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Análise de Riscos para a Implantação do

Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre

Valdecir Becker, Msc, Laboratório de Sistemas Integráveis, USP

Carlos Montez, Dr. Eng, Departamento de Automação e Sistemas, UFSC

Resumo

Este artigo apresenta uma análise de riscos do processo de definição e


implantação do Sistema Brasileiro de TV Digital (SBTVD). O tema é apresentado à luz
dos estudos realizados no Brasil durante o ano de 2005. São analisados os riscos
decorrentes das indefinições e inseguranças econômicas, da evolução tecnológica, da
aceitação social e da instabilidade política. Também são propostas ações e diretrizes para
a minimização da probabilidade de ocorrência desses riscos.

X.1 Introdução

O Sistema Brasileiro de Televisão Digital foi criado pelo Decreto 4.901, de 26 de


novembro de 2003 (BRASIL, 2003). Os principais objetivos, além da transição para um
modelo digital de TV, eram usar essa transição para gerar inclusão digital, criar uma rede
universal de ensino a distância e desenvolver a indústria nacional.

Com base nesses quatro objetivos principais (o decreto é muito mais amplo),
percebe-se claramente uma reinterpretação da evolução tecnológica. Ao contrário do que
vinha sendo feito até então pela Anatel, foram estabelecidos objetivos baseados nas
necessidades socioeconômicas e culturais, para só depois buscar a tecnologia que melhor
atenda a esses requisitos.

A gestão e a execução do SBTVD foram estruturadas em um Comitê de


Desenvolvimento, um Comitê Consultivo e um Grupo Gestor, assessorados pelo Centro
de Pesquisas e Desenvolvimento de Telecomunicações (CPqD) na parte técnica e pela
Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), na parte financeira. Os recursos vieram do
Fundo para o Desenvolvimento das Telecomunicações (Funttel).

Num segundo momento, o SBTVD foi dividido em três fases de execução: a


primeira, encerrada em fevereiro deste ano, chamada de "apoio à decisão", estudou as
diferentes alternativas e sugeriu um modelo de referência. Foram formados 22
consórcios, eleitos através de editais públicos coordenados pela Finep. Esses consórcios
estudaram os três sistemas comerciais e desenvolveram uma proposta nacional para
atender a todos os itens do Decreto.

A segunda fase, que se iniciou com a assinatura do Decreto 5.820, de 29 de junho


de 2006 (BRASIL, 2006), é a de desenvolvimento. Nessa fase, o Sistema Brasileiro de
TV Digital Terrestre é desenvolvido e preparado para a implantação – a terceira fase do
SBTVD.

O Decreto 5.280 definiu que o SBTVD seria baseado no padrão de modulação


japonês, amplamente defendido pelas emissoras de televisão. Os demais itens, como a
evolução do sistema, a incorporação de tecnologias nacionais e a continuidade das
pesquisas, fundamentais para o domínio da tecnologia envolvida, não foram definidos.

A proposta de desenvolvimento de um sistema totalmente brasileiro de TV digital,


ou ainda a incorporação de tecnologias nacionais a um sistema já comercial, suscitou
inúmeros debates, com defesas e ataques de vários atores envolvidos no processo. As
emissoras de televisão e alguns segmentos da indústria, capitaneados por empresas
multinacionais, criticaram duramente a proposta, alegando que o Brasil se isolaria do
mundo, repetindo erros como a reserva de mercado com a Lei de Informática, ou com o
padrão PAL-M de TV colorida.

Por outro lado, a comunidade científica e movimentos sociais consideravam a


proposta interessante sob três aspectos: domínio da tecnologia, desenvolvimento da
indústria nacional, com inclusão digital, e democratização do setor de radiodifusão, que
há anos é praticamente monopolizado por uma única rede de TV. Além disso, esses
atores ansiavam por mais tempo de estudo e o cumprimento dos editais de pesquisa, que
previam uma estação experimental para os testes do que foi desenvolvido pelos
consórcios. Essa estação não saiu do papel.
As dúvidas, com argumentos favoráveis e contrários, poderiam ser
paulatinamente esclarecidos com a busca de altercações em análises de riscos e de
oportunidades, que fornecem suporte para o debate sobre a viabilidade de qualquer
projeto. A análise de riscos representa o processo que determina o impacto que um risco
pode ter (conseqüência) e a probabilidade de sua ocorrência em um determinado cenário.
Essa análise é pertinente porque a relação da viabilidade técnica e econômica com as
oportunidades geradas e a definição dos beneficiários é mediada pelo grau de risco
intrínseco ao desenvolvimento e à implantação.

