formação do médico Entrevista Francisco José de Freitas Jornal Semelhante, nº3, Março de 2008
Projeto de avaliação da UNIRIO indica disseminação do ensino de
Homeopatia, de forma obrigatória, nas demais escolas de medicina do país
O médico homeopata Francisco José de Freitas, ex-vicediretor da
Escola de Medicina e Cirurgia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Chefe do Departamento de Homeopatia e Terapêutica Complementar da UNIRIO, Coordenador da Residência Médica em Homeopatia do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle da UNIRIO, Presidente da Associação Médica Homeopática do Estado do Rio de Janeiro (AMHERJ) e Coordenador da Câmara Técnica de Homeopatia do CREMERJ, comemora os resultados preliminares do projeto de avaliação do impacto do ensino de homeopatia na formação dos alunos de graduação em medicina da Escola de Medicina e Cirurgia da UNIRIO.
O projeto inserido no programa de extensão da Escola de Medicina
e Cirurgia da UNIRIO, “Homeopatia: Saúde e Qualidade de Vida – o impacto da assistência integral ao paciente no ensino e na prática clínica”, foi idealizado por professores e monitores a partir da observação, ao longo de cada semestre letivo, da melhoria da atuação dos estudantes como médicos perante o paciente e como pessoas no âmbito interprofissional.
O estudo teve por objetivo analisar a contribuição do ensino da
homeopatia na formação médicoacadêmica dos estudantes de medicina da UNIRIO, mediante disciplina Matéria Médica Homeopática obrigatória, oferecida no 5º período.Os autores chegaram à conclusão que a maioria dos alunos do universo pesquisado (71%) já teve contato prévio com a homeopatia, sendo a maior parte como usuários. Detectaram uma significante e positiva expectativa quanto à aquisição e aplicação de novos conhecimentos oferecidos pela Homeopatia. A avaliação quanto à obrigatoriedade da disciplina foi de 42%. Os resultados preliminares indicam a necessidade da disseminação deste ensino, de forma obrigatória, para as demais escolas médicas do país.
JS – Porque ainda existem poucas ofertas de trabalho para médicos
homeopatas? Dr. Francisco - Hoje o maior empregador é o Sistema Único de Saúde (SUS) que não vem empregando porque não abre concursos para homeopatas e nem para outras especialidades por uma questão de mercado. A procura dos jovens médicos pelas especialidades como Homeopatia, Clínica Geral e Pediatria diminuiu por uma questão de sobrevivência, pois estas especialidades não geram procedimentos que ajudam a aumentar a remuneração.
Outro complicador é que na medicina privada, os planos de saúde
pagam um valor irrisório por uma consulta médica, o que desestimula o médico recém-formado. A pediatria é um exemplo disso, pois sempre foi uma especialidade concorridíssima, era difícil encontrar vaga para a residência médica, mas hoje se encontra esvaziada por não gerar procedimentos.
JS - A Homeopatia é uma disciplina obrigatória somente no Curso
de Medicina da UNIRIO? Dr. Francisco – Sim, a UNIRIO é a única universidade pública que oferece a disciplina de homeopatia de forma obrigatória no currículo da graduação médica, desde julho de 1999. As outras (Terapêutica Homeopática, Clínica Homeopática I e II e Acupuntura) são optativas.
Fonte: Jornal Semelhante, Nº 3, Março de 2008, página 2
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De que medicina necessitamos?
A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que os países incluam a Homeopatia em suas políticas de saúde há 30 anos Certamente, a grande maioria dos cidadãos do mundo não leu nem lerá o editorial da revista científica The Lancet (Vol. 366, August 27, 2005), uma vez que a mesma é principalmente dirigida aos médicos e pesquisadores interessados na área da saúde.
Trata-se do editorial intitulado “O fim da homeopatia” que afirma,
entre outras declarações negativas, que a Homeopatia não tem fundamentos científicos. Argumentações como essas são perigosas e necessitam ser esclarecidas, uma vez que foram revividas pelo colunista Rogério Tuma, da Revista Carta Capital (05/12/07, XIV n° 473), dirigida ao público leigo.
Ao requentar uma pauta de 2005 da Lancet, o colunista ignorou a
Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), editada em 2006, para o setor de saúde do Brasil, que integra a Homeopatia, Acupuntura e Fitoterapia às práticas do SUS. Também ignorou a informação pública e notória que há mais de 30 anos, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que os países incluam a Homeopatia em suas políticas de saúde. Esta decisão representa tanto um marco mundial para as políticas públicas de saúde, quanto à consolidação do processo democrático na saúde. Neste último aspecto, destacamos o respeito à liberdade de escolha terapêutico dos cidadãos, bem como o compromisso com mecanismos decisórios que têm origem na participação da sociedade.
O permanente questionamento acerca da cientificidade da
Homeopatia, e dos efeitos que produz na saúde, decorre de diferenças existentes nas concepções de doença de cada medicina. Qualquer parâmetro de medida só faz sentido quando utilizado corretamente. O termômetro é um excelente instrumento para medir temperatura, mas absolutamente ineficaz para medir distâncias. Este último fato, constatável e consensual a todos, não o desqualifica como um instrumento útil. Assim, a maneira diversa como a Homeopatia observa a saúde, razão de sua abordagem individualizada, voltada para as expressões da vitalidade e do sofrimento humano, implica obrigatoriamente em parâmetros de observação e avaliação que são particulares e, como não pode deixar de ser, não estão contemplados nos protocolos científicos da medicina tecnológica. Incluir as Medicinas Tradicionais, também conhecidas como Medicinas Alternativas ou, dentro da nomenclatura adotada em nosso país, Medicinas Naturais, é investir para que a diversidade das práticas de saúde, que não dependem de importação de insumos e tecnologia de alto custo, possam contribuir para otimizar os recursos, que sempre serão limitados, para ampliar a assistência. Estima-se que o investimento anual total em Medicinas Naturais, em todo o mundo ocidental, nas áreas da pesquisa, formação de recursos humanos e promoção, não ultrapassa algumas centenas de milhares de dólares por ano. No entanto neste mesmo período, em Medicina Tecnológica, são investidos muitos bilhões de dólares, para os mesmos fins.
Portanto, compete aos gestores públicos e aos cidadãos que
almejam por justiça social, se posicionarem a favor de medidas que estabeleçam como prioritário o investimento nas Medicinas Naturais, para que estas possam alcançar o nível de desenvolvimento necessário para suprir, juntamente com as demais formas de medicinas e práticas de saúde, as necessidades dos países e do mundo.
Hylton Sarcinelli Luz, médico homeopata, presidente e fundador
da ONG Homeopatia Ação Pelo Semelhante, que trabalha pela democratização do acesso à Homeopatia.
Fonte: Jornal Semelhante, Nº 3, Março de 2008, página 2