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DEIXE O MEU
POVO IR
por
David W. Dyer
VITÓRIA
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(Acesso gratuito pelo site www.graodetrigo.com)
Sumário
2. A SUBSTÂNCIA DA IGREJA.......................................................................................................14
5. LIDERANÇA NA IGREJA..............................................................................................................47
7. A UNIDADE DA IGREJA..............................................................................................................84
8. COMPROMISSO.............................................................................................................................94
9. REUNIÕES.......................................................................................................................................105
POSFÁCIO...........................................................................................................................................168
( Ez 43:10-11, NVI)
PREFÁCIO
Este é um livro sobre a casa de Deus.Poucos cristãos parecem ter muito interesse neste
assunto. Eles parecem pensar assim: “Quem se importa com o lugar onde Deus vive?
Certamente Ele é capaz de tomar conta de Seus próprios problamas. Temos nossas vidas
para viver. Temos contas a pagar, crianças para educar e trabalho para fazer. Nãotemos
tempo para nos preocuparmos com o lugar onde Deus irá morar”.
O Rei Davi,porém, tomou uma atitude diferente. Ele tinha um outro tipo de coração.
Ele disse: “...não darei sono aos meus olhos e nem repouso às minhas pálpebras até que eu
encontre lugar para o Senhor,uma morada para o Poderoso de Jacó” ( Sl 132:4-5).
Davi era um homem que tinha intimidade com o Todo Poderoso.Por causa dessa
comunhão, seu coração começou a abraçar os desejos do Altíssimo. Ele começou a sentir as
coisas que estavam no coração de Deus e a desejá-las também. Talvez por esse motivo, o
Senhor o considerou “um homem segundo o Seu coração” (At 13:22).
Davi foi um homem abençoado por Deus, em parte porque procurava as coisas que
Deus desjava. Muitos crentes hoje não aproveitam essa benção. Trabalham longas horas
para pagar suas prestações e outras dívidas, mas parecem nunca chagar a um topo
financeiro. Tentam se entreter com várias diversões,incluidocomidas e bebidas, mas não se
satisfazem facilmente. Estão constantemente comprando novas roupas,mas isto também
não parece ir ao encontro de seuas necessidades emocionais.
Deus hoje está chamando homens e mulheres a se voltarem para Ele e trabalharem
junto com Ele na construção de sua morada eterna. Ele está procurando por aqueles que
irão correspoder ao seu coração.
Este autor espera que, por meio deste livro,alguns cristãos sejam levados a mudar o
seu foco.Talvez por meio deste texto, alguns sejam induzidos a compreender mais
profundamente as coisas que estão no coração de Deus. Então, poderão dedicar suas vidas
a construir a casa deDeus. Eles podem ajudar a construir o Seu reino e transformar isso na
prioridade de suas vidas. Deste modo, certamente irão experimentar maravilhosas bênçãos
em seu trabalho e também recompensas eternas quando Jesus voltar.
David W. Dyer
CAPÍTULO 1
UMA VISÃO CELESTIAL
As instruções que Deus deu a Moisés, Ele também está falando hoje a cada um de
nós. Não somente no Velho Testamento, mas também no Novo, encontramos a seguinte
advertência: "Vê, pois, que tudo faças segundo o modelo que te foi mostrado no monte" (Êx 25:40 e
Hb 8:5). Esta é uma admoestação que precisamos contemplar seriamente.
Moisés foi um homem chamado por Deus para liderar Seu povo e para construir um
lugar para Sua morada. Moisés compreendeu muito bem essa excelente chamada e estava
pronto para responder a ela com todo o seu coração.
Entretanto, ele não era livre para fazer o que quisesse. Não tinha liberdade de
inventar coisa alguma, de planejar o que quer que fosse ou de fazer qualquer coisa de
acordo com os seus próprios gostos ou desejos. Ele foi instruído a fazer tudo estritamente
de acordo com a visão celestial que havia recebido pessoalmente, enquanto estava com
Deus na montanha.
Veja, Moisés havia subido ao monte santo. Lá, ele passou um bom tempo (40 dias e 40
noites, para ser exato), na real presença do Deus Todo Poderoso. Ele conheceu o temor a
Deus. Havia experimentado Sua terrível majestade e poder. Além disso, havia
contemplado o coração de Deus e começado a compreender algo sobre o que o seu
Criador estava desejando. Então, quando desceu daquela montanha, tinha queimando
dentro de si uma visão celestial, uma revelação espiritual, que passou a controlar a sua
obra, enquanto ele estava construindo uma morada para o Altíssimo.
Essas coisas nos deveriam falar, hoje, bem claramente. Quando nos convertemos e
começamos a desejar nos envolver na obra de Deus, isso é algo que devemos considerar
seriamente. Se desejamos ser colaboradores de Deus e auxiliá-Lo na construção de Sua
eterna morada, esse é um aspecto importante a ser considerado.
Antes de começarmos a nos empenhar nisso, precisamos ter entrado profundamente
na presença de Deus. Não apenas ter entrado, mas ter gasto um tempo - um bom tempo
- ouvindo, vendo e compreendendo o que é que Deus deseja. Antes de ir muito além do
estágio e das atividades da infância espiritual, é importantíssimo que tenhamos recebido
uma revelação celestial, de maneira que o nosso trabalho seja feito com substância divina e
não meramente com madeira, feno ou palha (1 Co 3:12). Precisamos ter visto o santo plano
de Deus e, então, construir de acordo com Sua planta.
Queridos irmãos e irmãs, esta não é uma consideração sem importância. Não é algo
com que possamos lidar superficialmente. Quando começamos a nos envolver em
construir juntamente com Deus, tomamos parte em uma construção que é eterna. O que
Deus constrói por meio de nós será Sua habitação eterna. Portanto, não pode e não deve ser
algo feito sem muita revelação e oração, e até mesmo temor e tremor. Todos nós de-
veríamos ter uma dose saudável de respeito e temor a Deus, quando começamos a
construir algo em Seu nome.
O Senhor nosso Deus não habita e nem nunca irá habitar em um templo construído
por mãos humanas (At 7:48). Portanto, se não construirmos de acordo com o Seu desenho,
o que construirmos não irá satisfazê-Lo, e Ele não irá morar ali. Não será o lugar de Sua
morada. Muitos cristãos hoje ficam iludidos porque Deus ocasionalmente visita suas
obras em construção. Já que Sua presença vem de vez em quando, eles imaginam que Ele
está aprovando o que estão fazendo.
Mas o que precisamos construir urgentemente não é um lugar que Deus venha
visitar uma vez ou outra, mas um lugar onde Ele aprecie morar. Precisamos construir a
eterna casa espiritual de Deus, onde Ele irá residir permanentemente, por toda a
eternidade. Para fazer assim, precisamos receber uma profunda visão celestial. Tudo o que
fizermos deverá ser guiado por esta revelação.
OUTROS PADRÕES
Em nosso empenho para sermos agradáveis a Deus, uma coisa precisa ficar muito
clara: a medida de julgamento para nossas obras não é o sucesso. Deixe-me repetir isso. Ou
que confirma ou não a satisfação de Deus com o que estamos fazendo não é se muitas
pessoas estão comparecendo aos nossos encontros. Não é o quão popular nós e nossa
mensagem nos tornamos. Não é o fato de muitos na comunidade cristã estarem aplaudindo
e admirando nosso trabalho. Não é porque nosso trabalho está crescendo e se
espalhando de tal maneira que a nação inteira, ou mesmo o mundo todo, está ouvindo
falar de nós. Honestamente, até mesmo um vírus pode se espalhar rapidamente e se
tornar mundialmente famoso.
Hoje em dia, parece haver um critério que as pessoas admiram. Quando outras
pessoas olham para nosso trabalho, normalmente estão tentando ver uma coisa. Eles
querem ver se somos bem sucedidos ou não. O padrão do mundo é este, normalmente:
"Há um sucesso visível? A obra está se expandindo? Há alguma evidência concreta de
êxito?" Se houver, nossa obra é admirada e aprovada. Se não houver, então o que estamos
fazendo é negligenciado ou mesmo desprezado. Este é o padrão do mundo.
Mas o padrão de Deus é completamente diferente. Seu padrão é a obediência. Sua
aprovação ocorre se estamos trabalhando de acordo com os Seus planos ou não. O que
fazemos em obediência a Ele pode parecer um sucesso aos olhos humanos, entretanto,
também é possível que não pareça. Os caminhos de Deus freqüentemente são misteriosos.
Ele não usa os meios e os métodos do mundo. Sua sabedoria é algo que o mundo e as pes-
soas que vivem nele não conseguem compreender (1 Co 1:18-25). Muitas vezes Suas obras
são ocultas, pequenas e inesperadas. Entretanto, com o passar do tempo, elas produzem
os resultados mais excelentes.
Para esclarecer um pouco este ponto, vamos dar uma olhada em alguns dos homens
de Deus que foram poderosamente usados por Ele, mas ainda assim foram desprezados e
rejeitados. Eles eram bem sucedidos aos olhos de Deus, mas desconsiderados pelo mundo,
e alguns, até mesmo pelas comunidades religiosas de seus dias.
Noé era obediente, mas certamente não era popular. Eu imagino que a maioria das
pessoas o considerava louco. Lá estava ele construindo um imenso barco em terra seca, sem
nenhum modo de conseguir levá-lo à água. Não há dúvida de que ele era motivo do riso da
vizinhança. Mas ele foi obediente a Deus.
Jeremias foi um profeta ungido e usado por Deus. Dois livros inteiros do Velho
Testamento são suas obras e profecias. Cada simples palavra era inspirada e ungida pelo
Deus do Universo. Cada profecia que ele falou estava correta e veio (ou ainda virá) se
cumprir.
Entretanto, ele não tinha grupos de seguidores. Quase ninguém prestou alguma
atenção a ele e nem obedeceu às suas palavras. A nação para a qual ele profetizava nunca
se arrependeu e eventualmente teve que ser julgada por Deus. Seu "ministério" foi um
desastre, do ponto de vista humano. Muitos outros profetas também se encaixam nessa
categoria.
Embora possamos imaginar uma situação diferente, Paulo, o apóstolo, também
parecia um fracasso no final de seu ministério. Ele foi preso, de maneira que "a esfera de
seu ministério" encolheu: de um obreiro viajante pelo mundo a alguém que tinha
contacto apenas com umas poucas pessoas que o visitavam na prisão. Então, todas as
igrejas da Ásia, muitas das quais ele havia fundado, o rejeitaram e se desviaram (2 Tm 1:15).
Ele aproveitou para escrever e enviar umas poucas cartas da prisão, mas isto certamente
não tomava todo o seu tempo. Entretanto, quem poderia ter imaginado o fruto que esse
período de sua vida iria produzir?
Jesus, o Filho primogênito de Deus, também foi desprezado e rejeitado pela maioria
(Is 53:3). Embora gozasse alguns períodos de popularidade, Ele sabia que os homens
freqüentemente estavam se congregando com Ele por razões erradas. Quando Ele lhes
falava algo mais duro, que exigia um compromisso maior da parte deles, muitos se
viravam e O deixavam. No final de Seu ministério terreno, Jesus estava sozinho. No auge
de Seu trabalho sobrenatural, todos os Seus seguidores O abandonaram.
Muito embora hoje se veja a obra de Jesus como um sucesso, já que o Cristianismo se
espalhou por todo o globo, se olhássemos para as coisas como se estivéssemos lá naquele
tempo, Sua obra provavelmente iria parecer falha ou até mesmo um desastre. Ele, o líder,
foi morto, e todos os Seus seguidores foram dispersos. O sucesso aparente não é, e nunca
poderá ser, a medida de nosso trabalho para Deus.
Quando Jesus voltar, o que nós fizemos em Seu nome será julgado. De novo, em 1
Coríntos 3:13, lemos que nossas obras serão testadas pelo fogo sobrenatural. Se nossas
obras foram feitas com materiais combustíveis, isto é, algo humano, natural e terreno, elas
serão queimadas. Se nossas obras foram feitas com materiais celestiais, elas sobreviverão
ao teste.
Deus nos assegura aqui que, mesmo que as obras de alguns sejam destruídas, eles
próprios serão salvos (vs.15). Entretanto, é mostrado que haverá um severo julgamento
para aqueles que construíram erradamente. Não apenas suas obras se perderão junto
com as recompensas por tais obras, mas também haverá um tipo de julgamento para eles
próprios.
Talvez isso se refira ao julgamento expresso no alerta de 1 Coríntos 3:17, onde lemos:
"Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá..." O contexto deste versículo é
muito importante. O assunto aqui é a construção do Templo de Deus. Neste trabalho de
construção, somos ensinados que se "destruirmos" o Templo de Deus, sofreremos severo
julgamento. De acordo com R. N. Champlin, Ph D, em seu comentário sobre o Novo
Testamento, esta palavra "destruir" também pode ser traduzida por "arruinar",
"corromper," "fazer desviar" e/ou "estragar", em sentido moral ou físico (volume 4, p. 51).
A palavra traduzida como "destruir" (vs. 17), referindo-se ao que Deus fará à pessoa
ofensora, é exatamente a mesma palavra grega traduzida por "destruir" na primeira parte
do versículo. Assim, vemos que Deus irá punir aqueles que poluem Sua morada eterna,
de acordo com o que ele ou ela fez. As obras destruidoras que alguém pratica se tornarão o
nossas idéias ou decorações. É muito difícil não incorporar algo de nossos próprios
desígnios e direções. Mas vamos nos lembrar sempre: "...pois aquilo que é elevado entre
os homens é abominação diante de Deus" (Lc 16:15).
trabalho. Em vez de trabalhar em harmonia com as outras partes, ele ou ela podem se
tornar independentes e até mesmo lutar contra o que os outros estão fazendo, já que as
ações destes são diferentes daquilo que ele(a) entende.
A propósito, não queremos perseguir os evangelistas. Esse mesmo problema
também é evidente em outros membros do corpo de Cristo, ainda que cheios de dons.
Hoje, na Igreja de Cristo, vemos muitos irmãos e irmãs construindo dessa maneira
imprevidente. Pensando que o seu ministério é o mais importante ou mesmo o único
caminho, eles começam a "construir uma igreja" em torno do seu ministério. Em vez de
simplesmente fazer a parte deles na construção do corpo, eles se retiram para um canto e
congregam com outros que concordam com eles, ou a quem eles convencem da
importância de seu ministério.
O resultado é que vemos grupos tentando construir a casa de Deus exclusivamente
com canos e encaixes (que exemplificariam o evangelismo). Outros estão construindo
somente com fios, tomadas e pontos de luz (que corresponderiam à profecia ou ensino).
Cada um enfatiza a sua compreensão e o seu dom, sem a humildade de ver que a parte
deles é apenas uma parte do plano.
Assim, compreendemos parte da importância do ministério apostólico. Parte dessa
função é servir às várias partes do corpo, ajudando-as a compreender o plano mais amplo
de Deus e lhes mostrando como podem executar a sua parte em harmonia com o resto. Já
que viram mais da construção completa, eles podem ser úteis aos outros, ajudando-os a
utilizar seus dons e ministérios para construir a eterna morada de Deus. A visão
apostólica é um elemento necessário à construção da casa de Deus. Então, é importante
para todos os trabalhadores da construção que eles ouçam e compreendam a visão
celestial daqueles que genuinamente a receberam.
A revelação divina é absolutamente essencial quando estamos construindo a Igreja
de Deus. Não podemos nem mesmo começar sem ela. Assim como um construtor de um
grande edifício ou até mesmo de uma casa bem menor, não pensaria em começar a
construção sem uma planta, assim também nós precisamos receber a revelação de Deus.
Precisamos ver o que está em Seu coração. Então, precisamos ser cuidadosos para construir
exatamente de acordo com a visão que temos recebido, enquanto estamos com Ele na
montanha.
CAPÍTULO 2
A SUBSTÂNCIA DA IGREJA
Quando nos convertemos e começamos a pensar em trabalhar junto com Deus para
cumprir Seus propósitos eternos, primeiro precisamos receber Dele uma revelação.
Precisamos gastar tempo em Sua santa presença. Precisamos subir "ao santo monte de
Deus". É lá que percebemos o que está em Seu coração e é lá que compreendemos o que
devemos construir e como fazê-lo. Sem esta revelação, é possível e até bem provável que
muito do nosso tempo e energia seja gasto construindo algo que Ele não deseja.
Uma das coisas sobre as quais devemos ter certeza quando começamos a construir é
sobre o tipo de materiais que devemos usar. Quando estamos construindo a habitação do
Deus eterno, há normas específicas que precisamos seguir no que diz respeito aos materiais
empregados. Não somos livres para usar qualquer tipo de elementos que consideramos
apropriados. Se quisermos satisfazer o coração de Deus, precisamos seguir cuidadosamente
o plano divino.
Por um lado, podemos facilmente construir com materiais naturais. As Escrituras
chamam estas coisas de "madeira","palha" e "feno". Estes itens são representativos do
que o ser humano pode fazer por si próprio. Por exemplo, um homem natural pode
planejar, organizar, administrar e usar seus talentos "dados por Deus" para influenciar
pessoas e até mesmo atrair seguidores.
Muitos homens e mulheres podem persuadir outros sobre sua "posição". Podem
recrutar outros para se unir às suas fileiras. Podem dar conselhos, ensinar e até pregar
sobre um grande número de assuntos. Podem fazer discursos interessantes, poderosos e
cheios de emoção. Estas e muitas outras coisas podem ser feitas pelo homem natural.
Já que o homem natural pode fazer todas estas coisas, é fácil fazer todas elas quando
começamos a trabalhar para Deus. Especialmente se temos habilidades em algumas áreas,
é muito natural pensar que podemos usar nossos recursos para ajudar a construir a casa de
Deus. Mas, como a origem destas coisas é terrena e humana, elas realmente são apenas
madeira, palha e feno. Não importa o quão impressionante seja a estrutura que estamos
construindo. O que conta é o tipo de material que usamos na construção.
As Escrituras também mencionam outros tipos de materiais de construção: ouro,
prata e pedras preciosas. Estes itens são representativos de materiais de origem divina.
Eles não são as obras que os homens fazem para Deus, mas as obras que o próprio Deus
faz por meio dos homens. Quando estamos construindo com materiais divinos, não somos
mais nós que estamos fazendo a obra, mas Deus que vive e Se move por meio de nós para
cumprir Seus propósitos.
Muitos homens têm habilidades. Alguns podem construir uma choupana ou uma
casa. Outros possivelmente poderiam construir um avião. Outros ainda são capazes de
desenhar e construir espaçonaves ou computadores gigantes. Há coisas realmente
notáveis que os homens têm construído.
Mas ainda há uma coisa que o homem não pode construir. Ele não pode fazer um
ser vivo. Nenhum homem pode juntar célula com célula, conectar as várias células aos
nervos, fazer ossos e músculos, vários órgãos específicos e fazer com que tudo viva e
respire. Somente Deus pode dar a vida e fazer um ser vivo.
A casa de Deus, na qual Ele irá morar por toda a eternidade, é uma casa viva. Nós, o
Seu povo, somos "as pedras vivas" desta casa (1 Pe 2:5). A casa de Deus não é uma estrutura
física, estática, como a que construiria qualquer presidente ou rei na Terra. Ao contrário, é
uma construção viva, com a Vida de Deus. É um tabernáculo vivo, que respira e se move. É
um vaso no qual Ele pode ser visto e através do qual Ele viverá, Se moverá e Se expressará
no Universo.
Já que nenhum homem pode fazer algo vivo, é claro que nós não podemos construir
coisa alguma para Deus por nós mesmos. O melhor que podemos fazer é trabalhar junto
com Ele (1 Co 3:9). Seguindo a Sua liderança, momento a momento, e confiando
plenamente em Seu poder, podemos ser usados por Ele para construir algo que Lhe
agrada.
Mesmo se tivéssemos recebido a revelação do produto final, ainda assim, não
teríamos a habilidade sobrenatural para fazer aquilo que vimos. Podemos receber uma
visão divina. Podemos receber um vislumbre de Sua casa eterna. Mas nós somos e sempre
seremos dependentes de Deus para fazer a obra em nós e por meio de nós. A revelação
nunca nos faz capazes de fazer as coisas por nós mesmos. Em vez disso, como criancinhas,
precisamos andar de mãos dadas com o nosso Criador e cooperar com o que Ele está
fazendo a cada dia.
"Então o Senhor Deus fez cair pesado sono sobre o homem e este adormeceu: tomou
uma das suas costelas e fechou o lugar com carne" (Gn 2:21).
Aprendemos nas Escrituras que nosso Senhor está preparando uma Noiva para Si
(Ap 21:2). No Velho Testamento, lendo sobre a criação de Adão e Eva, encontramos um
quadro profético referente à futura Noiva de Cristo. Ali podemos entender bem sobre o
tipo de materiais que Deus quer usar. É dito que Adão foi criado "do pó da terra" (Gn 2:7).
Ele foi feito de material comum, terreno.
Mas quando Eva, sua noiva, foi criada, Deus usou algo diferente. Eva foi feita de algo
que saiu "do lado" de Adão. Nada mais foi acrescentado. Nenhum "pó", nenhuma
madeira, folha, ou pedra foi usada. Deus usou apenas o que Ele havia retirado do lado de
Adão para fazer sua noiva. Esta história antiga ainda nos fala hoje.
Assim como Adão foi colocado para dormir, a fim de que Deus executasse nele a
primeira cirurgia para a retirada do material com o qual faria sua noiva, assim também
Jesus "caiu adormecido" na cruz. Lá, o cirurgião assistente de Deus, o soldado romano, fez
uma incisão no lado de Jesus e algo muito precioso jorrou: sangue e água (Jo 19:34). O
sangue e a água, representando a Vida derramada de Cristo, são as genuínas substâncias
que o Pai está usando hoje para construir uma Noiva, Sua Igreja. Assim como no caso de
Eva, nada terreno ou humano pode ser acrescentado. Nenhum outro ingrediente pode
ser usado. Somente a Vida de Jesus Cristo pode ser usada para edi-ficar uma Noiva que o
Seu coração deseja.
A VIDA DE DEUS
Já que a Vida de Jesus é a substância - de fato, a única substância que podemos usar
para construir apropriadamente a santa habitação de Deus - talvez seja bom gastarmos
um tempo para investigar exatamente o que ela é. Embora alguns leitores possam já estar
bem familiarizados com este assunto, para muitos será algo novo e muito importante.
OUTROS MATERIAIS
Então, quando começamos trabalhar com Deus e construir Sua casa, devemos usar
os materiais apropriados. Precisamos construir com a Sua Vida ZOÊ. Precisamos usar
apenas esta substância. Nada mais precisa ser acrescentado. Nada mais, humano ou
terreno, pode ser usado. Isto significa que nossas habilidades naturais estão excluídas.
Por exemplo, precisamos pôr de lado nossa habilidade para fazer com que as pessoas
nos sigam. Nosso dom para influenciar pessoas e persuadi-las a fazer o que queremos
também precisa ser desconsiderado. Nossa personalidade carismática, que fre-
qüentemente usamos para encantar os outros e atraí-los para a nossa obra, é rejeitada.
Nosso modo de manipular os outros politicamente; nossas técnicas de aparência para
sermos amigos de todos e atraí-los para o nosso grupo; nossa presença autoritária que
temos usado para impressionar as pessoas -todas essas coisas devem ser lançadas fora.
Mais do que isso, nosso conhecimento, todas as coisas que aprendemos sobre "como"
construir uma "igreja", devem ser descartadas.
Por que estas coisas devem ser descartadas? Porque elas têm origem na alma. Elas são
uma expressão da nossa vida PSUCHÊ e não uma revelação da Vida de Deus. Enquanto
nossos talentos e habilidades são uma expressão de nossa vida natural, nenhum resultado
sobrenatural pode acontecer.
Quando desejamos trabalhar junto com Deus e construir a Sua morada eterna,
precisamos nos humilhar e nos esvaziar de todas as nossas idéias e planos pré-
concebidos. Precisamos deixar de lado tudo o que aprendemos com as outras cons-
truções meramente humanas. Na verdade, precisamos nos arrepender de tudo o que
estivemos fazendo e que não passava de esforço humano e natural. Então precisamos
aprender a construir de acordo com Seu plano celestial. Como vimos, um aspecto essencial
deste plano é que nenhum material pode ser usado, além daquele que Ele providenciou e
que é a Sua própria Vida sobrenatural!
Alguns poderão argüir que Deus, já que nos fez de uma certa maneira, com certas
aptidões e talentos, certamente gostaria que usássemos estas habilidades naturais para a
Sua glória. Entretanto, este não é o caso. Nada natural pode ser usado em Sua construção.
Ele não irá morar em um Templo feito por nossas mãos, não importa o talento que você
imagina ter. Sua construção de madeira, palha e feno pode ser bonita, mas não é a casa de
Deus.
A questão aqui não é se temos ou não habilidades, mas: Quem está no controle
destas habilidades? Quem está realmente fazendo a obra? Que "vida" está animando
nossos talentos e habilidades? É verdadeiramente a Vida de Deus ou é o homem natural
tentando trabalhar por Deus? Somos nós que estamos dando o melhor de nós para Ele ou é
Ele Se movendo e fluindo por meio de nós?
Nada que seja natural dentro de nós pode ser usado por Ele, até que seja total e
completamente quebrado por Suas mãos! Nossa confiança em nossa capacidade de fazer as
coisas deve acabar totalmente. Nossas habilidades pessoais e qualificações não têm
nenhum valor para Deus, enquanto elas estão sob o controle do homem natural. Enquanto
é a nossa vida natural se expressando, o resultado só pode ser algo combustível.
Paulo, o apóstolo, antes de se converter, era um forte homem natural. Tinha muitas
habilidades naturais. Então Deus trabalhou em sua vida para quebrar a confiança que ele
tinha em si mesmo. Depois de anos de experiência seguindo a Cristo, ele pôde escrever:
"Porque, quando estou fraco, então, é que sou forte" (2 Co 12:10). E: "Porque nós também
somos fracos nele, mas viveremos, com ele, para vós outros pelo poder de Deus" (2 Co 13:4).
Ele cita, em nosso benefício, o que Jesus ensinou a ele: "Minha graça te basta, porque o
poder se aperfeiçoa na fraqueza [humana]" (2 Co 12:9). As habilidades humanas
freqüentemente atrapalham a obra de Deus, mas, nas fraquezas humanas, Ele é
glorificado, porque nelas pode exibir o Seu poder.
Antes de Deus fazer uma noiva para Adão, Ele e Adão examinaram juntos todos os
animais, e Adão foi lhes dando nomes. Mas, quando lemos essa passagem cuidadosamente,
em Gênesis 2:18-20, vemos que aquela não foi apenas uma sessão para denominar animais.
Deus e Adão estavam procurando por algo específico. Estavam procurando uma noiva
para Adão (vs. 20). Mas nenhuma pôde ser encontrada.
Embora os pássaros e outros animais fossem, sem dúvida, graciosos, felpudos,
amigáveis e atraentes, cada um a seu modo, eles não tinham o mesmo tipo de vida que
Adão tinha. Eles não eram da mesma espécie que ele. Portanto, nenhum deles se qua-
lificava para ser sua esposa. Eles foram rejeitados. Do mesmo modo, o próprio Deus só
pode se casar com alguém que tenha a mesma Vida e a mesma natureza que a Sua. Isto
significa, assim como no caso de Adão, que a Noiva de Deus deve ser construída com
aquilo que sai do Seu lado.
Talvez, o grupo com o qual você se reúne seja bem sucedido. Pode ser que muitas
pessoas sejam atraídas pelo seu trabalho. Possivelmente, seus programas diferenciados
para jovens, solteiros, casais etc., sejam bem freqüentados. Pode ser que sua perícia (ou a
de sua esposa) em organização e gerenciamento seja espantosa, e você esteja conseguindo
alcançar suas metas.
Talvez, suas realizações aparentes estejam atraindo a atenção dos outros, e o seu
"ministério" esteja se expandindo rapidamente. É possível que recentemente você tenha
se unido a um movimento "cristão" muito popular, e por isso "sua igreja" esteja crescendo
muito rapidamente. Talvez, você esteja ganhando fama ou até mesmo uma audiência
internacional.
Em todas essas situações, há uma questão importante que precisa ser respondida:
Tudo isso é um produto da Vida Divina ou é fruto da habilidade e ambição humana? É
um produto do que está jorrando do lado de Jesus ou é algo natural e terreno, vestido
com palavras e frases cristãs? O que você está construindo é realmente a Noiva de Cristo ou
é apenas um outro tipo de animal gracioso e felpudo? Ou, pior ainda, é algum tipo de
monstro religioso? Apenas um tipo de obra irá suportar o dia do julgamento. As outras
todas serão queimadas (1 Co 3:15).
Não sou juiz de sua obra para Deus. Ele é quem vai analisar tudo o que fazemos.
Cada um de nós estará diante do trono de Deus, apresentando todas as nossas obras, e
então o julgamento de Deus será executado sobre nós. Com isto em mente, nós somos
exortados a examinar cuidadosamente nossa própria obra à luz de Deus (Gl 6:4).
Meu trabalho como seu irmão em Cristo não é aprovar ou condenar o que você está
fazendo em nome de Jesus. É apenas compartilhar com você as coisas que Ele tem me
mostrado e estimular você, no temor a Deus, a ouvir o que Ele pode estar falando a você e
a responder a Ele de todo o seu coração.
A verdadeira casa de Deus é construída pela ministração de Vida ZOÊ fluindo para
nós e através de nós pelo Santo Espírito. Estamos sendo transformados em habitação de
Deus através do Espírito (Ef 2:22). É "o Espírito da vida (ZOÊ) em Cristo Jesus" (Rm 8:2) que
está fazendo a obra em nós e por meio de nós. Este não é um trabalho que o homem
natural possa fazer. Não há nada dentro de nós, desassociado da ministração da Vida
pelo Espírito Santo, que possa servir para ser usado na construção.
Portanto, é essencial para cada cristão saber distinguir se está no Espírito ou se está
meramente operando pela alma. É preciso ser capaz de discernir quando se está agindo e
falando pelo fluir da Vida divina ou quando algo natural está operando. Precisamos
desesperadamente discernir o que vem do Alto e o que vem da Terra.
A chave aqui é que a nova Vida de Deus vive em nosso espírito humano. O Santo
Espírito Se uniu ao nosso espírito e os dois espíritos se tornaram um (1 Cor 6:17). Portanto, o
que está fluindo para nós, vindo do nosso espírito, vem de Deus. Por outro lado, o que
vem de nossa alma é natural, terreno e rejeitado para a santa construção do templo de
Deus.
Como precisamos nós, o povo de Deus, experimentar a separação entre nossa alma e
nosso espírito (Hb 4:12)! É desespe-radora a nossa necessidade, nesta hora, de saber
quando é simplesmente nossa alma agindo por Deus e quando é realmente Deus agindo
por meio de nós! Esse assunto de distinção entre alma e espírito é vasto. Não há espaço
neste livro para falar disso com grandes detalhes. Mas eu quero estimular todos os
leitores a gastar algum tempo revendo dois capítulos de meu livro DE GLÓRIA EM
GLÓRIA. Estes dois capítulos, o 10 e o 11, sobre a divisão entre alma e espírito, podem ser de
grande ajuda para a compreensão desse assunto essencial.
Entretanto, há dois aspectos da alma que necessitam ser examinados mais
detalhadamente, já que eles entram muito facilmente em nossos projetos de construção
para Deus.
A MENTE HUMANA
Primeiro, vamos falar sobre nossa mente. A mente é parte de nossa alma. Quando
nossa mente está debaixo do controle do Espírito, temos o fluir da Vida ZOÊ e paz (Rm 8:6).
Mas quando nossa mente está sendo motivada pela carne, a vida da alma flui de nossa
mente e o resultado é a morte.
Freqüentemente, tal uso carnal de nossa mente é o resultado de agirmos de acordo
com o nosso conhecimento acumulado. Muitos crentes, talvez sem imaginar isto, têm
"aprendido" a agir como um cristão. Eles têm experiência no que dizer ou fazer e em como
lidar com diversas situações. Talvez tenham sido treinados em alguma escola sobre
como viver e agir em um ambiente cristão. É possível que pensem saber como construir
uma igreja ou um grupo e estão ocupados completando o que sabem fazer entre o seu
círculo de conhecidos cristãos.
Por exemplo: pode ser que eles tenham um certo jeito de orar que pensem "trazer
resultados". Possivelmente pensam que sabem a maneira certa de expulsar demônios. É
possível que tenham aprendido uma maneria especial de pregar, usando vários tons de
voz e gestos dramáticos, paracendo uma peça de teatro. Essas e muitas outras coisas
similares são freqüentemente empregadas na Igreja do Senhor.
Desta forma, estão tentando construir a casa de Deus com materiais terrenos,
carnais. Eles usam a sabedoria natural da mente humana. Isto talvez nos faça lembrar as
palavras de Paulo: "Se alguém julga saber alguma coisa, com efeito, não aprendeu ainda
como convém saber" (1 Co 8:2). O que realmente precisamos saber é como construir com o
Espírito Santo e por meio Dele, que é quem transmite a Vida de Deus.
Você se lembra do Jardim do Éden? Lá havia uma árvore chamada "árvore do
conhecimento do bem e do mal". A árvore era cheia de conhecimentos. Talvez fosse bom
expandirmos um pouco a nossa compreensão dessa verdade, para ver que ela representa
muito mais do que simples conhecimento do mal.
Devemos estar cientes de que há também um "bom" conhecimento exibido por essa
árvore. Tal árvore era (e ainda é) cheia de todo tipo de conhecimento e sabedoria boa,
humana e terrena. Esse "bom" conhecimento inclui o conhecimento de: como construir
uma igreja; como aconselhar pessoas em determinadas situações; como organizar vários
ministérios da igreja; como fazer isto ou como fazer aquilo de um modo "cristão"; e muito,
muito mais.
O resultado de comer o fruto daquela árvore era a morte. Também hoje isto é uma
verdade. Sim, a mente usada pelo homem natural produz morte. A mente humana, cheia
de todo o tipo de conhecimento de como ser um cristão, de como agir ou reagir em cada
situação, como formar um grupo etc., resulta em morte espiritual. A mente natural, sendo
animada e usada pela vida da alma, produz morte, onde quer que ela se manifeste.
Verdadeiramente, as Escrituras dizem que "o saber ensober-bece" (1 Co 8:1), mas nada faz
EMOÇÕES E ENTRETENIMENTO
É claro que alguns percebem a falta do fluir da Vida. Eles discernem que não estão
recebendo alimento espiritual. Mas, comumente a solução deles também é carnal. Sentindo
a lacuna espiritual, eles recorrem à estimulação emocional para tentar preencher o espaço
vazio. Sua música de louvor torna-se mais e mais alta. Participantes são incentivados a
bater palmas, saltar e dançar. Algumas pregações se tornam simplesmente uma gritaria de
palavras ou frases comumente aceitas. Tudo isso e muita coisa mais é meramente um
esforço para incitar as emoções dos que assistem, tentando preencher a falta do fluir do
Espírito Santo. Isto também tem a sua origem na alma.
Estimulação emocional não faz nada para alimentar o espírito humano. Quando
encontros cristãos sempre se constituem em muito som estridente e gritaria, um
observador casual pode ser levado a concluir que, ou o Deus desse grupo é surdo, ou Ele
está muito, muito distante.
Uma outra tática comum nas igrejas dos nossos dias, em uma tentativa de
compensar a falta do fluir da Vida, é recorrer a vários entretenimentos. Claro que há os
corais e os solos padrões. Mas, popular mesmo hoje em dia, são as danças costumeiras,
com bandeiras e roupas, apresentações de teatro, mímica e até bandas profissionais.
Luzes faiscantes e efeitos especiais também podem ser usados. Pode ser que estas coisas
tragam ao nosso grupo um sucesso aparente. É possível que mais e mais pessoas estejam
comparecendo aos nossos encontros. Talvez imaginemos que estamos construindo a casa
de Deus com os nossos métodos diferenciados.
Mas, precisamos parar um minuto e nos perguntar questões muito sérias. Será
possível que essas coisas sejam simplesmente terrenas e humanas? Elas estão produzindo
resultados espirituais? Os homens e mulheres que estão comparecendo aos nossos
encontros têm sido transformados à imagem de Deus? Eles têm sido libertos do pecado e
cheios da Vida de Deus de uma maneira visível, que pode ser comprovada? Eles estão
sendo transformados em pessoas santificadas, em quem Deus se agrada de habitar? Suas
vidas estão sendo mudadas, seus casamentos restaurados e as suas famílias estão sendo
governadas pela graça de Deus?
A nossa ministração é o resultado do fluir da Vida divina ou um substituto humano?
Esse é um trabalho que estamos fazendo para Deus ou um trabalho que Deus está fazendo
por meio de nós? E tal trabalho é verdadeiramente à prova de fogo, para que vençamos o
teste no dia do julgamento, ou é algo que parece bom, mas na verdade é feito de madeira,
feno e palha? A verdadeira Noiva de Cristo está sendo construída somente com aquilo
que está fluindo de Seu lado ferido.
ANDANDO POR FÉ
Muitas pessoas, quando discutem como construir a Igreja, querem saber quais
passos devem dar. Parecem desejar algum tipo de fórmula ou programa que possam
seguir. Gostam de ter algo tangível em suas mãos, algo que possam fazer, algo que usem
para melhorar o seu grupo. Eles se sentem muito inseguros em simplesmente confiar que
Jesus fará a obra.
Mas a casa de Deus é uma casa espiritual. Não é nada que dependa de planos,
programas e fórmulas. Por ser espiritual, é também misteriosa e intangível. O homem
natural não pode compreendê-la com a sua mente natural. Nossos olhos físicos não
podem vê-la. E nossas mãos humanas não podem construí-la. Somente a Vida derramada
de Cristo pode executar este trabalho.
A casa de Deus é uma casa viva. Não é algo estático que possamos planejar, determinar
ou controlar. Já que ela é viva, ela é sempre nova. Jesus, o arquiteto desta casa, está vivo
hoje. Quando Ele andava aqui na Terra, Suas palavras e ações eram sempre
imprevisíveis. Quando Seus discípulos acordavam a cada manhã, não tinham a menor
idéia sobre para onde Ele iria, o que iria dizer ou o que iria fazer a seguir. Eles
simplesmente tinham que confiar Nele para liderá-los e, assim, eles O seguiam para onde
Ele fosse.
Nada mudou. Jesus não nos revela uma série de passos para construir a Sua casa.
Nós, com a simplicidade das crianças, devemos andar com Ele todos os dias. Nós também
precisamos andar com Ele mesmo sem saber o que vai acontecer depois. Precisamos
acreditar que, conforme O seguimos e obedecemos, Sua casa estará sendo construída.
Colaborar com Deus na construção de Sua casa é um caminho de fé. Não é algo fixo ou
pré-programado. Se não soubermos como caminhar com Jesus por fé, não poderemos
construir Sua casa. Pela fé, somos capazes de sentir Sua liderança no dia a dia e de
colaborar com Ele nas coisas que Ele está fazendo.
Se pensarmos que sabemos o que fazer, há uma grande probabilidade de tentarmos
fazê-lo. Se imaginarmos conhecer o plano, é muito fácil para o nosso homem natural tentar
executá-lo. No momento em que pensamos saber o que Deus está fazendo, nós estendemos
nossas mãos humanas para tentar ajudar.
Por esta razão, Deus não nos mostra tudo. Seu plano é que caminhemos com Ele e O
obedeçamos. Nunca vai terminar a necessidade de caminhar com a confiança de uma
criança. Se quisermos trabalhar com Deus na construção de Sua casa, este é o único
caminho.
Imaginar que sabemos o que fazer e como fazê-lo é evidência de que perdemos nossa
direção espiritual. No momento em que pensamos que sabemos como ou o quê construir,
isto é prova de que Jesus se mudou e nós estamos simplesmente nos agarrando à forma
vazia de algo que Ele fez no passado. Quantos homens de Deus estão nesta posição!
Estão tentando permanecer em algo que Deus fez no passado. Isto não funciona.
É verdade que Deus pode nos dar uma direção futura. Ocasionalmente, Ele nos
mostrará como executar uma coisa ou outra para Ele. Entretanto, estas coisas são sempre
sujeitas a mudanças. Nosso Senhor está sempre fazendo coisas novas. Não podemos tirar
os olhos Dele. Precisamos olhar sempre para Ele e não somente para as coisas que Ele fez
no passado. Precisamos estar sempre prontos, como o povo de Israel no deserto, para
empacotar nossas coisas e partir a qualquer momento. Não podemos perder contato com
Ele. Deste modo, seremos frutíferos em nosso trabalho de construção de Sua morada
eterna.
Como precisamos conhecer esta Vida, para discernir entre ela e as manifestações da alma!
É uma necessidade desesperadora, nesta última hora, para o povo de Deus deixar os vãos
exercícios religiosos. É essencial pararmos toda atividade que é meramente da alma,
humana e terrena. É crucial nos arrependermos de toda a nossa obra natural e de todos os
esforços terrenos e começarmos a viver e a trabalhar pelos impulsos de uma Outra Vida.
Queridos irmãos e irmãs, estas considerações são importantes. Todas as nossas
obras serão julgadas um dia. O fogo de Deus irá nos testar e também àquilo que estivemos
construindo. Que possamos ter humildade para interromper qualquer coisa que
percebemos não vir Dele. Que nós possamos ter honestidade para admitir e abandonar
qualquer construção que tenha sido feita por mãos humanas. Que nós possamos estar
entre aqueles de quem será dito: "...suas obras foram feitas em Deus" (Jo 3:21).
CAPÍTULO 3
UMA VISÃO CELESTIAL
Cada tipo de vida, seja vegetal, seja animal, tem sua forma particular. Quando cresce,
ela se molda aos padrões de seus genitores. Torna-se aquela forma reconhecível que mostra
de onde veio. Por exemplo, cada variedade de árvore cresce de acordo com a sua forma
familiar. Uma bananeira tem sempre a mesma aparência. Uma macieira tem uma forma
típica. As pessoas que têm familiaridade com plantas podem dizer, à distância, que
árvore é aquela, apenas pela sua forma. A mesma regra é verdadeira para com os animais.
Um cão sempre aparenta ser um cão, assim como um gato sempre aparenta ser um gato.
Reconhecemos a vida desses animais pela sua forma. Esta forma exterior é resultado
da vida que está no interior deles. A vida do gato sempre produz a forma de gato. A vida
do cachorro sempre cresce em forma de cachorro. Essas formas familiares não são um
resultado de auto-esforço da parte dessas criaturas. Também não são produzidas por meio
de outros seres administrando ou fiscalizando o desenvolvimento delas. Ao invés disso, é a
própria vida presente nelas que produz a forma familiar.
Exatamente do mesmo modo, a Vida de Jesus Cristo, á medida que cresce dentro dos
crentes, produz a Igreja. Esse é um princípio da maior importância. É a Vida de Deus que
produz a forma da Igreja, Sua Noiva! Mais do que isso, é apenas esta Vida (ZOÊ) que produz
a Igreja. Se vamos trabalhar junto com Deus na construção da Igreja que Ele deseja,
precisamos compreender inteiramente esse fato básico.
Quando desejamos trabalhar junto com Deus e construir Sua morada eterna,
precisamos aprender a construir de acordo com o padrão que vimos na montanha. Este
padrão é um padrão vivo. A Igreja de Jesus é um ser vivo. Sua Noiva é construída pela
Sua Vida. Portanto, é apenas construindo com a Sua Vida e pela Sua Vida que podemos
chegar ao resultado que Ele tanto almeja. Até que tenhamos compreendido essa verdade básica e
essencial, não estamos em condições de construir a casa de Deus!
Muitos crentes estão construindo hoje, mas muitos deles não têm um entendimento
claro sobre o que estão fazendo. O erro mais comum que cometem é achar que discernem
o padrão de construção enquanto lêem o Novo Testamento. Então começam a copiar este
padrão. Eles trabalham ativamente para reproduzir a forma que acreditam ter visto.
É comum que alguns líderes ou grupos imaginem ter alcançado o padrão que mais
se assemelha ao padrão do livro de Atos ou das Epístolas. Eles acreditam que o seu jeito é o
mais bíblico. Talvez estejam implantando um certo tipo de estrutura de autoridade. Talvez
selecionem diáconos e pastores de uma maneira especial. Possivelmente estão iniciando
certos tipos de encontros, cerimônias ou práticas. Pode ser que estejam insistindo em um
certo esquema de doutrinas, crenças ou até no uso de novas palavras "mais bíblicas".
O problema é que copiar um padrão que alguém pensa ter percebido é um sério
engano. É colocar o carro na frente dos bois. Nunca podemos colocar em prática algum
padrão, doutrina ou exercício e produzir algo que agrade a Deus. O padrão que
acreditamos ver, nunca, nunca irá produzir a Vida de Cristo. Por outro lado, a Vida de
Cristo sempre gera o padrão ou forma apropriada, aquele que Deus deseja.
Esta é verdadeiramente uma questão de vida ou morte. Quando tentamos
reproduzir um padrão, invariavelmente o resultado será algo sem vida, algo morto.
Nós não temos o poder de gerar Vida. Somente Deus pode fazer isso.
Talvez acreditemos que, se produzirmos algo próximo ao padrão divino, Deus vai
descer correndo para abençoá-lo. Possivelmente, pensemos que, se conseguirmos
construir algo semelhante ao que vimos na Bíblia, Ele virá morar neste lugar. Talvez
achemos que Ele virá e dará Vida à imagem que fizemos. Mas não, isso nunca acontecerá!
Nosso Deus nunca dará Vida ao que construímos para Ele, não importa se acreditamos
que é algo bíblico.
Portanto, muitas de nossas obras permanecem mortas ou sem efeito. Permanecem
uma coisa sem vida que precisamos constantemente tentar empurrar para a frente com
programas, atividades e entusiasmo humanos. Sempre requerem a nossa atenção para
que se mantenham em movimento. Precisamos sempre manter a estrutura religiosa sendo
alimentada pela energia, esforço e organização humana .
Por não ter a sua própria vida, a estrutura humana sempre requer o serviço daqueles
que têm um relacionamento vivo com Jesus. Porque a forma religiosa não é viva, ela
necessita constantemente sugar nutrição daqueles que têm intimidade e comunhão com
Jesus.
Então, o zelo, o entusiasmo e o amor por Jesus, que os membros dos grupos
humanamente controlados têm, tornam-se o suporte para os planos e programas da
instituição. Os membros são usados para liderar vários programas, acompanhar novos
visitantes e assumir muitas outras atividades, que são necessárias para manter a
máquina em movimento.
Tais organizações necessitam de homens e mulheres que lhes sirvam de alimento,
assim como um parasita necessita de um corpo vivo para dele tirar seu sustento.
Algumas vezes, quando a organização já usou toda a vida que estava em algums membros,
quando eles já deram tudo o que podiam para ajudar e acabaram sem força e sem ânimo,
ela os cospe e procura outros para tomar seus lugares. Esse triste desfecho é o resultado
de se estar construindo com materiais terrenos, ao invés de substâncias divinas.
