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Os temores nossos de cada dia

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UM INSTINTO A SEU FAVOR


Há mesmo o medo de coisas que vêm da fantasia de cada um. A imaginação
constrói, avoluma e, por vezes, aprisiona. Mas não vamos negar o medo que é
acionado por um instinto de preservação. Esse é seu parceiro. Por exemplo, é tarde
da noite, você está só, assistindo TV, quando uma porta bate. Não dá outra: o
coração dispara, os músculos se enrijecem e todos os sentidos ficam em alerta.
Alguns segundos depois, quando percebe que era só o vento – e não um
acontecimento incomum –, é que você volta a relaxar. Isso acontece porque em
momentos de perigo iminente seu cérebro aciona um mecanismo ancestral que
serve para torná-lo mais apto para a fuga ou o combate. O objetivo disso é
preservar a vida. E o gatilho que dispara esse circuito é um velho conhecido: o
medo. Aliás, ele não é algo exclusivo do ser humano. Todos os animais
compartilham essa emoção, e é graças a ela que a gazela sai correndo quando vê
um leão.
Esse tipo de medo é considerado positivo e necessário porque serve para nos
proteger. É ele que nos faz, por exemplo, olhar para os dois lados antes de
atravessar a rua – e não ser atropelado – ou impede, diante de um penhasco, que
alguém se atire em queda livre, sem receio.
Aliás, o mecanismo biológico por trás de qualquer tipo de medo (do bom e protetor
àqueles que nos apavoram) é igual. O psicobiólogo Marcus Lira Brandão,
coordenador do Laboratório de Psicobiologia da USP de Ribeirão Preto, onde é
desenvolvido o Projeto Psicobiologia do Medo e Estresse, explica que o medo
provoca uma reação em cadeia no cérebro, que tem início com um estímulo de
estresse, como uma platéia lotada ou uma batida repentina na porta. Funciona
assim: uma vez recebido o sinal de estresse, o hipotálamo (região no cérebro)
informa todos os circuitos cerebrais que é preciso entrar em ação, liberando
hormônios como adrenalina e noradrenalina na corrente sanguínea.
Esses hormônios deixam o corpo mais alerta, pronto para lidar com uma ameaça.
Daí aumenta a freqüência cardíaca, os sentidos ficam mais aguçados e os músculos
tensos. “Tudo isso acontece para que a gente possa correr adoidado para fugir de
um perigo ou, se for o caso, enfrentá-lo com todas as forças”, diz Brandão, que,
como todo mundo, também tem seus medos – o dele é o de não entender o medo.
“Se o cérebro recebeu um sinal de alerta, vai reagir como se estivéssemos frente a
frente com o leão mais feroz da África, mesmo que se trate só de uma inofensiva
barata”, explica o psicobiólogo.
De acordo com a psiquiatra Ana Beatriz Silva, autora de Mentes com Medo, da
Compreensão à Superação (ed. Integrare), os motivos pelos quais uma pessoa tem
um medo maior ou menor diante de um inseto, por exemplo, ou não tem coragem
de enfrentar uma platéia variam de pessoa para pessoa e dependem da história de
vida de cada um. Mas a maneira de tentar superá-los é bem similar. “É necessário
acolher o medo, em vez de negá-lo ou diminuir sua importância”, diz Ana Beatriz.
“Só assim se torna possível lidar com esse sentimento”, explica. Parece difícil? Nem
tanto. É só lembrar de todas as vezes em que você já ficou muito triste. Não foi
melhor assumir que estava mal mesmo e chorar tudo o que tinha para chorar? Com
o medo, é a mesma coisa. “Para que ele não vire um bicho-papão, o melhor é
encará-lo de frente, sem reservas”, explica a psicanalista Júnia de Vilhena, da PUC
do Rio de Janeiro.

VOCÊ TEM MEDO DO QUÊ?