O senso comum avalia que, por um lado, quanto maior o risco, maiores as
oportunidades propiciadas. Por outro lado, quanto menor o risco, menores também as
oportunidades. Conforme o Modelo de Referência do Sistema Brasileiro de TV Digital
(FUNDAÇÃO CPQD, 2006) esse quadro não se manifesta. A continuação do mesmo
modelo de negócios, com a simples troca de tecnologias, o que representa poucas
oportunidades para a indústria nacional e nenhuma possibilidade de inclusão digital,
apresenta os maiores riscos para a implantação da TV digital no país. Esse aparente
paradoxo reside no conteúdo da televisão digital e/ou interativa e na relação do
telespectador com o meio, que difere drasticamente das outras tecnologias.

Dentro desse contexto começa o desenvolvimento da TV digital brasileira, com


prazos estimados entre um e dois anos para o início das transmissões digitais, e de 10
anos para o término das transmissões analógicas. Esses prazos são estimativas oficiais,
carecendo de cotejamentos com os atores industriais e os consumidores, que vão ditar os
ritmos de implantação, assim como aconteceu no resto do mundo.

X.2 Transição da TV analógica para TV digital interativa

Conhecer os limites que separam um sistema de TV Digital do seu modelo de


negócios (ou modelo de implantação) é importante para tentar compreender as
possibilidades de implantação de TV digital. Atualmente é comum perceber a confusão
gerada, mesmo nos fóruns especializados, sobre as implicações das opções feitas pelo
governo federal para a adoção do sistema de TV digital (sistema japonês?, sistema nipo-
brasileiro?) e sobre as escolhas referentes ao modelo de implantação.
Desenvolvedor Desenvolvedor
de conteúdo de aplicação
Consumidor

Operador de Rede
difusão
Consumidor

canal de retorno
Fig. X. Uma cadeia de valores na TV Digital interativa.

O processo de digitalização de informações já vinha ocorrendo há algum tempo


tanto nas empresas radiodifusoras – com câmeras e equipamentos digitais – quanto nas
residências – com aparelhos de DVD e, recentemente, televisores de plasma. Contudo, o
que passa a caracterizar a TV digital é a transmissão de informação digital.

O conteúdo audiovisual – que compõe qualquer sistema de TV – é transformado


em informação digital por um processo denominado codificação. A codificação permite
representar a informação digital através de um código padronizado, denominado codec
(codificação-decodificação). Codecs já bem conhecidos pela população são MP3 (áudio),
JPEG (imagem), MPEG-2 vídeo (usado em DVD) e MPEG-4 e DivX (disseminados na
internet). Todos os sistemas de TV digital abertos usam codificação MPEG-2. No
entanto, a França, optou pelo pedrão MPEG-4, que atinge taxas de compactação pelo
menos duas vezes superiores ao MPEG-2, mantendo a mesma qualidade. As pesquisas
realizadas no Brasil também apontaram apara a superioridade do MPEG-4, sugerindo sua
adoção.

Esse conteúdo digital (composto, em última instância, por seqüências binárias, de


0's e 1's) precisa passar por um processo de modulação para ser difundido até os
receptores digitais nas residências dos consumidores (Figura X). O processo de
modulação é uma técnica que consiste em colocar a informação a ser transmitida sobre
uma “portadora” que possui uma faixa de freqüência controlada de forma a sofrer menos
problemas de atenuação, interferências e distorções, durante a transmissão dos dados
digitais.
Alguns receptores de TV digital poderão ter um canal de retorno (ou canal de
interatividade), caracterizando a verdadeira TV digital interativa (linha pontilhada da
Figura X). Na TV digital terrestre, abordada aqui neste texto – diferentemente da TV a
cabo ou da TV pela internet – existe o problema tecnológico de como implementar esse
canal de retorno. Uma forma de implementar seria a adoção do sistema telefônico
convencional, através de uma linha discada, caracterizando um canal assíncrono. Essa
solução é problemática para o Brasil, pois a maioria das linhas telefônicas fixas se
concentra nos grandes municípios. Existem também propostas de canais de retorno
síncronos, utilizando tecnologias sem fio emergentes, tais como WiMax.

A digitalização da informação audiovisual traz um benefício importantíssimo para


a TV digital. A possibilidade de combinar (multiplexar) esses dados digitais com
qualquer outra informação binária. Um exemplo, é a possibilidade de enviar código
(programas ou aplicações) que será executado nos receptores (ou set top box) nas
residências dos telespectadores/consumidores. O que permite a recepção e execução
desses programas em qualquer tipo de receptor (de diferentes fabricantes) é a
padronização de uma camada de software que executa nos receptores, denominada
middleware. Mesmo quando não há canal de retorno implementado, a execução dessas
aplicações sobre um middleware permite ao consumidor fazer escolhas locais sobre
alguns dados transmitidos, característica essa denominada interatividade local.

