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Atenção:

O texto do episódio 650 contém erros de grafia propositais.

A explicação para isso encontra-se no final da página 10.


A Liga dos Sete

Os Rebeldes de Hetossa

11º Ciclo - “O Concílio”


Volume 1
Episódios 650/651
Copyright © 2001:
Perry Rhodan 650, by William Voltz, “Der Bund der Sieben”,
Perry Rhodan 651, by Ernst Vlcek, “Die Rebellen von Hetossa”,
Verlagsunion Erich Pabel – Arthur Moewig KG (VPM KG), Rastatt, Germany,
www.perry-rhodan.net
PERRY RHODAN ® is a registered trademark by
VPM KG, Verlagsunion Erich Pabel – Arthur Moewig KG, Rastatt, Germany

Copyright da tradução © 2001:


Perry Rhodan 650/651, Star Sistemas e Projetos Gráficos Ltda., Belo Horizonte, Brasil

Perry Rhodan
Marca requerida – INPI
Star Sistemas e Projetos Gráficos Ltda.

As nossas edições reproduzem integralmente o texto original.

Todos os personagens deste livro são fictícios. Qualquer semelhança


com pessoas ou acontecimentos da vida real é mera coincidência.

Não é permitido reproduzir, por qualquer meio, o conteúdo deste


volume sem a prévia autorização por escrito dos editores.

Exemplares distribuídos sem a capa original em cores são ilegais e


constituem uma violação aos direitos autorais das editoras.

Star Sistemas e Projetos Gráficos Ltda.


2001
Prefácio editorial da nova edição brasileira
As pessoas que tiverem a oportunidade de folhear este livro poderão considerar-se
testemunhas de um evento memorável. Este volume representa um marco para os apreciadores
da série Perry Rhodan no Brasil – e, pode-se arriscar a dizer, em todo o mundo. Após anos de
ausência, a série de ficção científica originária da Alemanha retorna ao cenário editorial brasileiro,
para satisfação dos que um dia acostumaram-se a acompanhar suas histórias periodicamente.
A série Perry Rhodan foi publicada no Brasil até o ano de 1991 e, em seus dezesseis anos
de presença nas livrarias e bancas brasileiras, arrebatou milhares de dedicados e ardorosos fãs.
Em suas páginas, os leitores encontravam as sementes de imaginação que a cada episódio
criavam raízes cada vez mais entranhadas e fortes em suas mentes ávidas pelas aventuras,
mistérios e fascínios ímpares apresentados pela série. Raízes que certamente não foram cortadas
de todo após o abrupto cancelamento da publicação no princípio da década de 1990. Afinal,
com a interrupção da série no Brasil, teve início a luta dos fãs pelo seu retorno – e, após quase
dez anos de persistentes ações, essa luta culminou com a iniciativa da editora SSPG em trazer
Perry Rhodan de volta ao idioma português.
Apesar do longo tempo de ausência, há que constatar que este realmente parece ser o
momento certo para o retorno da série. O forte apoio dos antigos leitores que confiaram no
projeto da SSPG e assinaram antecipadamente esta nova edição; as sólidas diretrizes da editora,
direcionadas para a produção de uma edição que honre o nome da série e os interesses de seus
fãs; a intenção de realizar um projeto de longo prazo e sem perspectivas de interrupção – algo
fundamental ao se tratar de uma coleção seqüencial de histórias que já sofreu um revés; e a
relação positiva entre todos os envolvidos na produção da edição, desde a equipe de contato
da VPM – a editora alemã proprietária da série – até os revisores e diagramadores no Brasil.
Todos esses fatores despertam uma forte esperança na realização de um trabalho de sucesso
para esta nova edição em português de Perry Rhodan.
É claro que esse não será um trabalho simples. Perry Rhodan é uma série monumental,
que há quatro décadas é publicada semanalmente na Alemanha e conta com diversos produtos
derivados e edições estrangeiras. São mais de dois mil fascículos que formam uma seqüência
narrativa contínua. Cada episódio segue naturalmente o anterior e, ao mesmo tempo, mantém a
sua individualidade, permitindo sua leitura como uma obra independente. Para facilitar o
acompanhamento por novos leitores, a série é dividida em grupos de 50 ou 100 volumes,
denominados ciclos. Cada ciclo tem uma ação bem definida no contexto da série, com início,
desdobramentos e desfecho. Essa solução interessante para a organização da série facilita a
adesão de novos leitores e evita a frustração dos leitores mais antigos, que de outra forma
teriam que ficar indefinidamente à espera da conclusão dos arcos de histórias mais amplos da
coleção.
Diante desses aspectos, uma das decisões mais importantes para a preparação da nova
edição em particular foi selecionar qual o ponto de reinício para a edição em português dentre
as centenas de opções disponíveis. A alternativa mais óbvia seria continuar diretamente a
seqüência interrompida no Brasil, com o volume 537. Entretanto, isso criaria uma barreira
contra a conquista de novos leitores – que provavelmente não teriam interesse em acompanhar
uma história a partir do meio de sua ação. Publicar a série desde o volume 1 não seria interessante
para os antigos leitores, ansiosos por aventuras inéditas. O mais indicado realmente seria
começar a publicar a partir de um início de ciclo ainda não disponível em português. Opções
para isso não faltam na série: o grande ciclo atual do volume 2000, que – sob certos aspectos
– traz a série de volta às suas origens; o ciclo da Liga Hanseática, que mostra a Humanidade em
conflito com um poderoso poder cósmico; o ciclo dos cantaros, que representou uma mudança
profunda na condução dos rumos da série; ou talvez o recente ciclo Thoregon, muito apreciado
pelos leitores alemães.
Entretanto, nenhum deles parece tão adequado quanto o ciclo que começa a ser publicado
a partir deste volume especial. O ciclo do Concílio inicia um grande arco de histórias na série,
aclamado pelos leitores alemães como um dos mais fascinantes de toda a coleção. Esse ciclo
prepara o leitor para as grandes transformações introduzidas na série ao longo dos ciclos
seguintes, que enriqueceram a sua temática e deixaram fortes influências até hoje nos conceitos
cósmicos em que as histórias se apoiam. Além disso, a proximidade desse ciclo com o ponto em
que a série Perry Rhodan foi interrompida no Brasil deverá tornar mais fácil para os antigos
leitores acostumarem-se com a nova ambientação das histórias, já que poucos volumes separam
os dois pontos. Poucos volumes, claro, considerando o total deles que compõem a série...
De qualquer modo, não é primordial conhecer em detalhes as histórias anteriores da série
para acompanhar as tramas deste novo volume. Por se tratar de um início de ciclo, a ambientação
corrente e os personagens são introduzidos de forma a facilitar a adaptação dos novos leitores
ou dos que não acompanharam os últimos enredos da antiga edição brasileira. Além disso, este
volume traz materiais adicionais que servem como introdução a este novo ciclo: um resumo de
todos os ciclos anteriores, uma apresentação da série sob o enfoque editorial e um glossário
dos principais termos específicos da série que aparecem nos episódios deste volume.
Enfim, com este volume inicia-se uma nova fase na história de Perry Rhodan em língua
portuguesa. O ciclo do Concílio está começando, e muitas novidades e surpresas aguardam os
leitores. Além disso, a brecha para a expansão da linha de publicações da série em português
está se formando no rastro do aguardado sucesso desta edição inicial. Os volumes que por ora
foram deixados de lado na seqüência da série poderão ser uma realidade em português no
futuro – bem como os episódios originais desde o volume 1 e outras séries derivadas de Perry
Rhodan que já foram editadas na Alemanha. Mas, por enquanto, o importante é aproveitar este
volume inédito e fazer o máximo para que a série consolide-se nesta sua nova edição.
Esperamos que os antigos aficionados pela série e aqueles que estão descobrindo-a
agora apreciem intensamente este trabalho e as novas peripécias de Perry Rhodan e seus
companheiros. Este é um projeto realizado com muita dedicação e apreço pela série, e que
esperamos não ter data para ser encerrado.

Belo Horizonte, maio de 2001.


Rodrigo de Lélis
Editor-Chefe – Publicações Perry Rhodan
SSPG
Prefácio especial da nova edição brasileira
Perry Rhodan é a série mais longeva da história da ficção científica de nossa era. Nascida
para ser mais um ponto de leitura da editora Erich Pabel-Arthur Moewig, tornou-se em pouco
tempo uma febre de proporções gigantescas em seu país de origem, a Alemanha.
Seus autores, Karl-Herbert Scheer e Walter Ernesting, elaboraram em 1960 uma série para
ser interligada por volumes independentes mas relacionados de aproximadamente 30 volumes.
Desde seu lançamento em setembro de 1961 até hoje, quando esperamos completar quarenta
anos, já foram lançados mais de 2050 volumes, e com o fôlego aumentado e a determinação de
seu corpo editorial, teremos possivelmente mais quarenta anos pela frente.
A série tem sua força na capacidade inventiva de seus autores, na organização de sua
estrutura com seus ciclos de histórias e principalmente na força de seus personagens, lidera-
dos por Perry Rhodan, o homem do futuro.
A atração desses livros é contar a história da Humanidade do futuro, desde seus primór-
dios, com o lançamento da nave americana Stardust, no primeiro vôo tripulado a pousar na Lua.
Lá encontram a raça dos arcônidas, que num pouso forçado estabeleceram-se em solo lunar.
Começam as aventuras de Rhodan e seus amigos em busca da imortalidade, das estrelas e
então, de mais de três mil anos de história desta nova Humanidade.
Em seus mais de 2000 volumes, a Humanidade cresce, expande-se pelo universo e vê
seus personagens se multiplicarem e tomarem consciência do seu existir. Esta expansão acom-
panhou o desenvolver da série pelo mundo. Em poucos anos, a Europa foi invadida pela
rhodanmania. Além da série principal, a VPM criou a série Romances Planetários, contando
fatos apenas citados na série principal e outros assuntos.. Surgiram HQs contando histórias
do universo rhodaniano. Surgiram LPs com histórias sendo contadas. Lançaram a série Atlan,
sobre um dos personagens principais e amigo de Rhodan. Criaram-se fã-clubes, e fanzines
foram editados pelos seus adeptos, revistas especializadas sobre o assunto foram lançadas, a
série passou para o Japão e para a América, aportando no Brasil em 1975.
Quando chegou ao Brasil em 1975, o mundo já havia sido invadido até mesmo com o
lançamento de um filme, muito fraco para ser lembrado por todos. Mas esta edição brasileira,
mais aproximada do volume norte-americano, conseguiu cativar seus leitores. Sem muito estar-
dalhaço e com pouca visão editorial, uma editora brasileira manteve sua publicação com várias
interrupções até que em outubro de 1991, desfez todos os sonhos dos fãs brasileiros, cance-
lando mais uma vez e definitivamente sua publicação.
Então, fãs brasileiros da série, sem resignar-se, iniciam uma campanha para tentar fazer
com que ela retornasse a ser publicada no Brasil. Inicialmente um fã gaúcho contata a Ediouro
sem sucesso. Através de fãs de ficção científica espalhados pelo Brasil, consegue ampliar o
leque de informações do Brasil para a Alemanha. Lança o seu fanzine Informativo Perry Rho-
dan. Era 1o de maio de 1991, e com esta revista amadora inicia sua campanha de conhecer os
leitores brasileiros, a fim de colocar sua idéia de republicação da série por outra editora brasi-
leira ou por suas próprias mãos. Com mais de um ano de contatos, surge o Perry Rhodan Fã
Clube do Brasil em maio de 1992.
O PRFCB nascia da necessidade dos fãs brasileiros de Perry Rhodan tomarem maior
liberdade de contato com o universo rhodaniano como um todo. As negociações com a editora
brasileira da época e a Moewig resultaram em nada. E a série tornava-se cada vez mais distante.
Em cartas imensas de seus fãs, optou-se por mudar radicalmente o IPR, a publicação do clube,
para dar maior estabilidade aos fãs e proporcionar conhecimento a todos. O número de fãs foi
aumentando e seu espaço se tornando mais democrático e dinâmico.
Começou-se a produzir textos e artigos sobre a série, e, com os contatos na Alemanha,
traduzir resumos de volumes da série. Nada era mais desconhecido. Iniciou-se a publicação do
fantástico “Perry Rhodan – O Caminho Para As Estrelas”, uma monumental obra de referên-
cia, resumindo a série do volume 1 ao 1810, com mais de 250 páginas.
Os fãs brasileiros começam a produzir material para a publicação nos fanzine IPR e a era
Internet chega trazendo novos associados, com mais idéias e fôlego novo. Nesta época, o
PRFCB consegue da então editora brasileira uma resposta: a editora não mais tem interesse em
publicar a série no Brasil. Retomam-se os contatos um pouco esquecidos com a Moewig e
então para surpresa geral, esta responde dando informações de que se poderia encontrar uma
editora que se dispusesse a relançar Perry Rhodan em língua portuguesa.
Na Internet, sites são lançados contando o universo rhodaniano, e o PRFCB se mantém
ativo. Os associados chegam ao número de 60 pelo Brasil e Alemanha. Publicações bimestrais
do IPR, material na rede, informações atualizadas por troca e tradução de fanzines eletrônicos
da Alemanha e Brasil etc. Os anos se passam...
Um contato com uma editora brasileira reacende a chama do retorno. Dá em nada. Vários
contatos com empresas editoriais brasileiras apenas desestimulam os fãs. A produção literária
cai e Perry Rhodan parece distante para seus fãs. Mais uma tentativa de arregimentar os fãs
surge com a criação de uma lista de discussão na Internet. Aumenta o contato entre os fãs, e
uma listagem de mais de 500 fãs agrega todos, mas sem que nenhuma tentativa desse retorno.
Não para o PRFCB, que luta pelo retorno da série. Num contato casual, fãs do clube
ousam uma idéia antiga: produzir a série em parceria com uma estrutura editorial profissional.
Através da Star Sistemas e Projetos Gráficos Ltda, SSPG, a Moewig na Alemanha é contatada
e aceita o projeto. A série seria relançada com direitos para a língua portuguesa. A SSPG e a
editora alemã analisam a idéia e decidem relançar a série a partir do volume 650, com o ciclo “O
Concílio”. O ano de 2001 é voltado para a consecução de anos de batalha, tendo a editora SSPG
contatado o clube para que a auxiliasse na empreitada de produzir os primeiros volumes.
Agora, está em suas mãos o trabalho de muitas pessoas.
O PRFCB congratula a todos, sem exceção. Para nós do Perry Rhodan Fã Clube do Brasil
a SSPG vem desempenhando um trabalho exaustivo e correto na condução de um projeto muito
bem elaborado. Depois de muitos anos, com Perry Rhodan de volta em língua portuguesa,
sabemos que nossos esforços não foram em vão e que este esforço foi recompensador. A série
hoje para os brasileiros não é um mistério. Possuímos muita informação sobre ela. Mas nossa
batalha agora é a de aumentar o número de fãs e fazer com que ela também seja universal e
atemporária, atravessando eras de publicação em nosso país.
Também é sua esta obra. E hoje, o seu esforço junto com o PRFCB é o de manter e
aumentar sua distribuição em nosso país. Participe!
Estamos em maio... Dez anos de Informativo Perry Rhodan e nove de PRFCB. Sinto um
orgulho muito grande do que iniciei a fazer. E saber que muitas pessoas apostaram neste sonho
e o realizaram. E que participei.
Daqui a poucos dias será dia 19 de junho. Nascimento de K.H. Scheer e trinta anos de
lançamento da Stardust.
Um abraço e boa leitura.

Santa Maria (RS), maio de 2001


Alexandre Pereira dos Santos
Presidente – Perry Rhodan Fã Clube do Brasil
Nº 650

A Liga dos Sete

de William Voltz

Tradução de Francis Petra Janssen

A maior série de ficção científica do mundo!

Na Terra e nos outros mundos da Humanidade registra-se o início do ano 3459.


A última jogada do oponente da Humanidade, que se manifesta no conceito Anti-Aquilo, foi rechaçada
com sucesso quando, em abril do ano anterior, Perry Rhodan encerrou a sua “Odisséia Cerebral” e
retornou ao seu corpo original.
Contudo, parece que o período de provações ao qual a Humanidade foi submetida ainda está longe
de terminar. O ser imaterial Aquilo, que no jogo de “xadrez cósmico” estava do lado da Humanidade,
também aludira a algo semelhante.
E é assim que, cerca de oito meses após o retorno de Perry Rhodan, surge um novo e inesperado
confronto das profundezas do espaço sideral.
Inteligências estranhas de uma outra galáxia aparecem no Sistema Solar e fazem uma demonstração
de seu extraordinário poder, ao qual a Humanidade não tem nada comparável a contrapor, e exigem a
incorporação da Via-Láctea à Liga dos Sete...
Perry Rhodan

Se as provações que nos foram impos- dos ali por suas mães. Ninguém entendia
tas por Aquilo e Anti-Aquilo não tiverem por que algumas mães xisrapes agiam de
sido totalmente em vão, logo vamos colher forma tão desumana — com exceção de cer-
resultados diretos do fato de as termos su- tos políticos ignorantes de algumas provín-
perado. É claro que sequer podemos ima- cias, que viam perigo em qualquer estranho
ginar as conseqüências. Todavia, ainda e acreditavam numa invasão secreta dos xis-
não temos um quadro acabado sobre tudo rapes.
o que aconteceu, como um mosaico em que Bastava Chinnel olhar para o estranho
várias peças estão faltando. que pairava sobre o telhado para saber que
Assim que tudo se encaixar formando Calloberian era completamente inofensivo.
um todo harmonioso, saberemos mais a O xisrape parecia-se com um lençol branco
respeito. Portanto, proponho que, no mo- de dois metros, para fora do qual aqui e ali
mento em que um acontecimento imprevi- despontavam braços e pernas bem fininhos.
sível nos revelar a razão de nossas sérias Além dos membros, cuja quantidade não era
provações, que ele seja nada fácil para um ob-
chamado de “Caso Har- servador determinar
monia”. Personagens principais (Chinnel sabia que
Perry Rhodan durante deste episódio: eram dezesseis), existi-
entrevista coletiva em 15 Perry Rhodan - O Administrador-Geral
am ainda inúmeras in-
de dezembro de 3458, na é nomeado soberano da Via-Láctea. tumescências orgâni-
cidade de Terrânia. cas sob a pele branca.
Hotrenor-Taak - Um alienígena que
veio de NGC 3190.
Na extremidade su-
1. perior do corpo de
Calloberian - Um xisrape. Calloberian existiam
Como era gostoso flu- Roctin-Par - Chefe da resistência con-
três protuberâncias vi-
tuar sobre o telhado com o tra o “Concílio dos Sete”. suais, uma vesícula fa-
órgão antigravitacional ati- latória e um órgão au-
Ras Tschubai e Gucky - Os teleporta-
vado, inspirando o ar sua- dores fazem um “passeio”.
ditivo semelhante a
ve da noite e observando uma esponja. Para se
o cintilar das máquinas alimentar, esse estra-
voadoras dos terranos. Calloberian passa- nho ser fazia uso de uma superfície epidér-
va quase todas as noites em cima do telha- mica com poros graúdos através da qual
do da casa de Chinnel, pois, ao contrário sugava fluídos albuminosos para dentro do
dos seus anfitriões, não precisava dormir. seu corpo.
Anton Chinnel, que observava o xisrape Calloberian adorava leite, mas nem por
da janela do sótão, sorria compreensivo. Sua isso desprezava cerveja, água, vinagre ou
família adotara o xisrape degredado quan- óleo, de acordo com a situação.
do ele estava na sua terceira escamação (o Quando Anton Chinnel fez menção de
que correspondia a seis anos terranos) e o se recolher, o xisrape desceu flutuando até
acolhera em sua casa. Calloberian era um ele.
dos cerca de mil e duzentos xisrapes que, — Você ada está acordado, Ton? — Callo-
ainda bebês, haviam sido encontrados em berian não conseguia emitir os sons “an” e
diversos planetas da Galáxia com atmosfera “in” com a sua vesícula falatória. — Espero
de oxigênio. Eles haviam sido abandona- que não de preocupado comigo.

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A Liga dos Sete

— Sargia deixou mais uma garrafa de leite Mas seria prejudicial para a sua autocons-
no seu quarto — avisou Anton. — Lembre- ciência se você não aprendesse a tomar as
se, amanhã é o seu primeiro dia de aula. suas próprias decisões e agir de acordo com
Em Terrânia, existia uma escola para ex- elas. Você precisa se tornar completamente
traterrestres. O “corpo docente” compunha- independente. E para isso tem muito o que
se basicamente de aparelhos tradutores e aprender.
positrônicas, pois esta era a única alternati- — Isso eu entendo! — disse Callobe-
va para ensinar uma infinidade de seres di- rian, girando cuidadosamente sobre o seu
ferentes. Dois galatopsicólogos experientes próprio eixo. Os finíssimos apêndices exter-
e alguns assistentes dirigiam a escola. nos da pele eriçaram-se obliquamente em
— Tes fosse você meu professor, Ton! — relação ao corpo. — Sem dúvida será mui-
disse Calloberian, triste. to teresste!
— Não tenho experiência e sabedoria — Interessante! — Vez por outra An-
para isso — retrucou Chinnel. — Você deve ton ainda se via corrigindo as inevitáveis
aprender a agir por conta própria — mesmo violações verbais do xisrape. — Também é
num mundo estranho para você como a Ter- importante que você tenha contato com
ra. Além disso, não precisa se preocupar. outros alienígenas. Isso vai aliviar o peso
Na escola, todos tratarão você como um da solidão que, mais cedo ou mais tarde,
amigo e o aprendizado vai parecer uma brin- você também vai sentir. O importante é que
cadeira. na escola você vai ter um contato mais fre-
— Estou um tto seguro para o trabalho qüente com outros xisrapes.
psicológico — confessou o xisrape. — Às — Não estrho mais esta casa — consi-
vezes acho que eles têm a tenção de me derou Calloberian. — Sabe, não consigo
transformar num terro. me imagar distte daqui por muito tempo.
— Você acredita mesmo que os nossos — Sargia, Meckton e eu também senti-
galatopsicólogos seriam capazes disso? remos muito a sua falta — admitiu Chinnel.
— Não...! — A resposta soou hesitan- — Mas não se trata de uma separação defi-
te. A voz de Calloberian não era muito alta. nitiva. Vamos nos ver todos os fins de se-
Por causa dos constantes movimentos pul- mana, sem falar das férias.
santes da vesícula falatória, ouvia-se sem- — Sei muito bem o que vocês todos
pre um ruído como que de água fervendo. fizeram por mim. — Um dos quatro braci-
Quando dera abrigo ao xisrape, a maior difi- nhos apareceu e tocou suavemente o rosto
culdade de Chinnel foi fazer Calloberian en- de Chinnel. — Por isso devo muito a vo-
tender que era preciso inserir uma pausa cês.
entre as palavras. No começo, tudo o que Quando Calloberian quis entrar na casa
aprendia custosamente Calloberian repetia pela janela, todas as estrelas no céu se apa-
aos borbotões, de forma que quase não se garam de repente.
podia perceber um sentido. Foi um fenômeno tão abrupto e inespe-
Agora isso havia mudado. A não ser pe- rado, que nem Chinnel nem o xisrape o per-
las diferenças anatômicas, o entendimento ceberam ou puderam entender de imediato.
entre Calloberian e a família Chinnel ia de No começo, foi apenas uma modificação
vento em popa. moderada na atmosfera. Uma sombra amea-
— Você sabe que não é nem nunca foi çadora se projetava sobre o lugar. Anton
um peso para nós — continuou Anton. — Chinnel tinha a sensação de estar sendo

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Perry Rhodan

estrangulado. Ele curvou o corpo para se Chinnel e o xisrape saíram do sótão.


proteger e encolheu-se dentro do sótão. Seu Sargia estava em pé no corredor, com
coração ameaçava parar de bater. Meckton nos braços. O menino escondera
Calloberian emitiu um som de lamento. o rosto no ombro da mãe e soluçava. Do
Quando Chinnel ergueu a cabeça, o céu corredor, Anton podia ver a sala de estar. A
estava escuro. Era como se alguém tivesse janela estava aberta. Dava para ver um pe-
puxado uma gigantesca cortina negra na daço do céu, ainda escuro. Ou seja, o fenô-
frente das estrelas. meno ainda não havia passado.
— As estrelas sumiram! — exclamou — As últimas notícias! — ordenou An-
Chinnel horrorizado. — O que significa ton.
isso? O televisor de parede tridimensional, pro-
— Estou vendo! — concordou Callo- gramado para obedecer aos comandos de
berian. — Isso está me assustdo. voz dos dois membros mais velhos da famí-
Ele voltou para fora e ficou flutuando ao lia, reagiu instantaneamente e iluminou-se.
ar livre para poder observar melhor. Anton Anton viu o símbolo do Império Solar:
Chinnel também saltou para fora. Nas casas uma mão humana e uma não humana sobre
as luzes iam se acendendo. As pessoas que o fundo da Via-Láctea.
já estavam dormindo também pareciam sen- Logo abaixo, em sete idiomas distintos:
tir a alteração e iam para as janelas de suas EDIÇÃO EXTRAORDINÁRIA.
residências. — Já vamos saber o que está acontecen-
Chinnel podia ouvir os gritos de pavor do! — disse Chinnel.
que vinham da rua. Ele acendeu todas as luzes da casa, mas
Os planadores que circulavam à noite a claridade não conseguiu espantar o seu
saíam dos corredores aéreos e dirigiam-se temor. A imagem do céu escuro não saía de
ao local de pouso mais próximo. sua mente.
— Todos estão vendo! — disse Chin- — Será um campo de energia? — per-
nel. — Não é uma alucinação. guntou Sargia.
— Poderiam ser nuvens? — pergun- — Não sei — respondeu Chinnel perple-
tou Calloberian. xo. Ele olhou para sua mulher. Ela era alta e
Chinnel apontou para a meia-lua clara- magra, com ombros bem desenvolvidos, em
mente visível. proporções incomuns nas mulheres. Ela sa-
— O céu está completamente limpo. crificara os seus cabelos verdadeiros em
Continuamos vendo a Lua normalmente. A favor de uma peruca biossintética em estilo
barreira que se instalou entre nós e as estre- escova, em moda no momento. Antes de
las deve estar muito além no espaço. Prova- Sargia, Chinnel já assinara contratos matri-
velmente nos limites do Sistema Solar. moniais com outras quatro mulheres. Ne-
Ele segurou uma das perninhas de Callo- nhum desses casamentos havia dado certo.
berian. Uma vez por ano, Chinnel encontrava-se
— Tenho certeza de que a qualquer mo- com uma de suas ex-esposas para não per-
mento vamos ter uma transmissão extraor- der o vínculo sexual com elas. Sargia não se
dinária da Televisão Terra. opunha a isso. Ela era equilibrada, quase
Agora Chinnel ouvia Sargia e Meckton fria. Às vezes, Anton tinha a impressão de
chamando por ele dentro de casa. Eles tam- que ele não passava de um cálculo matemá-
bém haviam acordado e estavam com medo. tico na vida dela. Como Meckton ainda era