Podemos trabalhar com Jesus na construção de Sua Igreja, ministrando Sua Vida uns
aos outros. Ele declarou que Ele é "a Vida" (Jo 11:25). Portanto, quando O compartilhamos
com os outros, estamos construindo a Igreja. Conforme O seguimos, Ele nos guiará a usar
de maneira certa os dons e os ministérios que nos deu para edificar a outros. Por meio de
nosso relacionamento íntimo com Ele, iremos receber uma revelação viva, cheia de
sabedoria e de direção. Após isso, podemos compartilhar o que recebemos. Essa Vida
produzirá, então, a forma que Ele desejar.
Os crentes que estão em relacionamento íntimo com Jesus a cada dia estão cheios de
Sua Vida. Estes indivíduos estão constantemente fazendo algo, pois o seu Senhor os está
dirigindo dia a dia. Eles estão visitando os doentes. Estão compartilhando o Evangelho.
Estão procurando solucionar as necessidades dos outros e pedindo a Deus maneiras para
conseguir fazer isso. Estão cuidando dos pobres. Estão orando uns pelos outros e
constantemente procurando um meio de ministrar Cristo uns aos outros.
Tais cristãos estão sempre juntos, porque o Espírito de Deus os está incitando a
FALSOS APÓSTOLOS
O EXEMPLO DA FLOR
Vamos tomar agora o exemplo da flor. Suponha que desejamos ter um tipo de planta
com flores - talvez uma margarida. Temos duas escolhas. Para atingir o nosso objetivo,
podemos ir a uma loja que venda determinados objetos e comprar alguns itens: material
de seda colorida, arame verde, um pouco de cola, tinta e tudo o que precisamos para
produzir uma planta e suas flores. Podemos então trabalhar com este material. Podemos
cortar, colar e pintar. Podemos fazer folhas, hastes, botões e flores. Logo teremos algo que se
pareça com a flor que desejamos.
Hoje, há pessoas que são peritas nesse tipo de coisa. Tenho visto flores de seda que
nem se distinguem das flores reais. São tão reais e bem feitas que aparentam ser flores
genuínas. Você pode até mesmo comprar um perfume e colocar nelas para que cheirem
como uma flor real. Mas há um pequeno problema. Elas estão mortas. São artificiais. Elas se
parecem com algo real, mas são falsas. São uma simples imitação.
Quantas obras para Deus se encaixam nesta categoria! Elas têm a aparência ou a
estrutura das Escrituras, mas falta-lhes abundância de Vida. Elas parecem adequadas e
possuem características que estão de acordo com o Novo Testamento. Elas têm flores, com
hastes e pétalas, mas não são vivas. Talvez elas tenham anciãos, diáconos, cultos etc., mas
não têm a Vida de Deus que está enchendo e animando cada parte de sua estrutura. A
forma não é resultado da Vida e, portanto, nunca poderá satisfazer o Senhor.
Se quisermos ter uma flor, há uma outra maneira de consegui-la. Entretanto, é um
modo muito mais vagaroso e é um processo que pode parecer tolo. Entretanto, é o caminho
da vida. Primeiro você pega um pequeno grão - a semente - e a enterra no solo. Após isso,
você espera alguns dias. Com carinho e o tempo apropriados, a vida que está contida
nesta semente irá florescer. O poder da vida que está nesta pequena e insignificante
semente irá produzir as lindas flores que você deseja.
Do mesmo modo, quando desejamos edificar a Igreja, precisamos compreender esse
princípio da Vida. Temos que ter paciência. Algumas vezes podemos parecer tolos aos
olhos dos outros. Nosso trabalho é simplesmente ministrar Jesus Cristo aos outros,
quando e como o Espírito Santo escolher. Não precisamos saber muito. Não precisamos de
educação religiosa formal. Não precisamos fazer nada com nossa própria força ou
inteligência. Apenas precisamos pacientemente servir aos outros com alimento eterno, a
Vida de Jesus Cristo. Podemos fazer isto confiando completamente que esta Vida
produzirá o padrão do Novo Testamento. A ministração do Espírito Santo resultará
sempre em Igreja. Nunca crescerá algo diferente.
Conforme uma planta cresce, no começo, ela não se parece em nada com a foto que
você vê no pacote de sementes. Provavelmente é como um pequeno broto verde, muito
frágil e que poderia ser confundido com muitas outras plantas ou mesmo com erva
daninha. Mas, com tempo e nutrição, todas as feições da flor começam a aparecer.
Começamos a ver as folhas, as hastes e os botões. Finalmente, a flor completa está em
vigor.
Quando simplesmente ministramos Jesus, no princípio as coisas podem parecer
pequenas e insignificantes. Contudo, somos advertidos a não desprezar "o dia das
pequenas coisas" (Zc 4:10). Pode ser que nem todas as "características" da Igreja estejam em
evidência. Talvez, todos os dons e ministérios não estejam ainda em plena floração. Pode
ser que algumas partes estejam faltando. Mas Deus nos fala sobre isso em Sua Palavra. Em
Marcos 4:28, lemos "...primeiro a erva e então a espiga de milho". O pequeno broto verde (a
erva) surge primeiro e, então, depois de algum tempo e de nutrição, nós vemos o fruto (a
espiga do milho).
Precisamos confiar na semente. A Vida de Cristo irá produzir sempre e somente a
verdadeira Igreja viva. Não temos a necessidade de sair correndo e começar a fabricar algo
por nós mesmos, nem para Deus. Vamos esperar pacientemente. Vamos continuar
semeando e regando, sabendo que, em Seu tempo, o desejo divino virá à tona.
Sabemos, por exemplo, que na Igreja vemos certos dons e ministérios. Lemos no Novo
Testamento sobre evangelistas, pastores, mestres, apóstolos e profetas (Ef 4:11). Lemos sobre
dons de cura, milagres, sabedoria, conhecimento, profecia e muitas outras coisas.
Compreendemos que a igreja primitiva se reunia diariamente, de casa em casa (At 2:46).
Os apóstolos estavam ensinando no Templo (At 5:42). Pouco depois, alguns foram
enviados para ensinar e pregar. Diáconos foram escolhidos (At 6:5). Anciãos foram
reconhecidos (At 14:23). Igrejas foram plantadas. Podemos identificar muitas partes
diferentes desta planta. Mas como tudo isto aconteceu? Foi resultado de esforço humano
ou do fluir da Vida Divina?
Não sei como aconteceu, mas parece que Jesus Se esqueceu de ensinar aos discípulos
como estabelecer uma igreja. Ele passou um bom tempo com eles, cerca de três anos e meio.
Estavam juntos todo o tempo, comendo, viajando, ministrando e dormindo. Entretanto, Ele
parece ter Se esquecido de ensiná-los como organizar uma igreja. Nos quatro evangelhos
não encontramos registro de tal instrução.
Jesus não explicou como realizar os cultos. Não mencionou como selecionar diáconos
ou anciãos. Ele parece ter negligenciado o ensino de como organizar coisas, como fazer
alguns encontros, como realizar reuniões de oração, grandes celebrações ou pequenos
grupos. Talvez não tenha passado pela Sua mente deixar instruções sobre como levantar
ofertas, pagar os pastores e outras despesas. Ele não deu sugestões de como criar novos
grupos para as crianças e atividades para os adolescentes, ou promover retiros e
convenções. Ele passou tanto tempo com eles e não lhes ensinou coisa alguma sobre essas
coisas e outras tantas que parecem tão importantes.
Mas, de fato, encontramos dois versículos nos quais Jesus nos ensina sobre a Igreja.
Um deles é quando Ele especificamente diz: "Eu edificarei a minha Igreja" (Mt 16:18). Isto
deveria falar profundamente conosco. Ele nunca disse: "Por favor, vão e construam a minha
Igreja de acordo com as seguintes instruções." Ele insistiu em dizer que Ele iria fazer o
trabalho. Ele iria fazer a construção.
Nossa função seria partir e pregar ao mundo sobre Ele. Nós devemos anunciar ao
mundo as Boas Novas sobre a Sua Pessoa e sobre a Sua obra. Enquanto nós O ministramos
aos outros, Ele vai construindo a Sua casa. Sim, somos Seus colaboradores. Nós temos uma
parte para executar. Entretanto, não é construir algo para Ele, mas deixar que Ele trabalhe
por meio de nós.
Um segundo versículo no qual Jesus nos fala sobre a construção de Sua Igreja é João
16:13. Ali nós lemos que Jesus iria nos enviar o Espírito Santo e que, quando Ele viesse, nos
guiaria à toda verdade. Em vez de ensinar aos discípulos uma lista de instruções e de
passos a serem tomados, Ele disse que lhes enviaria o Espírito Santo. Seguindo o Espírito
Santo, todos as necessidades de seus corações seriam supridas. A ordem destas coisas é
muito importante. Primeiro, Deus derramou do Seu Santo Espírito. Depois, temos o
registro de tudo o que Deus fez em Seu povo e por meio de Seu povo.
Todas as características, os dons, as reuniões e os ministérios da Igreja, sobre a qual
lemos na Bíblia, eram resultado dos homens e mulheres seguindo o Espírito Santo.
Aquelas pessoas não tinham o Novo Testamento. Elas também não possuíam instruções
detalhadas de Jesus. Então, eram forçadas a confiar no Espírito Santo dia a dia.
Simplesmente tinham de segui-Lo em fé e confiança. Elas eram guiadas por Sua Vida, e a
Sua Vida produziu as igrejas que vemos na Palavra de Deus.
Então, se queremos ver essas mesmas coisas acontecendo em nosso tempo e lugar, o
que devemos fazer? Precisamos fazer as coisas do mesmo modo que os crentes do Novo
Testamento. Primeiro, precisamos ser cheios do Espírito Santo. Depois, precisamos segui-
Lo em tudo o que Ele nos levar a fazer. Quando fizermos isso, poderemos ter completa
certeza de que a Sua liderança irá produzir as coisas que vemos no livro de Atos e nas
Epístolas. A Vida de Deus somente irá produzir a Igreja.
Por outro lado, se simplesmente tentarmos repetir o padrão que acreditamos ver no
Novo Testamento, iremos nos desviar do objetivo. Iremos produzir uma forma vazia, sem
o conteúdo essencial. A substância da Igreja no Novo Testamento era a Vida de Cristo,
ministrada pelo Espírito Santo. Todas as características que vemos eram o resultado direto
desta Vida. Se nós também quisermos ver a casa de Deus sendo edificada, precisamos
construir do mesmo modo.
Verdadeiramente, Jesus não Se esqueceu de nada. Ele ensinou aos Seus discípulos
tudo o que era necessário para viver e ser dirigido pelo Espírito Santo. Ele lhes ensinou a
humildade; a serem submissos a Ele; a se amarem uns aos outros. Todos os ingredientes
cruciais para construir a Igreja eram evidentes em Seus ensinamentos. O que Ele fez foi
preparar Seus seguidores para receber e caminhar com o Espírito Santo que lhes seria
enviado.
A NECESSIDADE DA BÍBLIA
Quero afirmar aqui, enfatica e claramente, que não sou contra a Bíblia. Nem estou
afirmando que é desnecessário sermos bíblicos em nossa caminhada e em nosso trabalho
para o Senhor. De fato, estou ensinando exatamente o contrário. A única questão é
COMO usar esse livro.
A Bíblia é absolutamente necessária para a nossa vida e caminhada cristã. Ela tem
importantes funções para cada crente. Em primeiro lugar, e o principal, ela nos revela a
pessoa de Jesus Cristo. Em vez de uma série de regras ou instruções, o principal objetivo da
Bíblia é nos revelar Deus. Ele pode ser visto em cada página. Se falharmos em penetrar por
trás das palavras e letras, se apenas virmos a forma, mas não compreendermos a Vida da
Pessoa que produziu esta forma, perderemos completamente a mensagem.
Essa Pessoa que é revelada na Palavra de Deus é nosso alimento. Ela é nossa nutrição
espiritual. Precisamos aprender a comer e a beber Dela a cada dia. Como isto é feito?
Quando abrimos a Bíblia, precisamos ao mesmo tempo abrir o nosso espírito para Jesus. Em
vez de tentar acumular informações sobre Deus em Sua Palavra, precisamos aprender a
realmente ter comunhão com Deus em Sua Palavra. Precisamos encontrar ali uma Pessoa
viva e ter um relacionamento íntimo com Ela, à medida que vamos lendo. Esta é a
realidade espiritual da comunhão. Comer e beber Cristo em Sua presença, por meio da Sua
Palavra.
Eu recomendo que cada cristão passe muito tempo meditando na Palavra de Deus a
cada dia. Conforme nos enchemos com a Sua Palavra, nosso homem espiritual vai
crescendo (1 Pe 2:2). Recebemos nutrição espiritual. Ficamos cheios da Vida Divina. Assim
nós temos algo vivo e real para ministrar às pessoas ao nosso redor. Ao invés de lhes
contar sobre algo que aprendemos mentalmente, podemos compartilhar com elas Alguém
que conhecemos intimamente. É assim que podemos trabalhar junto com Deus para
construir Sua santa habitação.
Quando oramos, podemos orar no Espírito. Quando louvamos, nosso louvor pode
ser do tipo aceitável, "em espírito e em verdade" (Jo 4:23). Quando ministramos,
compartilhamos a substância espiritual que nos tem alimentado. Tudo isso é resultado de
aprendermos como nos alimentar da Palavra de Deus.
Se você não conhece esse segredo, se não está encontrando Sua doce presença quando
abre o Seu livro, então você precisa de algumas mudanças reais em sua vida.
Qualquer coisa que esteja inibindo seu relacionamento espiritual com Jesus necessita
de tratamento. Qualquer coisa em sua vida que não agrade a Ele necessita de
arrependimento. Se você não se sente confortável, em completa transparência e intimidade
com o seu Salvador, você deve procurá-Lo para compreender o que está impedindo esse
relacionamento. Então você precisa fazer os ajustes necessários, de maneira que, quando
você estiver meditando em Sua Palavra, você também possa estar usufruindo do Seu falar
e da Sua presença.
A Bíblia é absolutamente essencial para uma caminhada cristã saudável. Através
dela, Deus nos revela a Si mesmo e Sua vontade. Nela, Ele mostra a Sua direção e podemos
compreender Seus planos e propósitos. A Palavra de Deus nos convence do pecado. Ela
nos mostra quando estamos carentes da glória de Deus e longe de Sua vontade. Ela nos
desafia, mostrando-nos onde estamos falhando em manifestar a natureza divina. Ela nos
revela como Deus tem conduzido e usado outros irmãos, abrindo novas perspectivas
para nossa vida espiritual e para a nossa obra.
Referente à Igreja, a Bíblia nos mostra qual é o produto final, de modo que possamos
procurar Jesus, em busca de vivenciar a mesma coisa em nosso meio. Se percebermos que
certas características estão faltando, precisamos orar para que Ele nos leve a adquiri-las. Em
vez de tentar corrigir qualquer falha por nós mesmos, precisamos nos voltar para Deus.
Nenhum plano ou procedimento humano é necessário. Precisamos deixá-Lo nos
convencer das atitudes ou ações que estão inibindo o fluir de Sua Vida. Precisamos abrir
nossos corações e nossos espíritos para Ele fazer qualquer obra que seja necessária. Quando
vemos instruções na Bíblia que estão faltando na parte do corpo de Cristo a que estamos
ligados, somente Ele poderá produzi-las em nosso meio.
Vamos supor, por exemplo, que alguns estão sentindo falta de algo entre os jovens.
Talvez eles não estejam sendo adequadamente tocados pelos ministérios que existem. Então,
o que fazemos? Devemos instituir algum tipo de programa ou de atividade ou encontrar
alguém que irá suportar nos ombros o peso de supervisionar esse grupo? É esse o modo
de Deus trabalhar? Há uma grande chance de que isso produza meramente uma outra
forma vazia.
Mas há uma outra opção. Aqueles que vêem a falta de algo devem começar a orar.
Podem começar a interceder a Deus para que Ele venha suprir essa necessidade. No tempo
certo, Ele irá levantar alguém com unção para ministrar nesta área. Ele encontrará alguém
que Ele já preparou para tratar dessa necessidade. Então, em vez de mais um programa de
igreja, teremos um ministério ungido, que Deus irá usar para edificar a Igreja.
Além disso, quando vemos acontecendo ações entre nós que não se fundamentam na
Palavra de Deus, precisamos ser corrigidos pela Palavra. Por exemplo: quando alguém
está exercendo sobre outros um tipo de autoridade que não está nas Escrituras, sabemos
que isto não vem de Deus. Quando existe pecado; quando existe uma ênfase equivocada
na "liberdade"; quando alguma doutrina ou prática estranha é notória; então a Bíblia é
essencial para nos convencer. Este livro santo é de alguma forma semelhante à foto da
planta que desejamos ver. Todas as práticas e hábitos entre nós que não estão em
conformidade com o quadro bíblico devem ser descartados.
De maneira alguma estou negando a necessidade da Bíblia. Só estou dizendo que
este livro pode ser usado de dois modos. Pode ser usado como fonte de Vida ou pode ser
usado como uma ferramenta legalista para ministrar morte aos outros. Paulo diz que ele e
seus colaboradores eram "...ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do espírito". E
amplia esta idéia explicando que "a letra [das Escrituras] mata" (2 Co 3:6).
Tudo isso foi escrito para dizer que podemos usar mal a Bíblia. Podemos usá-la para
ensinar um padrão. Podemos insistir na aparência superficial daquilo que acreditamos ver
e perder a substância dela. Podemos realmente trazer dano espiritual aos outros e até
mesmo a morte espiritual através de tal ministério. Ou podemos usá-la como fonte de
Vida. Por meio de nosso relacionamento íntimo com Jesus em Sua Palavra, nós podemos
compartilhar esta Vida com outros para edificá-los. A conclusão de Paulo então se torna a
nossa experiência: "Mas o Espírito [das Escrituras] dá vida [ZOÊ]" (2 Co 3:6).
Uma conclusão a que podemos chegar, pela nossa discussão anterior, é que, quando
estamos trabalhando junto com Deus para construir Sua morada eterna, não precisamos
nos preocupar muito com a forma que ela vai tomar. Não precisamos gastar tempo e
energia organizando, planejando e manipulando a estrutura. Não temos necessidade de
tentar controlar nada nem ninguém. Se Deus não está no controle, nossos esforços são
vãos. "Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam" (Sl 127:1).
Nossa principal necessidade é aprender como ministrar Jesus Cristo uns aos outros e ao
mundo que perece.
Conforme já mencionamos, podemos ter inteira confiança na semente da Vida. A
forma da Igreja está na semente de Vida que estamos semeando. Por exemplo, se plantamos
uma semente de milho, crescerá trigo dessa semente? É claro que não. Se plantarmos uma
semente de feijão, brotará dessa semente um pé de tomate? Nunca! Portanto, quando
estivermos ministrando Jesus Cristo, Sua semente irá produzir a Igreja e nada mais.
Podemos confiar completamente nesse fato. Nossa fé precisa repousar na habilidade
de Jesus Cristo para fazer o que Ele disse que faria - edificar a Sua Igreja. À medida que nós
simplesmente fazemos a nossa parte, em obediência ao Seu Espírito, Sua casa será
edificada. Podemos descansar, crendo que Ele é capaz de fazer tudo que vai satisfazer
Seus desejos.
Avida cristã deveria ser de grande simplicidade. Precisamos nos tornar como
criancinhas. Nossa meta não deve ser nos tornar grandes e termos uma organização
enorme debaixo de nossa autoridade. Não temos necessidade de tentar controlar o modo
como as coisas estão indo. Não há necessidade de organizar grupos ou igrejas. O simples
objeto de nosso trabalho é ajudar os outros a se transformarem à imagem de Jesus Cristo.
Deste modo, e somente deste modo, a casa de Deus é construída.
Esse tipo de ministério envolve uma grande fé em Jesus Cristo. Significa que
precisamos seguir nosso Líder invisível a cada dia. Precisamos confiar que Ele sabe o que
está fazendo e irá nos conduzir. Precisamos aprender a depender completamente de nossa
comunhão espiritual com o nosso Salvador ressurreto.
Aqui não há necessidade de forma ou fórmulas. Não precisamos de algum tipo de
doutrina especial que nos garanta que faremos a coisa certa. Sabemos que O estamos
agradando, porque estamos caminhando com Ele em um relacionamento de fé.
Por outro lado, o ser humano natural gosta de um tipo de segurança terrena. Ele
aprecia algo planejado anteriormente. Quer saber o que irá acontecer amanhã. Coloca
grande confiança nas coisas que são visíveis e tangíveis. Portanto, ele anseia por algo
organizado, bem planejado e "seguro". Ele quer um tipo de estrutura terrena da qual ele
possa depender.
Se vamos construir a morada eterna de Deus, precisamos construí-la com Vida. À
medida que esta Vida cresce dentro de cada um, a forma da Noiva irá aparecer. Como Deus
Se agradará dessa visão! Como o coração do Noivo está esperando por uma Noiva viva
que seja semelhante a Ele!
Quando ela estiver cheia de Sua Vida e natureza, quando estiver se movendo pelo
Seu Espírito e respondendo a cada desejo Dele, Ele vai adorar a presença dela! Esse é o
tipo de experiência da Igreja que atrai a presença do Senhor. Esse é o tipo de casa onde Ele
Se agrada em morar.
O PROBLEMA DA MISTURA
Deus é muito simples. Ele não insiste em que devemos estar completamente certos
sobre tudo antes que Ele comece a trabalhar conosco. Se Ele insistisse em que estivéssemos
completamente certos, Ele nunca poderia trabalhar com ninguém. Então nosso Senhor Se
humilha e tenta Se adaptar às nossas obras, quando Ele acha um espaço ou uma
oportunidade. Ele encontra meios de trabalhar ao nosso redor e apesar de nossas cons-
truções humanas. Por ver fome espiritual entre o Seu Povo, Ele descobre um modo de
ministrar às suas necessidades.
Por exemplo: Ele pode dar a um pastor uma mensagem ungida; pode inspirar um
irmão ou uma irmã para orar pela cura de uma outra pessoa, pela libertação de alguém
ou por qualquer outra necessidade; pode levantar alguns para interceder pelo grupo e
pela liderança; e sem dúvida, Ele irá usar os diferentes membros para espalhar o
Evangelho aos ímpios.Essas e muitas outras coisas Deus fará entre nós, apesar de qualquer
estrutura religiosa humana que tenhamos.
Talvez muitos fiquem confusos, interpretando mal o fato de Deus agir entre eles,
entendendo que têm Sua bênção sobre tudo o que estão construindo. Já que eles vêem que
Deus os está usando em algumas coisas, então supõem que Ele está aprovando tudo o que
eles fazem. Eles se enganam, achando que os frutos que vêem são o resultado das ações
deles.
A verdade é que Deus responde a corações abertos. Quando vê anseios espirituais
entre o Seu povo, Ele faz tudo o que pode para suprir suas necessidades. Ele encontrará
maneiras de trabalhar ao lado das construções humanas para cumprir os Seus propósitos.
Portanto, alguém pode perguntar: Então, por que a estrutura é tão importante? Que
diferença faz o modo como construímos? Por que esse autor se preocupa tanto em
construir somente com materiais divinos e da maneira desejada por Deus se os
resultados são os mesmos?
O problema com a construção inadequada é que ela atrapalha a obra de Deus. Ela fica
no Seu caminho. Embora Ele possa encontrar maneiras de trabalhar ao redor dela e ao lado
dela, ela é uma espécie de obstáculo para aquilo que Ele verdadeiramente quer fazer no
Seu corpo e com o Seu corpo. O nosso Senhor deseja fazer muitas coisas e o fará, se
dermos abertura para isso.
Se a nossa construção não for simplemente um impedimento, Jesus pode trabalhar
por meio de nós muito mais eficientemente. Se aprendermos a trabalhar lado a lado com
Deus, usando os Seus materiais, nosso trabalho para Ele será muito mais efetivo. Se o que
nós fazemos da maneira errada, usando materiais errados, pode ser um pouco usado por
Ele, imaginem o que Ele fará se nós realmente trabalharmos de acordo com o Seu plano.
O poder de Deus e as Suas bênçãos serão muito mais abundantes, se fizermos as coisas
do jeito Dele. Muitos ímpios se converterão. Muito mais vidas serão verdadeiramente
transformadas. Muito mais casamentos serão restaurados. Mais curas acontecerão. Mais
discípulos verdadeiros serão feitos por Ele. Esses e muitos outros benefícios ocorrerão
quando aprendermos a trabalhar junto com Ele, usando os Seus materiais. Quando
aprendermos a permanecer Nele, iremos produzir muito mais frutos e estes frutos serão
do tipo que dura para sempre, passando pelo teste do dia do Julgamento (Jo 15:5).
Então devemos tolerar a mistura? Certamente que não! Se nós expurgarmos o "velho
fermento", seremos santos para o Senhor (1 Co 5:7). Se trabalharmos junto com Ele para
limpar o Seu Templo, Sua presença será manifesta entre nós muito mais poderosamente! À
medida que começamos a construir junto com Ele, usando os Seus materiais, Ele realmente
vai começar a viver permanentemente entre nós.
Esta experiência de ter Deus morando e Se movendo no meio de Seu corpo, é um
tipo de experiência que poucos têm conhecido de maneira poderosa. Entretanto, esta é a
Sua vontade. Quando nós correspondemos aos Seus critérios e construímos algo que seja
verdadeiramente a Sua casa, Ele virá e fará morada entre nós. Isso resultará em um tipo
potente de cristan-dade, com a qual muitos nem sequer sonharam. Então, não vamos nos
satisfazer com uma construção onde Deus nos visite apenas de vez em quando, mas, sim,
com uma onde Ele Se agrade em morar.
PURIFICANDO O TEMPLO
O Novo Testamento relata que Jesus fez um tipo de chicote e purificou o Templo, mas
uma leitura cuidadosa das Escrituras mostra um fato ainda mais interessante. Parece que
Ele purificou o Templo duas vezes, uma no começo de Seu ministério e, de novo, no final.
No Evangelho de João, esse episódio é registrado imediatamente depois do primeiro
milagre de Jesus. Durante a Páscoa, Ele fez um chicote de cordas e lançou fora os cambistas
e os animais. Isso foi no início de Seu ministério (Jo 2:13-16). Mas também no Evangelho de
Lucas, depois da "entrada triunfal" de Jesus em Jerusalém, montado em um jumento,
lemos: "Então Ele entrou no Templo e começou a expulsar os que estavam vendendo" (Lc
19:45- NVI). Parece claro que aconteceu uma segunda purificação - algo que Ele fez no final
de Seu ministério.
É possível considerarmos esses eventos como proféticos, pois, quando o Espírito
Santo foi derramado no dia de Pentecostes, Deus fez uma "limpeza" em Seu Templo. Ele
arrancou o Seu Povo da velha forma religiosa do Judaísmo e começou uma construção nova
e limpa. Entretanto, durante anos, entre aquela época e hoje, o homem tem feito muitas
coisas para novamente poluir e degradar o que Deus considera santo.
Vamos pensar nisto por um momento. Será possível que nestes últimos dias, no
final da "Era da Igreja", Ele queira purificar outra vez o Seu Templo? É possível que nesta
"última hora" Jesus outra vez deseje levantar Seu povo e fazer uma obra purificadora?
A minha crença é que será assim. Meu contato com homens e mulheres em toda
parte do mundo me leva a acreditar que esse é o Seu plano. Essa revelação do Seu Templo
não é isolada ou única. É uma visão que Deus tem dado a muitos no meio de Seu povo, em
muitas partes do mundo nestes últimos dias.
Com isto em mente, a questão agora é esta: Você deseja trabalhar junto com Deus nesse
projeto? Você está pronto a desistir de toda forma religiosa vazia e se mover com o Espírito
Santo na obra que Ele está fazendo hoje? O seu coração pode responder ao chamado de
Deus para purificar Seu Templo e construir Sua verdadeira casa?
Se pode, esta é a hora. Hoje é o dia para rejeitar todos os esforços humanos e
métodos terrenos. Agora é a hora do arrependimento de tudo o que temos feito, usando
apenas madeira, feno e palha. É agora, no final desta era, que precisamos atender ao Seu
chamado e ajudar a preparar Sua Noiva para a Sua volta.
CAPÍTULO 4
ONDE DEUS MORA
O Senhor nosso Deus não mora em uma casa construída por mãos humanas. Isso
está muito claro em Sua Palavra, onde lemos: "O Deus, que fez o mundo e tudo o que nele
existe, sendo Ele Senhor do céu e da Terra, não habita em santuários feitos por mãos de
homens" (At 17:24). Claro que muitos crentes compreendem que isso significa que Deus
não reside em algum tipo de templo ou catedral de construção terrena.
Não importa o quanto sejam ornamentados, bonitos ou elaborados, Deus não é
atraído por templos terrenos e não mora neles. Embora algumas pessoas admirem
construções religiosas extravagantes e confundam esse sentimento da alma com uma
bênção espiritual, a verdade é que Deus não mora e nem nunca irá morar em algum tipo
de edificio físico. Muito menos, Ele habita em uma caixinha dourada na frente da
catedral, ou em qualquer tipo de imagens, sejam elas feitas de porcelana, plástico, madeira
ou metais preciosos. A maioria dos crentes verdadeiros de hoje compreendem essa
verdade.
Mas o que muitos falham em perceber é que Deus também não vive em organizações
humanas. Estou querendo dizer com isso que Ele não habita em grupos cristãos que se
tenham formados por esforços meramente humanos. Esse é um ponto que talvez seja
muito difícil para alguns compreenderem. Embora a maioria saiba que Deus não mora em
uma casa de tijolos ou pedras, muitos têm um conceito fortemente arraigado de que Ele,
na verdade, mora em qualquer grupo cristão que se intitula "igreja". Nós facilmente
imaginamos que Deus vive em nossa organização particular.
Contudo, à medida que recebemos uma revelação celestial, começamos a
compreender que a casa de Deus é viva. Não é uma estrutura estática, mas algo que é
cheio de Sua Vida. O corpo de Cristo - o lugar onde Ele realmente vive - é um organismo
vivo. Não é uma organização. Tal residência viva não é um produto do esforço ou da
vontade humana. Não é algo que o homem possa criar sozinho. É resultado de Sua Vida
sobrenatural. É algo que cresce e toma a forma que Ele deseja como resultado de Sua
própria Vida eterna.
Portanto, podemos facilmente entender que nosso Senhor não irá morar em
qualquer grupo cristão, a menos que este seja um produto de Sua própria Vida. Não é
suficiente que a nossa igreja seja "bíblica". Não é o bastante que um grupo cristão pareça
se conformar aos padrões do Novo Testamento. Só o que O atrai é a Sua Noiva viva (o Seu
corpo) com a qual Ele deseja viver por toda a eternidade. Somente aquilo que é produto
de Sua Vida sobrenatural servirá para ser a Sua habitação.
Ao começarmos a ver com mais clareza a casa de Deus, somos levados a concluir
que, se o nosso grupo é resultado de capacidade humana, Deus não irá morar nele. Se
nossa igreja é o resultado da habilidade organizacional, do esforço terreno, da liderança
especial (não importa o quanto ela possa ser carismática), do talento administrativo ou de
atrações populares, ela realmente não é a casa de Deus.
Simplesmente colocar o nome "igreja" em nosso grupo não irá qualificá-lo para ser a
habitação eterna de Deus. Simplesmente organizar algo que parece ser bom e "religioso," do
ponto de vista humano, não garante Sua aprovação. Qualquer coisa que seja feita por
mãos humanas não se adapta para ser o lugar da morada de Deus.
Talvez uma analogia possa ajudar aqui. Vamos supor que uma pessoa muito rica
tenha contratado um construtor para lhe fazer uma casa de blocos de granito. Vamos
imaginar que o construtor tenha empregado outros materiais no lugar do grani-to. Ele
queria construir mais rapidamente e de maneira mais barata. Então, usou tábuas e
madeira compensada e, para que parecesse granito, ele prendeu um tipo de chapa
plástica no exterior, muito parecida com a rocha genuína. É até possível que, no final, ele
tenha conseguido chegar a algo que se assemelhava ao plano original.
Quando o dono da casa chegar para ver o trabalho, ele se agradará do resultado?
Ficará satisfeito com a obra? Ou ele se recusará a morar em uma casa feita com materiais
inferiores e mais baratos? Não há dúvida de que ele não pagará pela obra e não se
mudará para essa casa de imitação.
Quanto menos irá o Deus do Universo morar em algo que não é feito com os
materiais corretos e que não foi construído de acordo com os Seus planos. Nesse caso,
assim como é com a Igreja, o material individual é que é essencial, não simplesmente a
aparência do conjunto.
Esta distinção é muito importante. Se formos colaborar com Deus construindo a Sua
casa, precisamos compreender como é o lugar em que Ele vive. Ele não vive em
organizações cristãs que foram formadas por esforços humanos, e que, por meio de
métodos terrenos, mantêm seus membros agregados.
Todavia, nós muitas vezes encontramos servos de Deus bem intencionados,
trabalhando para conseguir agregar um grande número de crentes, debaixo do mesmo
teto. Eles estão usando sua personalidade e talentos para agrupar as pessoas em volta
deles ou de seus ministérios, supondo que ali seja a casa de Deus.
Muitas pessoas hoje comentam sobre maneiras de fazer "a igreja delas" crescer. A
idéia principal parece ser a de conseguir aumentar o número de pessoas que assistem aos
cultos. Vários métodos estão sendo empregados com esse intuito, incluindo novos
edifícios, novos programas, ênfase em alguns dons, experiências etc. Mas simplesmente
aumentar o número de membros nada faz para construir a casa de Deus a não ser que
esse aumento seja de ímpios que verdadeiramente tenham nascido de novo. A casa de
Deus não é construída pelo crescimento meramente numérico. Construir uma organização
religiosa não é a mesma coisa que construir o templo do Deus vivo.
A idéia de Deus não é construir um grupo, mas sim edificar cada homem e cada
mulher que formam os grupos. Sua intenção é que nós edifiquemos uns aos outros. É assim
que iremos nos ajudar a crescer espiritualmente. À medida que crescemos, damos mais
"espaço" para Ele viver e Se mover dentro de nós e através de nós. À medida que nos
edificamos uns aos outros na fé santíssima (Jd 1:20), estamos construindo o lugar de
residência de Deus. Essa é a nossa tarefa. Jesus nos instruiu a ir e a fazer discípulos. Isto
significa auxiliar outros a virem para Jesus e a se submeterem a Ele. É o próprio Deus,
então, que toma esses "materiais" e os ajunta conforme Sua vontade (1 Co 12:18).
A manifestação de Sua presença em qualquer reunião de crentes depende dos
corações dos indivíduos que ali estão reunidos. Não tem nada a ver com o bom
funcionamento da organização. Não depende do número de pessoas presentes. Deus
não é atraído por nossos programas ou "ministérios". Então, o que estamos construindo?
Se Sua presença é atraída por homens e mulheres abertos a Ele, e não por nossa
superestrutu-ra, onde deveríamos estar investindo nosso tempo?
Agora, alguns podem argüir: "Mas a Bíblia diz que onde dois ou três se reunirem
em nome dele, Ele aí estará no meio deles". Sim, Jesus visita nossos encontros. Mas, quero
repetir, a intensidade de Sua presença vai estar diretamente relacionada com a abertura
dos corações das pessoas envolvidas. Quando os corações das pessoas presentes estiverem
fechados, elas não poderão sentir a Sua presença.
COMO FUNCIONA
Quando somos bem sucedidos ao ministrar Vida a outras pessoas, elas amarão mais
a Deus; aprenderão a andar em intimidade com Ele; aprenderão a ouvir a Sua voz e a Lhe
obedecer. Conseqüentemente, desejarão estar junto com os outros que sentem esse mesmo
amor. Então irão procurar companheirismo. Elas irão naturalmente procurar por chances
de se juntar a outros para orar, louvar e compartilhar. Assim, a casa de Deus irá crescer e
será edificada.
À proporção que cada um segue a liderança do Cabeça e compartilha sua porção de
Vida com o resto, a casa de Deus começa a aparecer. Todos os aspectos da Igreja que vemos
no Novo Testamento, incluindo encontros, ministérios, uso de dons, etc., começarão a se
manifestar automaticamente entre qualquer grupo de crentes que caminham amando e
seguindo a Jesus. A Vida Dele irá produzir isso, irá sempre produzir tão somente a Igreja.
Deus os conduzirá a tudo o que Ele tem preparado para os que O seguem.
Este conceito é muito simples, embora muito profundo. Se nós, como criancinhas,
simplesmente amarmos e seguirmos a Jesus a cada dia, a Igreja brotará. A casa de Deus
aparecerá como resultado de Sua Vida. O edifício será o produto de um trabalho
sobrenatural. Será algo edificado por Jesus.
Aqui não há lugar para mãos humanas. Não há necessidade de planos e esquemas
de homens. Não há necessidade de madeiramentos organizacionais e de estruturas
humanas. À medida que simplesmente vivemos Jesus, Sua Vida irá produzir a Igreja. De
fato, não há outro modo de se atingir este objetivo.
Por favor, preste cuidadosa atenção nisto. Não há outro modo de construir o
templo do Senhor, a não ser permitir que a Vida do Senhor o faça. Somente Ele é capaz de
fazer a obra. Com Jesus vivendo em nós e por meio de nós, haverá uma estrutura
sobrenatural sendo construída. À medida que O seguimos a cada dia, ministrando-O
aos outros, Sua morada aparecerá. A ministração da Vida eterna resultará na edificação da
casa de Deus. A Vida de Deus sempre irá crescer na forma da Igreja que Ele deseja.
Qualquer coisa que passe disso é apenas uma substituição humana.
Esse modo de edificar quase nunca será impressionante. Aqueles que escolherem
edificar com a Vida, dificilmente ficarão famosos, muito procurados ou populares. Suas
obras nunca irão competir em termos de grandeza e números com os esquemas dos
homens. O modo de Deus tem sido sempre um caminho modesto e humilde.
Precisamos preparar nossa mente para isso. Precisamos imaginar, antes de
começarmos, que nossa obra não vai mas-sagear nosso ego ou elevar a nossa
popularidade. Nossos corações precisam estar preparados para simplesmente obedecer
a Jesus e nunca procurar por resultados que o mundo considera impressionantes. É
apenas nos humilhando e nos tornando como criancinhas que seremos bem sucedidos em
entrar no Reino de Deus (Mt 18:3).
Quando o primeiro broto de uma planta irrompe da terra, nunca é algo pomposo.
Não parece ser grande coisa. Contudo, é a coisa real. Portanto, nunca deveríamos julgar
nossa obra ou qualquer outra em termos seculares. Nunca deveríamos procurar por
sucesso, números grandiosos, fama etc., para ver se o que estamos fazendo agrada a
Deus.
O único padrão de qualquer obra é se estamos obedecendo a Deus. Se O estamos
seguindo fielmente em tudo o que fazemos, então nossa obra será aprovada. Por outro
lado, se ambicionamos o sucesso e toda a pompa que o acompanha, então teremos muitos
problemas ao tentar construir a casa de Deus a Seu modo.
A NECESSIDADE DE FÉ
Construir à maneira simples da Vida requer fé. Exige que cada um tenha um
relacionamento de fé com Jesus Cristo. Precisamos acreditar que, se apenas O seguirmos a
cada dia, fazendo o que Ele nos conduz a fazer, Ele irá produzir os resultados. Isso requer
muita fé. Precisamos crer que Jesus fará o que Ele disse que faria - construir a Sua Igreja.
Precisamos confiar que, enquanto fazemos nossa pequena parte no plano de Deus, Ele
cuidará do resto.
Se não tivermos tal fé, então começaremos a fazer coisas por nós mesmos. Por ser o
modo da Vida freqüentemente vagaroso e nada impressionante, sempre haverá uma
grande tentação para que o homem dê uma mãozinha a Deus. Muitas vezes haverá
coisas que imaginamos precisam ser feitas para acelerar um pouco o processo. Haverá
freqüentemente a oportunidade de estender as mãos humanas e tentar fazer a obra de
Deus no lugar Dele.
Edificar com Vida é caminhar por fé e não por vista. Mas esse tipo de caminhada é
muito difícil para o homem natural. É normal para os seres humanos dependerem apenas
de coisas tangíveis. Eles confiam facilmente naquilo que podem ver, ouvir e sentir.
Conseqüentemente, os homens tendem a buscar algo exterior e terreno. Qualquer homem
ou mulher de Deus que quiser construir com Sua Vida, precisa continuamente estar alerta
contra essa tendência humana.
As estruturas religiosas fornecem tais escoras tangíveis para a alma humana. A
organização humana freqüentemente atrai bastante o homem natural. É sempre muito
mais fácil que homens e mulheres se sintam confortáveis com algo mental, regularmente
esquematizado, visível e provável.
Tais sistemas religiosos não requerem muita fé. Não demandam uma completa
submissão a Deus por parte dos congregados. Eles oferecem espaço de sobra para que
Há uma importante admoestação nas Escrituras que nos incita "a não desistir de
congregar" (Hb 10:25). Esta é uma palavra essencial para todos os crentes. Se amamos
Jesus e O seguimos, naturalmente desejamos estar com outros cristãos tanto quanto
possível. Esse "congregar" com eles será um grande desejo de nossos corações. Um
cristão obediente sempre estará procurando isto. Portanto, encontrar-se com outros
crentes para louvar, orar e fazer edificação mútua será um notável aspecto da
experiência da igreja viva. Na verdade, esse desejo ou a ausência dele, é um bom teste para
ver se realmente estamos andando em intimidade com Jesus.
Todavia, esse versículo não pode, de maneira alguma, ser considerado como uma
ordem para tentar reunir um grupo ou uma estrutura humana. Isto não é o que dizem as
Escrituras. Essa exortação visa estimular os crentes a obedecer à liderança do Espírito
Santo e a procurar comunhão com outros crentes.
Pelo fato de nossa natureza humana não desejar estar na presença de Deus, seja
quando estamos sozinhos, seja em comunhão com outros crentes, existe uma tendência
a evitar encontros e camaradagem. Portanto, somos instruídos a não permitir que a carne
domine sobre nós e a fazer um esforço para continuar a procurar comunhão com os outros.
À medida que servimos uns aos outros por meio do Espírito Santo, nós todos iremos
crescer, e a casa de Deus irá se expandir. Quando usamos nossos dons e ministérios para
edificar indivíduos, o templo de Deus estará sendo construído. O próprio Deus juntará
as peças para a edificação da casa, conforme Lhe agrada (1 Co 12:18). Então é ali que Ele irá
morar eternamente: "dentro" dos homens e mulheres espiritualmente edificados e "entre"
eles.
Vamos, juntos, pensar nisto. Quando aparecermos diante do Senhor, o que
apresentaremos a Ele? Demonstraremos a nossa maneira de conduzir os nossos encontros?
Exibiremos as novas danças ou as peças de teatro? Mostraremos os nossos grupos
especiais para os jovens, para os recém-casados, para os solteiros etc.? Nossos padrões,
nossas práticas e nossos planos serão de interesse para Ele? Não!
O que Deus estará interessado em ver é como o Seu trabalho de transformação foi
ocorrendo em cada indivíduo. Sua atenção estará focalizada no crescimento espiritual de
cada um. O que Ele desejará examinar é como cada um de nós tem sido transformado à
imagem Dele. O interesse de Deus não será quantas pessoas nós conseguiremos reunir,
mas o nível de maturidade espiritual de cada uma.
Então, já que estas coisas são o objetivo Dele, não deveriam ser também o nosso foco?
Não deveríamos também usar nosso tempo e energia para construir o que está no coração
do Senhor? Não deveríamos deixar para trás coisas que não irão permanecer e nos
concentrarmos naquelas que irão?
Vamos nos perguntar honestamente: nossa organização passará no teste do Dia do
Julgamento? Nossos grupos e nossas atividades brilharão como a luz do sol no dia do
Senhor? Então, quanto do nosso esforço é simplesmente inútil e desperdício, ao invés de
construirmos aquilo que irá perdurar por toda a eternidade?
Na Igreja de Cristo hoje, muitos têm outro objetivo. Estão se esforçando para edificar
uma organização grande, bem sucedida e que cresça rapidamente. Para ser totalmente
justo, creio que a maioria dessas organizações acredita que o crescimento espiritual é uma
de suas metas. Eles imaginam que a maturidade será o resultado de seus esforços.
Talvez alguns pensem que irão juntar um grupo de pessoas ou "igreja" e que irão usar
esta organização como um meio para edificar pessoas. Supõem que irão usar o seu grupo
para levar adiante a obra de Deus. Talvez os motivos deles sejam bons, mesmo que as
suas práticas sejam deficientes. O problema com esse tipo de método é que, para juntar
um grupo e mantê-lo unido, são usados meios humanos e naturais.
Em vez de simplesmente ministrar Cristo, somos levados a encarar a tarefa de
fornecer apoio a várias atividades para atrair pessoas, ao mesmo tempo que tentamos
trabalhar no estado espiritual delas. Tentamos mantê-las interessadas em algo diferente
da pessoa de Jesus Cristo e ainda assim, tentamos ajudá-las espiritualmente. Esse é
realmente um caminho inadequado para fazer a obra de Deus. Não é fazer a obra de
Deus da maneira como Deus trabalha.
Uma outra questão importante, que temos que considerar cuidadosamente diante
do Senhor, é: quais são os nossos motivos? Precisamos examinar honestamente os nossos
corações. Quando estamos tentando colocar junto um grupo, os nossos motivos se tornam
divididos.
Sim, queremos servir aos outros em nome de Jesus, mas também queremos que eles se
juntem a nós em nosso grupo. Sem dúvida, cremos que o nosso grupo é obra de Deus,
então fica difícil ver que edificar a nossa organização não é o mesmo que edificar a casa de
Deus.
Quando temos a motivação de fazer crescer "nosso" grupo particular ou "nossa
igreja", então, torna-se impossível não convivermos com um tipo de teia de aranha
escondida atrás de nós. Falamos sobre Jesus e as coisas de Deus, mas queremos que as
pessoas se juntem a nós. Secretamente, queremos prendê-las em nossa teia. Mas, quando
estamos sinceramente interessados só em edificar alguém em Cristo, todos os motivos
dúbios desaparecem. Então nos tornamos livres para simplesmente edificar a casa de
Deus. Temos então a grande liberdade de servir aos outros sem agenda secreta. Se eles se
juntam a nós ou não, não é algo que deve ser considerado.
Com esse tipo de atitude, podemos servir a outros que não concordam conosco.
Podemos compartilhar Jesus com outros, em outras "igrejas", sem tentar, secretamente,
persuadi-los a deixar o que estavam seguindo para se unir a nós. Podemos ministrar sem
motivos dissimulados. Podemos simplesmente falar o que o Espírito Santo está falando no
momento e podemos amar aos outros sem empecilhos. Podemos viver Jesus Cristo em
grande simplicidade entre outros crentes e também entre os do mundo.
Quando o nosso único motivo é edificar a casa de Deus, podemos servir e edificar a
outros livremente. Este tipo de propósito nos permite viver em um tipo de inocência
infantil e também em grande liberdade. Quando a nossa meta é edificar indivíduos,
podemos permanecer servos humildes. Mas, quando o nosso objetivo é reunir um grupo,
então muitos fatores entram em cena.
