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D10 - O ESTADO DE S.PAULO QUARTA-FEIRA, 6 DE OUTUBRO DE 2004

ROBERTO DAMATTA
Qual é a imagem
alguns petistas) a um gi- contro humano e desinteressado, ver-
gante exportador. dadeiramente amoroso.
Hoje, a imagem no Quem ensina Brasil no exterior fica
exterior é mais que po- parvo com a demanda. Aqui em Notre

mais triste do Brasil? sitiva. Eis uma nação


continental sem confli-
tos étnicos internos e
Dame, onde encerro uma breve tempo-
rada de ensino e pesquisa, temos – gra-
ças aos esforços de Isabel Ferreira e de

A
ntigamente era a mestiçagem, Tal como no período anterior, quando que tem um “jeito” au- Sandra Teixeira – mais de 60 alunos.
mulatismo e sífilis. O Brasil era se dizia que para melhorar bastava em- têntico de ser e de com- Mas ter alunos é uma coisa, outra a
uma nação de mestiços conde- branquecer, a palavra mágica do mo- portar-se. Não imita fazê-los querer experimentar o Brasil
nada pela chamada “tara de origem” (a mento era desenvolvimento. Com cres- ninguém, tem muitos e seus costumes. Converso com mui-
expressão é de Azevedo Amaral), a de- cimento e com o planejamento econô- problemas, mas tem fu- tos e sinto resistência. Querem a cul-
generação, a doença e, eventualmente, mico correto poderíamos, finalmente, turo e carnaval. tura, mas não querem a vivência. On-
a extinção, como previu o Conde de Go- chegar às praias alvas dos países que Qual a melhor prova de está o problema?
bineau, teórico-mor do racismo e que admirávamos como sendo civilizados disso na minha área, a Logo se descobre o motivo: o gran-
foi cônsul no Rio de Ja- Luludi/AE ou “adiantados”, co- esfera dos estudos uni- de problema é a maldita violência.
neiro além de amigo mo se dizia então... versitários? Um pai de um aluno que me acompa-
do imperador Pedro II. Veio o fim de sécu- Uma crescente pro- nhou ao Brasil ligou pelo menos cin-
Na década de 30 e lo, com seu surto de cura de estudos brasi- co vezes imaginando que seu filho ha-
40, adicionou-se ao ve- conversão protestan- leiros em todas as uni- via sido primeiro assaltado, depois se-
lho racismo, agora te e seus implacáveis versidades america- qüestrado. Me perguntava como ele
branqueador, a ima- dízimos fiscais, e o nas que se prezam. poderia se livrar de uma bala perdida.
gem de um “paíis de País – que havia sobre- Uma busca pelo apren- Estava exagerando?
analfabetos”. Éramos vivido às piores previ- dizado da língua e da li- Quem vive no Rio de Janeiro, em
maciçamente analfas sões dos seus entendi- teratura na medida em São Paulo ou qualquer outra grande
e logo a elite pintou a dos: das doenças do hi- que o futebol, os canto- cidade nacional tem hoje pânico de
paisagem de retirantes bridismo desenfreado res e o cinema nacio- sair de noite, fica assombrado quan-
de pés enormes e dos racistas aos sur- nal se globalizam e pro- do é obrigado a parar num sinal onde
mãos calejadas aban- tos de revolta e rebe- movem uma inusitada pode ser assaltado (como, aliás ocor-
donando o árido ser- lião de camponeses e simpatia e empatia pa- reu comigo) e teme, sobretudo, o se-
tão nordestino, seu trabalhadores margi- ra com o País. Há uma qüestro-relâmpago.
complemento nas cida- ■ Roberto DaMatta é escritor, nalizados nas cidades nítida descoberta do Donde, o dilema: como ampliar ne-
des sendo o idiota car- professor e antropólogo dos marxistas – che- Brasil como um país gócios, como fazer com que o Brasil fi-
navalesco que, de pandeiro na mão, exi- gou intacto à contemporaneidade co- ruptura “com tudo isso que aí está”. que tem um tesouro: uma unidade cul- nalmente deslanche a imagem de uma
bia dentes podres no seu sorriso alvar. mo uma democracia de massa, com A imagem, depois de um governo se- tural que se revela firme, apesar das sociedade simpática, harmoniosa,
Depois vieram os tempos de diagnós- poucos rivais em todo o planeta. Tanto reno de FHC, voltado para a institucio- brutais diferenças de renda, educa- além de democrática, se ninguém se
ticos e soluções. A questão era o impe- que, a despeito de todas as manipula- nalização do liberalismo e da estabili- ção, saúde, segurança e moradia de mexe de verdade contra a violência?
rialismo externo e a colonização inter- ções e poderes diabólicos atribuídos dade monetária, melhorou e, com a mo- sua população. Há também uma inusi- Se não há sequer um sinal de alguma
na, duas desgraças – dragões da malda- às classes dominantes, elegeu e empos- dernização no campo, o Brasil passou tada simpatia com o estilo antiprus- coisa nacionalmente orquestrada con-
de a serem mortos por algum cangacei- sou um torneiro mecânico, presidente de nome de um país sem ter o que co- siano e original de viver, dando-se tra esse mal que infesta e devasta a nos-
ro glauberiano estupidamente valente. de um partido que pregava a famosa memorar (como diziam de boca cheia prioridade à alegria, à música, ao en- sa imagem interna e externa?

