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O duplo sentido do progresso

(conclusão de “Raça e História”, 1952)

CLAUDE LÉVI-STRAUSS

Não nos encontramos, então, diante de um estranho paradoxo? Tomando os termos


no sentido que lhes atribuímos, viu-se que todo 'progresso' cultural é função de uma
'coligação' entre as culturas. Esta coligação consiste na partilha (consciente ou
inconsciente, voluntária ou involuntária, intencional ou acidental, desejada ou imposta)
das 'chances' que cada cultura encontra em seu desenvolvimento histórico; enfim,
admitimos que esta coligação é bem mais fecunda quando ela se estabelece entre culturas
mais diversificadas. Isto posto, parece que nos encontramos diante de condições
contraditórias. Pois este 'jogo em comum', do qual resulta todo progresso, deve acarretar,
como consequência, a mais longo ou mais curto prazo, uma 'homogeneização' dos recursos
de cada jogador. E se a diversidade é uma condição inicial, é preciso reconhecer que as
chances de ganhar se tornam tanto mais fracas quanto mais a partida for prolongada.

Parece que só existem dois remédios para essa consequência inelutável. Um deles
consiste, para cada jogador, em provocar 'afastamentos diferenciais' em seu jogo; a coisa é
possível, porque cada sociedade (o "jogador" de nosso modelo teórico) se compõe de uma
coligação de grupos: confessionais, profissionais e econômicos, e o capital social arriscado
é constituído pelas apostas de todos estes participantes. As desigualdades sociais são o
exemplo mais evidente desta solução. As grandes revoluções que escolhemos como
ilustração: neolítica e industrial, se acompanharam, não apenas da diversificação do corpo
social, como muito bem o observara Spencer, mas também da instauração de 'status'
diferenciais entre os grupos, sobretudo do ponto de vista econômico. Há muito tempo
observou-se que as descobertas neolíticas acarretaram rapidamente uma diferenciação
social, com o nascimento, no Oriente antigo, das grandes concentrações urbanas, a
aparição dos Estados, das castas e classes. Aplica-se a mesma observação à revolução
industrial, condicionada pelo aparecimento de um proletariado e conduzindo à formas
novas e extremadas de exploração do trabalho humano. Até agora, tendia-se a tratar essas
transformações como sendo a consequência de transformações técnicas, estabelecendo
entre estas e aquelas uma relação de causa e efeito. Se nossa interpretação é exata, a
relação de causalidade (com a sucessão temporal que ela implica) deve ser abandonada -
como, aliás, a ciência moderna tende geralmente a fazer - em benefício de uma relação
funcional entre os dois fenômenos. Notemos, de passagem, que o reconhecimento do fato
de que o progresso técnico tenha tido como correlativo histórico o desenvolvimento da
exploração do homem pelo homem, pode incitar-nos a uma certa discrição nas
manifestações de orgulho que nos inspira tão facilmente o primeiro destes dois
fenômenos.

O segundo remédio é, numa larga medida, condicionado pelo primeiro: consiste em


introduzir, de bom grado ou à força, novos parceiros na coligação, desta vez externos, e
cujas "apostas" sejam bem diferentes das que caracterizam a associação inicial. Também
esta solução foi tentada, e se o termo capitalismo permite, 'grosso modo', identificar a
primeira, os termos imperialismo e colonialismo ajudarão a ilustrar a segunda. A expansão
colonial do século XIX permitiu à Europa industrial renovar (e não certamente em seu
benefício exclusivo) um impulso que, sem a introdução de povos subjugados no circuito,
correria o risco de esgotar-se muito mais rapidamente.

Vê-se que, nos dois casos, o remédio é alargar a coligação, quer por diversificação
interna, quer pela admissão de novos parceiros: afinal de contas, trata-se sempre de
aumentar o número dos jogadores, isto é, de voltar à complexidade e à diversidade da
situação inicial. Mas vê-se também que estas soluções só podem retardar provisoriamente
o processo. Só pode haver exploração, no seio de uma coligação: entre os dois grupos,
dominante e dominado, existem contatos e se fazem trocas. Por sua vez, e apesar da
relação unilateral que aparentemente os une, devem, consciente ou inconscientemente,
juntar suas apostas e, progressivamente, as diferenças que os opõem tendem a diminuir.
Por outro lado, as melhorias sociais, por outro, o acesso gradual, dos povos colonizados, à
independência fazem-nos assistir ao desenrolar deste fenômeno; se bem que haja ainda
muita estrada a percorrer nestas duas direções, sabemos que as coisas irão
inevitavelmente neste sentido. Na verdade, talvez seja preciso interpretar o aparecimento,
no mundo, de regimes políticos e sociais antagônicos como uma terceira solução; pode-se
conceber que uma diversificação, renovando-se cada vez em outro plano, permita manter
indefinidamente, através de formas variáveis e que nunca deixarão de surpreender os
homens, esse estado de desequilíbrio de que depende a sobrevivência biológica e cultural
da humanidade.
De qualquer modo, é difícil imaginar, senão sob forma contraditória, um processo
que se pode resumir assim: para progredir, é preciso que os homens colaborem; e, no
decorrer desta colaboração, eles vêem identificar-se gradualmente as contribuições, cuja
diferença inicial era precisamente o que tornava sua colaboração fecunda e necessária.

