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(e-mail recebido aos 04.09.

2001)

Caro(a) professor(a)

Este texto que me foi enviado pelo Prof. Haroldo Fazano, recomendo a
leitura, vale a pena.

Abraços
Ruth
Metodologia do Ensino Jurídico com Casos

Leonardo Martieto

Resenha do Livro:
Del Rey, Belo Horizonte, 1999
ZITSCHER, Harriet. Metodologia do Ensino Jurídico com Casos

1. A utilidade e o valor da análise de casos. 2. As abordagens de casos


práticos durante as aulas. 3. Perspectivas.

A professora Harriet Christiane Zitscher brinda os seus colegas


brasileiros com um livro sobre o ensino jurídico. Nele, explana e propõe
a metodologia do ensino do direito mediante a análise e a discussão de
casos práticos, tal como ocorre nas Universidades de seu país, a
Alemanha, de onde veio para compor, em 1999, como professora visitante,
o corpo docente da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Temos, na obra aqui comentada, um pequeno grande livro. Embora sucinto
na exposição e econômico no formato de bolso, é rico em fundamentos que
podem auxiliar o professor de direito a incrementar as suas aulas com
casos práticos, na esteira da experiência germânica.

1. A UTILIDADE E O VALOR DA ANÁLISE DE CASOS

Como anota Fritz Schulz, um dos maiores estudiosos alemães do direito


romano em todos os tempos, "no princípio era o caso" . Os romanos,
imbuídos de um forte espírito prático, com a preocupação de solucionar
os problemas que iam surgindo, relutavam a uma maior abstração. Assim
ocorreu sobretudo na época do direito clássico, de matriz pretoriana, ao
passo que no último século da República já se notava uma certa tendência
à abstração, que foi reforçada na era pós-clássica e no direito
bizantino. Não se deve acreditar, porém, que tal postura casuística
decorresse de uma incapacidade intelectual supostamente comum aos povos
antigos, mas da clara consciência que tinham os romanos dos perigos que
o excesso de abstração portaria consigo. Schulz reconhece mesmo uma
"hostilidade dos romanos pela abstração", especialmente se comparado o
direito romano clássico com a doutrina do direito natural ou a ciência
pandectista .
No direito europeu continental, desde a Idade Média, com os glosadores,
o ensino jurídico nas Universidades se distanciou da casuística,
procurando uma "teorização" praticamente inexistente em Roma, que deu
origem a ima concepção do direito romano com conseqüentes aplicações
práticas (usus modernus pandectarum) de modo bem diverso da que tinham
os próprios romanos. O cenário se agravou com o advento das grandes
codificações do século XIX, tendo o Código Napoleão como paradigma. A
Escola da Exegese, ensinando "o Código, e não o direito civil" , forçou
um distanciamento ainda maior entre o ensino jurídico e a realidade.
Por comodidade, apego à tradição ou conservadorismo, o estudo do direito
civil, nos cursos de graduação no Brasil, ainda ocorre de maneira tal
que o Código ocupa o papel de "verdadeiro totem sagrado do direito
privado brasileiro, com a mesma adoração que a Escola da Exegese nutria
pelo Code e que os glosadores tinham pelo Corpus luris Civilis" .
Em página clássica, de 1939, portanto publicada durante a dramática
grande guerra, o jurista italiano Francesco Carnelutti já alertava que
"Lo studioso del diritto civile o del diritto penale, la cui esperienza
è costituita soltanto dal codice, senza che egli abbia mai visto nè un
contratto nè un reato, somiglia a chi per studiare la medicina non abbia
sott´occhio che dei cataloghi di farmaci o di malattie. Purtroppo la
storia della scienza del diritto è seminata di queste caricature. Ma le
regole del diritto non stanno racchiuse nei codici, come in una vetrina;
esse operano nella vita, cioè governano la vita degli uomini onde, per
conoscerle, non basta leggerne la fomula nè impararne la storia, sibbene
occore vederle operare, che vuol dir vedere come si comportano gli
uomini rispetto ad esse, non solo quelli tocca obbedire; soltanto cosi
le leggi mostrano non tanto la loro apparenza quanto la loro sostanza,
cioè il loro valore" .