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A Liga dos Sete

muito novo para assumir a chefia da família, Chinnel sabia que, com a adoção, assumira
Sargia e Anton revezavam-se nessa tarefa. também a responsabilidade por aquele jo-
Quando era a sua vez, Anton Chinnel sem- vem alienígena. Calloberian parecia total-
pre tinha a sensação de que não conseguia mente perturbado. Muitas vezes Anton já
dar conta do recado muito bem. Apesar dis- notara que o jovem estranho apresentava
so, estava satisfeito. O casamento parecia uma relação especial com os fenômenos
estável e sem maiores problemas. naturais. Assim, toda vez que chovia, o xis-
Os três humanos e o xisrape reuniram-se rape ficava entorpecido, completamente es-
diante do televisor de parede. tático. Esse comportamento se dava tanto
Pelo jeito, também em Império Alfa esta- dentro de casa como ao ar livre.
vam todos perplexos. — Vou comunicar minha decisão a Sar-
De repente, Calloberian disse: gia — disse Anton.
— Amhã não poderei ir à aula! Calloberian ergueu todos os quatro bra-
— Bobagem! — retrucou Anton energi- cinhos. Eles não tinham pêlos e constituí-
camente. — Em algumas horas tudo estará am-se de uma massa firme, sem ossos.
normalizado. — Isso nem você, Ton, nem Sargia vão
— Não é por isso — retrucou Calloberi- decidir — disse. — Por favor, não tornem as
an calmamente. Desde que haviam deixado coisas mais difíceis para mim, pois eu irei de
o telhado, ele dava a impressão de ser uma qualquer meira.
outra pessoa. Para Anton, ele parecia mais Sargia sentou Meckton numa poltrona.
adulto e independente. — Tenho que ir até — Calloberian! — exclamou atônita. —
Império Alfa e falar com Perry Rhod. O que você está dizendo? Você faz parte da
Anton encarou-o. nossa família. Gostamos de você e não que-
— Acorda, Calloberian! Você não sabe o remos perdê-lo. Você está fora de si.
que está dizendo. Ninguém vai lhe dar aten- Antes mesmo que Calloberian pudesse
ção — muito menos na situação atual. Você responder, a imagem no televisor de parede
não passa de um jovem xisrape. mudou. A transmissão não vinha dos estú-
— Acredito que possuo algumas forma- dios da TVT, mas sim, diretamente de Impé-
ções importtes — afirmou Calloberian, de- rio Alfa. A abertura sinalizava aos telespec-
terminado. — Vou oferecê-las aos respon- tadores que o programa estava sendo trans-
sáveis. Dependerá deles aceitá-las ou não. mitido para todo o sistema e poderia, por-
— Calloberian precisa ficar com a gente! tanto, ser captado nos outros planetas e luas
— intrometeu-se Meckton. — Não quero do Sistema Solar, bem como em todas as
que ele vá embora. naves e estações que se encontrassem nes-
O xisrape flutuou em direção à criança e a se setor.
acariciou. Um rosto apareceu no televisor de pare-
Meckton tranqüilizou-se e ergueu a ca- de.
beça. — Perry Rhodan! — gritou Anton Chin-
— Você vai voltar, Calloberian? nel surpreso. Ele não esperava que o Admi-
— Isso nguém pode responder — retru- nistrador-Geral fizesse pessoalmente um
cou o xisrape. — Mas sei que devo muito à pronunciamento para toda a Humanidade.
Humidade. Talvez seja essa a chce de poder Isso vinha confirmar a importância do acon-
retribuir. tecimento de alguns minutos atrás.
Anton e sua mulher trocaram um olhar. — Muitas pessoas que vivem no lado

13
Perry Rhodan

diurno do nosso planeta ainda não sabem se à família. — Não existe perigo imediato.
o que aconteceu — iniciou Rhodan o seu As palavras seguintes foram para Callo-
pronunciamento. Ele parecia completa- berian.
mente sereno, mas isso não significava — Com isso também as suas incertezas
nada. Sabia-se que o Administrador-Ge- devem ter sido eliminadas.
ral raramente perdia o autocontrole. — — Preciso mter a mha decisão — res-
Neste momento, através dos noticiários e pondeu o xisrape. — E também não adita
deste pronunciamento, é que saberão o esperar até amhã. Vou partir agora.
que está se passando. Aparentemente o O modo como o xisrape falava impressio-
Sistema Solar foi completamente desliga- nou Chinnel. Diante dele não estava mais um
do do resto do Universo. Não é mais pos- extraterrestre infantil que precisava de sua
sível visualizar as estrelas e galáxias. Da ajuda, mas sim um alienígena adulto que sa-
mesma forma, as nossas naves estaciona- bia exatamente o que pretendia. Para Chinnel
das na fronteira do sistema não conse- era uma situação embaraçosa. Ele se sentia
guem mais localizar as estrelas. A comu- cada vez mais constrangido. De repente, já
nicação por rádio entre as estações exter- não sabia mais como agir com Calloberian.
nas do Sistema Solar e a Terra continua O xisrape parecia sentir essa inseguran-
funcionando sem problemas. Para além ça.
desses pontos, porém, até agora todas as — Não precisa se preocupar comigo,
tentativas de estabelecer um contato fra- Ton!
cassaram. Já providenciei para que diver- Chinnel tomou sua decisão.
sas naves saiam do Sistema Solar e ten- — Não vou deixar você partir, Callobe-
tem alcançar um sistema estelar vizinho. rian. Amanhã cedo vou falar com o galatop-
No momento, podemos apenas formular sicólogo que dirige a escola. Ele vai saber
hipóteses a respeito do tipo de fenômeno nos aconselhar.
que está ocorrendo. Nossos cientistas O xisrape desmoronou sobre si mesmo.
mais importantes acreditam que todo o Ele parecia um pedaço de pano amarfanha-
Sistema Solar encontra-se envolto por um do no chão.
invólucro energético pentadimensional. — Era isso que eu temia — disse ele. —
Como isso aconteceu é completamente Você não pode me deter, Ton!
desconhecido. Não existe nenhum perigo Ele deslizou rente ao chão em direção à
imediato no que se refere à segurança dos porta aberta. Com três passos, Chinnel ul-
habitantes do Sistema Solar. Vocês serão trapassou-o e fechou a porta, postando-se
mantidos informados por este canal. com as costas apoiadas contra ela. Sargia e
Com isso o pronunciamento foi encerra- Meckton observavam a cena em silêncio.
do. No lugar de Rhodan, apareceu um hi- — Se for preciso, vou usar a força para
perfísico que discorria sobre as possibilida- impedi-lo, Calloberian!
des de diversos tipos de campos energéti- — Isso você não pode fazer, Ton! — re-
cos. petiu o estranho.
Chinnel já não prestava mais atenção. Pela primeira vez, havia irritação em seu
Era surpreendente como o pronunciamen- tom de voz. O relacionamento de pai e filho
to simples e direto de Perry Rhodan, restrito a que até agora unia Chinnel e o xisrape pare-
poucos detalhes, conseguira tranqüilizá-lo. cia haver se invertido completamente: ele,
— Vocês ouviram — disse ele, dirigindo- Anton Chinnel, sentia-se uma criança inde-

14
A Liga dos Sete

fesa perante Calloberian. nessas circunstâncias.


A voz de Chinnel soou descontrolada: Calloberian passava pela rua quase sem
— Não vou deixar você partir! ser notado. Flutuando, foi até a estação
Nesse momento, uma névoa azulada qua- transmissora mais próxima.
se imperceptível saiu de Calloberian e en- Um homem e uma mulher aguardavam na
volveu a cabeça de Chinnel. Ele sentiu a frente dele para darem um pulo no Centro.
inércia tomar conta dele. Simplesmente fi- — Vocês se comodam se eu os acom-
cou ali, imóvel, olhando para Calloberian. phar? — perguntou Calloberian educada-
— Não sou seu imigo — disse Callobe- mente.
rian. — Ada sou seu amigo, acredite em mim. O homem estava nervoso. A mulher, ao
Então, ele afastou Chinnel para o lado, contrário, parecia sonolenta e ainda não ter
atravessou o corredor e saiu. se dado conta do que estava acontecendo.
Sargia emitiu um som que deixava perce- — Você é um xisrape, não é mesmo? —
ber claramente sua perplexidade. O desen- perguntou o homem.
rolar dos acontecimentos a surpreendera de — Sou — respondeu Calloberian.
tal forma que se sentia incapaz de tomar — O que você acha de toda essa histó-
qualquer atitude. ria?
Só Meckton pulou da poltrona e correu Talvez, pensou Calloberian achando a
atrás de Calloberian. idéia divertida, o terrano acredite que um
— Aonde você vai? extraterrestre saiba mais acerca desses fa-
— Estou do para Império Alfa — expli- tos. Neste caso em especial, ele não estaria
cou o xisrape. — Não se esqueça de mim, longe da verdade.
Meckton. — Sei tto quto o senhor.
— Você vai voltar? — indagou o garoto. — Estação livre! — chamou a positrôni-
— Não! ca transmissora.
Meckton pressentiu que se tratava de Os dois humanos e Calloberian atraves-
uma separação definitiva. saram a antecâmara.
— Eu vou com você — disse o garoto — O senhor pode pré-programar o seu
com sua lógica infantil. desto — sugeriu Calloberian.
— O seu lugar é junto da sua família — O homem aproximou-se da coluna lateral
recusou Calloberian. — De qualquer forma, e disse o seu destino.
é melhor você ficar com Ton e Sargia. — Agora é a sua vez — disse, dando
Meckton, que ainda bem pequeno apren- lugar a Calloberian.
dera a impor suas vontades quando neces- — Gostaria de ir até o mais perto possí-
sário, reconheceu a autoridade daquele que vel de Império Alfa — disse Calloberian.
até esse momento fora seu hóspede. Então Mas imediatamente ocorreu-lhe que talvez
virou-se e voltou para sua mãe, que já vinha a pequena positrônica não tivesse condi-
atrás dele. ções de entender essa frase e acrescentou:
Calloberian desceu a escada flutuando e — Local: Império Alfa! O mais próximo pos-
abriu a porta que dava para o quintal. Ouviu sível.
o barulho que vinha da massa de pessoas — Aonde você pensa que vai? — per-
que afluíra às ruas. Em todos os lugares elas guntou o homem atrás de Calloberian, fran-
davam sinais de que estavam com medo. zindo a testa. Agora, além de nervoso, ele
Certamente ninguém pensaria em dormir também ficou desconfiado. — Você perten-

15
Perry Rhodan

ce à Segurança Solar? tava num fenômeno natural.


— Não! — negou Calloberian. — Quero Por fim, chegou-se à conclusão de que
apenas tentar ajudar a Humidade. só podia se tratar de uma demonstração de
um poder infinitamente superior.
2. As autoridades mantinham a calma. Não
estava acontecendo nada que de alguma
As estrelas desapareceram no dia 20 de forma colocasse a Humanidade ou o Siste-
dezembro de 3458. ma Solar em perigo.
Todo o Sistema Solar parecia ter sido re- Em 29 de dezembro de 3458, Perry Rho-
pentina e definitivamente separado do Uni- dan, num novo pronunciamento transmiti-
verso. Além dos planetas e luas solares não do pela TVT, proferiu a clássica sentença:
se podia mais ver, nem mesmo nos observa- “Não temos dúvidas de que se trata do ‘Caso
tórios, nenhum outro corpo celeste. Harmonia’”.
O sistema de radiocomunicação dentro
dos limites do Sistema Solar continuava fun- *
cionando. Já, ao contrário, era impossível
entrar em contato com os mundos coloniais Já fazia mais de um ano que os cientis-
e as estações repetidoras localizadas além tas haviam devolvido o Traje da Destrui-
da fronteira do sistema. ção a Alaska Saedelaere. Apesar das pes-
As espaçonaves vindas de fora não po- quisas exaustivas, ninguém conseguira
diam mais entrar. descobrir o segredo do traje.
As naves que haviam partido ao coman- Alaska, cujo rosto fora deformado por
do de Perry Rhodan conseguiam alcançar um transmissor, guardava o traje numa
sem problemas o espaço linear, todavia não das alas residenciais de Império Alfa. Ele
encontravam outros sistemas solares ou queria evitar a qualquer custo que o pre-
naves além da fronteira do sistema. Isso sente que lhe fora dado por um misterio-
parecia confirmar a teoria dos cientistas que so cyno chamado Schmitt caísse em mãos
afirmavam que o Sistema Solar se encontra- erradas.
va encerrado num envoltório energético Já havia se tornado um hábito para
pentadimensional. O sucesso dos vôos de Alaska, sempre que se encontrava em Im-
longa distância das naves de reconhecimen- pério Alfa, ir até o seu quarto e abrir o
to fora apenas aparente — na verdade, as armário onde guardava o traje.
unidades da Frota Solar moviam-se numa E desta vez não foi diferente.
zona supra-relativista onde os dados e nú- Devido à situação incerta, todos os
meros acabavam desorientando as naves. membros do Exército de Mutantes havi-
O Parlamento Solar mantinha-se em ses- am sido chamados a Império Alfa. Após
são permanente. Era impossível descrever a uma breve exposição feita pelos dirigen-
agitação generalizada. tes do Império Solar sobre a situação atu-
Todos os grandes computadores eletrô- al, eles foram liberados para irem para os
nicos e positrônicos do Sistema Solar, so- seus aposentos particulares.
bretudo Nathan, estavam ocupados com o O mutante mascarado, um tanto aves-
fenômeno. so aos encontros sociais, aproveitou a
Apesar de algumas especulações fanta- oferta mais que depressa.
siosas, nenhum cientista importante acredi- Até agora o fragmento cappin que pos-

16
A Liga dos Sete

suía no rosto não havia reagido às modi- — Quem o mandou aqui?


ficações cósmicas que estavam aconte- — Vim por iciativa própria.
cendo. Ele se mantinha completamente — Nenhum estranho, cujo acesso não
imóvel, de modo que Alaska de vez em tenha sido autorizado, consegue entrar em
quando conseguia se esquecer daquele Império Alfa.
grumo orgânico em seu rosto. A pele do xisrape, que se parecia com
Ao abrir a porta dos seus aposentos, o um pedaço de pano, começou a vibrar.
mutante mascarado teve uma surpresa. Alaska teve a impressão que o intruso es-
Bem no meio do quarto havia um ser tava se divertindo. Os xisrapes, lembrou
estranho. Saedelaere, eram tidos como amistosos e
Um extraterrestre. inteligentes. Jamais houve incidentes en-
— Não quis assustá-lo — garantiu o volvendo aqueles seres.
jovem xisrape. — Mas há dias estou ten- Mais cedo ou mais tarde, esperava
tdo encontrar algum membro importte do Alaska, também haveria uma explicação
governo e não estou consegudo. para a presença daquele estranho.
— Eu não sou um membro do governo! Quase implorando, Alaska ergueu as
— respondeu Alaska automaticamente. duas mãos.
Ao mesmo tempo percebeu como era ab- — Então vamos começar do começo:
surda aquela frase na atual situação. Lá como você chegou até aqui?
estava um desconhecido, em pleno Impé- — Pela porta! — respondeu Callobe-
rio Alfa, no seu quarto — e ele não tinha a rian.
menor idéia se alguém havia autorizado a — O limite externo de Império Alfa!
entrada do xisrape. Como você o ultrapassou sem ser nota-
— Meu nome é Calloberi — disse o vi- do?
sitante. — Venho do setor Afcartz. Lá eu — Eu passei para um outro nível de
vivia como membro adotivo numa família energia — explicou Calloberian.
terra. Saedelaere suspirou. Sua garganta es-
Ao que tudo indicava, o invasor não tava seca. Por um lado o visitante instiga-
estava armado. Também não parecia que va sua curiosidade e, por outro, sabia que
estivesse ali para atacá-lo. Mesmo assim, era sua obrigação notificar imediatamente
o mutante mascarado, que tinha o costu- violações como aquela. Ele deveria pren-
me de agir com cautela, lançou um olhar der Calloberian e entregá-lo à Segurança
para o alarme e para o terminal de comuni- Solar. O assunto deveria ser investigado.
cação ao lado da porta. Mas o desconhecido não parecia nada
— Pode chamar reforço, se quiser. — perigoso.
disse Calloberian. — Ada assim, eu fica- — O que você quer aqui? — pergun-
ria muito contente se tes pudesse me tou Alaska.
ouvir. — Eu vim para ajudar os humos.
— Como? — perguntou Alaska, atôni- — Você acha mesmo que precisamos
to. da sua ajuda?
— Oh! — exclamou o xisrape. — Es- — Acho! Nenhum humo consegue ver
queci de avisar que não consigo pronun- as estrelas.
ciar dois encontros fonéticos de sua lgua. O interesse de Alaska foi aumentando.
Mas logo o senhor se acostuma. O que o xisrape sabia sobre os bastidores

17
Perry Rhodan

do “Caso Harmonia”? Como não recebemos notícias de fora do


— De que forma você quer nos ajudar? Sistema Solar, e desde o dia 20 de dezembro
Um dos quatro braços fininhos des- também não chegou nenhuma nave de fora,
pontou de baixo da superfície cutânea e só podemos supor que o Sistema Solar tam-
apontou para o firmamento. bém não está visível para os observadores
— Eu consigo ver as estrelas! — de- que estiverem fora de suas fronteiras. O fe-
clarou o xisrape. nômeno, portanto, é bilateral.
— Trata-se do “Caso Harmonia” — con-
* trapôs Julian Tifflor. — Temos que desco-
brir de qualquer maneira quem é o respon-
A presença de tantos cientistas, médicos sável por isso.
e membros do governo não incomodava — Mais importante é saber o motivo! —
Calloberian. Ele flutuava ao lado da longa opinou Perry Rhodan. — Não creio que haja
mesa, bem entre os assentos de Perry Rho- perigo de ataque imediato.
dan e Reginald Bell. Nesse meio tempo, já Bell apontou para o xisrape.
haviam sido coletadas informações a seu res- — Quem sabe ele possa nos ajudar a so-
peito. A família Chinnel do setor de Afcartz lucionar o enigma.
confirmara que Calloberian até agora havia — Podem contar comigo! — disse Callo-
sido um hóspede amistoso. Alguns dados berian, solícito.
indicavam que a capacidade visual do xisra- — Antes de nos aprofundarmos em nos-
pe se orientava energeticamente e que ele sas pesquisas, precisamos indagar se o
conseguia se movimentar entre diferentes desaparecimento das estrelas não seria ape-
níveis de energia. Essa assombrosa capaci- nas um primeiro passo das forças desco-
dade era inata, assim como seu órgão anti- nhecidas — Rhodan levantou-se e curvou-
gravitacional. Os cientistas, céticos a princí- se sobre a mesa. Ele olhou com seriedade
pio, aos poucos foram aceitando as informa- para os seus amigos e colaboradores. — É
ções que Calloberian fornecia. possível que estejamos apenas no início do
No dia 20 de dezembro de 3458, quando “Caso Harmonia”.
as estrelas sumiram, Calloberian também Ele não poderia imaginar que suas pala-
deixou de vê-las num primeiro momento. vras se confirmariam tão rapidamente.
Mas isso foi só por alguns minutos e logo Alguns dias depois, no dia 5 de janeiro
estavam visíveis novamente — pelo menos de 3459, iniciou-se a segunda fase do “Caso
para ele e os outros mil e duzentos xisrapes Harmonia”.
que viviam na Terra.
Os órgãos sensoriais de Calloberian ha- 3.
viam se adaptado à nova situação.
— Segundo as palavras do nosso visi- Às seis horas da manhã — hora oficial
tante, portanto, nada mudou — falou o pro- terrana — as estrelas voltaram a brilhar.
fessor Waringer a todos os que se encon- Embora inicialmente isso pudesse ser
travam reunidos no salão de conferências. percebido apenas pelos habitantes do he-
— As estrelas e o Sistema Solar permane- misfério em que era noite, em poucos minu-
cem inalterados no seu lugar. Quase se po- tos toda a população da Terra já havia sido
deria dizer que somos vítimas de uma ilusão informada do restabelecimento da normali-
de óptica provocada deliberadamente. dade. A comunicação de hiper-rádio com as

18
A Liga dos Sete

espaçonaves e as colônias remotas também percebêssemos e só se tornou visível de-


voltou a funcionar. pois que entrou em órbita — respondeu
As autoridades na Terra receberam con- Reginald Bell. — Portanto, trata-se indiscu-
firmações de que o Sistema Solar, do ponto tivelmente de uma segunda demonstração
de vista dos que estavam do lado de fora, de poder técnico. Até a chegada desta nave
também havia desaparecido nesse período. misteriosa, eu teria jurado que nem mesmo
Perry Rhodan enviou mensagens por hi- um rato poderia entrar no Sistema Solar sem
per-rádio aos governos de todos os gran- ser percebido.
des povos da Galáxia, propondo-lhes deba- Rhodan olhou para ele de esguelha.
tes sobre o que havia acontecido. Nas men- — Você e seus ratos! Na verdade, o que
sagens ele advertia que o fenômeno pode- importa não é o tamanho, mas sim as capa-
ria representar um perigo para toda a Galá- cidades do objeto voador.
xia. — Essa nave parece ser bem grande —
A primeira resposta chegou algumas ho- falou o arcônida. — E esférica.
ras depois. Ela vinha do governo dos neo- — É o que parece — concordou Rho-
arcônidas. Os arcônidas propunham uma dan. — Mas essa aparência esférica tam-
conferência geral com todos os povos galá- bém pode ser produzida por um envoltório
ticos importantes para discutir o assunto. de energia.
Essa resposta praticamente equivalia a uma — As naves da Frota Solar que tentaram
recusa à proposta de Rhodan, pois a prepa- uma abordagem também não conseguiram
ração de uma conferência requeria muito descobrir muito mais — lamentou Reginald
tempo — e a questão era se de fato eles Bell. — E os recém-chegados não reagem
ainda tinham algum tempo. às mensagens que enviamos.
O efeito psicológico causado pelo rea- Atlan olhou para os outros dois.
parecimento das estrelas fez com que os — Talvez nem sequer seja uma nave es-
habitantes do Sistema Solar começassem a pacial, mas apenas uma forma desconheci-
esquecer o assunto. da de energia.
Porém, antes que o alívio geral pudesse — É uma nave espacial, disso você pode
se espalhar por todo canto, a espaçonave ter certeza — afirmou Perry.
alienígena surgiu sobre a Terra. O objeto que os perturbava desde sua
aparição sumiu no horizonte.
* — Vamos aguardar os relatórios que vi-
rão do lado noturno do planeta — propôs
O dia já estava claro, mas mesmo assim Rhodan. — Talvez finalmente algo se mexa
os três homens que estavam em pé na co- a bordo da nave alienígena. Se alguém está
bertura do edifício principal de Império Alfa querendo nos visitar, não vai se dar por sa-
conseguiam ver a espaçonave descreven- tisfeito em ficar voando indefinidamente ao
do sua órbita ao redor do planeta. redor do nosso planeta.
— Quatro voltas — disse Atlan, objeti- Nessa altura da conversa, o alarme geral
vo. — E apesar disso ainda não consegui- já havia soado. A Frota Solar estava pronta
mos determinar tecnicamente a posição des- para entrar em ação a qualquer momento.
se objeto voador. Apenas os nossos olhos Os tripulantes das fortificações espaciais da
nos provam que ele existe. Terra concentravam toda a sua atenção so-
— Ele penetrou no Sistema Solar sem que bre o objeto voador não identificado.

19
Perry Rhodan

Apesar de todas as medidas de precau- existe alguém a bordo desse objeto voador.
ção, Perry Rhodan não contava com um ata- Atlan e eu já descartamos a possibilidade
que dos desconhecidos. Quem quer que de um ataque, mas não podemos correr ris-
estivesse naquela espaçonave não parecia cos.
ter intenções bélicas, pois do contrário teria Os departamentos mais importantes de
aproveitado o fator surpresa. Império Alfa possuíam tamanha mobilida-
Contudo, aquelas eram apenas conside- de, que em curtíssimo espaço de tempo po-
rações humanas, como Rhodan tinha que diam ser transferidos para estações secun-
admitir. Nunca se poderia ter certeza de que dárias espalhadas pela Terra. Apesar disso,
um extraterrestre pensaria da mesma forma. eles se mantinham em comunicação.
Através de seu radiotransmissor de pul- — Será que estamos sendo observados?
so, Rhodan foi informado de que a inquieta- — cismou Atlan. — Ficarei muito decepcio-
ção da população na Terra era cada vez mai- nado se não conseguirmos descobrir quem
or. Alguns administradores exigiam repre- nos deu o prazer desta visita.
sálias. Há cerca de meia hora, o Parlamento — Nós vamos descobrir! — profetizou
reunira-se novamente. Todavia, seus inte- Bell, irritado.
grantes exaustos estavam por assim dizer Pelo seu radiotransmissor de pulso, Rho-
fadados à inatividade, pois com um objeto dan ouvia as primeiras notícias do hemisfé-
voador impassível pairando sobre a Terra rio noturno. Não havia novidades importan-
não era possível tomar nenhuma atitude tes. Aquela espaçonave que surgira de for-
política. ma tão misteriosa parecia se dar por satis-
Havia até alguns políticos que defendi- feita em ficar girando ao redor do terceiro
am um ataque preventivo contra a nave es- planeta.
pacial, uma reivindicação a que Rhodan nem O que se escondia por trás de tudo aqui-
sequer deu atenção. lo?
Os pensamentos de Perry Rhodan foram Sem dúvida, podia-se falar de uma de-
interrompidos com o chamado de Julian Ti- monstração de poder técnico.
fflor da Central. Quem conseguia isolar o Sistema Solar
— Aqui embaixo o pessoal não está mui- do restante do universo durante semanas e
to satisfeito com essa reunião particular aí depois simplesmente entrava em órbita ao
no telhado — disse Tifflor. — Eles querem redor da Terra com uma simples espaçona-
que você fique permanentemente na Cen- ve só podia ser muito superior à Humani-
tral. dade.
— Nós subimos aqui apenas para poder Até agora, nenhuma tentativa de entrar
ver a coisa mais de perto, Tiff — respondeu em contato com os alienígenas através do
Rhodan. — Diga aos cientistas e membros hiper-rádio havia dado certo. Também fo-
do governo que não há motivo para apreen- ram infrutíferas as tentativas com os apare-
são. Mas, apenas como medida de precau- lhos de rádio normais.
ção, vamos descentralizar Império Alfa. Rhodan tinha certeza de que tudo aqui-
— Evacuar! — corrigiu Tifflor. lo, antes de mais nada, era apenas um moti-
Rhodan não se deixou desconcertar. vo de ordem psicológica.
— Trata-se apenas de uma medida pre- — Eles querem nos deixar com a pulga
ventiva. Não sabemos o que os alienígenas atrás da orelha! — resmungou baixinho.
podem ter em mente — se é que de fato — Talvez os desconhecidos estejam bem-

20
A Liga dos Sete

intencionados — interferiu Julian Tifflor. Ele cou ele. — Talvez eles reajam.
podia acompanhar as mensagens pelo radi- Os especialistas em comunicação da
otransmissor de pulso de Rhodan. Central entreolharam-se incrédulos. Eles
Atlan deu uma gargalhada. sabiam que muitas vezes Rhodan escolhia
— Isso não dá para imaginar. Se alguém caminhos insólitos, mas desta vez não acre-
chega apenas com boas intenções, não pre- ditavam que ele pudesse ter êxito.
cisa fazer uma demonstração de força desse — Aqui fala Perry Rhodan! — começou
tipo. ele. — Não conseguimos determinar a sua
— Um momento! — exclamou Tifflor. — localização, mas nós os enxergamos. Suas
Está chegando uma mensagem interessan- exibições até agora não foram nada ruins.
te de Brasília. Os cientistas de lá consegui- Mas isso já está se tornando monótono.
ram determinar o tamanho aproximado do Todo bom programa precisa ter um fim, se-
objeto. Ele mede cerca de quinhentos me- não perde a graça.
tros. Para surpresa de Rhodan, dois alto-fa-
Rhodan acenou com a cabeça para Bell e lantes reproduziram o som fraco de uma ri-
o arcônida. sada, que foi aumentando gradualmente. O
— Vamos voltar à central de comunica- riso parecia quase cordial e expressava algo
ção — sugeriu ele. — Tenho uma outra idéia de aprovação.
para tentar fazer contato com os visitantes. — Eles reagiram! — exclamou Bell, sur-
Quem sabe, dá certo. preso. Ele postou-se atrás do assento de
Bell coçou a nuca. Rhodan, atento.
— Talvez eles sejam tão diferentes que De repente, ouviu-se uma voz desconhe-
não há possibilidades de comunicação. cida, grave e sonora.
— Seres inteligentes sempre conseguem — Não nos enganamos a respeito de Per-
se comunicar uns com os outros, não im- ry Rhodan! — disse alguém num perfeito
porta se as diferenças são grandes ou não intercosmo.
— retrucou Perry Rhodan. — Vocês nos presentearam com uma se-
Juntos, entraram no pequeno transmis- mana de escuridão — respondeu Rhodan
sor instalado na cobertura e informaram o imediatamente. — Depois entraram sem per-
seu destino. Em tempo zero chegaram à Cen- missão em nosso sistema estelar com o seu
tral de Império Alfa, onde estavam instala- objeto voador e entraram em órbita ao redor
dos todos os tipos de equipamentos de do nosso planeta principal. O que diriam se
grande porte para radiocomunicação. tivéssemos reagido com o poder de fogo de
Rhodan aproximou-se de um intercomu- uma grande nave de guerra terrana?
nicador e ligou o vídeo. Bell prendeu involuntariamente a respi-
— Quero que todos os campos de ener- ração. Rhodan estava querendo provocar o
gia ao redor de Império Alfa sejam desativa- alienígena?
dos — ordenou ele. Novamente ouviu-se a voz desconheci-
Bell deu um cutucão nas costas de Atlan. da.
— O que diabos ele pretende com isso? — Estávamos justamente nos preparan-
Antes que Atlan pudesse responder, Rho- do para enviar-lhes uma proposta semelhan-
dan virou-se sorrindo para os dois amigos. te, Perry Rhodan. Cada um dos lados deve
— Agora vamos transmitir uma mensa- saber a que se ater. Faça um teste. Nós os
gem através das ondas ultracurtas — expli- desafiamos.