Vamos raciocinar juntos sobre isto. Se desejamos formar um grupo ou uma "igreja"
distinta, esse grupo deve ficar apartado da Igreja como um todo. Caso contrário, ela não
tem sua própria identificação e, portanto, não poderá ser reconhecida como um grupo.
Portanto, para que esse grupo seja formado, precisamos ter alguns métodos para separar
homens e mulheres do resto do corpo de Cristo e convencê-los a aderir a nós, às nossas
práticas ou aos nossos ensinos.
Esses métodos incluem, mas não se limitam a: persuasão emocional e mental,
manobras políticas, uso de forte personalidade, uma boa maneira de "vender" seu produto
e exibição de dons espirituais. Usando vários destes métodos, convencemos um grande
número de pessoas de que nossas idéias, práticas e doutrinas são melhores, e que eles
devem aderir a nós, assim formando um grupo identificável ou "igreja".
Isto, queridos irmãos e irmãs, é algo feito por mãos humanas. É um lugar onde
Deus não mora e nem nunca irá morar. Não é algo feito de acordo com a visão celestial. É
simplesmente, madeira, feno e palha.
À proporção que vivemos e trabalhamos com o foco de edi-ficarmos uns aos outros,
é provável que Deus aproxime os corações de algumas pessoas. Certamente acontecerá
que o amor de uns pelos outros irá crescer. Não há dúvida de que a comunhão de uns
com os outros se tornará tão agradável que eles gastarão um bom tempo juntos. À medida
que eles se edifi-cam uns aos outros, Deus irá entrelaçá-los em amor (Cl 2:2).
Naturalmente, eles se reunirão para louvar, orar e se edificar. Isto é algo que Deus faz
acontecer normalmente, não o resultado de um esforço humano.
Alguém de fora, que olhe para esses relacionamentos, pode pensar que isso é uma
organização. Mas, na verdade é algo orgânico, vivo, algo feito por Deus e não por
homens. Essa "forma" é resultado da Vida de Deus crescendo e vivendo através dos
indivíduos. Esse grupo não tem paredes. Não é separado do resto do corpo de Jesus.
Aqueles que participam desta comunhão não são mantidos por algum tipo de artifício,
doutrina, líder ou práticas humanas. Eles estão simplesmente vivendo pela Vida de
Cristo e servindo uns aos outros.
O resultado disso é a manifestação do Santo Espírito. À medida que crescemos, Ele
enche o templo que é formado por pessoas que têm sido edificadas por Ele. A Igreja
primitiva era resultado desse tipo de ministração. Os discípulos estavam pregando e
ensinando sobre Jesus Cristo. Eles O estavam compartilhando com o mundo e
ministrando-O uns aos outros.
Automaticamente, eles queriam estar junto com outros que amavam a Jesus. O
Senhor, então, os entrelaçava, de maneira que eles podiam ser vistos como um grupo.
Mas, isto não era resultado de esforço humano. Não era Pedro, Tiago ou João usando seus
dons e ministérios para atrair seguidores. Não era resultado de um esforço para organizar
o que quer que seja. Era o resultado espontâneo da ministração do Espírito Santo.
Verdadeiramente o Senhor Nosso Deus não vive em uma casa feita por mãos
humanas. Se o que estamos fazendo é resultado de nossos próprios planos, energia e
esforços, então Deus não irá morar lá. Se nosso grupo é um produto de talento
administrativo ou habilidade organizacional, podemos estar certos de que Ele não
chamará isto de Sua casa.
Se o que estamos fazendo é realmente algo natural e terreno, mesmo se for decorado
com rótulos espirituais, ele será queimado no dia do julgamento. Não importa que pareça
muito bom, não importa o que os outros pensem de nossa obra, qualquer coisa feita por
mãos humanas nunca será a casa de Deus.
Queridos irmãos e irmãs, esta é uma consideração extremamente séria. Embora já
tenhamos pensado em várias "igrejas" ou grupos religiosos como sendo santos ou algo
muito especial aos olhos de Deus, está na hora - não, até já passou da hora - de olharmos
para eles através dos olhos de Deus.
Com a Sua santa Palavra aberta diante de nós, vamos cuidadosamente e com muita
oração, examinar à Sua luz aquilo que estamos fazendo. As tradições dos homens junto
com todos os rituais, práticas e "serviços" que os acompanham, não são e nem nunca serão o
Templo do Deus vivo.
Nestes últimos dias, com a vinda do Senhor parecendo cada vez mais próxima, seria
sábio que nós examinássemos nossas vidas diante de Deus. À Sua luz, vamos
honestamente considerar a obra de nossas mãos e vamos deixá-Lo expor ou mudar
qualquer coisa que não seja de autoria Dele. Que nós possamos, pela Sua misericórdia, ser
considerados por Ele como construtores de obras de ouro, prata e pedras preciosas.
Como precisamos de uma visão celestial! Como precisamos subir à montanha de Deus
e olhar em Seu coração! Como precisamos construir de acordo com Seu plano celestial e
não de acordo com idéias e conceitos terrenos! Sem esta revelação sobrenatural, nossa obra
para Deus não será vital, penetrante e genuinamente frutífera. Além disso, ela não realizará
coisa alguma que seja de valor eterno.
CAPÍTULO 5
LIDERANÇA NA IGREJA
O PRINCÍPIO DO GOVERNO
que Ele deve ter primazia sobre "todas as coisas" (Co 1:18).
Vamos parar aqui um momento e meditar na analogia referente ao corpo. Deus usa
essa figura para nos revelar Sua vontade e autoridade. Em um corpo humano, a cabeça
dirige tudo. Nenhum outro membro pode tomar decisões. Nenhuma outra parte está
qualificada para guiar as outras.
Embora o corpo seja extremamente complexo e tenha diferentes tipos de membros e
órgãos, a cabeça dirige as funções de todos eles. Os olhos podem ser muito aguçados, mas
nunca conseguem dirigir o corpo. O coração pode ser muito saudável, mas ele nunca pode
tomar decisões. As pernas podem ser fortes, mas elas não dão direção aos outros membros.
Embora haja um sistema de nervos que transmitem a vontade da cabeça a todas as outras
partes, estes nervos nunca se tornam capazes de pensar, raciocinar e então tomar decisões
por conta própria.
Assim também é no corpo de Cristo. Jesus foi colocado pelo Pai como a Cabeça de
tudo. Até hoje, Ele ainda mantém esta posição. É intenção de Deus que Jesus governe cada
movimento de Seu corpo. Cada obra, cada palavra, cada aspecto do corpo deve ser
governado pela Cabeça. Nenhum outro membro pode substituí-La. Ninguém mais pode
tentar usurpar ou compartilhar dessa autoridade. Jesus Cristo é perfeitamente capaz de
sustentar cada molécula do Universo. Então, Ele também é capaz de funcionar como a
Cabeça de todas as coisas para a Igreja.
Contudo, a Igreja hoje parece ser um tipo de monstro mitológico, como Hidra, uma
criatura com muitas cabeças. Para onde se olha, há sempre muitos homens e mulheres
afirmando ter autoridade. Eles estão governando, dirigindo e direcionando um ou outro
tipo de igreja, a todo vapor. Talvez sem imaginar, muitos crentes estejam competindo com
Jesus para ser a Cabeça de pelo menos uma parte de Sua Igreja.
A cada dia, uma outra "cabeça" começa a brotar, reivindicando ter um mandado do
Senhor para dirigir uma parte de Sua obra. Muitos deles estão insistindo em que os
crentes se submetam à sua autoridade, já que ela foi "recebida de Deus". Mas, a qual deles
devemos nos submeter? Qual dos milhares ou mesmo dos dez milhares de figuras de
autoridade, que vemos na igreja hoje, é realmente a verdadeira?
O PROBLEMA DA INVISIBILIDADE
Talvez uma grande parte do problema que temos em compreender e tentar seguir o
governo da verdadeira Cabeça é que Jesus é invisível. Não podemos vê-Lo com nossos
olhos físicos. Porém, o homem natural acredita em coisas visíveis. Ele gosta de coisas que
são tangíveis, de algo que possa ver, saborear, sentir e ouvir. Para ele, isso é real. O mundo
espiritual, por outro lado, é um pouco místico demais e, portanto, não confiável.
Entretanto, de acordo com a Bíblia, as coisas espirituais são, de fato, as mais reais. Elas
são mais "reais" do que o mundo físico, no qual tanto acreditamos. 2 Coríntios 4:18 diz
"...porque as [coisas] que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas."
Aqui precisamos ajustar nosso pensamento. Nossa confiança no físico e no tangível
deve ser substituída por uma completa dependência de nosso invisível Senhor. Por meio
de nossa fé, precisamos desenvolver um relacionamento íntimo com Jesus. Precisamos
aprender a conhecê-Lo, a ouvi-Lo e a segui-Lo.
Isso é absolutamente essencial para cada crente. Ninguém mais pode fazer isso por
você. Cada cristão, sem exceção, necessita se tornar um seguidor de Cristo. E isso exige que
mantenhamos uma intimidade com Ele, pela fé.
Não é suficiente que alguém simplesmente se conforme a alguns padrões bíblicos.
Não é o bastante se ajustar a algum tipo de grupo, aceitando seus costumes e suas metas.
Não é intenção de Deus apenas darmos nossa aceitação mental a um conjunto de
doutrinas ou práticas. Seu pensamento é que venhamos a conhecê-Lo pessoal e
intimamente. Além disso, Seu desejo é que, por meio desse relacionamento íntimo e real,
Ele seja capaz de nos guiar em todos os aspectos de nossa vida.
Deste modo, Ele pode ser nossa Cabeça. À medida que O conhecemos e O seguimos,
Seu governo sobre nossas vidas se torna mais real. Ele pode dirigir nossas atividades
diárias e nos mostrar Suas vontades e Seus métodos. Até mais do que isso, Ele pode começar
a guiar nossos pensamentos e nossas emoções. Sua soberania pode começar a afetar
nossas atitudes e nossas opiniões. Nossos desejos, expectativas e mesmo os nossos
medos podem se sujeitar à Sua autoridade.
Assim como nossa cabeça humana guia não apenas o nosso corpo, mas cada aspecto
de nossa vida psicológica, assim também Jesus pode reinar sobre toda a nossa vida. Desta
forma, a Vida e a natureza de Deus podem ser manifestas em nós e por meio de nós. Esta
é a verdadeira Cristandade. Esta é a verdadeira casa de Deus.
Todavia, é dolorosamente óbvio que nem todos os crentes estejam conseguindo, até
nem procurando viver nessa intimidade e obediência. É triste, mas é verdade que muitos
que se chamam de cristãos têm muito pouca intimidade com o Senhor e não têm idéia de
como escutá-Lo e de como segui-Lo. É aqui então que se levanta uma grande tentação que
se manifesta em dois aspectos que procuraremos detalhar.
Primeiramente, há aqueles que têm algum relacionamento com Jesus. Eles têm uma
medida de consagração e fé, e ouvem a Deus num grau maior ou menor. Então, quando
vêem que outras pessoas estão andando por aí sem qualquer direção da Cabeça, eles
querem ajudá-las.
Mas, se não forem cuidadosos enquanto estiverem tentando ajudar outros, eles
próprios se tornarão uma cabeça. Pouco a pouco, eles começarão a ser um senhor nas
vidas desses indivíduos. Eles começarão a dar conselhos e direção. Orientarão outros a
buscar as metas que Deus mostrou a eles. Eles irão ensinar, pregar, "discipular" e liderar.
Logo, terão um grupo completo de seguidores.
O problema é que, freqüentemente esses seguidores não foram levados a uma
intimidade com Jesus. Eles não conseguiram estabelecer um relacionamento com Ele, para
que Ele dirija suas vidas. Em vez disso, começaram a confiar e a seguir uma liderança
humana. Como resultado, não estão sendo transformados à imagem de Cristo, mas estão
simplesmente conformados à imagem de um líder ou do grupo a que se uniram.
É bem possível que o conselho e a direção que receberam possam ser "verdadeiros".
Podemos imaginar que o ensino que ouviram se fundamente na Bíblia. Contudo, tudo
isso pode ser feito sem aproximar ninguém de Deus. É bem possível que eles simplesmente
se tornem dependentes de um outro homem.
Pode ser que esses indivíduos possam aparentar uma pequena mudança. Talvez
alguns de seus pecados mais graves tenham desaparecido ou se ocultado. Pode ser que os
seus hábitos e estilo de roupas, corte de cabelos etc., tenham se modificado. Aos olhos do
grupo, eles agora são considerados "bons cristãos".
Mas, se eles não desenvolveram o tipo de comunhão com o Deus invisível que se
tornou a fonte de sua vida e direção, todas essas mudanças foram em vão. Se eles não
chegaram a uma total submissão de todo o seu ser à autoridade da Cabeça, perderam a
verdadeira meta. Se não desenvolveram uma íntima caminhada diária com o Salvador
invisível, eles realmente não foram ajudados. Essas pessoas foram conformadas a algum
padrão, mas não transformadas à imagem de Jesus.
Acredito que a grande maioria de tais líderes comece com as melhores intenções.
Querem ajudar o povo de Deus. Sentem compaixão por aqueles que não aproveitam o
O PROBLEMA DO ORGULHO
Algumas vezes, as coisas que foram feitas com as melhores intenções não acabam
bem. Podemos querer fazer a coisa certa, mas acabamos errando. Se começamos a construir
sem a revelação celestial, isso pode facilmente ocorrer.
Dentro do coração de cada homem ou mulher, se esconde um pecado grave - o
orgulho. Pode ser algo do qual não temos conhecimento, mas ele está lá. Então, quando
outros começam a olhar para nós, quando nos honram com títulos e posições, quando o
prestígio e o respeito começam a aparecer em nosso caminho, ficamos em uma posição
muito perigosa.
Se aceitarmos tais coisas, quando o fazemos, caímos na "mesma condenação do
diabo". Outra tradução desse texto diz que caímos na "mesma armadilha em que o diabo
caiu" (1 Tm 3:6). Jesus não aceitou honra de homens (Jo 5:41). Ele nunca tomou posição de
autoridade terrena. Recusou-se a ser coroado rei (Jo 6:15). Ele evitou a fama, dizendo
àqueles que curava, que ficassem quietos sobre o fato (Mt 8:4, Mt 9:30, Mc 7:36, Mc 8:26).
Devemos seguir Seu exemplo.
Se também não recusarmos todas as atenções dos homens, iremos desviar do
caminho de Deus. Se não aprendemos a evitar determinadas posições onde os homens
olhem para nós e não para Jesus, cairemos num erro muito grave.
Ao começarmos a entender a importância da soberania de Cristo sobre o Seu corpo,
essa verdade se tornará cada vez mais evidente para nós. Se nos exaltamos ou permitimos
que os demais nos exaltem, isto demonstra que ainda não compreendemos a maneira
certa de construir a casa de Deus.
No Novo Testamento, encontramos um conceito interessante. É a idéia de um
"anticristo". Na língua grega, esse radical "anti" tem dois significados. O primeiro, que nos
parece familiar hoje, é o significado de "contra". Hoje, pensamos que um anticristo é
alguém contra Cristo.
Mas, nos dias da Igreja primitiva, essa palavra tinha um significado ainda mais
notável. Esse significado é "em vez de" ou "no lugar de". Portanto, um anticristo seria
alguém que estaria ocupando o lugar de Cristo. Em vez de Jesus Cristo ser a Cabeça e a
fonte de nossas vidas, um anticristo seria alguém que O estaria substituindo neste
relacionamento. Um anticristo moderno seria alguém para quem as pessoas estariam
olhando em busca de direção, ao invés de olhar para Cristo.
No futuro, alguém chamado "anticristo" vai "...assentar-se no santuário de Deus
ostentando-se como se fosse o próprio Deus" (2 Ts 2:4). Em outras palavras, tirando o
lugar que, por direito, pertence a Deus. Mas, hoje, muitos estão, intencionalmente ou não,
tomando o lugar de Jesus em Sua Igreja. Em vez de Jesus ser a Cabeça sobre tudo e sobre
todos, eles é que se tornaram os líderes.
UM OUTRO OBJETIVO
Mas é possível termos um outro objetivo. Pode ser que nossa visão seja imperfeita e
que estejamos tentando juntar algumas pessoas num tipo de grupo, que seja dependente
de nossos dons e ministérios. Pode ser que o diabo tenha se saído bem em, sutil-mente, nos
desviar do caminho de Deus, e que tenhamos começado a construir uma organização
terrena em vez da casa de Deus.
Quando isso ocorre, nossa motivação é desviada. Desejando atrair membros, nossa
mensagem se transforma. Em vez de procurar a profunda (e provavelmente
desconfortável) convicção de que são pecadoras, queremos que as pessoas se sintam bem-
vindas. Em vez de expor os pontos em que os crentes não estão bem com Deus, queremos
que eles voltem e se tornem membros regulares. Em vez de ministrar o Espírito Santo, cuja
principal tarefa é convencer o mundo do pecado (Jo 16:8), apresentamos vários
entretenimentos e oratória inofensiva. Quando nossa visão é deficiente, começamos a agir e
a trabalhar de algumas maneiras que conflitam com os propósitos eternos de Deus.
Jesus nunca modificou Sua mensagem para fazer as pessoas se sentirem bem-vindas e
confortáveis. Ele sempre falou a verdade, independente das reações e dos resultados.
Quando nosso único objetivo é trazer as pessoas para um relacionamento com Ele, quando
não temos nossos próprios projetos e planos pessoais, então também somos livres para
falar Sua palavra sem medo.
Se estamos apenas edificando pessoas, e não tentando juntar um grupo, então
podemos ministrar Jesus com grande liberdade. Quando temos em vista apenas a casa
de Deus e não algum tipo de sucesso secular, podemos mais facilmente serdirigidos
pelo Espírito de Deus e podemos seguir a verdade em amor (Ef 4:15).
AS PALAVRAS DE JESUS
OS PROBLEMAS DE TRADUÇÃO
É lamentável, mas uma verdade, que vários tradutores da Bíblia fizeram o seu
trabalho com muitos preconceitos modernos. Eles compreenderam liderança e autoridade
olhando apenas através das lentes das práticas populares de seus dias. De fato, muitos
deles foram clérigos de várias denominações. Conseqüentemente, em muitas versões da
Bíblia, alguns versículos-chave sobre autoridade, nas Epístolas, tem um tipo de ênfase ou
alusão que não se harmoniza com os ensinamentos de Jesus.
Como todo escritor sabe, a maneira como as palavras são usadas é muito importante.
As mesmas palavras colocadas em ordem diferente ou usadas com ênfase diferente,
podem conduzir a idéias totalmente distorcidas. Portanto, durante a nossa investigação,
examinaremos alguns desses vários versículos para ver se existem outras traduções que
mostram uma compreensão mais coerente deste assunto tão importante.
A PROIBIÇÃO DE TÍTULOS
Talvez o primeiro princípio que atrai a nossa atenção é que Jesus proibiu o uso de
títulos corteses ou honorários entre o Seu povo. Isso mesmo. Jesus excluiu totalmente o uso
de títulos na Igreja. Isto significa que não devemos usar nomes, designações ou termos
especiais para distingüir indivíduos dos outros. Não deveríamos separar nenhum irmão
ou irmã por reverência especial, respeito ou honra que decorrem do uso de títulos.
Lemos em Mateus 23:8-10: "Vós porém, não queirais ser chamados Rabi" (VRC). De
acordo com o Dicionário Vine das palavras do Novo Testamento, a palavra Rabi é derivada
da palavra "rab", que significa literalmente "mestre", o que contrasta com um escravo.
Adicionando o sufixo "ei", significa "meu mestre", indicando a reverente sujeição de quem
fala. Tais títulos ou rótulos, incluindo a elevação que acompanha aqueles assim
designados, eram e são absolutamente proibidos entre o povo de Deus.
Mais adiante Jesus proibiu o título "pai". Chamar alguém de "Pai" é uma indicação de
respeito especial e estima. Isso significa que não devemos designar nenhuma pessoa com
este tipo de honra secular (a não ser aqueles com quem temos vínculo de família). E Ele
continuou Seu discurso, excluindo também a designação especial de "mestre" entre o Seu
povo. Essa é a palavra grega "DIDASKALOS", que significa mestre ou professor, assim
indicando alguma forma de superioridade daqueles assim intitulados. Alguns textos
gregos antigos substituíram nesse versículo a palavra "KATHEGETES", que significa
"aquele que disciplina", que significa "discipulador", "guia" ou "líder". Claramente o uso de
tais títulos está em oposição direta aos óbvios ensinamentos de Jesus.
Alguns têm tentado arguir contra essa verdade óbvia, citando o versículo 7 do
capítulo 13 de Romanos, onde somos ensinados a dar honra a quem a honra é devida. Mas,
quando lemos o contexto desse versículo, facilmente compreendemos que isso é referência
às nossas atitudes para com as autoridades governamentais terrenas, tais como reis,
presidentes etc. (vs. 1 a 6), e não em nossos relacionamentos na Igreja. Outra vez, nada
que apareça nas Epístolas pode ser compreendido como contradição aos ensinamentos de
Jesus.
A verdade que estivemos investigando também se aplica a todos os outros títulos
religiosos. A proibição dos títulos precisa incluir palavras tais como "pastor",
"reverendo", "bispo" e muitos outros termos de uso comum nas igrejas de hoje.
Quando pensamos nisto racionalmente, concluímos ser impossível que Jesus tivesse
algum tipo de preconceito contra uns poucos termos. Seguramente, Ele estava ensinando
contra a prática de usar qualquer título especial para indicar algum grau de superioridade.
Ele estava nos mostrando que apenas Ele é digno de tal respeito.
Ele diz: "Porque um só é o vosso mestre [o Cristo]", "porque um só é o vosso Pai, aquele
que está nos céus" (Mt 23:8-10). Ele explica que nós todos estamos no mesmo plano.
Ninguém deve ser elevado acima dos outros, de modo algum. Concluindo, Ele diz: "Vós
sois todos irmãos" (vs. 8). Portanto, não podemos honrar qualquer outro homem ou
mulher dando-lhes títulos respeitosos ou amáveis. Esta prática está claramente fora da
vontade de Deus. É proibida!
Mas, qual é a razão para isso? Por que nosso Deus está nos ensinando a não fazer
essas coisas? Porque elevar alguém sobre todos os outros, seja da maneira que for ou pela
razão que for, cria uma outra cabeça sobre o corpo. Cria uma outra fonte de autoridade.
Isso confere a tal pessoa a aura de ser mais capaz de se comunicar com o Senhor do que as
outras. Conseqüentemente, aqueles que não são assim prendados, começam a olhar para
aquela pessoa especial em vez de olhar para Jesus, em busca de direção e de alimento
espiritual. Pouco a pouco, um tipo de "clero", "sacerdócio" ou "barreira" se estabelece entre
o Senhor e o Seu povo. Isso é exatamente o que Jesus nunca desejaria que acontecesse ao
Seu corpo.
Pode ser surpreendente para alguns de vocês, leitores, que Jesus tenha proibido
qualquer um de Seus seguidores de exercer autoridade sobre os outros. Embora isto seja
uma prática bastante comum nas igrejas atuais, é algo estreitamente proibido por Jesus.
Ele diz: "Sabeis que os governadores dos povos os dominam e que os maiorais
exercem autoridade sobre eles. Não é assim entre vós..." (Mt 20:25,26). Essencialmente, Ele
está dizendo: "O mundo faz as coisas desta maneira, mas vós não podeis agir assim. A
maneira humana é a de que um ser humano deve exercer autoridade sobre outro, mas
na Igreja isso é proibido. "Não será assim no meio de vós." Aqui, Jesus não está mera-
mente proibindo autoridades abusivas, mas toda e qualquer tipo de autoridade de um sobre o outro.
No corpo de Cristo não há lugar para nenhuma figura de autoridade além da de
Jesus. Ele é a única Cabeça. Somente Ele é autorizado pelo Pai a liderar, dirigir e comandar
o Seu povo. Ninguém, absolutamente ninguém mais, deve assumir algum tipo de
autoridade sobre os outros, seja ela pequena ou grande.
Essa verdade é repetida em Marcos 10:42,43, onde lemos: "Sabeis que os que são
considerados governadores dos povos têm-nos sob seu domínio, e sobre eles os seus
maiorais exercem autoridade. Mas entre vós não é assim." O tipo de autoridade onde uma
pessoa manda ou tem controle sobre outra, é terminantemente proibido. Se você não
compreende esta verdade extremamente básica, terá muitos problemas ao construir a
casa de Deus.
Pode ser que você esteja pensando nos apóstolos, profetas, pastores e mestres citados
do Novo Testamento. Possivelmente, muitas questões sobre isso estejam pipocando em
sua mente. Mas, por favor, seja paciente. Chegaremos a essas questões ao seguirmos em
frente com nosso assunto. Primeiro, precisamos estabelecer firmemente os princípios de
Jesus. Depois, poderemos prosseguir para ver como se trabalhava na igreja primitiva e o
que pode ser colocado em prática, hoje, entre nós.
Indo um pouco mais à frente, aprendemos que o exercício de autoridade de uns sobre
os outros não apenas é proibido, mas é proibido pelo melhor dos motivos.
Gosto de acreditar que a maioria dos que estão agindo dessa forma na Igreja atual
tem boas intenções. Eles acreditam que estão usando sua autoridade para o benefício dos
outros. Estão tentando ajudá-los. Estão caridosamente exercendo autoridade sobre os
outros para o seu conforto e bem estar. Interessante é que essa atitude e esse modo de agir
são também expressamente proibidos por Jesus.
Em Lucas 22:25,26, lemos: "Os reis dos povos dominam sobre eles, e os que exercem
autoridade são chamados ben-feitores." Um benfeitor é alguém que faz algo em benefício de
outro. Supostamente alguém está tirando proveito de suas ações. O exercício de
autoridade do benfeitor sobre alguém está fazendo bem a essa pessoa e lhe trazendo algum
benefício.
Mas, referindo-se a este tipo de autoridade, Jesus afirma; "Mas vós não sois assim"
(v. 26). Nós não devemos agir assim! Esta prática nunca deveria ser encontrada no meio
do povo de Deus. Realmente, não pode! Em vez de ser benéfico e proveitoso, esse
modelo está impedindo o fluir da autoridade sobrenatural. Torna-se um substituto para a
verdadeira soberania de Cristo. Novamente lembramos Suas Palavras: "Todos vós sois
irmãos" (Mt 23:8).
Não pode haver uma outra Cabeça ou fonte de autoridade no corpo de Cristo,
mesmo se isto é feito com boas intenções. Quando permitimos isso, cria-se uma situação
confusa. Os crentes não sabem a quem procurar em busca de direção: deveriam procurar
Jesus diretamente ou simplesmente confiar em uma figura de autoridade?
Já que a autoridade humana é mais tangível, a tendência é que tal fonte se torne a
principal. Portanto, precisamos estar sempre alertas contra essas tendências. Elevar-se para
ter autoridade sobre os outros ou olhar para fontes humanas, ambas as atitudes devem
ser evitadas.
Não sigam o mundo ao seu redor. Não prestem atenção ao que os outros cristãos
estão fazendo. Precisamos olhar para a Palavra de Deus e seguir as instruções que
encontramos ali. Somente deste modo, iremos receber louvor de Deus naquele Dia.
Uma criancinha é humilde porque não sabe muito, não tem grande poder. Ela é
muito dependente de seu pai e de sua mãe, não dirige coisa alguma, não controla
ninguém. Sua posição é modesta, sem grande destaque.
Por favor, deixe-me afirmar isto enfaticamente e com muita clareza: a menos que você
chegue a esta posição de humildade, igual a uma crianca, e permaneça nela, você não estará entrando e
nem vivendo no reino de Jesus! Você não poderá estar vivendo sob a liderança de Deus. Estas
são as próprias palavras de Jesus. Isto é exatamente o que Ele nos ensinou.
Não há modo de evitar esse fato óbvio. Essa foi a resposta de nosso Senhor à ambição
de Seus discípulos por autoridade e controle. Ainda é a Sua resposta hoje. Se você chegou a
uma posição elevada ou deixou que outros o colocassem nessa posição, para receber
respeito de outras pessoas do corpo de Cristo, de uma maneira substancial, você foi
desviado do reino de Deus. Mais além, Jesus afirmou repetidamente: "Mas o maior dentre
vós será vosso servo" (Mt 23:11). E "Mas vós não sois assim; pelo contrário, o maior entre vós
seja como o menor; e aquele que dirige seja como o que serve" (Lc 22:26).
Isso mostra claramente que, em vez de querer ou tentar ascender em algum tipo de
hierarquia, assumir o comando ou o controle de qualquer tipo de crentes, devemos fazer
exatamente o oposto. Precisamos descer, para nos tornar escravos deles. Nosso objetivo
deve ser exaltar os outros até o ponto em que eles se tornem "maiores" do que nós mesmos.
Em vez de nos tornarmos os maiores, precisamos nos tornar os menores.
O próprio Jesus nos mostrou esse exemplo na última ceia. Ali, Ele tirou Seu manto e
colocou uma toalha. Então começou a exercer a função do menor entre os escravos. Ele
lavou os pés dos discípulos. O Deus encarnado não insistiu em ter uma posição de
respeito ou autoridade. Ele Se humilhou diante do Pai e diante dos Seus discípulos. Ele Se
tornou um servo. Essa posição é aquela onde devemos nos encontrar.
Sem dúvida, a maioria dos líderes cristãos conhece este princípio. Eles lêem suas
Bíblias. Isso não é uma idéia nova ou ensino secreto. O que parece estar faltando é o
método de colocá-lo em prática.
Para começar, precisamos ter uma firme compreensão dessa idéia. É impossível estar
"acima" de alguém - isso significa ter uma posição de autoridade sobre outro - e ser, ao
mesmo tempo, seu escravo. É um absurdo pensar que você pode estar simultaneamente
sobre e abaixo de alguém. Estas duas posições, uma de autoridade e outra de servidão, são
opostas entre si. Você não pode ter as duas coisas ao mesmo tempo. Para assumir uma,
você precisa abandonar a outra. Para estar abaixo, você precisa deixar de estar acima.
Para se tornar um servo ou escravo, você precisa deixar de lado as suas roupas
elegantes, precisa renunciar à posição de estar acima ou sobre; precisa deixar todos os seus
títulos e a sua importância; precisa humilhar-se de maneira a desafiar o seu ego, a sua
educação e até mesmo a sua renda; precisa desejar agir e viver de um modo que os outros
não irão compreender ou aprovar.
Construir a casa de Deus, à maneira de Deus, pode desafiar a sua fé no nível mais
profundo. Mas, como seu irmão, gostaria de encorajar você, porque as recompensas são
grandes. Os tesouros espirituais, que podem ser obtidos em obediência ao nosso Senhor,
estão além da descrição.
Então, como pode tal ministério se manifestar? Como devemos agir? O que devemos
fazer? Vamos imaginar que, entre aqueles com os quais você tem relacionamento, você se
torna um escravo e eles se tornam seus senhores. Como pode isso funcionar?
Para começar, sabemos que um escravo não é aquele que manda na casa. Não é ele
quem tem autoridade. Ele não diz ao seu senhor o que deve ser feito; não organiza a vida de
seu dono, nem controla nenhuma de suas atividades; não recebe mais consideração que seu
senhor; não lucra mais do que o seu dono; não tem qualquer autoridade, seja lá qual for,
sobre o seu dono, para discipliná-lo, dirigir sua vida, controlar sua família ou casamento.
Sua posição é de muita humildade.
Agora vamos supor que esse escravo tenha um relacionamento com Jesus, o que faz
de sua vida um exemplo. Ele não é apenas humilde, mas também cheio de amor. Ele gasta
tempo meditando na Palavra de Deus e, assim, está pleno de revelações. Ele é honesto,
obediente, fiel, bondoso e cheio de muitas outras virtudes de Cristo.
Portanto, seus "donos", que são os outros cristãos, se tornam curiosos. Querem saber o
que o faz ser assim. Estão famintos por mais luz, e Deus usa esse servo para compartilhar
isso com eles. Sua vida é um exemplo tão grande de pureza e de verdade que as pessoas
desejam ser como ele. Observando a sua vida, os donos acabam confiando no escravo e
pedem sua recomendação e seu conselho.
Por causa de seu relacionamento de confiança com o seu "senhor", esse escravo
ocasionalmente oferece sua opinião ou conselho, se o "mestre" quiser ouvi-lo. Assim, o
escravo se torna uma fonte da luz de Deus e de nutrição para o "senhor". Contudo, ele
nunca deixa aquela posição de ser um humilde escravo para assumir a posição de
autoridade ou controle.
Aqui precisamos parar um momento para analisar um versículo bíblico. Não há
dúvida de que alguns leitores estão se lembrando de 1 Tessalonicenses 5:12, onde lemos: "E
rogamo-vos, irmãos, que reconheçais os que trabalham entre vós e que presidem sobre
vós no Senhor, e vos admoestam" (VRC). Eis uma daquelas ocasiões em que os
tradutores da Bíblia podem ter realizado seu trabalho com um preconceito, que
facilmente os conduziu a uma idéia errada. Aqui, precisamos aplicar o princípio de filtrar
tudo pelos ensinamentos de Jesus. Assim, quando lemos sobre alguém que está
"presidindo sobre" um outro, isso não se harmoniza com o que nós temos estudado.
Portanto, precisamos chegar a uma nova compreensão desse versículo.
A palavra grega traduzida por "presidir" é "PROISTEMI", que significa "andar
adiante" conseqüentemente "para liderar". "Presidir" é uma tradução pobre e
contaminada. Não há, no grego, o sentido de ser "melhor" ou estar "acima", mas simples-
mente "em frente" na caminhada espiritual. Assim, a tradução aqui dá aos leitores uma
impressão errada e contrária às palavras de Jesus.
O verdadeiro significado é que nós estamos mostrando pela nossa vida, um exemplo
notável de intimidade com Cristo, para que outros O sigam. Tal "liderança" nunca deveria,
de forma alguma, ser interpretada como estar "presidindo", da mesma maneira que um
presidente ou um dominador de alguém.
Certamente que há liderança real de homens na vida cristã e entre os crentes. Mas,
como isso é feito? Deve haver um tipo de liderança diferente daquele que vemos no
mundo, já que é preciso seguir todos os princípios de Jesus, que estivemos estudando. A
liderança no Novo Testamento é pelo exemplo. Aqueles que poderiam ser considerados
"líderes" são aqueles que têm uma intimidade óbvia com Cristo, que está mudando suas
vidas e impactando suas famílias. Os que estão ao seu redor estão cientes de que o caráter
de Jesus está sendo manifesto por meio deles.
Estes, então, se tornam os exemplos que os outros querem seguir. Outros querem ser
como eles, e tornam-se seus imitadores (1 Co 11:1), porque também querem ter a mesma
intimidade com Jesus. Dessa forma, alguns crentes são considerados "líderes" porque estão
"bem à frente" na corrida para ganhar a Cristo. Estão demonstrando aos outros como
crescer em Jesus. Por outro lado, não são líderes porque estão lá no palco, elevados sobre
os outros crentes, exercendo autoridade sobre eles.
Naturalmente, quando alguém tem uma vida tão exemplar, os outros ficam
curiosos. Desejam saber como essa pessoa humilde chegou a um estado tão maravilhoso.
Se os outros estão realmente à procura de justiça, desejarão compreender as coisas que
Deus revelou a uma pessoa como ela.
Pode ser que eles façam perguntas; desejem recomendações e conselhos; se abram
para receber daquela pessoa todas as coisas que Deus colocou dentro dela. Dessa forma,
então, um escravo pode servir aos outros, ensinando, aconselhando, amando e
admoestando.
Entretanto, tudo isso é feito em uma posição de modéstia e humildade. A atitude de
um "líder" genuíno é a de ser "o mais insignificante". Nada é feito de uma posição de
superioridade, autoridade, controle ou como forma de estar "sobre" os outros. Este é o
verdadeiro ministério do Novo Testamento.
Além disso, nada do que esse escravo faça viola a vontade de seus "senhores", que
são os outros crentes. Ele não insiste em impor a sua vontade ou a sua maneira de ser; não
ordena que alguém faça coisa alguma sobre a qual não esteja convicto (Rm 14:5); não está
organizando suas vidas; não está dirigindo suas reuniões, planejando suas atividades ou,
de um jeito ou de outro, exercendo autoridade sobre eles.
Sua posição permanece uma posição de humildade. Ele não recebe louvor e elogios
dos homens; não deixa alguém colocá-lo numa posição de autoridade; sua ênfase está
sempre colocada em Jesus e nunca nele mesmo; não se sente insatisfeito com a falta de
atenção ou quando os outros não reconhecem suas palavras e seu trabalho. Já que não
tem outra meta além de glo-rificar a Cristo, ele se satisfaz somente quando o seu Senhor Se
agrada.
JUÍZES E REIS
Os juízes do Velho Testamento foram instituídos por Deus. Por outro lado, os reis
foram estabelecidos pelos homens - uma instituição humana. De fato, quando os filhos de
Israel pediram um rei a Samuel, afirmaram especificamente que desejavam ser como as
outras nações - como o mundo ao redor deles (1 Sm 8:5). Ao contrário disso, o governo de
Deus foi manifesto por meio dos juízes.
Então, podemos extrair dos juízes uma importante revelação. Para começar,
notamos que as pessoas que procuravam os juízes para aconselhamento ou julgamento,
vinham por vontade espontânea. Nunca eram coagidos ou forçados. Vinham porque
queriam ouvir a Deus. Os juízes eram ungidos e usados por Deus e, assim, as pessoas os
procuravam.
Em contraste com os reis, os juízes não dirigiam coisa alguma. Eles não governavam o
país. Não organizavam um exército permanente, não criavam impostos, não começavam
obras públicas etc. Com poucas exceções, em tempo de emergência nacional (talvez uma
vez em vinte anos, quando eles chamavam o povo de Deus para a batalha), sua atitude
normal era simplesmente a de estarem disponíveis para a população. Assim eles podiam
servir ao povo quando este necessitava.
Gideão e os outros juízes pareciam simplesmente estar em casa a maior parte do
tempo. Se as pessoas necessitassem deles, tinham que ir procurá-los. Um outro juiz, Jair,
parecia fazer uma rota por todo o país, a fim de se tornar mais acessível (Jz 10:4). Débora
tinha uma árvore, debaixo da qual ela se assentava, provavelmente em um lugar público,
onde se colocava à disposição daqueles que procuravam a direção do Senhor (Jz 4:5).
Eles não organizavam coisa alguma na vida diária das pessoas. Não controlavam
ninguém. Eram servos e não soberanos. Essas coisas deveriam nos falar ainda hoje, porque
nessas pessoas, a vontade de Deus foi manifesta.
Quando Gideão foi usado por Deus para operar uma grande libertação, o povo ficou
realmente impressionado. Seguindo a tendência humana natural de querer um líder, eles
tentaram fazê-lo rei. Disseram-lhe: "Reine sobre nós, você, seu filho e seu neto, pois você
nos libertou das mãos de Midiã" (Jz 8:22-NVI).
Mas Gideão, sabiamente, recusou este tipo de exaltação. Ele compreendia, pelo
menos um pouco, dos métodos do Senhor. Então, respondeu: "Não reinarei sobre
vocês...nem meu filho reinará sobre vocês. O Senhor reinará sobre vocês (Jz 8:23-NVI).
Gideão recusou-se a ser elevado a uma posição onde poderia substituir o governo de
Deus nas vidas daquelas pessoas. Será que isto corresponde ao que você está fazendo
hoje?
Em Hebreus 13:17, encontramos uma tradução que pode também gerar nos leitores
um pouco de confusão. Ali, parece que o escritor nos ensina algo totalmente oposto às
palavras de Jesus. Lemos: "Obedecei aos vossos guias, e sede submissos para com eles...."
É possível abstrair do texto, que somos requisitados por Deus a "obedecer" a alguém.
Parece que o escritor está insistindo em que há alguns seres humanos que, por causa de
sua posição, são dignos de nossa absoluta obediência.
Alguns têm até mesmo sugerido que devemos obedecer, sem questionar, às
direções de vários líderes cristãos. Se devemos obedecer a alguém, então, logicamente,
esse alguém deve estar em posição de autoridade sobre nós. Mas, à luz das claras palavras
de Jesus, como pode isto acontecer?
Aqui, o Dicionário Vine nos ajuda a conseguir uma tradução melhor. A palavra grega
traduzida como "obedecer" é "PEITHO". Vine diz que ela significa "persuadir",
"conquistar", "ser persuadido", "ouvir a" e, então, como conseqüência disso, obedecer. Ele
esclarece bem, enfatizando: "A obediência sugerida não é por submissão à autoridade, mas
como resultado de persuasão.
Veja você, quando alguém vive uma vida que exibe Cristo, somos induzidos a ouvir
o que ele diz e a permitir que sejamos persuadidos por ele. Isto acontece porque
respeitamos sua vida e seu caráter. Não quer dizer que devemos obedecer a alguém
cegamente. Não quer dizer que devemos simplesmente fazer o que alguém manda. Ao
contrário, indica que devemos considerar cuidadosamente as palavras de alguém que
realmente vive em intimidade com Deus. Quando estão falando em nome de Deus, será
bom ouvirmos o seu conselho.
Se não estamos completamente persuadidos, mas obedecemos cegamente a alguém
que esteja falando em nome de Deus, então nossa obediência é algo superficial. Quando
nosso coração não está completamente de acordo, mas obedecemos por algum tipo de
obrigação religiosa, isto é uma violação à nossa vontade. Tal "obediência" não faz nada para
favorecer os propósitos de Deus ou para mudar a nossa vida.
Observe atentamente: mesmo estando fazendo o que é correto, se nossa mente não
foi persuadida, isso não pode agradar ao Senhor. Quando nossa obediência é superficial,
não somos transformados interiormente. Com este tipo de prática, somos apenas
conformados a alguma espécie de padrão. Quando nossa submissão não é de coração, ela
não pode produzir fruto espiritual.
Conforme já vimos, liderança bíblica não envolve nenhuma forma de dominação.
Funciona exatamente como é afirmado em Hebreus 13:7, onde lemos: "Observem bem o
resultado da vida que tiveram e imitem a sua fé". Os líderes tinham uma fé exemplar e
deveriam ser imitados. A maneira de viver e a "conduta" deles eram algo digno de
consideração. Aqui não há a idéia de assumir o comando ou o controle sobre os outros.
Nunca deve acontecer qualquer substituição para a liderança direta de Cristo sobre cada
homem (1 Co 11:3).
Agora, podemos entender que esses versos não indicam algum tipo de autoridade
ou estrutura de poder que são contrários aos ensinamentos de Jesus. Em vez disso, devem
ser vistos em harmonia com eles. Deste modo, um escravo que caminha em intimidade
com Deus, pode fazer uma sugestão ou pode dar um conselho, quando alguém procura
por isso. O servo não tem que deixar sua postura de ser humilde e o mais inferior. Ele
nunca deve colocar-se "acima" de ninguém.
Quando esse servo, obviamente, tem um relacionamento com o Senhor, precisamos
prestar cuidadosa atenção às suas palavras. Precisamos considerar o que tem sido dito,
com muita oração. Isto porque existe uma grande possibilidade de suas palavras serem
CONDUTORES DE AUTORIDADE
É bem claro que, em todo o universo, Deus é a fonte de toda a autoridade. Qualquer
ser humano ou mesmo qualquer criatura que tenha autoridade, recebeu-a de Deus. Ele
permitiu que tivessem autoridade ou mesmo que fossem colocados em posição de
poder. Sem a Sua permissão, eles não teriam qualquer poder.
Em nosso mundo, temos diferentes tipos de figuras de autoridade. Isto inclui
presidentes, governadores, juízes, delegados, pais etc. As Escrituras mostram claramente
que estas figuras de autoridade são estabelecidas por Deus e que nós devemos lhes
obedecer (1 Pe 2:13,14).
Já que o mundo está em rebeldia contra o Senhor, Ele usa esses indivíduos para agir
em Seu lugar, para, de algum modo, subjugar a rebelião e as tendências pecaminosas da
humanidade. Até este momento, Ele ainda não retornou para governar pessoalmente este
mundo, então Ele delega Sua autoridade a outros, para que governem em Sua ausência.
Homens e mulheres que receberam essa autoridade de Deus são freqüentemente
chamados de "autoridades delegadas".
brotando pelo mundo todo a cada dia. Então, onde poderíamos encontrar tantos líderes
bem preparados? Onde poderíamos achar um número de crentes tão maduros,
completamente transformados e confiáveis para ter sua própria autoridade e ainda exercê-
la de um modo divino? Se necessitássemos de apenas uma figura de autoridade para cada
grupo, onde poderíamos encontrar um suprimento de tantas pessoas quebrantadas e
humildes? Além disso, como os levaríamos para o lugar onde deveriam estar?
A resposta deve ser que devemos deixar a liderança da Igreja no lugar que lhe
pertence: nas mãos do Senhor. Precisamos ensinar uns aos outros como nos submeter a Ele.
Precisamos nos ajudar a entrar em um relacionamento íntimo com Jesus e a mantê-lo.
Precisamos trabalhar para estabelecer Sua autoridade na vida de cada membro.
Assim, todos serão capazes de ouvir Suas ordens, serão capazes de sentir Sua
direção. Já que tais pessoas estão verdadeiramente submissas a Jesus em seus corações,
serão capazes de ouvir Sua voz, mesmo quando Ele está falando por meio de outros
irmãos e irmãs. Não importa se é por meio de um líder, por meio de um modesto,
humilde e desconhecido membro do corpo de Cristo ou mesmo por meio de um jumento,
tais pessoas submissas ouvirão Sua voz e a obedecerão.
A autoridade da Cabeça freqüentemente flui por meio dos membros do seu corpo.
Por exemplo, quando Paulo o apóstolo ensinava, exortava ou admoestava os outros em
suas epístolas, sabemos que era o Espírito de Deus falando por meio dele. Ele estava
sendo ungido para escrever aquelas cartas. Portanto, a autoridade manifesta ali não era
dele. Não pertencia a ele, mas era simplesmente uma exibição da autoridade da Cabeça.
Do mesmo modo, hoje, Jesus fala através do Seu povo. Sua autoridade é freqüentemente
manifesta por meio dos outros, para aqueles que têm ouvidos para ouvir.
Talvez seja interessante examinar uma palavra que achamos em 2 Tessalonicenses,
capítulo 3, versículos 4, 6, 10 e 12. Neste trecho, é usada a palavra "ordenar" ou
"comandar". Parece que Paulo está usando uma autoridade pessoal e "ordenando" ou
"comandando" os discípulos a fazerem alguma coisa ou outra. A palavra grega aqui é
PARANGELLO.
Segundo W. E. Vine, em seu dicionário de palavras do Novo Testamento, essa palavra
significa literalmente: "repassar um anúncio" de uma pessoa para uma outra (traduzido
do original inglês por este autor). A origem dessas "ordens" foi de uma outra Pessoa.
Paulo simplesmente estava "repassando" comandos para os discípulos.
Não existe aqui o pensamento de "comandar", como se Paulo tivesse sua própria
autoridade. Ao invés disso, ele estava simplesmente repassando instruções que recebeu de
Jesus. Ele foi um vaso através do qual a autoridade de Deus estava fluindo, e não uma
pessoa exercitando uma autoridade própria. A palavra grega, então, serve para confirmar
o entendimento que estamos apresentando a vocês.