Como o middleware define como será a interatividade na televisão, Europa e


Japão e Estados Unidos decidiram desenvolver soluções próprias. O MHP, desenvolvido
na Europa, tem as possibilidades interativas mais evoluídas, enquanto que o ARIB,
japonês, ainda está em fase de implantação. Já o ACAP, americano, ainda não começou a
ser implantado. Seguindo esse caminho, foi desenvolvido no Brasil o middleware Ginga,
que sintetiza o europeu MPH e o japonês ARIB numa única ferramenta, corrigindo
alguns problemas e mantendo as principais virtudes.

Um sistema de TV Digital, portanto, é formado por um conjunto de padrões pré-


definidos de tecnologias para codificação, modulação, multiplexação e de middleware. A
definição desses padrões, ou seja, a definição do sistema, no entanto, não define como
será implantado o modelo de negócios. Ou tão importante quanto, como será a transição
da TV analógica para a TV digital.

Como exemplo de modelo de negócios, é possível se observar na Figura X uma


separação de funções: desenvolvedor de conteúdo, desenvolvedor de aplicação e
operador de rede. Embora no Brasil a prática vigente na TV aberta atual é a do
radiodifusor que produz e transmite o conteúdo, em diversos outros países da Europa
existe um modelo de negócios onde existe uma clara separação desses papéis. Em outras
palavras, a emissora de TV não é dona das antenas de transmissão, que é feita por
terceiros.

Essa separação de funções permite compreender melhor a multiprogramação, que


é o aproveitamento da faixa de freqüências disponível (6MHz, no caso brasileiro) para
transmissão de mais de um canal de TV, como conhecido atualmente. Tecnicamente, esse
novo canal de TV também é definido como canal virtual, serviço ou programa. A
multiprogramação pode ser concebida como a existência de mais de um canal virtual
difundido por um mesmo operador de rede. Caso o modelo de negócios não defina a
separação de funções, a mesma emissora pode transmitir mais de um canal virtual.

Não há impedimento de haver multiprogramação quando um mesmo ator (ou


player) faz o papel de provedor de conteúdo, de aplicação e operador de rede, como é o
caso brasileiro. Contudo, quando atualmente há críticas sobre o conteúdo difundido de
apenas um canal, e há necessidade de preenchimento da grade de programação com
leilões de tapetes e anéis, desenhos animados nas madrugadas, etc, é fácil entender
porque há uma defesa premente da monoprogramação, pelos atuais radiodifusores. Esses
argumentam que precisam preencher o canal exclusivamente com difusão de conteúdo de
TV em alta definição (que ocupa quase todo o espectro de freqüência de 6MHz).

Por fim, é importante entender como se dará o modelo de transição da TV


analógica para digital. Para a realidade da maioria dos países, não é possível marcar uma
data para transição instantânea. É preciso, nesse caso, conviver durante algum tempo com
três tipos de usuários consumidores. Aqueles que continuarão um certo tempo com seus
televisores analógicos (convencionais); aqueles que irão adquirir seus set top boxes para
converter conteúdo audiovisual para seus televisores analógicos; e por fim, com os
usuários, provavelmente com mais poder aquisitivo, que terão seus receptores totalmente
digitais. Para isso acontecer é necessário que haja, durante esse tempo, a transmissão
simultânea do mesmo canal em duas formas diferentes: analógica e digital. Essa
transmissão é denominada simulcast. Esse convívio das duas formas de transmissão
deverá ocorrer até uma data pré-estabelecida para o encerramento de toda transmissão
analógica (data do switch-off ou switch-over).

Existem atualmente três sistemas de TV digital em operação comercial no mundo,


todos desenvolvidos ao longo da década de 1990. O primeiro a ser implantado (em 1998)
foi o norte-americano, denominado ATSC. As principais características do ATSC
residem na alta definição e na ausência de interatividade. O segundo sistema de TV
digital a ser implantado (também 1998) foi o europeu DVB. Focado na definição padrão
e na multiprogramação, esse sistema desenvolveu a interatividade na televisão e iniciou
os testes com a mobilidade. Já o sistema japonês, último a ser implantado (em 2003), tem
o foco na alta definição, na mobilidade e na portabilidade. A interatividade está prevista,
mas implantada em níveis arcaicos.