21
Perry Rhodan

Perry Rhodan não contava com aquela humanos, possuía quatro aberturas que
resposta. Mas não deixou transparecer seu podiam se fechar. A boca era larga e os lábi-
espanto e reagiu imediatamente. os grossos tinham uma cor amarelada, o que
— Aceitamos o seu gentil convite. A nos- levou Rhodan a supor que nas veias do vi-
sa nave-capitânia é a Marco Polo. Ela vai sitante corresse sangue amarelo.
atacar o seu objeto voador com todo o arse- Além dos cabelos espessos, também as
nal que tem a bordo. Para isso, é necessário orelhas do ser chamaram a atenção de Rho-
que a sua nave recue para longe no espaço, dan. Lembravam brânquias translúcidas em
pois tenho certeza de que já deve ter imagi- forma de meia-lua que se estendiam pelo
nado que não vamos querer colocar o nos- pescoço abaixo, de forma que à primeira vista
so planeta em perigo. pareciam suíças.
— Que assim seja — disse o desconhe- Quando o desconhecido falava entrevi-
cido. am-se alguns dentes largos e arredondados.
Então aconteceu algo surpreendente. — É hora de você saber quem eu sou —
Uma das telas se ligou. disse ele cordialmente. — Meu nome é Ho-
O estranho ficou visível. trenor-Taak, e sou o emissário dos hetossa-
Sua forma era semelhante à dos huma- nos.
nos. Ele tinha um pouco mais de um me- — Não creio que eu precise lhe dizer
tro e meio de altura. De sua estrutura mus- quem eu sou — disse Rhodan, acentuando
culosa e do tórax em formato de barril po- cada sílaba.
dia-se deduzir que ele vinha de um mun- — Nós, os lares, conhecemos bem toda
do onde a gravitação era maior do que a a Galáxia — admitiu o alienígena sem rodei-
da Terra. Todas as partes do corpo da os. Seus gestos lembravam a Rhodan um
criatura que não estavam escondidas tio bondoso que vinha para recompensar
pelas roupas iam de uma marrom escuro um sobrinho desobediente ou repreendê-lo
até um negro profundo. A pele parecia com certa condescendência.
mais áspera e espessa do que a de um — De onde vêm os seus conhecimen-
humano. O homem que se via na tela pos- tos? — Rhodan quis saber. — Até agora
suía dois braços e duas pernas. As mãos nenhum de nós se deparou com um repre-
tinham cinco dedos. A cabeça, chata, sentante dos lares.
apoiava-se sobre um pescoço curto e — Realizamos observações profundas —
musculoso. explicou Hotrenor-Taak imediatamente. —
Cabelos só cresciam na cabeça do aliení- Mas isso não significa que somos habitan-
gena. Alguns chegavam a ter a espessura tes desta galáxia. Viemos de uma galáxia lo-
de um dedo e lembravam espirais embaraça- calizada a vinte e um milhões de anos-luz,
das entre si. O ser cortara os cabelos em que vocês conhecem pela designação NGC
forma circular, de modo que ele parecia ter 3190.
um ninho no alto da cabeça. Esta informação, enunciada de forma
Os olhos verde-esmeralda ficavam bem aparentemente despretensiosa, certamente
separados um do outro, bem no fundo das tinha o objetivo de provocar um novo cho-
cavidades ósseas correspondentes. Eram que. Com toda a cordialidade, deixava-se
grandes e brilhantes, e deles emanava a ex- bem claro para os terranos do que o povo
traordinária inteligência do seu dono. O na- que os visitava era capaz. Essa política fora
riz era largo e chato e, diferentemente dos talhada exatamente nos moldes da mentali-

22
Perry Rhodan está de volta!

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desta fantástica série de ficção científica!

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Belo Horizonte – MG – Brasil

Maiores informações nas páginas finais deste volume.


Perry Rhodan

dade terrana, o que levou Rhodan a ter certe- Ele se lembrou das provações pelas quais
za de que os alienígenas já haviam realizado a Humanidade passara. O aparecimento dos
estudos profundos em toda a Galáxia. lares seria uma conseqüência daqueles fa-
“Mas há quanto tempo?”, perguntava- tos?
se o Administrador-Geral, cada vez mais Aquilo prometera à Humanidade que um
perplexo. dia ela poderia dominar o Universo — des-
São necessários mais do que alguns me- de que nenhum erro decisivo fosse cometi-
ses para reunir os conhecimentos funda- do.
mentais sobre uma galáxia. Uma tarefa des- Será que a Humanidade estava diante do
sas requer anos, mesmo que se disponha próximo estágio de sua evolução?
de uma tecnologia tão formidável. — Para começar, precisamos de um habi-
Isso significava que os lares já se encon- tante desta galáxia que a represente no Con-
travam na Galáxia há bastante tempo. cílio dos Sete — disse Hotrenor-Taak. — E
Mas com que objetivo? você foi o escolhido por nós, Perry Rho-
Será que tinham planos de conquista? dan.
Se eles realmente vinham da nebulosa Um silêncio absoluto tomou conta da
espiralada NGC 3190, essa hipótese deveria Central de Império Alfa. Humanos e aliení-
ser descartada. Uma invasão a uma distân- genas que trabalhavam nas várias subdivi-
cia de vinte e um milhões de anos-luz, mes- sões daquele amplo local e tinham ouvido
mo que fosse possível para a tecnologia dos as últimas palavras do lare interromperam
lares, não se mostrava como um empreendi- suas atividades e olharam para Rhodan.
mento lógico. Todas as testemunhas daquele diálogo
— Certamente vocês não estão fazendo sentiam instintivamente que vivenciavam
todo esse esforço para nos dar uma amos- um momento decisivo.
tra de suas capacidades técnicas — ponde- O próprio Rhodan ficou desconcertado.
rou Rhodan. — Deve haver mais alguma Ele nunca poderia esperar um desdobramen-
coisa por trás disso. to como aquele. O convite, feito em tom
— Sem dúvida — confirmou o interlocu- amistoso, o surpreendeu.
tor de Rhodan. — Eu sou o embaixador do — Você é o Primeiro Hetran da Via-Lác-
Concílio ou Liga das Sete Galáxias. Também tea, Perry Rhodan — declarou Hotrenor-
chamamos esse concílio de Hetos dos Sete. Taak. — Você falará em nome de todos os
Na mente de Rhodan surgiu instantane- seres inteligentes da sua galáxia no Concí-
amente a imagem de uma conferência em lio dos Sete.
sessão permanente, na qual estavam reuni- — Pelo visto, o seu estudo sobre a nos-
dos os membros de sete galáxias. sa galáxia não foi muito cuidadoso — disse
Existiria realmente uma potência como Rhodan, recobrando rapidamente o auto-
aquela? controle. — Do contrário, saberiam como
— O Concílio dos Sete — prosseguiu são as relações dos terranos com os outros
Hotrenor-Taak — chegou à conclusão de diversos povos espaciais. Não consigo ima-
que os povos da Via-Láctea, sobretudo a ginar que um blue ou um aconense permiti-
Humanidade, já alcançaram um estágio de riam que eu os representasse.
evolução que lhes permite ingressar nessa O alienígena abriu um sorriso largo. Pela
liga cósmica. primeira vez a sua amabilidade parecia cal-
Num átimo, Rhodan juntou alguns fatos. culada e sua voz adquiriu um tom levemen-

24
A Liga dos Sete

te ameaçador. — Acredito — disse Rhodan calmamen-


— Quando o Concílio dos Sete nomeia te — que nos desviamos da questão princi-
um Primeiro Hetran, dá a ele todo o seu apoio pal deste momento. A sua proposta é muito
— assegurou. — Não consigo imaginar a interessante. Mas antes de passar às nego-
existência de alguém em toda a Galáxia que ciações de fato, voltemos ao teste.
pudesse ignorar as decisões que esse re- Hotrenor-Taak riu. Ele parecia se divertir.
presentante viesse a tomar no interesse do — Esta é uma das suas típicas reações,
Hetos dos Sete. terrano — disse. — Já contávamos com
É claro! Rhodan reprimiu sua indignação. ela. Agora vamos recuar para bem longe
Aquele não era o momento mais adequado no espaço e então você poderá mandar
para mostrar sentimentos. Ele precisava ava- uma das suas naves atrás de nós — por
liar friamente qual a melhor forma de agir mim, até toda a Frota Solar, se assim o qui-
para não provocar uma catástrofe. ser.
As palavras do visitante davam a enten- A imagem foi desaparecendo da tela.
der que a potência que ele representava es- Aquilo parecia, por ora, o fim da conversa-
taria de qualquer forma por trás do Primeiro ção para o lare.
Hetran. E, ao que tudo indicava, o Concílio Rhodan recostou-se na cadeira e fechou
dos Sete estaria decidido a trazer povos re- os olhos. E assim ficou por alguns segun-
beldes de volta à razão, caso necessário. dos. Ninguém o incomodou. Na Central im-
Um protesto dos blues contra a nomeação perava um silêncio profundo.
de Perry Rhodan poderia trazer graves con- — Então agora estamos sendo recom-
seqüências para esse povo. pensados — disse Rhodan finalmente. —
Rhodan, porém, não sentia nenhuma in- Só que eu imaginava tudo isso de uma for-
clinação para conquistar uma posição de ma um pouco diferente.
poder à custa de outros povos, muito me- Tifflor apontou para a tela na qual há al-
nos no papel de mandatário de alienígenas. guns instantes se via o alienígena e que
Naquelas circunstâncias, Perry Rhodan agora estava novamente escura.
precisava ganhar tempo. Ele tinha que des- — Achei-o bastante cordial e amistoso!
cobrir qual era a verdadeira força dos de- — disse o Marechal Solar.
mais povos da liga. — Você sempre foi uma pessoa bondosa
Apesar de toda a amabilidade do emissá- demais, Tiff — comentou Atlan. — Não
rio dos hetossanos, como Hotrenor-Taak se podemos nos deixar impressionar pela ama-
intitulava, Rhodan sentiu-se encostado con- bilidade do lare.
tra a parede pela proposta do desconhe- — Os blues, os aconenses e os saltado-
cido. res vão ficar muito satisfeitos quando sou-
Só com uma tática muito hábil ele conse- berem o que os lares pretendem — disse
guiria se desvencilhar daquela situação. Rhodan, sarcástico. — Por outro lado, cer-
Ele sabia que podia confiar nos seus co- tamente seria tolice recusar o convite do es-
laboradores. Enquanto falava, certamente a tranho. Precisamos ganhar tempo. Isto é ex-
Segurança Solar e a USO já teriam dado iní- tremamente importante agora.
cio a análises e processamentos. Contudo, — Já estou me alegrando com o teste! —
não era muito provável que as duas organi- falou Bell, esfregando as mãos. — Nossos
zações encontrassem soluções muito rapi- visitantes estão bastante seguros de si, mas
damente. eu acho que em poucos segundos já vão

25
Perry Rhodan

pedir o cessar-fogo. mostrá-lo a você.


— Duvido — retrucou Atlan. — Eles são O xisrape olhou para a peça respeitosa-
inteligentes demais para se exporem a um mente. Desde a sua chegada a Império Alfa,
verdadeiro risco e já devem ter tudo calcu- Calloberian era hóspede de Alaska Saede-
lado. Sou de opinião que foi um erro da nos- laere. Os cientistas interrogaram o xisrape e
sa parte aceitar o teste. Os lares vão se apro- concluíram que ele falava a verdade. Logo
veitar da situação para nos mostrar mais uma depois do aparecimento da nave alieníge-
vez a sua superioridade. na, ele fora chamado à Central de Império
Rhodan ergueu os dois braços. Alfa, mas desta vez não pôde dar nenhuma
— Não vamos brigar por causa disso! informação.
Gorducho, entre em contato com o coronel Calloberian, no entanto, pedira autoriza-
Elas Korom-Khan. Instrua-o exatamente ção para poder continuar a viver em Império
sobre o que precisa ser feito. Os oficiais de Alfa. Rhodan, na esperança de que esse ser
ataque da Marco Polo devem usar as armas ainda pudesse prestar alguma ajuda com
mais pesadas. suas capacidades singulares, resolveu aten-
Atlan sacudiu a cabeça. der o pedido.
— Tudo isso me parece completamente Calloberian passou a ser o protegido de
absurdo. Não deveríamos nos meter com Alaska Saedelaere. Em alguns poucos dias
esses lares de jeito nenhum, mas sim procu- os dois seres, essencialmente diferentes, já
rar alternativas para pôr em prática os nos- eram quase amigos.
sos próprios planos. — Posso tirar do armário? — perguntou
— Você tem alguma idéia? — Rhodan Calloberian.
olhou para o velho amigo. — Além disso, — Por favor — Alaska o incentivou. —
no momento estou mais preocupado com Não se acanhe. Eu queria muito saber o que
outras coisas. Se a nova era da Humanida- foi que Schmitt me deu de presente.
de já vai começar com um relacionamento Calloberian tirou o traje do armário, flu-
de hostilidade, não vejo grandes perspecti- tuou alguns passos para longe do móvel e
vas para o futuro. deitou a peça no chão.
— Vamos até os sistemas de localização Em seguida, desceu e acomodou-se so-
— interrompeu Julian Tifflor impaciente. — bre o traje.
Estou ansioso para ver como será o ataque Alaska deixou-o à vontade. Ele mesmo já
da Marco Polo. havia realizado diversos experimentos com
o traje. Parecia ser uma peça comum de ves-
* tuário, confeccionada com um material des-
conhecido. Em um lado, o traje estava um
Calloberian abrira a porta do armário e pouco danificado e faltava um pedaço da
com duas mãos alisava a manga do Traje da manga.
Destruição. Alaska Saedelaere observava- — É realmente uma peça sgular — disse
o atentamente. Calloberian. Nesse meio tempo Alaska já se
— Os cientistas jamais conseguiram des- acostumara à fala de Calloberian e entendia
cobrir o significado dessa peça misteriosa bem o visitante. — Sto uma irradiação pe-
— disse o mutante mascarado. — Depois culiar difícil de explicar.
que fiquei sabendo que você consegue se — Dá para identificar algo especial?
mover entre níveis de energia, pensei em — Existe algo sgular — respondeu Callo-

26
A Liga dos Sete

berian — mas não consigo descrever. É es- lizadores. Mas como nesse meio tempo já
trho demais. Quem sabe se eu me ocupar fora possível calcular seu curso, um ponto
dele mais vezes, consiga descobrir o que é. de localização simulado indicava sua posi-
Saedelaere ficou um pouco desaponta- ção.
do, embora já tivesse imaginado que Callo- A Marco Polo, por sua vez, estava per-
berian não poderia lhe dar novas informa- feitamente visível. Ambas as naves encon-
ções. travam-se fora da órbita da Lua.
— Quem sabe este traje não é para hu- O comandante da Marco Polo, o coronel
manos — disse Alaska, pensativo. — É pos- Elas Korom-Khan, mantinha-se em contato
sível que... permanente com a Central. Como os siste-
O intercomunicador zuniu. Na pequena mas localizadores hiper-energéticos da
tela em cima da mesa apareceu o rosto de nave-capitänia não conseguiam determinar
Bell. a posição da nave alienígena, os oficiais de
— O teste combinado com os lares já vai localização a bordo da Marco Polo utiliza-
começar — informou o Marechal Solar. — ram velhos radares e aparelhos de ondas
Perry gostaria de que você viesse à Central ultracurtas. Dessa forma eles conseguiram
junto com o seu protegido para observar o detectar o alvo.
acontecimento. Alaska ouviu a voz do comandante.
— Posso imaginar bem por quê — retru- — Estamos nos aproximando sem difi-
cou Alaska. — Rhodan espera que Callobe- culdades — informou o astronauta. — A
rian consiga notar algum fenômeno de ener- nave alienígena é esférica e reflete um bri-
gia na espaçonave alienígena que eventu- lho amarelo-ocre. Ela me lembra um peque-
almente não seja perceptível para nós. no sol.
Bell acenou com a cabeça, confirmando. — Essa força de irradiação a torna visí-
— Não se demore, Alaska! vel a longa distância — respondeu Perry
O mutante mascarado pendurou o traje Rhodan. — Já temos relatórios de Brasília.
no armário. Em seguida, junto com Callobe- Lá estão estimando o diâmetro da nave em
rian, saiu da ala residencial. Em poucos se- quinhentos metros. O que você acha?
gundos, através de estações transmissoras — Poderíamos confirmar com algumas re-
e poços antigravitacionais, os dois estavam servas — relatou Elas Korom-Khan. — É
na Central. claro que não sabemos se sob a redoma de
Na frente dos sistemas de localização energia visível se esconde um corpo menor.
aglomeravam-se as pessoas que trabalha- — Com exceção dos canhões converso-
vam ali embaixo. res ultrapesados, que poderiam atingir os
Alaska e Calloberian logo foram condu- planetas solares, você deve usar todas as
zidos para a primeira fileira. outras armas — ordenou Rhodan. — Os la-
Com um olhar de esguelha, Perry Rho- res concordaram com isso. Podemos ter cer-
dan registrou a chegada de Alaska e do xis- teza de que eles estão muito bem informa-
rape. dos sobre a qualidade do armamento que
Calloberian foi colocado bem na frente temos a bordo.
da tela panorâmica para que pudesse ob- Pouco depois, o coronel informou:
servar tudo muito bem. — Atingimos a posição de combate!
A nave alienígena, como sempre, não — Não se trata de um combate — corrigiu
podia ser vista nas telas dos sistemas loca- Rhodan. — Trata-se apenas de um teste.

27
Perry Rhodan

— O que acontecerá se destruirmos essa Atlan, derrotado.


nave alienígena com uma carga de fogo? — — Ela está se transformando! — excla-
perguntou Tifflor. — Vou até mesmo um mou o coronel. Seu rosto, visível em algu-
pouco mais longe e pergunto se não é exa- mas das telas de comunicação, exibia sinais
tamente isso o que os estranhos desejam. de grande excitação.
Talvez eles queiram um pretexto para pode- — O que está acontecendo? — Rhodan
rem lançar um ataque contra nós. quis saber. Ele estava admitindo que no co-
Esse pensamento também já passara pela meço tivera esperança de que o teste alcan-
cabeça de Perry Rhodan. Ele já havia avali- çasse algum sucesso.
ado as várias formas que o final desta ope- — A nave está ficando cada vez maior.
ração poderia ter, com todas as respectivas Está inchando, sem perder a sua forma cir-
conseqüências, e acabou concluindo que cular, como uma bexiga — o coronel falava
era impossível prever como isso iria termi- cada vez mais depressa. — Agora a bola
nar. começou a emitir um brilho amarelo-pálido.
Ele inclinou-se sobre o aparelho de rá- Todos ficaram mudos na Central. A Mar-
dio. co Polo continuava disparando com todas
— Abra fogo agora, coronel! as armas, com exceção da artilharia conver-
Os canhões de impulso e os desintegra- sora ultrapesada.
dores abriram fogo. Ao mesmo tempo, co- Rhodan estava convencido de que na
meçou o ataque com os canhões converso- central de ataque já haviam se esquecido há
res mais leves. Torpedos eram disparados muito tempo de que se tratava apenas de
em direção à nave desconhecida, ao mesmo um experimento proposto pelos visitantes.
tempo em que ela era coberta por ondas Os astronautas estavam levando a coisa a
paralisantes. sério.
Alguns instantes depois Rhodan ouviu — A bola parou de crescer — informou
o comandante da nave-capitânia suspirar. Korom-Khan alguns minutos mais tarde. —
— A nave alienígena não reage! — ex- Agora a nave alienígena mede exatamente
clamou Korom-Khan. cinco mil metros e encontra-se completa-
Rhodan e Reginald Bell trocaram um olhar mente estável.
incrédulo. — Cessar fogo, coronel! — disse Rho-
— Não reage? É impossível que com um dan, desanimado. — Não tem nenhum sen-
ataque massivo como esse não haja conse- tido continuarmos a nos expor dessa ma-
qüências visíveis. — Rhodan ergueu a voz. neira.
— Observe a nave com mais atenção! — Waringer quer falar com você — in-
— A coisa parece um engolidor de ener- formou Korom-Khan.
gia — disse o coronel um tempo depois. — O famoso cientista terrano estava a bor-
Os cientistas do observatório de bordo aca- do da Marco Polo. A expressão de seu ros-
baram de levantar a hipótese de que as pa- to, que surgia nas telas, refletia exatamen-
redes do casco desta nave não são de aço te o que se passava na mente daquele ho-
ou um outro metal rígido qualquer, mas sim mem genial. Waringer estava abalado e
de pura energia compactada, que se amolda vencido.
segundo a vontade de seus construtores. — Continua parecendo um astro lumino-
— Se isso realmente for verdade, esta- so — disse ele em tom indeciso. — Os cien-
mos diante de uma nave inatacável — disse tistas que supõem a existência de um envol-

28
A Liga dos Sete

tório externo de pura energia devem estar arrogante, mas não esboçou nenhuma rea-
certos. ção. Intimamente, tentava relacionar a ama-
— Será que não pode ser um campo pro- bilidade dos lares com aquela ironia tão evi-
tetor que despertou essa impressão? — per- dente.
guntou o professor Kranjohn, que estava — Eles são gentis e amáveis — obser-
na Central de Império Alfa. vou Bell, furioso.
— Isso podemos descartar — retrucou — Isso mostra que eles julgam que a sua
Waringer. Ele apertou os lábios e tentou superioridade não tem limites — explicou
esboçar um sorriso. — Com a nossa rapidez Atlan. — Provavelmente, para eles não pas-
de sempre, também já encontramos uma de- samos de um bando de semi-selvagens. Eles
nominação para esse objeto. Nós o chama- nos proporcionam um pequeno espetáculo
mos de nave de células energéticas de es- para mostrar do que são capazes e depois,
trutura variável ou nave CEV. generosamente, nos aceitam em sua liga —
Atlan virou-se para Rhodan. Seu olhar recaiu sobre Perry Rhodan, e a
— Está na hora de você falar outra vez expressão do seu rosto mudou. — Pelo me-
com os lares. Quanto mais esperarmos, mais nos parece que eles têm algum respeito por
eles vão achar que estamos confusos. você. Hotrenor-Taak falou de um Concílio
Rhodan assentiu com a cabeça. Enquan- dos Sete. Os lares são, portanto, apenas um
to Bell continuava a conversa adiante com dos povos dessa liga cósmica. Vamos tor-
Waringer, Rhodan foi até o rádio de ondas cer para que os outros membros sejam um
ultracurtas. Mais uma vez, num curtíssimo pouco mais agradáveis. Quem sabe não en-
espaço de tempo, ele precisava tomar deci- viaram os lares para nos submeter a um últi-
sões da maior seriedade. mo teste.
Quando entrou em contato com Hotre- Rhodan apertou os olhos.
nor-Taak, nada se podia notar das suas afli- — Se algum dia tiver que existir um ver-
ções. dadeiro embaixador da Galáxia, ele deve ser
— Foi realmente um teste brilhante — dis- eleito por todos os povos da Via-Láctea. Os
se ele calmamente. — Vocês podem se orgu- lares estão partindo de um outro caminho.
lhar deste objeto voador. Agora que termina- Eles se arrogam o direito de escolher esse
mos, não vamos querer que fiquem limitados representante.
a apreciar a Terra apenas de sua órbita. Vocês — E eles escolheram você — falou Bell
são nossos convidados. Aterrissem em nos- enfaticamente. — Na verdade, isso é ape-
so planeta e sejam bem-vindos. nas uma conseqüência da situação política
Convidar alguém que poderia ter força- na Galáxia.
do um pouso sem nenhuma dificuldade fa- — Por enquanto ainda não vou recusar
zia parte do plano de Rhodan para não per- — assegurou Rhodan. — Com toda certe-
mitir que os recém-chegados notassem a za, a atitude mais inteligente é fazer de con-
inquietação que se instalava na Terra. ta que estou aceitando o convite. Mas de-
Hotrenor-Taak deu uma risada amigável. pois, quando soubermos mais sobre esse
— Já reduzimos a nossa nave ao tama- Concílio, algumas coisas vão mudar.
nho habitual. Assim, não causaremos pro- — Existem caminhos que, uma vez escolhi-
blemas ao pousar no maior espaçoporto de dos, não nos permitem voltar — preveniu Ti-
Terrânia — disse ele. fflor. — Não acho sensato ir tão a fundo nesta
Perry Rhodan captou muito bem o tom aventura que não sabemos aonde vai dar.

29
Perry Rhodan

— Vamos esperar e ver o que acontece! Unidades da Segurança Solar, cuidadosa-


— Rhodan levantou-se. — Tiff, você e mente camufladas, enfileiravam-se nas mar-
Atlan vêm comigo ao espaçoporto. Vamos gens do campo de pouso. Rhodan não acre-
lá receber nossos convidados. ditava que pudesse enganar os lares, mas
Bell fechou a cara. tinha certeza que esperavam dele essas me-
— Existem duas coisas que me levaram a didas de precaução.
deixar você aqui — explicou Rhodan. — O Os mutantes estavam espalhados por
seu temperamento, difícil de refrear, e a ne- toda parte. Nem mesmo Rhodan sabia exa-
cessidade de ter alguém em Império Alfa tamente onde eles haviam se colocado.
que não perca a visão do conjunto mesmo Somente Rhodan, Atlan e Julian Tifflor se
nas situações mais críticas. aproximariam da nave CEV após o pouso.
— Eu não sou um ratinho que sempre Pela primeira vez, Perry Rhodan via a mis-
quer ficar escondido na sua toca — recla- teriosa nave de perto. O seu brilho era tão
mou Bell. intenso que ofuscava os olhos.
— Um dia — profetizou Perry Rhodan, — Uma esfera de energia — falou Atlan.
— os ratos vão descobrir que você sempre — Exatamente como os cientistas da Marco
faz um mau uso deles em suas comparações, Polo descreveram.
e vão reclamar com seu parente maior para A espaçonave CEV estacionou no ar ren-
que ele faça algo contra você. te ao chão. Não se via nenhum tipo de colu-
— Seria melhor que Gucky se ocupasse na de apoio. Rhodan supôs que a nave re-
dos alienígenas — opinou o gorducho. pousava sobre um colchão antigravitacio-
— Disso você pode ter certeza! — retru- nal.
cou Rhodan. — Assim que a nave CEV pou- O Administrador-Geral sentou-se no lu-
sar, todos os mutantes estarão reunidos no gar do piloto de um planador energético que
espaçoporto. estava pronto na lateral do campo de pou-
so. Os três homens ainda estavam a mais de
4. um quilômetro do local de pouso da nave
CEV propriamente dito.
Silenciosa como um gigantesco balão — É arriscado demais irmos sozinhos ao
cintilante, a espaçonave dos lares pairava encontro deles — disse Tifflor.
no céu, aproximando-se do espaçoporto de — Sem dúvida, Tiff! — respondeu Rho-
Terrânia. Milhares de curiosos aglomera- dan, e apontou para o assento de trás vazio.
vam-se para vê-la. A Televisão Terra trans- — Mas eles precisam saber que não esta-
mitia o acontecimento. Desde o começo, mos com medo.
Rhodan estava consciente de que não seria O homem magro de feições jovens esbo-
possível ocultar o pouso da nave — isso çou um sorriso.
não era do interesse dos lares, que queriam — Mas eu estou com medo! — admitiu.
atrair a atenção de todo o mundo. O fato de — Então procure escondê-lo! — instruiu-
tudo se desenrolar oficialmente não teria o Atlan. — Você já teve alguns séculos para
outro efeito senão tranqüilizar os terranos. treinar essas coisas.
O campo de pouso, todavia, encontrava- — Mas não tantos quanto você! — de-
se bloqueado e apenas os responsáveis ti- volveu Tifflor.
nham acesso a ele. Câmeras-robô teleguia- Rhodan deu a partida e eles foram impul-
das da TVT circulavam sobre a nave CEV. sionados pelo campo de repulsão que se

30
A Liga dos Sete

formara embaixo da máquina, saindo em dis- te a frente com os humanos — As palavras


parada. que se seguiram dirigiam-se exclusivamen-
Uma câmera-robô os acompanhava. te a Perry Rhodan. — Mas, principalmente,
O brilho da nave dos lares diminuiu. Rho- fico feliz em poder saudar Perry Rhodan.
dan não acreditava que isso pudesse ter al- A amabilidade parecia ser sincera, mas
guma relação com as medidas de seguran- tinha sem dúvida também algo de desdém.
ça, mas estava certo de que esse fato tinha O lare comportava-se como se o fato de es-
alguma relação com os processos energéti- tar naquele mundo constituísse um ato de
cos que aconteciam no envoltório de ener- grande generosidade de sua parte.
gia da nave. Hotrenor-Taak deu meia-volta em direção
Rhodan parou o planador a cerca de cem à espaçonave e fez um sinal.
metros da espaçonave CEV. Logo em seguida apareceram duzentos
— Agora é a vez deles! — disse Atlan. outros lares diante da nave. Eles também
Ficaram esperando. Nem mesmo agora vestiam trajes iguais ao de Hotrenor-Taak,
Rhodan sentia diminuir a angústia que ha- todavia de uma cor amarelo-ocre. Rhodan
via tomado conta dele desde que aquela presumiu que aquela diferenciação de co-
nave aparecera. No ar pairava uma sensa- res distinguia as personalidades dirigentes.
ção de ameaça impossível de ser afastada. Os duzentos astronautas alienígenas não
— Eles não estão com pressa — obser- traziam qualquer tipo de equipamento visí-
vou Tifflor após alguns minutos durante os vel nem armas, fato que poderia tanto signi-
quais nada acontecera. ficar autoconfiança como uma exibição cons-
— Isso faz parte do jogo psicológico de- ciente da própria superioridade.
les — conjeturou o arcônida. — Eles estão — Este — bradou Hotrenor-Taak para
nos tratando como crianças pequenas. os seus acompanhantes enquanto aponta-
De repente, surgiu uma mancha escura va para Perry Rhodan — é o Primeiro He-
no envoltório brilhante da espaçonave CEV. tran da Via-Láctea.
Um ser apareceu e, aparentemente sem Rhodan sabia que logo acima de suas
dificuldade, deslizou através das paredes de cabeças pairavam as câmeras-robô da TVT.
energia. Ele possuía o mesmo aspecto do A imagem e o som estavam sendo transmiti-
alienígena que falara com Rhodan pelo rá- dos para todas as regiões da Galáxia. Só isso
dio. já deixava Rhodan bastante desconfortável.
— Deve ser Hotrenor-Taak — presumiu Como os outros povos iriam se comportar
Rhodan. — Este é o seu segundo grande ao assistir àquele evidente favorecimento
ato. dos terranos?
Sem nenhuma transição, Hotrenor-Taak Como reagiria, por exemplo, o Comando
havia aparecido diante de sua espaçonave, Energético dos aconenses quando tomas-
como se tivesse sido projetado por um trans- se ciência de que um terrano também falaria
missor invisível. Ele vestia um traje colado em nome de seu povo numa liga que abran-
ao corpo em tons vermelho-escuros. ge sete galáxias?
O alienígena ergueu um braço. As conseqüências que já se podiam pre-
— Eu sou Hotrenor-Taak, o emissário dos ver seriam incontroláveis.
hetossanos — disse ele, saudando os três Mas parecia que essas reflexões não pas-
homens que estavam em pé diante do veí- savam pela cabeça de Hotrenor-Taak, ou ele
culo e aguardavam. — É um prazer estar fren- simplesmente as ignorava.