O EXEMPLO DE MOISÉS
ESCOLHENDO ANCIÃOS
Sem dúvida, alguns irão dizer: "Mas Paulo e os outros escolheram ou ordenaram
anciãos em cada igreja. Portanto, não devemos nós também escolher tais figuras de
autoridade (Tt 1:5)?" Mais uma vez o Dicionário Vine nos dá um discernimento importante. A
palavra grega traduzida por "escolher" ou "constituir" é "CHEIROTONEO", que significa
literalmente "estender as mãos para". Vine escreve, no texto original em inglês (versão da
tradutora): "Não é uma ordenação eclesiástica formal que está em vista, mas um apontar o
dedo para que as igrejas reconhecessem aqueles que já tinham sido levantados e qualificados
pelo Espírito Santo e já tinham dado evidência disso em suas vidas e em suas obras".
Infelizmente, a tradução mais recente do dicionário de Vine em português não seja fiel às
ideias do autor.
Para entender isso claramente, precisamos imaginar o contexto no qual foi dada essa
direção, na carta a Tito. Na Igreja primitiva havia uma situação muito diferente do que
vemos hoje. As igrejas naquelas diversas cidades eram recentes. A idéia de Igreja era uma
coisa bem nova. Além disso, havia muitos novos crentes que necessitavam de cuidados,
conselho e atenção.
Em Jerusalém, novos convertidos sabiam facilmente onde procurar por conselho e
direção. Os doze apóstolos haviam caminhado com Jesus. Mas, naquelas outras cidades, a
idéia de Igreja era uma coisa bem recente. Então, quem eram aqueles a quem Deus estava
usando? Quem estava andando em intimidade com Deus e, portanto, poderia ser
procurado para dar conselhos e recomendações. Quem eram os servos fiéis?
Aqueles crentes estavam na infância espiritual e não tinham discernimento para
perceber quem eram os que tinham mais maturidade cristã. Portanto, Paulo achou
necessário auxiliar os novos crentes a identificarem os mais maduros. Ele não estava
"selecionando" homens para posições de autoridade, mas os estava indicando (estendendo
as mãos para apontar = CHEIRO-TONEO) para o benefício dos outros, daqueles que
estavam em comunhão com Jesus. A vida dos homens indicados era um testemunho de
seu crescimento e de seus dons. Assim sendo, eles deveriam ser usados por Deus como
exemplos para o rebanho.
Existe, então, a função de presbítero ou supervisor? Claro que sim, deve existir. Pode
existir a posição de presbítero que tem autoridade sobre os outros? Não, isso nunca deve
existir. Mais uma vez, devemos lembrar que nada que foi feito pelos apóstolos pode
contrariar o que Jesus claramente ensinou. Só podemos compreender essas situações
harmonizando-as com as instruções do Mestre. Assim, é impossível pensar que Paulo e
Tito estavam dando "posições de autoridade" a algumas pessoas, a fim de exercerem
comando sobre outros. Eles estavam simplesmente "indicando" pessoas que já tinham
maturidade para ajudar outros. A colocação de Vine clareia esta questão.
TERMINOLOGIA BÍBLICA
dons e chamados particulares. São palavras usadas para indicar que tipo de servos eram
esses homens, e não a espécie de posição que haviam conseguido. Encontramos textos, por
exemplo, assim: Paulo, "um servo de Deus e um apóstolo de Jesus Cristo" (Tt 1:1) e Pedro,
"um servo e apóstolo" (2 Pe 1:1).
Então, como podemos entender tais termos? Como um exemplo, podemos olhar
para o mundo à nossa volta. Em nossa sociedade, temos muitos tipos diferentes de
profissões. Temos carpinteiros, pedreiros, encanadores, mecânicos, programadores etc.
Estas palavras são as descrições do tipo de trabalho que essas pessoas fazem. Não são
posições de autoridade sobre o resto da sociedade.
Considera-se que essas pessoas tenham alguma habilidade especial em sua área de
serviço. Sem dúvida, eles têm uma certa experiência que os qualifica para dar conselhos aos
outros, que querem fazer o mesmo trabalho. Mas não são títulos ou posições, são
simplesmente descrições do tipo de serviço que essas pessoas executam.
Durante todos estes anos, desde que o Novo Testamento foi escrito, palavras como
pastor, ancião etc. têm sido retiradas de seu contexto e alteradas. Elas passaram a significar
algo diferente e, em muitos casos, completamente oposto do que significavam há dois mil
anos atrás.
Um exemplo disto é a palavra "ministro". Hoje em dia, pensamos em um ministro
como alguém que dirige uma igreja. Entretanto, a revelação da Escritura do que é ser "um
ministro" é muito diferente. Há três palavras diferentes no grego que são traduzidas em
português como "ministro".
A primeira é "DIAKONOS". Significa servo ou atendente. Indica um simples servo
doméstico. Freqüentemente é traduzida como "diácono".
A segunda palavra, "LEITOURGOS", refere-se a alguém que serve o público com uma
capacidade especial, às suas próprias custas.
A terceira palavra, "HUPERTES", originalmente significava "o mais baixo remador",
que era uma classe inferior de marinheiro. Mais tarde, passou a significar qualquer
subordinado agindo sob a direção de outro. Certamente este tipo de "ministro" não
dirigia o navio.
Algumas outras palavras que são usadas para falar daqueles que são servos
espirituais, são: DOULOS, "um escravo"; OIKETES, "um servo caseiro"; MISTHOIS, "um
servo assalariado"; e PAIS, um servo menino (Definições do Dicionário Vine do Novo
Testamento). Não há nada em nenhum destes termos que indique uma posição de
autoridade ou controle sobre os outros. A verdade é exatamente o oposto. Vemos aqui que
a Bíblia freqüentemente usa terminologias para os servos de Deus, que se referem aos
menos estimados membros da sociedade. Eles eram os mais inferiores servos domésticos.
Outros termos que comportam investigação são: "ancião", "supervisor" ou
"bispo". Anciãos eram pessoas de idade avançada e muita experiência. Não se
conceberia a idéia de que uma pessoa de 20 anos de idade pudesse ser um "ancião". Isto
seria ridículo. Tais homens, por terem vidas exemplares e serem considerados sábios,
eram procurados para conselhos e recomendações. Eles não governavam o povo. Os
anciãos do Novo Testamento também agiam desse modo.
Outro termo, "Bispo", vem do grego EPISKOPOS, que significa "ficar de olho" ou
"zelar por". A segunda parte desta palavra, "SKOPEO", foi tomada e traduzida como
"bispo". O verdadeiro significado aqui parece totalmente claro. Aqueles que são
maduros, têm muita experiência e andam em intimidade com Jesus, têm uma
responsabilidade: são uma espécie de observadores ou "supervisores".
Quando as coisas começam a ir mal na vida de alguns crentes, esses observadores
são aqueles que notam isto. Eles, então, têm a responsabilidade diante de Deus, de orar e
ver o que Deus deseja que digam ou façam para servir nessa situação. Isto não significa que
eles têm autoridade para dirigir a vida de outras pessoas. Eles sabem que somente Deus
pode transformar alguém ou mudar sua situação. Porém, eles têm a função de obedecer a
Jesus e "repassar" para os outros tudo o que o Senhor está falando. Entretanto, com toda
humildade, podem dar conselhos, avisos ou sugestões. Outra vez, isso não tem nada a ver
com solicitar submissão dos outros, mas simplesmente servi-los, para o seu bem estar, com
a capacidade de observar de fora.
Também devemos notar que esses irmãos não estavam supervisionando. Será que
essa palavra indica que eles estavam dirigindo uma organização religiosa? Será que eles
estavam supervisionando todas as atividades de alguma igreja? Eram eles que decidiam
onde e quando as pessoas deveriam se encontrar e que papel cada membro teria na
organização? Eles estavam planejando e dirigindo todas as atividades do grupo? Não!
Essas idéias não são encontradas no Novo Testamento. Nunca houve um grupo de
homens dirigindo a igreja. Tal direção era o trabalho da Cabeça.
Em vez disso, os supervisores estavam simplesmente atentos às vidas individuais dos
outros crentes. Estavam sempre vigilantes para ver se as outras pessoas estavam bem em
seu relacionamento com o Senhor. Quando ocorria algum problema, se alguém estivesse
com uma necessidade física ou espiritual, eles então poderiam procurar a Deus para saber
como ministrar Sua Vida naquela determinada situação.
Uma outra palavra que devemos discutir é "apóstolo". Ela significa alguém que foi
enviado por uma outra pessoa para fazer um serviço. Como exemplo, podemos citar
algumas situações onde o termo seria aplicável: mandar um encanador para a sua casa, a
fim de consertar um vazamento; enviar um garoto vizinho para comprar um refrigerante
etc. No Novo Testamento, foi o próprio Deus quem enviou alguns homens com uma visão
celestial. Era tarefa deles compartilhar aquela revelação com todo aquele que estivesse
aberto para recebê-la.
O fato de Deus ter enviado essas pessoas, certamente dá um peso ao que elas tinham
a dizer. Assumindo que alguns ainda são apóstolos genuínos hoje, e não falsos apóstolos,
precisamos prestar cuidadosa atenção à mensagem deles. Mas eles não foram e não são
enviados pelo Senhor para dirigir a Igreja. Eles não estão autorizados a assumir uma
posição de controle ou importância. São simplesmente humildes servos dos outros
irmãos e irmãs. Aqueles que se proclamam apóstolos e não compreendem essa verdade,
não podem ser genuínos.
A grande maioria da Igreja, e até mesmo o mundo, compreende esses termos de
modo a não se harmonizar com a mensagem de Jesus. Portanto, é meu costume evitá-los.
Embora esses termos estejam na Bíblia e, portanto, sejam termos legítimos, eles são quase
universalmente mal entendidos. Se os usarmos, correremos um sério risco de expressar
uma idéia ou dar uma impressão errada. Descobri que é virtualmente impossível reeducar
todo mundo sobre o real significado de tais palavras.
Talvez devamos retroceder ao que João Batista disse de si mesmo: "Eu sou a voz do
que clama no deserto" (Jo 1:22,23). Ali estava João, de quem fora dito que nenhum profeta
maior do que ele havia existido (Mt 11:11). Mas, quando as pessoas vieram questionar
sobre quem ou o quê ele era, recusou-se a se exaltar. Em vez de insistir que era alguém ou
alguma coisa, ele se descreveu como uma voz solitária, gritando no deserto. Ele tomou
uma posição de humildade. Tomando-o como exemplo, então, nos humilhar e glorificar a
Jesus nunca pode dar errado. Mais adiante, neste livro, discutiremos como funcionam
algumas dessas funções de serviço. Tentaremos falar como a Igreja genuína pode ser
experimentada. Mas, por ora, precisamos seguir para outras questões sobre autoridade.
UM SERVO HUMILDE
DIÓTREFES
Essas considerações nos trazem o exemplo de Diótrefes. Eis um homem que amava ter
uma posição. Ele gostava de controlar os outros. Adorava a atenção e poder que tal
situação trazia a ele. Ele amava "...exercer a primazia entre eles" (3 Jo 9). Assim, ele se
levantou para assumir o controle da igreja. Tornou-se o líder. Ele era o homem que
chefiava.
A grande conseqüência desse ato é que Diótrefes teve que começar a proteger o
território, de cujo controle havia assumido. Quando os outros se aproximavam - qualquer
um que estivesse andando "em verdade" (vs. 12), isto é, alguém que pudesse expôr a
ambição egoísta dele - Diótrefes tinha que se livrar deles, tinha que "proteger" seu rebanho
dessas "más" influências.
É quase inevitável que, quando alguém assume uma posição de poder, entre em
contenda com os outros para proteger sua posição. Quando você não tem posição ou
poder, você não tem nada para defender. Mas, uma vez que você assume controle sobre
os outros, mais cedo ou mais tarde, alguém com um dom ou um ministério poderoso irá
aparecer em cena. Então, isto pode ser visto como uma ameaça.
No caso de Diótrefes, ele usou alguns métodos antiqüíssi-mos para defender seu
território. Suas táticas de defesa eram as mesmas usadas hoje por muitas pessoas. Ele
criticava, caluniava e censurava o testemunho de qualquer pessoa que representasse uma
ameaça à sua posição. Até usou linguagem bombástica contra João, "com palavras
maliciosas" (vs. 10). Sem dúvida, ele difamava o caráter, as práticas e as doutrinas dos
outros.
Além disso, ele não recebia qualquer um que discordasse dele. Ninguém poderia ter
comunhão com o grupo, a menos que se conformasse com as suas idéias. Também, se
alguém da congregação recebesse outros com pensamentos diferentes, ele os expulsava
(vs. 10). Talvez as coisas na Igreja tenham mudado muito pouco desde aqueles tempos.
Disputas tão mesquinhas por controle e poder não são estranhas ao povo de Deus, hoje.
A RESTAURAÇÃO DA IGREJA
No século passado uma nova idéia teológica se levantou. Tal pensamento afirma que a
prática genuína da Igreja necessita ser "restaurada". Isso significa que deveríamos retornar à
prática do Cristianismo, como se fazia no Novo Testamento, incluindo sua vida diária,
ministério e estilo de reuniões. Um dos que deram origem a este movimento foi
Watchmann Nee.
A partir dele, muitos outros se levantaram, afirmando ser detentores do padrão
para tal restauração. Cada um acredita que compreendeu o "padrão do Novo
Testamento" mais precisamente e está trabalhando para conformar as igrejas, debaixo de
sua influência, a este padrão.
Para alguns, tal padrão é o reconhecimento de apóstolos e a submissão a eles.
Insistem em que, nos submetendo à autoridade deles, chegaremos à experiência da Igreja
primitiva. Uma parte do pensamento deles é que na Igreja atual está faltando autoridade
apostólica e, pela restauração da submissão a esses apóstolos, a verdadeira Igreja será
experimentada.
Incontáveis apóstolos estão circunavegando o mundo, procurando por grupos
vulneráveis às suas idéias e conforman-do-os à sua ênfase particular. O pensamento deles
é que, quanto mais grupos estiverem sob sua autoridade, mais a Igreja verdadeira será
restaurada. Embora as fórmulas variem de acordo com cada indivíduo, a idéia geral é
que, apenas através da submissão ao ministério deles, as pessoas podem, realmente, estar
agradando a Deus.
Outros têm uma doutrina sobre a "base" da igreja. Alguns pensam, por exemplo,
que, se somente nos encontrarmos debaixo da bandeira de ser "a igreja em alguma
cidade em particular" (a igreja em São Paulo, por exemplo), estaremos nos reunindo da
forma correta. Acredita-se que o segredo está no nome que é usado para identificar o
grupo dos crentes.
As igrejas do Novo Testamento, dizem eles, não tinham nome, mas eram apenas
identificadas pelo nome de sua localidade. Assim, se eles pudessem persuadir cada um a
deixar de lado seus nomes particulares e se reunir com eles sob a bandeira de ser "a igreja
da cidade em...", a unidade da Igreja seria restaurada. Essa seria, então, a verdadeira
O problema com essas idéias, é que estamos colocando o carro na frente dos bois.
Não podemos restaurar a Igreja. Jesus é o único que pode restaurar qualquer coisa.
Portanto, o que precisamos é recolocar Jesus em Seu lugar de direito entre nós. Precisamos
restaurar o lugar da Cabeça. Quando Ele for a Cabeça sobre todas as coisas em nossa
experiência cristã, então, e somente então, a Igreja será restaurada. Enquanto tivermos
entre nós "cabeças" competindo com Cristo e outras figuras de autoridade entre nós,
sempre estaremos fora da meta.
Por que não temos hoje a experiência do Novo Testamento? Porque perdemos nossa
Cabeça. Nós A substituímos por homens que usam uniformes, títulos e posições. Temos
olhado para figuras de autoridade que são terrenas, humanas e falíveis, em vez de olhar
para o Único que deve dirigir todas as coisas. Nós temos colocado nossa confiança em
meros seres humanos, em lugar do nosso divino Líder.
Em vez do Deus invisível ser o Senhor responsável por nossas vidas, nossos
ministérios e nossos encontros, temos meros seres humanos como nossos guias. Temos
pensado que podemos relegar Jesus ao lugar de um mero espectador, enquanto andamos
de cá para lá, fazendo coisas bíblicas para agradá-Lo.
Se quisermos reavivamento, precisamos recolocar Jesus em Seu legítimo lugar dentro
de nós e entre nós. Se quisermos experimentar o mesmo que os primeiros crentes,
precisamos remover toda e qualquer "autoridade" substituta. O único jeito do corpo de
Cristo funcionar normalmente é com a verdadeira Cabeça governando cada atitude e ação
dos membros e da vida do corpo.
A hora chegou de todos os crentes se arrependerem de sua dependência de
CAPÍTULO 6
DEIXE OMEU POVO IR
Depois de ler os capítulos anteriores deste livro, algumas pessoas podem imaginar que
estou advogando a ausência de toda e qualquer autoridade institucional no meio do
povo de Deus. Elas podem pensar que estou induzindo à eliminação total de submissão
à autoridade posicional e ao domínio humano na Igreja. Podem ter tido a idéia de que
estou sugerindo o final completo da submissão dos crentes a qualquer pastor, bispo,
supervisor ou Papa, simplesmente porque eles têm algum título ou alguma posição
religiosa. Se você está pensando assim, então você compreendeu claramente a mensagem.
Isso é absolutamente correto. Estou ensinando aqui a completa liberdade para os filhos
de Deus.
Mas alguns, sem dúvida, irão dizer: "Isso não resultará num caos? Os crentes não irão
começar a fazer qualquer coisa que antes desejavam fazer? Sem líderes especialmente
treinados em seminários, tal liberdade não iria produzir toda espécie de heresias, seitas,
pecados e um grande número de coisas más? Sem liderança oficial, a Igreja não vai
simplesmente cair em pedaços?"
Há muitas coisas que precisam ser ditas com relação a estas questões. São
preocupações válidas. Entretanto, é muito difícil mudar conceitos humanos. Muitos têm
em suas mentes a idéia fixa de como deve funcionar a Igreja, e isso não pode mudar de um
dia para o outro. Portanto, nossa discussão levará um tempo. Tentaremos verificar as
muitas faces destas questões, uma por vez. Pode ser que a sua preocupação particular não
seja mencionada imediatamente. Mas, por favor, seja paciente, enquanto examinamos
juntos todas os aspectos.
Uma coisa precisa ser admitida por qualquer pessoa honesta, que olhe para a
situação da Igreja como um todo, no mundo atual. Ela não é saudável, não está bem. O
pecado está brotando excessivamente em seu interior.
Por exemplo, nos Estados Unidos, a imoralidade sexual -adultério e fornicação - é tão
comum dentro da Igreja evangélica, quanto, fora dela. Os índices de divórcio hoje são
maiores dentro da Igreja do que fora. Muitos membros da Igreja estão secretamente
fazendo abortos. A cada dia estão sendo expostos novos pecados escondidos. Novas
divisões aparecem constantemente. Heresias recentes e sectarismo aumentam com
freqüência cada vez maior.
Há muitos membros da Igreja cujas vidas são uma confusão. Muitos deles têm estado
assim durante anos e parece que nunca irão mudar. Parece não existir ou ser muito
pequena a transformação de vidas. Grande número dos freqüentadores de igrejas é de
pessoas rebeldes, egoístas, não amorosas e profanas. Muitos são desonestos, não
confiáveis, rompedores de alianças, fofoqueiros, caluniadores, críticos e desobedientes.
Infelizmente, em muitas igrejas, esses formam a maioria e não a minoria. Alguma coisa está
seriamente errada!
Certamente há alguns focos de luz. Nem tudo está perdido. Nem tudo é trevas. Há
alguns que são genuinamente convertidos. É possível encontrar aqueles que estão
verdadeiramente procurando o Senhor. Certamente, em termos numéricos, a Igreja está
crescendo rapidamente. Eu não quero ser excessivamente crítico, mas simples, total e
completamente honesto sobre a verdadeira situação do povo de Deus nos dias de hoje.
Enquanto estamos sendo completamente honestos, há alguns fatos bem nítidos
que precisamos admitir. Os muitos problemas que vemos, incluindo o pecado, a divisão e
a heresia, não foram interrompidos ou curados pelas nossas organizações religiosas.
Nossa confiança em líderes bem treinados não evitou essas coisas. Nossa dependência dos
homens não solucionou os problemas.
Por exemplo, quantos líderes de seitas religiosas começaram como líderes em uma
ou outra igreja ou mesmo se formaram em seminários? Quantos deles estão hoje
ensinando falsas doutrinas ou mesmo heresias?
O governo oficial na Igreja não tem cessado de espalhar o erro, a tendência para o
pecado ou o problema das divisões em seu interior. Com todo o ensino hodierno sobre se
submeter a um ou outro líder, a situação geral está se tornando pior. Em resumo, a
liderança humana, a autoridade posicional e o controle organizacional claramente não
conseguiram mudar as tendências pecaminosas do coração humano. Isso é algo que
precisamos ser bastante honestos para admitir.
Como homens naturais, temos a tendência a olhar para instituições, como a polícia, o
sistema judiciário, o governo etc., como aqueles que devem subjugar as más tendências
da humanidade. Achamos que as escolas devem educar e compartilhar valores com as
nossas crianças. Sendo assim, talvez imaginemos que esse mesmo tipo de estrutura
institucional irá nos ajudar em nossos trabalhos para Deus. Talvez esperemos que
semelhantes tipos de organizações possam ajudar também a controlar as inclinações dos
crentes para o pecado.
Entretanto, mesmo no mundo, essas estruturas nada fazem para transformar os
corações dos homens. Por exemplo, pode ser que a ameaça da prisão possa subjugar a
carne, mas nada faz para verdadeiramente alterá-la. Do mesmo modo, a autoridade
posicional dentro da Igreja nada faz para transformar a alma do homem. Pode servir para
subjugar as tendências más de alguns, mas nunca pode alcançar o objetivo de Deus, que é
a completa transformção da alma.
Talvez, então, tenha chegado o tempo de olhar em outra direção. Possivelmente, é
agora o tempo de parar nossa dependência de líderes humanos e instituições e buscar
algo mais. Se formos honestos para admitir que o que está sendo feito não está
funcionando, então devemos procurar uma outra resposta.
Portanto, pode ter chegado a hora de começar a confiar em Jesus. Talvez seja o
tempo de nos voltarmos para o nosso Salvador ressuscitado como a ÚNICA autoridade.
É possível que Ele possa dirigir bem as coisas. De algum modo, Ele pode ser capaz de
tratar com o pecado, as divisões e os erros que estão explodindo ao nosso redor.
Verdadeiramente, precisamos de uma outra Cabeça. Precisamos
desesperadamente de uma outra autoridade em nossa experiência como Igreja.
Precisamos ter Alguém poderoso o bastante para transformar o coração humano. É apenas
pela verdadeira submissão a Ele que iremos encontrar a solução para os muitos problemas
da Igreja atual.
Nós, a Igreja, tentamos o caminho da autoridade humana por quase dois mil anos.
Não funcionou. Agora é a hora de tentar à maneira de Deus. Vamos, portanto, derrubar
todos os ídolos. Vamos eliminar do nosso meio todas as práticas que impeçam, limitem
ou interfiram na autoridade da verdadeira Cabeça. Precisamos abandonar totalmente
nossa dependência do homem e voltar nossos corações para o Senhor.
Tudo que O substitua na vida individual de cada crente precisa ser posto de lado.
Como precisamos de um grande arrependimento! Como o povo de Deus necessita render
seus corações diante Dele e clamar por Sua liderança e autoridade em seu meio! Nossas
vidas individuais necessitam desesperadamente se submeter à Sua soberania e nossas
reuniões nas igrejas estão clamando pela Sua direção!
Alguns podem tentar desaprovar essa nova caminhada - de seguir um líder invisível
- citando o versículo 25 de Juízes 21, que diz: "Naqueles dias, não havia rei em Israel;
cada um fazia o que achava mais reto". Usando os exemplos que encontramos no livro de
Juízes, de quão longe o povo pode chegar sem liderança, eles insistirão em que a idéia de
andar sem liderança humana não pode funcionar e somente irá provocar confusão.
Vamos tomar algum tempo aqui para examinar essa idéia mais profundamente.
É verdade que, quando não havia rei em Israel, cada um fazia o que era reto aos
seus próprios olhos. A situação naqueles tempos era uma verdadeira confusão. Aconteciam
muitas coisas bárbaras e estranhas. O povo estava completamente sem governo ou
controle.
Mas hoje nossa situação é completamente diferente. Hoje, existe um Rei em Israel!
Nós temos um Líder. Supostamente estamos em contacto com Ele e nos submetemos a este
Rei. Nós temos um Mestre, um Guia, um Senhor, um Pastor (e o que mais for necessário)
muito real, vivo e presente. Não deveria haver falta de autoridade e liderança para
nenhum crente.
O governo de Deus, ou o Reino de Deus, está próximo. Isso significa que Ele está
presente e disponível aqui e agora. A única questão é até que ponto desejamos nos
submeter completamente a Ele.
Se formos genuinamente submissos e nos submetermos a Jesus, Ele nos guiará em
cada aspecto de nossa vida. Ele nos dirigirá em nossos relacionamentos com os outros. Ele
irá até mesmo nos dirigir quando estivermos reunidos em Seu Nome. Jesus deseja fazer
tudo isto e muito mais e Ele é capaz disso. Simplesmente nos submetendo a Ele,
encontraremos novas perspectivas de Sua verdade e Sua glória se abrindo em nossas vidas
a cada dia.
Mas, se não desejarmos nos submeter ao Seu controle, se tivermos alguma resistência
ao Seu governo, se formos rebeldes em nossos corações, então este governo invisível não
funcionará. Nós não iremos ouvi-Lo, procurar por Ele e nem Lhe obedecer. Ele não será
realmente o Senhor de nossas vidas.
Entretanto, se este for o caso, então, substituir a liderança de Jesus por uma outra
variedade humana também não funcionará. Se os crentes se recusam a se submeter a Deus,
então não serão ajudados por serem ensinados a se submeter aos homens. A solução para
os crentes rebeldes é aprender a se arrepender e a verdadeiramente obedecer a Jesus. Se
não desejarem fazer isso, não existe nada, além de oração, que os outros crentes possam
fazer para ajudá-los.
O EXEMPLO DA ETIÓPIA
Isto acontecia porque todos estavam sendo dirigidos pela mesma Pessoa. O próprio
Senhor ressuscitado estava entre eles, dirigindo cada aspecto da Igreja. Ele, a Cabeça,
estava controlando cada movimento de Seu próprio corpo.
Como precisamos de uma dose desse tipo de cristianismo, hoje! Como nós, povo de
Deus, precisamos retornar a Ele como nosso Líder, Mestre e Guia. Se nós pudéssemos, por
fé, olhar para Ele, para que Ele dirigisse nossas vidas diárias e nossa experiência de
corporação, não haveria limite para o que Ele poderia fazer em nosso meio. A verdade é
que, em vez de ajudar a Deus com todas as nossas figuras e estruturas de autoridade,
estamos realmente impedindo a Sua obra entre nós.
Nós, povo de Deus, precisamos retornar a uma caminhada de fé. Precisamos nos
arrepender de tudo o que temos feito para substituir o Seu governo e restaurá-Lo ao Seu
legítimo lugar entre nós. Já é tempo! Não, já passou o tempo de colocarmos de lado todos
os substitutos, tudo o que ocupe o Seu lugar em nossas vidas e no meio de Seu povo.
Somente deste modo começaremos a experimentar o Cristianismo do Novo Testamento.
Somente retornando a Ele como nossa Cabeça e nosso líder, iremos ver Seu poder e Sua
glória no meio de nós. Somente se reentregarmos todo poder e autoridade sobre cada
membro da Igreja para Jesus Cristo é que poderemos ver um verdadeiro reavivamento
como resultado. Ele é capaz e está pronto para liderar o Seu povo.
Você vê, quando tentamos estabelecer figuras de autoridade, criamos um tipo de
gargalo na Igreja. Isso é o que chamo de "problema de funil". Os homens são finitos. Seu
tempo, atenção e energia são limitados. Sua capacidade, imaginação e mesmo revelação
sobre a obra de Deus é restrita. Então, quando elevamos alguns de nós como nossas
cabeças, as atividades do corpo de Cristo se tornam truncadas. Com o homem na direção,
os membros não são livres para seguir Jesus. Tudo precisa ser checado através do "funil"
da liderança.
Suponha, por exemplo, que a irmã Ruth sinta que o Senhor deseja que ela comece um
estudo bíblico para mulheres em sua casa. Antes de fazer isso, ela precisa pedir a
autorização do pastor. Ela não quer ser vista como rebelde. Não quer que os outros pensem
que ela está desafiando a autoridade dos líderes, então precisa pedir autorização antes.
Mas, o pastor está ocupado. Talvez tenha acabado de brigar com sua mulher ou esteja
em uma crise familiar. Ele reluta em que Ruth comece um estudo bíblico sem sua
supervisão. O que ela poderia ensinar? O que poderia acontecer? Se qualquer coisa der
errado, ele será responsabilizado e terá que extinguir o fogo. Então, ele diz: "Olhe, eu não
tenho tempo para lidar com isso agora. Talvez uma outra hora. Vamos pensar nisto!", ou
qualquer outra resposta semelhante. Assim, Ruth não é realmente livre para seguir o
Senhor. A liderança humana se torna um gargalo para o fluir das direções de Deus.
Esse é apenas um entre os milhares de exemplos. Esse tipo de problema é endêmico
em relação qualquer tipo de autoridade humana na Igreja. Todos os membros do corpo
de Cristo têm dons. Portanto, todos se tornam ministros, exercendo seus dons em
benefício de todos os outros.
Mas, nenhum homem ou mesmo nenhum grupo de homens é capaz de
supervisionar tudo isso. Somente alguém infinito poderia coordenar e direcionar todas as
coisas. Então, quando o homem está encarregado, uma imensa parte desse ministério
desaparece. O funil no topo da pirâmide da autoridade o restringe. Ninguém é
simplesmente livre para seguir o Senhor e fazer o que Ele diz. Deste modo, a autoridade
humano na Igreja não nos levaram à meta. Então, vamos tirar nossas mãos do controle e
deixar Jesus Cristo reinar supremo sobre nós.
Se, subitamente, todos os crentes fossem libertos da autoridade humana, então eles
teriam que afundar ou nadar. Seriam confrontados com a necessidade de procurar a Deus
por si mesmos. Teriam que aprender como ouvi-Lo e como segui-Lo. Seriam pressionados
a conhecer Sua palavra e a serem capazes de sentir Sua presença. Muitos devem supor que
a maioria iria afundar. Acredito que nos surpreenderíamos com tantas pessoas que
conseguiriam nadar.
Não é como se não houvesse ajuda para os fracos. Deus nunca deixaria perecer
alguém cujo coração estivesse aberto para Ele. Além disso, no corpo de Cristo existem
muitos membros cheios de dons que ministrariam àqueles que estivessem em
dificuldades. Entretanto, essa ministração não deve ser para trazer de volta à escravidão
da liderança humana, mas uma ajuda aos fracos para que conheçam Jesus por si
mesmos. Através do poder do Espírito Santo e de Seu ministério, acredito que cada um,
que realmente tenha um coração puro para seguir Jesus, iria certamente aprender a
nadar.
O PERIGO DA ORGANIZAÇÃO
No Novo Testamento, quase nada na igreja era organizado. Ali temos pouquíssimos
exemplos de "planejamento". De fato, é impressionante como eles tinham pouca
organização. Todavia, este autor não está insistindo que é antibíblico organizar alguma
coisa. Verdadeiramente, é impossível viver sem qualquer forma de planejamento. Por
exemplo, se telefono para um amigo e o convido para jantar, organizei algo antes. Se
concordo em me encontrar com alguém em um tempo e um lugar determinado, nosso
encontro foi organizado anteriormente, de alguma forma.
Somos chamados para "a gloriosa liberdade dos filhos de Deus" (Rm 8:21). Fomos
libertos do pecado. Fomos libertos da lei. À medida que entendemos mais perfeitamente os
No princípio, Deus deu a Adão e a Eva, o livre arbítrio. Eles podiam fazer tudo
aquilo que quisessem. Somente uma coisa era proibida. Mas, mesmo isso estava
disponível para eles. A árvore do conhecimento do bem e do mal estava bem diante de
seus olhos. O Senhor lhes dera até mesmo o direito de fazer a escolha errada. Ele nunca
interferiu, mas deixou-os tomar sua próprias decisões.
Do mesmo modo, hoje qualquer cristão tem total liberdade de escolher o seu próprio
caminho, sem ser impedido por qualquer autoridade religiosa. Será que devemos dar uns
aos outros menos liberdade do que Deus nos dá? Será que estamos em uma posição capaz
de restringir a completa liberdade dos outros, de um modo que nem o Senhor o faz? A
resposta é clara: não! Assim como nossos ancestrais no jardim tiveram liberdade para
escolher, também hoje cada crente deve ter completa liberdade de escolha.
Todavia, esta grande liberdade se torna uma prova para nós. Nossas escolhas irão nos
expor: O que exatamente está em nossos corações? Estamos realmente procurando por
Jesus e por Seu Reino de todo o nosso coração? Ou há outras coisas escondidas em nossas
almas? Desejamos verdadeiramente agradá-Lo em todas as coisas ou estamos brincando
com o Seu perdão e a Sua graça? Como estamos usando nossa liberdade?
A completa liberdade irá expor como realmente está o seu coração no relacionamento
com Jesus Cristo. O que você faz, diz ou pensa, quando não há uma autoridade humana
observando você, revela o que realmente existe em seu interior.
Se quando considera sua verdadeira posição de liberdade, você para de orar muito,
isso diz algo. Se você não medita mais diariamente na Palavra de Deus, procurando Sua
vontade e revelação, isso também fala alto. Se você abandona o hábito de diariamente
procurar seus irmãos para comunhão e oração, isso também está revelando algo.
Se encontrar outros crentes para louvar o Senhor e compartilhar não alegra o seu
coração, isso expõe o estado real de seu coração. Se andar lado a lado com Jesus e ser
agradável em tudo (Cl 1:10), em cada aspecto e detalhe de sua vida, não é o seu foco e deleite,
então isso certamente fala muito alto. Se existe alguém que não está realmente
comprometido com o Senhor, se por acaso há alguns cuja participação na comunidade
cristã não é baseada em submissão e amor a Jesus, a verdadeira liberdade irá mostrar quem
eles realmente são.
EXPONDO O PECADO
Como pôde ser visto, essas falhas não podem ser sanadas pela submissão ao homem
e não podem ser consertadas pela insistência na obediência à autoridade posicional. De
fato, é somente quando tal autoridade é removida que as atitudes reais do coração são
expostas. Muitas vezes, a submissão à autoridade humana só serve para encobrir esses e
muitos outros problemas. Facilmente começamos a estar "servindo à vista, como para
agradar a homens", em vez de agir "como servos de Cristo, fazendo, de coração, a vontade
de Deus" (Ef 6:6).
As metas dos cristãos podem facilmente passar à tentativa de satisfazer às
demandas de um líder humano ou de algum grupo religioso em particular, enquanto
realmente negligenciam às de nosso Senhor. Se nossa figura de autoridade fica satisfeita
com nossa conduta, naturalmente achamos que Jesus também ficou. Quando os padrões
de nosso grupo religioso são atingidos, fica fácil supor que estamos bem com Deus. Desta
forma, tal submissão trabalha para esconder o pecado em vez de o expor.
Mas Deus vê as profundezas de nosso coração. Ele sabe o que está lá, mesmo que
esteja escondido. Nenhum conselheiro ou pastor pode fazer tal coisa. Os homens são fáceis
de enganar. No entanto, "...todas as coisas estão descobertas aos olhos daquele a quem
temos de prestar contas" (Hb 4:13). Deus sabe todas as coisas. Você pode esconder algo dos
outros. Você pode até mesmo tentar esconder de si próprio, mas Jesus "...sonda as mentes e
os corações" (Ap 2:23).
Uma grande parte da obra de Deus em nossas vidas é expor o pecado. Seu propósito
é que nos vejamos como realmente somos, nos arrependamos de todos os nossos pecados e
sejamos transformados pela obra do Espírito Santo. O trabalho do Consolador que Jesus
enviou foi justamente este: convencer o mundo do pecado (Jo 16:8). Talvez esta seja uma
razão pela qual recebemos tão grande liberdade. Ela expõe justamente quem e o quê
realmente somos.
O modo como você usa a sua liberdade mostra o que vai em seu coração. Ele revela se
você está realmente bem com Deus e caminhando em intimidade com Ele. Portanto,
liberdade total é uma experiência absolutamente essencial para cada crente. Se você nunca
a experimentou, então deve procurar fazê-lo. À medida que você a desfruta, começará a
se enxergar à luz de Deus. Suas escolhas, ações e palavras revelarão quem e o quê você
realmente é.
Se o seu coração procura realmente pela justiça de Deus e pelo Seu reino, isso lhe será
mostrado. Se há outras prioridades dentro de você, isso também será exposto. Foi o Senhor
Jesus Cristo quem deu a você essa liberdade. É vontade Dele que você a experimente.
Somente deste modo, você pode se ver à Sua luz e ser transformado naquilo que Ele é. Sem
tal liberdade, a obra de Deus não pode se completar em sua vida.
Sim, em qualquer lugar em que haja liberdade, existe um perigo. É o perigo do povo
usá-la de maneira errada. A liberdade nos dá a opção de simplesmente agradar a nós
mesmos. Também é possível que um cristão abuse da bondade de Deus e a use como um
meio para satisfazer a carne e pecar.
Paulo nos exorta a sermos cuidadosos e a não usarmos nossa liberdade para "...dar
ocasião à carne", para satisfazer seus desejos pecaminosos (Gl 5:13). Ele ensina que, ao
contrário, devemos usar nossa liberdade para nos tornar servos de outros irmãos e irmãs.
Devemos nos entregar por Seu amor a ajudá-los a crescer na plenitude de Deus. Além disso,
nos adverte que, por causa de nossa liberdade, há o perigo de nos tornarmos envolvidos
de novo no jugo da escravidão do pecado ou da lei (Gl 5:1). A instrução de Paulo é que
sejamos libertos da lei para pertencermos a outro, àquele que ressuscitou dentre os mortos
(Rm 7:4).
Assim, vemos que a meta não é viver sem restrição ou autoridade, mas se submeter
voluntariamente a Jesus. O objetivo de nossa liberdade não é nos tornar um tipo de
"espírito livre", circulando por aí a fazer tudo o que nos dá vontade, mas escolher sujeitar
nosso corpo, alma e espírito a Jesus Cristo.
Dando-nos completa liberdade, Deus está nos testando. Nossa liberdade total se
torna uma espécie de instrumento de prova para ver o que realmente está em nossos
corações. Nesta era da graça, nosso Senhor não está impondo Sua autoridade a ninguém.
Ele nunca nos pressiona à submissão. Qualquer pequena resistência de nossa parte
interrompe Sua obra em nossas vidas.
Com a liberdade, vem a responsabilidade. Tornamo-nos responsáveis por nossas
escolhas diante de Deus. Quando uma outra pessoa está dirigindo a nossa vida, é fácil
imaginar que ela seja responsável pelos resultados. Mas, quando temos a liberdade de
escolha, então somos nós que temos que suportar a responsabilidade das conseqüências.
Algum dia, quando Jesus voltar, Ele nos julgará por aquilo que fizemos com a
liberdade que Ele gratuitamente nos deu. Cada um de nós deveria estar vivendo,
lembrando constantemente de que esse julgamento virá.
CAPÍTULO 7
A UNIDADE DA IGREJA
APENAS UM IMPEDIMENTO
A Igreja de Deus é única. Há uma unidade espiritual inerente em toda a Igreja, que
inclui cada crente desde o tempo em que Jesus Cristo morreu na cruz por nossos pecados
até o dia de hoje. Embora isso ocorra, a Igreja verdadeiramente está dividida de várias
maneiras.
Primeiramente, a Igreja está dividida em duas categorias: os membros da Igreja que já
morreram e partiram para estar com o Senhor e aqueles membros que ainda permanecem
na Terra. A realidade física da morte divide a Igreja nessas duas categorias. Mas também a
parte da Igreja que "permanece" aqui na Terra está dividida em várias partes. Estamos
falando não sobre o problema da divisão, mas sobre os fatos das limitações físicas. Um
desses limites é a geografia.
Então, o corpo de Cristo está dividido geograficamente. As pessoas vivem em países
diferentes, em cidades diferentes, em bairros diversos. Faz parte da natureza dos homens
se reunirem em comunidades, então a Igreja também se divide fisicamente, da mesma
forma. Assim, a única Igreja verdadeira se separa em uma igreja em cada comunidade.
Obviamente é impossível que esses crentes nesses locais díspares se reúnam, se encontrem
e sirvam uns aos outros diariamente.
Portanto, vemos que a única Igreja de Deus se divide em unidades locais. Por
exemplo, a Bíblia fala de uma igreja nesta ou naquela cidade. Estas não são igrejas
realmente separadas, mas são simplesmente partes da Igreja verdadeira que existem em
um ou em outro lugar particular. Tal separação geográfica não implica, de maneira
alguma, que os cristãos que vivem em diferentes cidades sejam separados espiritualmente
dos outros que vivem em lugares diferentes. A divisão terrena da Igreja é devido somente
à tendência de homens se separarem em cidades.
O fato de que essa separação física não deve envolver nenhuma separação espiritual
é claramente mostrado pelos ensinamentos bíblicos sobre hospitalidade. As Escrituras nos
ensinam que devemos acolher bem os estrangeiros. Precisamos abrir nossas casas e nossos
corações para os irmãos que estão passando por nossa cidade (Rm 12:13; 1 Tm 3:2; Tt 1:8; 1
Pe 4:9).
Estes versículos nos mostram que devemos ter o mesmo amor, a mesma sinceridade
e a mesma unidade espiritual com cada cristão, independente do local em que ele vive.
Assim, é evidente a percepção de que a unidade real se estende para além da divisão física
da Igreja por localidades. Embora a Igreja esteja geograficamente dividida, a unidade do
Espírito ainda prevalece.
A IGREJA EM CORINTO
Cada grupo diz: "somos desta crença"; ou, "somos daquela opinião"; "eu sou
carismático"; "eu, pentecostal"; "sou dos que batizam por um ou outro método"; ou "sigo
um determinado líder". É assim que encontramos uma grande parte da Igreja de Deus
hoje: dividida, argumentando e discordando uns dos outros.
Um grupo de cristãos talvez desconfie dos motivos, ensinamentos ou métodos do
outro. Um determinado grupo, ainda, pode ter ciúme do outro porque este tem mais
membros ou um prédio mais extravagante. Todas estas coisas apenas dividem a Igreja de
Deus.
Argumentações, contendas e dissensões dessa natureza entre os membros do
corpo de Cristo, é uma atitude carnal e mundana. Vamos ler novamente 1 Coríntios, desta
vez no capítulo 3: "E eu, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais,
como a meninos em Cristo. Com leite vos criei, e não com manjar, porque ainda não
podíeis, nem tampouco agora podeis, porque ainda sois carnais. Pois, havendo entre vós
inveja, contendas e dissensões, não sois porventura carnais, e não andais segundo os
homens? Porque, dizendo um: Eu sou de Paulo; e outro: Eu, de Apolo; porventura não sois
carnais?" (1 Co 3:1-4-VRC).
O problema entre os cristãos hoje, em cada cidade, não é que existam muitos
encontros diferentes. Isso é uma questão de necessidade. O problema é que cada um
desses encontros possui uma identidade separada. Cada um desses grupos começa a
aderir a certa doutrina, líder, prática ou caminho que o diferencia dos outros encontros de
cristãos genuínos naquela cidade.
Cada grupo constrói um tipo de parede ou barreira para manter "suas ovelhas"
separadas de todas as outras. Para cada grupo, o ponto de separação pode ser uma coisa
diferente. Entretanto, o resultado é o mesmo: a divisão da igreja em cada cidade em
pequenas seitas ou facções, que têm pouco ou nada a ver uns com os outros. Essa situação
não é de Deus. É o que Paulo designa como carnal e infantil. Tal divisão destrói o fun-
cionamento adequado do corpo de Cristo e impede a obra de Deus na Terra.
Permita-me ser corajoso para fazer uma pergunta. Há uma diferença entre dizer:
"sou de Paulo"; ou "sou de Apolo"; ou "sou de Cristo"; e dizer: "sigo os ensinamentos de
Lutero"; "sou batista"; "apóio uma certa organização do presbitério"; ou "sou da igreja de
Cristo"? Como a situação atual se assemelha com aquela da cidade de Corinto!
Entretanto nós, seres humanos, justificamos fortemente o que estamos fazendo, em
vez de seguirmos os claros ensinamentos encontrados nas Escrituras.
Certo, isso tudo é feito por boas razões, humanamente falando. Alguns estão
tentando proteger o que chamam de "fé". Outros podem estar tentando preservar a
pureza de alguma verdade que tenham descoberto. Outros ainda podem estar se
esforçando para proteger seus membros de ensinamentos errados. No entanto, o
resultado de todas estas razões bem intencionadas é desobedecer as Escrituras e dividir a
Igreja de Deus.
Pode ser instrutivo lembrar que Paulo escreveu essa epístola à "igreja que estava em
Corinto". Esta cidade estava repleta de divisões religiosas. Havia muitas facções diferentes
e em desacordo. Entretanto, apesar das divisões, Paulo reconheceu que aquela era
somente uma igreja que, na verdade, era uma pequena parte da única Igreja verdadeira.
Conforme vimos, a igreja de cada cidade consiste na junção de cada crente
verdadeiramente nascido de novo que habita naquela cidade. Além disso, todas as
reuniões cristãs são realmente apenas reuniões de uma única Igreja. Portanto, deveríamos
nos empenhar por viver esta realidade. Nossos encontros com outros cristãos não
deveriam ser fechados e distintos das reuniões do resto dos cristãos da cidade em que
vivemos.
Quero dizer com isso que nunca deveríamos ter algum tipo de membresia confinada,
separada. Nunca deveríamos insistir em que alguém participe apenas dos nossos
encontros, proibindo-os de participar de outros encontros cristãos com outros crentes.
Nossas paredes deveriam cair e nossas portas deveriam se abrir. Assim também nossos
corações deveriam se abrir para cada cristão com o qual entramos em contato. Essa é a ver-
dadeira unidade.
A BASE DA UNIDADE
A ORAÇÃO DE JESUS
O capítulo 17 do livro de João é uma oração especial. Ali Jesus está intercedendo
para que aqueles que o Pai Lhe concedeu sejam um (Jo 17:20,21). Como um novo cristão, eu
acreditava que o que Jesus estava pleiteando a Seu Pai é que todos os crentes
concordassem.
Imaginava que Ele estivesse pedindo que Sua Igreja não tivesse seitas ou divisões.
Supunha que Jesus estava pedindo pelo tipo de unidade "horizontal", que produziria
uma expressão visível do corpo único que Deus, na verdade, vê.