Estudos da Agencia Nacional de Telecomunicações – Anatel, realizados entre


1998 e 2000, apontaram para o sistema japonês como sendo o mais robusto. Porém, a
principal diferença entre os sistemas europeu e japonês não está nas opções tecnológicas.
O sistema de TV digital japonês foi amplamente defendido pelo setor de radiodifusão no
Brasil por causa do modelo de negócios. Na Europa, a mobilidade é feita por empresas de
telefonia, enquanto no Japão são as próprias emissoras de TV que realizam as
transmissões móveis. No caso brasileiro, representantes das diferentes emissoras
afirmaram, em várias ocasiões, que não vão abrir mão do domínio sobre as transmissões
móveis.

Representantes de ambos os sistemas, europeu e japonês, afirmaram ser possível


alterar a tecnologia para suportar outros modelos de negócio, com custo adicional. Ou
seja, tecnicamente ainda é possível a entrada de empresas de telefonia no setor de TV
digital aberta no Brasil. Vai depender da regulamentação e da definição do modelo de
negócios, algo pouco discutido até o momento.

X.3 Riscos para o desenvolvimento e implantação


X.3.1 Riscos econômicos

Durante o desenvolvimento da primeira fase do SBTVD, foram feitos alguns


estudos sobre os riscos inerentes ao processo de definição e de implantação da TV digital
no Brasil. O CPqD realizou a maioria dos estudos sobre o tema, apresentados no
documento Modelo de Referência do SBTVD (FUNDAÇÃO CPQD, 2006).

A economia afeta diretamente a aceitação e a aquisição de qualquer nova


tecnologia. Dessa forma, uma recessão ou um crescimento acima do esperado impactam
nas vendas dos set top boxes e no poder de digitalização das emissoras de TV.

Para entender como deve acontecer a implantação da TV digital, o CPqD traçou


três cenários: incremental, diferenciação e convergência (FUNDAÇÃO CPQD, 2004).
No cenário incremental não se apresentam rupturas na cadeia de valor atual. Apenas é
introduzida uma evolução tecnológica. Esse cenário compreende interatividade local e
alta definição do vídeo em ambiente de monoprogramação. A mobilidade e portabilidade
são previstas, mas sem a possibilidade de programação diferenciada. Nesse cenário,
portanto, há uma migração conservadora da televisão analógica para a digital. Pode-se
dizer que há a possibilidade da introdução de algumas facilidades no serviço de
radiodifusão, de modo a torná-lo mais atraente aos usuários, mas é conservadora na
forma de oferecer programação inovadora. Apresenta ainda mudanças de pequenas
proporções em sua cadeia de valor ou no uso do espectro.

Uma das diferenças da radiodifusão digital para a analógica é a taxa de aspecto,


também conhecida como formato de tela, 16:9, que está presente nos três cenários e
representa uma tendência em função da qualidade da imagem e por ser o formato
majoritário adotado na produção cinematográfica. Diversos estudos apontam as
vantagens cognitivas, de atratividade e de percepção desse formato. Outro aspecto que
valida a adoção desse formato está relacionado à fácil portabilidade do conteúdo gerado
pela indústria cinematográfica para a televisão, minimizando o esforço de adaptação e
conseqüentemente facilitando a sua convergência. A televisão analógica usa a taxa de
aspecto 4:3, ou seja, para cada quatro unidades de medida horizontais, tem-se três
verticais.
Esse cenário, mesmo apresentando poucos impactos na cadeia de valor, implica
em elevação de custos no processo de produção, transmissão e recepção. Já com relação à
mobilidade/portabilidade, significará novas oportunidades e ampliará a participação das
televisões no mercado publicitário, uma vez que permitirá às emissoras entregar seu sinal
a um número maior de telespectadores, bastando para isso transmitir sinais com robustez
apropriada. A portabilidade permitirá, por exemplo, equipar veículos de transporte
coletivo com terminais de recepção, ou o usuário ter ser próprio receptor portátil.

Por outro lado, no cenário de diferenciação ocorre alguma ruptura na cadeia de


valor atual, permitindo a multiprogramação em radiodifusão pela mesma emissora. Esse
cenário caracteriza-se pela flexibilidade das emissoras definirem a exploração da alta
definição ou multiprogramação em definição padrão. Esse cenário apresenta
interatividade local e com canal de retorno, mobilidade/portabilidade e
multiprogramação, o que possibilita a programação diferenciada para recepção móvel,
por exemplo.

