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Bíblia Sagrada com reflexões de Lutero: Nova Tradução na Linguagem de Hoje
Bíblia Sagrada com reflexões de Lutero: Nova Tradução na Linguagem de Hoje
Bíblia Sagrada com reflexões de Lutero: Nova Tradução na Linguagem de Hoje
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Bíblia Sagrada com reflexões de Lutero: Nova Tradução na Linguagem de Hoje

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About this ebook

Esta edição da Bíblia Sagrada contém cerca de 900 reflexões de Martinho Lutero selecionadas por estudiosos especialistas no vasto acervo de escritos deixados pelo teólogo que, há alguns anos, estão sendo traduzidos e disponibilizados também em língua Portuguêsa. A obra está voltada mais para a compreensão histórica e exegética dos textos bíblicos, ou, ainda, para uma orientação pastoral e prática. A contribuição de Lutero na caminhada do cristianismo é reconhecida de forma universal, já que sua obra é citada por escritores de praticamente todas as correntes cristãs. Foram escolhidas reflexões que estivessem relacionadas direta ou indiretamente ao texto bíblico, a partir de obras de Lutero publicadas em português pela Comissão Interluterana de Literatura (CIL). Única no mundo, a Bíblia Sagrada com Reflexões de Lutero oferece recursos que contribuem para pregação do Evangelho e edificação da Igreja cristã.

Recursos
>> Índice ativo com os livros da Bíblia
>> Navegação entre capítulos e versículos
>> Quadros de estudo ao longo do texto bíblico
>> Notas de tradução e referências da NTLH
>> Vocabulário

Auxílios
>> Breve retrospectiva histórica sobre a Reforma Luterana
>> Prédicas semanais sobre Mateus 5—7
>> O capítulo 15 da Primeira Carta de S. Paulo aos Coríntios
>> Comentário da Epístola aos Gálatas
>> Breve instrução sobre o que se deve procurar nos Evangelhos e esperar deles
>> Uma seleção dos hinos compostos por Martinho Lutero
>> Catecismo Menor para os pastores e pregadores indoutos
>> Breve glossário
>> Índice remissivo
LanguagePortuguês
Release dateOct 25, 2016
ISBN9788531115929
Bíblia Sagrada com reflexões de Lutero: Nova Tradução na Linguagem de Hoje

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    Otimo livro para uma leitura diaria.voce depois de ler transformados

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Bíblia Sagrada com reflexões de Lutero - Sociedade Bíblica do Brasil

Bíblia Sagrada com reflexões de Lutero

Nova Tradução na Linguagem de Hoje

Sociedade Bíblica do Brasil

Missão da Sociedade Bíblica do Brasil:

Promover a difusão da Bíblia e sua mensagem como instrumento de transformação e desenvolvimento integral do ser humano.

B477b

Bíblia Sagrada com reflexões de Lutero. SP : Sociedade Bíblica do Brasil, 2012, 2016

Texto bíblico: Nova Tradução na Linguagem de Hoje, 2000 - Sociedade Bíblica do Brasil.

Contém uma seleção de textos extraídos da Coleção Martinho Lutero – Obras Selecionadas, Seleção de hinos compostos por Martinho Lutero, Catecismo Menor de Lutero, índice remissivo e glossário.

1. Bíblia Sagrada. 2. Nova Tradução na Linguagem de Hoje. 3. Martinho Lutero. 4. Reflexões de Lutero. I. Sociedade Bíblica do Brasil.

CDD - 220.669

NTLH LOGOMARCA DA NTLH: A cruz aponta para o amor que Deus teve por toda a humanidade, buscando reconciliar-se com ela por meio do sacrifício de Cristo. O apóstolo Paulo escreve: Portanto, por meio do Filho, Deus resolveu trazer o Universo de volta para si mesmo. Ele trouxe a paz por meio da morte do seu Filho na cruz e assim trouxe de volta para si mesmo todas as coisas, tanto na terra como no céu. (Colossenses 1.20). Assim, a cruz vazia – lembrança da vitória de Cristo sobre a morte – é o centro da mensagem bíblica e um dos símbolos mais conhecidos da Igreja Cristã. A Nova Tradução na Linguagem de Hoje adotou a cruz como sua logomarca.