Todavia, após alguns anos de caminhada com o Senhor, descobri que minha
compreensão da oração de Jesus mudou. Se Jesus estava realmente pedindo uma plena
unidade de todos os crentes do mundo, então, até hoje o Pai não O ouviu. Se a petição
Dele foi que todos os crentes seguissem juntos, reunindo-se em unidade e relacionando-se
bem uns com os outros, então por dois mil anos a oração de Jesus não foi respondida.
Talvez alguns imaginem que, finalmente, agora que estamos no final desta era,
aconteça algo que provoque a grande unificação dos crentes. Mas o fato é que
provavelmente a situação só irá piorar à medida que o fim se aproxima. No final desta era,
os cristãos irão começar a se odiar, ao ponto de um entregar o outro à morte (Mt 10:17-21).
Nesta era, a oração de Cristo nunca será respondida por um aparente show de unidade.
Então, como é que pode ser compreendida a oração de Jesus? O que é que Ele
estava pedindo ao Pai? Para começar, precisamos ver que Jesus é um com o Pai. Ele disse:
"Eu e o Pai somos um" (Jo 10:30). O Filho sempre teve (exceto por um breve momento na
cruz), e ainda tem, a mais íntima comunhão com o Pai.
Eles estão em constante comunhão. A união entre Eles é tão completa e íntima que a
mente humana se exaure e suas palavras falham quando tentam descrevê-la. A
união e a comunhão entre Jesus e o Pai estão além da compreensão humana.
Há uma união completa, íntima e eterna. Esta intimidade é tão absoluta que Jesus
insiste em que "Quem me vê a mim vê o Pai..." (Jo14:9). Esta união é tão completa que,
quando Jesus estava na Terra, suas palavras e obras eram simplesmente uma expressão do
Pai (Jo 14:10). Incrivelmente, Jesus nunca era motivado pela Sua vida humana recebida de
Maria, mas estava sempre vivendo pela Vida do Pai (Jo 6:57). Jesus e o Pai têm completa
unidade de espírito, coração e mente. Todos os Seus pensamentos, sentimentos e ações
estão em harmonia. Não há independência de mente, emoções ou ações nesse relaciona-
mento.
Este é um relacionamento de amor eterno. O Pai ama o Filho e Lhe deu todas as coisas
(Jo 5:20,3:35). Tudo o que o Pai é e tudo o que Ele tem pertence ao Filho (Jo 13:3).
A intimidade entre Pai e Filho é tão extrema que somos ensinados que Jesus é "...a
expressão exata do Seu Ser [do Pai]" (Hb 1:3). As Escrituras até vão mais longe, ensinando
que o Filho é a total e completa expressão de tudo o que o Pai é. Lemos: "...porqüanto
Nele, habita, corporalmente, toda a plenitude da divindade" (Cl 2:9). E também: "...porque
aprouve a Deus que, Nele, residisse toda a plenitude" (Cl 1:19).
Esta pequena meditação é uma tentativa de ajudar o leitor a compreender o sentido
da oração de Jesus. Ele não estava orando para que nós concordássemos ou aguentássemos
melhor uns aos outros, por mais importante que isso possa ser. Ele não estava pedindo ao
Pai que todos os cristãos se juntassem debaixo de uma única bandeira ou debaixo de um
só teto.
Estava intercedendo por algo muito superior. Sua oração ao Pai era por algo que é
tão grande, que é quase inimaginável. Jesus estava pedindo que nós pudéssemos ser
trazidos a esta mesma união e comunhão que Ele tinha com Seu Pai.
Está certo. O desejo de Jesus é que Seus seguidores sejam trazidos por Deus para
participar dessa santa união e comunhão. Ele estava pedindo que também
pudéssemos gozar da intimidade que Ele tem com Seu Pai. Sua petição era que esta santa
unidade que Ele e o Pai têm se expandisse para incluir também os Seus discípulos.
Com este pensamento sublime em mente, vamos ler juntos: "Não rogo somente por
estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua Palavra;
a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós...
(Jo17:20,21). Este versículo não está falando sobre crentes tentando concordar uns com os
outros, mas sobre algo muito mais elevado e mais santo. Essa não é uma unidade
"horizontal", mas uma unidade "vertical".
Então Jesus continua: "E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um,
como nós somos um". E como essa unidade pode ser alcançada? "Eu neles, e tu em mim,
para que eles sejam perfeitos em unidade [Conosco]..." (Jo 17:22.23-VRC). Você vê que Jesus é
verdadeiramente um com Seu Pai. E Ele tem amado tanto o Seu povo, que deseja
ardentemente que ele também entre e participe desta santa unidade com Ele e Seu Pai.
Isto é verdadeiramente boas novas. É uma parte importante da mensagem do
Evangelho, pouco compreendida. Jesus tem convidado aqueles que acreditam Nele a
nascerem de novo e a se transformarem de maneira tal que possam participar de Sua
união com Seu Pai. Este é o lugar da Sua Noiva na família de Deus.
Qual é o resultado de nos tornarmos um com Jesus e Seu Pai? É que nossas vidas se
transformam. Nossa natureza e caráter se tornam diferentes. Assim como Jesus era "a
imagem" ou a completa expressão do Pai, assim também podemos nos tornar, através
desta unidade com Ele, uma real expressão Dele mesmo. À medida que crescemos em
Cristo, nos tornamos mais e mais um com Ele. Os pensamentos Dele se tornam os nossos
pensamentos. Seus sentimentos, opiniões, desejos e propósitos também se tornam nossos.
Quando esse processo se completa, nos tornamos uma pequena expressão de Jesus. Então
podemos afirmar como Paulo, que "...e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim" (Gl 2:20-
VRC).
A modificação de nosso caráter e natureza se torna, então, um exemplo para o
mundo. Quando não somos mais nós que vivemos, mas Jesus quem realmente vive, Se
move e Se expressa por meio de nós, está provado que Jesus é real. Por causa de nossa
unidade com Deus, o mundo poderá saber que o Pai enviou Jesus e nos tem amado assim
como Ele ama Seu Filho (Jo 17:23). Então, o mundo crerá que Jesus é O enviado de Deus (Jo
17:21).
Cristãos concordando uns com os outros nunca convencerão o mundo. Qualquer
grupo ou clube tem algum tipo de coesão. Mas, a evidência real de que Jesus é o Filho de
Deus e de que Ele tem todo o poder no céu e na Terra acontece quando Seus seguidores
entram nesse tipo de união e comunhão com Ele, como Ele tem com o Pai.
UM RESULTADO
Um resultado de cada cristão se tornar mais unido com Cristo e o Pai é o seu
crescimento em unidade com os outros. Nossa unidade com Jesus produzirá uma
unidade com os outros irmãos e irmãs. Talvez uma roda de bicicleta possa ser uma boa
analogia para nos ajudar a compreender isso. À medida que os raios da roda se aproximam
mais do eixo, eles também se tornam mais próximos uns dos outros. Do mesmo modo,
quando cada um de nós se torna mais íntimo de Jesus, também passa a ter mais unidade
com os outros.
Entretanto, essa unidade de uns com os outros não é, conforme já vimos, um tipo de
É verdade que unidade é parte dos desejos de Deus para Seus filhos. Porém é
igualmente evidente que essa unidade não pode ser alcançada por cristãos imaturos,
semelhantes a crianças. Nossa leitura anterior de 1 Coríntios nos dá ampla evidência
deste fato.
Crentes infantis nunca experimentarão a verdadeira unidade. A tendência deles
para o egoísmo sempre trabalhará contra a genuína unidade. Eles discordarão sobre coisas
triviais; lutarão por alguma posição de superioridade; irão invejar uns aos outros; falar
mal uns dos outros; serão facilmente machucados uns pelos outros; e muitas outras coisas
mais. Os bebês cristãos nunca serão bem sucedidos em ser "um". Suas naturais tendências
carnais sempre prevalecerão, porque elas ainda são mais fortes do que o homem interior,
espiritual.
A única solução para nos unir é a maturidade espiritual. Todos nós precisamos
procurar crescer em Cristo de modo que o amor Dele por Seus filhos se torne o nosso
amor. Precisamos amadurecer espiritualmente de maneira que a nossa unidade com
Jesus e com o Pai se traduza em uma unidade com os outros, também. Este caminho talvez
seja comprido e difícil, mas é o único modo de alcançarmos a verdadeira unidade com
nossos irmãos em Cristo.
A verdadeira unidade vem da intimidade com o Pai. Conforme andamos em
comunhão com Ele, sentimos o Seu coração. Começamos a compreender Seus sentimentos e
desejos. Passamos a conhecer Seu amor por cada um de Seus filhos. O resultado de tal
comunhão íntima será que seremos capazes de ter unidade com os outros.
É responsabilidade de crentes maduros demonstrar e manter essa unidade. Eles são
os "...que conhecem Aquele que é desde o princípio" (1 Jo 2:13-NVI). Então, eles devem ser os
líderes em mostrar aos outros como amar, perdoar, sustentar, acreditar e ter unidade com o
resto da Igreja.
É seguindo o exemplo de crentes maduros que os mais jovens podem ser bem
sucedidos em viver em amor e harmonia.
Tal liderança na área do amor e da unidade é uma parte essencial da experiência da
verdadeira Igreja.
A verdadeira unidade é a prova real de nossa maturidade espiritual, quando somos
capazes de amar os irmãos. Este amor não será apenas por aqueles que concordam
conosco e convivem conosco, mas por todos. Este amor também será manifesto até por
aqueles que discordam de nós, ou mesmo, nos odeiam. A intimidade com Deus,
manifesta na maturidade cristã, é o único fator que pode produzir a verdadeira unidade.
O adesivo mais comum que os homens usam hoje para manter unido o corpo de
Cristo é o compromisso. Quase todo grupo ou "igreja" deseja que os crentes se reúnam com
eles para assumir um compromisso com seu grupo particular. Isso pode incluir um
compromisso com a posição doutrinária, com o líder ou outra figura de autoridade, com
alguma prática religiosa, compromisso com um propósito ou "visão" ou com um grande
número de coisas.
A variedade de itens com os quais os crentes são exortados a se comprometer é sem
fim, mas varia muito pouco o modo como isso funciona. Os cristãos são, com freqüência,
vigorosamente exortados a se comprometer com alguma "igreja", grupo ou segmento do
corpo de Cristo, de maneira a serem separados do resto.
O compromisso desses indivíduos com o grupo é o adesivo usado para manter os
membros unidos. É a insistência neste compromisso que os líderes usam para capturar e
conservar os membros de seu grupo. Uma vez que alguém é convencido da exatidão de
um caminho, doutrina ou prática e se compromete com isso, passa a ser considerado
"membro" daquele grupo específico.
Para ser livre para deixar o grupo, os membros necessitam desfazer esse
compromisso. Em algumas instituições isso é bastante fácil. Em outras, o compromisso
requerido é muito forte e alguns acham extremamente difícil se desprender dele quando
desejam sair. Em vez de cada um ser livre para seguir a única Cabeça verdadeira, esses
crentes caíram na escravidão imposta por uma organização humana.
Freqüentemente os participantes de um grupo são desencorajados de várias
maneiras a ter qualquer relacionamento de intimidade com outros grupos. Eles são
exortados a permanecer fiéis à "igreja" com a qual eles têm um compromisso. São ensi-
nados a não ser como "grilos de igrejas", que pulam de um encontro a outro. Espera-se
que esses membros participem das atividades do grupo em que estão, evitando outros,
que podem ser vistos como uma ameaca. Dessa forma, a liberdade de viver e experimentar
a única Igreja verdadeira é limitada para esses crentes.
Por ser esse tipo de compromisso a base para a unidade de tantos grupos cristãos,
vamos gastar um pouco de tempo para, juntos, investigar esse assunto.
O PRIMEIRO COMPROMISSO
nada reservado. Certamente cada leitor pode concordar que Deus está nos chamando para
um completo compromisso de nossos corações e que Ele é digno de recebê-lo.
Estamos falando aqui de amor e compromisso ao mesmo tempo, porque eles estão
intimamente relacionados. Você não pode ter um sem possuir o outro. Um exemplo
disso é o matrimônio. Duas pessoas podem ter um relacionamento sexual sem a aliança
do casamento, mas o verdadeiro amor envolve um tipo de compromisso profundo e
vitalício.
Se dizemos que amamos alguém e, ainda assim, não desejamos ter com ele(a) algum
compromisso, então nossas palavras são mentirosas. Isso mostra que amamos mais a nós
mesmos do que à outra pessoa e que a estamos usando para o nosso próprio
entretenimento ou gratificação.
Sem tal compromisso, a qualquer momento em que o outro cesse de nos agradar com
os sentimentos ou serviços que desejamos, somos livres para deixá-lo. Assim, após ter
usufruído de tudo o que ele tinha para nos dar, nós o abandonamos, porque ele deixou
de nos satisfazer. A idéia de amor sem compromisso é uma farsa.
Isso também é verdade em nossa atual discussão. Se dizemos que amamos a Deus,
mas não temos com Ele um total compromisso, então nosso amor é extremamente
imperfeito. Na mesma proporção em que O amamos, devemos nos entregar a Ele.
Quando deixamos de entregar incondicionalmente a Ele o nosso inteiro coração, revelamos
que o nosso amor por Ele também é bastante incompleto.
Nosso amor por Jesus é o que realmente nos liga a Ele, em absoluto abandono de
tudo o que somos, de tudo o que temos e de tudo o que esperamos. É o nosso amor por
Ele que nos faz abrir-nos e render-nos a Ele sem reservas, de maneira que Ele possa
controlar todos os nossos pensamentos, sentimentos e decisões. É essa profunda paixão
pelo Senhor que nos leva a viver em completa transparência e abertura para Ele. Esse é o
compromisso do verdadeiro amor. É esse compromisso que é a base de nossa união ou
unidade com Deus.
A EXPERIÊNCIA DA IGREJA
Isso também é a base para uma genuína experiência da Igreja. Sem qualquer força
externa, tal como figuras de autoridade ou estruturas organizacionais colocando
exigências sobre nós, o nosso amor por Deus é a única coisa que nos faz andar em Seus
caminhos. Se nós O amamos, iremos servi-Lo, iremos segui-Lo e iremos procurar por Ele.
Os resultados de nosso amor por Deus são: meditação em Sua Palavra; tempos de
oração e de buscar à Sua face; procura de qualquer oportunidade para servir aos outros
em Seu nome e até mesmo manifestar Sua vida e natureza. Nosso estilo de vida e nosso
viver diário revelam nosso relacionamento com Ele.
A experiência da Igreja verdadeira somente pode ser sentida por aqueles que amam a
Deus ao extremo. Essa é uma verdade imensamente importante! Qualquer coisa menor
que um compromisso integral com Ele não irá funcionar.
Tudo o que a Igreja é flui Dele. Ele é a fonte da Vida da Igreja. Portanto, se não andarmos
constantemente em intimidade com Ele, o fluir de Vida e de direção será interrompido. A
menos que permaneçamos ligados à videira, o fluxo dessa fonte será esporádico ou
faltará. Isto fará com que nossa experiência com Seu corpo também seja parcial e
defeituosa.
Se nosso coração é aprisionado por outras coisas, iremos procurar por elas em vez de
ou paralelamente a nosso relacionamento com Jesus. Com o passar do tempo, as outras
coisas que amamos irão nos afastar Dele. Para continuar com a caminhada espiritual,
A FALTA DE COMPROMISSO
A CURA VERDADEIRA
A cura para aqueles que não têm uma completa consagração a Jesus não é um
caminho substituto. Não resulta de preencher suas vidas com atividades religiosas,
fazendo uma pressão humana natural para levá-los a conformar ou participar. A cura vem
de ajudá-los a virem a Jesus, arrependerem-se do que possa estar atrapalhando e, então, se
entregarem totalmente a Deus.
É absolutamente necessário que cada cristão chegue à completa renúncia do controle
de suas vidas, entregando-o a Jesus Cristo. Até chegarem a este ponto de
comprometimento com o seu Senhor, os crentes não podem genuinamente experimentar a
verdadeira Igreja em toda a sua plenitude. Não há outra maneira de chegar a esse
alvo.
Já que a verdadeira experiência de Igreja é algo que flui do "lado" de Jesus, somente
aqueles que estão constantemente bebendo Dele serão capazes de aproveitar todos os seus
benefícios. A menos que estejamos conectados à divina fonte de Vida, não poderemos
conhecer resultados sobrenaturais. Quando nossos corações e nossas mentes estão
distraídos ou fascinados por outras coisas, então o fluir de Sua Vida é restrito.
Conseqüentemente, nossa experiência com a única Igreja verdadeira também será limitada.
A verdadeira Igreja é uma entidade espiritual. Portanto, para participar dela,
devemos constantemente "estar no Espírito". Precisamos continuamente estar cheios do
Espírito Santo de Deus e ser dirigidos por Ele. Isso requer um completo compromisso de
nosso coração, de nossa vida e de nossa alma para com Ele. Se estamos andando na carne,
isto é, sendo levados por nossos próprios pensamentos e sentimentos, então acharemos
difícil aproveitar verdadeiras experiências espirituais. Estando presos à Terra pelos desejos
de nossos corações, seremos impedidos de conhecer e de aproveitar as realidades
espirituais.
Apenas oferecendo continuamente a Deus o nosso ser completo, podemos andar em
Sua plenitude e, portanto, aproveitar tudo o que Ele está fazendo em Seu corpo. A
experiência da Igreja não enfraquecida só é conhecida por aqueles que estão
completamente apaixonados por Jesus.
Conseqüentemente, é da maior importância que trabalhemos para trazer todos os
crentes a esse compromisso. É essencial que a nossa ministração aos outros inclua esse
ingrediente tão importante. Se desejamos trabalhar junto com Deus para construir Sua
morada eterna, precisamos buscá-Lo para saber como podemos atrair outros a uma
completa entrega de tudo o que eles são para Jesus.
CRESCIMENTO ESPIRITUAL
Esse mesmo compromisso total do coração e da alma a Jesus faz-se necessário para
experimentar o verdadeiro crescimento espiritual. Até que estejamos realmente prontos
para que Ele trabalhe em nós completamente, nosso progresso espiritual será muito
limitado.
Isso acontece porque, quando o Espírito Santo começa Sua obra transformadora em
nós, Ele deseja fazer uma obra completa. Ele quer transformar todo o interior do nosso
ser. Quando encontra qualquer resistência, Sua obra em nós se interrompe. Deus nunca
irá um centímetro além de nossa vontade. Quando temos áreas em nossos corações que
não estão prontas para se abrir a Ele, Ele não poderá Se mover.
Deus nunca força ninguém a aceitá-Lo. Ele nunca fará algo para ou em nós que não
desejemos cem por cento que Ele faça. Portanto, nosso crescimento espiritual é
interrompido por nossa falta de consagração. Quando encontra qualquer resistência de
nossa parte, Ele simplesmente espera até que nossos corações mudem. Embora Ele
certamente trabalhe para nos atrair ao tipo de compromisso total necessário, para que Sua
obra continue, Ele não violará nossa vontade, de maneira alguma.
Uma vez conheci uma pessoa cuja vida era um testemunho dessa experiência. Tal
pessoa (não eu) recebeu a nova vida de Jesus, nasceu de novo. Entretanto, estava cheia de
resistência à obra de Deus. Teimosias, medos, orgulho e muitos outros problemas estavam
à espreita dessa criança espiritual. O pensamento de uma entrega total e desembaraçada de
seu coração a Deus trouxe pânico à sua mente.
Isso lhe trouxe muitos conflitos emocionais e stress, mas nenhum crescimento
espiritual. O Espírito de Deus estava sempre tentando levá-la à total submissão, mas
aquela pessoa lutou contra esse tipo de transparência com unhas e dentes. Essa condição
se prolongou por 20 anos.
No entanto, pela Sua misericórdia, um dia o amor de Deus começou a conquistar
esse cristão. O seu coração foi vagarosamente enternecido pela graça de Deus. Então, um
dia aquela pessoa decidiu dar um passo muito importante - a completa abertura de seu
coração para Deus. Naquele momento, a salvação sobrenatural começou a se concretizar.
O processo de transformação que havia sido tão truncado começou a se desenvolver
realmente. Depois de feita uma consagração total, mudanças reais e tangíveis começaram a
se manifestar nessa vida. Todos os benefícios da verdadeira submissão a Jesus começaram
a se tornar reais. Sua caminhada verdadeira com o Senhor e a experiência de Sua completa
O segundo tipo de compromisso que a Bíblia nos ensina é o compromisso de uns com
os outros. Somos ensinados a amar ao próximo como a nós mesmos (Lc 10:27). Esse amor
também fala de compromisso. Precisamos ter a obrigação de cuidar do nosso próximo como
cuidamos de nós mesmos. Essa responsabilidade é especialmente verdadeira na Igreja,
entre os crentes. Deus exige que tenhamos "...igual cuidado, em favor dos outros" (1 Co
12:25). Somos também exortados a amar uns aos outros ardentemente, com coração puro (1
Pe 1:22). Em todo lugar no Novo Testamento somos ensinados a exercitar o amor fraternal.
Assim, conforme estivemos vendo, isto é um compromisso com os outros. O Novo
Testamento é tão repleto de exortações referentes a este tipo de compromisso de amor para
com os outros membros do corpo de Cristo, que é quase impossível fazer uma lista
completa dessas referências.
Mas, como é possível amar todas as pessoas tão diferentes que Jesus resolveu colocar
em Seu corpo? Algumas vezes parece que Ele escolheu as pessoas mais difíceis de serem
amadas. Entretanto, Ele requer que nós as amemos tanto quanto Ele tem nos amado.
Lemos: "Novo mandamento vos dou; que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos
amei, que também vos ameis uns aos outros" (Jo 13:34). Essa parece ser uma tarefa impossí-
vel, no entanto, é um elemento essencial para experimentar a única Igreja verdadeira.
A fonte de tal amor sobrenatural é o próprio Deus. Deus sente um amor profundo
e apaixonado por Seu povo, a Sua Igreja. Antes do começo do mundo, Deus deve ter
olhado para o futuro e observado a Sua Noiva. Enquanto a olhava, um amor profundo e
apaixonado deve ter nascido em Seu interior. O intenso amor que sente por ela tem sido
Sua motivação para toda a obra que Ele tem feito na humanidade e pela humanidade
através das eras. Esse é "...o amor de Deus, que está em Cristo Jesus" (Rm 8:39), quando
Ele veio à Terra para morrer por toda a humanidade.
Dessa forma, quando caminhamos a cada dia em comunhão íntima com Deus,
sentimos Seu amor por cada um de Seus filhos. Nossa intimidade com Ele irá resultar
em absorver e, então, expressar Seus mais ternos sentimentos.
À medida que O conhecemos melhor a cada dia, o incomen-surável amor que Ele
sente por Seu povo começará a encher os nossos corações. É o próprio Deus quem nos
ensina a amar uns aos outros (1 Ts 4:9). Com o passar do tempo, esse amor
começará a se tornar uma grande parte de nossa motivação na obra junto com Jesus.
Assim, descobrimos que existe um segundo compromisso que devemos ter, que é
bíblico e essencial: um compromisso firme e total de amar todos os outros membros do
corpo de Cristo. É necessário que cada um de nós faça esse compromisso claro e consciente
com Deus, de amar a todos os Seus filhos. Quando assumimos isto, nos colocamos em
posição de receber o amor de Deus pelos outros. Quando concordamos com Deus em Sua
atitude para com o Seu corpo, isto abre caminho para que Seu amor flua por meio de nós.
Sem tal compromisso é bem possível que prevaleçam nossas reações humanas às
outras pessoas. É provável que o nosso homem natural comece a se expressar. Para que
possamos viver na Igreja verdadeira e realmente experimentá-la, esse profundo
compromisso precisa ser feito.
Se não o fizermos, mais cedo ou mais tarde acontecerá algo, como alguém fazer ou
dizer algo para nos ferir ou ofender, que nos fará deixar de amá-lo e de nos manter
próximos a ele. Então daremos as costas a ele e ocorrerá uma divisão no corpo de Cristo.
O amor natural humano nunca passará no teste. Quando andarmos junto com
outros crentes, muitos problemas e ofensas irão ocorrer (Mt 18:7). Inúmeras coisas
acontecem para desafiar nosso amor pelos outros. Muitos cristãos ainda são pecadores,
orgulhosos, egoístas, enganadores, teimosos, cheios de opinião e, portanto, um desafio
para o amor.
À medida que vivemos no corpo de Cristo, sem dúvida, sofreremos muitas coisas
vindas dos outros crentes. Eles podem se aproveitar de nós, usando-nos para seus
propósitos. Podem mentir a nós, nos iludir, abusar do nosso amor, nos compreender mal e
muitas outras coisas. Somente o amor de Deus irá resistir a tais testes.
Se quisermos o amor divino fluindo dentro de nós, em todas as circunstâncias, temos
que assumir um compromisso diante de Deus. Esse é o compromisso de amar a todos os
Seus filhos. Então, quando nossos recursos se esgotarem, como certamente irão; quando
não mais pudermos amar, ou suportar; sentiremos a Sua provisão de amor sobrenatural.
Quando estamos comprometidos com os outros, Ele sempre nos supre com este amor. Já
que Seu amor nunca falha, está sempre disponível para o experimentarmos.
Se está faltando de nossa parte compromisso com Deus e com o Seu povo e não
chegamos ainda à verdadeira compreensão do que requer viver o Evangelho de Jesus, não
seremos capazes de entrar na plenitude de tudo o que Ele tem para nós. Não
experimentaremos muitos benefícios espirituais e nem o prazer de Sua casa. Nossa falha
nessa área irá nos roubar muito gozo e maturidade espiritual.
Aqueles que perdem estas coisas preciosas estão em um perigo real. Eles, muito
provavelmente, irão procurar um substituto. Se falharem em cumprir os dois
compromissos que estivemos discutindo, eles também irão se frustrar em suas vidas
espirituais. A experiência deles com a casa viva de Deus será imperfeita.
Faltando essa experiência, é possível que eles procurem preencher a lacuna com
algum tipo de organização, liderança ou estrutura religiosa. Se a verdadeira realidade do
corpo de Jesus não é a nossa experiência, a tendência natural é procurar externamente por
algo mais fácil.
Compreendemos que, para experimentar a realidade da verdadeira Igreja, há um
segundo compromisso envolvido: é o compromisso com nossos irmãos e irmãs em Cristo.
Não é um compromisso com uma instituição, um grupo, um método, um líder ou um
caminho, mas um compromisso com outros indivíduos.
Precisamos nos comprometer a amá-los total, absoluta e completamente. Isso inclui
indivíduos de todos os tipos, tanto os mais agradáveis, quanto aqueles que demonstram
ser muito difíceis de amar.
A Igreja de Jesus hoje é muito grande. Há milhões de crentes que fazem parte dela.
Temos entendido que Deus requer de nós amar a todos os crentes. No entanto, amar
milhões de pessoas ao mesmo tempo é alguma coisa teórica e não prática. Embora nossa
atitude de coração possa ser correta diante de Deus, tendo vontade de amar a todos, não
há um caminho simples para expressar esse amor de forma real.
Na cidade onde vivemos, pode haver milhares ou até mesmo milhões de outros
cristãos. É impossível encontrar com todos eles, ministrar e servir a todos ou cuidar de
cada um. Obviamente, nossa capacidade, como seres finitos que somos, é limitada. Então,
como devemos fazer para exercitar esse amor?
Jesus nos ensinou a amar o nosso próximo (Mt 22:39), mas quem é esse próximo? É
aquele outro cristão que Deus traz para participar de nossas vidas. Enquanto andamos
com o Senhor, Ele nos leva a ter contato com outros crentes. Se e quando somos sensíveis a
Ele, saberemos quando é Ele que está orquestrando esses contatos. Seremos hábeis para
perceber que é Deus quem traz pessoas para se juntarem a nós. Lemos que "...Deus dispôs
cada um dos membros no corpo, segundo a sua vontade" (I Co 12:18-NVI).
Como vimos nos capítulos anteriores, Jesus é o único que está construindo o Seu
corpo. Ele é o único que sabe como fazer essa construção. Nossa parte é estar sensível a Ele
e corresponder ao que Ele está fazendo.
Nem sempre virão pessoas segundo nossas escolhas; nem pessoas de quem
necessariamente gostemos, ou que nos darão prazer; ou até mesmo que consideremos de
fácil relacionamento. O que é importante é que Deus estará trazendo alguém para se
juntar a nós, e isso pode ser para o benefício e o crescimento de quem Ele trouxer.
Possivelmente, algumas pessoas precisem de um tipo de ministração que podemos lhes dar.
Talvez, iremos aprender com elas também e receber da porção que já têm de Cristo, ou
crescer em paciência e suportar sofrimentos pela falta da presença de Cristo em suas vidas.
Mas, certamente, cresceremos em experiência, seja por meio de bênçãos ou dificuldades,
convivendo com essas pessoas.
Quando Deus traz alguém a nós, somos então chamados a amar esta pessoa. É nossa
obrigação nos empenhar em servi-la. Não somos livres para eleger ou escolher a quem
iremos amar e servir. Como servos de Deus, devemos obedecer a Ele em nosso
compromisso com aqueles que Ele coloca diante de nós. Nosso papel é expressar o amor de
Deus a toda e qualquer pessoa que Ele traga para estar ao nosso lado.
Podemos confiar que Deus sabe o que está fazendo. Ele é o arquiteto e o construtor de
Sua casa e sabe que relacionamentos são estratégicos para os Seus propósitos. Ele
compreende quais partes são importantes para cada um de Seus objetivos e sabe como
cada relacionamento espiritual funcionará em conjunto para edificar o todo. Deus nos
trará cooperadores.
Ele nos trará também pessoas com muitos problemas e necessidades; alguns que
necessitam da nossa porção de Cristo; alguns que até nos desapontarão; outros que irão
provocar mudanças em nós; alguns que nos abençoarão; e outros que nos ajudarão
também. Nossa responsabilidade é simples: nos comprometer a amá-los com o amor de
Deus.
Nossa responsabilidade de amar os outros não se restringe somente àqueles que
concordam conosco. Não é tampouco limitada àqueles com quem nos encontramos
regularmente, que gostam de nós, aqueles cuja companhia apreciamos, ou que
imaginamos podem ser convencidos por nossas posições, doutrinas ou práticas cristãs.
Qualquer pessoa que Deus trouxer até nossas vidas, exigirá de nós um amor e um
serviço humilde, deixando os resultados com o Senhor. Enquanto fazemos isso, Jesus
construirá Sua Igreja por meio de um invisível e oculto caminho, e ela um dia será
revelada em todo o seu glorioso esplendor.
O amor fraternal, então, é a cola que mantém unida a Igreja verdadeira. É este
verdadeiro amor de um pelo outro que irá nos fazer manter nossa camaradagem. É este
amor eterno e infalível que irá nos estimular a servir o corpo de Cristo e que irá nos
induzir a renunciar às nossas vidas, para que outros possam crescer até chegar a ser tudo o
que Jesus é. É o amor a Deus e aos outros que irá nos fazer manter relacionamentos, desejar
encontrar outros para louvor, edificação e oração, e para uso de nossos dons e ministérios
para construir o corpo.
Aqui não há necessidade de autoridade posicional ou institucional. Não há lugar
para algum tipo de estrutura natural ou de "compromisso" humano em manter as
pessoas juntas. O amor de Deus não é algo artificial. Não é nada que o homem possa
produzir ou mesmo imitar. Não é algo feito por mãos humanas. A Igreja cheia de amor é
o lugar onde Deus mora e onde irá morar por toda a eternidade.
A evidência da realidade da verdadeira Igreja é o amor fraternal. Esse amor eterno
sendo derramado através do corpo de Cristo é a prova de que o próprio Deus está
trabalhando. É o sinal seguro de que Ele é quem está no controle e que Ele é quem fez essa
obra. O homem não pode imitá-la.
Tal amor produz a mais aprazível das "igrejas". As Escrituras dizem: "Oh! quão
bom e quão suave é que os irmãos vivam em união! É como o óleo precioso sobre a cabeça,
que desce sobre a barba, a barba de Arão, e desce à orla de seus vestidos. Como o orvalho de
Hermom, que desce sobre os montes de Sião; porque ali o Senhor ordena a bênção e a vida
para sempre" (Sl 133).
A intimidade de viver se relacionando com os outros no amor de Deus é uma das
mais sublimes experiências humanas. É uma das mais verdadeiramente prazerosas
coisas que podemos conhecer. A intimidade entre um e outro que essa experiência
produz e a transparência das vidas e dos relacionamentos que surgem são simplesmente
algo maravilhoso.
Não há nada que se possa comparar com o viver entre as pessoas, no amor de Deus.
Este é o objetivo. Esta é a experiência da única Igreja verdadeira, o tipo de vida para a qual
Jesus está nos chamando. A nossa fiel obediência a Jesus nessa área se torna parte de
nossa recompensa. Cada cristão deve ser capaz de participar e de aproveitar
completamente da comunhão espiritual de uns com os outros.
Qualquer outro método para tentar manter o povo de Deus unido é falso. É uma
imitação. É um esforço humano para tentar produzir algo que deveria ser um fruto
automático de uma vida espiritual. Se realmente conhecemos Deus intimamente, iremos
amar os irmãos, com um amor que é a única substância que pode ser usada para manter
o povo de Deus reunido de uma maneira legítima e eterna.
Portanto, uma grande parte do nosso trabalho é incitar uns aos outros para amar
como Cristo ama (Hb 10:24). É nosso privilégio demonstrar em nossas vidas o amor
divino, de maneira que outros tenham um exemplo a seguir. É parte de nosso trabalho
para o Senhor exortar e encorajar cada irmão e irmã a conhecer esse amor e a expressá-lo.
Este é o chamado mais elevado e mais santo.
Muitas pessoas hoje estão tentando construir a Igreja e mantê-la unida com seus
dons espirituais. Elas estão fazendo o melhor possível para edificar os outros crentes. Mas,
alguns cometem o engano de pensar que isso será suficiente. Tentam construir uma igreja
atraindo os outros pelo uso de seus dons e, então, tentam levá-los a um compromisso com
elas e com o ministério delas, como um meio de edificar o corpo.
Queridos irmãos, não é suficiente simplesmente ter algum tipo de dom espiritual.
Não é suficiente ter um ministério "ungido". Simplesmente ser capaz de pregar ou ensinar;
curar os enfermos; predizer o futuro ou expulsar os demônios; não é suficiente para
construir a verdadeira Igreja.
Todas essas coisas podem ser feitas por aqueles que não sabem como viver no amor
de Deus. Inacreditavelmente, todas elas podem ser efetuadas por alguns que não vivem
em intimidade com Jesus. As Escrituras são bem claras: se nosso "ministério" é
simplesmente um exercício de nosso dom e não o resultado do fluir do amor eterno em
nós e por meio de nós, é uma coisa vã e vazia. Na verdade, não é nada (1 Co 13:2).
Não é raro encontrar, na Igreja atual, homens e mulheres que usam os dons recebidos
de Deus para se promover. Exercem as habilidades espirituais que receberam para
impressionar os outros e, portanto, exaltar a si próprios. Querem ser vistos e ouvidos.
Querem que os outros pensem que são verdadeiramente espirituais. No entanto, tudo
isso é simplesmente evidência de sua imaturidade. Estão falhando no amor de Deus.
O amor verdadeiro não se comporta desta forma. Ele não "se ufana", não "se
ensoberbece" (1 Co 13:4). Aqueles que são motivados pelo amor de Deus não são egoístas.
Seus motivos são apenas ministrar a Vida e a natureza de Deus para os outros crentes e
para um mundo decadente.
O exercício dos dons espirituais sem amor é um exercício religioso vazio. É como o
som de um sino ou de um trompete que rapidamente desaparece (1 Co 13:1). O tipo de
ministério que irá produzir resultados eternos é o ministério feito em amor. É o resultado do
amor de Deus fluindo em nós e por meio de nós que irá construir a habitação eterna do
Altíssimo.
CAPÍTULO 9
REUNIÕES
Deus é espírito (Jo 4:24). Ele existe em uma realidade que não é física. É um "lugar"
que fica além do espaço e do tempo. É uma dimensão espiritual. Desde Sua ressurreição
da morte e Sua vinda em Espírito, Jesus também vive nessa esfera espiritual. Embora Ele
certamente esteja presente agora, neste mundo, Sua presença entre nós e dentro de nós não
é física, mas espiritual.
Além disso, nós também, depois que nascemos de novo, nos tornamos criaturas
espirituais (Jo 3:6). Tendo sido "nascidos do Espírito", já entramos em uma nova realidade
que não é terrena ou física, mas espiritual. Esse "lugar" espiritual é uma esfera onde o
crente pode ir e no qual ele pode morar. Já que temos essa nova capacidade espiritual,
podemos entrar na região onde Deus está e ter contato e comunhão com Ele.
Se queremos experimentar a presença de Deus, precisamos entrar no reino espiritual
onde Ele existe. Embora Deus possa ser visto em Sua criação e por Seus atos visíveis,
incluindo milagres, curas etc., Ele não pode ser verdadeiramente conhecido pessoalmente,
exceto nessa dimensão espiritual.
Por exemplo, os filhos de Israel viram os "atos" de Deus, por terem testemunhado os
acontecimentos durante a saída do Egito e a jornada através do deserto. Por meio daqueles
sinais, eles aprenderam um pouco sobre Deus. Mas Moisés tinha o privilégio de conhecê-
Lo intimamente. Ele conhecia os "Seus caminhos", por passar tempo na presença de Deus (Sl
103:7). Lemos que o Senhor falou a Moisés: "...face a face, como um homem fala a seu
amigo" (Êx 33:11).
A realidade do "Espírito" é o único lugar onde Deus pode ser reconhecível. Entre
os seres humanos há uma grande tendência a pensar que Ele pode ser encontrado através
de uma série de fórmulas, práticas ou ensinamentos. Alguns imaginam que Ele pode ser
encontrado em algum tipo de catedral, templo ou construção religiosa. Isso não é verdade!
O próprio Jesus explicou isso à mulher que Ele encontrou junto ao poço de Jacó (Jo
4:21,23). Ela conjecturava sobre o lugar correto para adorar. Em sua mente, estava perplexa
sobre o local físico ou sobre qual posição doutrinária era apropriada para agradar ao
Altíssimo.
Mas Jesus lhe contou que havia ocorrido uma mudança. Uma nova era havia
surgido. Por meio da obra de Cristo, os seres humanos não estavam mais confinados ao
plano físico, mas deveriam contatar Deus de uma nova maneira e em uma nova posição.
De agora em diante, os verdadeiros adoradores deveriam adorá-Lo "em Espírito e em
verdade".
Jesus explicou que a presença de Deus não estava mais em "Jerusalém" ou "naquela
montanha". Isso significa que entrar hoje no Espírito não é uma questão de localização,
prática, doutrina, credo ou artifício. Estar no Espírito não depende de estar em um
determinado lugar (uma construção religiosa, por exemplo) ou da posição religiosa em que
nos encontramos (referente a uma série de doutrinas bíblicas). Estar no Espírito é uma
questão de realmente entrar na presença de Deus, a qual é Espírito.
Estar "no Espírito" não significa ter um tipo especial de experiência emocional. Não
significa que somos dominados por êxtase, alegria ou sensação física. Não é o resultado de
trabalhar um tipo de sentimento, gerado por estar cantando alto, dançando, gritando etc.
Em vez disso, significa que estamos entrando na presença de Deus em nosso espírito.
A EXPERIÊNCIA DA IGREJA
Tudo isso tem uma real aplicação ao presente tópico: a experiência da Igreja. A Igreja
também é um ser espiritual e também existe em um plano ou reino espiritual. Embora haja
Sim, já que os crentes têm corpos físicos, a Igreja aparece no mundo natural. O que
seus membros dizem ou fazem tem um efeito aqui na Terra. Mas a fonte de sua vida e de
sua inspiração é espiritual. Na essência, ela realmente pertence a um outro reino. Sua
parte natural, que hoje é visível fisicamente, isso é, o corpo humano, logo passará e será
substituído por um outro, espiritual, que corresponde à sua verdadeira natureza.
Portanto, para ter valor no reino de Deus, todas as palavras e ações desse ser
espiritual devem se originar no Espírito. A fonte do falar e do agir da Igreja deve emanar
da presença de sua Cabeça invisível. Qualquer coisa que tenha origem na realidade
natural, terrena, não tem valor algum para promover os propósitos eternos de Deus.
Somente aquelas que emergem da comunhão com Jesus, no Espírito, irão sobreviver ao
teste do Dia do Julgamento.
A EXPERIÊNCIA CORPORATIVA
coisa sendo feita em nome de Jesus que parece boa, e uma grande abundância de
atividades cristãs sendo aclamadas como "obras de Deus". Tantas destas coisas podem
parecer bíblicas, de um ponto de vista humano. Elas parecem boas e corretas.
Entretanto, literalmente, milhões de crentes por todo o mundo saem dos cultos
dominicais insatisfeitos. Seus espíritos não são espiritualmente alimentados. Enquanto a
liderança e os que circulam ao redor dela proclamam que a vontade de Deus está sendo
cumprida, incontáveis crentes ainda continuam famintos e sedentos por experimentar
mais da realidade de Cristo.
Isso acontece simplesmente porque esses crentes estão olhando para o lugar errado.
Estão procurando pela solução no reino errado. Vão de igreja em igreja, de ministério em
ministério, procurando por uma "igreja-lar" - um lugar onde se sintam bem e satisfeitos.
Mas a solução para isso não é um lugar novo, um novo pregador ou uma nova
prática ou crença. A resposta está no Espírito. A realização de seus desejos está nesta
outra dimensão: a genuína presença do próprio Deus.
Quantos crentes precisam aprender a viver e a caminhar no Espírito! Que grande
necessidade há hoje de que os crentes compreendam como entrar juntos na presença de
Deus! Como é enorme a urgência de que os cristãos saibam como se reunir, sendo
dirigidos pelo Espírito Santo e cheios de Sua presença!
Precisamos estar no Espírito quando estamos reunidos, de maneira que possamos
experimentar a realidade da Igreja. Quando estamos Nele, e somente quando estamos
Nele, estamos satisfeitos. Isso acontece, porque tudo aquilo que Ele é somente estará
disponível a nós, individual ou corporativa-mente, quando estivermos nessa dimensão
invisível, que é o Espírito.
A experiência corporativa de estar no Espírito pode ser efetuada por dois ou três
crentes. Por exemplo, sempre que estamos com outros cristãos e todos caminhamos no
Espírito, há a doçura da comunhão espiritual. Espontaneamente, estaremos
compartilhando com as outras pessoas o que temos visto, ouvido e conhecido sobre o
nosso Deus. Isso é quase automático. Quando os outros estão abertos para o Senhor e nós
também, o fluxo de Vida de um para o outro é natural e instintivo.
Ninguém tem que organizar coisa nenhuma. Nada necessita ser planejado. Quando
andamos no fluir da Vida Divina, quando os que estão ao nosso redor também estão
abertos a esse fluir, a comunhão espiritual é espontânea. Quando dois ou três estão juntos,
eles podem orar; cantar; compartilhar as coisas maravilhosas que Deus tem feito por eles;
ministrar a outros a sua porção de Jesus. Isso é a experiência normal da Igreja. Tais
encontros espirituais podem acontecer em qualquer tempo e em qualquer lugar. A única
exigência é que os participantes estejam no Espírito.
Por outro lado, é possível e até comum que crentes se reú-nam e nunca entrem nessa
dimensão. Podem comer juntos uma refeição, praticar esportes e mesmo participar de
alguma conversa interessante. Eles podem orar, cantar e ouvir algum tipo de discurso
sobre assuntos bíblicos. Mas, se falham em entrar juntos na presença de Deus, tudo isso
não tem valor eterno. Eles não experimentam a Igreja verdadeira. A falha está em per-
manecer na dimensão natural, física, da alma e do corpo. Eles não são bem sucedidos em
estar no Espírito.
Uma chave importante para aproveitar encontros espirituais, quando nos reunimos
com um grupo de cristãos, é deixar Jesus liderar nossos encontros. Ele pode realmente
conduzir nossas atividades coletivas assim como um regente pode dirigir uma orquestra
sinfônica. Essa experiência não é para acontecer uma vez ou outra, mas deveria ser uma
parte normal e constante de nossa vivência como Igreja.
Quando nós e os que estão reunidos conosco estamos na presença de Deus, podemos
sentir Sua direção. No Espírito, podemos sentir quando Ele quer que falemos, cantemos,
oremos ou mesmo que fiquemos quietos. Em nosso espírito, compreendemos o que Jesus
está dizendo e fazendo a qualquer momento. Desta forma, podemos fluir em Seu desejo,
nos harmonizando com a vontade de Deus a cada momento.
A direção de Jesus é essencial em nossas reuniões cristãs. Sem ela, somos deixados
apenas com a orientação humana. Quando falhamos em entrar na dimensão espiritual e
em discernir a autoridade e a liderança do Espírito Santo, podemos apenas empregar
técnicas naturais para conduzir nossas reuniões. Embora possamos dar a impressão de
nos aproximar da realidade espiritual, as experiências da Igreja são, no final das contas,
insatisfatórias e inúteis. Verdadeiramente, "...a carne para nada aproveita" (Jo 6:63).
Hoje, Jesus é invisível, embora seja muito real. Apesar de ser intocável no reino natural,
físico, Ele é abundantemente perceptível quando estamos no Espírito. Quando Ele vem às
nossas reuniões cristãs, Ele não vem para observar ou para Se entreter. Nem é Sua intenção
sentar-Se no "último banco" para certificar-Se de que as coisas estão sendo feitas
corretamente. Em vez disso, Ele vem ao nosso meio como Líder e Rei. Ele não vem para
observar, mas para liderar. Seu papel não é observar, mas guiar e dirigir tudo.
Quando somos bem sucedidos em entrar em Sua presença e em permitir que Ele
cumpra o Seu papel em nosso meio, nossos encontros são extremamente satisfatórios. Ele
conhece a necessidade de cada membro, sabe como ministrar a cada coração. Então,
quando Ele é o Líder, pode inspirar alguém para falar, orar, profetizar ou mesmo cantar
para ministrar às necessidades de cada um.
Provavelmente Ele prepara de antemão pessoas para executarem tarefas espirituais.
Somente Deus sabe o que está em cada alma. Somente Ele compreende as dores, as
necessidades ou mesmo as alegrias que lá estão. Portanto, quando Ele está orquestrando
tudo o que é dito ou feito, o verdadeiro ministério espiritual surte efeito. Todos os tipos de
necessidades humanas são verdadeiramente atendidas.
Essa verdade se aplica a cantar louvores, tanto quanto a pregar, ensinar ou qualquer
outro ministério. Por exemplo, cada um pode ter um salmo, um hino ou uma canção.
Quando uma pessoa é inspirada pelo Espírito a sugerir uma canção ou a começar a cantar,
então esta canção será uma experiência espiritual ungida. Será uma bênção para todos.
Será algo que Jesus escolheu, com palavras que irão ministrar a muitas necessidades, e a
unção irá elevar cada espírito.
Lemos: "Que fazer, pois, irmãos: quando vos reunis, um tem um salmo, outro,
doutrina, este traz revelação, aquele, outra língua, e ainda outro, interpretação. Seja tudo
feito para edificação" (1Co 14:26).