VISUAIS
Reproduções

O poder universal da arte construtiva


Seleção de 22 artistas Maurício Ianêse Egídio Rocci(pa-
var a arte para além dos paradig- obras únicas, na maioria pintu-
ra citar apenas os brasileiros).
mas da representação, criar uma ras, mas também há espaço para
europeus e latinos A exposição está dividida em
poética visual em sintonia com o objetos cinéticos, colagens, gua-
reafirma a força mundo de seu tempo. dois núcleos distintos. O ponto che e outros tipos de técnica. Al-
ilusória da geometria inicial, que ocupa o centro da ga-
E a exposição pretende deixar gumas já faziam parte do acervo
leria, é o conjunto de serigrafias
claro esse universalismo ao reu- da galeria, outras foram adquiri-
MARIA HIRSZMAN assinadas por figuras de grande
nir,sem critérios didáticos ou cro- das por Berenice Arvani no mer-
renome como Yaacov Agam,
nológicos, artistas de regiões tão cado internacional para compor

N
ão se trata nem de um pa- Jesús Rafael Soto e Jean Gorin,
distintas quanto a Croácia e a Ar- a mostra. Predominam nesse con-
norama,nem deuma mos- que um dia pertenceram à cole-
gentina,a Itáliae aVenezuela. Ein- junto os artistas brasileiros, histó-
tra didática sobre o surgi- ção da marchande Denise René,
do de figuras históricas como os ricos ou contemporâneos, mas
mento e a evolução da arte cons- uma das maiores impulsionado-
pioneiros Abraham Palatinik, Lo- também há espaço para figuras
trutiva no mundo. Também não ras do construtivismo na Europa.
thar Charoux e Geraldo de Barros de renome internacional, como
estão representados entre os 22 As gravuras foram adquiridas por
atéartistasainda jovens queconti- Soto e o próprio Max Bill.
artistas presentes na mostra que um galerista europeu, que as colo-
nuam dialogando com esse uni- Para aqueles que admiram o
será inaugurada esta noite todos cou à disposição de Celso Fiora-
verso, como os contemporâneos caráter sintético, rigoroso e seco
os grandes mestres da arte abstra- vante, responsá- da arte construtiva, a mostra po-
to-geométrica. E, no entanto, vel pela seleção de não atender a todas as expec-
Construtivos e Cinéticos é um das obras. tativas, já que entre as duas defi-
prato cheio para todos aqueles Esses traba- nições do título – construtivos e
que se deixam fascinar pela sim- lhos foram insta- cinéticos –, a balança pende mui-
plicidade das composições plásti- lados em sanduí- to mais para a segunda catego- Serigrafia do argentino Hugo Demarco: sedução do olhar
cas baseadas apenas em formas ches de acrílico ria. Quase não há lugar para o pre-
simples, como o círculo, o qua- suspensos,de for- to-e-branco e a cor pulsa de ma- grande diversidade cromática las de Ianês ou a cruz – com toda
drado e a linha, que revoluciona- ma que é possível neira intensa e sedutora na maio- cria um campo em que a superfí- sua carga simbólica – formada pe-
ram a arte do século 20. admirar as obras ria dos trabalhos. A seleção privi- cie parece pulsar. O mesmo ocor- las linhas tingidas de negro do tra-
Com forte peso na história da inseridas no espa- legia a enorme capacidade des- re com os círculos da francesa Ge- balho de Rocci, ironicamente um
arte brasileira a partir da década ço – numa espé- ses artistas de criar ilusões, de neviève Claisse ou a trama ilusó- dos mais concisos da exposição.
de 50 – com a inauguração da Bie- cie de homena- fascinar o olhar e fazê-lo movi- ria do brasileiro Antonio Maluf.
nal e a célebre participação de gem aos revolu- mentar-se sem cessar a partir de Dentreosexemplos contempo-
Max Bill (o suíço está representa- cionários pedes- construções de uma grande sim- râneos trazidos por Fioravante,
SERVIÇO
do na exposição com uma gravu- tais de vidro de Li- plicidade formal. uma interessante provocação: a Construtivos e Cinéticos.
ra e um pequeno múltiplo em acrí- na Bo Bardi, colo- Tome-se por exemplo o caso inclusão de trabalhos que se per- Galeria Berenice Arvani. R.
lico) –, o construtivismo funcio- cados de lado pe- da serigrafia do argentino Hugo mitemusarovocabulário constru- Oscar Freire, 540, 3082-2843,
na como espécie de linguagem lo Masp. Demarco que, apenas dividindo tivo sem deixar de lado o apelo 10/19h30. (fecha sáb. e dom.).
universal, de ponto de união de Nas paredesfo- um grande quadrado em peque- narrativo de determinados mate- Grátis. Até 8/11. Abertura
todos aqueles que pretendiam le- Trabalho da francesa Geneviève Claisse ram colocadas as nos quadradinhos menores e de riais e formas, como as lantejou- hoje, às 20h