Bíblia Sagrada com reflexões de Lutero

© 2012 Sociedade Bíblica do Brasil

Av. Ceci, 706 - Tamboré

Barueri, SP - CEP 06460-120

Cx. Postal 330 - CEP 06453-970

www.sbb.org.br – 0800-727-8888

Todos os direitos reservados

Texto bíblico

Nova Tradução na Linguagem de Hoje

© Sociedade Bíblia do Brasil, 2000

Edição, projeto gráfico, diagramação e capa

Sociedade Bíblica do Brasil

Textos de Martinho Lutero

© Comissão Interluterana de Literatura (CIL)

Rua Amadeo Rossi, 467

Caixa Postal 14 - CEP 93001-970

São Leopoldo - RS

www.lutero.com.br - cil@lutero.com.br

Todos os direitos reservados

Representantes da CIL no projeto

Darci Drehmer, João Artur Müller da Silva, Nilo Wachholz

Seleção e edição dos textos dos quadros

Osmar Luiz Witt e Vanderlei Defreyn (editores)

As reflexões contidas nos quadros desta Bíblia são de responsabilidade da Comissão Interluterana de Literatura (CIL) e dos editores desta obra.

Sociedade Bíblica do Brasil

Sociedade Bíblica do Brasil

A SBB é uma entidade sem fins lucrativos, dedicada a disseminar a Bíblia e, por meio dela, promover o desenvolvimento integral do ser humano.

Ensina-me a viver de acordo com a tua verdade, pois tu és o meu Deus, o meu Salvador. Eu sempre confio em ti.

(Salmo 25.5)

Como usar esta Bíblia

Escolhendo um livro

Para escolher um livro, a qualquer momento acesse o índice ativo do leitor que você está utilizando.

Usando os recursos

Ao abrir um livro, você pode iniciar a leitura a partir do início do primeiro capítulo, e então dar sequência à leitura dos próximos capítulos. Se desejar, você também pode escolher um capítulo/versículo específico. Além disso, a Bíblia Sagrada com Reflexões de Lutero possui alguns recursos para ajudá-lo nos estudos das Escrituras. Antes de começar a usá-la, aprenda como usar estes recursos observando a imagem a seguir e as explicações logo abaixo:

1. No início de cada livro, clique sobre o botão Índice de capítulos para ter acesso à lista dos capítulos daquele livro.

2. No início de cada capítulo, clique sobre o número do capítulo para acessar a lista dos capítulos daquele livro.

3. Clique sobre qualquer número de versículo, para acessar a lista de versículos daquele capítulo.

4. Clique sobre uma letra ou um número entre colchetes ([ ]) para ler uma referência cruzada ou uma nota de tradução sobre aquele trecho. Você será redirecionado para uma página com todas as notas daquele capítulo.

5. As reflexões de Lutero estão indicadas em um quadro, com a Rosa de Lutero à direita. Clique sobre a Rosa ou sobre o título, e leia uma reflexão sobre a referência indicada abaixo do título.