Se, por outro lado, as pessoas simplesmente escolhem um hino favorito para cantar
ou selecionam canções antecipadamente, a oportunidade para Jesus liderar diminui
muito. Conseqüentemente, as bênçãos também são menores ou mesmo inexistem. O
silêncio é melhor do que qualquer cântico escolhido pelo homem natural. Quanto mais
conseguirmos permitir que Jesus lidere nossas reuniões, mais abençoada e mais elevada
será a nossa experiência.
A mesma coisa acontece com qualquer pregação ou ensino. Ninguém deveria
dominar uma reunião com sua eloqüência e seus dons. Deve haver lugar para que todos
possam ter a chance de contribuir. Lemos: "Porque todos podereis profetizar, um após
outro, para todos aprenderem e serem consolados" (1 Co 14:31). A palavra "profetizar"
aqui significa "falar por Deus", o que pode incluir pregação e ensino, tanto quanto ministrar
"pro-feticamente".
Nenhum homem tem todas as revelações. Ninguém, além de Jesus Cristo, tem todos
os dons e ministérios. Deus formou o Seu corpo de maneira que os membros sejam
dependentes uns dos outros. A porção de cada membro é necessária para que todos
sejam edificados. Portanto, quando dois ou três ou muitos mais estão na presença do
Senhor, deve haver oportunidade para que cada um, guiado pelo Espírito Santo,
ministre a sua porção de Jesus para todos os demais.
Quando o Espírito de Jesus Se move entre os membros de Seu corpo, Ele leva um ou
outro a ministrar de acordo com o seu dom, ministério ou revelação. Seguindo a direção
do Espírito Santo, cada "junta" de provisão (Ef 4:16) pode ser usada para edificar os outros.
Não deveria haver confusão. Tudo deveria ocorrer "com decência e ordem" (1 Co
14:40). Já que existe uma Cabeça que está coordenando as atividades dos vários membros,
percebe-se uma harmonia divina. Quando Jesus é o autor, existe uma sincronização
sobrenatural de todas as coisas que acontecem. Embora o diretor seja invisível, quando
todos os membros entram no reino espiritual onde Ele está, então todas as coisas são
feitas de uma maneira ordeira.
Há um verso interessante em Provérbios, que fala sobre esse assunto. Lemos: "Os
gafanhotos não têm Rei, contudo marcham todos em bandos" (Pv 30:27). As multidões
desses insetos não têm um líder visível, mas se movem juntos em harmonia, como se o
tivessem. Há algum impulso invisível que os guia.
Do mesmo modo, o líder do corpo de Cristo não é visto hoje por olhos humanos. Mas,
quando os membros do Seu corpo se movem e ministram segundo a liderança de Seu
Espírito, quando estiverem sintonizados com Sua autoridade, então é vista uma
harmonia maravilhosa. Não há nada contraditório ou discordante. Não há necessidade de
que os crentes estejam competindo para serem vistos ou ouvidos.
Somos ensinados que cada um pode "profetizar" ou contribuir com sua porção. "Se,
porém, vier revelação a outrem que esteja assentado, cale-se o primeiro" (1 Co 14:30). Veja,
quando o Espírito de Deus está liderando uma reunião, todos devem estar sensíveis à Sua
direção. Ninguém pode dominar sobre os outros, usar o tempo apenas para as suas
revelações e ministérios, mas todos devem estar prontos para consentir que alguém mais
intervenha para apoiar o fio da revelação que Deus está dando e também para contribuir
com sua porção.
Não há necessidade de organização humana. Não há exigência de planejamento e
organização antecipada. Não há necessidade de que um homem ou um grupo de homens
tentem controlar os demais. Na verdade, tais esforços serão mostrados no dia do
Julgamento como um grande obstáculo para a obra de Deus.
Jesus é infinitamente capaz de liderar Sua Igreja em suas reuniões. É essencial que
cada membro aprenda a estar no Espírito Santo e a ser dirigido por Ele. É necessário
apenas que cada um seja movido pela Vida eterna de Deus. Quando os membros são
dirigidos pela única Cabeça, todos os seus movimentos e ministérios estão em harmonia
uns com os outros.
Uma pessoa que é movida pelo Espírito em uma reunião de crentes deve ministrar
ou falar como "entregando oráculos de Deus" (1 Pe 4:11-VR). Ela deve ser cuidadosa, de
acordo com sua maturidade espiritual, para não incluir opiniões, idéias ou direções
carnais. Deve ministrar de acordo com a proporção de sua fé (Rm 12:6). Além disso, deve
ser vigilante para não continuar falando ou cantando, quando o Espírito Santo já Se moveu
para uma outra direção ou assunto.
É muito comum que uma pessoa, quando sente a atenção do grupo sobre ela, se
enamore do sentimento de importância. É muito fácil a carne ser estimulada, quando
somos usados por Deus. Conseqüentemente, não é raro que membros do corpo sigam
além daquilo que Deus deseja dizer e continuem divagando, aproveitando a notoriedade.
Isso é prejudicial para todos.
Por outro lado, às vezes é difícil que um membro mais tímido consiga dizer alguma
coisa. Talvez ele ou ela seja naturalmente disposto a ser reticente ou tímido. Tal membro
deve ser encorajado a contribuir com o que sente que Deus está lhe dando. Ele ou ela
precisam saber que sua porção, que pode parecer tão pequena, é algo de valor para todos.
Quando os membros mais fortes do corpo dominam todas as reuniões com seus dons e
ministérios, é quase impossível que os fracos possam crescer em compartilhar suas porções.
Portanto, os mais fortes devem ser muito sensíveis para dar aos mais fracos a
oportunidade de ministrar nas reuniões também.
Sem dúvida, alguns cristãos debatem sobre a necessidade de se reunir da maneira que
descrevemos. Podem argumentar que eles e outros certamente têm sido abençoados e
receberam mi-nistrações em reuniões que eram estruturadas e organizadas.
mais além. Eles não tinham sucesso em viver algo mais válido e real.
Em muitos destes casos, suspeito que a causa da deficiência foi que os membros
individuais não se submetiam verdadeiramente a Jesus em suas vidas diárias. Eles não
sabiam como fazer isso e, assim, não estavam caminhando diariamente no espírito. Talvez
se orgulhassem por terem escapado de alguma religião formal, mas falharam em entrar
na realidade espiritual, no Espírito, onde está a única Igreja verdadeira. Talvez tenham
deixado o Egito, mas nunca cruzaram o Rio Jordão para entrar na terra prometida.
OUTRO ARGUMENTO
Talvez alguns argumentem que muitos, senão a maioria dos cristãos, não são
suficientemente maduros para se reunir sem uma estrutura humana. Eles podem afirmar
que a maioria dos crentes, por não saber como andar e como viver no Espírito, só pode se
reunir de uma forma religiosa. Portanto, concluem que tais encontros espirituais não
funcionarão. Eles acreditam que o homem precisa dar uma "mãozinha" nessas coisas e
providenciar alguma estrutura e organização.
É verdade, infelizmente, que muitos crentes não são pessoas espirituais. Somente uns
poucos conseguem estar no Espírito freqüentemente e menos ainda conseguem viver
nesse estado espiritual. Mas há uma boa solução para esse fato. Em vez de providenciar
uma estrutura humana e superficial para compensar tal problema, precisamos procurar
em Deus como resolver o problema. Precisamos ser capazes de levar outros a um rela-
cionamento com Cristo que seja verdadeiramente espiritual.
Aqueles que conhecem os segredos de uma vida genuinamente espiritual devem
ouvir de Deus como ministrar aos outros essa realidade. Devem orar, buscando a face de
Deus, para ter unção e sabedoria necessárias para levar outros à presença de Deus. Eles
precisam se tornar servos de outros, mostrando a eles, por meio de palavras e ações, "um
caminho mais excelente".
Uma outra vez, poderemos usar a maior parte do tempo louvando. Em outra ocasião,
talvez a ministração da Palavra de Deus seja enfatizada. Na reunião seguinte, talvez
essas três coisas, ou mesmo alguma coisa mais, estejam em evidência. Qualquer reunião
que caia constantemente em um padrão, deveria ser um alerta para nós. É um sinal de que
devemos buscar por mais liderança de Deus entre nós.
Você não pode limitar ou prever a ação de Deus. Ele nunca Se enquadra em sua
caixinha. É impossível saber o que Ele fará a seguir. Quanto mais formos capazes de nos
abrir para Ele e de permitir-Lhe ser a nossa fonte e o nosso guia, mais ricos e mais
satisfatórios serão os nossos encontros com outros cristãos. Cada vez que estamos reunidos
em Seu nome, Ele está em nosso meio para nos guiar ao que Ele tem para nós naquele
momento.
A propósito, reunir-se em nome de Jesus não significa ter o nome Dele escrito na
porta. Não significa simplesmente adicionar "em nome de Jesus" ao final de nossas orações.
Estar "em nome de Jesus" quer dizer que realmente estamos Nele, e estar Nele significa que
estamos no Espírito.
Se usamos Seu nome sem a realidade de Sua presença, isso é em vão. Não há uma
mágica especial em algumas palavras. Nunca deveríamos usar o nome de Jesus como se
ele tivesse um tipo de encantamento ou fosse uma expressão mágica. O poder do
Evangelho é o fato de que Jesus Se levantou dos mortos e, portanto, está presente no
mundo hoje. Ele é poderoso e real. Estar no nome de Jesus é estar Nele! É Nele que está o
verdadeiro poder.
Se os crentes sentem a liderança de Deus para que se reúnam em grupos maiores, isso
pode ser uma bênção. Mas isso traz alguns desafios. Por necessidade, quando um grande
número de crentes se reúne, apenas uns poucos serão capazes de ministrar. Isso é uma
coisa lógica. Entretanto, tais reuniões não são proibidas pelas Escrituras. No entanto, o
princípio básico de tudo ser dirigido por Jesus, o Cabeça, continua o mesmo.
Aqueles que são ungidos por Deus para ministrar no louvor, no ensino, na pregação,
em tais situações, ainda devem ser mantidos no mesmo padrão. Quando alguém sente que
está sendo conduzido a usar seus dons em tais circunstâncias, precisa ser cauteloso para
que o Senhor o esteja dirigindo, e não a sua ambição e o seu desejo de ser visto ou
ouvido. Seu verdadeiro alvo deve ser servir aos outros e não obter lucros financeiros ou
emocionais.
Um exemplo de como tais coisas podem ocorrer são as reuniões vivenciadas por um
irmão do País de Gales, chamado Arthur Burt. Periodicamente ele faz conferências ao
redor do mundo. Entretanto, em suas conferências não há palestrantes convidados.
Qualquer pessoa presente, que sinta ter uma palavra vinda de Deus, pode falar.
Porém, ele impõe uma restrição. Ele diz algo assim às pessoas presentes: "Quando você dá
um passo à frente, você tem cinco minutos para bombear. Se você não tirar água dentro
ENCONTROS DE MINISTRAÇÃO
Nas Escrituras também encontramos um outro tipo de reunião que poderia ser
chamada de "reunião de ministração". Por exemplo, enquanto os crentes se reuniam
diariamente de casa em casa, no livro de Atos, os apóstolos também estavam ensinando
"diariamente, no Templo" (At 5:42).
Em outros lugares do livro de Atos, lemos sobre Paulo pregando toda noite para um
grupo de crentes. Também aprendemos que, num dado momento, Paulo usou o edifício
de uma escola para praticar seu dom de ensino (At 19:9). Ainda, em outra situação, ele
alugou sua própria casa com esse propósito (At 28:30).
Esses agrupamentos de crentes não eram "reuniões do corpo". Não eram situações
em que cada membro funcionava, contribuindo com sua porção. Em vez disso, eram
circunstâncias onde um homem ou alguns homens com ministérios especialmente
ungidos serviam aos outros de um único modo. Talvez seja isso o que a maioria das
reuniões da "igreja" de nosso tempo procura imitar.
Mas, em vez de ser uma amostra do corpo, isso é simplesmente o ministério de um
ou mais homens cheios de dons. Podemos nos referir a esses encontros como "reuniões de
ministração". Esse tipo de agrupamento é espiritual e importante. Quando alguém tem
uma ministração que é tão ungida quanto necessária para o corpo, ele (ou ela) é livre para
fazer isto. Novamente, tudo deve ser feito de acordo com a liderança do Espírito Santo.
Tais reuniões nunca devem se tornar substitutas para os encontros do corpo. Os
pequenos encontros "de casa em casa", nos quais todos têm oportunidade para
participar, são uma parte essencial da experiência da única Igreja verdadeira. Essas
reuniões deveriam ser a parte principal de nossa prática de Igreja. Os membros mais
fortes e mais talentosos nunca deveriam ser dominadores, de maneira a suplantar o
funcionamento de todo o conjunto.
SUPORTE FINANCEIRO
Quando o ministério é praticado por um membro muito ungido, isso deve ser feito
às expensas daquela pessoa. Já que é o seu ministério, ele é responsável diante de Deus por
sustentá-lo financeiramente. Não quero dizer que outros não possam contribuir. O que eu
digo é que a Igreja ou o corpo como um todo não é responsável por essas despesas. Essa é
a responsabilidade da pessoa que está conduzindo o ministério. Tal pessoa deve ter um
chamado genuíno de Deus para fazer aquela obra determinada e, portanto, deve ter fé de
que Deus irá sustentá-la. Se não tiver esta fé, então não deveria estar fazendo a obra.
Em nenhuma circunstância, alguém deve colocar pressão de qualquer espécie sobre
os outros crentes para que o ajudem financeiramente. Nenhuma insinuação sutil ou
argumentos sinceros por dinheiro são permitidos. Eles nunca deveriam levantar "ofertas"
antes ou depois de ministrarem. Se um indivíduo não tem fé para conduzir uma
determinada obra para Deus, então deve parar de fazê-la. O corpo de Cristo certamente
pode contribuir para a obra de Deus, mas somente quando são movidos a fazer isso por
Ele, e não coagidos por homens.
É verdadeiramente bíblico que as pessoas que recebam mi-nistração podem ajudar
financeiramente aqueles dos quais recebem uma bênção. Lemos: "Mas aquele que está
sendo instruído na Palavra, faça participante de todas as coisas boas aquele que o instrui"
(Gl 6:6). Esse "compartilhar" certamente poderia incluir ajuda financeira.
Mas, biblicamente, esse auxílio nunca deveria ser em forma de salário. Enquanto
doações ocasionais são permitidas, a idéia de salário vai além do que é saudável e bíblico.
Quando alguém recebe "um salário" - que é uma soma de dinheiro fixa, regular e segura -
não tem mais necessidade de depender de Deus.
Pouco a pouco começa a confiar no homem. Sua visão inevitavelmente se volta do
Senhor para aqueles que estão pagando o seu salário.
É virtualmente impossível que isso não ocorra. A pessoa (ou pessoas) que está
suprindo nossas necessidades diárias é aquela que nos controla. Quando Deus está nesta
posição, tudo está bem. Mas, quando os homens são aqueles que têm a chave do cofre,
então eles é que estão em posição de poder sobre nós.
Em tais situações, a habilidade da pessoa que está ministrando se torna
comprometida. Ela pode se tornar um "mercenário" que precisa ficar bem com aqueles de
cujo dinheiro depende. Em vez da necessidade de manter um relacionamento bom, íntimo
e obediente com Jesus, ela simplesmente precisa ficar bem com aqueles de quem recebe um
salário.
Pessoas assim não são mais livres para dizer apenas o que Jesus manda dizer.
Tornam-se reticentes para falar qualquer coisa que possa ofender alguém, que pode, de
repente, parar de sustentá-las. Gradualmente se transformam em "bajuladores de homens"
(Ef 6:6). Quando alguém está genuinamente "vivendo por fé", deve ser fé em Deus e não fé
na boa vontade de outros para continuar a sustentá-lo.
MEMBROS DOMINADORES
Esta prática fere o padrão das Escrituras em vários pontos. Número um: limita "os
membros" a um ministério particular. Para serem saudáveis, os crentes necessitam das
porções de todo o corpo.
Número dois: exalta um homem a uma posição que não é bíblica, levando-o a um
lugar na assembléia, do qual apenas Jesus é digno. Então, inconscientemente, muitos
começarão a olhar para um homen e a depender desse líder em vez de depender de Jesus.
Número três: reprime qualquer outra pessoa do grupo, cujos dons também são
válidos, mas não suficientemente excepcionais para disputar a atenção dada ao líder.
Comumente as demais pessoas se tornam frustradas e procuram realização em outras
áreas, ou partem para estabelecer suas próprias "igrejas", onde podem usar seus dons,
algumas vezes até dividindo o primeiro grupo nesse processo.
OS NICOLAÍTAS
Que eu saiba, no Novo Testamento existe apenas uma coisa que Jesus Cristo disse
que Ele odeia. Esta coisa é mencionada nas cartas às sete igrejas: são as ações e a doutrina
dos nicolaítas, mencionados em Apocalipse 2:6,15. Já que a história daquela época não se
refere a nenhum grupo de pessoas chamadas "nicolaítas" especificamente, tem havido
muita especulação sobre quem são eles. Acredito que a resposta sobre a identidade deles
está no significado da palavra "nicolaíta". Por favor, analise comigo, enquanto
investigamos esta possibilidade.
A palavra NIKAO, no original grego, significa "conquistar, subjugar ou levantar-se
acima de", enquanto a palavra LAOS (da qual deriva a palavra "leigo"), significa "público
geral" ou "a assembléia das demais pessoas". Portanto, a palavra "nicolaítas", que é
composta por essas duas palavras, se refere àqueles que se levantam sobre e subjugam os
leigos ou as pessoas comuns. Isso parece descrever a situação que estivemos examinando.
Por nossas discussões anteriores, é fácil perceber porque Jesus Cristo pode odiar esse
tipo de arranjo. Tal situação reprime o funcionamento de Seu corpo, o qual é Sua expressão
na Terra.
O efeito imediato disso é que a maior parte dos membros da Igreja é mantida
inativa, e um homem só, ou um seleto grupo de homens, é elevado a uma posição de fazer
quase tudo. Então temos uns poucos homens tentando viver a vida da Igreja no lugar da
maioria. Obviamente, isto não é aprovado e impede grandemente a obra de Deus.
O SONHO DE JACÓ
Enquanto Jacó estava fugindo de seu irmão Esaú, ele passou uma noite no deserto. Lá
ele usou uma pedra como travesseiro. Enquanto dormia, teve um sonho maravilhoso. No
sonho, via: "Eis posta na Terra uma escada cujo topo atingia o céu; e os anjos de Deus
subiam e desciam por ela" (Gn 28:12). Quando acordou, imaginou que aquele era um
lugar especial. Ele o chamou de "Betel", que significa "a casa de Deus".
Vejam, quando estamos verdadeiramente sendo a casa de Deus, quando estamos
preenchendo as exigências de estar no Espírito e de ser conduzidos pela nossa Cabeça,
naquele lugar e naquele momento, os céus se abrem. A presença de Deus se torna real
para nós. Realmente experimentamos ser "a casa" ou a habitação de Deus, de uma maneira
coletiva - o Betel de hoje.
Nestas ocasiões, há verdadeiramente um céu aberto. A presença de Deus é muito
real. Sua autoridade ou "trono" são conhecidos por nós. Está ocorrendo revelação,
iluminação e compreensão espiritual. Além disso, os espíritos ministradores, os anjos,
estão indo e vindo - "subindo e descendo" - trazendo mensagens do trono e talvez
"carregando" as orações e as petições dos crentes de volta para Deus. Claro que aqui
estamos descrevendo algo espiritual com palavras terrenas. Talvez os detalhes exatos
desse tráfego angelical não possam ser conhecidos totalmente. Todavia, em tais situações
celestiais, a proximidade dos anjos ministradores é muito real.
Nós, o povo de Deus, temos o maravilhoso privilégio de entrar juntos em Sua
presença. Quando nos reunimos, podemos gozar o "céu aberto", onde as coisas invisíveis
do Seu reino se tornam reais para nós. Conforme entramos juntos no Espírito,
inimagináveis maravilhas de Jesus e a Sua vontade estão à nossa disposição para as
possuirmos. Nós, insignificantes seres humanos, podemos aproveitar a realidade de
sermos a habitação do Deus Altíssimo. Não devemos nunca nos satisfazer com menos do
que isto.
Queridos irmãos,
Saudações em nome de Jesus. 02 de março de 1987.
CAPÍTULO 10
VIVENDO EM AMOR
Jesus estava caminhando fisicamente aqui na Terra, Ele deu a Seus seguidores um
novo mandamento. Ele os instruiu: "...assim como eu vos amei, que também vos ameis uns
aos outros" (Jo 13:34). Já tocamos brevemente nesse tema num capítulo anterior, mas agora
vamos discutir detalhadamente o que significa essa admoestação. Embora possa parecer
um mandamento direto e razoavelmente simples, na prática é algo que é impossível de ser
feito.
Pode ser fácil amar os que são atraentes, interessantes ou agradáveis a nós. É possível
até que sejamos capazes de amar os outros até um certo ponto. Mas, amar todos os nossos
irmãos e irmãs em Cristo, tanto quanto Jesus os ama, está longe, muito longe de nossa
capacidade humana.
Parte do problema é que Deus parece acolher a muitos que não se encaixam bem com
a nossa opinião sobre quem é digno de ser amado. No mínimo, todos aqueles a quem Jesus
ama são pecadores. Além disso, muitos deles têm sérios problemas e deficiências. Outros
possuem personalidades e disposições que são desagradáveis e/ou ofensivas. Alguns
têm áreas em suas vidas que não foram transformadas e, então, são vulneráveis ao
inimigo da obra de Deus.
Quando desejamos andar em amor, encontramos esses e outros inúmeros desafios
para o cumprimento da simples ordem de Jesus para nos amarmos uns aos outros.
Qualquer um, que tenha realmente tentado amar os outros, deve ter entrado em contato
com alguns cristãos que parecem impossíveis de amar.
No entanto, existe esperança. Jesus não nos deu apenas um mandamento. Ele
também nos deu um novo tipo de amor. Esta nova variedade de amor é descrita no Novo
Testamento com uma palavra especial - ágape. Esse amor não é algo que o homem
natural possua. Não é algo que um simples ser humano possa gerar dentro de si mesmo.
É um tipo especial de amor sobrenatural que apenas Deus possui e que enche o Seu
coração. Na verdade, Ele é tão cheio deste amor ágape, que a Bíblia diz que "Deus é amor
[ágape]" (1 Jo 4:8). Esta palavra expressa Sua natureza essencial.
Então, quando decidimos obedecer ao mandamento de Jesus e amar os outros, temos
que receber Dele esse tipo de amor. Nosso amor natural, humano, nunca será capaz de
atingir o objetivo. Somente o amor do próprio Deus pode atingir essa mais alta e mais
nobre exigência.
Para conseguir esse amor sobrenatural, precisamos caminhar em contínua comunhão
com nosso Salvador. Já que Ele é a fonte desse amor, precisamos estar sempre ligados a Ele
para recebê-lo. Enquanto mantemos com Ele a nossa conexão espiritual, um suprimento
inesgotável de amor está à nossa disposição. Já que Ele é eterno, fonte inacabável deste
amor, temos acesso à toda porção que desejamos ou necessitamos.
Receber esse amor não é uma coisa que acontece uma vez. Nem é algo que
conseguimos através de uma série de experiências "espirituais" e depois o possuímos para
sempre. Para que nós, meros seres humanos, possamos caminhar em amor, precisamos
também andar em intimidade diária com a Fonte deste amor, que é o próprio Deus.
Esse fato é tão essencial, que a Palavra de Deus nos conta que, se amarmos nossos
irmãos em Cristo, essa é a prova de que realmente conhecemos a Deus. Lemos em 1 João
4:7,8: "Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor procede de Deus; e todo aquele
que ama é nascido de Deus e conhece a Deus [intimamente]. Aquele que não ama, não
conhece a Deus [intimamente], pois Deus é amor".
Acrescentei a palavra "intimamente" para ajudar o leitor a compreender o que está
sendo comunicado aqui. A palavra grega para "conhecer" pode ser usada para significar
as relações mais íntimas, inclusive aquelas entre um homem e uma mulher (Mt 1:25; Lc
1:34). O amor sobrenatural de que necessitamos é algo que flui de uma comunhão íntima,
pessoal e constante com o nosso Salvador.
É óbvio que há muitos crentes - pessoas que verdadeiramente nasceram de novo -
que não amam os outros. É dolorosamente visível que uma grande parte dos cristãos seja
egoísta, egocêntrica, infantil, rude, áspera, irritável e muitas outras coisas que
demonstram a falta do amor divino por seus irmãos. Infelizmente, é essa a condição de
uma grande parte da Igreja no mundo atual.
Embora alguns possam insistir em que tais pessoas não podem ser realmente
"salvas", uma análise honesta e cuidadosa da situação nos leva a acreditar que essa não é
realmente a raiz do problema. Muitos já encontraram Jesus. Eles verdadeiramente
nasceram de novo. Mas, tristemente, não estão caminhando em intimidade com Ele. Não
andam diariamente no Espírito. Não compreendem como comungar com Ele
continuamente. Eles deixam de aproveitar a disponibilidade de Sua constante presença.
Devido a essa falha, eles não exibem o amor sobrenatural de Jesus uns pelos outros.
Esses crentes são simplesmente bebês. Não amadureceram espiritualmente o suficiente
para ter o suprimento contínuo do amor de que necessitam. Crianças pequenas sempre
são egocêntricas. Elas raramente pensam nos outros, mas apenas em si mesmas. É quase
impossível para uma criança exibir um amor cuidadoso pelos outros, por terem elas
mesmas tantas necessidades. Portanto, cristãos infantes não expressam muito esse amor.
A evidência da verdadeira maturidade espiritual - a prova de que conhecemos a
Deus intimamente e que estamos caminhando em comunhão com Ele - é o amor. A
exibição do amor é um sinal seguro, uma evidência perceptível de que nós temos um
relacionamento pessoal com Jesus.
Este amor é tão poderoso, que podemos amar não somente crentes que são
amigáveis ou amáveis, mas também os que são difíceis de gostar. Quando nos
encontramos cheios do amor de Deus, conseguimos amar aqueles que não são
bondosos conosco, aqueles que tiram vantagem de nós e que abusam de nossos esforços.
Podemos amar aqueles que não concordam conosco; se opõem a nós; e aqueles que
pecam contra nós de várias maneiras: nos ofendem; nos tomam emprestado e nunca
trazem de volta; nos desapontam; nos rejeitam; nos maltratam. Podemos amar as pessoas
mais indesejáveis, se há em nós o amor de Deus. Esse amor, cuja fonte é Deus, é tão
poderoso e sobre-humano que, estando cheios dele, podemos até mesmo amar os nossos
inimigos (Mt 5:44).
O AMOR NA IGREJA
Aqui nesse livro estamos falando sobre a experiência da única Igreja verdadeira. A
chave para esta experiência é andar em intimidade com Deus e ser conduzido por nossa
verdadeira Cabeça, Jesus Cristo. Por ser a comunhão com Deus a fonte da verdadeira
Igreja, é lógico admitir que aqueles que estão conseguindo viver a real experiência da
Igreja estarão também cheios de amor.
Agora descobrimos um fato importante: aqueles que estão realmente aproveitando a
realidade espiritual da Igreja são homens e mulheres cheios do amor divino. Então
podemos concluir que a manifestação do amor é o teste de autenticidade da nossa
experiência como Igreja. Quando estamos cheios de amor uns pelos outros, isso demonstra
que estamos tendo sucesso em desfrutar a única verdadeira Igreja. A evidente expressão
do amor de Deus é o testemunho de que o que estamos fazendo é obra de Deus.
Todos os crentes bem sucedidos em caminhar em comunhão com Deus e junto uns
com os outros irão manifestar esse amor. Este é um sinal seguro de que eles estão
aproveitando a única Igreja verdadeira. É uma indicação verdadeira de que o que estão
vivendo é genuíno. Esse amor não é algo que o homem possa produzir. Sua origem é
somente divina. Portanto, quando ele está em evidência, você pode confiar que Deus está
fazendo a Sua obra entre aqueles que estão manifestando esse amor.
Os parágrafos acima não são, de maneira alguma, uma lista completa de todos os
versículos do Novo Testamento que nos encorajam a praticar o amor ágape. No entanto,
certamente são suficientes para mostrar que a manifestação do amor divino está bem no
centro da mensagem do Evangelho. É uma expressão do coração de Deus.
Nos capítulos anteriores, estudamos diferentes métodos usados pelos homens para
manter uma "igreja" unida. Há inúmeros artifícios que as pessoas usam para fazer com
que os cristãos se dediquem uns aos outros ou a um grupo. Quando qualquer trabalho
para formar um grupo de crentes é iniciado pelo homem, é sempre necessário usar
métodos humanos para manter o grupo unido.
Mas, como também já vimos, a verdadeira cola que mantém unido o corpo de Cristo
é o amor sobrenatural. O verdadeiro vínculo da cristandade é o amor (Cl 3:14). É o amor de
Deus que enche os nossos corações e nos faz servir aos irmãos, ter comunhão e nos
reunir com outros crentes.
Quando estamos caminhando "na luz", temos genuína "comunhão uns com os
outros" (1 Jo 1:7). Estar "na luz" implica ter uma intimidade constante e transparente com
Deus. Esta intimidade, então, produz o fruto do amor em nossas vidas. O resultado desse
fruto é a expressão da Igreja viva, a habitação do Deus Altíssimo.
MUITOS DESAFIOS
trauma emocional e a dor causados por esses crentes com os quais nos relacionamos em
nossas vidas? Qual é a solução de Deus para a angústia, a dor no coração, a mágoa e o
sofrimento que nos acomete, quando tentamos andar em comunhão com outros? Como
podemos continuar a viver em amor?
para com o nosso irmão. Se mantemos, isto impedirá nosso relacionamento com o nosso
clemente Salvador. Acharemos difícil entrar e permanecer na presença de Jesus. Já que Ele
morreu para perdoar àquela pessoa, nós também devemos perdoá-la. Viver nessa atitude
de perdão irá nos ajudar em nossa procura de viver na única Igreja verdadeira, que está na
presença do Deus perdoador.
Também aprendemos que nosso perdão aos outros é um requisito para sermos
perdoados. Jesus diz: "Mas, se não per-doardes, também o vosso Pai celestial não vos
perdoará as vossas ofensas" (Mc 11:26). Se continuarmos a clamar por "justiça", recusando-
nos a perdoar aos outros, então nós também receberemos a verdadeira justiça.
Entretanto, ninguém que tenha compreensão de seu próprio pecado irá realmente
desejar tal justiça para si. Se queremos que os outros tenham aquilo que merecem, também
receberemos aquilo que verdadeiramente merecemos. Pelo seu próprio bem, eu o advirto:
não procure por isso!
Além disso, somos ensinados que, se não perdoarmos, isso se transformara em um
tormento pessoal, que nos levara a uma prisão emocional ou até mesmo física. Talvez valha
a pena rever agora a parábola que Jesus ensinou, em resposta à uma questão de Pedro, que
trata dessa verdade:
Então Pedro, aproximando-se dele, lhe perguntou: Senhor, até quantas vezes pecará
meu irmão contra mim, e eu lhe hei de perdoar? Até sete? Respondeu-lhe Jesus: Não te digo
que até sete; mas até setenta vezes sete.
Por isso o reino dos céus é comparado a um rei que quis tomar contas a seus servos; e,
tendo começado a tomá-las, foi-lhe apresentado um que lhe devia dez mil talentos; mas não
tendo ele com que pagar, ordenou seu senhor que fossem vendidos, ele, sua mulher, seus filhos,
e tudo o que tinha, e que se pagasse a dívida. Então aquele servo, prostrando-se, o reverenciava,
dizendo: Senhor, tem paciência comigo, que tudo te pagarei. O senhor daquele servo, pois,
movido de compaixão, soltou-o, e perdoou-lhe a dívida.
Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus conservos, que lhe devia cem
denários; e, segurando-o, o sufocava, dizendo: Paga o que me deves. Então o seu companheiro,
caindo-lhe aos pés, rogava-lhe, dizendo: Tem paciência comigo, que te pagarei. Ele, porém, não
quis; antes foi encerrá-lo na prisão, até que pagasse a dívida. Vendo, pois, os seus conservos o
que acontecera, contristaram-se grandemente, e foram revelar tudo isso ao seu senhor.
Então o seu senhor, chamando-o á sua presença, disse-lhe: Servo malvado, perdoei-te toda
aquela dívida, porque me suplicaste; não devias tu também ter compaixão do teu com-
panheiro, assim como eu tive compaixão de ti? E, indignado, o seu senhor o entregou aos
verdugos [torturadores], até que pagasse tudo o que lhe devia. Assim vos fará meu Pai celes-
tial, se de coração não perdoardes, cada um a seu irmão. (Mt 18:21-35-VR).
Veja só, a falta de perdão traz problemas com Deus. Se não perdoarmos, Ele promete
nos entregar aos "torturadores" para que nos levem à prisão. Isso significa que, à medida
que o tempo passa, nos encontramos em prisão espiritual e também em intensas dores
emocionais ou até físicas.
Perdoar aos outros nos dará alívio, não apenas do sofrimento emocional, mas
também de muitos outros sofrimentos, até mesmo físicos, que nos venham escravizar. Trará
cura emocional e física. Também nos libertará daquilo que somos e nos transformará à
imagem de Cristo. Restaurará nosso relacionamento com Deus.
É interessante notar que não é o "ofensor" que será disciplinado por Deus. Ao
contrário, é a vítima, a que se recusa a perdoar. Na nossa maneira de pensar, aquele que
provoca a ofensa é o que merece o castigo, mas no coração do Pai, a recusa do perdão
O OUTRO LADO
Há também o outro lado da questão do perdão. Como ficam aqueles que cometeram
um pecado ou uma ofensa? Quando estamos caminhando à luz de Deus, vamos nos
tornando mais sensíveis aos momentos em que ofendemos os outros. Quando uma
palavra ou uma ação nossa não é feita em amor, deveríamos ter a convicção do pecado
em nossas consciências. Devido à nossa intimidade com Jesus, Seu Espírito irá incomodar
nossa consciência até que admitamos nossa culpa e nos arrependamos diante de Deus e
daqueles a quem ferimos.
O desejo de responder à sensação de ter agido mal em nossas consciências é um
elemento essencial para uma caminhada verdadeiramente espiritual. Quando nos
recusamos a reconhecer nosso erro; quando resistimos ao Espírito Santo falando em nosso
espírito; quando endurecemos os nossos corações quanto à necessidade de
arrependimento; então começamos a danificar nosso relacionamento com nosso Senhor.
Para admitir o pecado, precisamos nos humilhar. Precisamos nos arrepender diante
de nossos irmãos a quem ofendemos e isso requer a revelação de nossas fraquezas e de
nossos erros. Quando somos muito orgulhosos ou teimosos para fazer isso; quando, pelo
contrário, insistimos em ver nossa própria justiça em qualquer situação; então começamos
a perder nossa intimidade com Deus. Quando apenas nos justificamos e inventamos
desculpas por nossas atitudes e por nossas palavras, isso revela uma falta de humildade e
de brandura.
As atitudes de orgulho e autojustificação trabalham para nos excluir da presença de
Deus. Ele irá se afastar das pessoas que se inclinam para essas disposições e que as
expressam. "Deus resiste aos soberbos..." (Tg4:6). Isso significa que, se recusarmos nos
humilhar, Ele irá resistir aos nossos esforços para entrar em Sua presença. Vai se tornar
difícil encontrá-Lo e também será difícil encontrar Suas respostas para nossas
necessidades. Sua graça para enfrentar muitas situações irá se tornar rara e nossas vidas se
tornarão mais e mais difíceis de suportar.
Essa perda de comunhão com Ele significa que não mais O encontraremos facilmente
para caminhar no Espírito. Sem esse elemento essencial, então começaremos a perder a
experiência da Igreja genuína, que somente é encontrada no Espírito. O resultado
inevitável de tal endurecimento de nossos corações é que começaremos a caminhar na
alma, sendo motivados pelo homem natural. Autojustificação, em qualquer situação onde
outra pessoa foi ferida, irá nos fazer perder a nossa alegria e comunhão.
Em muitas situações, ambas as partes, ligadas a qualquer pecado, disputa ou
equívoco, podem estar erradas. Pode ser que todos os envolvidos não tenham agido
completamente em amor. Conseqüentemente, todos necessitam de arrependimento e de
pedir o perdão do outro. O fato de que um outro pecou contra você não alivia você de sua
culpa de ter pecado contra ele também. Talvez você também tenha que pedir perdão em
determinada situação.
Muitas vezes as pessoas se desculpam pelos seus pecados, apontando os erros dos
outros. Tais desculpas podem servir para nos desculpar aos nossos próprios olhos, mas
não funcionam para nos justificar diante de Deus. Pode ser que em uma ou outra situação,
alguém tenha pecado contra você, e você tenha reagido pecando contra ele.
Possivelmente ele se recusou a admitir o erro dele. Isso não livra você de sua culpa. Você
não tem permissão para esperar até que o outro veja as faltas dele. Para manter o seu
relacionamento espiritual com Cristo, você precisa se humilhar e se arrepender diante de
Deus e da outra pessoa, mesmo que ela insista em dizer que está com toda a razão. O
pecado dela contra você nunca irá desculpar o seu erro contra ela. É mesmo possível que o
ato de você se humilhar diante dela fará com que ela proceda da mesma maneira.
Estas duas coisas: a falha em perdoar e a falha em admitir culpa e pedir perdão irão
impactar sua alegria e a sua participação na única Igreja verdadeira. Se esses pecados não
forem tratados, irão interromper sua comunhão com Deus e com os outros crentes. Com o
passar do tempo, sua falha em obedecer irá relegar você a uma posição de fora da
intimidade da Igreja verdadeira e a uma vida que é, em boa parte, governada pela alma,
em vez do Espírito.
SERVINDO OS OUTROS
Quando Jesus veio a esta Terra, Ele tinha um propósito específico. Ele veio para servir
os outros. Seu objetivo não era servir-Se, nem mesmo ser servido pelos outros, mas dedicar
Sua vida para ministrar sobre as necessidades dos outros. Seu grande amor pela
humanidade o impeliu a esse estilo de vida.
Depois que Jesus iniciou o Seu ministério, todas as horas em que estava acordado
foram envolvidas nesse serviço. Aonde Ele ia; a quem Ele falava; o assunto de Suas orações;
se Ele comia ou dormia; Sua vida inteira foi comprometida com o encontro das
necessidades alheias. Portanto, é evidente que, quando estamos caminhando no Seu amor,
também as nossas vidas sejam inteiramente dedicadas a servir os outros.
Esse é um ponto muito importante. É onde "o pneu encontra a pista" em nossa vida
cristã. Se estamos caminhando em amor, haverá alguma evidência disso em nossas
atividades. Será óbvio para todos que estiverem ao nosso redor que nós temos o
compromisso de servir a Jesus, servindo o Seu corpo.
O serviço ao corpo de Cristo pode tomar muitas formas. Usualmente se relaciona ao
exercício de nossos dons espirituais.
De fato, Deus deu a todos os crentes um ou vários dons, com este propósito: servir
uns aos outros. Temos que usar as habilidades espirituais que Jesus nos deu para
beneficiar outros cristãos e até mesmo as pessoas que ainda não O conhecem.
Pode ser que passemos muito tempo em oração pelas necessidades de outros; ou que
Deus nos tenha chamado para manter o nosso foco nas necessidades materias de alguém;
ou sejamos ungidos para ensinar, para aconselhar ou para profetizar; ou tenhamos o dom
de cura ou de milagres; ou que o nosso foco primário seja ofertar financeiramente. É
infindável a variedade de maneiras pelas quais Deus pode nos usar. É impossível enu-
merar todas elas.
Mas, uma coisa está muito clara: ninguém é chamado para não fazer nada. Ninguém
do corpo de Cristo é livre para simplesmente servir a si mesmo e a sua própria família.
Cada um é requisitado por Deus para usar seu tempo e talento a fim de servir os outros.
Do mesmo modo que Jesus colocou o serviço ao próximo como Seu objetivo, Sua meta e
ambição de vida, assim também devemos nos dedicar a ministrar aos outros. Essa é a
verdadeira expressão do amor divino, o amor ágape.
O AMOR E A CRUZ
Tal devoção aos outros não é natural. Não é algo com que a alma caída se delicie.
Então, quando começamos a falar sobre o amor e sobre servir, a cruz de Cristo salta aos
olhos. Para viver uma vida de serviço, precisamos negar a nós mesmos. Precisamos
morrer para os nossos próprios desejos, prazeres e necessidades. Isso requer a morte de
nossa velha vida e natureza, de maneira que a Vida e a natureza de Cristo possam
predominar.
Quando Jesus andou por esta Terra, Ele tinha um destino final: a cruz. Ele veio para
nos servir, e Sua dedicação a esse serviço foi tão extrema, que Ele estava pronto para
morrer por nós. Esta prontidão para morrer foi a expressão máxima de Seu amor. Então,
quando estamos dispostos a viver Sua Vida e a servir o Seu corpo, esse também irá se
tornar o nosso destino.
Em 1 João 3:16, lemos: "Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós;
e devemos dar nossa vida pelos irmãos". Você vê, para amar com o amor de Jesus, também pre-
cisamos renunciar às nossas próprias vidas. Precisamos morrer para nós mesmos.
Precisamos abdicar de nossos direitos de viver para nós e de servir somente a nós
mesmos. Pelo contrário, precisamos usar o nosso tempo, energia, dinheiro, dons e
atenção para ministrar Jesus Cristo aos outros.
Esse é o verdadeiro Cristianismo. Na verdade, é o único Cristianismo. A negação de
nosso ego, a renúncia aos nossos "direitos", e um estilo de vida não egoísta são resultados
do amor divino. O amor de Deus em nós irá nos impelir a colocar de lado os nossos
interesses e prazeres e a usar as nossas habilidades e energia para abençoar outras pessoas.
Seu amor irá nos fazer usar tudo o que Ele gratuitamente nos deu, não para satisfazer
nossos desejos carnais, mas como ferramentas para servir. Mais uma vez, não devemos usar
a liberdade que Deus nos deu para servir a nós mesmos, mas, em vez disso, servir uns aos
outros em amor (Gl 5:13).
Aqueles que estão caminhando em amor irão procurar oportunidades para servir os
outros. Estarão atentos ao Espírito Santo, às outras pessoas, procurando maneiras de
serem usados por Deus para ajudar os outros. Já que suas vidas são dedicadas a isso e
também suas metas e seus objetivos, eles estarão ainda mais sensíveis aos impulsos do
Espírito Santo para estar a serviço de Seu reino.
Precisamos esclarecer bem que o serviço é algo conduzido pela nossa Cabeça
espiritual. Isso não é simplesmente uma exigência legalista. Conforme acontece com outros
aspectos do corpo de Cristo, essa parte também deve ser espiritual. Isso significa que nosso
serviço precisa ser dirigido e cumprido pelo Espírito Santo. Simplesmente se esforçar para
ser um tipo de servo não é o suficiente. Precisamos aprender a viver no Espírito e a ser
dirigidos por Ele, de maneira que nossas vidas e nosso serviço tenham valor eterno.
Claro que o serviço não é algo que se espera de bebês. De fato, a falta de dedicação
ao serviço em prol dos outros revela que a pessoa ainda está na infância espiritual.
Quando nosso foco e nosso deleite não é servir os outros, mostramos que não fizemos
progresso espiritual. À medida que amadurecemos em Cristo, cada vez mais nossos
desejos refletem os Dele. Nosso coração irá mais e mais expressar o Seu coração. Então,
qualquer falta de devoção ao corpo de Cristo, simplesmente demonstra que também
existe uma grande falta de maturidade espiritual.
Naturalmente, nosso "ministério" irá crescer junto com o nosso homem espiritual.
Quanto mais crescemos, nosso serviço será mais eficaz. Quando amadurecemos, sentimos
mais facilmente como e quando Jesus quer que nós sirvamos. Além disso, nosso serviço se
torna mais eficaz, à medida que está mais e mais sintonizado com a vontade do Pai
Celestial.
É bom notar que nossos dons espirituais não nos foram dados para impressionar
os outros e não nos foram concedidos a fim de que pudéssemos ser vistos e ouvidos. Não
recebemos dons para atrair seguidores; para nos mostrar mais espirituais; ou para nos
levantar na Igreja de maneira a exigir que outros nos sirvam. Nossos "ministérios" não nos
foram dados para usá-los como um meio de nos exaltar.
Um servo ou um escravo ocupa, em qualquer casa, um lugar humilde. Sua função é
tornar mais fácil e melhor a vida dos outros. Sempre que alguém usa o que Deus lhe deu
em benefício próprio, mostra um claro sinal de imaturidade espiritual. É uma indicação
segura de que a pessoa não está andando em intimidade com Jesus, o qual veio para ser
servo dos outros. O ego dessa pessoa está ainda dominando sua vida.
Certa vez, um irmão disse: "Todo ministério foi dado para atender uma
necessidade. Mas não é a necessidade do 'ministro', de ser visto e ouvido".
O AMOR É ...
O amor é a natureza de Deus. Portanto, a genuína expressão desse amor tem certas
características que refletem a natureza divina. Há um certo "sabor" ou "aroma" em alguém
que esteja caminhando no amor sobrenatural, que talvez seja muito difícil definir, embora
seja muito real. Há sobre uma pessoa assim algo que é uma exibição da divindade de
Cristo.
Paulo, em sua primeira carta aos Coríntios, detalha muitas dessas características, de
maneira que podemos ser capazes de identificá-las. Não apenas podemos reconhecê-las
nos outros, mas também usar tais detalhes para avaliar nossas próprias vidas. Naqueles
versículos, podemos examinar nossas vidas e ver se exibimos muito ou pouco da natureza
de Deus. Cada uma dessas características define um aspecto da natureza de Cristo, que
deveria ser evidente em nós.
Para começar, lemos que: "...o amor é paciente, é benigno..." (1 Co 13:4). Na caminhada
com o Senhor, encontraremos muitas situações que nos farão sofrer, algumas vezes muito
duramente. Muitas dessas ocasiões são provocadas por outras pessoas. É muito fácil,
quando alguém nos provoca dor, termos uma reação maldosa. Isso é especialmente
verdadeiro quando o sofrimento dura um longo tempo. Talvez o tempo seja de um, dois,
dez ou mesmo trinta anos.
Em tais situações, o amor de Deus sofre pacientemente e continua a ser bondoso com
a outra pessoa que está nos causando dor. O amor humano nunca pode fazer isso. Ele
desaponta e, freqüentemente, desaponta rapidamente. Mas o amor sobrenatural de Deus
continua a amar e a ser bondoso, mesmo quando se depara com um sofrimento
prolongado. O amor Dele é o único amor que se comporta desta maneira.
Pode ser que o seu sofrimento não seja provocado por uma outra pessoa. Talvez você
esteja doente ou sentindo dores. Mas a expressão de bondade ainda deve ser sua. Se nos
tornarmos ranzinzas, impacientes e difíceis por causa de nossa dor, isso será uma
evidência de que precisamos de muito mais intimidade com a fonte do amor real, que é
Jesus.
