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Curso e Colégio Energia – Rio do Sul/Lages

Obras Literárias – Vestibular 2008 – Profª Marilene


Maria Schmidt Goebel

ENCONTROS DE ABISMOS - JULIO DE QUEIROZ


Parece ter sido em Florianópolis que Júlio de Queiroz encontrou o vagar necessário para ir publicando a sua obra literária que, a
cada livro, mostra o talento de um espírito sensível e versátil. Excelente cronista: poeta emotivo, de linguagem enxuta e límpida;
contador de estórias curtas e impregnadas de sutil humor e de argutas observações do comportamento humano que, em alguns
momentos podem lembrar o sarcasmo e a benevolência de um Chesterton (escritor inglês do século XX), Júlio de Queiroz se assemelha
a um dos representantes em nossos dias daquelas gerações de humanistas que buscam unir o conhecimento, o espírito e a palavra
(escrita e oral), na compreensão e tentativa de esclarecimento do homem, como um irmão de grandeza e sofrimento, desprendimento
e mesquinharia, fraternidade e solidão. Há nele uma religiosidade que transcende rituais. (Silveira de Souza)
JÚLIO DIAS DE QUEIROZ nasceu na cidade de Alegre, Espírito Santo, em fevereiro de 1926 e após estudos iniciais realizados na
cidade do Rio de Janeiro e Porto Alegre, diplomou-se em filosofia pela Pontifícia Universidade Católica. Aperfeiçoou seus
conhecimentos na Universidade de Munique, Alemanha e no Real Instituto de Administração em Londres, Inglaterra. Em
1949 resolve dedicar-se à vida monástica entrando no noviciado da Ordem Cisterciense do Brasil, em Itaporanga, SP. Dedica-se à
vida religiosa durante boa parte de sua vida. Mais tarde, renunciando aos votos, dá-se aos estudos de filosofia em Bonn e Munique
onde escreve tese sobre “Aspectos Estéticos da Mística Católica Medieval Alemã”. Volta ao Brasil. A partir de 1959 radica-se na
futura capital onde presta serviços como assessor da Presidência da NOVACAP, encarregada da recepção aos convidados estrangeiros
da Presidência da República. Trabalha também como diretor do Departamento de Cultura, Turismo e Recreação da Prefeitura do
Distrito Federal, prestando ainda serviços como coordenador do Centro de Treinamento do Ministério da Fazenda do Rio de Janeiro.
É mais tarde, assessor do governo do Estado de Santa Catarina como elaborador de textos do governador Colombo Machado Salles.
Nesses intervalos, como bolsista, cursa técnicas de treinamento e administração pública no Real Instituto de Administração Pública
da Inglaterra e Fundação Alexander von Humboldt em Berlim Ocidental. Em Santa Catarina, torna-se colaborador efetivo durante
muitos anos dos principais jornais do Estado. Seus trabalhos literários acabam por conduzi-lo à Academia Catarinense de Letras,
onde ocupa a cadeira número 10. É reconhecido hoje como um dos melhores contistas e poetas brasileiros. Livros de contos, entre
outros, tem publicados, “UMAS PASSAGEIRAS, OUTRAS CRÔNICAS”, “ANTOLOGIA DO VARAL LITERÁRIO”,
“CAMBADA DE MENTIROSO”, “A CIDADE AMADA”, “ESTE AMOR CATARINA”, “AS PERMUTAS E OUTROS
CONTOS”; “ÁLGEBRA DE SONHOS” (2001); “DEUSES E SANTOS COMO NÓS” (2001); “ENCONTROS DE ABISMOS”
(2002). Tem uma novela, “PLACIDIN E OS MONGES. Mas o seu maior destaque é a poesia. Dentre seus melhores livros,
conhecem-se “HAMLET, OS CONVIDADOS À TRAMA”, “BREVE ARO”, “INFORMES A NARCISO”, “BAÚ DE
MASCATE”, “ENCONTROS EM TEMPO DE PESTE”, e “VOCABULÁRIO INICIAL DO INFANTE”. No prelo, aguardando
publicação pela editora da Universidade Federal de Santa Catarina, “SEMENTES DO TEMPO”, contendo um grupo de poemas
concatenados, entre os quais, “Missa para os Tempos de Agora”, “A Dança da morte”. “Simetria Quadrada” e “Kama Sutra da
Amizade”. O conto Um Amor assim tão Leve do livro Esse Amor Catarina foi filmado e exibido na televisão RBS e em sessões
públicas em 2002. Júlio de Queiroz vive hoje em Florianópolis, na Ilha de Santa Catarina, onde exerce atividade literária além de
professor de filosofia e conferencista.