31
Perry Rhodan

— Este homem distinguiu-se várias ve- dan não precisava ir muito longe para ima-
zes — prosseguiu o lare. A impressão era a ginar qual seria a reação na Via-Láctea.
de que ele continuava falando para os mem- — Você precisa responder! — sussurrou
bros da tripulação de sua nave, mas Rho- Atlan do seu lado. — Agora é mais impor-
dan não tinha dúvidas de que, na verdade, tante deixar bem claro para toda a Galáxia o
aquelas palavras dirigiam-se aos humanos que nós achamos desse tipo de convite do
e a todos os povos da Via-Láctea. — Ele é que propriamente dar uma resposta para o
digno de ser o representante dos povos sujeito.
desta galáxia no Concílio dos Sete. Rhodan concordou fazendo um movi-
A expressão do rosto de Rhodan não se mento quase imperceptível com a cabeça.
alterou. Atlan, nervoso, raspava o chão com — Agradeço as saudações do Concílio
os pés. Ele era inteligente e experiente o — disse lentamente. Ele procurava as pala-
bastante para captar o verdadeiro sentido vras certas, pois sabia que não podia dizer
das palavras do alienígena. nada que o comprometesse. — Mas estou
— Eu convido o Primeiro Hetran da Via- admirado com o fato de que ninguém tenha
Láctea a me acompanhar até um sistema es- pensado em pedir a nossa concordância.
telar do Concílio — disse o lare então. E Naturalmente o Hetos dos Sete deve estar
abriu um largo sorriso. — Para evitar confu- preparado para o fato de a nossa Galáxia
são, gostaria de explicar em poucas pala- não estar disposta a juntar-se à liga. E igual-
vras o que é o Concílio dos Sete. A liga mente quanto à minha nomeação como Pri-
compõe-se de sete potências galáticas to- meiro Hetran da Via-Láctea. Nunca antes ti-
talmente distintas. Uma dessas potências vemos contato uns com os outros. Os lares
são os lares, um povo do qual faço parte. e todos os povos que eles aqui represen-
Assim como os outros seis povos, também tam devem ter incluído em seus planos a
nós, os lares, colocamos um planeta à dis- possibilidade de o convite não ser aceito.
posição especialmente para a reunião. Atu- Qualquer outra alternativa seria considera-
almente as sessões do Concílio realizam-se da por nós como presunçosa e um cercea-
na nossa galáxia, a nebulosa espiralada NGC mento da nossa liberdade de escolha.
3190, que se encontra a vinte e um milhões Pela primeira vez Hotrenor-Taak pareceu
de anos-luz de distância daqui. Nós, os la- perplexo. Rhodan notou que o lare não con-
res, fomos encarregados de levar o Primeiro tara absolutamente com uma resposta como
Hetran da Via-Láctea até lá e apresentá-lo aquela.
ao Concílio. Era possível que não fossem correntes
Rhodan estava aturdido. O alienígena no vocabulário dos lares expressões como
desejava que ele subisse a bordo da espa- “liberdade de escolha” e “concordância”?
çonave CEV e voasse até uma galáxia dis- — Não consigo compreendê-lo — disse
tante mais de vinte milhões de anos-luz e, Hotrenor-Taak. — Você não se sente feliz
como embaixador, falasse em nome da Via- pelo fato de lhe ter sido conferido o alto
Láctea numa assembléia. posto de um Hetran?
Agora Rhodan lamentava ter permitido a Esta pergunta parecia confirmar as sus-
presença das câmeras da TVT, e era tarde peitas de Rhodan. Diante dele surgiam no-
demais para revogar a autorização. A men- vos problemas. Como ele poderia deixar cla-
sagem do “emissário” se espalharia como ra a sua recusa para um ser que não conse-
um raio por todos os cantos da Galáxia. Rho- guia entender tal posicionamento?

32
A Liga dos Sete

O lare deu um passo em direção a Rho- — Eles nos aceitam em sua liga! — disse
dan. Rhodan ofegante. — Isso mesmo, eles nos
— Você está nervoso — constatou. — aceitam. Nas condições deles!
Isso prejudica a sua capacidade de estabe- Ele freou tão bruscamente que Atlan,
lecer as correlações. Será que você não con- que estava com o corpo curvado para a fren-
segue perceber que, a partir deste momen- te, quase foi arremessado para fora do veí-
to, passa a ser o homem mais poderoso des- culo.
ta galáxia? Nós, com toda a nossa força, es- — Foi para isso que nós lutamos! — ex-
taremos apoiando-o. Você poderá impor tudo clamou exasperado. — Foi para isso que
nesta galáxia. agüentamos tudo, para que agora cheguem
— E eu quero isso? — murmurou Rho- uns alienígenas e venham nos dizer o que
dan tão baixo, que só Atlan e Tifflor podiam devemos fazer.
ouvir. — Não vejo um perigo imediato — disse
Ele tinha que se decidir, aqui e agora. Atlan, procurando atenuar a irritação do
Evasivas não iriam adiantar. amigo.
O que aconteceria se ele recusasse? — Primeiro Hetran da Via-Láctea — dis-
Isso era uma incógnita. Porém Rhodan se ele em tom amargo. Ele olhou para baixo.
estava convencido de que uma recusa tra- — Após todas essas provações, finalmen-
ria consigo graves conseqüências para a te poderei ser o que os meus oponentes
Humanidade. sempre viram em mim: um ditador da Via-
— Você não terá mais problemas com po- Láctea.
vos rebeldes — insistiu Hotrenor-Taak. — Ele soltou o corpo, reclinando-se no as-
Todos os seres inteligentes terão que acei- sento.
tá-lo. Disso nós cuidaremos. — Mas terão um outro Rhodan, bem di-
Rhodan encarou os outros perplexo. ferente do que eles imaginam! — exclamou
Parecia que os lares pretendiam transfor- ele.
má-lo em um ditador da Via-Láctea. Atlan deu um sorriso irônico.
— Tenho as minhas próprias idéias so-
bre esta situação — finalmente conseguiu 5.
dizer. — Mas, principalmente, preciso refle-
tir sobre todas essas coisas. Espero que A primeira reação veio do planeta Kor-
aceite a hospitalidade do meu povo até que meet, uma pequena colônia situada no sis-
eu tenha tomado a minha decisão. tema Apridos — e, curiosamente, tratava-
Rhodan virou-se repentinamente e pu- se de uma reação positiva.
lou para dentro do planador. Ele deu a parti- Estamos muito orgulhosos — assim co-
da tão depressa, que mal deu tempo para meçava a mensagem que o administrador
que Atlan e Tifflor também pulassem para de Kormeet transmitiu pelo hiper-rádio —
dentro. de que um homem do nosso povo tenha sido
— O que deu em você? — gritou Atlan. escolhido para ser o embaixador da Galá-
Rhodan agarrava o controle da direção com xia.
tanta força que parecia querer quebrá-lo. As Rhodan apenas lançou um olhar rápido
torres de controle ao lado do campo de pouso para a versão descodificada que lhe entre-
iam sumindo de vista. Naquele momento ele garam.
seria capaz de pular no pescoço do lare. — Este sujeito está querendo se fazer de

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Perry Rhodan

importante — disse ele. — Ou então quer ses povos. Grandes inquietações e diver-
conseguir um empréstimo a longo prazo para gências não são interessantes para nós no
a sua economia. momento atual.
Rhodan, Bell, Atlan e alguns membros — E o que vamos fazer? — perguntou
do Exército de Mutantes encontravam-se Bell, sem rodeios. — Sugiro que informe-
numa ala administrativa de Império Alfa. mos Hotrenor-Taak destas manifestações de
— Estou achando muito estranho ainda protesto.
não termos recebido outras reações — dis- — Por mim, tudo bem — disse Rhodan.
se Fellmer Lloyd. — Parece que todos estão — Não acredito que vá acontecer alguma
pasmos na Galáxia. coisa, mas quem sabe, assim consigamos
— Logo isso vai mudar — conjeturou ganhar mais tempo.
Atlan. — Suponho que os povos que não — Devo estabelecer um canal de comu-
simpatizam conosco vão reagir de forma crí- nicação pelo rádio?
tica, mas isso somente depois que tiverem — Não, gorducho! Vou enviar um men-
chegado a um acordo entre eles. sageiro. Fellmer, por favor, assuma esta ta-
Bell aproximou-se de uma das telas. Ali refa.
se podia ver um detalhe do espaçoporto. No decorrer das horas seguintes, chega-
— Os lares ainda estão em sua nave — ram mais mensagens de muitas outras par-
verificou ele. tes da Galáxia. Para as autoridades de Impé-
Rhodan oferecera acomodações de luxo rio Alfa era surpreendente como a maioria
para Hotrenor-Taak e sua tripulação, mas dos administradores das colônias se mani-
os visitantes recusaram e preferiram ficar a festava positivamente. Algumas mensagens
bordo de sua nave. eram verdadeiros aplausos no papel.
— Mais notícias da central de comunica- Rhodan, nada entusiasmado, olhou a pi-
ção! — exclamou Balton Wyt. — Estão che- lha de mensagens que estava sobre a sua
gando outras manifestações. mesa.
Rhodan pegou as mensagens descodifi- — Parece que ninguém percebe o que
cadas e virou-se para os seus colaborado- está por trás disso tudo.
res. — Não — concordou Atlan. — Todas
— Tenho em mãos notas de protesto em essas pessoas simplesmente estão orgulho-
tom desfavorável dos aras e dos antis — sas pelo fato de um dos seus dirigentes ter
disse ele. — Não vai demorar e logo as dos sido o escolhido para desempenhar este
aconenses, blues e saltadores, e também dos papel. É só isso que eles conseguem enxer-
arcônidas, vão se juntar a esse protesto. gar por ora.
Evidentemente, esses povos não concor- Rhodan olhou para o chão.
dam com a escolha de um terrano como o — Isso torna ainda mais difícil recusar o
Primeiro Hetran da Via-Láctea. convite de Hotrenor-Taak.
Atlan jogou-se numa poltrona e esticou Os cantos da boca do arcônida treme-
as pernas. ram.
— Não acredito que Hotrenor-Taak vá — Mas por que você quer isso? — per-
se deixar influenciar por causa disso. guntou ele, sentando-se no canto da mesa.
— Eu também não — concordou Rho- — Deve existir um outro caminho. Podería-
dan. — Mas nós, de qualquer forma, temos mos mandar um aviso a todos os adminis-
que levar em consideração a opinião des- tradores e representantes dos grandes po-

34
A Liga dos Sete

vos alienígenas da nossa galáxia através da *


USO e da Segurança Solar. Ao mesmo tem-
po, comunicamos que vamos simular que No envoltório brilhante da espaçonave
aceitamos as condições dos lares para po- CEV surgiu uma mancha escura, e no mes-
dermos obter melhores informações a res- mo instante Hotrenor-Taak foi projetado na
peito. frente da espaçonave. Nesse meio tempo
Rhodan sacudiu a cabeça. Rhodan já estava convencido de que esse
— Ninguém vai acreditar nisso! envoltório de energia da nave também pos-
— Mas ganhamos tempo — retrucou suía uma função semelhante à de um trans-
Atlan. missor.
O ânimo entre os amigos estava exalta- Desta vez, Rhodan viera sozinho. Toda a
do. Mas também os outros membros do gru- área ao redor da espaçonave CEV estava
po estavam nervosos. Ninguém sabia exa- completamente cercada por unidades espe-
tamente como os terranos deveriam agir ciais da Segurança Solar. Câmeras da TVT
nessa situação inesperada. foram proibidas naquela região. Os repórte-
Cerca de meia hora mais tarde, Fellmer res da televisão compreenderam a necessi-
Lloyd chamou do espaçoporto pelo rádio. dade dessas medidas e se deram por satis-
O rosto do mutante expressava preocupa- feitos com um protesto formal. Eles teriam o
ção. direito de convocar o Parlamento e, com a
— Falei com o lare — relatou ele. maioria de votos prevista, poderiam revo-
— Com o chefe deles? — quis saber gar as ordens do governo. No entanto, os
Atlan. responsáveis da TVT não eram caçadores
— Sim, com Hotrenor-Taak — confirmou de notícias sensacionalistas e sabiam das
o telepata. — O emissário dos hetossanos suas responsabilidades como dirigentes de
não consegue compreender as suas preo- um meio de comunicação de massa.
cupações. Ele me perguntou, literalmente, — Espero que sua vinda não seja para
como é que um ser inteligente do seu gaba- anunciar novos atrasos — assim o lare ini-
rito poderia apresentar objeções tão esqui- ciou o diálogo. A parte superior do seu traje
sitas. Ele mais uma vez garantiu que não espacial estava aberta de forma que Rho-
precisamos nos preocupar com os outros dan podia ver a pele escura do alienígena.
povos. Se necessário, os lares tomarão pro- Os cabelos de Hotrenor-Taak, que lembra-
vidências para que não haja inquietação. — vam arames, encontravam-se cuidadosa-
Lloyd deu um sorriso sem graça. — Já pos- mente trançados em forma de ninho.
so até imaginar como seriam essas provi- O emissário dos hetossanos continuava
dências. amável, mas sua impaciência já se fazia no-
— Eu também — observou Bell, irado. tar.
Rhodan ergueu-se de um pulo. — Está chegando a hora de regressar-
— O que você vai fazer? — perguntou mos — disse ele. — Na minha pátria, nin-
Atlan, espantado. guém compreenderia tanta demora numa
— Agora vou reunir um grupo — comu- viagem dessas.
nicou o Administrador-Geral. — Os lares vão Rhodan olhou para ele e se perguntou
ter que aceitar o fato de que não me dispo- quem poderiam ser os outros seres que fazi-
nho a voar até a galáxia natal deles sem le- am parte desse Concílio. Certamente não
var meus acompanhantes. seriam tão parecidos com os humanos como

35
Perry Rhodan

Hotrenor-Taak. dos hetossanos, tenho plenos poderes. O


— Eu gostaria de saber mais sobre os Primeiro Hetran da Via-Láctea não deve se
outros seis povos que integram o Concílio, apresentar perante o Concílio como um men-
Hotrenor-Taak. digo. Sendo assim, vamos trazer essa pe-
— Isso você vai saber quando chegar a quena nave para dentro. — Os olhos de cor
hora! — O lare não estava disposto a deixar verde-esmeralda se estreitaram. — É claro
se levar para uma discussão. — Eu tinha que preciso de uma lista com o nome de
certeza de que desta vez você tinha vindo todos os componentes da tripulação dessa
para me comunicar a sua decisão. corveta.
Rhodan inclinou a cabeça afirmativamen- Rhodan pegou um papel no bolso e en-
te e apontou para o outro lado do campo de tregou-o ao alienígena.
pouso. Ali, havia alguns minutos, pousara — Eu já contava com isso e já trouxe uma
a MC-8. Esta era a corveta mais moderna da relação.
Marco Polo. A nave auxiliar media sessenta O lare inclinou a cabeça em reconheci-
metros de diâmetro. mento. Embora desse a impressão de que se
— Está vendo aquela nave? — pergun- divertia desafiando o terrano psicologica-
tou ao lare. mente, ele aceitava as reações com calma e
Hotrenor-Taak virou-se e então olhou até com admiração. Parecia que não espera-
novamente para Rhodan. Ele estava indeci- va que o tratassem com consideração ou
so, pois não sabia o que Rhodan pretendia. muito diplomaticamente.
— Com esta nave — anunciou Rhodan O lare olhou para o papel.
calmamente — meus acompanhantes e eu — Mentro Kosum, Alaska Saedelaere e
voaremos até NGC 3190. Toronar Kasom — leu. — Icho Tolot, Lord
A perplexidade tomou conta do lare, mas Zwiebus, Paladino VI, Geoffry Abel Warin-
apenas por um instante. ger, Mart Hung-Chuin, Atlan, Gucky, Ras
— Nenhuma nave terrana pode cobrir Tschubai, Fellmer Lloyd... — Ele interrom-
uma distância dessas — disse ele, irritado. peu a leitura e ergueu o olhar — Este Lloyd
— Você sabe muito bem que conhecemos é o mutante que me foi enviado com as ma-
as suas capacidades técnicas. Nessas cir- nifestações dos povos extraterrestres? —
cunstâncias, chega quase a ser ridículo ten- Ele não esperou resposta, pois provavel-
tar ganhar tempo com um truque bobo como mente queria apenas provar a Rhodan como
esse. conhecia bem a Terra. Então leu o nome dos
— Não é um truque! — retrucou Rho- demais integrantes da tripulação: — Irmina
dan. — Se a sua nave for tão boa quanto a Kotschistowa, Dalaimoc Rorvic, Nerman
impressão que ela dá, poderá levar a MC-8. Tulocky, Powlor Ortokur e Calloberian.
A velha amabilidade do visitante espaci- Ele ergueu a cabeça.
al reapareceu imediatamente. — Quem é este Calloberian?
— Eu o entendo! — disse ele. — Você — Um xisrape — explicou Rhodan.
deseja ter a sua própria nave quando che- — Não o conhecemos — o lare teve que
gar à minha pátria. admitir. — Mas eu sei que você não dá um
O silêncio de Rhodan significava mais passo sem ter algum motivo. Pode ter certe-
do que muitas palavras. za de que vamos descobrir por que você o
— Isso eu consigo compreender — ga- está levando. Por isso sugiro que nos conte
rantiu Hotrenor-Taak. — Como emissário logo o segredo.

36
A Liga dos Sete

— Ele chamou a nossa atenção há apenas aguardavam seu relatório.


algumas semanas — disse Rhodan contando Atlan atendeu.
a verdade. Ele estava espantado com o fato — Eles aceitaram tudo! — antecipou o
de que Hotrenor-Taak não houvesse imposto arcônida antes que Rhodan pudesse contar
restrições contra a presença de mutantes a alguma coisa.
bordo da MC-8, mas apenas quisesse saber Rhodan arregalou os olhos.
do xisrape. — Verificamos que os xisrapes — Você é adivinho?
podiam ver as estrelas apesar do escurecimen- — Neste caso — retrucou Atlan mal-hu-
to que vocês provocaram. morado — eu estaria mais satisfeito se não
Hotrenor-Taak parecia irritado, mas não tivesse acertado.
fez objeções à presença do xisrape. Sem di-
zer mais nada, enfiou a lista no bolso. *
— Preciso de mais doze horas para al-
guns preparativos finais — pediu Perry Era uma daquelas noites silenciosas em
Rhodan. — Em seguida cumprirei com meus que Anton Chinnel tinha a sensação de que
novos compromissos. fazia parte de um mundo irreal. Sua inquie-
Com um aceno, Hotrenor-Taak concor- tação interna parecia impeli-lo a tomar cer-
dou com o pedido, muito pensativo. Antes tas atitudes, porém ficava sentado imóvel
que Rhodan pudesse continuar o diálogo, na cadeira, fitando o vazio. Meckton já es-
o indesejado visitante desapareceu no inte- tava dormindo e Sargia, como em toda quin-
rior de sua nave CEV. ta-feira, dava aula de música na escola de
Rhodan ficou se perguntando o que os rua. O televisor de parede estava desligado.
seus amigos iriam dizer quando soubessem Os pensamentos de Chinnel vagavam por
que conseguira, sem maiores dificuldades, entre a névoa e se perdiam. Às vezes ele
que um grupo pequeno, porém extremamen- desejava ardentemente ficar sozinho, mas
te combativo, participasse do vôo plane- toda vez que se sentava naquela sala sem a
jado. família, sentia-se perdido.
Os lares com certeza sabiam quem eles A janela estava entreaberta, mas quase
estavam admitindo a bordo de sua nave. não vinha barulho da rua. Praticamente to-
Ou eles se sentiam tão superiores que dos os veículos e máquinas voadoras que
não viam perigo na presença de mutantes e circulavam neste horário possuíam motores
especialistas, ou queriam evitar novas com- silenciosos.
plicações. — Ton — falou neste momento uma voz
Rhodan tinha que reconhecer que os la- bem familiar. — Eu tha que vir aqui mais
res estavam ficando cada vez mais insondá- uma vez, mesmo que isso apenas transfor-
veis. me a despedida numa situação ada mais di-
Quais eram os seus verdadeiros objeti- fícil.
vos? Chinnel ergueu-se com o susto e viu
Não se podia chamá-los de invasores no Calloberian flutuando para dentro através
sentido usual, pois, com todo o poder que da janela aberta. O xisrape desceu até o chão
possuíam, poderiam ter ocupado a Terra sem na frente de Chinnel.
o menor esforço. — Nas atuais circunstcias, não foi fácil
Rhodan ligou o seu intercomunicador de chegar até aqui — prosseguiu Calloberian.
pulso. Ele foi conectado à Central, onde já — Parece que nguém em Império Alfa con-

37
Perry Rhodan

segue se colocar no meu lugar. vez ao seu modo de falar, Calloberian. Estou
— Mas o que é que está acontecendo? contente por você ter encontrado um bom
— perguntou Chinnel custando a acreditar amigo. Quem sabe você possa vir nos visi-
no que via. — Há alguns dias recebi um tar de vez em quando.
comunicado do governo informando que — Não — respondeu o xisrape. — Estou
você não voltaria mais para cá. Fui liberado feliz por ter arrjado uma forma de vir aqui
das obrigações de adoção. mais uma vez. Mas esta é a última visita.
— Ton — disse Calloberian. — Eu vou Ele parecia indeciso quanto ao que ainda
abdonar este pleta. poderia dizer a Chinnel. Evidentemente tam-
Chinnel levantou-se e pediu uma caneca bém Calloberian sentia como se fossem es-
de leite para Calloberian. tranhos. Coisas demais haviam acontecido
Levou apenas alguns segundos para que naquelas últimas semanas. Chinnel, que não
se abrisse uma portinhola na parede da sala se encontrava bem informado e via os fatos
que a separava da máquina da cozinha. de um outro ângulo que Calloberian, ficou
Chinnel pegou a caneca e entregou-a para aborrecido. Ele era suficientemente sincero
Calloberian. para admitir que estava com ciúmes de um
— Não me pergunte nada, Ton — pediu homem que nem sequer conhecia: Alaska
Calloberian. Saedelaere. A sua razão, psicologicamente
— Isso tem algo a ver com esse alieníge- treinada, dizia-lhe também que a base desse
na — presumiu Chinnel. sentimento era o egoísmo: uma prova segu-
— Sem perguntas! — disse o xisrape. ra de que não havia trazido Calloberian para
Chinnel olhou para ele inseguro. O ser o seio da sua família apenas por compaixão,
que estava diante dele não era mais o xisra- mas também por motivos próprios.
pe que conhecera. Calloberian mudara. — No momento não estou em condições
— Como você está se saindo? — per- de falar sobre tudo com você — disse ele,
guntou Chinnel para esconder o seu emba- mal-humorado. — Com certeza nem você
raço. tem muito tempo.
— Bem! Já arrjei um novo amigo. Ele se — É, não tenho — murmurou o xisrape.
chama Alaska Saedelaere, o mutante masca- — Preciso voltar, senão vão imagar que não
rado. quero participar.
— Então ele existe mesmo? — pergun- Chinnel fez um gesto de desamparo com
tou Chinnel. — Sempre achei que ele fosse os braços.
apenas um personagem inventado. É quase — Nós... nós sempre desejamos o me-
impossível acreditar que nos dias de hoje lhor, Calloberian.
ainda exista alguém que tenha que andar — Eu sei — confirmou o xisrape. — Fui
por aí com uma máscara de plástico no ros- muito feliz aqui.
to quando já temos o biomolplast, um mate- Ele flutuou para fora pela janela. Chinnel
rial sintético com o qual se pode esconder ficou um tempo parado e depois ativou o
todas as deformações. televisor de parede. Agora ele queria pen-
— O fragmento capp que se encontra no sar em outras coisas.
rosto de Alaska rejeitaria uma máscara orgi- Durante cerca de meia hora, ficou assis-
ca — explicou o xisrape. tindo o programa sem maior interesse, mas
Chinnel suspirou. de repente surgiu o aviso de uma edição
— Primeiro preciso me acostumar outra extraordinária que chamou a sua atenção.