CINEMA
Reuters

Fome, música e punhais voadores:


Jet Li em cena de ‘Herói’,
de Zhang Yimou: nova
dimensão do cinema
de ação e artes marciais

Rio faz sua aposta na diversidade


com cenas da mais
intensa beleza visual

Obras de diferentes ginia–quelutamdesesperadamen- CharltonHestonnapeledeumpoli- ciais. Possui cenas da mais in-


te contra a fome. Não é apenas a cial do futuro. Logo no começo, tensa beleza visual que você já
estilos e tendências cor da pele que determina a exclu- uma montagem de fotos mostra viu no cinema. E tem Jet Li, o
constroem a riqueza são social. O mais impressionante desde a América dos pioneiros até que é garantia de grandes lutas.
da mostra carioca équeDavis,em1968,listavadezmi- a superpotência que praticou todo House of Flying Daggers (título
lhões de pessoas que, no país mais tipo de violência contra a natureza. original) compõe um díptico
LUIZ CARLOS MERTEN poderoso da Terra, não logravam Na Terra destruída, falta comida e comHero.SaidecenaJetLieen-
ser atingidas pelos programas as- o único alimento é o Soylent tram Zhang Ziyi, Takeshi Ha-

R
IO – É curioso como, na sistenciais do go- Green, produto in- neshiro e Andy Lau. Zhang Yi-
segunda-feira, o Festival verno. Davis já fa- dustrial cuja fabri- mou percorre a trilha de Zatoi-
doRio2004 tenhaconse-
guido apresentar, em seções tão
diferentes quanto a homenagem
louque poderiare-
fazer hoje o seu fil-
me e chegaria,
‘N OSSA
cação é segredo
de Estado. Fleis-
cher fez seu filme
chi, renovando a tradição do sa-
murai cego, muito rica no cine-
ma japonês. Num certo sentido,
a Peter Davis e a retrospectiva quemsabe,aresul- MÚSICA’ É UM em 1972, depois o horror do futuro devastado e das câmera e nada responde. O silên- o filme tem mais dramaturgia
de ficção científica, duas obras tados ainda mais de Macunaíma, relações sociais deterioradas. cio é de ouro. Em outro momento, do que Herói. E a dança da cega
tãodistintase,aomesmotempo, trágicos, posto GODARD MUITO de Joaquim Pedro Por falar em Godard, Nossa Mú- o próprio Godard diz que o cinema Zhang Ziyi, quando ela dispara
tão próximas quanto Fome na que o governo do de Andrade, e sica, que também será exibido na independe do suporte. Pode ser os punhais com as sedas que
América e No Mundo de 2020. presidente Geor- ESPERADO WeekendàFrance- Mostra Internacional de São Paulo bom ou mal em qualquer um. compõem sua vestimenta, já
Só um festival baseado na diver- ge W. Bush não se sa, de Jean-Luc – e, logo em seguida, deverá entrar OsuportedeZhangYimouéape- nasceu antológica. Quentin Ta-
sidade pode permitir ao público destina a essas ca- Godard, que tra- em circuito normal, lançado pela lícula. Ele também está fazendo o rantino não agüentou e aplau-
fazer essas escolhas. Fome na madas.Latinosenegrosdesempre- tam, entre outras coisas, de antro- Imovision –, está fazendo o maior maior sucesso no Festival do Rio diu de pé, em cena aberta, quan-
América é documentário; No gados – Michael Moore mostra em pofagia. No Mundo de 2020 surgiu sucessoentrecinéfilosaquino Rio. com dois filmes – Herói e A Casa do o filme passou em Cannes,
Mundo de 2020 é ficção. E am- Fahrenheit 9/11 – só servem para nomesmoanodeComoEraGosto- Dividido em três partes – inferno, dos Punhais Voadores. Ambos se- em maio. Kill Bill Volume 2, do
bos tratam do mesmo assunto. ser buchas de canhão nas guerras so o Meu Francês, de Nelson Perei- purgatório e paraíso –, o filme fala rão distribuídos no Brasil, após a próprio Tarantino, estréia nesta
O documentário de Peter Da- que o presidente promove fora dos ra dos Santos. O Soylent Green é sobreguerra e violência,sobrearte mostra de São Paulo – Herói, pela sexta, é bom destacar.
visacompanhaamericanosmui- EUA – no Iraque, por exemplo. feito de carne humana. Artistas de e redenção. Numa cena, alguém Buena Vista; Punhais Voadores,
to pobres – latinos do Texas, ne- No Mundo de 2020 é um filme cinematografiasmuitodistintases- pergunta a Godard o que ele pensa pela (nova) Paris. Herói redimen- ■ O repórter viajou a convite da orga-
grosdoAlabama,brancosdaVir- de Richard Fleischer que põe tavam em sintonia para antecipar do digital. Ele olha para a própria sionaocinemadeaçãoeartesmar- nização do festival

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