6. Ao longo do texto, algumas palavras irão aparecer em marrom. Clique sobre elas para ler sua defninição.

Rosa de Lutero

Índice

Capa

Folha de rosto

Colofão

A Sociedade Bíblica do Brasil

Como usar esta Bíblia

Conteúdo

Apresentação sobre a Bíblia Sagrada com reflexões de Lutero

Introdução à Bíblia Sagrada com reflexões de Lutero

Prefácio à Bíblia Sagrada com reflexões de Lutero

Breve retrospectiva histórica sobre a Reforma Luterana

Prefácio ao texto bíblico

Folha de rosto e abertura de Salmos da Bíblia de Lutero

Antigo Testamento

Prefácio ao Antigo Testamento

Gênesis

Êxodo

Levítico

Números

Deuteronômio

Josué

Juízes

Rute

1Samuel

2Samuel

1Reis

2Reis

1Crônicas

2Crônicas

Esdras

Neemias

Ester

Salmos

Provérbios

Eclesiastes

Cântico dos Cânticos

Isaías

Jeremias

Lamentações

Ezequiel

Daniel

Oseias

Joel

Amós

Obadias

Jonas

Miqueias

Naum

Habacuque

Sofonias

Ageu

Zacarias

Malaquias

Novo Testamento

Prefácio ao Novo Testamento

Mateus

Marcos

Lucas

João

Atos

Romanos

1Coríntios

2Coríntios

Gálatas

Efésios

Filipenses

Colossenses

1Tessalonicenses

2Tessalonicenses

1Timóteo

2Timóteo

Tito

Filemom

Hebreus

Tiago

1Pedro

2Pedro

1João

2João

3João

Judas

Apocalipse

Apêndices

Prédicas semanais sobre Mateus 5—7

O capítulo 15 da Primeira Carta de S. Paulo aos Coríntios

Comentário da Epístola aos Gálatas

Breve instrução sobre o que se deve procurar nos Evangelhos e esperar deles

Uma seleção dos hinos compostos por Martinho Lutero

Catecismo Menor para os pastores e pregadores indoutos

Breve glossário

Índice remissivo

Rosa de Lutero

Apresentação sobre a Bíblia Sagrada com reflexões de Lutero

A Sociedade Bíblica do Brasil (SBB) já percorreu uma longa trajetória na preparação e publicação de Bíblias de estudo e temáticas. Desde que a SBB começou a publicar ou apoiar a publicação destas Bíblias, ela o fez unicamente com o intuito de apoiar e servir as Igrejas na realização de sua missão. Algumas foram publicadas em coedição com editoras cristãs; outras, integralmente pela SBB; e mais outras foram publicadas por outras editoras, mas com textos bíblicos cedidos pela SBB. Dessas Bíblias de estudo e temáticas, algumas podem ser classificadas como representantes de certa linha denominacional, teológica ou histórica de interpretação bíblica; outras, por sua vez, estão voltadas mais para uma compreensão histórica e exegética dos textos bíblicos, ou, então, para uma orientação pastoral e prática.

Eis que apresentamos mais uma Bíblia nesta categoria, a Bíblia Sagrada com Reflexões de Lutero. Obviamente, não pedimos a Martinho Lutero para escrever reflexões especificamente para esta Bíblia. As reflexões foram, sim, selecionadas por estudiosos especialistas no vasto acervo de escritos deixados por Lutero, que, há alguns anos, estão sendo traduzidos e disponibilizados também em língua portuguesa.

Mas qual seria a importância de uma Bíblia Sagrada com Reflexões de Lutero? Creio que é praticamente universal, hoje, o reconhecimento da contribuição de Lutero para a caminhada do cristianismo. A obra de Lutero é citada por escritores de praticamente todas as correntes cristãs. Sua importância e contribuição para a fé cristã é hoje reconhecida até mesmo por aqueles que, na sua época, eram considerados os seus adversários.

Qual foi a contribuição principal de Lutero? Sem dúvida, várias respostas poderiam ser dadas a esta pergunta. Nesta Bíblia, porém, o que se pretende trazer é a ênfase cristocêntrica de Lutero. Talvez pudéssemos dizer que, até pela experiência pessoal e avassaladora de Lutero com a mensagem de Cristo, na Bíblia, a cristocentricidade passou a caracterizar, de modo supremo, o seu ponto de vista a respeito da Bíblia. Nela, praticamente em cada página, ele percebia a atuação do Cristo vivo, o Verbo de Deus.

Portanto, com mais esta Bíblia, a SBB oferece às Igrejas um recurso para o aprofundamento no estudo da Palavra de Deus, para sua edificação e promoção de sua obra.

Rudi Zimmer (Rev. Dr.), Diretor Executivo

Sociedade Bíblica do Brasil

Rosa de Lutero

Introdução à Bíblia com reflexões de Lutero

Talvez Lutero não concordasse com a confecção de uma Bíblia com suas reflexões. Ele insistia que não se deveria pregar a respeito de Lutero e sim de Cristo, assim como afirmava que a Bíblia é, em si mesma, suficientemente clara. No entanto, ele certamente aceitaria tal obra, se pudéssemos mostrar-lhe que as pessoas hoje em dia, assim como em seu tempo, podem beneficiar-se de um pregador que lhes aponte para o cerne da Palavra de Deus e que suas reflexões continuam sendo valiosas para edificação da Igreja cristã. É com este objetivo que fomos convidados pela Sociedade Bíblica do Brasil (SBB) e pela Comissão Interluterana de Literatura (CIL) a realizar este trabalho: editar uma Bíblia com reflexões do reformador Martinho Lutero, formulada com o objetivo de contribuir na pregação do evangelho e na edificação da Igreja cristã.

Os textos foram selecionados a partir das obras de Lutero publicadas em português pela CIL, instituição formada por representantes da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) e da Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB). A estas obras pertencem:

o devocionário Castelo Forte de 1983, cujas meditações, por ocasião dos 500 anos do nascimento do reformador, foram todas baseadas em compilações de textos de Lutero;

a seleção de textos de Lutero intitulada Pelo Evangelho de Cristo, de 1984;

a coleção "Obras selecionadas" de Martinho Lutero, volumes 1 ao 11, que eram os volumes disponíveis até a publicação desta Bíblia.