ENCONTROS DE ABISMOS – JÚLIO DE QUEIROZ – RESUMO E ANÁLISE


OBRA DA UFSC / UDESC e ACAFE
“Um abismo chama outro abismo.” (Salmo 42,8)
1ª edição – 2002 (3ª edição em 2007 – com 1.000 exemplares cada uma)
LITERATURA CONTEMPORÂNEA CATARINENSE
TEMAS - RELAÇÃO: DEUS – HOMEM – RELIGIÃO
TRÊS CONTOS (DIA – ENTARDECER – NOITE)

1 – ESCURIDÃO NO MEIO-DIA (Palavras sozinhas jamais chegam ao céu. Hamlet, ato 3, cena III)
Por que não puderam os especialistas reconhecer aquele que tinha sido alvo de seus longos estudos?
Narração: 3ª pessoa – Personagem: Monsenhor Lustosa
Este conto narra a história do Monsenhor Lustosa, padre da Cúria Diocesana de Traína, esforçado e ambicioso, pois subiu na carreira
em muito menos tempo que o exigido pelo Direito Canônico.
Passagem bíblica – a vida humilde caridosa de Cristo –
Monsenhor Lustosa, alagoano de família rica vai a um encontro de teólogos (padres, pastores, professores, filósofos) em
Florianópolis, o Congresso sobre “O Jesus Histórico”. Destacam-se três estudiosos de Deus: Monsenhor Lustosa, o pastor Nivaldo e
o professor Roriz.
Um dos focos são as lembranças do Monsenhor, onde se sobressai a religião Católica e seus religiosos. A Santíssima Trindade e a
negação a Cristo por Pedro por três vezes, também são focados na obra. Monsenhor apresenta-se como um padre alheio à caridade;
sua vida consiste em viagens, boa hospedagem, boa comida, discussão com intelectuais, ascensão profissional, com total afastamento
aos problemas de miséria do mundo. Também passa por três situações:
- Nega ajuda ao pastor Derranges, que lhe disse ter tido uma visão de sua morte em uma vida anterior, mas sua igreja não acreditava
em reencarnação e ele vivia um dilema, pois tinha certeza de ter “visto” sua morte por acidente aos sete anos de idade. Monsenhor o
ignora. Não lhe dá ouvidos e sai. Depois se arrepende, mas se afasta.
- Quando a camareira o “incomoda”, pedindo ajuda, ele a trata com descaso. Ela pede que ele reze para que Deus leve seu sobrinho
que nascera completamente aleijado. Ninguém queria o bebê e sua irmã era solteira. Acha um absurdo e expulsa a mulher do quarto,
diz para procurar um padre de sua paróquia.
- Não reconhece Deus na figura do carpinteiro que está no ônibus (que faz três paradas e passa por três estados (SC/PR/SP)). Uma
mulher doente, uma grávida, uma criança e uma família que passa fome são ajudadas pelo carpinteiro que é criticado pelos religiosos,
ainda quando ele agradece aos céus o vinho e o pão que tem e oferece à família, o julgam.
Pregam uma coisa e fazem outra. Conhecem Deus, mas não O enxergam nas coisas mais simples: amor ao próximo e humildade.
Três almas perdidas. “Estavam atarefados em recolher seus pertences de mão e em despedir-se quando passou por eles, com sua
sacola de pano, o companheiro de poltrona do Monsenhor Lustosa. Nenhum dos três O havia reconhecido.”

2 – ENIGMA NO ENTARDECER (A roda já completou o círculo, e eis-me aqui. – Rei Lear, ato 5, cena III) Por que o desejo
carnal não pôde alcançar seus intentos? Por que é que aquele homem não era acessível?
Narração: 1ª pessoa – Personagem: Demétrio
Este conto narra a história de Demétrio, um grego nascido em Esparta que tem sua vida completamente modificada aos 10 anos de
idade quando se torna escravo dos romanos.
Passagem bíblica - a crucificação de Jesus -
Abordagem do homossexualismo na época de Cristo e atitudes amorais (indiferente à moral).
Demétrio, espartano, fora criado para preservar seu corpo másculo e atuar nas constantes lutas, porém o destino (ou os deuses?) fez
com que sua cidade fosse invadida pelos romanos e ele se tornou um escravo doméstico da Casa de Aspásia, uma prostituta. Logo se
torna amante de um Senador romano. Descobriu que poderia ganhar dinheiro vendendo seu corpo para os homens. Foi doado ao
exército e é encarregado pelo Centurião de levar o estandarte romano nas lutas. Continua a sua sina e faz chantagem aos homens com
quem transa, a fim de tirar-lhes mais dinheiro. Um dia, viu um homem chegando a Jerusalém, montando em um jumento e todos o
reverenciavam. Quando olhou para Ele (Jesus Cristo), logo se apaixona e acredita que é correspondido. Nutre por Jesus uma espécie
de amor doentio e começa a segui-lo. Demétrio achava que os atos daquele rabino eram a prova de que também o amava, Parecia
algo de “sobrenatural”. Jesus olha-o por três vezes: no meio da rua, quando chega; na saída da casa de Salomão; e quando estava
sendo crucificado. O Horto das Oliveiras é o lugar dos encontros amorosos de homens da alta sociedade. Demétrio o conhecia bem.
Quando viu Jesus dirigir-se para lá com seus seguidores, pensou que Ele queria um encontro amoroso e que o rabino também gostava
de meninos. Mas se queria um encontro a sós com ele, porque levara consigo três amigos? Vai para a gruta, despe-se, estende o lençol
e fica à espera do amante. Mas os soldados romanos chegam e O levam preso, estragando a noite de amor com aquele deus da beleza
(o comparava a Apolo - deus do sol, da música). Descobre depois que três criminosos seriam crucificados e entre eles, Jesus. Fica
desesperado. Para não ver mais sofrimento, pega a lança de um soldado e espeta-a no peito de Jesus. Sente-se vazio. Teve três
momentos em sua vida: foi escravo, soldado e agora, era homem livre. Com a herança deixada pelo Centurião, compra uma taverna.
Compra também Cloé, uma das escravas de Aspásia que conhecera quando fora escravo e a torna livre. Mas ela já se diz liberta por
Ele, o rabino nazareno. E agora, Ressuscitado (ao terceiro dia), salvaria a humanidade. Demétrio agora começa a entender o que se
passara. “Nunca deixei de ser espartano. Agora sou cidadão de Roma. Proprietário, sou senhor da minha vida.”