38
A Liga dos Sete

Um porta-voz do governo informava os Hotrenor-Taak, e o lare a havia aceitado.


habitantes da Via-Láctea de que, na manhã — Não consigo me livrar da sensação de
seguinte, Perry Rhodan partiria com os alie- que estou voando para dentro de uma boca
nígenas numa viagem espacial para ser re- gigantesca — disse Kosum pelo rádio. —
cebido pelo Concílio dos Sete como repre- Em outras palavras: ainda não sei direito o
sentante da Galáxia. que os lares realmente querem!
Chinnel sacudiu a cabeça. — Deixe isso para depois, Mentro! —
Como é que um único homem queria falar censurou Rhodan. — Não se esqueça de
em nome de todos os povos e indivíduos? que você foi promovido faz pouco tempo.
Evidentemente Perry Rhodan, sob pres- Agora é um coronel da Frota Solar.
são dos acontecimentos do momento, per- — Coronel! — repetiu Kosum e deu uma
dera toda e qualquer noção de como agir risada amarga. — Se sairmos inteiros dessa,
racionalmente. talvez o senhor me promova a almirante ou
até general.
* — Não quero irritá-lo desnecessariamen-
te — tranqüilizou-o Rhodan. — Você sabe
O envoltório esférico de energia que en- muito bem que a Frota Solar não é e nem
volvia a nave CEV começou a brilhar. A nave pode ser um sistema hierárquico. A manu-
dos lares se expandiu. Dentro da nave am- tenção das hierarquias é apenas uma bela
pliada havia um convés energético. Como tradição, que também não queremos inter-
eles conseguiam fazer isso, por enquanto romper no futuro. Isso não vai evitar que
ainda era segredo dos lares. um cabo pise nos seus calos se ele assim
Kosum e Kasom, os dois únicos mem- achar conveniente.
bros da tripulação escolhida que neste mo- A MC-8 voou em direção à nave CEV.
mento já se encontravam a bordo da corve- Alguns instantes depois ela desapareceu
ta, receberam pelo rádio instruções para no interior da espaçonave dos lares.
levá-la para dentro da nave CEV. — Parece que deu certo — disse Atlan
Kosum era um emocionauta, considera- aliviado. — Até agora não temos nenhum
do um dos melhores pilotos da Frota Solar. motivo para nos queixarmos da honradez
Conduzir a MC-8 para dentro da nave CEV dos lares.
certamente não era uma tarefa complicada, Depois de alguns minutos, Hotrenor-
mas não deixava de ser algo bastante inco- Taak e Mentro Kosum surgiram diante da
mum. nave CEV.
Perry Rhodan, Atlan e os demais mem- — Está tudo em ordem — informou Ko-
bros da tripulação destacada para irem até sum no seu comunicador de pulso. — A
uma galáxia distante observavam o curto corveta encontra-se em segurança num con-
vôo da corveta instalados numa das torres vés de energia. É espantoso, mas também
de controle ao lado do campo de pouso. no interior da nave dos lares todas as pare-
No envoltório da nave lare abriu-se um des e conveses intermediários são compos-
grande vão. tos de energia estabilizada. A vantagem dis-
Rhodan queria ver primeiro como essa so é que eles podem modificar a qualquer
manobra iria terminar, antes de subir ele momento os espaços de acordo com as res-
mesmo a bordo com seu grupo de homens. pectivas necessidades.
Ele fizera uma proposta nesse sentido a A sua breve estada na nave lare havia

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Perry Rhodan

impressionado Kosum, o que se podia per- — Os lares vão se manifestar — disse


ceber nitidamente pelo seu tom de voz. ele. — Provavelmente, no momento ainda
— Muito bem — disse Rhodan. — Va- estão muito ocupados com a sua nave.
mos embarcar. — Toda esta coisa cada vez se parece
mais com um rapto bem organizado — agou-
6. rou Atlan. — Aos poucos, começo a enten-
der por que Hotrenor-Taak tolerou a pre-
A espaçonave alienígena, levando a bor- sença de todos nós a bordo sem ressalvas.
do a MC-8 com a sua tripulação, partiu em Assim, com uma só tacada ele conseguiu
direção à órbita da Lua. Lá, com uma acele- capturar a mais poderosa força armada da
ração de mais de dois mil quilômetros por Humanidade.
segundo ao quadrado, deu início à sua via- — Ainda é cedo demais para esse tipo
gem. Com um rápido flamejar do seu envol- de suspeita — disse Rhodan. Ele dirigiu-se
tório energético, entrou no espaço linear. a Gucky e Fellmer Lloyd: — Vejam se vocês
Pelo menos foi esse o quadro que os conseguem captar pensamentos ou senti-
observadores do Sistema Solar puderam vi- mentos dos lares.
sualizar. — E o que você acha que estamos fazen-
O formidável desdobramento de energia na do esse tempo todo? — perguntou Gucky,
transferência para um outro continuum não melindrado. — Mas tudo que consigo cap-
teve conseqüências para o Sistema Solar. tar são os pensamentos do nosso pequeno
Os lares desapareceram da mesma ma- grupo.
neira misteriosa com que haviam aparecido. Em uma situação dessas até o ilt teria
perdido o humor, observou Rhodan.
* Finalmente, Hotrenor-Taak subiu a bor-
do em companhia de duas mulheres lares.
Embora os instrumentos a bordo da cor- Ele dirigiu-se até a cabine de comando onde
veta funcionassem sem problemas, era difí- toda a tripulação da MC-8 se encontrava
cil para a tripulação acompanhar o vôo da reunida.
nave que a transportava. A espaçonave CEV Até agora Rhodan apenas vira lares do
fazia manobras cujos valores muitas vezes sexo masculino. E, apesar de um pouco es-
os equipamentos da corveta não consegui- quisitas, ele achou as mulheres que acom-
am calcular. panhavam Hotrenor-Taak atraentes.
Desde a partida, os lares e os terranos — Estranhei o fato de vocês até agora
ainda não haviam tido contato uns com os ainda não terem saído de sua nave — disse
outros. Na MC-8, o nervosismo e a inquie- Hotrenor-Taak. — Vocês são livres e podem
tação eram cada vez maiores. andar em nossa esfera de energia. Com cer-
Tolot foi um dos primeiros a falar aberta- teza encontrarão várias coisas muito inte-
mente das suas apreensões: ressantes.
— Eu acho que eles enganaram vocês, Embora as palavras fossem dirigidas a
meus filhos! Está na hora de formarmos um todos, Rhodan tomou-as como sendo uma
grupo para sair da corveta e fazer um reco- provocação pessoal. Ele não perdia a im-
nhecimento dentro da nave CEV. pressão de que o lare tentava sistematica-
Atlan e Lord Zwiebus apoiaram esta pro- mente minar a sua autoconfiança. Não se
posta, mas Rhodan não tinha dúvidas. tratava de uma ação fulminante, mas sim, de

40
A Liga dos Sete

uma hábil tática de desgaste. “Ele fala conosco como se fossemos um


Rhodan decidira não ignorar a provoca- grupo de crianças sem a faculdade da ra-
ção. zão!” pensou Rhodan consigo. A irritação
— Nós preferimos esperar pelo seu con- fez o sangue subir-lhe à cabeça, mas ele
vite — redargüiu Rhodan. — Além disso, conseguiu se dominar e ficou calado.
queremos saber como vai o andamento do — Logo estaremos a treze milhões de
vôo. Estamos observando tudo da nossa anos-luz da nebulosa de Andrômeda —
cabine de comando. prosseguiu o astronauta lare. — Nosso ob-
— Não quero deixá-lo desinformado por jetivo é um sol no nada absoluto entre as
mais tempo — disse o lare. — Já nos encon- galáxias. Ele foi expelido durante a explosão
tramos na fronteira de sua galáxia e agora de uma nebulosa espiralada e depois en-
vamos ativar os nossos propulsores mais controu o seu lugar no espaço vazio. Trata-
potentes. Com isso saímos das dimensões se de um sol amarelo com seis planetas. Nós
de Einstein e rompemos a barreira de um o chamamos de Hartzon. O segundo mundo
outro universo. Assim conseguimos ven- é o planeta da conferência e se chama He-
cer grandes distâncias. tossa. — Ele lançou um olhar para os con-
Ele foi para o meio dos seus ouvintes, troles da MC-8. — Embora seja um fato sem
com uma mulher de cada lado, que até então importância, desde que partimos já percor-
se mantinham caladas. remos mais de doze milhões e meio de anos-
— Nosso verdadeiro objetivo não é NGC luz. Em algumas horas, segundo o tempo
3190 — prosseguiu o lare. — Por determi- terrano, vocês também poderão reconhecer
nados motivos tivemos que transferir o lo- Hartzon e os seus seis planetas nas telas de
cal da reunião para uma região onde temos sua nave.
certeza de que quase não teremos perturba- A voz tornara-se bem baixa, num tom
ções: o vazio intergalático! quase sonolento. Rhodan forçou-se a pen-
— O senhor não nos contou essas coi- sar. Não podia deixar que os acontecimen-
sas antes de partirmos! — disse Atlan, irri- tos o perturbassem.
tado. — Estou até convencido de que o se- Por que o Concílio dos Sete se reunia no
nhor reteve essa informação deliberadamen- espaço vazio?
te. Não era absurdo o fato de que inúmeros
— É verdade — admitiu Hotrenor-Taak delegados tivessem que percorrer distânci-
sem vacilar. — Mas fiz isso no interesse de as inimagináveis para chegarem ao planeta
vocês. Eu apenas teria despertado descon- da conferência?
fianças desnecessárias se tivesse contado Talvez, analisou Rhodan, tivesse que
tudo. modificar as suas antigas noções sobre o
— O que mais o senhor ainda está ocul- que é um concílio.
tando de nós? — perguntou Waringer. — Tudo isso vocês precisavam saber an-
— Existem informações que só devem ser tes da sua chegada! — Desta vez, Hotre-
transmitidas em pequenas doses — respon- nor-Taak dirigiu-se diretamente a Rhodan.
deu o emissário dos hetossanos. — Como — Prepare-se para uma grande recepção. A
cientista, você deveria saber disso. Não chegada de um novo Hetran é sempre um
temos nenhum interesse em deixá-los com- acontecimento imponente. Afinal de con-
pletamente confusos, mas podemos lhes tas, isso não acontece todos os milênios.
assegurar que não queremos esconder nada. Hotrenor-Taak sabia muito bem que, com

41
Perry Rhodan

suas palavras de encerramento, mais uma da sua passagem a bordo da corveta, sur-
vez conseguira uma saída triunfal. giu na tela da MC-8 o brilho suave de um
Ele colocou seus braços sobre os om- sol amarelo. Alguns dos seus seis planetas
bros das duas mulheres e saiu com elas. também podiam ser divisados.
Os membros da tripulação da MC-8 os O sistema Hartzon realmente se localiza-
observaram até desaparecerem no corredor va no espaço vazio intergalático. Lá estava
da comporta. ele sozinho entre as galáxias.
— Ele parece um mágico que em cada ato A bordo da nave terrana realizavam-se
tira coelhos maiores de dentro da cartola — todos os preparativos para o pouso. Rho-
disse Mart Hung-Chuin. — Conheci muito dan não dera instruções especiais aos seus
poucos seres para os quais cada palavra e amigos, pois ninguém poderia saber o que
cada gesto fossem tão importantes como os esperava nesse segundo mundo do sis-
para este lare. tema desconhecido. Todos os membros da
— Não confio nele — falou Irmina Kots- tripulação da corveta possuíam experiência
chistowa. — Não quero me fiar na minha suficiente para se adaptarem aos problemas
intuição feminina, mas sinto que tem algu- mais diversos possíveis.
ma coisa errada com esse emissário. — De qualquer forma, por ora vamos ado-
— Eu acho que ele quer apenas nos dei- tar um comportamento passivo — falou Per-
xar inseguros — Alaska Saedelaere entrou ry Rhodan instantes antes do pouso. —
na conversa. — Quanto mais desampara- Temos que admitir que os lares, num mundo
dos estivermos na atual situação, tanto mais controlado por eles, não devem ter menos
poderemos ficar dependentes dele. Acredi- recursos do que na Terra. Ninguém do nos-
to até que ele não esteja desempenhando so grupo pode perder o autocontrole. Tere-
este papel por nossa causa, mas sim por mos as nossas chances, pois não acredito
puro egoísmo. Talvez ele não seja necessa- que os estranhos saibam exatamente quais
riamente uma liderança entre o seu povo. O são os nossos recursos.
fato de trazer um Primeiro Hetran provavel- — Quanto mais depressa obtivermos de-
mente lhe dê oportunidade para se autopro- talhes sobre este Concílio e os seus mem-
mover. Quem vai levar a mal se ele se apro- bros, mais facilmente poderemos nos pre-
veitar desta situação? parar para as exigências que os lares certa-
Rhodan confessou para si mesmo que mente nos farão — acrescentou Atlan. —
ainda não havia analisado o comportamen- Por isso, será de muito pouca valia se todos
to de Hotrenor-Taak sob esse ângulo. Po- nós ficarmos agrupados em volta de Perry.
rém, também não acreditava que Alaska es- Ele deve se destacar em primeiro plano e
tivesse certo com essa suposição. com o seu comportamento chamar toda a
De um modo geral, todas essas conside- atenção dos lares para si. Isso talvez dê
rações e discussões não levavam a lugar oportunidade para que outros membros do
nenhum. Eles tinham que aguardar até que grupo possam dar uma olhada em Hetossa.
estivessem em Hetossa. Rhodan soltou uma gargalhada.
— Pelo que vejo, você já distribuiu todos
* os papéis, não é, arcônida. Mas dou-lhe toda
razão. Temos que descobrir quem realmente
Pelo menos quanto a um aspecto, Hotre- são os lares e o que pretendem na nossa ga-
nor-Taak falara a verdade: seis horas depois láxia e na Terra. Esse deve ser nosso princi-

42
A Liga dos Sete

pal objetivo num primeiro momento. le homem apenas traria inconvenientes. No


— Mas isso também não quer dizer que lugar de um acompanhante oficial, eles teri-
alguém do nosso grupo deva correr riscos am inúmeros observadores invisíveis atrás
— tomou a palavra Waringer. — Precisa- deles. — Fique conosco, pode ser que ve-
mos agir com uma certa serenidade, mesmo nhamos a precisar de você.
que isso seja difícil nestas condições. Muskenor-Aart sorriu amavelmente e re-
Inesperadamente, um membro da tripula- tirou-se para o fundo da cabine de coman-
ção lare surgiu a bordo neste instante. Tra- do.
tava-se de um homem jovem que os terra- Agora já era possível ver a superfície do
nos até então não tinham visto. planeta Hetossa nas telas. Rhodan sabia a
— Venho por ordem de Hotrenor-Taak! quem ele devia agradecer a correta trans-
— Ele era tão amável quanto o próprio emis- missão dessas imagens. Como eles se en-
sário dos hetossanos. Pelo menos neste as- contravam encerrados na capa energética
pecto, os lares eram todos muito parecidos. da espaçonave CEV, a MC-8 jamais teria tido
Essa amabilidade benevolente não parecia condições de fornecer tais imagens. Os la-
ensaiada, mas sim um traço autêntico. Ape- res transmitiam as suas próprias observa-
sar disso, um mal-estar tomou conta de Rho- ções ao sistema dos terranos. Como eles
dan. faziam isso, por enquanto ainda era um dos
— O que você quer? — disse Rhodan seus muitos enigmas.
bruscamente. Ele suspeitava que haviam en- — Uma atmosfera com oxigênio, como
viado um espião para observá-los constan- esperávamos — disse Mart Hung-Chuin. Ele
temente a partir de agora. Por outro lado, voltou-se para Muskenor-Aart. — Certa-
Perry Rhodan tinha que partir do princípio mente você pode nos dar informações mais
de que os lares possuíam recursos técnicos precisas.
suficientes para vigiar cada passo dos seus — Naturalmente — disse o lare prestati-
visitantes. vo. — A rotação deste planeta em torno do
— Fui enviado para ficar à disposição de seu eixo compreende vinte e nove horas, e a
vocês no caso de terem alguma pergunta — gravitação situa-se pouco acima do valor
respondeu o jovem lare. — Me chamo da Terra. Do ponto de vista de vocês, as
Muskenor-Aart. Vivi por muito tempo em temperaturas poderiam estar um pouco aci-
Hetossa e conheço bem o lugar. Se vocês ma da média.
quiserem, após a nossa chegada posso — Ainda há outras coisas que nos inte-
guiá-los pela cidade. ressam — disse Waringer. — Como é com-
— Preferimos formar nós mesmos nossa posta a população deste planeta?
impressão deste mundo — disse Atlan. — Em primeiro lugar, naturalmente, são
Rhodan considerou este comentário um os lares que vivem em Hetossa — respon-
tanto precipitado, mas Atlan em várias situ- deu Muskenor-Aart. — O sistema Hartzon
ações era mais impulsivo do que os seus foi colocado à disposição por nosso povo e
amigos terranos. deve servir aos propósitos do Concílio. Há
— Como preferirem — respondeu quase vinte milhões de seres inteligentes,
Muskenor-Aart. — Então, vou me retirar se dos quais cinco milhões vivem na capital. A
não precisarem mais dos meus serviços. propósito, ela chama-se Mivtrav. — Muske-
— Isso não é preciso — disse Rhodan nor-Aart fez um gesto de lamento. — Pode
rapidamente. Ele sabia que a recusa daque- ser que sintam falta de uma indústria desen-

43
Perry Rhodan

volvida em Hetossa, pois ela não existe lá. que Perry Rhodan fique confuso ao ver o
O planeta destina-se a outros fins. É claro espaçoporto com todos os preparativos que
que existem alguns estaleiros de reparos foram realizados. O Primeiro Hetran da Via-
para as nossas espaçonaves e alguns de- Láctea, logo em seguida à sua chegada, não
pósitos de abastecimento. Este mundo é pode ser levado a um estado igual, diga-
mais um ponto de apoio do que propriamen- mos, ao do ator antes da estréia.
te uma colônia. Agora já não havia mais dúvidas de que
Rhodan e Atlan trocaram um rápido olhar. Muskenor-Aart exercia uma política de pe-
Parecia que o lare realmente não escondera quenas alfinetadas constantes em Perry
nada. Por outro lado, era preciso levar em Rhodan. Nessas condições, Rhodan não
conta que os dados fornecidos eram bas- podia deixar de se perguntar se Hotrenor-
tante genéricos. Rhodan tinha certeza de Taak não aplicava toda aquela série de pe-
que inúmeras surpresas ainda os aguarda- quenas humilhações inconscientemente.
vam. Talvez fizesse parte da mentalidade dos la-
— O pouso será concluído rapidamente res tratar assim os seres estranhos a eles.
— anunciou o lare. — Perry Rhodan deve Não era possível comprovar se o pouso
deixar a nave como o Primeiro Hetran junto já fora concluído. Os homens que trabalha-
com o emissário dos hetossanos. Por favor, vam nos aparelhos sistema localização da
prepare-se adequadamente para isso. MC-8 haviam perdido todo o contato com o
Além do seu papel de guia indesejado, mundo externo depois que os lares encerra-
parecia que Muskenor-Aart também era um ram as transmissões de imagem.
tipo de mestre de cerimônias. Mas logo Hotrenor-Taak apareceu na
A nave de energia mergulhou na atmos- corveta para buscar Perry Rhodan.
fera do planeta. Por um instante, apareceu — As acomodações para os seus acom-
na tela a imagem de uma gigantesca cidade panhantes já estão preparadas — disse o
com ruas de energia cintilantes e constru- emissário dos hetossanos. — Após a re-
ções de linhas arrojadas. cepção você também poderá retirar-se para
— Esta é Mivtrav — ouviu-se a voz de junto deles, para descansar.
Muskenor-Aart. — O espaçoporto fica na Ele apontou para o jovem lare.
periferia da cidade. Como as nossas naves — Muskenor-Aart cuidará dos seus ami-
não fazem barulho nem sujeira, o nosso cam- gos enquanto assistimos à recepção.
po de pouso também poderia ter sido insta- Rhodan não encontrou nenhuma opor-
lado bem no centro da cidade. tunidade para fazer uma objeção. Também,
Lá vinha outra vez a típica arrogância dos teria sido ridículo realizar uma viagem tão
lares. longa e depois criar atrito por causa de ques-
De repente, apagaram-se todas as telas. tões protocolares.
Os lares haviam encerrado sua transmissão. Junto com Hotrenor-Taak, ele saiu da
Irritado, Atlan dirigiu-se ao lare. corveta. No caminho para o lado de fora, ele
— E agora, o que significa isso? atravessou pela segunda vez o interior da
— Eu também não sei explicar exatamen- espaçonave CEV. A claridade das paredes e
te — respondeu Muskenor-Aart gentilmen- do convés doía nos seus olhos. Os lares
te. — Mas imagino que haja razões psicoló- pareciam já estar acostumados.
gicas que levaram Hotrenor-Taak a encerrar Aparentemente, a bordo daquela nave
a transmissão. Certamente ele quer evitar não havia centrais de controle. Os elemen-

44
A Liga dos Sete

tos de comando encontravam-se em nichos — Isso quer dizer que não vou poder me
e concavidades. Também os membros da pronunciar diante do Concílio? — pergun-
tripulação pareciam dispersos por todos os tou Rhodan.
cantos da nave. Mesmo assim, a nave fun- — É claro que lá você vai poder se pro-
cionava como uma unidade. nunciar, mas a conferência permanente, no
— Uma vez dominados os métodos da presente momento, está sendo conduzida
estabilização e deformação da energia, a fa- apenas por lares. Você pode imaginar como
bricação de naves como esta é muito fácil seria complicado trazer a toda hora os dele-
— soou a voz de Hotrenor-Taak. — Para gados das sete galáxias até aqui.
seres que seguem uma orientação técnica, A contradição nas afirmações do emis-
uma nave como esta deve parecer um ver- sário dos hetossanos era evidente.
dadeiro milagre. E Rhodan não teve medo de expressar
Rhodan olhou-o de esguelha. isso.
— E que orientação seguem os lares e os — Algo me diz que estou sendo engana-
povos a eles ligados? do — disse ele.
— Acredito que conseguimos encontrar Hotrenor-Taak sacudiu a cabeça energi-
algumas soluções ótimas — esquivou-se o camente.
emissário dos hetossanos. — Só o fato de — Isso é um absurdo. Você está aqui por-
coordenarmos sete galáxias já é uma prova que passou por todas as tarefas e prova-
disso. ções que lhe foram impostas. Você se afir-
Eles entraram no campo de irradiação da mou e pode ser o Primeiro Hetran da sua
camada externa do envoltório da nave e fo- galáxia.
ram projetados no campo de pouso. Rho- Dessas palavras, Rhodan depreendeu que
dan não sentiu nenhuma dor por causa da havia certas ligações entre o Hetos dos Sete
transmissão. e as duas entidades Aquilo e Anti-Aquilo.
Ele lançou um olhar rápido ao seu redor. — Que contatos você tem com Aquilo e
Do outro lado do espaçoporto, havia uma Anti-Aquilo? — ele quis saber.
fileira de espaçonaves CEV brilhantes. Evi- O lare sorriu.
dentemente, elas formavam uma espécie de — Nós conhecemos essas provações e
ala de recepção. Havia um tapete de energia agimos de acordo. Isso é tudo o que posso
que ia diretamente da nave de Hotrenor- lhe dizer.
Taak até os prédios ao lado do campo de Eles flutuaram sobre o caminho de ener-
pouso. Cerca de dois a três mil lares aglo- gia e passaram pelos lares exultantes. Rho-
meravam-se nas laterais daquele curioso dan compreendeu que Hotrenor-Taak tam-
caminho. Eles estavam ricamente trajados e bém era um líder em Hetossa — se não o
erguiam o braço num gesto de saudação. mais importante de todos os lares.
— São todos representantes altamente — O Concílio dos Sete — informava Ho-
graduados. Como nós, os lares, somos os trenor-Taak de passagem — sempre esteve
anfitriões, por enquanto somente nós é que ocupado em escolher grandes povos adi-
vamos tratar com vocês — Hotrenor-Taak antados, para pôr um fim com a sua ajuda a
pegou Rhodan pelo braço e o levou para o todas as discórdias existentes entre as ga-
caminho de energia. — Mais tarde você co- láxias.
nhecerá os outros integrantes do Concílio. Rhodan ouvia atentamente.
Por ora, terá que tratar apenas com os lares. — É claro que este processo também exi-

45
Perry Rhodan

ge compreensão do seu lado. Em breve vo- suspensos.


cês terão que desarmar a sua frota e provi- Mivtrav fora construída por seres que
denciar para que os outros povos da sua queriam uma paisagem agradável ao seu re-
galáxia façam o mesmo — Hotrenor-Taak dor. E isso eles conseguiram.
ergueu a cabeça. — Eu sei que o grande Hotrenor-Taak apontou para uma cúpula
objetivo de vocês é a paz em sua galáxia que se erguia ao lado da rua de energia.
natal. Agora está em suas mãos a única chan- — Esta é uma das inúmeras estações pro-
ce de consegui-la para sempre. jetoras que podemos encontrar por todos
Rhodan não respondeu. Os pensamen- os lugares na cidade — explicou ele. — Este
tos rodopiavam em sua cabeça. sistema pode ser comparado às suas esta-
A paz em toda a Galáxia, sem dúvida, era ções transmissoras, embora o seu funcio-
um objetivo desejável. Um objetivo a que namento seja bem menos complicado. Você
Rhodan e todos os seres humanos também vai se entender com elas rapidamente.
se tinham proposto. E agora vinham os lares Rhodan sentiu-se aliviado quando o lare
com promessas de que tudo seria bem sim- mudou de assunto. Mas ele também sabia
ples se as ordens deles fossem seguidas. que, mais cedo ou mais tarde, seria nova-
Rhodan não contara com a possibilidade mente confrontado com perguntas decisivas.
de os lares pedirem o desarmamento da Fro- Rhodan lançou um olhar para trás e viu
ta Solar. Todavia, Hotrenor-Taak falara dis- que agora outros integrantes da tripulação
so como se fosse nada mais do que um fato da MC-8 estavam do lado de fora e, acom-
corriqueiro. panhados por diversos lares, deslizavam
— Você está muito quieto — constatou para uma outra rua de energia. Tudo aquilo
o emissário dos hetossanos, descontente. era uma experiência nova para Rhodan. Os
— Eu contava com uma concordância entu- lares aparentemente conseguiam construir
siástica. estradas onde bem entendessem, assim
— Tudo isso ainda é muito novo para mim como podiam simplesmente desmanchar
— retrucou o terrano, evasivamente. — Além outras. O sistema viário de Mivtrav apre-
disso, o visual da sua cidade me fascina. sentava uma mobilidade ainda maior do que
A silhueta de Mivtrav realmente era im- a do envoltório de energia da espaçonave
pressionante. Entre os prédios estreitos es- CEV que havia trazido o grupo de Rhodan
gueiravam-se as ruas de energia como ser- para Hetossa.
pentes brilhantes. Havia pontes apoiadas Logo depois, Rhodan viu seus amigos
sobre pilares de energia. Apenas os prédi- desaparecerem atrás de alguns edifícios.
os mais baixos não apresentavam suportes Hotrenor-Taak interpretou corretamente
energéticos. Mivtrav oferecia um quadro de o olhar do seu acompanhante.
cores maravilhosas. Quase não se viam avi- — Eles estão sendo levados às suas aco-
ões e veículos. Todo o trânsito fluía nessas modações, exatamente como eu disse. Não
esteiras rolantes de energia, que muitas ve- precisa se preocupar.
zes serpenteavam entre os edifícios numa Da margem do campo de pouso, Rhodan
velocidade estonteante. Pelo menos era as- pôde comprovar que o espaçoporto de Miv-
sim naquele lado da cidade. Em outras regi- trav não era muito grande. Claro que não se
ões, parecia que as coisas eram mais cal- podia compará-lo com um espaçoporto
mas. Lá existiam parques projetados com como o de Terrânia. Contudo, Rhodan não
grande generosidade, com lagos e jardins deu muita importância a esse fato. Em fun-

46
A Liga dos Sete

ção das suas características, as espaçona- ponho que nos encontremos em algumas
ves CEV podiam praticamente pousar e de- horas no local da conferência. Nesse meio
colar em qualquer lugar. Além disso, para tempo, deveríamos dar oportunidade para
os lares não devia ser nenhum problema cri- que o nosso convidado possa descansar.
ar campos energéticos de pouso. Ele apontou para uma das formações si-
Alguns lares que estavam em pé ao lado nuosas ao lado do caminho.
do caminho aproximaram-se de Hotrenor- — Vou levá-lo ao seu alojamento.
Taak e Perry Rhodan.
— Estes são membros do Concílio — *
anunciou Hotrenor-Taak. — Todos eles de-
sejam lhe dar as boas vindas. As acomodações dos terranos situavam-
O primeiro lare adiantou-se. Ele era mais se bem no meio de um amplo parque. Logo
largo que Hotrenor-Taak, e os seus olhos em seguida à sua chegada, Rhodan ficou
verde-esmeralda quase desapareciam atrás sabendo por intermédio de Atlan que não
das salientes protuberâncias ósseas. haveria impedimentos à saída dos membros
— É um grande prazer para nós poder do grupo. Eles podiam ir e vir livremente,
saudar o Primeiro Hetran da Via-Láctea no não lhes sendo vedado sair do prédio para
Hetos dos Sete — disse ele, amável. O lare onde foram levados. Hotrenor-Taak retirou-
possuía uma voz sonora, que podia ser ou- se novamente.
vida à distância. — Não há guardas — informou o arcôni-
— Meu nome é Corvernor-Bran, e sou o da. — Estão nos deixando totalmente à von-
Primeiro Orador dos ark-lares no Concílio. tade. Com o sistema de localização do Pala-
Ele estendeu a mão de acordo com os dino, rastreamos toda a região e temos qua-
costumes terranos, mas Rhodan hesitou em se certeza de que também aqui não temos
pegá-la. Tudo indicava que em Hetossa os câmeras ou aparelhos de escuta. Ao que
lares supunham que Rhodan aceitaria de tudo indica, os lares estão levando a sério
imediato o papel a ele destinado. Ou eles essa história da hospitalidade.
foram falsamente informados por Hotrenor- Rhodan se questionava se talvez estives-
Taak ou sequer podia passar pela cabeça se avaliando aquele poderoso povo de for-
deles que alguém poderia se opor aos seus ma errônea. Por outro lado, não podia es-
desejos. quecer que para os lares não havia nenhu-
A situação tornou-se constrangedora. ma espécie de risco em deixar os seus visi-
Rhodan pegou a mão estendida e aper- tantes sem serem vigiados.
tou-a rapidamente. Todavia não disse nada. Se os terranos quisessem voltar ao seu
Depois de Corvernor-Bran foram-lhe mundo natal, eles precisariam dos lares e,
apresentados os outros lares. Rhodan logo portanto, não podiam se permitir nenhuma
notou que, apesar das altas posições que ação que pudesse atrair a animosidade des-
sem dúvida ocupavam, eles reconheciam em te povo.
Hotrenor-Taak o seu líder. — Dentro de algumas horas eles virão
O emissário dos hetossanos determinou me buscar para a primeira conferência —
a continuação da cerimônia. informou Rhodan. — Para eles já está deci-
— Os terranos não são lá amigos de gran- dido que eu serei o Primeiro Hetran. Temo
des discursos — explicou aos lares. — Eles que uma recusa possa acarretar-nos conse-
costumam ir direto ao assunto. Por isso, pro- qüências sérias e por isso estou decidido a,