Para alcançar o objetivo acima mencionado, de contribuir para a pregação do evangelho e a edificação da Igreja cristã, foram estabelecidos alguns critérios para a seleção dos textos:

Foram selecionados principalmente textos nos quais Lutero fizesse referência a uma passagem bíblica para fundamentar seu pensamento. Estes textos foram então inseridos na Bíblia, no local onde se encontra tal passagem. Em alguns casos também foram inseridos textos nos quais Lutero não faz uma relação direta com uma passagem bíblica, mas que se ligam a uma passagem bíblica pela afinidade do tema.

Procurou-se reproduzir os textos selecionados segundo a formulação de Lutero no texto original da tradução em português, evitando fazer interferências. Algumas interferências, no entanto foram necessárias em alguns casos:

• Para este tipo de publicação, foi estabelecido que os textos inseridos seriam relativamente curtos. Por isso, em alguns casos foram eliminados trechos que não eram vitais para a compreensão do todo e cuja eliminação não mudaria o sentido do texto.

• Alguns textos foram inseridos em função da importância do conteúdo, mas dele tiveram de ser retirados trechos com afirmações polêmicas e por vezes ofensivas, ocorridas dentro do contexto de intensos conflitos existentes na época como, por exemplo, com as autoridades eclesiásticas e intelectuais da época. Entendendo que tais afirmações se referem a uma realidade não mais existente e que, portanto, não contribuiriam para a edificação e a unidade da Igreja cristã, considerou-se sensato editar estes textos sem tais afirmações.

Apesar de evitar fazer mudanças nos textos, em muitos casos, pequenas adaptações foram necessárias, visto que o texto selecionado, retirado de seu contexto, não poderia ser compreendido sem estas adaptações. Para alguns textos também foi acrescentada uma explicação inicial, grifada em itálico, que permite entender a afirmação de Lutero em seu contexto.

Em vários textos inseridos, há termos que foram grifados, com o objetivo de remeter o leitor a um glossário no fim da obra, no qual é explicado o sentido destes termos para Lutero. No fim da obra há também uma lista de temas que remetem a textos em que estes temas aparecem. Ligados a um texto bíblico, foram inseridas algumas estrofes de alguns hinos compostos por Lutero. No final da obra, o leitor poderá encontrar os hinos com todas as estrofes, bem como a pauta musical.

Houve, por parte dos editores, o cuidado de respeitar o pensamento do reformador, o que levou a privilegiar textos que apresentassem os aspectos centrais da teologia de Lutero. No entanto, justamente por se tratar de seleções, sempre haverá um grau de subjetividade presente, de modo que elas não podem ser vistas como uma reprodução fiel do pensamento do reformador. Por isto, para cada texto de Lutero selecionado, foi indicada a fonte de onde ele foi retirado, a fim de possibilitar ao leitor verificar o texto em seu contexto original e aprofundar seus conhecimentos sobre a teologia do reformador.

Nosso sincero desejo é de que, ao levar o leitor da Bíblia a ter um contato com estas reflexões de Lutero, estejamos nos colocando a serviço daquele que também era o objetivo do reformador: difundir o evangelho de Cristo, que fala da salvação para a eternidade, mas também contribuir para uma melhoria da existência terrena, conforme a vontade do Criador.

Osmar Luiz Witt (Rev. Ms.), editor; Vanderlei Defreyn (Rev. Dr.), editor

Para pesquisar mais

Ao final de cada quadro, o leitor encontrará a fonte de onde aquele texto foi extraído. A menção é sempre à obra e ao número da página em que o texto aparece. Por exemplo, o primeiro quadro da Bíblia traz como informação OS 4,127. Isso significa que o texto em questão poderá ser encontrado em Martinho Lutero – Obras Selecionadas, volume 4, página 127.

Eis as abreviaturas das obras usadas nesta Bíblia:

CF83 – Castelo Forte de 1983

OS – Martinho Lutero – Obras Selecionadas, volumes 1 a 11

PEC – Pelo Evangelho de Cristo

Rosa de Lutero

Prefácio à Bíblia Sagrada com reflexões de Lutero

A Comissão Interluterana de Literatura (CIL), criada em 1966, pela Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) e Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB), é um grupo de trabalho voltado para o planejamento e promoção de literatura de interesse comum de ambas as igrejas. No momento atual, destacam-se dois projetos editoriais coordenados pela CIL: a edição anual do devocionário Castelo Forte, com uma tiragem além de 80 mil exemplares, e a publicação dos volumes de Martinho Lutero - Obras Selecionadas, com 11 volumes já publicados. São colaboradores do Castelo Forte pastores, pastoras e lideranças leigas, homens e mulheres, de ambas as igrejas. Os volumes de Martinho Lutero - Obras Selecionadas são preparados pela Comissão Editorial Obras de Lutero, integrada por representantes da IECLB E IELB. Há 15 anos a CIL e a SBB vêm preparando a edição desta Bíblia Sagrada que, agora, está em suas mãos. Graças ao trabalho em parceria, o pensamento e as reflexões de Lutero podem ser conhecidos do público brasileiro e ajudar no meditar sobre a vontade de Deus contida nas Sagradas Escrituras.