O cenário de diferenciação pode ser associado à competividade entre emissoras e


possibilitar o reaquecimento do setor. Permite que as emissoras tomem decisões
estratégicas com relação à oferta de monoprogramação com alta definição ou
multiprogramação em definição padrão, conjugar as duas, ou ainda, alternar na sua grade
diária, utilizando ora uma, ora outra, desde que tenham concessão para operar naquele
canal de freqüência. A alta definição e a interatividade local poderão ser similares ao
incremental. Mas a oferta simultânea de monoprogramação e multiprogramação poderá
estimular conteúdos em alta definição.

Já com relação à mobilidade/portabilidade associada à multiprogramação, poderá


haver estímulo a um novo mercado baseado em terminais móveis, já que poderão ser
criados programas para esse ambiente e seus usuários. Mesmo com as transmissões para
receptores fixos ocorrendo em alta definição, haverá ainda a possibilidade de
transmissão para os terminais móveis em baixa qualidade. Assim, as
emissoras/programadoras comerciais poderão ofertar diferenciação da programação, em
relação às concorrentes, com maior intensidade.
Finalizando, no cenário de convergência a ruptura da cadeia atual é significativa,
suportando interatividade local e com canal de retorno síncrono. Caracteriza-se pela
oferta de serviços baseados nessa interatividade, mobilidade/portabilidade e
multiprogramação, consolidando um ambiente de multisserviço.

Nesse cenário a plataforma de radiodifusão se confunde com as redes de


telecomunicações, seja ela móvel ou fixa, e a interatividade poderá ser local, intermitente
e permanente. Com a perspectiva de utilizar o receptor de TV como terminal bidirecional,
fixo ou móvel, interconectado a diferentes redes, inclusive de dados, é possível que
ocorra uma profunda transformação em toda a cadeia de valor.

A distinção desse cenário dos demais é determinada, mas não exclusivamente, por
fatores voltados às políticas públicas, à demanda por usuários, assim como à economia do
país e ao processo de globalização. Todos esses fatores podem intervir no ritmo da
mudança e nos serviços oferecidos.

A demanda do usuário é vista como fator estimulador para a implantação de


novos serviços baseados na multiprogramação, na alta definição, na
mobilidade/portabilidade e na interatividade. Nesse cenário há maior exigência de
políticas públicas para definição dos quadros regulatórios, definindo limites entre
telecomunicações e radiodifusão.

Na análise de riscos referentes aos três cenários, a similaridade é muito grande.


Pela pontuação atribuída, o cenário de diferenciação apresenta menos riscos, enquanto
que o incremental apresenta as maiores taxas (FUNDAÇÃO CPQD, 2006).

Há dois grandes riscos que afetam todos os cenários: falta de profissionais


capacitados e baixo poder aquisitivo da população. Ou seja, independente do
comportamento da economia, vai haver falta de pessoas qualificadas para produzir,
desenvolver e implantar a TV digital. Além disso, as dificuldades econômicas dos
consumidores vai demandar um tempo maior de convivência da transmissão analógica
com a digital, por um lado, devido a uma lentidão maior da venda de set top boxes ou
digitalização dos equipamentos de recepção.
Os demais riscos se pulverizam entre a pouca oferta de conteúdo, seja interativo
ou de alta definição, e o preço dos equipamentos. No caso do cenário incremental, a falta
de conteúdo em alta definição, multiprogramação ou interativo, aliado ao alto custo dos
equipamentos digitais de recepção, que demanda um tempo maior de simulcasting,
representam os maiores empecilhos.

Já no cenário de diferenciação, a falta de conteúdo de alta definição e um período


excessivamente longo de simulcasting se repetem. As emissoras de TV brasileiras não
têm condições de oferecer a programação integral em alta definição imediatamente após a
implantação da TV digital. O processo de produção de conteúdo em alta definição deve
levar pelo menos seis anos para compreender todas as emissoras de TV. Portanto, a
atratividade desse tipo de conteúdo nos primeiros anos deve se restringir a algumas
emissoras e a alguns programas.

Finalmente, o cenário de convergência também sofre da falta de conteúdo, seja


em alta definição, seja interativo. Porém neste cenário aparece outro desafio: a
usabilidade. O risco do usuário não conseguir usar uma tecnologia totalmente nova, que
confunde TV, telefone e internet num mesmo equipamento, é consideravelmente alto,
ainda mais considerando a média baixa de instrução do povo brasileiro.

Além disso, o CPqD fez uma avaliação dos riscos nos diferentes cenários com
base em três objetivos: inclusão digital, flexibilidade de modelo de exploração e
desenvolvimento sustentável. Numa média geral ponderada, os cenários de diferenciação
e de convergência apresentam praticamente os mesmos níveis de risco, com ligeira
vantagem para o cenário de diferenciação, considerado um pouco menos arriscado.
Individualmente, o cenário de convergência é melhor para a inclusão digital, enquanto o
cenário de diferenciação apresenta melhores índices na flexibilidade de modelos de
exploração e no desenvolvimento sustentável. O cenário incremental apresenta os
maiores riscos nos itens inclusão digital e desenvolvimento sustentável. O tratamento dos
riscos e as possíveis alternativos para minimizá-los não foi abordado pelo documento do
CPqD.