3 – FULGOR NA NOITE (Preparação é tudo. – Hamlet, ato 5, cena II) (Essa preparação é para o que ele vai sofrer; não para o
que vai realizar. Charles Williams, Shakespeare Criticism)
O que é que o dono daquela voz havia planejado para destruir de modo tão completo a felicidade alcançada por um outro? Quem
era aquele homem?
Narração: 1ª pessoa – Personagem: Lázaro
Este conto narra a trajetória de Lázaro, o personagem bíblico a quem Jesus ressuscitou.
Passagem bíblica - a ressurreição de Lázaro – visão otimista de ser Lázaro um felizardo por ter voltado do Vale da Morte.
Na obra, porém, a situação é inversa. Em vida, ele é cordoeiro, vive com suas duas irmãs solteiras. Às vezes, vende corda mais fraca
e engana as pessoas. Um dia é chamado ao Templo para verificarem se tinha lepra. Estava limpo. Passam-se os anos e fica doente.
Quando morre, sente-se extremamente feliz, em paz, na luz. Sua vida passa em instantes diante de si, até chegar ao ventre materno.
Está prestes a encontrar-se com Elohim (Deus), ele era o próprio Elohim. Quando de repente, ouve: Lázaro, vem para fora! Logo
reconhece a voz do Rabi Nazareno a quem suas irmãs acolhiam em sua casa. Toda a luz foi embora e ele estava de volta ao túnel
negro. A ressurreição só trouxe problemas a Lázaro. Passa a ser motivo de chacotas, ojeriza, curiosidade e brincadeira de criança.
Mostra-se revoltado com o Rabi por ter-lhe trazido àquela vida infernal da Terra. Estava no Reino dos Céus, puro e perfeito, à base
do amor. E após ter passado três noites morto, voltara para sofrer as misérias e o preconceito. Vai para as montanhas. Encontra um
pseudo-leproso, que diz ter encontrado a verdadeira liberdade, ali, no meio dos leprosos, os banidos da cidade. Reib bem Josuf
interrogou-lhe a fim de saber se o tal “milagre” da ressurreição não havia sido fabricado, com uma poção de dormir, para que o Rabi
Nazareno crescesse em fama junto ao povo. Lázaro procura Raquel, mulher casada com quem tinha um relacionamento. Ela o manda
embora. Seria muito vigiada agora que ele estava ressuscitado. Suas irmãs, Maria e Marta, haviam vendido sua cama, queimado suas
roupas e agora, tentaria voltar ao ofício das cordas. Mas estava atordoado. Pensou em ir às montanhas e se suicidar. Porém, é
assaltado e assassinado por bandidos, que lhe devolvem à vida eterna. (Caso se suicidasse, dizem as escrituras, que não entraria no
Reino dos Céus). “Deus sabe o que faz.”, “Nada acontece em vão.”, pois somente após a sua segunda morte é que compreende que
precisara passar por tudo aquilo para que seu espírito evoluísse.”Deslumbrado, entrevi, dentro da infinita Luz-Amor para a qual eu
voltava instantaneamente, o Rabi Nazareno me sorrir docemente, como sempre havia feito.”

Os contos envolvem: o homem (e sua reflexão direta e indireta com Deus), Deus e a religião, e ainda, meio-dia, entardecer e noite,
três elementos em um só, como na religião católica (o Pai – o Filho – e o Espírito Santo).
Submete a religiosidade a seus personagens – ficção encaixa-se à realidade bíblica.
Usa de muita convicção para convencer o leitor de que os personagens viveram naquele tempo.
Busca unir conhecimento – espírito e a palavra (oral e escrita)
Homem – irmão de grandeza e sofrimento; - desprendimento e mesquinharia; - fraternidade e solidão.
A realidade de seus personagens encaixa-se no Salmo: “Um abismo chama outro abismo.”
Encontros de Abismos é um livro “intrigante” que nos leva a refletir sobre o comportamento humano (e divino!), num mundo cheio
de discórdias, imoralidades e desilusões.

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