A Comissão Interluterana de Literatura sente-se honrada e alegre com as apresentações desta Bíblia assinadas pelos pastores presidentes de ambas as igrejas. Estes testemunhos das lideranças eclesiásticas apontam para a leitura e a meditação da Palavra de Deus como incentivo à fraternidade e ao serviço cristão no mundo.

Palavra do Pastor Nestor Paulo Friedrich — Presidente da IECLB

Conhecemos a importância da palavra escrita e pronunciada. Registradas no papel ou faladas, até mesmo gesticuladas, palavras são como plumas jogadas ao vento. Escapam do nosso controle. Fica muito difícil recolhê-las. Bem por isso, e não por acaso, pai e mãe ensinam desde tenra idade: Meu filho, minha filha, cuidado com o que você fala e escreve! E nós conhecemos tão bem a diferença entre um radiante bom dia e uma calúnia. Causam um efeito fabuloso, para um ou outro lado.

Para quem lida com a Bíblia, palavra é uma questão central. Segundo Gênesis, foi através da sua palavra que o Senhor criou o mundo. Ela mesma, a Sagrada Escritura, é palavra de Deus. No evento Jesus, a palavra de Deus tornou-se gente como a gente e está entre nós (João 1.14). Onde a sua palavra é pronunciada, ocorre algo. Ela não retorna vazia para o Senhor.

Foi isso que Martim Lutero compreendeu na dimensão mais radical. Foi isso que transformou a sua vida, suas convicções, seu mundo. E é esse um dos pilares da Reforma — somente a Escritura, um elemento determinante para quem procura interpretar a palavra de Deus na ótica da confissão luterana.

O que isso tem a ver conosco, com o nosso tempo e o nosso contexto?

Quando confrontados com a dúvida, buscamos um conselho. Queremos ouvir a palavra de outrem. Para formular seu veredito, o juiz conta com o grupo de testemunhas. Assim, pois a importância de Lutero, no passado, no presente e no futuro, pode ser recebida da seguinte maneira: o Reformador testemunha a palavra de Deus de um jeito que ela alcança as pessoas no seu tempo e no seu lugar. E, ao fazê-lo desse modo, Lutero removeu pedras e mais pedras que dificultavam a verdade do Evangelho brotar e florescer. Por isso é que Lutero foi e continua sendo testemunha indispensável quando se quer auscultar a vontade do Deus criador, redentor e parceiro em nossa jornada, diante da possibilidade de a Igreja servir-lhe na sua missão.

Não é por acaso que se decidiu publicar uma versão da Bíblia com comentários de Lutero, o projeto que culmina com esta obra que prefaciamos. A palavra de Deus não depende da intermediação de homens e mulheres. A sua palavra desperta e transforma pessoas, cria e sustenta a fé. Ainda assim, estudiosos e intérpretes da Bíblia, como é o caso de Lutero, são instrumentos e canais que Deus utiliza para traduzir sua vontade ali onde pessoas têm a grata oportunidade de receber sua palavra pelos mais diferentes meios.

Palavra do Pastor Egon Kopereck — Presidente da IELB

Povo de Deus!

Sinto-me pequeno e indigno para escrever algo como prefácio ou introdução ao Livro dos livros, a saber, a santa Palavra de Deus, a Bíblia Sagrada. Por outro lado, podermos oferecer a todos, esse livro maravilhoso, que é e quer ser lâmpada para os nossos pés e luz para os nossos caminhos (Sl 119.105), com reflexões de um grande homem de Deus, um batalhador da fé, usuário diário da Bíblia Sagrada, incentivador para que todos tivessem acesso a ela e a usassem para leitura e meditação, é, sem dúvida, motivo de muita alegria e gratidão a Deus.