Todos esses riscos impactam num processo mais lento do que o previsto para a
switch off dos equipamentos analógicos, previsto para daqui a 10 anos pelo governo
federal, mas que não deve acontecer antes de 30 anos, se não houver subsídios na
produção e aquisição de equipamentos de recepção digital (MONTEZ e BECKER, 2005).
A minimização desses riscos passa por políticas públicas, com regras claras para a
transição. Durante o desenvolvimento da primeira fase do SBTVD, percebeu-se
claramente os interesses em jogo: o setor de radiodifusão tinha como único objetivo
manter o mercado e agregar valor com a mobilidade; as empresas de telefonia fizeram de
tudo para entrar nesse mercado, enquanto que o governo se debatia entre atender aos
requisitos das empresas de televisão ou se ater aos requisitos iniciais de inclusão digital,
desenvolvimento da indústria nacional e educação a distância.

X.3.2 Tecnológicos

Em uma análise de riscos, a tecnologia é certamente o fator que mais impacta no


sucesso ou insucesso de um projeto de transição tecnológica, como a TV digital. A
velocidade com que as tecnologias digitais evoluem atualmente, aliado a rápida queda do
preço das mesmas, transforma muitas vezes qualquer opção em loteria.

O Brasil estudou, durante todo ano de 2005, as tecnologias envolvidas no


processo, desde a produção até a recepção. Esse processo minimizou os riscos de
escolhas equivocadas. No entanto, como a decisão da implantação do SBTVD-T foi
política, esses riscos se manifestam já na maneira como a tecnologia vai ser implantada.

Inicialmente, uma nova tecnologia não é acessível de imediato a maior parcela da


população. Logo após o lançamento de qualquer inovação, o preço ao consumidor é alto.
A redução desse preço depende essencialmente de escala e de regras de comercialização
que coíbam monopólios ou associações entre fabricantes para manter os preços elevados.
Portanto, a implantação da TV digital no Brasil vai ser lenta, atendendo primeiro às
classes sociais com maior poder aquisitivo. Isso não compromete a inclusão digital, mas
exige um planejamento maior de longo prazo, algo não costumeiro na política brasileira.
O ponto de partida, portando, reside na garantia da tendência à minimização dos custos
ao longo do tempo.

Porém apenas políticas públicas baseadas na comercialização não bastam. É


preciso garantir também que a tecnologia em questão atenda às necessidades dos
consumidores. Nesse ponto, a interatividade representa um papel fundamental. O futuro
da interatividade na TV digital depende do processo de implantação, com a definição da
legislação e as obrigações da indústria e das emissoras de TV.

Industrialmente, uma determinada base instalada cria um legado de equipamentos


e estabelece uma relação do usuário com a tecnologia. Quanto mais limitados forem os
recursos oferecidos neste primeiro momento, menores as chance da população se
interessar por uma televisão digital realmente interativa. O que pode comprometer,
inclusive, a própria adesão dos brasileiros ao novo sistema, uma vez que a elite do país já
está incluída digitalmente por outros meios e serviços.

Vale lembrar que ao contrário dos bens de informática, que são substituídos ou
atualizados constantemente, a televisão é um bem durável com vida útil muito longa,
entre 10 e 15 anos. Caso a comercialização da TV digital se inicie com equipamentos
extremamente simples e que não suportam a interatividade, o troca será inevitável quando
serviços interativos forem oferecidos. A necessidade de substituir novamente os
equipamentos de recepção pode gerar uma aversão à TV digital, principalmente nas
classes sociais desfavorecidas economicamente. E, se essa substituição não ocorrer, a
interatividade na televisão brasileira pode estar comprometida, se restringindo a alguns
setores, comprometendo, não só os objetivos do Decreto 4.901, mas o próprio ritmo de
implantação da TV digital. Evitar isso passa por regras claras para o início da transição e
por um planejamento de longo prazo, que atenda e englobe todas as classes sociais.

X.3.3 Sociais

Em última análise, a sociedade precisa ser beneficiada com a implantação da TV


digital, caso contrário não faz sentido alguém adquirir um set top box ou uma TV digital.
Esse benefício pode ocorrer de três formas: melhora da qualidade do áudio e do vídeo;
aumento do número de canais; e interatividade. O primeiro item é intrínseco à TV digital,
mas os dois outros carecem de políticas públicas para se concretizarem.