2. AS ABORDAGENS DE CASOS PRÁTICOS DURANTE AS AULAS

Nos Estados Unidos, o case method representa a maneira tradicional de se


estudar nas universidades, fazendo parte do dia-a-dia de professores e
alunos.
Na Alemanha, o ensino jurídico também se vale do estudo de casos, mas de
maneira diferente do norte-americano, uma vez que não é, como este,
prevalentemente indutivo, favorecendo bastante o pensamento sistemático
. O método alemão consegue combinar os aspectos indutivo e dedutivo, e
"da discussão e reflexão sobre o caso, o estudante vai construindo seu
conhecimento, assim como o professor o orienta nas conseqüências
dogmáticas da solução proposta" .
No Brasil, ao invés, não se tem tradição de abordagem de casos práticos,
a não ser esporádica e casualmente, sem que se lhes dirija o foco das
atenções. Nas salas de aula, prevalece o método dedutivo. As matérias
fundamentais costumam se ministradas de modo tão teórico e abstrato que
surgiu a necessidade, nos cursos de direito, da criação de disciplinas
de prática jurídica, muitas vezes objeto de inescondível desdém por
parte dos alunos, em geral de quarto e de quinto ano, que freqüentemente
já desempenham prática muito mais assídua, em escritórios de advocacia,
em empresas ou no setor público.
Ainda predomina, no ensino jurídico brasileiro, a aula douta coimbrã, em
que o professor, assumindo uma postura pretensamente neutra, expõe aos
seus alunos as linhas gerais da disciplina que ministra, os introduz na
análise da legislação respectiva e vez por outra noticia a
jurisprudência dos tribunais. O recurso a casos práticos se apóia quase
sempre em experiências profissionais pessoais, de modo assistemático e
desorganizado. Não há, d ordinário, estudo de casos.
O advogado bem sucedido e o desembargador experiente são considerados,
nas nossas faculdades, como habilitados a ministrar qualquer disciplina
jurídica! Os concursos públicos em geral, por mais difíceis que sejam,
não habilitam ninguém para o magistério. São, na realidade, apenas uma
etapa necessária para o ingresso nas respectivas carreiras: da
magistratura, da advocacia pública, do ministério público.
As faculdades de direito assumem, de modo mais ou menos velado, a
vocação de fábricas de ilusões, sendo que o modo de aulas ainda hoje
praticado, com base na leitura dos códigos, artigo por artigo, revela-se
anacrônico . O direito que se ensina não é comprometido com a realidade,
mas com uma visão ideal, até mesmo romântica, da realidade. Sinal desta
visão, nota-se que nos livros-texto a transposição de doutrina
estrangeira é feita acriticamente, como se fosse a solução taumatúrgica
de nossos problemas. Como sugere José Geraldo de Sousa Junior, é
necessário "romper, em suma, com a estrutura de um pensamento abstrato
convertido em concepção jurídica do mundo (...) inapto para captar a
complexidade e as mutações das realidades sociais e políticas" .
O problema do ensino jurídico é reflexo, porém, de outro mais profundo,
o da própria concepção do direito. O positivismo jurídico acostumou-nos
ao distanciamento da realidade, ao tratamento do dever-ser, em
detrimento do próprio ser .
O método de aula é, pois, questão sensível. Se, por um lado, a aula
expositiva não mais satisfaz, além de cercear a atitude crítica, por
outro, a aula dialogada é o caminho mais interessante, embora sua adoção
seja muito difícil . Trata-se de costume secular, cuja mudança leis ou
decretos não podem operar.
Mais uma vez, assim, revela-se valiosa a obra da professora Zitscher,
que além de abordar o papel do caso no âmbito do ensino jurídico, expões
as maneira de sua utilização e apresenta modelos lógicos de como
preparar tanto a aula prática, como a aula magistral (ou palestra).
È preciso desenvolver uma nova mentalidade no ensino jurídico
brasileiro, buscando implementar a aula dialogada, com maior
participação dos alunos. A discussão de casos pode ser um dos caminhos.

LEONARDO MATTIETO
Mestre e Doutorando em Direito Civil pela Universidade do Estado do Rio
de Janeiro (UERJ). Professor de Direito Civil na Universidade de Candido
Mendes - Centro, na UERJ e na Fundação Escola do Ministério Público do
Estado do Rio de Janeiro (Femperj). Procurador do Estado do Rio de
Janeiro. Advogado.

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