Manfred Wolf no seu livro Mais uma pergunta, Dr. Lutero, na página 24 cita Lutero dizendo: Jamais foi escrito sobre a face da Terra um livro mais claro do que a Escritura Sagrada; em relação a outros livros, ela é como o sol comparado a todas as outras luzes. Os que se posicionam contra ela só querem nos levar para longe da Escritura e assumir o lugar de mestres sobre nós, com o intuito de que venhamos a crer em suas pregações, que não passam de pura ilusão.

Em outro momento, na página 107, ele repete palavras de Lutero que disse: Nossa fé precisa ter um alicerce, que é a Palavra de Deus, e não areia, musgo, fantasia ou obra humanas.

Lutero sabia, e nós concordamos com ele, que a Bíblia Sagrada é um Livro acima de qualquer outro livro. É um tesouro que nos traz consolo, conforto e orientação.

Vivemos num mundo em crise. Crise na família, crise na política, crise na educação, crise nos valores quanto à honestidade, quanto à educação dos filhos, quanto à moral, quanto ao uso do tempo, quanto ao amor a Deus acima de tudo e ao próximo como a nós mesmos (Mt 22.37,39). Nessa situação nada melhor, nenhuma prevenção ou remédio que possa trazer melhores resultados do que a leitura e prática da Palavra de Deus. Por isso, seja essa Bíblia um auxílio, mais uma motivação para que mais e mais pessoas a usem, aproveitem e vivam, segundo a tudo que ela ensina e recomenda. Grandes homens, na história da humanidade, fizeram da Bíblia Sagrada o seu livro de cabeceira e reconheceram a benção, os benefícios que isso lhes trouxe. Façamos, também nós, o mesmo. Aproveitemos o Livro dos livros, a Bíblia Sagrada, com reflexões do reformador da Igreja, Martinho Lutero, para estudo, reflexão, crescimento e fortalecimento de nossa fé. E depois, não sejamos apenas leitores e ouvintes da Palavra, mas verdadeiros praticantes daquilo que ela nos ensina, orienta e diz (Tg 1.22).

Rosa de Lutero

Breve retrospectiva histórica sobre a Reforma Luterana

31 de outubro de 1517. Neste dia, na cidade de Wittenberg, na Alemanha, aconteceu algo que serviu como estopim para um movimento que pretendia mudanças na Igreja da época. O monge Martinho Lutero tinha preparado 95 teses, nas quais chamava a atenção para o que julgava serem abusos que estavam sendo cometidos. Lutero era professor de Teologia na Universidade de Wittenberg e sua intenção foi discutir as teses com seus colegas acadêmicos. Também as enviou para o seu bispo e para o arcebispo.

O assunto das indulgências que constava nessas teses tinha começado a preocupar Lutero quando recebia pessoas no confessionário. Como era a prática, após ouvidas as confissões, o sacerdote pronunciava a absolvição e impunha uma penitência que a pessoa deveria realizar. Porém, quando Lutero falava da necessidade da penitência aos seus paroquianos, alguns simplesmente retrucavam: eu comprei cartas de indulgência, já paguei a pena! Não levavam mais a sério a necessidade do arrependimento; ao contrário, buscavam um modo fácil de alcançar o perdão de Deus.

Havia uma explicação teológica para essa prática. Ensinava-se que para alcançar a salvação era preciso que cada um acumulasse méritos perante Deus. Cristo e também todos os santos tinham acumulado muitos méritos por todas as obras boas que realizaram. Esses méritos de Cristo e dos santos formavam o tesouro da Igreja, o qual era administrado pela Igreja para a salvação das pessoas. Quando alguém comprava uma carta de indulgência, estava comprando uma parte destes méritos de Cristo e dos santos para, com eles, ser absolvido dos seus próprios pecados. Numa de suas 95 teses, Lutero declarou que o verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo evangelho da glória e da graça de Deus. Em lugar de oferecer aos cristãos um jeito fácil de livrarem-se dos pecados, era preciso aconselhá-los para que sigam a Cristo, como dizia a primeira tese: "Ao dizer: ‘Fazei penitência’ (Mt 4.17), nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo quis que toda a vida dos fiéis fosse penitência".

Esta preocupação em agradar a Deus e conseguir o seu favor levara Lutero, em 1505, a ingressar no Mosteiro Agostiniano, na cidade de Erfurt. Numa época assolada pelo temor da morte, a quem pretendesse alcançar a perfeição cristã e ter segurança de salvação eterna era indicado o caminho da consagração religiosa. Lutero não ficou nisso, mas também recebeu a ordenação ao sacerdócio, em 1507, e tornou-se doutor em Teologia, em 1512. Sua palavra era qualificada, especialmente na interpretação das Sagradas Escrituras, às quais se dedicou como docente.