47
Perry Rhodan

pelo menos aparentemente, aceitar as pro- Gucky deu uma risadinha.


postas dos lares. — Perry vai explicar para eles que fomos
— Portanto, está na hora de tomarmos a passear no parque — afinal de contas, isso
iniciativa — continuou Perry. — Ras, você não é proibido.
e Gucky devem partir para um reconheci- Assim Gucky encerrou a conversa sobre
mento da situação. Preciso do relatório de esse assunto, pois estava mais interessado
vocês ainda antes do início propriamente nos acontecimentos do outro lado das mon-
dito da conferência. tanhas.
— Ras, acho que devemos arriscar uma
7. teleportação para o topo da montanha —
disse ele. — Lá do alto provavelmente tere-
Do outro lado de Mivtrav, existia um gi- mos uma vista melhor.
gantesco maciço rochoso. Rochas escuras, Tschubai agarrou-o pelo braço.
sem qualquer vegetação, emprestavam um — Você consegue detectar impulsos de
aspecto sombrio à paisagem. Gucky e Ras pensamento?
Tschubai, que haviam se materializado em — Até agora, não — respondeu o seu
meio às montanhas, estavam prestes a sair acompanhante. — Imagino que ali se en-
dali quando viram relâmpagos atrás da en- contrem grandes campos de energia que não
costa. deixam passar nada.
— Ras, ali está acontecendo alguma coi- Os dois se teleportaram para o cume da
sa — observou o ilt. — Raios de energia montanha. As rochas ali lembravam basal-
que chegam bem alto na atmosfera. to negro. Algumas pedras eram tão que-
— Provavelmente no outro lado destas bradiças que desmancharam sob o peso
montanhas existe uma estação experimental de Tschubai.
dos lares — supôs Tschubai. — Neste mo- O africano foi para trás de uma rocha
mento, não é esta a minha preocupação mais pontiaguda e espiou encosta abaixo. O que
importante. viu fez com que prendesse a respiração ins-
Gucky olhou-o compreensivamente. tintivamente.
— Você acha que os lares não percebe- Lá embaixo desencadeava-se um comba-
ram a nossa teleportação para este local? te fantástico.
— Mas é claro! Eles seriam loucos se Lares e comandos-robô lares haviam cer-
não estivessem nos vigiando. cado uma esfera brilhante amarelo-ocre e
— Nós nos teleportamos de dentro do disparavam suas armas energéticas contra
nosso alojamento — lembrou o rato-castor. ela. A esfera encontrava-se num vale e me-
— Até agora não detectamos sinais de ca- dia cerca de duzentos metros. Os adversári-
pacidade parapsíquica entre os lares. Ao que os dos lares estavam dentro dessa esfera.
tudo indica, eles sabem que no nosso gru- Tschubai notou, admirado, que o fogo
po existem mutantes com dons psíquicos, dos agressores podia ser respondido de
mas não acredito que tenham condições de dentro da formação energética. Assim, o
medir os saltos de teleportação. envoltório externo preenchia duas funções:
Não era fácil convencer Tschubai. protegia contra os tiros que vinham de fora
— Mesmo que eles não tenham registra- e se mostrava permeável aos tiros que parti-
do a teleportação, mais cedo ou mais tarde am de dentro.
vão notar a falta de dois membros do grupo. Alguns robôs lares estavam quebrados

48
A Liga dos Sete

e incendiados. A apenas trezentos metros O silêncio de Tschubai dava razão ao ilt.


de Tschubai via-se um planador cujo piloto De repente, surgiram lampejos nas en-
evidentemente perdera o controle da máqui- costas rochosas mais adiante. Lá havia se-
na, que acabara por se chocar contra uma res numa posição em que podiam disparar
rocha. contra os agressores.
O teleportador acenou para Gucky, para — Está vendo! Os seres que estão den-
que ele se aproximasse. tro da esfera não estão completamente sozi-
O ilt rastejou até o lado dele e deu um nhos.
assobio. — Quanto mais eu reflito, mais me con-
— Veja só! — exclamou ele. — Os nos- venço de que em algum lugar destas monta-
sos amigos lares. Eles nos asseguram uma nhas existe uma estação. Imagino uma or-
paz eterna na nossa galáxia enquanto lutam ganização secreta que eles conseguiram criar
entre si em um dos seus próprios mundos. e que agora foi descoberta pelas posições
— Eles poderiam argumentar que se tra- lares oficiais.
ta apenas de uma escaramuça local — disse — Hum... — fez Tschubai. — Esta é uma
Ras. boa história, só que não sabemos se é ver-
— No que você está pensando? Talvez dade.
um tipo de perseguição a criminosos? — A — Vamos esperar!
voz de Gucky ia ficando cada vez mais estri- Naquele momento, os mutantes podiam
dente por causa da agitação. — Eu queria apenas ficar observando o andamento da
muito saber quem é que está dentro dessa luta. As tropas de robôs haviam se espalha-
cúpula de energia. Até agora os agressores do e agora também atacavam aqueles pon-
estão atacando com unhas e dentes. tos de onde os aliados dos ocupantes da
— Parece que a esfera de energia está esfera de energia tinham aberto fogo.
sendo constantemente recarregada — ob- Tschubai estimava que já havia quase três
servou Ras. — Por isso os agressores tam- mil robôs operando nas montanhas. O nú-
bém não conseguem abrir uma fenda na es- mero de planadores de guerra já somava de
trutura. Eu imagino que o escudo vai ab- quarenta a cinqüenta.
sorvendo energia do hiperespaço continu- Os lares protegidos por uniformes espe-
amente. ciais não participavam diretamente na luta,
Os dois mutantes continuaram a obser- já que não se encontravam a bordo dos pla-
var a região. Eles viram que a quantidade de nadores. Parecia que isso era perigoso de-
agressores aumentava. Robôs voadores e mais para eles.
planadores de combate chegavam de Mi- — Vou me teleportar de volta ao nosso
vtrav para tomar parte no conflito. alojamento — resolveu Gucky. — Perry pre-
— Bem que eu queria poder fazer algo cisa saber imediatamente o que está haven-
pelos desconhecidos — falou Tschubai, do por aqui. Se for possível, vou trazê-lo
oprimido. para cá, para que ele mesmo possa ter uma
— Nós não conhecemos a situação — idéia da luta. Tenho a impressão de que aqui
retrucou Gucky. — Só temos certeza de que está o trunfo que nos faltava.
lá embaixo há um confronto entre dois gru- Tschubai fez uma careta, mas não levan-
pos hostis. Do nosso ângulo, até agora, não tou nenhuma objeção. Um breve cintilar, e o
é possível identificar quem está com a ra- local onde antes estava o ilt ficou vazio.
zão. O terrano de tez escura ficou sozinho.

49
Perry Rhodan

Ele viu como agora os ataques aos redu- das em considerar os lares inadequados para
tos nas montanhas haviam se intensifica- nos proporcionar a paz. Eles estão pensan-
do. De um desses esconderijos um lare saiu do na paz à maneira deles, que, se necessá-
cambaleando e caiu ao chão. Evidentemen- rio, vão impor com força bruta. Não é de se
te, fora atingido por raios que iam destruin- admirar que Hotrenor-Taak logo tenha fala-
do lentamente o sistema nervoso. Era um do de um desarmamento da Frota Solar.
quadro horrível. Tschubai deu uma risada amarga.
Para Tschubai, não restavam mais dúvi- — Transformam-no no Primeiro Hetran
das de que havia lares brigando nos dois e, como pagamento, querem embolsar a Via-
lados. No interior da esfera de energia, pro- Láctea.
vavelmente também existiam lares. — É isso mesmo! — confirmou Rhodan
Esses seres, que haviam prometido a paz furioso. — Agora já temos uma boa idéia de
eterna à Galáxia, encontravam-se em guerra onde estamos metidos.
contra seus irmãos num de seus mundos. — O que você vai fazer? — quis saber o
Tschubai já não acreditava mais que o ilt. — Recusar a posição oferecida?
confronto fosse de grupos de policiais con- — Vou tomar cuidado — respondeu Rho-
tra uma organização criminosa. dan. — Uma atitude dessas apenas reduzi-
Aquilo ali era mais do que uma persegui- ria a margem de negociação. Uma recusa só
ção a bandidos. serviria de incentivo para os lares tomarem
Tschubai procurou uma posição mais medidas mais duras.
segura, pois era bem possível que as lutas O rosto de Tschubai expressava preocu-
se ampliassem e chegassem à região em que pação.
Gucky e Tschubai ressurgiram. Mas, por — Vai ser difícil explicar para os habitan-
ora, o mutante ainda podia ficar no lugar em tes da Via-Láctea por que você se deixou
que estava. eleger o Primeiro Hetran.
Neste instante, surgiram Gucky e Rho- — A coisa é muito pior — complementou
dan. Eles se materializaram bem ao lado de Rhodan. — Nós nem ao menos podemos ten-
Tschubai. tar explicar para alguém da Via-Láctea, pois
Com um rápido olhar, Rhodan captou a os lares seriam os primeiros a saber.
cena. — É mesmo! — concordou Gucky. —
— O que você descobriu nesse meio tem- Na Galáxia todos os seres inteligentes pre-
po, Ras? — ele quis saber. cisam acreditar que Perry Rhodan está a
— Há lares lutando em ambos os lados serviço do Hetos dos Sete por convicção.
— respondeu o teleportador. — Eles em- — Este é o papel mais triste de todos os
pregam armas desumanas. Vi um lare morrer que já desempenhei — disse Rhodan com
com grande sofrimento. amargura.
— Que motivos você supõe?
Tschubai sacudiu os ombros. 8.
— Podem ser questões políticas ligadas
à luta pelo poder que desencadearam este Sobre a esfera de energia lá embaixo no
conflito. Mas também podem ser razões ide- vale, havia se formado nos últimos minutos
ológicas ou religiosas. uma segunda estrutura de energia. Era uma
Rhodan apertou os lábios. espécie de cúpula que descia vagarosamente
— Agora não precisamos mais ter dúvi- sobre a esfera.

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A Liga dos Sete

Os observadores vindos da Terra esta- e uma ferida profunda no ombro mostrava


vam certos de que se tratava de uma arma claramente o estado em que este homem se
de ataque das forças lares. A esfera de ener- encontrava. Sangue amarelo escorria por
gia deveria ser partida de modo a quebrar cima da pele escura e da roupa.
definitivamente a resistência dos seus de- O homem emitia sons incompreensíveis.
fensores. Ele estava completamente confuso.
Mas antes de chegar a esse ponto, a Rhodan deu um passo em sua direção e
atenção dos dois homens e do ilt foi desvi- o apoiou.
ada por um segundo fato igualmente dra- — Nós somos os representantes da Ter-
mático. ra — disse ele. Por um acaso chegamos a
Logo abaixo deles, viram um lare ferido se esta região e testemunhamos a luta. O que
arrastando entre as rochas e procurando por está acontecendo por aqui?
um esconderijo. O homem era, sem dúvida — Nós... nós queríamos aproveitar o mo-
nenhuma, um dos membros do grupo ao qual mento da sua... chegada para fazer uma ma-
também pertenciam os ocupantes da esfera nifestação — conseguiu o lare dizer com
de energia. Ele conseguira escapar da região extrema dificuldade. Ele falava um intercos-
do conflito sem que fosse descoberto. mo perfeito, um sinal que mostrava clara-
Perry Rhodan rapidamente tomou uma mente que seu grupo pretendia um contato
decisão. com os visitantes. — Meu nome é Peztet e
— Vá buscá-lo, Ras! — ordenou ele. sou membro de uma... organização de resis-
O mutante olhou Rhodan sem acreditar tência.
no que ouvia. Ele teve um acesso de fraqueza e quase
— Nós vamos entrar na briga? — per- teria caído ao chão se Rhodan não o tivesse
guntou. — Tem certeza de que devemos agir agarrado com mais firmeza. Rhodan olhou
assim? ao redor em busca de um lugar mais ade-
— Lá embaixo está um ser em grande pe- quado para acomodar o ferido. Tschubai aju-
rigo — redargüiu Rhodan, impaciente. — dou-o a deitar o homem numa parte plana
Nós vamos ajudá-lo. Contudo, não só por entre duas rochas.
compaixão, mas também porque precisamos — Vou me teleportar até o alojamento
de informações. para buscar material de primeiros socorros!
Tschubai desmaterializou-se e no mes- — exclamou Gucky.
mo instante apareceu logo mais abaixo na — Fique aqui! — ordenou Rhodan. —
encosta, ao lado do lare ferido. Rhodan viu Não tenho certeza se o que temos a bordo
que o fugitivo assumia uma postura defen- pode ajudar este lare. Quem sabe, conse-
siva. O surgimento repentino de uma pes- guimos descobrir onde se encontra a base
soa estranha devia ter sido um verdadeiro deste ser. Peztet terá mais ajuda se o levar-
choque para ele. O lare agarrou uma arma mos até lá.
em forma de bastão, mas Tschubai foi mais Um estrondo semelhante a uma explosão
rápido e, com um golpe, jogou-a no chão. fez com que ele se virasse. Olhou encosta
Em seguida, tocou o ombro do ferido e o abaixo e viu que a esfera de energia havia
teleportou. explodido. Pouca coisa restara dos seus
Rhodan viu o alienígena surgir à sua fren- ocupantes. Por cima do local da explosão,
te junto com Tschubai. O lare cambaleou. A circulavam robôs armados.
parte superior do seu traje estava rasgada, — Logo eles estarão percorrendo toda a

51
Perry Rhodan

região em busca de fugitivos — previu Gucky. Peztet virou a cabeça para o lado. Parecia
— Até lá precisaremos já ter sumido daqui. que suas forças o abandonavam definitiva-
O perigo de que fossem encontrados ali mente.
crescia a cada minuto, e também Perry Rho- Todavia, ele continuou a falar.
dan sabia disso. Ele voltou-se novamente — Roctin-Par é o líder do nosso grupo
para Peztet: de resistência. Sem ele é impossível a exis-
— A resistência dos seus amigos foi to- tência desta organização. Se o pegarem, em
talmente destroçada — disse ele. — Se você breve não haverá mais nenhum lare que te-
quiser nossa ajuda, precisa nos dizer para nha coragem de falar a verdade sobre este
onde podemos levá-lo para que fique em Concílio. — Sangue amarelo escorreu pelos
segurança. seus lábios. — Em qualquer circunstância é
O lare revirou os olhos. Parecia que ele preciso que Roctin-Par...
não tinha entendido Rhodan muito bem. — Onde podemos encontrá-lo? — Rho-
— Ele está morrendo! — observou Gu- dan interrompeu o lare. — Isso é importante
cky, consternado. — Não vai sobreviver a agora.
estes ferimentos graves. Peztet ergueu a cabeça.
Rhodan segurou um palavrão. Finalmen- — Existe... uma estação secreta aqui nas
te encontrara um informante do qual pode- montanhas. Até agora ela não foi encontra-
riam obter respostas para perguntas impor- da. Espero... — Sua voz tornou-se incom-
tantes, e agora este homem ameaçava mor- preensível. Então ele ergueu um braço e
rer antes que pudesse dizer alguma coisa. apontou na direção das montanhas mais al-
Rhodan inclinou-se sobre o ferido. tas do maciço rochoso — As... as rochas
— Peztet! — ele chamou com insistência brancas!
— Está me ouvindo? — As rochas brancas! — repetiu Rho-
O moribundo disse algo em idioma lare e dan. — Onde elas estão?
depois arregalou os olhos. Parecia então ter Porém não obteve mais nenhuma resposta.
compreendido onde estava. O lare perdeu as forças e não se mexeu
— Protejam-se das bestas cruéis do Con- mais.
cílio dos Sete — disse ele em tom penetran- — Está morto — murmurou Gucky.
te. Sua voz agora soava bem clara, como se Rhodan fitava o morto no chão.
tivesse reunido todas as suas forças uma Este homem era a prova máxima dos ob-
última vez. — O Hetos dos Sete está volta- jetivos ocultos do Concílio dos Sete. Em
do exclusivamente para subjugar outros Hetossa existiam lares que não concorda-
povos. Isso vale tanto para os lares como vam com as medidas adotadas por essa ins-
para os outros seis membros do Concílio. tituição. Rhodan estava convencido de que
— Mas você também é um lare! — excla- também em outros mundos havia resistên-
mou Tschubai impulsivamente. cias organizadas.
Peztet parecia não tê-lo ouvido. Peztet dissera claramente que os lares ti-
— Para mim qualquer ajuda chegará tar- nham planos de conquista.
de demais — disse ele, esgotado. — Dei- Era inadmissível que um ser que vivia em
xem-me aqui. Mas peço que salvem Roctin- Hetossa pudesse se enganar. Afinal de con-
Par. tas, Peztet não era um opositor isolado, mas
— Quem é Roctin-Par? — perguntou pertencia a uma organização que, evidente-
Rhodan. mente, encontrava-se bem equipada.

52
A Liga dos Sete

— As rochas brancas — falou Tschubai que ninguém tivesse notado a ausência de


pensativo. — Onde será que elas podem alguns membros do seu grupo.
estar? Ele fez um curto relato dos acontecimen-
— O braço esticado do morto nos apon- tos nas montanhas.
ta sua direção — sugeriu o ilt. — Vamos — Os lares não são, portanto, esses bons
procurar rochas brancas nas montanhas amigos que querem mostrar ser — encerrou
mais altas. ele. — Mas como de qualquer forma eles
— Podem ser rochas calcárias — presu- são superiores a nós em todos os aspectos,
miu Tschubai. devemos continuar o nosso jogo. Agora nós
— Não temos muito tempo — disse Rho- vamos festejar um pouco por aqui enquan-
dan pensativo. — Não posso me esquecer to Gucky, Ras e Calloberian procuram por
de que os lares vêm me buscar para a pri- Roctin-Par.
meira conferência. Por isso, é melhor que — O risco é grande — considerou Atlan.
Ras me leve de volta à nossa base. Lá vou — Apesar disso, concordo com os seus pla-
encenar uma festa bem barulhenta, para que nos. Precisamos fazer alguma coisa para que
os lares acreditem que tudo está em ordem. não fiquemos completamente sem forças à
E Ras volta para cá com Calloberian. mercê dos membros do Concílio.
— Com o xisrape? — perguntou Gucky Waringer adiantou-se.
atônito. — O que a gente vai fazer com ele — Apesar disso, não vejo lógica alguma
aqui? nesse procedimento — explicou ele. — Se
— Ele já mostrou diversas vezes que pos- esse bem armado grupo de resistência que
sui algumas capacidades incomuns — re- conhece muito bem Hetossa está fadado ao
trucou Rhodan. — Acho que ele pode nos desaparecimento, não somos nós que va-
ajudar a descobrir a base secreta. Precisa- mos poder ajudar.
mos encontrar esse Roctin-Par antes que — Agora trata-se apenas de Roctin-Par
os comparsas de Hotrenor-Taak o façam. — respondeu Rhodan. — Ele, como líder da
Ras Tschubai observava os aconteci- organização de resistência, pode nos forne-
mentos no local da batalha. Algumas deze- cer informações valiosíssimas.
nas de robôs haviam pousado e agora vas- — Portanto, nós é que vamos precisar
culhavam os escombros da esfera de ener- da sua ajuda — constatou o cientista. —
gia destroçada. Sem dúvida estavam à pro- Isso é mais ou menos como se um aleijado
cura de pistas. Os soldados lares ainda se fosse ajudar um cego a atravessar a rua.
mantinham recuados. Eles não se arrisca- Rhodan já contara com todas essas ob-
vam. Presumivelmente, temiam que ainda jeções. Ele também as considerava justas.
existissem guerreiros da resistência escon- Só que na atual situação tinha que incluir
didos nas proximidades. contratempos nos seus planos.
— Venha, Ras! — disse Rhodan. — Te- — Eu ainda não terminei — disse Warin-
mos que nos apressar. ger. — Se tivermos sorte para resgatar esse
O teleportador pegou a mão de Rhodan e Roctin-Par antes que as tropas o encontrem
se concentrou. Ele teleportou-se junto com no seu esconderijo, teremos um outro pro-
o Administrador-Geral diretamente para den- blema: onde vamos escondê-lo?
tro do alojamento da tripulação da MC-8. — Tenho certeza de que ele mesmo sa-
Nada acontecera ali nesse meio tempo. berá o que fazer assim que estiver fora da
Nenhum lare fora visto. Rhodan esperava zona de perigo — disse Perry Rhodan. —

53
Perry Rhodan

Sobre isso ainda podemos discutir assim que anunciou Rhodan. — Os lares devem nos
Ras e Calloberian tiverem saído. — Ele ace- ver bem alegres e animados quando vierem
nou com a cabeça para o teleportador. — me buscar para a próxima reunião.
Ras, pode ir. — Não consigo imaginar como, nestas
Tschubai voltou-se para o xisrape. circunstâncias, vou conseguir representar
— Você está com medo? toda essa alegria — resmungou Atlan. —
— Não — assegurou Calloberian. — Faço Mais difícil ainda vai ser me controlar quan-
tudo o que for necessário para ajudar esse do esse finíssimo Hotrenor-Taak aparecer
Roct-Par. por aqui novamente.
O mutante sorriu, aprovando a resposta.
— Afinal de contas, há muito tempo você 9.
já é adulto e um homem — disse ele.
Calloberian ajeitou os seus lobos epidér- Quando Tschubai e Calloberian se mate-
micos mais junto de seu corpo magro. rializaram ao lado de Gucky, o ilt já os aguar-
— Acho que há um engo. Eu não sou do dava impaciente. Abaixo, na encosta, os
sexo masculo. robôs lares espalhavam-se cada vez mais e
Rhodan franziu a testa. vasculhavam os arredores do campo de ba-
— O que significa isso? talha.
— Posso imagar que seja muito difícil — Um grupo grande também voou na
para os terros identificar as características direção onde imaginamos que está a base
sexuais nos alienígenas. A família Chnel tam- secreta do grupo de resistência — relatou
bém sempre achou que eu fosse um meno. Gucky. — Receio que os lares tenham obti-
— E isso não está certo? — presumiu do alguma indicação sobre onde podem
Mart Hung-Chuin. encontrar Roctin-Par.
— Não — confirmou Calloberian. — Ada — Isso dificulta nossa tarefa — disse
que tenham me dado um nome masculino, Tschubai. — Sugiro que nos teleportemos
eu sou uma mena. separadamente até os cumes mais altos e de
Boquiabertos, os outros encaravam-na lá procuremos as rochas brancas.
sem acreditar no que ouviam. Gucky concordou. Como Ras Tschubai
— Isso realmente não sabíamos — disse já havia realizado vários saltos cansativos,
Rhodan. — Considerando esses fatos, você agora ele deveria ir sozinho. Gucky levaria a
prefere ficar aqui no alojamento? xisrape consigo.
— Claro que não! Vou com Ras. O ilt não perdeu tempo. Assim que ele e
Rhodan fez um sinal para o teleportador. Calloberian desapareceram, Tschubai lan-
Tschubai pegou um dos bracinhos da xisra- çou um último olhar lá para baixo no vale
pe e desmaterializou-se. onde agora fervilhavam comandos lares. Os
— Você esteve o tempo todo com ele... homens carregavam grandes aparelhos. Pro-
com ela — Rhodan virou-se para Alaska Sa- vavelmente procuravam por rastros.
edelaere, — e nunca percebeu nada? Tschubai sabia que cada minuto a mais
— Não — lamentou Alaska. — Também naquela região era perigoso. Ele se telepor-
nunca pensei a respeito. Nós conversamos tou para os picos vizinhos.
muito pouco sobre o povo xisrape, pois os A região onde foi parar quase não se di-
outros problemas me pareciam mais urgentes. ferenciava daquela onde estivera há pouco.
— Agora, vamos festejar um pouco — Contudo, ali não descobriu lares ou robôs.

