibilidade do dólar,
liquidando assim em parte o sistema internacional de pagamentos até então em vigor.
O sistema de pagamentos que foi improvisado para substituir o de Bretton Woods, consagrou a
livre flutuação das taxas de câmbio, deixando a cargo de cada governo adotar o regime
cambial que desejasse.
Deste modo, os governos ficaram descomprometidos de controlar e monitorar os fluxos
internacionais de valores. Cada um seguiu o exemplo dos Estados Unidos, cujo governo
gradualmente revogou as sanções fiscais que havia adotado com a finalidade de coibir a
exportação de capitais, na vã tentativa de defender a paridade de 35 dólares por onça-ouro.
AS BOLSAS DE VALORES
As bolsas constituem um exemplo ilustrativo. Em tese, dever-se-ia esperar que elas alcancem
certo equilíbrio quando o valor das ações nelas transacionadas atinge uma proporção
"razoável" ao retorno esperado (=dividendo distribuído lucro retido). Como a economia está
sempre mudando, seria de se esperar que algumas empresas fossem beneficiadas pelas
transformações, o que faria aumentar o seu retorno esperado; outras em compensação seriam
desfavorecidas, acarretando a redução do seu retorno esperado.
Haveria em conseqüência, procura maior pelas ações das primeiras e procura menor pelas das
últimas, do que resultaria a subida da cotação daquelas e queda da cotação destas. Mas o
índice representativo das ações de todas as empresas ou das empresas mais importantes não
deveria mudar, pois o efeito liquido das subidas e descidas de cotações seria próximo de zero.
Mas, não é isso o que se observa. As bolsas, sobretudo em virtude da globalização, são
cenários de freqüentes manobras especulativas, que visam ao controle de grandes empresas,
inclusive de multinacionais.
Como vimos, a globalização acirra a competição entre as EMNs, o que induz sua permanente
reestruturação mediante fusões e aquisições. Como o lucro destes conglomerados depende da
divisão de trabalho que eles montam em seu interior, ele cresce com o número de empresas
que os compõe, de países em que atuam e de produtos que manejam.
De modo que as EMNs estão sempre procurando se expandir, sobretudo adquirindo outras
EMNs ou se fundindo entre si.
Diz o relatório da UNCTAD (1996, p. XIV) já mencionado:
"O valor de todas as transações F&A(fusões e aquisições) trans-fronteiras [incluindo os
investimentos de carteira (ou seja, que não implicam em transferência de controle)] dobrou
entre 1988 e 1995, atingindo 229 bilhões de dólares. O valor das transações F&A de maioria
[excluindo investimento de carteira e IDE (inversão direta externa) de minoria] aumentou 84%
em 1988-1995, tendo alcançado 135 bilhões de dólares."
Estas cifras dão uma idéia do enorme montante de recursos que as fusões e aquisições
carreiam às bolsas.
Referências
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