Somos também ensinados que: "...o amor não arde em ciúmes..." (1 Co 13:4). Já que
Jesus é muito humilde, Sua natureza em nós não deve ser invejosa em relação aqueles que
têm mais do que nós. Os que são cheios de Sua Vida não se preocupam se alguém tem mais
dinheiro ou bens mundanos. Eles não se frustram quando outros são bem sucedidos e eles,
não. Não estão lutando para possuir tanto quanto ou até mais do que outros possuem.
Não se preocupam quando outra pessoa é mais notada, mais usada por Deus, mais
elogiada ou mais reconhecida. Não se tornam amargos quando outros são beneficiados e
eles, não. Têm alegria em ver que alguém está sendo abençoado, porque seus corações
estão batendo em harmonia com o seu Criador.
Aprendemos ainda que "o amor não se ensoberbece..." e que não é orgulhoso (1 Co
13:4). Isso mostra que os que estão caminhando no amor de Deus não estão à procura de
reconhecimento. Não são orgulhosos do que possuem, em termos de bens materiais; não
são cheios de si por causa de sua inteligência, beleza pessoal ou qualquer outra vantagem
humana; não são arrogantes por causa dos seus dons espirituais ou pela maneira como
Deus os está usando. Essas pessoas não estão procurando oportunidades de serem vistas
ou ouvidas e não querem, de maneira alguma, impressionar outras pessoas. Ao contrário,
o sabor da verdadeira humildade permeia a vida deles e o seu ministério.
O amor também "...não se conduz inconvenientemente, não procura os seus
interesses..." (1 Co 13:5). O amor divino não é agressivo. Não demanda "seus direitos", em
determinadas situações. Aqueles que estão cheios de tal amor não ofendem os outros,
insistindo em que seus métodos e desejos estejam corretos e devam ser cumpridos; não
pleiteiam suas idéias e opiniões como as únicas corretas; não usam o próximo em
benefício próprio; não procuram a sua própria satisfação em qualquer situação; mas
preferem assegurar-se de que os outros estão sendo abençoados.
Aqueles que caminham em amor não se exasperam (1 Co 13:5). Não se ofendem
facilmente. Quando são tratados miseravelmente; quando são ignorados; quando são mal
compreendidos; quando alguém peca contra eles; não ficam instantaneamente irritados e
irados. Por serem humildes, seu orgulho não é ferido.
Tais pessoas verdadeiramente amorosas não reagem de forma natural à
provocação; não tentam retaliar quando outros as machucam ou ferem; não "dão o troco".
Ao contrário, com os olhos do Espírito, essas pessoas enxergam além da situação aparente
e sentem o coração amoroso de Deus para com as pessoas que abusam delas. As pessoas
cheias do amor de Deus são muito inocentes e sem malícia.
Pessoas assim vivem um amor que "...não se ressente do mal..." (1 Co 13:5). Não são
rápidas em imputar aos outros motivos errados; não gastam tempo julgando
pensamentos e intenções alheios; não perdem tempo imaginando que os outros pensam
mal deles nem lhes imputando vários pecados. Realmente existe uma atitude pura, um
tipo de "santa inocência" para com o mal, que permeia a vida daqueles que andam em
amor.
Obviamente, o amor "...não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a
verdade..." (1 Co 13:6). Pessoas realmente amorosas não ficam felizes quando alguém cai
em pecado. Quando coisas ruins acontecem com aqueles que se opuseram a elas e lhes
fizeram feridas, isso não as fazem felizes. Não se agradam em ver que aquelas pessoas
"finalmente" estão recebendo o que merecem.
Em vez disso, oram por seus inimigos. Seu amor não permite que elas gostem de ver
as dores, dificuldades e falhas daqueles que as maltrataram e abusaram delas. Elas se
alegram quando os vêem crescendo espiritualmente e se regozijam quando os outros são
precisamos andar em uma intimidade cada vez maior com Deus. Precisamos persistir
Nele, recebendo continuamente o fluir da Vida Divina, que irá nos transformar à Sua
imagem.
A CASA DE DEUS
Se você fosse solicitado a viver numa casa com algumas pessoas estranhas, onde você
escolheria viver? Você gostaria de estar com aqueles que constantemente discutem e
lutam entre si? Gostaria de um ambiente onde houvesse sempre uma propensão ao
ódio, tensão, animosidade ou medo? Será que uma atmosfera de orgulho, inveja,
disputas e brigas o atrairia? Claro que não!
Você, é claro, iria escolher um lugar onde as pessoas se amassem. Procuraria uma
casa onde houvesse paz e harmonia, e iria procurar um lugar onde fosse aceito e
calorosamente bem-vindo.
Isso também é verdadeiro para com Deus. Onde Ele Se agradaria de morar? Entre
quais pessoas Ele estaria satisfeito em viver? Com que grupo de pessoas Ele estabeleceria
Sua morada eterna? Sem dúvida, será entre aqueles que amam uns aos outros. Um
ambiente de amor, que reflete Sua própria Natureza, irá certamente agradá-Lo. Ele será
atraído por pessoas que vivem em amor e unidade.
Esse, certamente, é o lugar onde Ele vai morar. Essa é a Sua verdadeira casa, onde Ele
planejou viver eternamente. Todos nós fazemos bem em ocupar nosso tempo construindo
tal casa para Ele. Mais uma vez, lemos: "Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os
irmãos! É como o óleo precioso sobre a cabeça, o qual desce para a barba, a barba de Arão,
e desce para a gola de suas vestes. É como o orvalho do Hermom, que desce sobre os
montes de Sião. Ali, o Senhor ordena a sua bênção e a vida para sempre" (Sl 133).
Essa atmosfera de união amorosa é "boa e agradável" para nós e também para o
próprio Deus. Aqui, neste capítulo, tentamos definir, de um modo simples, o que é o amor
divino. Talvez, para muitos leitores, esse padrão pareça muito alto e inatingível. Eles
podem imaginar que irão freqüentemente se decepcionar com tão alto padrão. No
entanto, não devemos nos desencorajar e simplesmente nos contentar com o pouco que
temos.
De novo, precisamos lembrar que o próprio Deus é a fonte desse amor. Não é algo
que possamos produzir por nós mesmos. Então, nosso trabalho é simplesmente
permanecer Nele. Precisamos estabelecer e manter uma intimidade com Jesus. Precisamos
aprender a entrar em Sua presença. Então iremos encontrar um suprimento ilimitado de
amor de uns para com os outros.
hoje em dia. Seu progresso espiritual está paralisado ou é interrompido por muitos
fatores.
Talvez eles não estejam perdoando os irmãos que os têm ofendido. Possivelmente
não se arrependeram de coisas que fizeram no passado. Isso inclui não apenas o
arrependimento diante de Deus, mas também diante daqueles contra os quais tenham
pecado. Inclui também a restituição de qualquer coisa roubada ou tirada erradamente de
alguém. Um completo arrependimento diante de outros e a restauração de tudo é um
ingrediente essencial para o progresso espiritual.
É possível que alguns estejam parados espiritualmente, porque ainda amam este
mundo. Estão correndo atrás do sucesso e do dinheiro. Seus corações estão divididos, não
estando completamente fixados em Jesus. Nessa situação, eles têm dificuldade de receber
algo do Senhor (Tg 1:6,7). Sua vida espiritual é fracassada devido à divisão de suas
atenções e afetos.
O número de causas possíveis para a falha ou a interrupção da vida espiritual é
muito grande. Mas, a evidência que expõe essa condição é a mesma: qualquer um que não
ame seus irmãos está com um sério problema espiritual. Está longe de Deus; não caminha
em intimidade com Ele. Seu cristianismo é realmente uma farsa. Qualquer suposto "andar
com o Senhor" que não manifesta o Seu amor, é apenas um show vazio - uma falsa
aparência. Quando não amamos, estamos desviados, longe do caminho.
Não podemos olhar para os que estão ao nosso redor e nos basear no padrão deles. O
fato de que muitos outros cristãos não amem; não expressem a Natureza de Deus; sejam
apenas assistentes regulares da igreja; ainda caminhem na carne; não pode ser modelo
para nossa vida espiritual.
O único parâmetro para mostrar se estamos ou não verdadeiramente caminhando
com Deus é se amamos ou não os nossos irmãos. A expressão deste amor sobrenatural é a
evidência de uma correta posição diante de Deus.
Nunca devemos julgar nossa condição espiritual pelo fato de manifestarmos dons
espirituais, termos unção para pregar ou ensinar ou termos muitas revelações. Todas essas
coisas, embora sejam dons dados por Deus, não estão diretamente relacionadas com o
nosso crescimento espiritual diante Dele. Apenas a evidência do amor divino é o
verdadeiro teste de nossa condição espiritual.
Muitos confundem o fato de experimentarem uma unção, um dom ou uma
revelação, com a indicação de que Deus está satisfeito com eles. Em vez do amor
verdadeiro e divino ser o padrão, eles confiam no fato de que possuem e usam dons espi-
rituais, para provar que estão retos diante de Deus. Entretanto, esse não é o teste
verdadeiro .
Em 1 Coríntios 13, aprendemos que, ainda que tenhamos dons extraordinários (por
exemplo, curar os enfermos, levantar os mortos e mesmo mover montanhas), sem amor,
tudo isso é vão. No mesmo capítulo, lemos que podemos compreender coisas
maravilhosas da Bíblia, as quais nos permitem pregar de uma maneira impressionante.
Possivelmente, muitos tenham grande respeito pelo nosso ministério. Mas, sem o amor
de Deus, todos os dons e ministérios são simplesmente como o som de um instrumento
musical, que é ouvido por um momento e depois desaparece, ou como o vento que passa.
Hoje há muitos homens e mulheres que se afastaram da intimidade com Jesus e até
mesmo caíram em pecado, tal como o do adultério etc. Entretanto, seus dons ou
ministérios ainda "funcionam". Assim, eles se iludem, pensando que Deus está satisfeito
com eles. Já que há alguma "unção" sobre eles, não podem estar errados. No entanto, o
único teste verdadeiro, capaz de mostrar se estamos na posição correta diante de Deus, é
manifestar a todos o Seu amor, altruisticamente. Esta virtude somente pode ser obtida por
um contínuo relacionamento íntimo com Jesus.
Portanto, precisamos: procurar por isso com todo o nosso coração; pedir ao nosso
Salvador para nos mostrar o que existe dentro de nós que impede o fluir do amor
divino; e, se necessário, orar e jejuar para que Deus possa limpar nossa vida de todos os
impedimentos que estão atrapalhando o fluir do Seu amor. À medida que caminhamos em
progressiva transparência e intimidade com Jesus, Seu amor irá se expressar por meio de
nós para a Igreja e para o mundo.
CAPÍTULO 11
COISAS QUE DESTROEM
Neste livro, temos falado sobre a gloriosa experiência da verdadeira Igreja. Temos
examinado muitos aspectos da noiva de Cristo, que são verdadeiramente extraordinários,
notáveis e agradáveis. A sublime intimidade com Deus e com os outros crentes é algo que
flui livremente do coração do Pai e que deveria ser uma experiência natural para todos os
cristãos.
No entanto, na prática, nem sempre é isso o que acontece. A experiência da Igreja
verdadeira deveria acontecer facilmente, entretanto, geralmente não acontece em absoluto
ou se perde rapidamente nos lugares em que chegou a existir.
Crentes vivendo em amor e realizando encontros com a simplicidade divina deveria
ser uma experiência normal e comum. Isso deveria ser muito fácil e natural, já que não
requer nada dramático, espetacular ou caro. No entanto, na prática, é uma das coisas
mais difíceis de serem encontradas na Terra.
O problema está em que Deus tem um inimigo. O diabo está constantemente
batalhando, tentando destruir o que vem de dentro do coração de Deus. Sendo a noiva
muito amada por Deus e a experiência da verdadeira Igreja um veículo tão poderoso
para causar crescimento e perfeição em Seu corpo, Satanás sempre dá o melhor de si
para destruir qualquer expressão dessa experiência.
O diabo não só tem muitos demônios e anjos caídos para ajudá-lo em sua obra
destrutiva, como também encontra muitos cristãos que estão sempre prontos para ajudá-lo
e aptos a fazê-lo. Não estou dizendo que esses crentes estejam intencionalmente
cooperando com o diabo, mas que eles são pessoas, em cujas vidas Satanás encontra
muitas coisas com as quais pode trabalhar. Qualquer parte de nossa alma, ainda não
transformada e pecadora, é algo que o diabo pode usar, e ele o faz. Quando nossa natureza
pecadora permanece intacta e ainda não nos arrependemos completamente de nossos
pecados, então somos uma presa fácil para o inimigo de Deus.
Muitos crentes podem ser usados, e freqüentemente o são, para destruir a obra de
Deus. Talvez a sua experiência na Igreja cristã verifique esse fato desastroso. Quando os
crentes são infantis, carnais, não transformados e com pouca comunhão íntima com Deus,
eles são facilmente usados pelo diabo. Por estarem dentro da Igreja, tendo acesso a muitas
vidas e a muitos corações de outros crentes, que fazem parte do corpo de Cristo, eles são
instrumentos perfeitos para as obras de Satanás.
DESTRUIDOR N° 1 - A LÍNGUA
Um dos usos comuns que o diabo faz de cristãos carnais é difamar os outros. O
diabo ama uma língua não transformada. Nada é melhor para ele do que fofocas,
maledicências, alguém que discorra sobre as falhas dos outros e conte a todos sobre as
coisas ruins que ouviram a respeito de alguém.
Vejam só, os crentes naturais, que vivem na esfera da alma, ainda são muito
parecidos com as pessoas mundanas. Eles gostam de imaginar que são melhores do que
todos os outros e acreditam que, criticando os outros, estão se elevando.
Compartilhando seus pensamentos, que aviltam outros, estão tentando convencer você
de que são superiores àqueles que estão difamando. Imaginam que, colocando os
outros "para baixo", estão se elevando. Entretanto, o que estão realmente fazendo é
revelando uma infância espiritual e a distância da verdadeira intimidade com Deus.
Muitos cristãos, quando ouvem algo ruim sobre um irmão ou irmã, mal agüentam
esperar para contar a alguém. É como se os seus lábios estivessem coçando, desejando
ardentemente contar aos outros. Provérbios 16:27 diz: "O homem depravado cava o mal, e
nos seus lábios há como que fogo ardente". Eles descobrem um certo prazer em expor as
faltas e as falhas dos irmãos. Deliciam-se em tentar demonstrar como os outros são fracos
e como são pegos em determinados pecados.
A Bíblia nos ensina que "...a boca fala do que está cheio o coração" (Mt 12:34).
Ninguém, a não ser Deus, pode ver dentro dos nossos corações. A nossa vida interior é
invisível aos outros. Mas, quando falamos, revelamos o que há dentro de nós. Portanto,
aquilo que dizemos é uma clara demonstração daquilo que somos. Aquilo que sai de
nossa boca é uma expressão transparente do que está em nosso coração. Então, quando
fazemos mexericos ou críticas ou falamos coisas que difamam a outros, isso revela que
nossas almas ainda não foram transformadas.
Esse é o motivo pelo qual Tiago fala tão vigorosamente sobre a língua. Ele explica que
ela é um órgão incontrolável. Ela é freqüentemente "posta em chamas pelo inferno" (Tg 3:
5,6), o que quer dizer que ela é uma parte de nós freqüentemente usada pelo diabo, cujo
destino é o inferno.
Depois, ele afirma que, se somos capazes de controlar nossa língua, isso revela que
somos pessoas nas quais Deus fez uma obra maravilhosa. Ele tem nos aperfeiçoado,
transformando-nos à Sua imagem. Vejam, se fomos transformados por dentro, nada de mal
poderá sair de nós. Mas, se permanecemos carnais, então nosso discurso irá revelar essa
falha.
Quando falamos algo maldoso sobre um irmão ou uma irmã, estamos falando
sobre um membro do corpo de Jesus.
Portanto, estamos também falando sobre Ele. Estamos usando nossas palavras para
golpear e dividir a estrutura de Sua Igreja. Estamos sendo usados por Satanás como uma
arma para ferir e destruir os outros membros.
Nossas palavras são as ferramentas que separam e dividem os crentes. Elas são
instrumentos do diabo, usadas para fazer com que as pessoas pensem mal umas das
outras. Nós nos "mordemos e devoramos" uns aos outros (Gl 5:15), sendo estimulados pela
nossa natureza caída, pela gratificação carnal, pela diversão e pelo sentimento de
superioridade.
Tudo isso, então, serve para destruir o amor, quebrar a unidade, semear discórdia e,
em geral, derrubar a obra de Deus. Quando difamamos e fofocamos, em vez de construir a
Igreja, nós a colocamos abaixo e a profanamos. Em vez de edificar o corpo de Cristo, nós o
ferimos. Esta é a obra do diabo. Ele veio para matar, roubar e destruir (Jo 10:10). Quando
permitimos que nossa língua fale maldosamente ou de maneira a humilhar os outros,
somos simplesmente instrumentos do príncipe das trevas. Estamos sendo usados como
peões dele para derrubar a obra de Deus.
O AMOR COBRE
Como já vimos, o caminho de Deus é o caminho do amor. Deus ama o Seu corpo, a
Sua Igreja. Quando você ama alguém, não fala mal dele(a). Imagine que você tenha um
filho a quem você ama. Talvez ele tenha pecado, de uma maneira ou de outra. Ele
escorregou em sua caminhada espiritual e cometeu um erro. Por amá-lo, você não sai por
aí espalhando essa notícia. Não conta a todas as pessoas que conhece a respeito de suas
falhas ou de seus lapsos morais. Em vez disso, encobre o pecado dele, mantendo-o entre
você, ele e Deus.
A Bíblia nos ensina que "...o amor cobre multidão de pecados" (1 Pe 4:8). Quando
estamos cheios do amor de Deus, não anunciamos e nem expomos os pecados dos
outros. Em vez disso, nós os cobrimos. Sendo motivados pelo amor divino por nosso
irmão em Cristo, lidamos com a situação e com ele, envolvendo o mínimo possível de
pessoas e tendo uma atitude de humildade e de amor.
Isso não quer dizer que devemos tolerar o pecado. Certamente alguém que esteja
pecando necessita de uma conversa, necessita ser admoestado, repreendido, aconselhado
ou tratado de várias maneiras. No entanto, porque nós mesmos somos pecadores
necessitados de misericórdia, precisamos lidar com eles do mesmo modo. Sem um ar de
superioridade, mas com humildade e amor, precisamos nos dirigir a alguém que esteja
em pecado e tentar convencê-lo a se arrepender.
De maneira alguma, devemos noticiar e contar ao mundo sobre o pecado de uma
pessoa. Em vez disso, por amá-la, devemos fazer o melhor possível para resgatá-la do laço
do diabo e restaurá-la para uma intimidade com Deus. Esse tipo de amor zeloso é uma
expressão do coração de Jesus.
Conforme vimos, a Igreja é mantida unida pelo amor. Nossa comunhão amorosa com
outros é a substância que faz com que os crentes se liguem uns aos outros. Então, o diabo,
constantemente, tenta quebrar esse compromisso. Ele irá colocar nas mentes dos crentes
fracos vários pensamentos de crítica, julgamento e fofoca. Então, já que esses crentes são
vulneráveis a tais pensamentos, ele os estimula a verbalizá-los aos outros. Então, eles
também agem como "acusadores" dos irmãos (Ap 12:10).
Quando ouvimos algo ruim sobre alguém, nossa reação natural é de nos afastar dessa
pessoa. Começamos a pensar que, se ela é tão deficiente, quem deseja ser íntimo dela? Se
têm fraquezas e problemas tão sérios, podemos nos ferir ou nos decepcionar, se
continuarmos a nos relacionar com ela. Então, nossa reação é fechar nossos corações para
pessoas assim, e a tendência é passar menos tempo com elas.
Desse modo, Satanás usa os crentes para atacar verbalmente outros crentes e
derrubar a "liga" da Igreja. Quando muitos crentes são fracos e carnais, então o corpo de
Cristo estará cheio de tais falatórios. Essa é uma das ferramentas mais poderosas que o
diabo possui e uma coisa que é extremamente destrutiva para uma genuína experiência
de Igreja.
Portanto, aqueles que desejam experimentar a realidade da Igreja, devem tomar uma
decisão importante e firme: escolher nunca falar mal de um irmão ou de uma irmã.
Lemos: "...não difamem a ninguém..." (Tt 3:2). E também: "...não faleis mal uns dos outros"
(Tg 4:11). Essa decisão é absolutamente essencial. Precisamos constantemente observar a
nossa língua. Precisamos vigiar para que nossa boca não expresse palavras de reprovação a
ninguém, mesmo que nossa mente esteja cheia delas e nossa língua esteja ansiosa para
dizê-las.
Quando fofocamos, julgamos ou difamamos alguém, pecamos contra ele e contra
Deus. Se deixarmos esse tipo de palavra escapar, precisamos imediatamente nos
arrepender diante de quem nos ouviu e diante do Senhor. Somente desse modo
poderemos manter a unidade amorosa que Deus tem para nós.
SEMEANDO DISCÓRDIA
Há algumas coisas que Deus odeia. Uma delas é "...o que semeia contendas entre os
irmãos" (Pv 6:19). Quando permitimos que o diabo nos use como instrumentos, nos
colocamos em oposição a Deus e a todos os Seus propósitos. Quer saibamos disso ou não,
estamos cooperando com o reino das trevas. Quando temos o hábito de falar mal dos
outros e de fofocar sobre suas falhas, então somos membros regulares do grupo de
trabalhadores do diabo.
Tristemente, há muitos crentes que fazem mais para promover o reino das trevas do
que para o reino de Deus. Já que não se convenceram dos seus pecados, incluindo os
hábitos de discursos pecaminosos, eles não se arrependem diante de Deus. A falta de
arrependimento impede a transformação deles. O resultado direto disto é que eles não são
eficazes em qualquer obra que façam para o Senhor. Mas, pior ainda, eles são freqüente e
poderosamente usados por Satanás para derrubar o que Deus está tentando construir.
Vamos deixar bem claro: o fato de ser verdadeiro aquilo que dissemos a respeito de
alguém não justifica que falemos sobre ele. Muitos supõem que, se o mexerico ou o
julgamento que estão compartilhando com alguém é verdadeiro, então está tudo certo com
Deus. Aqueles que imaginam isso se decepcionam lamentavelmente. Qualquer palavra
nossa, que denigra aqueles a quem Deus ama e destrua relacionamentos amorosos entre
os irmãos, é uma obra das trevas.
Muitas das faltas e falhas dos outros, sobre as quais tomamos conhecimento, são
realmente verdadeiras. Muitos rumores e falatórios sobre irmãos são baseados em algum
fato real. Mas, o amor evita falar a respeito. Novamente, "o amor cobre pecados" (1 Pe 4:8).
Deus, nosso Pai, ama a cada um de Seus filhos o suficiente para morrer por eles. A menos
que também cheguemos a essa posição, nunca seremos bem sucedidos em viver a
realidade da única Igreja verdadeira. Em vez disso, permaneceremos suscetíveis à
influência de Satanás.
NÃO JULGUEIS
Nenhum de nós está em posição de julgar algum irmão ou irmã. Não somos capazes
de ver dentro de seus corações. Não conhecemos seus desejos íntimos, seus problemas,
seus medos e suas experiências. Portanto, não podemos realmente conhecer seus motivos
para fazer o que fizeram ou para dizer o que disseram. Somente Deus está em posição de
julgar corretamente. Vamos deixar o julgamento com Ele.
Jesus nos ensina: "Não julgueis, para que não sejais julgados. Pois com o critério com
que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão
também" (Mt 7:1,2). Isto significa que, a menos que nos arrependamos, Deus irá usar os
mesmos padrões, com os quais julgamos os outros, para nos julgar. A exata medida, que
usamos em termos de julgamento dos motivos e das ações dos outros, será usada para
nos expor diante do Universo.
Todos somos pecadores. Todos temos falhas e fraquezas. Portanto, não estamos em
posição de fazer julgamento dos outros, que também são fracos. Lemos: "Irmãos, não faleis
mal uns dos outros. Aquele que fala mal do irmão ou julga a seu irmão fala mal [usando]
da lei e julga [segundo] a lei; ora, se julgas [usando] a lei, não és observador da lei, mas
juiz" (Tg 4:11).
Não temos permissão para julgar os outros, usando os padrões do Velho
Testamento ou mesmo segundo o que acreditamos ser "os princípios do Novo
Testamento". Nosso padrão deve ser o amor de Deus. Somente vendo através de Seus
olhos e sentindo o amor de Seu coração, podemos agir e falar de uma maneira que Lhe
agrade.
Não há dúvida de que existem momentos em que as palavras e as ações dos
outros O desagradam. Há ocasiões em que devemos repreender, exortar ou corrigir
alguém. Entretanto, isso não nos dá a liberdade de compartilhar com outros a respeito
das ações da pessoa que pecou. Nossas palavras devem ser dirigidas à pessoa que está em
pecado, e não ao resto do corpo.
Então vimos que um dos principais modos pelos quais a unidade do corpo de
Cristo é destruída é pela nossa língua descontrolada. Nossas palavras são instrumentos
poderosos que Satanás pode usar para favorecer seus propósitos. Portanto, precisamos
procurar a Deus, para que Ele transforme nosso interior.
Precisamos orar para que o Espírito Santo seja expresso por meio de nossa boca.
Devemos vigiar para não deixar que nossa boca expresse todos os pensamentos que vêm à
nossa mente. Somente submetendo nossos pensamentos e nossas palavras ao controle do
Senhor Jesus, poderemos construir a Sua casa em vez de derrubá-la.
DESTRUIDOR N° 2 : A AMBIÇÃO
Uma outra coisa que trabalha poderosamente para destruir a casa de Deus é a
ambição humana. Os seres humanos freqüentemente têm, dentro de si, certos desejos:
desejam ser admirados; gostam de ser vistos e ouvidos; amam quando as pessoas pensam
e falam bem deles; adoram honra, atenção e até mesmo adoração que venham de outros
seres humanos.
Alguns amam elevar-se sobre os outros para controlá-los e dominá-los. Sentem-se
orgulhosos quando os outros os olham com inveja, por causa de sua fama e de sua
posição. Não são poucos os que se empenham com toda a capacidade para atingir status no
mundo atual.
Esses desejos são obras da carne corrompida. Eles são feios, pútridos, expressões
nojentas da natureza pecadora, que mora em homens e mulheres não transformados e
profanos. É a manifestação de tal ambição na Igreja que freqüentemente serve para dividir
e destruir a obra de Deus. O impulso, que muitos possuem, de se levantar e dominar
sobre os outros é a causa de muita divisão, confusão e falta de progresso espiritual na
Igreja atual.
Quando nascemos de novo, recebemos dons e habilidades espirituais de Deus. Essas
dávidas nos são concedidas para que possamos servir uns aos outros, de maneira que
todos cresçam na plenitude de Cristo. Entretanto, quando alguns crentes têm em seu
coração um desejo e uma ambição de se realçarem, de serem notados e até mesmo
admirados, então eles começam a usar esses dons para tentar impressionar os outros e,
assim, obter os resultados que estão buscando. Eles querem fazer uma obra poderosa
"para Deus".
Por exemplo, vamos supor que alguém tenha recebido um poderoso dom para
pregar ou ensinar. Quando essa pessoa abre sua boca no exercício de seu ministério, há
uma unção sobrenatural que acompanha o seu dom. Naturalmente, os outros ficam
impressionados. Então, quando esse filho de Deus não é humilde, quando existe em seu
coração uma ambição de se exaltar, ele começa a usar o dom de Deus para atingir suas
metas pessoais.
Homens e mulheres assim estão sempre procurando uma audiência maior. Eles
estão ávidos para aceitar todos os convites, a fim de mostrar a sua proeza espiritual. Estão
sempre ansiosos para causar boa impressão ao maior número possível de pessoas, deste
modo aumentando sua fama e sua esfera de influência. Tal tendência não se limita a
pregadores e mestres, mas também aos que têm dons de cura, profecia, milagres, cantos
etc.
A atitude de coração que os crentes precisam ter é inteiramente diferente. Lemos:
"Nada [isso realmente significa nada] façais por partidarismo ou vanglória, mas por
humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo" (Fp 2:3).
Vejam, orgulho, a ambição de ser visto e ouvido e de dominar sobre outros não têm
lugar nenhum na vida de um verdadeiro seguidor de Jesus!
Vamos, juntos, pensar nisto. Quem foi o primeiro a usar os dons e talentos que Deus
lhe deu para atrair um grupo de seguidores? Quem foi aquele que tinha inteligência, boa
aparência e habilidades espirituais para atrair e prender um grande número de adeptos e
de devotos?
Esse ser cheio de dons e habilidades foi o próprio Satanás. Ele foi o primeiro a usar o
que Deus liberalmente lhe deu para conseguir seguidores. Portanto, é lógico concluir que
aqueles que seguem o mesmo caminho não estão seguindo os passos de Jesus, mas de
alguém muito maligno.
Quando a ambição é o motivo por trás das obras de alguém, muitos problemas
ocorrem. Um deles é que o corpo de Cristo começa a ser dividido. Obviamente, nem todo
cristão se impressionará com uma pessoa assim, então automaticamente ela tenta
conseguir um grupo especial da Igreja somente para ela. Trabalha para separar para si
uma parte do corpo de Cristo, que está encantada com sua pessoa e com sua obra ou
"ministério". Esse, então, se torna o "seu" grupo ou a "sua" igreja, resultando em uma
divisão dentro do corpo.
Aqueles que estão assim divididos se tornam limitados em seu contato com os
outros. O ministério que recebem também é limitado, vindo apenas de uma ou de umas
poucas fontes aprovadas. Assim, o seu crescimento espiritual é restrito, já que não têm
acesso a muitas facetas do corpo completo de Cristo. A divisão da Igreja em facções que
abraçam e seguem certos líderes cheios de dons é um condição muito comum hoje.
Um outro problema ainda mais sério é que esses líderes que se levantam para atrair
seguidores começam a substituir a liderança de Cristo na vida de seus adeptos. É bastante
fácil para muitos crentes, especialmente aqueles que não são maduros, começar a olhar
para uma liderança humana e confiar em sua direção. Quando esses líderes se levantam,
exibindo dons espirituais e poderes sobrenaturais, isso apenas serve para estimular tal
confiança mal colocada.
Hoje Jesus é invisível. Não O conhecemos fisicamente, mas O conhecemos por meio
do Espírito Santo. Sua invisibilidade é necessária para que Ele seja onipresente. Se Ele
fosse visível, como era há dois mil anos, somente poderia estar em um único lugar, em um
determinado tempo. Mas, agora que Ele é "o Espírito" (2 Co 3:17), pode estar presente com
todos os seus filhos ao mesmo tempo. É por meio de Sua presença espiritual que Jesus
lidera e dirige cada crente. É a Sua liderança invisível que produz a realidade da única
Igreja verdadeira.
Toda vez que uma pessoa começa a substituir Jesus na liderança de Seu corpo,
problemas sérios começam a surgir. A habilidade da Cabeça para dirigir cada membro
torna-se restrita. Além disso, o foco de cada membro do corpo muda: de procurar somente
a Deus, para olhar para fontes humanas. Isso, então, paralisa, confunde e impede o
completo funcionamento da Igreja. E isso atrapalha os membros a seguir cada direção e
nuance da Cabeça.
Os seres humanos possuem certas limitações físicas. Somente podem olhar para uma
única direção por vez. Existem outras criaturas, como os lagartos e os peixes, que podem
olhar em duas direções de uma só vez, mas as pessoas não podem. Embora isso seja uma
limitação, pode trazer aplicações espirituais.
Não é possível que os cristãos tenham duas "cabeças" ou fontes de direção e
ministério. Eles simplesmente não podem focar simultaneamente em duas direções. Não é
possível ter dois senhores (Mt 6:24), pois estes iriam continuamente competir pela
supremacia no coração humano, até que um deles vencesse. Usualmente, aquele que tem a
presença mais tangível, vence, porque os seres humanos são muito mais sintonizados
ao mundo físico, do que ao mundo invisível do Espírito.
No capítulo 5, já estudamos sobre o significado da palavra grega "anticristo". Este
seria alguém que estaria tomando o lugar pertencente a Cristo na assembléia. Tal
substituição é extremamente prejudicial às vidas daqueles que estão sendo governados
por meros seres humanos, pois o crescimento espiritual deles fica muito truncado e a
habilidade para ouvir e seguir o Senhor se paralisa.
Mas também isso é extremamente perigoso para a vida espiritual da pessoa que está
se levantando para tomar o lugar de Cristo na assembléia. Embora hoje, na "era da graça",
não vejamos o julgamento de Deus caindo sobre nós por causa de nossos erros e pecados,
quando Ele voltar para julgar o Seu povo, nossas falhas em obedecer às Suas claras
instruções terão sérias e eternas conseqüências.
O desejo carnal dos cristãos de se elevar e dominar sobre os outros estava também
presente na Igreja primitiva. Já estudamos sobre as obras e as palavras de Diótrefes, que
tomou o controle e começou a dominar uma igreja, conforme descrito em 3 João. Mas
existiram outros, que, sem humildade e compreensão espiritual, também tiveram
ambições naturais.
O EXEMPLO DE PAULO
Paulo era um homem que ministrava às igrejas como um servo. Ele nunca se
exaltou. Freqüentemente aparecia como "fraco" e era muitas vezes ultrajado e desprezado
pela sua falta de aparência de comandante, que intimida a outros (2 Co 10:10). Seu serviço
para o corpo era o de ajudar as pessoas a se ligarem a Cristo, como uma noiva se liga a seu
marido (2 Co 11:2). Ele não procurava se tornar um grande e famoso líder. No entanto,
Deus lhe revelou que outros, que viriam depois, iriam procurar exatamente essa posição.
Quando Paulo visitou os líderes em Éfeso, a caminho de Jerusalém, explicou-lhes
esse perigo futuro. Eles estavam todos juntos na praia, chorando e expressando amor uns
pelos outros. Naquela situação, ele disse: "Eu sei que, depois de minha partida, entre vós
penetrarão lobos vorazes, que não pouparão o rebanho. E que, dentre vós mesmos, se
levantarão homens falando coisas pervertidas [sutilmente alteradas] para arrastar os dis-
cípulos atrás deles. Portanto, vigiai, lembrando-vos de que, por três anos, noite e dia, não
cessei de admoestar, com lágrimas, a cada um [sobre esse perigo futuro]" (At 20:29-31).
Segundo Paulo, os indivíduos que viriam, seriam pessoas que iriam distorcer as
Escrituras e a verdade de Deus. Iriam usar as verdades bíblicas, sutilmente modificadas,
para justificar e fortificar a posição deles de se levantar e de atrair seguidores. Seriam
cristãos ambiciosos e usariam seus dons, e tudo que Deus havia lhes dado, para
satisfazer seus desejos carnais por fama e posição.
Paulo constantemente advertia sobre esse perigo com lágrimas. Ele sabia que, mais
tarde, viriam alguns que não teriam as mesmas atitudes de coração que ele tinha. Eles não
iriam ter a mesma compreensão da importância de manter a liderança de Cristo. E ele
estava certo. Mais tarde, lemos na carta de Paulo a Timóteo: "Estás ciente de que todos
os da Ásia me abandonaram..." (2 Tm 1:15). Lembrem-se que Éfeso estava no local
denominado "Ásia" naqueles tempos. Conforme Paulo profetizou, alguns se levantaram
naquelas igrejas para atrair seguidores para si próprios, que acabaram se afastando de
Paulo.
E, como em qualquer outra situação semelhante, esse tipo de líder busca defender seu
"gramado" e "proteger" seu rebanho de outros, que podem ser vistos como "ameaças"
para sua liderança.
Então, começam a minar a influência de outros. Usando palavras, insinuações,
conclusões sutis ou mentiras completas, atacam qualquer um que possa ser visto como
uma ameaça. Naquele caso, como Paulo era influente por causa de seu relacionamento
com Jesus e por seu ministério ungido, aqueles líderes, na Ásia, tinham que fazer as
pessoas abandoná-lo.
Em Colossenses 2:18-19, lemos: "Ninguém se faça árbitro contra vós outros,
pretextando humildade e culto dos anjos, baseando-se em visões, enfatuado, sem motivo
algum, na sua mente carnal, e não retendo a Cabeça, da qual todo o Corpo, suprido e bem
vinculado por suas juntas e ligamentos, cresce o crescimento que procede de Deus."
Estes versos parecem descrever um "bicho", o qual nunca vi, em mais de trinta anos
de ministério. Parecem falar sobre alguém que é falsamente humilde, no entanto,
ensoberbecido, adorando anjos e alegando ter visões. Embora houvesse poucos que se
encaixassem nessa categoria, parece estranho que Paulo use parte de sua pequena carta
para advertir sobre tal "pássaro raro".
Mas, talvez com um pouco de ajuda, possamos ver aqui algo muito mais comum.
Primeiro, compreendemos que tais pessoas não estavam "retendo a Cabeça", que significa
que falhavam em manter a liderança de Jesus. Além disso, estavam interrompendo o
relacionamento dos outros com a verdadeira Autoridade, assim privando-os (dominando
a seu bel-prazer - VRC) das recompensas espirituais por tal submissão. Essa é exatamente
a situação sobre a qual estamos discutindo.
Essas pessoas ensinavam uma "falsa humildade", que poderia ser facilmente
compreendida como um encorajamento para outros se submeterem a elas. Além disso,
ensinavam a adorar "os anjos". A palavra "anjos" quer dizer, literalmente, no Grego,
"mensageiros", que muitos eruditos bíblicos vêem como "pastores" ou líderes de igrejas.
Então, aqui nós provavelmente temos uma descrição exata do erro de que estamos
falando: homens e mulheres que se exaltam; que encorajam outros a se humilharem
diante deles e mesmo a louvá-los e a exaltá-los; que se colocam, na vida dos irmãos, no
lugar pertencente à verdadeira Cabeça; e acabam desligando os crentes de Jesus e
levando-os a perderem uma atual e futura recompensa.
Infelizmente, esse "bicho" não é assim tão raro. A interrupção do fluir da autoridade
da Cabeça é algo que paralisa e destrói o verdadeiro funcionamento do corpo de Cristo. É
uma prática extremamente comum, mas perigosa, que causa confusão, limita o
crescimento espiritual e retarda a completa expressão de Cristo aqui na Terra. É um
costume que gera lutas e contendas entre aqueles que promovem sua própria liderança e
também entre os seus seguidores.
Quando homens tomam o lugar de Jesus na Igreja, muitos resultados ruins são vistos.
Esse equívoco leva à competição por mais membros e por ministérios maiores, além de
A IDÉIA DE COBERTURA
Na Igreja atual há um ensino popular: cada pessoa deve estar debaixo de um tipo
de "cobertura". O pensamento por trás disto é que todo homem deve estar submisso a um
líder ou a um grupo de líderes que supervisionam sua vida. O que se crê é que, através
dessa supervisão, muitos erros, excessos e pecados serão evitados. Imagina-se que, pela
submissão a outros homens, pode-se estar protegido e guiado apropriadamente. Por ser
esse ensino tão predominante hoje, é necessário gastar algum tempo examinando tal tema.
Então, o que o Novo Testamento ensina sobre "cobertura"? Existe, de fato, uma
passagem muito importante, que trata especificamente desse assunto, embora ela não seja
bem compreendida. Em 1 Coríntios 11:3-7, lemos sobre a importância das mulheres usarem
um tipo de cobertura na cabeça, quando estão orando ou profetizando, para demonstrar a
submissão delas a um homem, seja ele o marido, o pai etc. Essa cobertura, então, é o
símbolo da submissão dela a um homem.
A razão pela qual usei aqui a palavra "símbolo" é que é possível uma mulher cobrir
fisicamente sua cabeça e não ser submissa de maneira alguma. Uma mulher pode ser
extremamente rebelde e, ainda assim, usar algum tipo de véu ou chapéu. Portanto, é
lógico concluir que qualquer tipo de cobertura que ela utilize é apenas símbolo da atitude
de seu coração. A verdadeira cobertura significa que ela humilhou seu coração diante de
seu marido, ou de seu pai, e que ela deseja deixar que ele seja a sua cabeça, em todos os
sentidos dessa palavra, os quais estivemos estudando.
DESTRUIDOR N° 3 - A DESOBEDIÊNCIA
Entretanto, quando optamos por Sua liderança, começamos a andar em terra santa.
Quando deixamos a idéia humana de seguir a um homem e decidimos seguir o Rei,
entramos em um relacionamento muito sério com Ele. Quando declaramos que Ele é o
nosso líder, precisamos obedecer às instruções que Ele nos dá. Ele deve ser realmente o
nosso líder!
A necessidade de ouvir e obedecer a Jesus não é verdadeira apenas para cada
indivíduo, mas também para a congregação como um todo. Toda vez que a autoridade de
Jesus é rejeitada, Ele simplesmente Se afasta e Se aproxima de outros que estejam prontos e
desejosos de ouvir e obedecer. Conforme afirmamos anteriormente, Ele não é limitado
pelas nossas maneiras de praticar a igreja ou mesmo pela nossa "revelação" concernente a
esse tema. Simplesmente compreender Sua vontade não é suficiente. Precisamos também
fazer Sua vontade, seguindo Sua liderança a cada dia.
Ao longo dos anos, tenho visto vários grupos de crentes, que se encontravam mais ou
menos informalmente, simplesmente desaparecer. Alguns deles estiveram se reunindo
durante anos e, subitamente, se foram. Freqüentemente, esse desmoronar das reuniões e
dos relacionamentos é algo que ocorre inesperadamente.
Por que isto acontece? Porque Jesus, durante um período de tempo, falava claramente
a eles, dando as direções que desejava que eles tomassem. No entanto, eles não ouviram,
não obedeceram. Então, Ele Se afastou e os grupos caíram em pedaços. Por não terem
nenhuma estrutura humana para mantê-los unidos, quando Jesus Se retirou, eles
desmoronaram.
A razão para a desobediência pode variar. Talvez alguns estivessem tão satisfeitos
com o modo como as coisas iam que não desejavam mudar. Outros talvez tivessem uma
resistência pessoal ao que Jesus estava dizendo. Mas, por qualquer que seja a razão, eles
teimosamente recusaram se mover na direção de Deus e, assim, Ele simplesmente Se
afastou deles. Faltando a presença e a direção do Senhor, esses grupos se dissolveram.
Alguns de seus membros estão, até hoje, coçando a cabeça, tentando entender o que
aconteceu.
Jesus falou à igreja em Éfeso: "Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à
prática das primeiras obras; e, se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro,
caso não te arrependas" (Ap 2:5).
Isso significa que aquela igreja iria simplesmente desaparecer. E, à igreja da Laodicéia,
Ele disse: "...estou a ponto de vomitar-te da minha boca..." (Ap 3:16), assim indicando que
eles seriam rejeitados. O Senhor estava dando algumas instruções a esses crentes. Se eles
não as ouvissem, iriam sofrer as conseqüências que Ele prometeu.
Queridos irmãos e irmãs, essas coisas são muito sérias. Não podemos brincar com
Deus. Talvez, enquanto participamos de construções humanas "para" Ele, possamos agir e
fazer conforme nos agrada. Possivelmente podemos brincar com o nosso "cristianismo".
Mas, quando entramos em um relacionamento de aliança com Ele, então, somos obrigados
a ouvi-Lo e a fazer Sua vontade, movendo-nos no temor do Senhor.
Na Igreja primitiva, algumas vezes aconteciam repentinos julgamentos divinos. A
história de Ananias e Safira, que mentiram sobre o que fizeram com seu dinheiro, é um
exemplo extremo disso (At 5:1-11). Numa outra ocasião, em 1 Coríntios 11: 29-30, lemos
que Deus julgou os crentes que não discerniam corretamente o Seu corpo. Eles não
tratavam os demais crentes como se fossem membros de Cristo, mas apenas como outros
seres humanos.
Devido a essa falha, eles comiam e bebiam de seu próprio "julgamento". Muitos se
tornavam fracos e doentes. Alguns até morriam por causa de seu pecado de maltratar a
outros. Embora esses julgamentos, de fraqueza, doença e morte, pudessem tipificar, e
provavelmente o faziam, problemas espirituais, que alguns poderiam sofrer, não há
dúvida de que Paulo também estava se referindo à doença física real e à morte. Esses
julgamentos resultavam da desobediência dos crentes a Jesus.
Muitos têm curiosidade em saber o motivo pelo qual raramente vemos, hoje, tais
julgamentos severos. Por que é que tantos crentes estão tão distantes da obediência -
pecando tanto contra os outros, quanto contra Deus, de maneiras tão diversas - e, no
entanto, não vemos o julgamento divino caindo sobre eles?
A resposta para isso poderia ser a de que muitas "igrejas" que vemos hoje não são
realmente obras do Senhor. São, talvez, obras que algum homem ou algum grupo de
homens está fazendo para Deus, mas não são a obra de Deus, não são algo que o próprio
O TEMOR DO SENHOR
voz do Senhor, fluindo por meio de um irmão ou outro, a experiência coletiva de Sua
presença diminui. Mas, quando estamos sintonizados com a voz do Senhor, todos seremos
capazes de receber Suas instruções por meio de outras pessoas e Lhe obedecer (Ec 5:1).
Não é raro entre os cristãos a dificuldade em reconhecer e em se submeter à genuína
autoridade espiritual. Isso acontece porque as pessoas, por meio das quais ela flui, são
pessoas humildes, que não estão se exaltando. Elas não assumem uma atitude especial de
superioridade ou grandeza; não possuem uniformes especiais ou títulos; não transpiram
a sua própria importância; e não têm aquela quase imperceptível afetação dos que são
ricos, famosos ou têm posição de poder.
O homem natural responde facilmente a essas expressões superficiais de importância
e de autoridade. Mas, como aqueles que simplesmente transmitem a autoridade de Jesus
não exibem essas características, é muito fácil os crentes imaturos e desprovidos de
espiritualidade não reconhecerem a autoridade manifesta neles e ignorarem suas
palavras. É muito comum perder a voz do Senhor falando por meio de alguém que não
pareça ser espetacular.
Isso se torna um desafio real para a Igreja. Não devemos olhar simplesmente para a
aparência de nossos irmãos. Quando falhamos em ouvir Deus falar por meio de homens e
mulheres humildes, perdemos direção e bênçãos. Se não estamos em estreita sintonia com
o Espírito, é fácil ignorar Sua voz e, conseqüentemente, não aproveitar Sua liderança.
É essencial que deixemos nossos conceitos seculares sobre como Deus fala e por meio
de quem Ele o faz e permaneçamos abertos para o fluir de Sua palavra por meio dos
irmãos. Se não o fazemos, então nossa experiência de Igreja será grandemente limitada.
Muitas vezes, talvez mais freqüentemente do que pensemos, Deus fala por meio de
pessoas que não são consideradas "líderes". Talvez os vasos costumeiros não estejam tão
abertos para a revelação específica ou para a direção que Ele deseja dar. Ou pode ser que Ele
deseje nos testar para ver se podemos ouvi-Lo e não estamos apenas confiando na direção
daqueles que são mais maduros. Mas, seja qual for a razão, Deus pode falar e, às vezes fala,
por meio de um membro que pode não parecer muito especial.
Talvez tal pessoa que Deus escolhe para usar seja nova na fé; talvez não seja
considerada uma pessoa "espiritual"; ou talvez tenha algum tipo de deficiência física ou
não seja especialmente bonita ou apreciável.