54
A Liga dos Sete

Após encontrar um lugar propício, pôs- tos dela? — perguntou Ras ao rato-castor.
se a procurar por rochas brancas. — Ela ainda não conseguiu descobrir
Quando resolveu abandonar esse cume nada que pudesse indicar a presença de uma
e saltar para o próximo, Gucky e Calloberian base, portanto vai descer mais para o fundo
surgiram ao seu lado. da garganta.
— Encontrei um grupo de rochas bran- Tschubai olhou desconfiado para o ami-
cas — relatou o ilt, excitado. — Quer dizer, go.
não são brancas, mas sim apenas mais cla- — Seria melhor ela não fazer isso!
ras do que as que estão à sua volta. Um barulho do outro lado do maciço des-
— Você também chegou a ver lares ou ro- viou a atenção dos dois mutantes. Horrori-
bôs? zado, Tschubai viu algumas centenas de
O ilt sacudiu a cabeça. robôs voadores se aproximando, flanquea-
— Acho que conseguimos chegar a tem- dos por planadores que levavam soldados
po. Agora temos que encontrar Roctin-Par lares a bordo.
e salvá-lo antes que os seus inimigos se — Eles estão chegando! — gritou Gu-
aproximem. cky. — Espero que não saibam a localização
Juntos, teleportaram-se para a região em exata da garganta.
que Gucky avistara as rochas claras. O comando lare se deslocava lentamen-
— Bem ali! — Gucky apontava na dire- te, o que levou Tschubai a concluir que o
ção correspondente. — Entre essas rochas, grupo não sabia exatamente onde deveria
parece que há uma garganta profunda. procurar. Calloberian, que voara mais para o
— Não sei se o melhor a fazer é nos tele- interior da garganta e não conseguia ver os
portarmos diretamente para essa garganta robôs, ainda não se encontrava em perigo.
— refletiu Tschubai. — Se ali existir uma — Eles devem ter descoberto a existên-
base da organização de resistência lare, cer- cia da base — disse Tschubai contrariado.
tamente estará protegida pelas mais diver- — Imagino que devem ter feito prisioneiros
sas armas defensivas. e arrancado deles as informações. Com tudo
— Você tem razão — concordou Gucky. o que vimos até agora, não creio que tratem
Sem que os mutantes esperassem, Callo- os seus prisioneiros de uma forma muito
berian imiscuiu-se na conversa. delicada durante um interrogatório.
— Eu poderia assumir o reconhecimento Neste momento, Calloberian reapareceu.
desse lugar — ofereceu-se ela. — Para mim Gucky deu um grito de pavor. A xisrape en-
é fácil plar por cima das monthas e vestigar contrava-se agora no campo visual do co-
a gargta do alto. mando lare. Calloberian parecia ainda não
— Acho que é uma boa solução — dis- ter percebido os robôs e os planadores, pois
se Ras. — Comece imediatamente, Callo- ela acenava com dois bracinhos para cha-
berian. mar a atenção de Gucky e Ras para alguma
A xisrape partiu flutuando no ar em dire- coisa.
ção às rochas. Os dois mutantes seguiram- Para sorte da xisrape, ela ainda não fora
na com o olhar. Tschubai admirava-se de descoberta pelo comando de busca dos lares.
como Calloberian avançava rapidamente. Gucky arriscou tudo. Ele teleportou-se
Alguns instantes após ter partido, ela já até o local sobre o qual a xisrape pairava,
pairava por cima da garganta. agarrou-a e saltou de volta para o esconde-
— Você consegue captar os pensamen- rijo entre as rochas. Calloberian ficou sur-

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Perry Rhodan

presa demais para dizer qualquer coisa. expectativas de Ras, eles começaram a so-
— Acho que mais uma vez tivemos sorte brevoar a abertura natural entre as rochas.
— observou Ras, que não tirava o olho dos Os planadores aceleraram e se juntaram aos
inimigos. — A sua intervenção não desper- robôs.
tou reação alguma do lado deles. Evidente- Para essa manobra existia apenas uma
mente, a atenção deles continua concentra- explicação plausível: os lares haviam encon-
da nas encostas do outro lado. trado a pista que procuravam. Pelo menos,
Gucky dirigiu-se a Calloberian. eles estavam desconfiados.
— Conseguiu descobrir alguma coisa? Os três observadores ocultos tiveram
— Ada não sei ao certo — respondeu que assistir passivamente aos primeiros ro-
aquele ser singular. — A gargta é extrema- bôs descerem para dentro da garganta.
mente profunda e está na mais completa Alguns segundos depois deu-se uma
escuridão. No entto, meu órgão antigravita- forte explosão. Da garganta subiu uma imen-
cional foi afetado qudo tentei ir mais fundo. sa labareda que ultrapassou o cume da mon-
Isso deve ter sido causado por máquas de tanha. Pedaços de alguns robôs foram lan-
energia. çados para fora.
— Então a base localiza-se no fundo da As outras unidades dos lares recuaram
garganta! — Tschubai balançava a cabeça, imediatamente e formaram um círculo ao re-
desesperado. — Chegamos tarde demais. dor da garganta.
Se tentarmos resgatar Roctin-Par agora, ele — Estão confabulando para ver o que
vai nos considerar agressores e reagirá de podem fazer — adivinhou Gucky. — Prova-
acordo. velmente, mais cedo ou mais tarde, vão co-
Gucky ficou calado. Ele observava o co- meçar a bombardear a base no fundo da gar-
mando de busca, que lentamente, mas sem ganta. O destino da base e dos seus ocu-
dúvida nenhuma, se aproximava da gargan- pantes já está traçado.
ta. Com os seus localizadores, os lares, mais Tschubai conhecia o ilt há tempo sufici-
cedo ou mais tarde, fariam as mesmas des- ente para saber que aquelas palavras eram
cobertas que a xisrape. mais do que uma constatação; elas podiam
— Podemos nos retirar — disse Ras Ts- ser entendidas como o anúncio de uma de-
chubai, derrotado. — Aqui não há mais nada cisão já tomada.
a fazer. Ele olhou para Gucky espantado.
— Ainda não, Ras — contradisse Gu- — O que você pretende?
cky. — Quero ver como as coisas vão se — Vou me teleportar para o interior da
desenrolar. estação e tentar salvar alguns dos seus ocu-
— Você está contando com um milagre! pantes.
— Não, apenas com uma pequena opor- — Então vamos saltar juntos — excla-
tunidade. mou Tschubai.
Tschubai resolveu concordar, uma vez Gucky não fez objeções. Eles seguraram
que para eles não havia perigo naquele mo- Calloberian cada um por um lado e se tele-
mento. Ele não sabia o que o ilt pretendia, portaram.
mas estava resolvido a impedir uma eventu- O salto teve que ser às cegas, o que na
al intervenção suicida. atual circunstância não deixava de ser peri-
Nesse meio tempo, os primeiros robôs goso.
alcançaram a garganta. De acordo com as Eles chegaram a um salão grande, clara-

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A Liga dos Sete

mente iluminado. Antes que conseguissem Onde ele está?


se orientar, o chão onde se encontravam tre- Ele esperava que o moribundo à sua fren-
meu violentamente. te não fosse o próprio Roctin-Par. Como ele
— Deram início ao bombardeio! — gri- não tinha certeza se o lare conseguia enten-
tou Gucky. dê-lo, pronunciou repetidas vezes o nome
Começou a cair material do teto. Uma do líder da resistência.
parede de energia que estava a cerca de ses- — Sigam-me! — ele ouviu Calloberian
senta passos de Gucky desmoronou com chamando. — Eu sei onde ada tem alguém.
um forte rangido. Um lare, que estava em pé Tschubai lançou um olhar aflito para o
do outro lado, foi atingido por uma descar- moribundo e seguiu Calloberian e o rato-
ga elétrica e consumido pelas chamas. Pare- castor. Uma explosão rompeu a parede late-
cia que toda a montanha vibrava. ral, expondo a rocha nua. Calloberian, que
— A estação está desmoronando! — gri- planava rente ao chão, foi lançada para lon-
tou Tschubai. — Precisamos sair daqui! ge como uma folha de papel. Contudo, ela
Ele viu Calloberian sair voando. se recuperou e retomou a dianteira.
— Fique aqui! — gritou. Tschubai e Gucky pularam por cima de
Mas a xisrape parecia saber exatamente uma fenda que se abria transversalmente no
o que estava fazendo. Enquanto os dois chão.
mutantes eram ofuscados por raios de ener- No fundo do salão, eles viram um vulto
gia e mal conseguiam distinguir alguma coi- circundado por uma cobertura de energia.
sa, o estranho ser atravessava pelo ar o cor- Um lare! O homem portava uma arma e
redor que desmoronava. Tschubai correu apontava-a para os três recém-chegados.
atrás dela. Gucky deu um curto salto tele- — Não atire! — gritou Tschubai, espe-
portador e de repente estava diante de Callo- rando que o outro o entendesse. — Somos
berian para detê-la. terranos e viemos para salvar Roctin-Par.
A xisrape esticou um dos seus finos bra- — Eu sou Roctin-Par — disse o lare.
cinhos. Ele se aproximou. Neste momento, o teto
— Ali! — gritou ela agitada. — Um ho- desabou sobre a base. Escombros caíam
mem! por todos os lados. Por alguns segundos,
Tschubai não entendeu de imediato o que Tschubai perdeu Roctin-Par de vista. Mes-
ela queria dizer, mas então viu um vulto cam- mo assim, ele seguiu em sua direção. Gu-
balear em sua direção, saindo de uma pare- cky ia ao seu lado.
de de fogo. O homem caiu ao chão. Seu traje Aí ouviu-se um grito de Calloberian. Ela
lançava pequenas labaredas azuladas. O fora atingida por uma laje e jazia no chão.
mutante correu até ele e tirou-o da área de — Cuide do lare! — gritou Tschubai para
perigo. o ilt e curvou-se sobre Calloberian. Ela ain-
O rosto do lare estava inchado. O tele- da vivia, mas o seu corpo frágil fora esma-
portador viu que o homem não sobreviveria gado.
aos graves ferimentos. — Ton? — perguntou ela sussurrando.
A expressão dos olhos verde-esmeralda Tschubai engoliu em seco.
revelavam perplexidade. Era evidente que o — Não — disse ele. — Sou eu, Ras
ataque chegara de forma completamente Tschubai.
inesperada. — Ton — disse ela, carinhosa. Parecia
— Roctin-Par! — gritou Tschubai. — que não sabia mais onde se encontrava e

57
Perry Rhodan

nem quem estava junto dela. e Gucky poderiam ter estabelecido um con-
Tschubai puxou a laje para o lado, mas tato telepático, mas naquele momento Lloyd
logo percebeu que não poderia mais ajudar não podia informar Rhodan sobre os impul-
a xisrape. sos que captava.
Seguiram-se mais explosões. Agora o — O senhor está ausente — afirmou
fogo ardia por toda parte. Fumaça e labare- Crompanor-Fangk. — O que o preocupa?
das bloqueavam a visão. De dentro da fu- — Várias coisas — respondeu Rhodan,
maceira, saíram Gucky e Roctin-Par. evasivo.
— Calloberian! — gritou Gucky. Hepros-Amtor olhou ao redor.
— Fique quieto — disse Ras bruscamen- — Fico contente em saber que estão se
te. — Ela não nos entende. sentindo em casa — disse ele. — Como
Ele lançou um último olhar para a xisrape posso ver, houve uma grande festa por aqui.
agonizante e então fez um sinal para Gucky. — O senhor tem razão! — falou Rhodan.
Eles seguraram Roctin-Par pelas mãos e te- — Meus amigos e eu comemoramos a mi-
leportaram-se para fora da base condenada nha nomeação como Primeiro Hetran da
à destruição. nossa galáxia.
Hepros-Amtor sorriu compreensivo.
* — Eu não poderia ter imaginado uma ra-
zão melhor. — Seu sorriso aprofundou-se
Logo após o pôr-do-sol, dois lares entra- ainda mais. — Logo o senhor vai perceber
ram no alojamento dos terranos. Hotrenor- quais são as vantagens de chegar a esta
Taak não estava com eles. Os dois homens posição.
eram bem mais velhos do que o emissário — Tenho algumas perguntas — falou
dos hetossanos. Eles apresentaram-se Rhodan. — Com a incorporação de nossa
como Crompanor-Fangk e Hepros-Amtor. galáxia, o Concílio mudará de nome?
Rhodan se perguntou se eles sabiam que Os dois lares ficaram estupefatos com a
três do seu grupo não estavam presentes. pergunta.
— Somos juízes adjuntos do Concílio dos — Como assim? — quis saber por fim
Sete — esclareceu Crompanor-Fangk. — Hepros-Amtor.
Hotrenor-Taak sugeriu que falássemos com — Simples: gostaria de saber se, com a
o senhor antes que se encontre com os ou- incorporação da nossa Galáxia, o Concílio
tros membros do Concílio. Ele acha que tal- se vê diante da questão de alterar o seu
vez o senhor tenha perguntas. Além disso, nome para “Hetos dos Oito”.
ele gostaria de que o senhor participasse Os dois lares trocaram um olhar.
desta conferência bem preparado. Afinal de — Isso não costuma acontecer — res-
contas, trata-se da incorporação de sua ga- pondeu finalmente Hepros-Amtor.
láxia natal ao Concílio dos Sete. — Ao Hetos dos Sete pertencem muitas
Se os dois lares haviam notado a ausên- galáxias — complementou o seu acompa-
cia de Gucky, Tschubai e Calloberian, eles nhante.
deviam tê-la considerado sem importância, Para Rhodan, essa declaração era uma
pois do contrário teriam feito perguntas. confirmação indireta das acusações de Pe-
Mesmo assim, Rhodan ficou inquieto. Ele ztet contra o Concílio.
não sabia o que estava acontecendo nas Tinha-se, aqui, a união de alguns povos num
montanhas naquele momento. Fellmer Lloyd poderoso bloco que desenvolvera um método

58
A Liga dos Sete

especial para subjugar outras galáxias. lavam o seu poder.


Os pensamentos de Rhodan evocavam Por enquanto, os terranos apenas lida-
por Aquilo. vam com os lares — o que já era suficiente-
Era aquele o prêmio que receberia após mente ruim.
todas as sérias provações por que passara? — O senhor tem mais perguntas? — quis
Será que Aquilo fora desligado de Anti- saber Crompanor-Fangk.
Aquilo? Rhodan tinha a impressão de que os dois
Onde você está, Aquilo!, pensou Rho- visitantes se entendiam perfeitamente. Ho-
dan, concentrando-se intensamente. Ele fi- trenor-Taak escolhera cuidadosamente os
caria agradecido por qualquer sinal. seus enviados.
Mas não houve nenhuma reação de Aqui- Rhodan acreditava entender cada vez
lo. O ser imaterial não se manifestou. melhor os motivos do lare.
— Espero, contudo — disse Rhodan para — Não tenho mais perguntas — respon-
os dois juízes, — que eu, como Primeiro deu ele.
Hetran da Via-Láctea, tenha o direito de fa- — Mesmo assim, ainda vamos lhe pas-
zer determinadas exigências. sar mais algumas informações importantes
— Isso está correto — confirmou — explicou Hepros-Amtor. — Evidentemen-
Crompanor-Fangk. — O Primeiro Hetran da te o senhor não se encontrará de imediato
Via-Láctea não só pode fazer exigências, com todos os membros do Concílio. Primei-
como também dar ordens. Todavia, isso ape- ro vamos prepará-lo. Isso quer dizer que o
nas se refere ao âmbito do seu império. Ini- senhor tem muito o que aprender.
cialmente ele terá que se afirmar perante o Rhodan ficou desconfiado. Estariam os
Concílio dos Sete. lares planejando submetê-lo a um tipo de
— Entendo — respondeu Rhodan in- lavagem cerebral para moldá-lo de acordo
dignado. Os lares já tinham elaborado um com as vontades deles?
plano de como a Via-Láctea seria incorpo- Até agora ele não havia pensando em tal
rada. E os povos da Via-Láctea não seriam possibilidade, contudo as palavras do lare
levados em consideração nessa incorpo- eram ambíguas.
ração. Provavelmente levariam a cabo o seu — Estou ciente de que ainda preciso de
plano mesmo que Rhodan recusasse sua muitas informações para fazer jus à minha
nomeação. tarefa — disse ele. — Gostaria de saber como
O terrano se questionava se todos os pretendem passar todas as informações ne-
povos do Concílio possuíam a mentalidade cessárias no prazo mais curto possível.
dos lares. Ele suspeitava de que os lares — O senhor assistirá a alguns filmes,
eram o povo dominante no Hetos dos Sete. acompanhará palestras e realizará entrevis-
Todavia, era difícil para Rhodan imaginar que tas — anunciou Hepros-Amtor. — Com to-
sete povos, todos eles sedentos de con- das as suas capacidades, não será muito
quista, pudessem se entender sem confli- difícil adaptar-se rapidamente à nova situa-
tos entre si. ção.
Quem sabe esse não seria um ponto de Rhodan ficou aliviado. Isso não soava
partida para futuras ações dos terranos. como se quisessem mudar a sua psique.
Neste momento, pensou Rhodan abati- Entretanto, ele não podia confiar nos lares.
do, ele não sabia o nome dos outros seis Ninguém sabia exatamente o que realmente
integrantes do Concílio nem como manipu- se escondia por trás daqueles rostos amá-

59
Perry Rhodan

veis e sorridentes. Para sua surpresa, nenhum dos dois vi-


Peztet designara os seus semelhantes sitantes lares sentiu-se ofendido com seu
como “bestas cruéis”. Devia existir uma ra- tom áspero.
zão para tal. Crompanor-Fangk até expressou uma
— O senhor conhecerá Hetossa — pros- certa admiração quando disse:
seguiu Hepros-Amtor. — Até agora não viu — Hotrenor-Taak tem razão: o senhor é o
muito deste mundo. Gostaríamos de que se homem certo para esta difícil tarefa. Ele já
familiarizasse com os costumes dos lares. nos avisou que não deveríamos provocá-
— Se entendi bem, os lares serão a nos- lo.
sa ligação com o Concílio dos Sete — falou Rhodan interrompeu.
Rhodan. — Vamos logo ao assunto. Concordo que
Crompanor-Fangk inclinou a cabeça lon- ainda tenho muito a aprender. Por outro lado,
gamente, em sinal de confirmação. posso imaginar que na minha galáxia as pes-
— Os lares assumiram a responsabilida- soas estão começando a ficar inquietas.
de por sua galáxia. Isso significa que, de um Crompanor-Fangk forçou um sorriso lar-
modo geral, o senhor trabalhará em conjun- go, mostrando seus dentes.
to conosco e sua ligação com o Concílio — Exatamente — confirmou ele. — As
será Hotrenor-Taak. notícias que recebemos não deixam dúvidas.
— O emissário dos hetossanos é o chefe Rhodan teve a impressão de que Hepros-
governante dos lares? — quis saber Atlan. Amtor lançara um olhar de censura para o
— Ele é um dos líderes do povo lare — foi seu acompanhante. Evidentemente Crompa-
a resposta. — Vocês podem se dar por felizes nor-Fangk falara demais.
pelo fato de ele estar tratando pessoalmente Se os lares recebiam notícias da Via-
de seu caso. Hotrenor-Taak tem noções cla- Láctea, isso significava que eles possuí-
ras sobre a incorporação de sua galáxia. am bases e homens de ligação lá. Prova-
— Pois esta impressão eu também tenho velmente até existiam espiões lares na Ter-
— disse Atlan secamente. ra. Esse pensamento era aterrador, mas
Hepros-Amtor dirigiu-se para Rhodan. Rhodan precisava se conformar com a rea-
— Permanece sempre a impressão de que lidade.
alguns dos seus amigos não concordam com — Os senhores vão entender que, sob
as nossas medidas! — Desta vez desapare- estas circunstâncias, eu gostaria de retor-
cera toda a amabilidade da voz de Hepros- nar o mais rapidamente possível — falou
Amtor. — É sua tarefa convencê-los da uti- Rhodan. — Quanto mais esperarmos, tanto
lidade de nossos acordos. mais difícil será ter o domínio da situação
— Eu sei — disse Rhodan. novamente.
Os cantos da boca do lare tremeram. Hepros-Amtor deu uma risada arrogan-
— Se for necessário, cuidaremos disso. te.
— É melhor que deixem isso por minha — Para um Primeiro Hetran não existem
conta — contrapôs Rhodan calmamente. — dificuldades! Ninguém na Galáxia tem con-
Conheço bem os meus amigos e sei exata- dições de se voltar contra nossos interes-
mente como devo agir. Como Primeiro He- ses comuns.
tran da Via-Láctea, espero que os senhores Para o inferno com você!, pensou Rho-
interfiram nas minhas questões apenas se dan, furioso. A arrogância do lare provoca-
eu assim o solicitar. va-o, mas ele precisava se controlar. Ele sa-

60
A Liga dos Sete

bia que, como Primeiro Hetran, poderia ser — O nome deste homem é Roctin-Par!
trocado. Os lares não hesitariam em esco- Nós o resgatamos da sua base. Ele é um
lher um aconense ou um anti para a posi- guerrilheiro da resistência.
ção. Nesse caso, os terranos estariam desli- — Tem certeza de que é ele? — pergun-
gados por completo do centro dos aconte- tou Atlan, desconfiado.
cimentos. Não se podia deixar chegar a isso. Roctin-Par esboçou um sorriso.
Como Primeiro Hetran, apesar de tudo, — Não posso provar nada. Vocês terão
Rhodan gozava de uma certa influência. A que acreditar em mim, e então, quem sabe,
questão era apenas por quanto tempo ele restará alguma chance de escaparem do ter-
conseguiria se manter nessa posição. Cedo ror do Concílio.
ou tarde, os lares iriam perceber que ele fa- — Onde está Calloberian? — interrom-
zia um jogo duplo. peu Alaska Saedelaere.
Antes de chegar a esse ponto, ele já teria Gucky abaixou a cabeça.
que ter descoberto uma alternativa para a — Ela morreu — respondeu ele. — Não
adoção de contramedidas. Ele ainda não conseguimos salvá-la.
conseguia imaginar como deveria agir, mas Rhodan e Atlan olharam-se consterna-
tinha certeza de que o caminho surgiria. dos.
Nos primórdios do Império Solar, a Hu- — Vamos torcer para que os lares se ocu-
manidade vencera forças superiores. Na- pem o menos possível conosco — falou
quela época, a relação entre as forças dos Icho Tolot. — Se perceberem que falta um
saltadores, de um lado, e dos terranos, do membro do nosso grupo, vão fazer pergun-
outro, apresentava exatamente as mesmas tas desagradáveis.
diferenças como agora entre lares e terra- — Creio que não vão chegar a esse pon-
nos. to — opinou Atlan. — O interesse dos lares
Mais uma vez, Rhodan teria que voltar à concentra-se em Perry. Quanto a nós, estão
política de “um passo após o outro” e lan- nos deixando em paz e nem vão perceber o
çar mão de truques similares aos de então. que aconteceu com Calloberian. E se por
Só assim a Humanidade teria uma chance acaso realmente perguntarem por ela, va-
contra os lares. mos desconversar. Diremos simplesmente
Crompanor-Fangk e Hepros-Amtor des- que ela saiu e não voltou.
pediram-se e comunicaram que viriam bus- — Acho uma boa idéia — aprovou Roc-
car Perry Rhodan na manhã seguinte. tin-Par. — Os lares vão supor que as for-
— O senhor então se encontrará nova- ças de resistência foram as responsáveis
mente com Hotrenor-Taak — disse Hepros- pelo desaparecimento do seu amigo. Mas
Amtor. não creio que vão investigar o seu desa-
Os dois lares mal haviam saído quando parecimento. Eles se sentem tão seguros
Gucky e Ras Tschubai se materializaram no no que fazem que nem vão dar atenção ao
alojamento dos terranos, trazendo consigo seu grupo.
um lare de aspecto cansado. Rhodan estava pasmado em ouvir um lare
— Eu havia estabelecido um contato te- falando dessa maneira. Roctin-Par citava os
lepático com Fellmer — avisou Gucky. — lares como se eles fossem estranhos. E os
Por isso eu sabia o momento exato para vol- regentes de Hetossa pertenciam ao seu pró-
tar. prio povo.
Ele virou-se na direção do desconhecido. — Agradeço por sua ajuda — prosse-

61
Perry Rhodan

guiu Roctin-Par. — Neste momento, não Isso eu consigo responder. Lutamos contra
posso pagar a minha dívida, pois preciso o Hetos dos Sete e todos os seus membros.
cuidar dos meus amigos, que estão todos Nós os atacamos onde quer que se mostre
em perigo. uma oportunidade. — Ele deu uma risada
— Vai nos deixar? — perguntou Rhodan, rouca. — Posso imaginar que vocês este-
surpreso. Ele já havia refletido sobre qual jam desapontados, mas é só isso que temos
seria a melhor forma de esconder o rebelde. a oferecer.
E agora ele vinha com essa virada repen- Com estas palavras, ele finalmente saiu
tina. da sala.
— Preciso concluir algumas coisas que — Devo segui-lo? — perguntou Ras Ts-
são necessárias para a proteção da nossa chubai.
organização de resistência — esclareceu — Não — opôs-se Rhodan. — Por en-
Roctin-Par. — Aconselho-os a não se dei- quanto, não vamos nos envolver mais nes-
xarem enganar pelos lares. O único objetivo te confronto entre os lares e a oposição mi-
do Concílio dos Sete é o completo domínio litante.
de sua galáxia natal. — Esse rapaz parece ser um revolucio-
Roctin-Par falou completamente conven- nário bem consciente — afirmou Atlan. —
cido do que dizia. Pensei que ele fosse falar de liberdade e jus-
— Voltarei a entrar em contato com vo- tiça, mas evidentemente nem ousa pensar
cês — ele prometeu então. — Se lhes per- nesses conceitos.
guntarem alguma coisa sobre os aconteci- — Creio que, para as circunstâncias lo-
mentos nas montanhas, devem negar tudo. cais, ele é o tipo correto de revolucionário
Ele puxou um pequeno aparelho do bol- — disse Gucky. — Ele é o líder de uma orga-
so e apertou-o entre os dedos. Instantanea- nização revolucionária. Quem quiser con-
mente formou-se uma bolha de energia em seguir algo com isso em Hetossa não pode
volta do lare. ser um cabeça de vento.
— Tenho que ir! — disse ele. — Acredita mesmo que ele vai entrar em
— Você não tem receio de que possam contato conosco novamente? — pergun-
descobri-lo e matá-lo? tou Irmina Kotschistowa.
— Tenho! — redargüiu ele. — Mas há — Sim — respondeu Rhodan, hesitante.
coisas mais importantes do que a minha se- — Pelo menos, eu espero.
gurança pessoal. Lá fora já havia escurecido.
Ele virou-se para a saída, claramente de- O dia seguinte traria a confrontação com
cidido a ignorar as possibilidades de salvar o Concílio dos Sete. Para Rhodan, isso não
a própria pele. era motivo para ver o futuro com esperança.
— Quais são os objetivos da sua organi- Pelo menos agora ele possuía em Hetos-
zação? — perguntou Atlan apressadamen- sa algo como um aliado.
te. — Pelo que você e os seus amigos lu-
tam? 10.
— No momento não existe um objetivo
pelo qual pudéssemos lutar, pois a correla- Na Terra, existia uma central dos xisra-
ção de forças é extremamente desigual para pes. Tratava-se de um escritório bem sim-
obter resultados decisivos. Por isso, é me- ples no qual alguns xisrapes procuravam dar
lhor perguntar contra o que nós lutamos. conselhos e ensinamentos aos seus seme-

62
A Liga dos Sete

lhantes que viviam na Terra. membro muito querido da nossa família.


Esse escritório localizava-se em Terrânia. — Você está me terpretdo mal — falou
Anton Chinnel teve um sensação estra- Koff. — Não se trata do que aconteceu com
nha quando dirigiu-se para lá na manhã do Calloberi enquto vivia com sua família. Sa-
dia 23 de janeiro de 3459. Ele havia sido cha- bemos que durte esse período tudo estava
mado para uma visita. em ordem.
Um xisrape telefonara para Chinnel e pe- — Eu não sei de nada — disse Chinnel.
dira algumas informações sobre Calloberi- — Entre todos os xisrapes que vivem
an. Chinnel quis logo responder, mas o in- num determado mundo existe um tipo de elo
terlocutor preferiu uma entrevista pessoal. energético — explicou Koff. — Assim que
O escritório localizava-se num dos prédi- esse elo se parte, sabemos que o xisrape
os mais antigos das imediações do espaço- morreu ou abdonou o planeta.
porto. — E o elo com Calloberian se rompeu! —
A decoração da sala onde entrou era tão adivinhou Chinnel.
espartana que Chinnel se perguntou se ela — Sim, e isso já há algumas semas. Sisti-
poderia cumprir alguma função assim. Ali mos nas buscas, mas felizmente foram frutí-
havia sete xisrapes, todos eles representan- feras.
tes adultos desse povo. — Eu imagino que tenha deixado a Terra
Chinnel foi recebido com um cumprimen- numa espaçonave. Ela falou de uma despe-
to cordial por um xisrape chamado Koff, que dida para sempre.
o levou até uma salinha localizada no fun- Koff suspirou como um humano. Chin-
do. nel perguntava-se inconscientemente se o
— Perdemos o contato com Calloberi — xisrape à sua frente era um macho ou uma
começou ele sem delongas. — Onde ela fêmea.
está? — Você pretende adotar um xisrape no-
— Ela? — repetiu Chinnel, confuso. vamente?
— Ah! — fez Koff, desculpando-se. — — Acho que não — respondeu Chinnel.
O problema de sempre: você não sabia que — O desaparecimento de Calloberian nos
Calloberi era uma mena. afetou demais. Ela deixou um vazio atrás de
— Não — disse Chinnel. — E também si. Principalmente para o meu filho, que ain-
não sei onde ele... ela está agora. Ela par- da não se recuperou do acontecido.
tiu por vontade própria, sem deixar infor- — Tes de tudo, lhe pedimos desculpas
mações precisas. Apenas disse que se — falou Koff. — Somente numa entrevista
sentia na obrigação de agradecer aos hu- pessoal é que poderíamos constatar a sua
manos e que surgira uma oportunidade de idoneidade.
fazê-lo. — Ah, é? — disse Chinnel, confuso.
— Você não tem formações dela? — Pode ser que Calloberi tenha reencon-
Chinnel negou, balançando a cabeça. Ele trado a sua mãe — refletiu Koff. — Todavia
tinha a impressão de que estava sendo sub- isso é pouco provável. Acho que temos que
metido a um tipo de interrogatório. Ele ficou nos conformar com a idéia de que ela está
irritado. O que aqueles seres queriam com morta.
ele? Chinnel perguntou:
— Sempre tratei Calloberian muito bem! — Por que as crianças xisrapes continu-
— retrucou veementemente. — Ela era um am sendo abandonadas por suas mães?

63
Perry Rhodan

Koff fitou-o pensativo. Ele dava a impres- os inimigos dos xisrapes?


são de que cogitava em confiar um segredo — Não vou lhe dizer mais nada — retru-
a Chinnel. cou Koff. — Aliás, ada tenho que lhe pedir
— Quem sabe não é uma espécie de sis- silêncio sobre o que acabou descobrdo aqui.
tema de segurça? — disse ele, como se esti- Tenho certeza de que não vai falar nada,
vesse falando consigo mesmo. — Coloque- pois, afal de contas, você teve uma xisrape
se no lugar de um povo que precisa travar como filha.
uma luta terrível. Para sobreviver, ele venta — Sou apenas um cidadão comum —
os truques mais críveis. falou Chinnel. — Todas essas estranhas
A cabeça de Chinnel fervilhava. relações cósmicas me assustam. Contudo,
— Como, por exemplo, o degredo de crian- se algum dia precisarem de mim...
ças para regiões controladas por povos com — Vamos nos lembrar — prometeu Koff.
cuja ajuda eles sabem que podem contar. Ele flutuou no ar ao lado de Chinnel até o
— Sim — disse Koff, surpreso com a ra- enorme escritório e dali o acompanhou até
pidez das conclusões de Chinnel. o poço antigravitacional.
— E quem — perguntou Chinnel — são — Obrigado por ter vdo — disse.