Tratar a TV interativa como simples convergência entre TV e internet, onde


aquela agrega esta é uma forma extremamente simplificada, e, de certo modo, equivocada
de apresentar o tema. Várias iniciativas européias de introduzir a internet na TV
fracassaram. A maioria dos estudos de usabilidade parte da internet e da informática, o
que não atendeu as necessidades dos novos telespectadores, ou usuários da TV interativa.
A razão é simples: as pessoas se relacionam de maneiras muito diferentes entre a
televisão e a internet.

Até agora a TV tem sido pouco abordada pelos estudos de usabilidade devido a
sua simplicidade, onde o conhecimento necessário para a operação é mínimo. Ligar,
desligar, trocar de canal e mudar o volume são tarefas simples, que não demandam
atividades complexas.

Por outro lado, a relação com a informação agrega um novo viés ao “assistir
televisão”. O poder de persuasão e de intimidação que esse meio de comunicação tem foi
amplamente estudado na área da comunicação, do jornalismo e da sociologia política.
Uma das características mais estudadas trata dos fatores que conferem esse poder ao
meio. Uma das respostas trata do entendimento que a televisão tem com os
telespectadores. Além de mostrar, ela também explica, o que confere credibilidade
(BECKER, 2006).

Esse foco no telespectador levou ao que Arlindo Machado chama de diálogo, um


gênero televisivo baseado na conversa, na sensação da troca de informações entre a TV e
o telespectador (MACHADO, 2003). Já Fernando Crocomo explica a televisão conversa
com o telespectador, mantendo uma relação próxima que gera confiança e que motiva.
Essa conversa está diretamente relacionada à origem do meio, que no Brasil evoluiu do
rádio, um veículo contador de histórias por natureza. A evolução fez com que os
programas de TV se tornassem parte do quotidiano brasileiro. As pessoas confiam no que
escutam e enxergam na telinha (CROCOMO, 2004).

Portanto, o benefício da TV digital para a população passa também pela


compreensão do que é TV interativa e o que as pessoas esperam dessa nova mídia, dessa
nova televisão. O poder informativo do meio, com uma linguagem desenvolvida ao longo
de mais de meio século não pode ser desconsiderado.

O aumento do número de canais passa pela concessão pública. A interatividade


depende da inclusão de tecnologias básicas que a viabilize. Esses dois aspectos só podem
ser tratados pelo poder público, com diretrizes normativas claras tanto para a indústria,
que deve atender os requisitos de interatividade na fabricação dos terminais de acesso,
como dos radiodifusores, responsáveis pela produção do conteúdo interativo e pela
programação nos novos canais.

X.3.4 Políticos

A definição do SBTVD-T foi oficializada no meio de uma Copa do Mundo, a


quatro meses das eleições presidenciais. Não é novidade que a imprensa brasileira tem
uma relação obscura com o poder, o que reflete nas decisões, tanto do poder legislativo,
quanto executivo e judiciário. Após o período eleitoral, a forma como o processo é
conduzido atualmente pode ser alterada. A continuidade das políticas públicas sempre
representou um sério problema para o país. Isso se agrava na questão da TV digital, onde,
no final de 2005 e início de 2006, não foram raras discussões públicas entre integrantes
do governo federal, com posições contrárias e contraditórias sobre o tema. O
fortalecimento ou o enfraquecimento eleitoral desses grupos políticos pode impactar
diretamente na condução da implantação da TV digital a partir de 2007. vale lembrar que
durante o ano de 2005, quando as pesquisas foram efetivamente realizadas, aconteceram
duas trocas de ministros. Um dos primeiros discursos do senador e ex-funcionário da TV
Globo, Hélio Costa, ao assumir o Ministério das Comunicações, já definia o sistema
japonês de TV digital como o mais adequado ao país, mudando radicalmente o rumo das
pesquisas em andamento. As declarações do ministro afetaram inclusive a isenção e a
imparcialidade de muitos pesquisadores.

Além disso, ainda há o exemplo argentino. Durante as negociações de moratória


da dívida externa, a Argentina fez uma opção pelo Sistema Americano de TV Digital.
Alguns anos depois, com uma nova estabilidade econômica e a troca de governo, a
decisão foi cancelada. Hoje a Argentina negocia novamente a transição da TV analógica
para digital com os outros sistemas, inclusive o Brasil.