De não encontrar a cara-metade
Por trás disso, pode estar o medo da perda, ou ainda o temor de não ser
suficientemente bom. “Quem não se sente digno de receber amor e de ser
valorizado dificilmente consegue acreditar que merece coisas boas”, acredita Maria
Conceição Bahia Valadares, terapeuta bioenergética que tinha medo de morrer
afogada, mas mesmo assim fez um curso de mergulho e hoje nada em qualquer
piscina.
A armadilha desse tipo de medo é ficar agradando os outros o tempo todo e assim
se esquecer de si mesmo. “Quem se sente não merecedor de afeto muitas vezes
acaba sendo submisso nas relações pessoais”, analisa Maria Conceição. É um passo
para ficar roendo as unhas toda vez que está sozinho, achando que nunca mais vai
encontrar alguém. Não há solução mágica para aprender a se valorizar e ser mais
autoconfiante. De novo, um bom caminho é a busca o autoconhecimento. “Sem
isso, é muito difícil lidar com medos tão primitivos, que podem ter surgido lá atrás,
na infância”, acredita Maria Conceição.

De dirigir
“Trata-se de outro medo mais comum do que se pensa, principalmente entre as
mulheres”, diz Ana Beatriz. Quase sempre ele está relacionado à dificuldade de
assumir a autonomia, de dirigir e responsabilizar-se pela própria vida. A
psicoterapia aqui pode ajudar porque as raízes dessa falta de confiança podem ser
antigas. Há ainda as terapias que colocam a pessoa literalmente dentro do carro,
com um psicólogo ao lado, que vai ajudando o motorista a lidar com seu pânico
diante do volante.

De ir a uma festa sozinho, de falar em público, de dizer “eu te amo”


Todos esses exemplos se relacionam ao medo de se expor e eventualmente
esconde uma dificuldade de aceitação. Por trás dela, pode estar também um desejo
grande de se sentir querido ou mesmo revelar uma expressiva carência afetiva.
Uma das armadilhas causadas por esse tipo de medo é a criação de expectativas
pouco realistas, já que a tendência é sempre evitar ou adiar a ação. A conseqüência
é que, quando ela finalmente acontece, já criamos fantasias, como a de receber
aplausos estrondosos durante uma apresentação sem maior importância e de
arrasar naquela festa. Daí, a frustração é sempre maior.
O medo de se expor em geral está ligado a questões íntimas e, muitas vezes,
inconscientes. “Por isso, uma saída é procurar um terapeuta, que vai ajudar o
paciente a se conhecer melhor e, dessa forma, entender por que ele se apavora
diante das solicitações da vida”, diz a psicoterapeuta Junia de Vilhena.
De animais
Os mais comuns são de insetos, aranhas, cobras, cães, gatos, sapos, ratos e
lagartixas. De acordo com a psiquiatra Ana Beatriz Silva, a melhor forma de
resolver o problema é por meio da exposição ao que se teme. “O objetivo é treinar
e habituar o paciente a reduzir a ansiedade, fornecendo a ele subsídios para o
enfrentamento gradual”, diz Ana, em seu livro Mentes com Medo.

De dentista
Esse é dos medos comuns. Há gente que se apavora ao ouvir o barulho do
motorzinho do dentista, outros se assustam ao ver a seringa da anestesia. Um bom
papo com o dentista, claro, ajuda. Mas técnicas de relaxamento podem reduzir
bastante o problema.
Quando vira fobia?
Quando começa a impedir atividades do dia-a-dia. Aí, o sentimento passa a se
chamar transtorno de ansiedade e muitas vezes requer tratamento médico. A
síndrome do pânico também faz parte desse caldeirão. “Afinal, é um período de
intenso temor, injustificado, com sintomas característicos, como taquicardia, suor,
dor no peito, tontura”, conta a psiquiatra Ana Beatriz Silva. “É até possível se curar
sozinho, mas o mais recomendável é procurar uma terapia ou um atendimento
psiquiátrico”, diz ela.

10 COISAS QUE VOCÊ NÃO PRECISA TEMER


1. De soltar a voz no karaokê
Todo mundo está lá para desafinar mesmo.

2. De pintar as paredes da sala de roxo


Ficou ruim? É só pintar de branco de novo.

3. De fazer um corte de cabelo radical


O cabelo cresce novamente.

4. De terminar um relacionamento ruim


A vida é cheia de possibilidades de novos encontros.

5. De dizer o que sente


Isso pode ser libertador.

6. De errar na receita do bolo


Se não ficar bom, você compra outro na padaria.