Mas mesmo que esta contradição seja insolúvel, o dever sagrado da humanidade é
conservar em mente seus dois termos, igualmente presentes: nunca perder de vista um,
em benefício exclusivo do outro; evitar, sem dúvida, um particularismo cego, que tenderia
a reservar o privilégio da humanidade a uma raça, uma cultura ou uma sociedade; mas
também jamais esquecer que nenhuma fração da humanidade dispõe de fórmulas
aplicáveis ao conjunto, e que uma humanidade confundida num gênero de vida único é
inconcebível, pois seria uma humanidade petrificada.

A esse respeito, as instituições internacionais têm diante de si uma imensa tarefa, e


pesadas responsabilidades. Ambas são mais complexas do que se imagina. Pois a missão
das instituições internacionais é dupla: consiste, por um lado, numa liquidação, e por
outro, num alerta. Devem, inicialmente, assistir a humanidade, e tornar tão pouco
dolorosa e perigosa quanto possível a reabsorção destas diversidades mortas, resíduos sem
valor de modos de colaboração, cuja presença em estado de vestígios putrefatos constitui
um risco permanente de infecção para o corpo social. Devem podar, amputar se preciso, e
facilitar o nascimento de outras formas de adaptação.

Mas, ao mesmo tempo, devem estar apaixonadamente atentas ao fato de que, para
possuir o mesmo valor funcional que os precedentes, estes novos modos não podem
reproduzi-los ou serem concebidos segundo o mesmo padrão, sem se reduzirem a soluções
cada vez mais insípidas e finalmente ineficazes. É preciso que saibam, ao contrário, que a
humanidade é rica de possibilidades imprevistas, que, ao aparecerem, sempre deixarão os
homens estupefatos; que o progresso não é feito à imagem desta "similitude melhorada"
onde nós procuramos um repouso preguiçoso, mas que é repleto de aventuras, rupturas e
escândalos. A humanidade está constantemente às voltas com dois processos
contraditórios, dos quais um tende a instaurar a unificação, ao passo que o outro visa a
manter ou restabelecer a diversificação. A posição de cada época ou de cada cultura no
sistema, a orientação segundo a qual ela se encontra aí engajada, são tais que apenas um
destes processos lhe parece ter um sentido, parecendo o outro ser a negação do primeiro.
Mas dizer, como poderíamos estar inclinados, que a humanidade se desfaz, ao
mesmo tempo que se faz, ainda se originaria de uma visão incompleta. Pois, nos dois
planos e em dois níveis opostos, trata-se de duas maneiras de se 'fazer'.

A necessidade de preservar a diversidade das culturas, num mundo ameaçado pela


monotonia e uniformidade, não escapou certamente às instituições internacionais. Elas
devem compreender também que não bastará, para atingir essa finalidade, acalentar
tradições locais e conceder uma trégua aos tempos passados. É o fato da diversidade que
deve ser salvo, não o conteúdo histórico que cada época lhe deu, e que nenhuma saberia
perpetuar para além de si mesma. É preciso, portanto, atentar para a força nascente,
encorajar as potencialidades secretas, despertar todas as vocações para conviver que a
história tem em reserva; é preciso também estar pronto para considerar sem surpresa, sem
repugnância e sem revolta, o que todas essas novs formas sociais de expressão não
poderão deixar de oferecer de inusitado. A tolerância não é uma posição contemplativa,
dispensando indulgências ao que foi ou que é. É uma atitude dinâmica, que consiste em
prever, compreender e promover o que quer ser. A diversidade das culturas humanas está
atrás de nós, à nossa volta e à nossa frente. A única reivindicação que podemos fazer a esse
respeito, (exigência que cria para cada indivíduo deveres correspondentes) é que ela se
realize de modo que cada forma seja uma contribuição para a maior generosidade das
outras.

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