Depois que as teses foram traduzidas e impressas, elas ganharam popularidade e ameaçaram o negócio das indulgências, com o qual se arrecadava dinheiro do povo. Por jogar areia na máquina de um negócio tão interessante, Lutero foi denunciado em Roma. Daí em diante, o movimento de Reforma ampliou suas críticas à Igreja estabelecida, recebeu adesões e cresceu. Passado um ano da publicação das teses, em vista das discussões que elas provocaram, Lutero foi chamado a comparecer diante de um enviado do papa, o qual exigia que o monge se retratasse das coisas que tinha dito e escrito. Contudo, a retratação não aconteceu. Em 1519, houve uma disputa teológica entre Lutero e um oponente seu, o professor Eck, na cidade de Leipzig. Nesta disputa, Lutero foi levado a afirmar que só a Escritura é infalível; disse também que o pregador Huss, que, um século antes, fora condenado à fogueira sob a acusação de ser falso pregador, tinha pregado muitas vezes a verdade do Evangelho; e, ainda por cima, declarou que os concílios e mesmo o papa certamente podem enganar-se. Com essas afirmações os seus adversários tinham as provas de que precisavam para condená-lo também como pregador de falsas doutrinas. E isto não aconteceu naquele momento porque faleceu o Imperador e a situação política resultante favoreceu Lutero, que contava com o apoio do príncipe Frederico da Saxônia, muito influente no Império e no processo de sucessão imperial. Para não desagradar a Frederico, o papa evitou atingir seu protegido.

Em 1520, Lutero escreveu três livros que se tornaram muito famosos, pois neles o reformador apresentou o que julgava ser importante para que pudesse acontecer uma reforma da Igreja. O primeiro desses livros chama-se À nobreza cristã da nação alemã. Nele, afirma que os cristãos não têm necessidade de mediadores entre eles e Deus. Pelo Batismo todos são sacerdotes e o caminho para Deus está livre através da fé em Cristo. Noutro livro, Do cativeiro babilônico da Igreja, é examinada a doutrina dos sacramentos e denunciado seu uso para fins de dominação sobre o povo cristão. O terceiro livro chama-se Da liberdade cristã, e nele descreve-se a maneira como a pessoa cristã se relaciona com Deus e com o próximo: pela fé em Deus a pessoa é livre; pelo amor ao próximo é serva de todos.

Em abril de 1521, após ter sido excomungado pela Igreja, o reformador foi convocado à cidade de Worms, onde, diante de uma assembleia de nobres e príncipes que governavam com o Imperador, deveria retratar-se dos seus ensinamentos. Naquele tempo, as questões religiosas eram tratadas em foro político, pois o Estado entendia-se como o defensor da verdadeira fé. Diante daquela assembleia, Lutero manteve suas convicções e disse estar disposto a mudar somente se os seus erros lhe fossem apontados com base nas Sagradas Escrituras. A assembleia não queria discutir o que ele expusera em seus livros, queria somente uma retratação formal. A isto ele se negou. O resultado foi a perda dos seus direitos de cidadão do Império. Foi, então, obrigado a viver clandestinamente, assumindo, temporariamente, a identidade de cavaleiro. Contudo, perseverou em seus propósitos e, com o auxílio de muitas pessoas, levou adiante o movimento de Reforma. Traduziu a Bíblia para o alemão — primeiro o Novo testamento, em 1522, e depois a Bíblia toda, em 1534. Assim, as pessoas que não sabiam latim também poderiam lê-la. E, saindo do esconderijo no castelo Wartburgo, voltou para Wittenberg, quando sentiu que o movimento que ajudara a desencadear poderia perder-se em excessos e radicalismos daqueles que pretendiam impor reformas com uso da violência. Lutero sustentou que a Reforma deveria ser obra da Palavra e não da imposição violenta. Ele mesmo fizera esta experiência, pois, no estudo da Bíblia fez a descoberta que modificou sua vida. Esta descoberta tomou conta dele de tal maneira que já não podia fazer de conta, como se nada tivesse acontecido. Ela se tornou libertadora para Lutero e tem a ver com a gente, hoje. Esta descoberta pode ser resumida assim: O justo viverá por fé (Rm 1.17).