7. De errar no presente para alguém especial


Não serviu? Ele pode trocar. E se não gostar, está aí uma chance de você conhecer
melhor a pessoa.

8. De não acertar o caminho


Basta saber que, às vezes, é preciso parar para perguntar a direção das coisas.

9. De experimentar um prato diferente


Descobrir novos sabores é uma delícia. Se o prato for mesmo ruim, você sempre
pode pedir outro.

10. De fazer perguntas: para o médico, para o chefe, para alguém que você
considera sábio.
O papel dessas pessoas é, também, dividir conhecimento.

Para cada tempo de vida, um tipo de medo


NA INFÂNCIA
De escuro, de bicho-papão, da morte da mãe e do pai, de ser filho adotivo, de ter
um monstro embaixo da cama.

NA ADOLESCÊNCIA
De não usar a roupa certa no primeiro dia de escola, de ser o último a beijar na
boca, de ir mal na prova, de não passar no vestibular, de não poder viajar nas
férias.

NA MATURIDADE
De ficar desempregado, de se separar, de não casar, de não saber cuidar dos filhos,
de ter que cuidar dos pais, de não conseguir comprar a casa própria.

NA VELHICE
De morrer, de ficar doente, de não ter tempo de conviver com os netos, de perder a
memória, de ficar só, de perder as forças para fazer as coisas de que gosta.

COMO ME LIVREI DISTO


“Fui fazer ioga”
“Pequena, tinha medo até de dormir sozinha. Depois, me tornei uma adolescente
insegura e tímida. E esses sentimentos só foram aumentando com o passar dos
anos. De medo em medo, a coisa te aprisiona: uma hora era o receio de falar na
frente de várias pessoas, outra, de viajar sozinha.
Há 18 anos, comecei a fazer ioga. A idéia era buscar uma atividade que me
ajudasse a ficar menos tensa. Com o tempo e o aprendizado, a ioga e a prática da
meditação produziram um efeito colateral positivo: percebi o quanto dependia da
aprovação dos outros. Entendi como funcionam os pensamentos e os sentimentos e
que nossa meta não deve ser agradar o outro para nos sentirmos mais seguros e
amados, mas, sim, nos voltarmos para nós mesmos. Continuo fazendo o bem, mas
sem a necessidade de agradar. Assim, fui ganhando coragem para encarar o que
me assustava. Quan do sentia um frio na barriga por que precisava falar em
público, praticava algumas respirações da ioga e me acalmava para seguir em
frente. Quando estou sozinha em meu sítio, em Serra Negra (SP), não deixo o
medo me dominar e uso as técnicas da meditação. Posso dizer que hoje me
conheço mais e, com isso, sei até aonde posso ir sem tanto medo.”
LUCIANA FERRAZ, 52 anos, coordenadora da associação Brahma Kumaris no Brasil

Pedi ajuda
“Sempre tive muito medo de falar em público, o que me impedia de concretizar o
sonho de lecionar. Fiz pedagogia e não demorou a surgir uma oportunidade para
dar aula numa boa escola. Só que eu gelei e acabei dizendo não. Fiquei arrasada, e
isso me chateou tanto que fui buscar ajuda. Procurei uma psicoterapeuta para
entender o que acontecia comigo. Ao mesmo tempo, comecei a me exercitar. A
idéia era ficar mais relaxada.
Aprender a lidar com seu medo é um processo longo. Não adianta chegar à
consulta e falar que quer resolver seus medos e pronto. A análise é um caminho
que em muitos momentos envolve dor. Você precisa se expor, abrir a alma. Fui
resolvendo minhas questões aos poucos e, com o tempo, percebi o que me
paralisava e daí o medo gigante foi diminuindo de tamanho.
Um dia, me chamaram para dar uma palestra sobre educação em um colégio. Na
hora, tremi na base, mas consegui falar. Etapa vencida, comecei a batalhar por um
em prego – dar aulas, meu sonho – e acabei conseguindo.
Até hoje, sinto um pouco de medo antes de entrar numa sala, mas vou lá e faço o
trabalho. O importante não é querer matar o medo, mas olhá-lo, admitir que existe
e aprender a lidar com ele.”
ANA PAULA SCHMIDT, 27 anos, professora do segundo grau

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