FIM

Em Hetossa, um mundo do “Concílio das Sete Galáxias”, Perry Rhodan, junto com seus
mutantes, já pôde ter uma primeira impressão da situação que resultará para a Humanidade
e os demais povos estelares tão logo os lares tenham completado a “anexação” da Galáxia.
Essa impressão é mais que assustadora — por isso, Rhodan, agora chamado de “Pri-
meiro Hetran da Via-Láctea”, procura entrar em contato com Os Rebeldes de Hetossa.
Os Rebeldes de Hetossa também é o título do próximo episódio da série. O seu autor é
Ernst Vlcek.

64
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65
Perry Rhodan

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Suplemento Especial Perry Rhodan

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Acesso número 72092728/9805-OX
66
Suplemento Especial

Visão Geral da Série

Introdução não havia lugar para preconceitos de qualquer


tipo, pois diante da multiplicidade da vida no
Perry Rhodan é uma série literária de fic- Cosmos não existiam europeus, brasileiros ou
ção científica criada por escritores alemães japoneses, mas somente terranos. Dessa for-
no início da década de 1960. Embora tenha co- ma, o espaço poderia ser conquistado se o ho-
meçado de forma modesta, logo seu sucesso mem deixasse para trás sentimentos negativos
ultrapassou todas as expectativas e frontei- tais como a ganância e o preconceito.
ras, sendo publicada até hoje em vários paí-
ses do mundo. Os primórdios de Perry Rhodan
Situada no subgênero conhecido como spa- e a estrutura da série
ce opera, ou seja, de aventura épica espacial, a
série conta a história futura da Humanidade a Na década de 1950, a ficção científica na
partir de vários pontos de vista diferentes. Alemanha era completamente dominada por
Apesar de cada episódio da série poder ser autores de língua inglesa, o que fazia com que
lido separadamente, cada conjunto de cem epi- os autores alemães só conseguissem ter seus
sódios conta uma grande história – composta primeiros livros publicados se utilizassem
por várias subtramas – que é melhor apreciada pseudônimos ingleses. Porém, tudo isso mu-
se conhecida em sua totalidade. Quem conhece dou em 1961, quando a série Perry Rhodan,
a série televisiva Babylon 5 pode ter uma boa escrita exclusivamente por autores de fala ale-
idéia de como é esse estilo de contar histórias. mã, chegou ao mercado.
A temática e a estrutura narrativa das séries de O conceito da série foi criado no final da
Jornada nas Estrelas também possuem algu- década de 1950 por Karl-Herbert Scheer e Wal-
ma semelhança com as histórias de Perry Rho- ter Ernsting (também conhecido pelo pseudô-
dan. nimo de Clark Darlton) e apresentado à edito-
Os autores da série sempre balancearam os ra alemã Moewig. Após algumas sugestões de
lados humano e científico dos volumes na me- Kurt Bernhardt, editor-chefe da Moewig, a
dida certa, tentando evitar que o lado tecnoló- série assumiu sua forma definitiva, devendo
gico ofuscasse os personagens principais. Em- apresentar um “herói sem medo”. Livros com
bora a tecnologia utilizada na série seja muito heróis audazes já haviam surgido em séries ale-
bem descrita, o foco sempre esteve no lado mãs de mistério e faroeste, mas nunca antes
humano dos personagens, ou seja, em seus sen- numa de ficção científica.
timentos e em suas reações diante dos mistéri- O objetivo dos autores consistia em criar
os do Cosmos. uma série de livros de ação que seria um “ciclo
Desde o início, a série sempre transmitiu de histórias de longa extensão enfocando um
uma mensagem de otimismo e coragem a todos possível futuro da Humanidade”. Porém, os
os seus leitores, pois mostrou que a vontade autores queriam ir além da ação pura e simples
humana é a força mais poderosa que existe. – eles queriam mostrar que muitos dos proble-
Além disso, sempre ficou claro para todos que mas atuais da Humanidade, tais como a fome e

67
Perry Rhodan

a guerra, poderiam ser resolvidos através da existência provenientes de suas incursões às


cooperação entre os povos. regiões inexploradas da Via-Láctea e a outras
À dupla inicial de autores logo juntaram- galáxias. Atualmente a série possui mais de
se Klaus Mahn (pseudônimo: Kurt Mahr) e 2.070 volumes em sua história principal, situ-
Winfried Scholz (pseudônimo: W.W. Shols), ando-se no ano 4891 d.C. Nesses quase três
sendo todo o grupo auxiliado por Günter M. mil anos decorridos desde o vôo da Stardust, a
Schelwokat, que assumiu o processo editori- Humanidade colonizou milhares de planetas e
al. Desde o início, as capas foram feitas por passou por transformações imensas, além de
Johnny Bruck, um dos mais populares artis- estar sempre constatando que a realidade é
tas alemães de ficção científica. Scheer escre- muito mais surpreendente do que as suposi-
veu os roteiros para os primeiros dez volu- ções mais ousadas. Assim, o universo ficcio-
mes — ninguém esperava que a série durasse nal de Perry Rhodan estende-se por milhões
mais de trinta volumes, no máximo cinqüenta. de anos-luz, cobre gigantescos períodos de tem-
A primeira história da série Perry Rhodan po e inclui milhares de mundos estranhos e
foi lançada em 8 de setembro de 1961 com o raças alienígenas.
título “Missão Stardust”. Trinta e cinco mil O foco principal das histórias são as aven-
cópias foram impressas, o que era uma tira- turas de Perry Rhodan e seus leais compa-
gem normal para obras de ficção científica. nheiros, que receberam a imortalidade relativa
Contudo, as vendas excederam todas as expec- graças ao superser extraterrestre conhecido
tativas, e os dois primeiros volumes foram ra- como Aquilo. Alguns desses seus companhei-
pidamente reeditados. ros são alienígenas, como comprovam os exem-
Nesse episódio inicial, é descrito o primei- plos do gigantesco e monstruoso halutense Icho
ro vôo tripulado à Lua feito pelo ser humano. Tolot e do pequeno e esperto Gucky, um ser
A nave Stardust é comandada por Perry Rho- pertencente à raça dos “ratos-castores”.
dan, um dos mais competentes astronautas da
Força Espacial dos Estados Unidos. Ao che- Momentos marcantes
gar à Lua, a tripulação encontra uma nave de na história de Perry Rhodan
pesquisa avariada dos arcônidas, um povo que
possui um poderoso império estelar no centro Em 1962, um novo membro juntou-se ao
da Via-Láctea. Com o auxílio da tecnologia ar- grupo de autores: William Voltz. Ele deixaria
cônida, Rhodan e seus companheiros fundam uma forte marca na série a partir da década de
a Terceira Potência, um poder combinado da 1970. Voltz era um jovem autor que escrevia
vitalidade humana e da técnica arcônida. Após para revistas amadoras, os chamados fanzi-
enfrentar a resistência das grandes nações aos nes, e era uma pessoa que K.H. Scheer havia
seus planos, a Terceira Potência consegue fi- sistematicamente mantido próxima do grupo
nalmente unir os povos da Terra, que passam de escritores.
a utilizar os recursos antes gastos em arma- Na década de 1960, a série cresceu e as pri-
mentos para a erradicação da ignorância e da meiras edições especiais foram produzidas. Em
miséria, bem como para a construção de uma 1964 chegou ao mercado o primeiro livro de
frota espacial. A partir daí, a Humanidade in- bolso de Perry Rhodan (também chamado de
tegra-se ao cenário galático, começando a coe- “romance planetário”), que continha uma his-
xistir com outras raças da Galáxia e a descobrir tória independente da seqüência da série prin-
os infinitos mistérios do Cosmos. cipal. Essa série paralela teve 415 volumes pu-
Em cada volume é contada uma pequena blicados, tendo sido encerrada em 1998.
parte da história da Humanidade, a qual se sub- Como conseqüência natural do surgimento
divide em ciclos de cinqüenta ou cem volumes. de fã-clubes ao longo da década, em 12 de agosto
Cada ciclo retrata uma época específica, na qual de 1967 foi realizada a primeira convenção da
os terranos têm que lidar com ameaças à sua série, quando esta já tinha mais de 300 volu-

68
Suplemento Especial

mes publicados. Cerca de trezentos fãs foram dade alemã de Mannheim, à qual comparece-
a Frankfurt para participar do encontro. Esta ram milhares de fãs.
foi apenas a primeira das inúmeras conven- Em 1984, a morte prematura de William
ções de nível nacional que aconteceriam perio- Voltz num acidente automobilístico foi muito
dicamente a partir de então. sentida por todos. Contudo, após esse triste
O grande sucesso de um dos personagens evento, novos e criativos autores uniram-se ao
principais da série levou ao lançamento da sé- grupo. Seus novos redatores tentaram manter
rie homônima Atlan em 1969. Esta série con- o estilo de Voltz, ao mesmo tempo em que
centrou-se nas aventuras do arcônida imortal aumentavam as doses de ação e aventura com
que sempre foi um dos maiores amigos e cola- o objetivo de tornar Perry Rhodan mais com-
boradores de Perry Rhodan. Após a publica- preensível para seus novos leitores. Em 1986,
ção de 850 volumes, esta série foi encerrada para celebrar a venda de um bilhão de livros da
em 1988, pois os leitores não conseguiam série em todo o mundo, três mil fãs compare-
acompanhar ao mesmo tempo Perry Rhodan, ceram à segunda convenção mundial de Perry
Atlan e a série dos romances planetários. Rhodan na cidade de Saarbrücken.
No início da década de 1970, a série mudou Embora os fãs tenham celebrado o trigési-
radicalmente: devido a uma doença crônica, mo aniversário da série em 1991 numa conven-
K.H. Scheer afastou-se cada vez mais do seu ção em Karlsruhe, durante a década de 1990
trabalho de escrever os roteiros para cada vo- ocorreram vários eventos tristes: K.H. Scheer
lume individual. Uma parte de suas tarefas foi faleceu após uma longa enfermidade, bem como
passada a William Voltz, que em 1974 final- Kurt Mahr (um dos autores mais técnicos da
mente obteve autonomia suficiente para influ- série) e Günter M. Schelwokat, que havia sido
enciar os destinos da série. Como Scheer era o editor-chefe da série por mais de trinta anos.
um ótimo autor de romances de guerra e espi- Johnny Bruck, o artista que desenhou todas
onagem, as tramas gerais da série na década de as capas dos livros da série, morreu em 1995,
1960 eram fortemente influenciadas pela Guerra vítima de um acidente de trânsito. Outros au-
Fria e tinham a ação como linha de frente. Já na tores da “primeira geração” de escritores da
década de 1970, sob a direção de Voltz, a série série também morreram no final da década de
desenvolveu um sentimento mais humanista, 1990, sendo substituídos por autores de talen-
bem de acordo com as histórias que ele sabia to da nova geração de escritores alemães de
escrever como ninguém: a descrição dos senti- ficção científica. Entre eles destacam-se Rai-
mentos e dramas humanos diante de situações- ner Castor (considerado o sucessor do estilo
limite. Esta nova fase da série, que envolvia técnico e descritivo de Scheer e Mahr) e Uwe
grandes mistérios do Cosmos, a origem da vida Anton, em cujas histórias poéticas podem ser
no Universo e o desenvolvimento espiritual identificados traços do humanismo exacerba-
da Humanidade, é considerada até hoje o pon- do de Voltz.
to alto de toda a série.
O ano 1980 foi marcante para a história da Detalhes da produção editorial
série: nesse ano foi publicado o volume 1000, e o futuro de Perry Rhodan
intitulado “O Terrano”, um livro no qual Wi-
lliam Voltz criticou duramente as guerras e to- Apesar de todas as perdas sofridas, o gru-
dos os tipos de preconceito existentes entre po de autores está otimista. Afinal, com mais
os povos e as nações. Até hoje ele é considera- de um bilhão de livros vendidos, a série Perry
do não só o melhor volume de toda a série Rhodan tem sido um sucesso mundial por quase
como também uma das melhores obras de fic- quarenta anos. Para ser capaz de escrever tal
ção científica de todos os tempos. Para cele- história do futuro por tanto tempo, cobrindo
brar a chegada desse importante volume, a edi- cerca de três mil anos fictícios sem nenhuma
tora organizou uma convenção mundial na ci- pausa, é necessário um grande esforço. Robert

69
Perry Rhodan

Feldhoff, o líder atual do grupo de autores, Anualmente eles encontram-se em convenções


escreve um resumo da ação para cada volume em que podem comprar volumes antigos da
semanal, detalhando em algumas páginas a his- série e produtos de consumo derivados da
tória que deve ser contada pelo autor de cada mesma, bem como conversar com os autores
volume individual. Feldhoff também prepara ou simplesmente apreciar a companhia mútua.
planilhas de dados para auxiliá-los a manter a A Central dos Fãs de Perry Rhodan, que pu-
continuidade das histórias. Por exemplo, se em blica o aclamado fanzine “Sol”, tenta coorde-
um volume uma espaçonave parte com uma nar e apoiar as atividades dos fãs.
determinada tripulação, no volume seguinte a Ao longo da evolução da série, muitos pro-
nave deve chegar ao seu destino com a mesma dutos paralelos foram lançados para atender
tripulação. aos desejos dos fãs. Essa linha secundária in-
Consultores científicos fornecem o supor- clui enciclopédias, manuais técnicos, ilustra-
te técnico para as histórias, as quais estão de ções, histórias em quadrinhos, CDs multimí-
acordo com as descobertas científicas atuais. dia e musicais, roupas em geral e novas edi-
Além disso, todos os volumes são lidos por ções dos volumes antigos. Desde a contrata-
diligentes revisores, que têm a missão de evi- ção de um diretor de marketing exclusivo para
tar erros de continuidade de uma história para a série em 1996, essa linha de produtos tem
outra. Todo esse esforço resulta em histórias expandido-se para conquistar as novas gera-
de ficção científica realistas e envolventes. ções de leitores. A premiada página oficial de
Mesmo assim é inevitável que alguns erros de Per ry Rhodan na Internet ( www.perr y -
contexto ou de tramas sejam descobertos pe- rhodan.net), que oferece aos fãs um extenso
los altamente perspicazes leitores. banco de dados sobre a série e novidades sobre
É lógico que, sem esses dedicados leitores, a mesma atualizadas constantemente, faz par-
a série não seria um sucesso. A cada semana te dessa mesma estratégia.
chegam à redação da editora alemã dezenas de Em dezembro de 1999 ocorreu na cidade de
cartas e mensagens dos leitores, que são lidas e Mainz mais uma convenção mundial de Perry
respondidas pessoalmente pelo autor Arndt Rhodan, dessa vez em comemoração ao lança-
Ellmer. As cartas mais interessantes são pu- mento do número 2000 da série. Milhares de
blicadas nos volumes da série, e as opiniões fãs estiveram presentes neste evento único no
dos leitores são analisadas cuidadosamente. mundo, no qual puderam conhecer as últimas
Periodicamente algumas sugestões interessan- novidades sobre a série e discutir os rumos da
tes dos leitores são colocadas na série. Há al- mesma diretamente com seus autores e edito-
guns anos atrás, os volumes 1871 e 1872 fo- res.
ram integralmente escritos com base em su- Atualmente a série é publicada nos seguin-
gestões dadas por alguns leitores sobre o pos- tes países: Alemanha, Holanda, República
sível destino para uma das raças da série. Tudo Tcheca, França, Rússia, Japão e China. No
isso dá aos fãs não só a oportunidade de entrar passado, vários outros países também já tive-
em contato entre si como também um estímulo ram suas edições de Perry Rhodan. Um desses
maior para continuar acompanhando a série. países é o Brasil, onde a série está voltando a
Existem dezenas de fã-clubes na Alemanha ser publicada após um hiato de dez anos. No
e nos países onde a série é editada. Esses clu- momento em que a série está prestes a come-
bes publicam fanzines e promovem um inter- morar seu quadragésimo aniversário, tal notí-
câmbio de informações entre seus membros. cia aumenta ainda mais as possibilidades de
Nos fanzines, os fãs têm espaço para publicar Perry Rhodan continuar suas viagens espaci-
suas próprias histórias, desenhos e críticas. ais por pelo menos mais quarenta anos...

Artigo baseado livremente em um press-release divulgado pela VPM em 1996

70
Glossário

Alaska Saedelaere: Semimutante terrano que aos impulsos revitalizantes do ativador, seu por-
sofreu um acidente durante uma viagem por uma tador não poderá permanecer longe dele por mais
estação transmissora. Durante a transmissão, os de 62 horas, sob pena de morrer de velhice em
impulsos energéticos correspondentes ao corpo minutos. O único ser capaz de fabricar ativado-
de Alaska chocaram-se com um ser estranho. res celulares na Via-Láctea é o superser Aquilo.
Quando o corpo de Alaska foi reintegrado na No ano 3458 existem cerca de vinte portadores
estação receptora, seu rosto havia sido substitu- de ativador celular na Via-Láctea.
ído por uma massa brilhante amorfa cuja visão
levava outros seres humanos à loucura. Desde Atlan: Antigo Príncipe de Cristal dos arcônidas.
então, Alaska usa constantemente uma máscara Nascido por volta do ano 8000 a.C., Atlan era
de plástico que cobre todo o seu rosto, deixando um comandante de frota arcônida responsável
à mostra somente os olhos e a boca. Posterior- pela colonização da Terra. Enquanto coordenava
mente descobriu-se que o ser estranho era um os trabalhos de colonização do continente cha-
cappin, um ser que conseguia transferir sua men- mado de Atlântida em sua homenagem, um ata-
te consciente para os corpos de outros seres. que de seres espaciais destruiu sua frota e afun-
dou o continente no oceano. Como único sobre-
Aquilo: Nome do superser residente na Via-Lác- vivente da catástrofe, Atlan passou a morar numa
tea. Aquilo reside num mundo artificial chamado estação submarina construída pelos arcônidas no
de Peregrino e foi o responsável pela concessão Oceano Atlântico. Como ele havia recebido um
da imortalidade relativa a Perry Rhodan e seus ativador celular de Aquilo, ele passou dez mil
mais fiéis companheiros. anos na Terra procurando uma maneira de re-
gressar a Árcon, seu mundo natal. Sua real iden-
Arcônida: Habitante do sistema Árcon, locali- tidade só foi descoberta em 2040, quando ele
zado a 34.000 anos-luz do Sistema Solar. Os ar- tentou sair da Terra numa nave da Frota Solar.
cônidas têm a mesma origem genética dos terra- Desde então ele tem sido um dos mais fiéis e
nos e por milhares de anos dominaram uma gi- leais colaboradores de Perry Rhodan.
gantesca porção da Via-Láctea com seu Grande
Império. Eles têm cerca de dois metros de altura, Balton Wyt: Mutante telecineta. Consegue mo-
cabelos brancos, testa alta e olhos vermelho-dou- ver objetos apenas com a força da mente.
rados.
Campo defensivo paratrônico: O campo de
Ativador celular: Aparelho constituído por uma energia mais utilizado para defender espaçona-
corrente e uma estrutura com o tamanho e o for- ves e instalações de ataques externos. Qualquer
mato de um ovo. Quando um ser humanóide co- objeto que atinge este campo é imediatamente
loca a corrente em seu pescoço e o ativador entra transferido ao hiperespaço através de uma fenda
em contato direto com seu peito, seu processo estrutural. Campos paratrônicos possuem uma
de envelhecimento é detido imediatamente. En- capacidade defensiva dezenas de vezes superior
quanto o ser portar o ativador, ele também estará à dos campos hiperenergéticos tradicionais.
imune à maioria das doenças conhecidas e pode-
rá ficar meses sem dormir. Uma vez acostumado Ducha celular: Processo através do qual o en-

71
Perry Rhodan

velhecimento de um ser inteligente é interrompi- Os ilts são mutantes naturais, possuindo Gucky
do durante 62 anos. O único ser da Via-Láctea as habilidades da telepatia, da teleportação e da
que domina tal processo é o superser Aquilo. telecinésia. Sua expectativa de vida é de seiscen-
Durante vários séculos, Aquilo concedeu duchas tos anos, porém Gucky é portador de um ativa-
celulares a Rhodan e seus companheiros, até subs- dor celular. Ele é altamente inteligente e possui
titui-las pelos ativadores celulares. um senso de humor fora do comum. Após a des-
truição do planeta natal dos ratos-castores em
Emocionauta: Semimutante capaz de controlar 2045, sua raça foi praticamente extinta.
espaçonaves e aparelhos complexos apenas com
sua mente. Porém, para utilizar sua capacidade Halutense: Habitante do planeta Halut. Os ha-
ele necessita de um capacete especial que estabe- lutenses são seres criados artificialmente na galá-
lece a conexão entre seu cérebro e a nave ou apa- xia M-87 que migraram para a Via-Láctea há mi-
relho em questão. Enquanto usa esse capacete, o lhares de anos. Eles têm três metros e meio de
emocionauta consegue “desligar-se” de seu pró- altura, dois metros e meio de largura, quatro bra-
prio corpo e assumir a identidade do objeto que ços e três olhos vermelhos dispostos frontal-
controla, o que torna suas reações infinitamente mente numa cabeça semi-esférica diretamente li-
mais rápidas que as de uma pessoa que apenas gada ao tronco. Os halutenses podem correr até
manipula botões ou alavancas. 120 km/h e também transformar temporariamente
seus corpos ou partes deles em estruturas crista-
Espaço linear: Zona de libração situada entre o linas. Sua expectativa de vida é de três mil anos,
continuum quadridimensional einsteiniano e a e existem somente cem mil halutenses vivos.
quinta dimensão. Nesta região, que só pode ser
definida matematicamente, naves espaciais po- Hiper-rádio: Sistema de radiocomunicação que
dem atingir velocidades milhões de vezes superi- utiliza impulsos pentadimensionais. Enquanto
ores à da luz, o que lhes permite atravessar toda impulsos de rádio normais viajam à velocidade
a Via-Láctea em poucas horas. da luz, impulsos de hiper-rádio viajam a veloci-
dades milhões ou bilhões de vezes superiores à
Estação transmissora: Local onde pessoas e da luz.
cargas desmaterializam-se e são transportadas a
grandes distâncias instantaneamente. Por toda a Império Alfa: Centro de controle de todas as
Terra há estações transmissoras públicas, que atividades militares do Império Solar. É com-
permitem o transporte instantâneo para qual- posto por um grande conjunto parcialmente
quer ponto do Sistema Solar. subterrâneo de edifícios localizado na cidade de
Terrânia.
Fellmer Lloyd: Mutante telepata e localizador.
Ele consegue não apenas ler pensamentos como Império Solar: Organização política que com-
também localizar uma pessoa através do rastrea- preende a maioria dos mundos colonizados pe-
mento de seus padrões de pensamento. los seres humanos. Fundada em 1990, apenas
dezenove anos após Perry Rhodan descobrir os
Frota Solar: Frota composta por todas as na- arcônidas, compreende no ano 3458 mais de mil
ves de combate do Império Solar que estão planetas espalhados pela Via-Láctea.
sob o comando direto do Administrador-Geral
Perry Rhodan. Em épocas de paz prolongada, Irmina Kotschistowa: Mutante metábio-agru-
ela chegou a ser composta por mais de cem mil padora. Ela possui a capacidade de reconfigu-
naves. rar tecidos celulares vivos de acordo com sua
vontade.
Gucky: Ser da raça dos ilts, também conhecido
como rato-castor devido à sua aparência física. Marco Polo: Nave-capitânia da Frota Solar des-

72
de o ano 3437. A Marco Polo é um ultracoura- atronital, a mais cara e resistente liga metálica
çado portador da classe Galáxia, com 2.500 conhecida.
metros de diâmetro. Ela carrega uma frota de
cinqüenta corvetas de 60 metros de diâmetro, Perry Rhodan: Administrador-Geral do Impé-
cinqüenta cruzadores de 100 metros de diâme- rio Solar. Desde o final do século XX, Perry
tro e quinhentos caças-mosquito. Seu armamen- Rhodan tem sido reeleito sucessivamente para o
to ofensivo principal consiste de sessenta ca- cargo, pois foi ele quem, com a ajuda da tecnolo-
nhões conversores com capacidade unitária de gia arcônida, unificou a Terra e evitou um confli-
tiro de quatro mil gigatoneladas de TNT. Seus to nuclear global. Perry Rhodan parou de enve-
quatro conversores lineares ultracompactos lhecer em 1976, quando recebeu do superser
possuem uma autonomia total de doze milhões Aquilo uma ducha celular.
de anos-luz. Seu campo defensivo paratrônico,
que pode ser abastecido com até 960 milhões de Ras Tschubai: Mutante teleportador. Ele con-
megawatts de energia provenientes dos novos segue “saltar” instantaneamente a distâncias de
reatores de fusão nuclear Schwarzschild, é con- até trezentos mil quilômetros levando consigo
siderado impenetrável. A Marco Polo é a única até duzentos quilogramas de carga.
nave da Frota Solar comandada por três emoci-
onautas e a primeira nave terrana equipada com Reginald Bell: Vice-Administrador-Geral e
um propulsor dimessexta, que permite vôos companheiro de Perry Rhodan durante a sua pri-
milhares de vezes mais rápidos que um vôo li- meira viagem à Lua. Ele é baixo, gordo e corta os
near comum através da zona Dakkar, uma zona cabelos ruivos à escovinha. Possui um compor-
de libração entre a quinta e a sexta dimensões. tamento temperamental e irascível.

Mutante: Ser dotado de capacidades parapsico- Siganês: Habitante do planeta Siga, coloniza-
lógicas. Embora a maioria dos mutantes seja for- do por seres humanos. Devido a motivos des-
mada por filhos e netos de sobreviventes de ex- conhecidos, a cada geração os habitantes de Siga
plosões atômicas, também há “mutantes natu- diminuem de tamanho e têm seu tempo de vida
rais”, cujas capacidades surgiram através de mu- estendido. No ano 3458, um siganês tem cerca
tações naturais. Entre os anos 1971 e 2909, Per- de vinte centímetros de altura, oitocentos gra-
ry Rhodan foi auxiliado pelo Exército de Mutan- mas de massa e uma expectativa de vida de mais
tes, um grupo composto por cerca de vinte mu- de mil anos.
tantes que teve papel fundamental na consolida-
ção do Império Solar. Após a morte da maioria Superser: Ser energético, imaterial e imortal cria-
deles na Segunda Crise de Geração do ano 2909, do a partir da união das mentes de bilhões de seres
seu papel na política galática diminuiu drastica- inteligentes. Tradicionalmente, cada grupo local
mente. No ano 3458 há somente cinco mutantes de galáxias possui um único superser, o qual res-
vivos: Gucky, Fellmer Lloyd, Ras Tschubai, ponsabiliza-se pelo bem-estar da maioria de seus
Balton Wyt e Irmina Kotschistowa. povos. Este ser representa um dos mais elevados
níveis de evolução que podem ser alcançados por
Paladino VI: Robô de combate construído por seres vivos.
siganeses. O Paladino tem a aparência externa de
um halutense e é dirigido por uma equipe de seis Terrânia: Capital da Terra. Situada às margens
siganeses alojados no interior de seu corpo. Seu do lago Goshun no deserto de Gobi, na Mongó-
comandante, Harl Dephin, comanda o gigante de lia, Terrânia é a maior metrópole terrana, com
três metros e meio de altura através de um capa- mais de sessenta milhões de habitantes. A cidade
cete igual ao dos emocionautas. O Paladino pode foi construída no local onde Perry Rhodan pou-
correr até 120 km/h e sua pele é revestida de aço sou em 1971 após seu histórico vôo lunar.

73
Escreva para nós!
Mande-nos por carta ou e-mail sua mensagem a respeito da nova edição da série
Perry Rhodan. Seu comentário, sugestão, crítica ou avaliação das histórias publicadas
poderá ser apresentado na edição em português da série e, dessa forma,
compartilhado com todos os leitores desta fantástica coleção de ficção.

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Perry Rhodan é uma publicação trimensal da editora SSPG – Star Sistemas e
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Horizonte – MG – Brasil.
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ros atrasados podem ser adquiridos diretamente com a editora de acordo
com a disponibilidade dos mesmos. Preço de capa deste volume: R$ 23,90.
Primeira edição – Printed in Brazil – Junho de 2001. Primeira edição eletrôni-
ca – Julho de 2006.

Tradução Francis Petra Janssen, Sonali Bertuol


Revisão César Augusto F. Maciel, Rodrigo de Lélis
Diagramação Cristina Maia
Consultoria Orlando Leite
Administração Interna Célia Maria de Jesus, Danielle Cristiane da Silva,
Elenice Cristina Botaro Xavier
Atendimento Sarah de Paiva Souza Silva
Coordenação Geral Rodrigo de Lélis

Créditos das ilustrações


Capa Johnny Bruck
Episódios Johnny Bruck
Capa do suplemento Johnny Bruck
Resumo geral Johnny Bruck
Contracapa Renato Casaro

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