A minimização dos riscos políticos é exógena ao tema TV digital. Depende da


consolidação de instituições públicas fortes e perenes, que não estejam à mercê de
vontades políticas de algumas pessoas com passagem momentânea pelo poder.
Resumindo, pode-se afirmar que esse é o maior risco para a implantação do Sistema
Brasileiro de TV Digital Terrestre. A tecnologia pode ser adequada à economia e às
necessidades sociais da população, mas dificilmente ela será flexível o suficiente para
atender vontades pessoais e políticas.

X.5 Conclusão

Analisando os documentos produzidos durante o desenvolvimento da primeira


fase do SBTVD, percebe-se claramente que foi dada pouca importância ao tema riscos.
Umas das explicações, apresentada no próprio documento, é a falta de dados estatísticos e
qualitativos para fazer estimativas sobre o tema.

Apesar do documento principal do Modelo de Referência dedicar 26 de suas 141


páginas ao tema, não foram apresentadas sugestões de minimização desses riscos.
Percebe-se que apontar os problemas é mais fácil do que resolvê-los. Por outro lado, o
referido documento perde importância na medida em que apontou para o sistema europeu
de TV digital como sendo o mais adequado para o Brasil, enquanto que o governo fez a
opção pelo subsistema de modulação japonês.

Além disso, os riscos sociais, tecnológicos e políticos só foram discutidos fora do


escopo do SBTVD, em raras ocasiões, durante as jornadas de integração e de validação
conduzidas pelo CPqD1. Apesar dos riscos sociais poderem ser enquadrados dentro do
item conteúdo, amplamente discutido pelo documento Modelo de Referência, acredita-se
que o tema tenha desdobramentos bem mais complexos do que os apresentados pelo
CPqD, conforme discutido anteriormente.

A minimização da possibilidade de ocorrência desses problemas passa por uma


política pública coerente, que trate a TV digital como questão de Estado, e não de
interesses pessoais de alguns integrantes do governo, como tem acontecido não raras
vezes durante os debates que antecederam o Decreto 5.820. Tanto a indústria quanto a
radiodifusão demandam clareza nas regras da transição e consolidação da tecnologia
digital na televisão, algo que não tem ocorrido até o momento. Postergar a definição da
incorporação ou não do padrão de codificação MPEG4 e do middleware nacional Ginga

1
Durante o desenvolvimento das pesquisas da primeira fase do SBTVD, o CPqD realizou uma
série de reuniões entre os consórcios participantes do projeto, chamadas de jornadas de integração e de
validação, que tinham por objetivo integrar as pesquisas dos diferentes grupos e validar as soluções
propostas.
representa apenas a insegurança sobre a opção mais apropriada e correta para o país, além
do risco de comprometer a interatividade e a inclusão digital.

X.6 Referências

BECKER, Valdecir (2006). Concepção e desenvolvimento de aplicações interativas para


TV digital. Tese de Mestrado. Programa de Pós Graduação em Engenharia e Gestão
do Conhecimento, Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis.

BRASIL (2003). Decreto-lei n. 4.901, de 26 de novembro de 2003. Institui o Sistema


Brasileiro de Televisão Digital - SBTVD, e dá outras providências. Diário Oficial da
República Federativa do Brasil, Brasília, 27 de nov. 2003. Seção 1, Pág. 7.

BRASIL (2006). Decreto-lei n. 5.820, de 29 de junho de 2006. Dispõe sobre a


implantação do SBTVD-T, estabelece diretrizes para a transição do sistema de
transmissão analógica para o sistema de transmissão digital do serviço de
radiodifusão de sons e imagens e do serviço de retransmissão de televisão, e dá outras
providências, e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do
Brasil, Brasília, 30 de junho 2006. Seção 1, Pág. 51.

CRÓCOMO, Fernando Antônio (2004). TV digital e produção interativa: a comunidade


recebe e manda notícias. Florianópolis, 2004. 189 f. Tese (doutorado em Engenharia
de Produção) – Centro Tecnológico, Universidade Federal de Santa Catarina.

FUNDAÇÃO CPqD (2004). Cadeia de valor. Projeto Sistema Brasileiro de Televisão


Digital, Modelo de Implantação. Relatório técnico. Campinas: CPqD.

FUNDAÇÃO CPqD (2006). Modelo de Referência: Sistema Brasileiro de Televisão


Digital Terrestre. Projeto Sistema Brasileiro de Televisão Digital. Relatório técnico.
Campinas: CPqD.

MACHADO, Arlindo (2003). “A televisão levado a sério”. São Paulo: Senac São Paulo.
3ª edição.

MONTEZ, Carlos; BECKER, Valdecir (2005). TV Digital Interativa: conceitos,


desafios e perspectives para o Brasil. Florianópolis: Editora da UFSC.

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