O resultado disso é que precisamos continuamente ser sensíveis ao Espírito Santo.
Precisamos estar sintonizados para ouvir Sua voz e estar prontos e desejosos de ouvi-Lo e
de Lhe obedecer, não importa a maneira que nos fale. Devemos ser submissos uns aos
outros, no temor do Senhor (Ef 5:21).
Realmente, receber a direção de Deus por meio de uma outra pessoa exige muita
humildade. Uma pessoa orgulhosa sempre terá dificuldade em receber uma palavra de
correção ou direção de uma outra. Qualquer soberba de nossa parte serve como um
bloqueio, impedindo nossa receptividade ao Espírito de Deus falando por meio de outros.
Pedro nos admoesta dizendo: "...e sede todos sujeitos uns aos outros, e revesti-vos de
humildade..." (1 Pe 5:5-VRC). Necessitamos ter humildade, genuíno temor ao Senhor e
disposição para receber a Palavra Dele e para segui-Lo.
A desobediência destrói a obra de Deus. Ela corta o fluxo da Vida divina que é a fonte
da Igreja e de tudo o que é genuíno em nossa experiência cristã. Quando nós,
individualmente, nos tornamos resistentes à liderança do Senhor, nossa vida espiritual
sofre as conseqüências. Perdemos o companheirismo com Ele e acabamos por caminhar
apenas guiados pela alma.
Além disso, quando qualquer grupo cristão começa a recusar a direção do
Espírito Santo, ele está em grande perigo: corre o risco de Jesus Se afastar e deixá-lo sem a
Sua presença e liderança tangíveis. A retirada da presença divina de qualquer grupo
NAS REUNIÕES
CAPÍTULO 12
CONSTRUINDO SOBRE A FUNDAÇÃO
COMO CONSTRUIREMOS?
Eis algumas questões que vêm à mente de muitas pessoas quando elas pensam na
experiência da Igreja sem liderança humana: "Com quem vamos nos reunir? Com quem
teremos comunhão diária e relacionamentos? Quem são aqueles a quem devemos servir
em amor?" A resposta é bastante simples. O próprio Deus irá trazer essas pessoas às
nossas vidas.
Seguindo Cristo, iremos encontrar muitas outras pessoas no decorrer de nossas
vidas. Algumas delas serão pessoas trazidas a nós por Deus; podem ter algumas
necessidades com as quais podemos lidar; podem estar famintas daquilo que Deus está
nos mostrando; elas podem já ter uma visão semelhante à nossa e estar procurando
alguém com quem possam colocá-la em prática. As possibilidades aqui são incontáveis,
mas o resultado é o mesmo. À medida que andamos no Espírito, teremos uma "revelação"
espiritual de que essas pessoas estão sendo colocadas por Deus ao nosso lado, por razões
que somente Ele conhece.
Não temos o direito de separar e escolher pessoas que nos agradam, nem a liberdade
de rejeitar aqueles que têm problemas sérios ou que podem ser considerados difíceis.
Quando nós, andando em intimidade com Deus, tomamos conhecimento de que Ele
colocou alguém em nossas vidas, precisamos amar e servir essa pessoa em Seu nome.
É claro que, como seres humanos, só podemos ter um número limitado de
relacionamentos íntimos. Nossas capacidades são finitas. Se temos apenas poucos irmãos
realmente íntimos, isto será suficiente. Então, podemos concentrar nosso ministério e
nosso amor naqueles com quem temos intimidade, edificando uns aos outros debaixo do
governo de Deus.
Naturalmente, também teremos relacionamentos com outros que estão mais
"distantes" espiritualmente. Não estou dizendo que deveríamos ter um círculo de amigos
íntimos que concordem conosco e excluir o resto. A questão é que sempre teremos irmãos
mais intimamente ligados a nós e outros que têm uma conexão menos íntima.
Aqueles com os quais temos uma grande intimidade irão, da mesma forma, ter
relacionamentos com outros que estão mais distantes de nós. Estes, por sua vez, terão
outros com os quais têm mais comunhão, e assim por diante. Em breve, haverá uma rede
completa de crentes inter-relacionados, amando e servindo uns aos outros.
Talvez uma boa analogia para isso seja um muro de tijolos. Cada tijolo tem um tijolo
em cada lado e ainda um outro tijolo em cima e outro embaixo. Esses outros tijolos também
têm tijolos tocando-os, que também terão outros tijolos em contato com eles. O todo, então,
é que faz o muro. À medida que os crentes vivem em uma comunhão de amor com os que
lhes são íntimos, o todo, então, fará a Igreja.
Ninguém (além de Jesus) necessita criar ou controlar esses relacionamentos. Não há
necessidade de que alguém tente organizar ou planejar tal coisa. É o próprio Deus quem
junta os membros do corpo conforme Lhe agrada (1 Co 12:18). Ele é quem está no controle
dos relacionamentos. À medida que Ele traz outras pessoas para perto de nós, e
permitimos que Ele construa uma comunhão íntima entre nós, Sua morada eterna está
sendo construída.
A casa de Deus é viva, algo "orgânico", por assim dizer. Não há um manual para
ensinar como fazer. Não há planos específicos, com descrições passo a passo, que possamos
executar para ter certeza que as coisas estejam sendo feitas corretamente. Só o Espírito Santo
pode produzir, e certamente o fará, se Lhe dermos nossos corações e nossas mentes, os
relacionamentos e a comunhão de que estamos falando aqui. Precisamos ter fé, pois se O
seguirmos dia a dia, Ele irá construir a Sua Igreja, conforme Ele prometeu.
Embora muitas pessoas esperem por algo pré-definido, organizado e planejado, a
casa de Deus nunca poderá ser construída desse modo. Não existe um método sistemático
que possamos usar para produzir aquilo que Ele deseja. Somente mantendo um
relacionamento diário de fé com nossa Cabeça é que podemos conceber essa experiência
gloriosa.
A inteligência humana e a habilidade organizacional devem ser descartadas. Todos
os atributos maravilhosos da noiva de Cristo só podem ser conhecidos por aqueles que
caminham em comunhão íntima com Jesus.
É claro que às vezes haverá membros do corpo com dons e ministérios que vão muito
além de outros irmãos com os quais têm intimidade espiritual. Naturalmente, Deus os irá
direcionar a usar seus dons para servir o Seu corpo de uma maneira mais ampla. Pregar,
ensinar, curar são ministérios que toda a Igreja deve aproveitar. Ninguém está sugerindo,
de maneira alguma, que tais ministérios de maior alcance são desnecessários ou rejeitáveis.
Entretanto, isso não nega a necessidade daqueles que têm tais ministérios estarem
conectados em comunhão espiritual mais íntima com um pequeno círculo de irmãos. O
fato deles terem um ministério que abrange a muitos não significa que não necessitem de
uma comunhão íntima com irmãos especialmente próximos. Ninguém deveria
negligenciar tal comunhão espiritual com outros e se concentrar somente em "seu próprio
ministério".
Crentes que agem assim correm um grande risco de se tornarem isolados, como
uma ovelha longe do rebanho e, portanto, uma presa fácil para o inimigo. Nossa
comunhão com outros crentes, em maior intimidade, irá providenciar uma maneira
viva de Deus trazer edificação, inspiração e mesmo correção às nossas vidas. Tal comunhão é
uma experiência essencial para todo e qualquer crente.
NOVA TRANSPARÊNCIA
Quando estamos andando junto com outros, o que esperamos é encontrar grandes
bênçãos. Certamente, teria uma generosa quantidade de graça e satisfação em nossa
comunhão. Mas, algo mais pode ocorrer. Podemos começar a ver o pecado e enxergar as
fraquezas e as falhas dos outros. Suas vidas se tornarão mais e mais transparentes para
nós.
Isto ocorrerá por duas razões. Primeiro, quando Deus nos coloca mais perto de
outras pessoas, temos uma comunhão freqüente, senão diária. Assim, a proximidade
resultará em um conhecimento mais profundo desses irmãos. É possível algumas pessoas
se reunirem com outras durante anos, talvez sendo membros da mesma estrutura
religiosa, sem conhecer os pecados e as faltas dos outros. Mas, quando entramos em
comunhão espiritual no corpo de Cristo, é inevitável que comecemos a saber mais uns
dos outros, nossas qualidades e nossos defeitos.
A segunda razão é que isso é obra do Espírito Santo. Ele veio para "convencer o mundo
do pecado" (Jo 16:8). Então, quando começamos a nos abrir para Ele e para a Sua obra
edificadora, o pecado começa a ser exposto. À medida que "andamos na luz" (1 Jo 1:7)
junto com outros, esta luz revela muitas coisas. Ela "torna manifesto" (Ef 5:13) o que havia
sido anteriormente escondido.
Quando começamos a descobrir que nossos irmãos não são perfeitos; quando vemos
que eles são pecadores como nós; quando sua natureza caída e não transformada começa
a se expressar; qual é a nossa reação? O homem natural tende a retroceder. Nossa
natureza humana gostaria de estar distante dessas pessoas com tais problemas
desafiadores. Mas esta não é a resposta de Deus, nem a Sua solução.
É aqui que descobrimos o verdadeiro teste de amor por Deus e de nosso compromisso
com os irmãos. É aqui que vemos se estamos prontos e desejosos de viver e construir a casa
de Deus.
Aqui temos a maravilhosa oportunidade de derrotar nossas reações naturais.
Podemos, pela graça de Deus, perdoar os outros; olhar para eles através dos olhos de Deus;
negar a nós mesmos as nossas respostas humanas; e procurar a graça de Deus para tratá-
los como Ele o faria. Um outro modo de pensar sobre isso é que nós podemos amá-los como
a nós mesmos (Mt 22:39).
Esse é um desafio real. Eis a verdadeira prova de nossa cris-tandade. Se não
pudermos amar nosso irmão, nunca experimentaremos a plenitude da única Igreja
verdadeira. Se falharmos aqui, nunca seremos edificados juntos sobre a fundação de Deus.
Quando simplesmente nos afastamos daqueles que são um pouco difíceis ou
pecadores, nunca seremos bem sucedidos em ver a casa de Deus edificada. Na falta de
estruturas artificiais que mantenham o povo reunido, só temos o amor de Deus, do qual
podemos depender. O genuíno corpo de cristo edifica-se a si mesmo em amor (Ef 4:16).
Mais uma vez, vemos que é aqui que a cruz de Jesus aparece. Quando vivemos com
outros no amor de Deus, nosso "ego" precisa ser crucificado. Para ser bem sucedido
vivendo em amor, precisamos morrer. Nossas reações naturais, opiniões e desejos devem
ser deixados num túmulo. A alma caída não pode superar tal teste. Somente a Vida de
Deus dentro de nós é capaz de viver em amor e harmonia com todos aqueles a quem Ele
escolheu.
Quando dois ou três irmãos começam a experimentar vitória na área de amar uns aos
outros, isto é o começo de algo muito real e precioso. Quando cinco ou seis ou mesmo
doze começam a aproveitar um relacionamento de amor divino, então isso demonstra que
a fundação de Deus foi bem estabelecida, uma base muita sólida, à qual Deus pode
acrescentar muito "peso".
Por exemplo, vamos supor que alguns irmãos estejam em comunhão entre eles e
com Jesus. Subitamente, talvez entusiasmados com a revelação do que Deus está
desejando, um grupo inteiro de crentes resolve se unir a eles. Vamos dizer que esses novos
crentes sejam cerca de cem pessoas.
Se esses poucos irmãos originais não estiverem bem edifica-dos juntos, se o inimigo
ainda tem alguma munição que eles não conseguiram vencer, então o grupo poderá não
passar no teste.
Mais cedo ou mais tarde, o diabo irá manobrar para usar alguma cunha entre esses
primeiros irmãos. Eles irão discordar sobre alguma doutrina, direção, liderança ou
situação.
Logo acontecerá uma ruptura da comunhão. Os cem que chegaram depois também
estarão confusos e divididos. Eles, que pensavam estar chegando a um lugar de amor e
unidade, verão em vez disso, lutas e contendas. Uns ficarão de um lado, e outros, do
outro. Isso resultará em uma divisão do corpo e na destruição da obra de Deus.
Antes que o Senhor possa acrescentar mais "peso", os primeiros poucos blocos
(irmãos) devem ser bem assentados na fundação. Devem estar solidamente unidos no
amor de Deus. Precisam ser pacientes e permitir que Jesus faça uma obra completa em
suas vidas individuais e entre eles. Então, e somente então, eles serão capazes de suportar
outros "blocos".
Esse é um primeiro passo essencial na edificação da obra de Deus. Não pense que
pode saltá-lo. Você não pode acelerar ou passar por cima desse processo. A menos que
alguns irmãos estejam juntos, completamente ligados no amor de Deus, qualquer coisa
que seja construída sobre eles não durará muito tempo. Essa é precisamente uma das
principais razões pelas quais muitos grupos resplandecem por um pouco de tempo,
parecendo ter uma boa revelação e estar fluindo no Espírito Santo e, então, de repente,
desaparecem. Os primeiros poucos irmãos da fundação não foram bem entrelaçados no
amor de Deus.
Jesus passou três anos e meio com Seus discípulos. Durante aquele tempo, sem
dúvida houve conflitos de relacionamentos entre eles. Então Jesus os preparou. Ensinou-
os a amar, a perdoar, a oferecer a outra face, a ser meigo e humilde. Ele lhes ensinou muitas
coisas sobre como viver bem em comunhão espiritual. Ele usava cada situação como uma
oportunidade para ensiná-los a viver em harmonia. Por exemplo, havia freqüentes
contendas entre os discípulos sobre poder, grandeza e autoridade. Alguns pareciam
desejar uma posição de proeminência.
Lidando com essas situações, Jesus os repreendeu diante de todos. Ele afirmou
repetidamente e com clareza que em Seu Reino o maior deveria se tornar o menor. Ele
também lhes deu exemplos poderosos de serviço e de humildade (Jo 13:3-17). Assim,
depois de Sua morte e ressurreição, aqueles irmãos tiveram uma edificação sobrenatural.
Eles tinham uma história conjunta de viver na presença do Senhor.
No dia de Pentecostes, havia cento e vinte discípulos em uma "sala superior"
(cenáculo). A maioria, senão todos eles, havia passado muito tempo com os outros e
também com o Senhor. Eles haviam experimentado sólidos relacionamentos
sobrenaturais ou "edificações". É evidente que eles tiveram, pois, naquele dia, o Senhor
escolheu acrescentar cerca de três mil novos crentes ao número deles (At 2:41).
Surpreendentemente, esses cento e vinte suportaram esse peso. Os apóstolos não
começaram a competir uns com os outros sobre quem teria a maior influência ou quem
seria o maior. Uma doutrina insignificante ou outra não os dividia.
Os problemas que surgiam não os faziam discordar e separar-se em duas ou três
igrejas diferentes. Os desafios que enfrentavam não os induzia a desconfiar uns dos
outros, a contender uns com os outros ou a afastar alguns deles da Igreja. Isto acontecia
porque eles se amavam uns aos outros. Eles haviam passado um tempo juntos na presença
de Jesus, e Ele havia feito uma obra eterna em seus corações.
Isso é o que todos necessitamos hoje. É essencial tirarmos proveito dos poucos irmãos
com quem temos comunhão. Esse é o lugar de aprovação. Esses irmãos são aqueles com os
quais Deus nos colocou, e é com eles que precisamos aprender a viver em harmonia e amor.
Quando essa pequena parte da construção de Deus estiver bem fundamentada, então
pode ser que o Senhor acredite que tal parte de Sua casa tem um alicerce forte o bastante
para suportar mais peso.
Talvez pensemos que tudo isso seria mais fácil se pudéssemos encontrar alguns
cristãos mais agradáveis e se pudéssemos juntar alguns menos problemáticos, menos
pecadores, menos teimosos e mais sensíveis. Mas, Deus é quem coloca os membros, um
por um no Corpo, conforme lhe apraz (1 Co 12:18).
Os que Ele trouxe para junto de nós são aqueles com os quais devemos ter comunhão;
com quem precisamos vencer e superar conflitos; e com quem permitimos Deus operar
em nossos corações, até que nos amemos como Ele nos ama.
Jesus sabe o que precisa ser feito em nossos corações. Ele também conhece as
necessidades dos outros. Então, quando Ele nos coloca juntos, Ele vê como vai usar os
nossos dons e a nossa unção para ministrar ao resto. Ele vê como os outros podem nos
abençoar também.
Deus já planejou como os problemas e os pecados de outros nos ajudarão a crescer.
Ele já tem conhecimento de como as fraquezas e os problemas deles irão impactar nossas
vidas, fazendo-nos morrer para nós mesmos, a fim de poder amá-los. Ele designou que
esses relacionamentos sejam os mais eficazes para tratar os nossos problemas,
promovendo o nosso verdadeiro crescimento espiritual.
Assim, vemos que estamos exatamente onde Deus quer que estejamos. A menos que
Ele nos dê uma clara direção para nos mover para algum outro lugar, a situação onde
estamos é perfeita. Se encontramos pessoas com o mesmo plano e a mesma visão da casa de
Deus, é ali que precisamos estar e permitir que Deus faça a Sua obra em nós e por meio de
nós.
Quando Ele nos considerar prontos; quando estivermos transformados à Sua
gloriosa imagem; quando não formos mais suscetíveis à obra do inimigo; então Ele poderá
nos usar para ser eficazes nas vidas de um número maior de pessoas.
ROMPENDO A COMUNHÃO
Então, quando é que temos permissão para cortar o relacionamento com alguém?
Qual é o ponto em que os pecados de outra pessoa são tão grandes que não se espera que
os suportemos mais? Quando é que desistimos de alguém? A resposta deve ser "quase
nunca". Nós só podemos desistir de amar nossos irmãos, quando o próprio Deus desiste
deles. Deus não desiste facilmente.
Entretanto, Jesus dá algumas regras para a continuação de nossa amizade com
alguém que nos ofende. Nós lemos: "Se teu irmão pecar contra ti, vai argüi-lo entre ti e ele
só. Se ele te ouvir, ganhaste a teu irmão. Se, porém, não te ouvir, toma ainda contigo uma
ou duas pessoas, para que, pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda palavra se
estabeleça. E, se ele não os atender, dize-o à igreja; e, se recusar também a ouvir a igreja,
considera-o como gentio e publicano" (Mt 18:15-17).
Aqui temos uma fórmula para lidar com o irmão que peca contra nós. Primeiro
vamos até ele e não a qualquer outra pessoa, "...se ele se arrepender, perdoa-lhe" (Lc 17:3).
"Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete" (Mt 18:22).
No entanto, se ele não quiser ouvir, devemos levar conosco duas ou três testemunhas.
Se o irmão, ainda assim, não recebe a nossa reclamação, somos autorizados a levar o
assunto para um grupo maior. Finalmente, só depois destes três passos, nos é permitido
cessar de nos aproximar dele em amor.
É meu entendimento que o "você" final, no versículo 17 de Mateus capítulo 18, é
singular. Isso significa que você, pessoalmente, pode afastar-se do relacionamento com
aquela pessoa, se você já seguiu o procedimento acima. Isso não parece ser um método de
exclusão de alguém da Igreja em geral. Essa não é uma fórmula para aplicar a "disciplina
da Igreja" em cima dessa pessoa. Embora seja freqüentemente aplicada dessa maneira,
parece que, nesse caso, somente você (singular) está dispensado de manter comunhão com
aquela pessoa.
UM IRMÃO "DEVASSO"
Parece haver também outras situações onde nossa comunhão com os outros não se
mantém. Há uma passagem onde Paulo nos ensina: "...que vos aparteis de todo irmão
que ande desordenadamente e não segundo a tradição que de nós recebestes" (2 Ts 3:6).
Quando alguém não está caminhando em comunhão com Jesus e, portanto, "não está
caminhando na luz" (1 Jo 1:7), torna-se muito difícil ter comunhão com ele.
A palavra "desordenadamente" acima quer dizer caminhar em pecado consistente e
sem arrependimento. Pelo fato do coração dele não estar procurando pelas coisas de
Deus, realmente não há benefício algum em tentar construir junto com ele. Embora
possamos ser usados por Deus para resgatá-lo desse mau comportamento (Tg 5:19-20),
faltando arrependimento na parte dele, nenhuma associação de longa duração serve para
construir algo eterno. Se persistimos, corremos o risco de ser contaminados também com o
pecado dele.
Esse princípio se aplica a muitas situações. Quando se torna muito óbvio que um
irmão ou uma irmã não está verdadeiramente procurando o reino de Deus, não
precisamos gastar o nosso tempo e energia tentando manter comunhão com eles.
Quando eles resistem à autoridade de Jesus e estão claramente sendo conduzidos pela
carne, então não podemos construir junto com eles também. Se repreender e admoestar
não produz arrependimento, então, manter uma intimidade com tais pessoas não
edificará a casa de Deus.
Paulo também ensina, referindo-se àqueles que se opunham aos seus ensinamentos:
"Se alguém ensina outra doutrina e não concorda com as sãs palavras de nosso Senhor
Jesus Cristo e com o ensino segundo a piedade, é enfatuado, nada entende, mas tem
mania por questões e contendas de palavras, de que nascem inveja, provocação,
difamações, suspeitas malignas, altercações sem fim, por homens cuja mente é pervertida e
privados da verdade, supondo que a piedade é fonte de lucro" (1 Tm 6:3-5). Desses, é bom
nos afastarmos!
Nenhum cristão que ande na carne pode colaborar com você na construção da casa de
Deus. Paulo então ensina que é melhor não gastar seu tempo com esse tipo de pessoa. Isso
não significa que você não deva continuar a amá-los e a orar por eles. Simplesmente quer
dizer que precisamos investir nosso tempo e energia servindo àqueles cujos corações estão
abertos para Jesus e para o Seu reino.
As Escrituras não estão reivindicando aqui algum tipo de atitude severa e
detestável, de rejeição e ódio, o que é muito comum hoje, em vários grupos cristãos, para
com aqueles que deixaram de concordar com eles. Não há nenhum pensamento sobre
interromper toda comunicação, tratando-os brutalmente ou com desamor, quebrando
laços familiares e afastando-os, como se eles fossem uma praga. Tais atitudes não refletem
o coração de Deus. Em vez disso, essa parece ser uma reação natural e branda a respeito
daqueles cujos corações não estão buscando o governo de Cristo.
Quando os outros não estão em submissão e em comunhão com a Cabeça do corpo,
as relações espirituais se tornam quase impossíveis. Nós, portanto, somos aconselhados a,
em vez de tentar manter algum tipo de amizade carnal, simplesmente concentrar nosso
tempo e esforços naqueles que estão buscando a Jesus. A resposta automática, espiritual, é
trabalhar junto com aqueles que estão "caminhando na luz".
AUTOPODADURA
Na Igreja primitiva talvez essa situação não fosse tão simples. Naquela época, havia
somente um grupo de pessoas que era chamado de "a igreja". Então parece que havia a
idéia de que todo aquele que nascia de novo tinha que se encaixar num só grupo. Mas
hoje, os crentes têm muitas opções. Se não se sentem atraídos pelo que estamos fazendo, há
milhares de outros grupos onde podem procurar aquilo que desejam. Eles podem
encontrar um grupo que satisfaça suas expectativas.
Um exemplo disso pode ser alguém que esteja procurando um lugar de autoridade e
reconhecimento. A princípio, ele ou ela pode imaginar que uma atmosfera de abertura e
amor é uma plataforma perfeita para iniciar um "ministério". Ao se deparar com a
experiência da verdadeira Igreja, porém falhando em enxergar a liderança invisível de
Jesus, talvez se confunda, imaginando que a aparente ausência de liderança indique que
ele ou ela mesma pode assumir tal posição.
Depois de descobrir que isso não irá funcionar, provavelmente essa pessoa partirá
para procurar um lugar mais adequado. Em 1 João 2:18,19, lemos: "...também, agora,
muitos anti-cristos [aqueles que tomam o lugar de Cristo] têm surgido; pelo que
conhecemos que é a última hora. Eles saíram de nosso meio, entretanto, não eram dos
nossos; porque, se tivessem sido dos nossos, teriam permanecido conosco; todavia eles se
foram para que ficasse manifesto que nenhum deles é dos nossos."
forma.
Notem a atitude amorosa de Paulo em 2 Coríntios para com aquele crente que ele
havia anteriormente entregue a Satanás. Parece que esse homem, que havia dormido com
a mulher de seu pai, havia se arrependido. Assim, imediatamente Paulo desejou perdoá-
lo e recebê-lo de volta à comunhão. Ele diz: "De modo que deveis, pelo contrário, perdoar-
lhe e confortá-lo, para que não seja o mesmo consumido por excessiva tristeza. Pelo que
vos rogo que confirmeis para com ele o vosso amor" (2 Co 2:7,8).
A DISCIPLINA NA IGREJA
Durante todos esses anos em que estive caminhando com o Senhor, ouvi muitas
coisas sobre a "disciplina na igreja". Diferentes grupos de cristãos têm achado adequado
retirar um irmão ou uma irmã de suas reuniões. As justificativas para isso são variadas,
mas a prática é quase sempre a mesma. Algum irmão ou irmã é expulso do grupo, e então
o resto não tem mais nada a fazer com eles. A intenção parece ser sujeitar o ofensor à maior
dor emocional possível.
Freqüentemente, tais expulsões são feitas para proteger uma liderança estabelecida.
Ao invés de refletirem o coração de Deus, são meramente um jeito de ficar livre de alguém
que não está se conformando ao programa. Assim, é simplesmente uma maneira
conveniente para o líder manter sua própria autoridade.
Embora já tenhamos encontrado uma situação na qual Paulo parece recomendar uma
ação do corpo assim para com um irmão pecador, certamente isso não foi feito de uma
maneira maliciosa, odiosa ou cruel. Segundo as outras cartas de Paulo, especificamente 1
Coríntios, capítulo 13, aprendenmos que o amor de Deus deve dominar todas as nossas
palavras e ações.
Todo e qualquer passo tomado deve ser feito com a esperança de resgatar e restaurar o
ofensor. Nosso agir deve refletir o coração de Deus.
Certamente existem ocasiões quando o pecado de um irmão, que recusa a se
arrepender, leva os outros crentes a parar de manter comunhão com ele. Entretanto, tal
decisão da parte do corpo deve ser guiada pela Cabeça. Nunca devemos ter pressa em
excluir alguém que Jesus ama. Tais passos não podem ser o resultado de uma disputa de
poder, inveja, falta de perdão ou qualquer outro motivo carnal.
Somos livres para descontinuar a comunhão somente quando o próprio Jesus tiver
mostrado que o coração daquele indivíduo é pervertido. Isso significa que ele não está
genuinamente procurando Jesus nem o reino Dele e está só aproveitando o relacionamento
com outros por motivos egocêntricos.
Embora tenhamos nossa parte a executar, construir a Igreja é realmente obra de Deus.
Não é algo que façamos para Ele, mas algo que Ele faz por meio de nós. Vamos novamente nos
lembrar de que Jesus disse: "...edificarei a minha igreja..." (Mt 16:18). Conforme vimos nos
primeiros capítulos, Ele é a força, Ele é o centro, Ele é a substância, Ele é o foco, Ele é a Vida
POSFÁCIO
A medida que diferentes irmãos e irmãs, em várias partes do mundo, foram lendo os
primeiros esboços deste livro, tive o privilégio de receber vários tipos de comentários.
Talvez, surpreendentemente, a maioria das respostas tenha sido positiva. Parece que
homens e mulheres de toda parte do mundo estão ávidos por esse tipo de experiência de
Igreja. Um número incontável de pessoas está insatisfeito com a atual condição da Igreja de
Jesus e está procurando por algo que seja mais eterno e edificante espiritualmente.
No entanto, parece haver uns poucos que ainda têm problemas com a idéia de uma
libertação completa de toda liderança humana e institucional. Eles parecem sentir que
deve haver um pouco de autoridade posicional no corpo de Cristo, para que as coisas não
escapem ao controle ou para lidar com algumas situações especiais. A idéia de uma
completa ausência de qualquer figura de autoridade humana parece-lhes impensável.
Essas afirmações são normalmente sustentadas em alguns versículos bíblicos que já
examinamos anteriormente neste livro. Era minha esperança que as explicações oferecidas
aqui e uma melhor tradução desses versículos já mostrados fossem adequados para saciar
as mentes e os corações daqueles que estão genuinamente interessados em obedecer ao
Senhor nessas questões.
Entretanto, já que esse é um assunto muito importante, parece bom tocar nele
brevemente ainda no final do livro.
A prática da autoridade humana posicional não pode ser bíblica, por várias razões
essenciais, talvez ainda não totalmente esclarecidas. Primeiramente, ela viola o princípio de
que Jesus é a única fonte de Vida de Seu corpo. Qualquer coisa que se origine de alguma
outra fonte - por exemplo uma figura de autoridade humana - não pode produzir algo
que tenha valor espiritual. Ao contrário, é um sério engano. É um ato que, embora possa
parecer bom, produz somente obras de madeira, palha e feno.
Esse fato é muito importante. É um princípio essencial, inalterável. Apenas a "fonte
de Vida" faz surgir a nova criação. Todas as outras fontes, não importa quão boas,
corretas ou "qualificadas" possam parecer, são completamente inapropri-adas. Elas são
impotentes e incapazes de gerar algo verdadeiramente espiritual ou eterno.
Em segundo lugar, qualquer exercício de autoridade meramente posicional viola a
vontade livre dos crentes. Tal autoridade trabalha de uma maneira que Deus nunca faz.
Vamos juntos pensar nisso. A autoridade humana ou "posicional" somente poderia
ser necessária quando alguém não desejasse obedecer à autoridade espiritual de Jesus,
fluindo por meio de Seu corpo. Se alguém não obedece a Deus falando-lhe através de Sua
Palavra, de Seu Espírito, de outros crentes etc., então poderíamos imaginar que alguém
mais tangível pudesse dar a essa pessoa um pequeno "empurrãozinho" na direção correta.
Alguém poderia aplicar uma pequena força humana para ajudá-la a fazer a coisa certa.
No entanto, isso é algo que Deus mesmo nunca faz. Quando alguém não deseja
obedecer, Ele nunca o força. Jesus nunca faz alguém ir um centímetro além do que deseja
ir, ainda que seja para o seu próprio bem. Mesmo que alguém esteja para cometer um sério
pecado, Deus não desce do céu para impedi-lo. Pense um momento sobre isso. Se Deus
não faz determinada coisa, será que nós devemos fazer algo em Seu lugar? Você se lembra
do Jardim do Éden? Lá estava Eva com aquela fruta proibida na mão. Sua boca estava
aberta para provar um pedaço. Ela estava à beira de destruir a nova criação de Deus.
Uma vez que provasse o fruto, restaria à humanidade apenas a morte e todo tipo de
pecado, incluindo guerras, estupros, violências, roubos, mentiras, assassinatos, enganos,
ódios, traições e tudo mais.
Mas, veja bem, Deus não a impediu. Ele não usou nenhuma "forcinha" para
influenciar sua escolha. O Criador, que tinha todo direito de exercitar uma autoridade
sobre ela, não o fez.
Nenhuma pressão humana para forçar alguém a fazer algo, mesmo que seja a
vontade de Deus, terá um valor eterno. Mesmo que possamos persuadir alguém a
obedecer, fazendo algo que obviamente é correto, se existir dentro dele qualquer
resistência a esse caminho, então ele não ganhará benefício espiritual algum. Qualquer
"obediência a Deus", que não venha do coração, é inútil. Não fará nada para transformá-lo.
De modo inverso, quando o coração está aberto e pronto para obedecer, a autoridade
posicional é completamente desnecessária.
Por violar esses dois claros, essenciais e invioláveis princípios, o exercício da
autoridade posicional não pode ser considerado como algo que seja proveniente de Deus.
Portanto, precisamos reajustar nossos pensamentos para que se conformem à Sua vontade
revelada.
Não podemos ser prisioneiros do ensino e da prática comuns. Pelo contrário,
precisamos compreender todos os versículos bíblicos apenas em conformidade com
princípios absolutamente espirituais e também com os ensinamentos de Jesus que estivemos
examinando nos capítulos anteriores.
CONTRIBUIR
Uma outra questão que se levanta sobre a vida comum no corpo de Cristo é sobre
"contribuir". Muitos têm sido ensinados a doar para alguma instituição. Foram
ensinados que devem doar seu dízimo à igreja onde congregam. Se, porém, não têm
"igreja" para fazer a doação, o que devem fazer? Nossa resposta a isso não deve ser
considerada como um ensino completo sobre o assunto "contribuir". Não é nosso
propósito aqui analisar a questão dos diferentes tipos de ofertas nem de quanto devemos
dizimar.
O principal enfoque desse aspecto é que devemos aprender como seguir o Espírito
Santo em nosso "dar". Assim como Ele deve ser o Senhor em cada parte de nossas vidas,
também as nossas ofertas em dinheiro devem ser conduzidas por Ele. Deus irá nos mostrar
como e onde dar. Pode ser para os pobres; para ajudar as necessidades dos irmãos ao
nosso redor; para sustentar alguém que se deu à obra do Senhor. Por exemplo, alguém
trabalhando como um missionário ou dedicando-se a alguma obra espiritual pode estar
necessitando de ajuda financeira.
Verdadeiramente o dízimo pertence à casa de Deus. Mas a casa de Deus é o povo
Dele, não algum tipo de organização. Os homens e mulheres que pertencem a Ele é que
são a Sua casa. Portanto, dar a eles significa dar à casa de Deus.
Se fazemos parte de alguma organização religiosa que tem despesas com aluguel,
contas de energia e salários de funcionários, temos a responsabilidade de pagar nossa
parte das despesas. Assim como os membros de um clube têm a obrigação de pagar a
mensalidade para que se beneficiem das estruturas do clube, também qualquer um que
esteja se beneficiando da participação em um grupo organizado deve ser responsável por
sua parte nas despesas.
Entretanto, não podemos chamar esse pagamento de "dar a Deus". Se estamos
apenas pagando a nossa parte, se somos nós os beneficiados, então estamos dando apenas a
nós mesmos. Dar a Deus é um tipo de oferta da qual não deriva benefício pessoal algum.
Conforme foi mencionado em um capítulo anterior, pode ser que alguns irmãos e
irmãs tenham um dom muito evidente para um ministério ungido. Certamente esse dom
é importante e necessário para todo o corpo de Cristo e até mesmo para os descrentes.
Entretanto, um fato parece salientar-se quando se fala em ministérios assim. No
Novo Testamento, tanto no ministério de Jesus quanto no dos apóstolos, nenhum
ministério foi exibido como um show ou um espetáculo. O uso de dons sobrenaturais e
imponentes nunca foi com o intuito de impressionar os outros para atrair a atenção e
ganhar fama e fortuna.
Quando Jesus curava algumas pessoas, Ele lhes dizia que não deveriam falar sobre a
cura (Mt 8:4; Lc 8:56). Ele fez muitos dos seus milagres em segredo. Até mesmo insistiu para
que não contassem que Ele era o Cristo, antes que Ele partisse (Mt 16:20). Mesmo quando
curou publicamente, não o fez como um tipo de espetáculo ou para chamar a atenção sobre
Si. Ele não fez nenhum esforço para ganhar fama ou seguidores pelo uso de Seus dons.
Os apóstolos da Igreja primitiva não faziam um espetáculo de circo ou peça de
teatro com os dons que Deus lhes havia dado. À medida que Deus os usava no curso
normal da vida, eles usavam seus dons para a glória Dele e não de si mesmos.
Então, isso leva à conclusão óbvia de que nós também não devemos usar nossos
dons de maneira a nos glorificar. Talvez cantemos ou preguemos muito bem.
Possivelmente temos dons de cura e de milagres. Precisamos estar constantemente vigi-
lantes para usar esses dons somente de modo que glorifiquem a Deus e não a nós mesmos.
Quando percebemos que estamos sendo o centro das atenções ou desviando a
glória devida, somente a Deus, precisamos nos arrepender diante Dele e procurar um
modo de usar os nossos dons, de tal maneira que não produzam esse repugnante
resultado natural. Certamente o Senhor concedeu dons a Seu povo para que os usassem
de maneira a cumprir os Seus propósitos e a promover o Seu Reino de modo maravilhoso e
glorioso.
À medida que aprendemos a viver em amor com nossos irmãos e irmãs, podemos
ser estimulados com essa nova experiência e com a revelação que estamos recebendo. Pode
ser que, porque nos entusiasmamos com essa rica experiência do corpo de Cristo,
esperemos que muitos outros cristãos desejem também viver assim. Podemos até mesmo
pensar que esse pequeno início se tornará algo tão impressionante que irá chacoalhar o
mundo. Assim como os primeiros discípulos, podemos imaginar que agora é a hora de
Jesus voltar e assumir o controle de Sua Igreja, fazendo as coisas acontecerem.
Entretanto, isso pode não ser bem o que acontecerá. Indubitavelmente, à medida que
obedecemos ao nosso Senhor, aprendendo a nos reunir em torno Dele e em submissão a
Ele, iremos ver Sua mão se movendo poderosamente e muitas vidas sendo transformadas.
No entanto, isso pode não se tornar algo muito impressionante aos olhos do mundo
ou mesmo de outros crentes. Nossa experiência pode nunca atingir um pico de
popularidade de maneira que a Igreja do mundo todo seja instantaneamente
transformada. Nossa maneira de servir ao Senhor e uns aos outros provavelmente nunca
se tornará popular e universal. Devemos preparar nossos corações para isso.
Primeiramente, os métodos de Deus usualmente não são cheios de pompa. Ele é
humilde e procura comunhão com aqueles que também são humildes. Deus não deseja
fazer algum tipo de estardalhaço nem ostentar Seu poder e glória. Seu objetivo é
transformar homens e mulheres à Sua imagem. Então, é possível que, quando Ele estiver
no controle de Sua Igreja, os resultados não sejam impressionantes, em termos de
reconhecimento mundial, popularidade etc.
Isso talvez seja comparado ao alimento da primeira páscoa instituída por Deus. Ela
era uma refeição santa, sublime. Entretanto, era pouco atraente ao homem natural. Sim,
havia carne assada, mas sem nenhum tempero, talvez nem mesmo sal. E também havia
ervas, mas elas eram amargas e nada atraentes. Como complemento, havia um tipo de pão
duro, sem qualquer fermento para fazê-lo mais palatável.
Um outro aspecto a considerar é que muitos filhos de Deus não estão
verdadeiramente procurando ser agradáveis ou interessados em andar em intimidade
com Ele. É triste, porém verdadeiro, que muitos, que já receberam a Cristo como Salvador,
não O estejam seguindo de todo o coração, como Rei de suas vidas.
Embora mantenham uma aparência de cristianismo, quer dizer, indo às reuniões da
Igreja de vez em quando ou se afastando dos pecados mais graves, seus corações não estão
cativos a uma intimidade diária com Jesus. Conseqüentemente, não se entusiasmam com
o tipo de experiência da Igreja que estamos recomendando. Veja você, os caminhos de
Deus não atraem o homem carnal. Eles oferecem pouco, basicamente nada, para atrair a
nossa carne. Isso também é verdade com relação à experiência de Igreja, a qual é conduzida
por Ele e preenchida com Ele. Haverá muito pouco para atrair crentes carnais ou infantis.
Não haverá uma superabundância de eventos sociais, divertimentos e/ou "grupos
de apoio", para manter a atenção deles. Somente serão atraídos aqueles que estão
seriamente interessados em agradar a Jesus. Portanto, esse modo de viver a vida de Cristo
com os outros nunca será universalmente popular.
TEMPO JUNTOS
Uma das poucas coisas que temos para oferecer a Deus é o nosso tempo. Ele não
necessita de nossa energia e de nossos esforços humanos. Mas o tempo é um elemento
essencial na experiência da verdadeira Igreja. Para poder servir uns aos outros, ajudar a
edificar a vida dos outros, usar nossos dons e ministérios, procurar conhecer os outros no
Espírito etc., precisamos gastar tempo uns com os outros. Simplesmente não há substituto
em nossa procura por mais realidade em nossa experiência de Igreja, do que o tempo
passado junto com os outros. Não há outra maneira pela qual os relacionamentos
necessários para sustentar a Igreja viva possam ser mantidos.
Aqui encontramos uma das chaves mais importantes para experimentar a
verdadeira Igreja: precisamos ter tempo para estar juntos! Portanto, a disponibilidade de
nosso tempo para Deus, a ser usado nas atividades acima mencionadas, é crucial. Isso
significa que precisamos rearranjar nossas prioridades. Não podemos deixar que outras
necessidades e pressões nos dominem.
Há muita verdade no ditado: "As pessoas acham tempo para aquilo que é importante
para elas". Por exemplo, alguém que goste de pescar, levanta-se antes do amanhecer, fica
acordado até tarde da noite e faz muitos outros sacrifícios para poder fazer aquilo que ama.
Aquilo no que investimos nosso tempo revela o que é mais importante para as nossas
vidas.
Muitos irmãos são mantidos prisioneiros por seus próprios negócios. Devotam a eles
todo o seu tempo e atenção. Outros se distraem da obra de Deus por causa de
O tempo juntos poderá ser para simples camaradagem. Pode ser um tempo de oração
conjunta. Pode ser para encontros, aconselhamentos ou uso de dons e ministérios. O que
fazemos quando estamos juntos não é tão importante, quanto o fato de termos tempo
disponível para estar uns com os outros. É evidente que outro ingrediente essencial é
Jesus estar dirigindo esses momentos. Em qualquer momento, em que dois ou mais
crentes consigam entrar, juntos, em Sua presença, Ele irá ministrar-Se a eles e por meio
deles, edificando, desta forma, o Seu próprio corpo. Quando estamos Nele juntos,
aproveitamos isso imensamente.
Portanto, os que são sérios em viver Cristo junto a outros crentes são pessoas que
devotam seu tempo a conhecer Jesus intimamente e a servir o Seu corpo diariamente. Sem
tal comprometimento de tempo com o Senhor, nada de valor eterno ocorrerá. A obra do
Espírito entre nós será seriamente retardada.
Quando nosso tempo é ocupado com outras atividades, não importa quão lógicas e
justificáveis elas possam parecer, de um ponto de vista humano, o verdadeiro
funcionamento da Igreja será muito limitado. Crentes que estejam procurando por uma
expressão mais viva do corpo de Cristo, devem rearranjar suas prioridades, de maneira
que seu tempo seja disponível para ser usado para o seu Senhor.
Na verdadeira expressão do corpo de Jesus, não há uns poucos homens ou
mulheres que façam toda a obra ou a maior parte dela. Cada um tem uma
responsabilidade diante de Deus, de amar e servir. Conseqüentemente, o tempo que
disponibilizamos para Ele se torna crucial.
De Gloria Em Gloria:
a transformação da alma
Este livro traz uma abordagem séria e uma nova perspectiva para muitos conceitos
ensinados na Igreja evangélica de nossos dias. Você encontrará tópicos que além de
profunda reflexão, abrirão espaço para uma compreensão muito mais ampla do que
provavelmente você ouviu até agora. Se você tem fome de conhecimento de Deus e um
coração aberto e sincero para receber Sua verdade, temos total confiança que Ele usará este
livro para revelar-se de maneira mais completa e poderosa a você.
Este livro não é simplesmente mais uma investigação sobre as profecias referentes aos
últimos dias. Ao invés disto, é uma discussão a respeito de um aspecto do evangelho de
Jesus Cristo muito negligenciado: o Evangelho do Reino. Na igreja atual, inúmeros crentes
estão completamente ignorantes sobre a importância do Reino Milenar que virá, e sobre o
impacto que este Reino deve ter em suas vidas atuais. Estes escritos pretendem preencher
esta lacuna. Este livro foi escrito na expectativa de que todos que amam Jesus e estão em
busca de conhecê-Lo mais profundamente, possam achar, aqui, muitos benefícios.
Anticristo
Babilônia
Neste livro, você irá encontrar uma discussão coerente e atual sobre muitas visões do livro
de Daniel. Tal análise poderá ajudar muitos leitores a entenderem os eventos que irão
preceder a vinda do Anticristo, no contexto de nossa presente situação mundial.
Como experimentar a Igreja viva e liberta. A volta de Jesus está próxima! Mas Sua noiva, a
Igreja, não está preparada para recebê-Lo. Lamentavelmente, ela está cheia de máculas e
rugas e carece de pureza e santidade. De fato, sua condição parece cada vez mais
degradante. Então, o que Jesus quer fazer nesta hora? Como podemos auxiliá-Lo na
mudança dessa situação? Neste livro, você encontrará uma resposta bíblica e prática para
essas e outras indagações. Aqui achará uma nova visão sobre os propósitos do Deus vivo
para esta última hora.
Sem dúvida, a submissão à autoridade é essencial para todo crente. Mas, com tantas
vozes alegando ter autoridade, como podemos saber qual autoridade é verdadeiro? Esse
livro aborda o tema da autoridade espiritual sob uma nova perspectiva. Seu foco está em
como podemos reconhecer a manifestação da liderança do Espírito Santo no Corpo de
Cristo. É um assunto crucial para cada seguidor de Jesus.
Sementes
Essa publicação reúne 7 estudos liberados por David W. Dyer. Assuntos diferentes
abordados com grande profundidade. (O Caminho de Caim, Guardar o Sábado ou Não,
Três Princípios Essenciais, O Sacerdócio, As Duas Testemunhas, Não Obstante, Sobre a
Base na Localidade)
LIVRETOS:
O Caminho de Caim
Nesse livreto o autor nos mostra que o nosso “melhor” não é suficiente para agradar a
Deus. Que muitos terão suas obras rejeitadas. E como o “Temor ao Senhor” pode nos guiar
a produzir ofertas realmente aceitáveis.
Nessa publicação o autor analisa a guarda do sábado de uma forma sincera e por uma
perspectiva pouco conhecida entre os cristãos atuais.
Em “Três Princípios Essenciais” vai descobrir que fazer parte da Igreja e experimentar o
Corpo de Cristo pode ser duas experiências diferentes. Muitos membros do corpo ainda
não tiveram uma experiência sobrenatural com o Corpo de Cristo e neste estudo vai
conhecer os passos imprescindíveis para tal.
O Sacerdócio
As Duas Testemunhas
Em “Duas Testemunhas” um tema curioso é abordado. Em Apc. 11: 1-15 podemos ver as
”Duas Testemunhas”. Muitas suposições já surgiram, mas o autor chama a atenção ao texto
original (grego), que afirma ter as “Duas Testemunhas” um só corpo (como será isso
possível?).
Não Obstante
Em não Obstante o autor chama a atenção sobre o local correto de adoração a Deus que já
foi tema de grandes contendas no Velho Testamento e de dúvidas para os contemporâneos
de Jesus. Muitos dizem que o Senhor pode ser adorado de qualquer lugar, já que não há
mais o templo em Jerusalém. Entretanto existe um local escolhido por Deus, de onde Ele
quer receber sua adoração. Descubra esse lugar e desfrute.
Sobre o Autor:
David W. Dyer
CONTATOS:
David W. Dyer
(27) 3299-3476 1-715-830-0126
Email: davidwdyer@yahoo.com
www.graodetrigo.com
(Clicar “Em Português”)
Geraldo Alexandre
(27) 3391-1273 (27) 3289-2877