Minibiografia de Lutero*

* [Fonte: Editora Sinodal]

Rosa de Lutero

Prefácio ao texto bíblico

Nova Tradução na Linguagem de Hoje

Em 1973, a Sociedade Bíblica do Brasil (SBB) lançou a 1ª edição do Novo Testamento da Tradução na Linguagem de Hoje (TLH). Quinze anos depois, em 1988, a SBB lançou a Bíblia completa desta tradução, com o nome de Bíblia na Linguagem de Hoje (BLH). Até este momento, a SBB só havia trabalhado em revisões de uma tradução já existente, a tradução de João Ferreira de Almeida. A BLH, portanto, foi a primeira tradução completa da Bíblia feita por iniciativa da SBB. E isso ocorreu em resposta a uma recomendação das igrejas, após ampla consulta junto a elas.

A consulta junto às igrejas havia demonstrado um reconhecimento generalizado de que se fazia necessária uma tradução bíblica apropriada ao desafio evangelístico que a realidade espiritual brasileira impunha. Tendo como objetivo principal a evangelização do povo brasileiro, esta tradução deveria ser adequada ao nível educacional médio da população. Por isso, após anos de dedicado trabalho de especialistas nas línguas originais e na Língua Portuguesa, produziu-se uma tradução com linguagem de fácil compreensão, a Tradução na Linguagem de Hoje.

A exemplo do que acontece com todas as traduções novas, a TLH foi bem aceita por muitos, rejeitada por alguns, e vista com desconfiança por outros. Mas, apesar disso, mais e mais, ano após ano, a TLH vem se afirmando como a tradução bíblica para a evangelização. Primeiro, porque um bom número de igrejas adotou o texto da TLH em suas campanhas evangelísticas. Segundo, nos últimos dez anos a SBB produziu mais de 500 milhões de seleções bíblicas, que foram distribuídas em parceria com as igrejas; só nos últimos 5 anos, uma média de 170 milhões por ano. Visto que o texto bíblico da maioria dessas seleções é tirado da TLH, pode-se dizer que foi este texto que grandemente impulsionou o crescimento das igrejas no Brasil.

Sendo uma entidade que serve todas as igrejas, a SBB, imediatamente após o lançamento da Bíblia na Linguagem de Hoje, passou a receber, classificar e analisar inúmeras sugestões, enviadas de todas as partes, no sentido de aprimorar a tradução para o uso mais eficiente e amplo das igrejas. Por outro lado, a própria Comissão de Tradução sentiu que a TLH poderia ser melhorada ainda mais. E, por fim, também as mudanças pelas quais a Língua Portuguesa havia passado desde o lançamento da TLH recomendavam uma revisão dessa tradução. Por tudo isso, a SBB submeteu a TLH a uma profunda revisão através de sua Comissão de Tradução e, depois de 12 anos desde o lançamento da Bíblia completa, lança a Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH).

Os princípios seguidos nesta revisão foram os mesmos que nortearam o trabalho da primeira edição desta tradução. Diferente da tradução de Almeida, que foi norteada pelos princípios de tradução de equivalência formal, a NTLH orientou-se pelos princípios de tradução de equivalência funcional. Ao reproduzir o sentido dos textos originais, Almeida também procura reproduzir a forma dos textos originais, que muitas vezes é diferente do português simples e natural e, assim, requer um domínio da Língua Portuguesa que está acima da média da população brasileira. A NTLH, por sua vez, ao reproduzir também e efetivamente o sentido dos textos originais hebraico, aramaico e grego, expressa esse sentido de maneira simples e natural, assim como a maioria da população brasileira fala. Portanto, a Nova Tradução na Linguagem de Hoje continua sendo especialmente adequada ao trabalho de evangelização e é também muito apropriada para a leitura devocional em família, inclusive para as crianças.

Mesmo seguindo os princípios que orientaram a primeira edição da TLH, a revisão foi tão profunda que é justificável designar o texto resultante como Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH). Como destaques dessa revisão, aparecem os seguintes: (1) O Novo Testamento foi totalmente revisado, tanto do ponto de vista de uma leitura profunda do texto original grego, como do ponto de vista da Língua Portuguesa. (2) Revisão semelhante, mas a partir do texto hebraico, recebeu o livro dos Salmos, com especial atenção à poesia. (3) Simplificou-se ainda mais uma série de construções gramaticais, aplicando-as ao texto de toda a Bíblia. (4) Aceitou-se mudar a designação do nome de Deus no Antigo Testamento de Deus Eterno ou Eterno para SENHOR Deus, Deus, o SENHOR, ou simplesmente SENHOR. Assim, a NTLH, agora, aproxima-se, neste particular, do texto da tradução de Almeida, Revista e Atualizada, e do texto da maioria das demais traduções bíblicas em Língua Portuguesa. Esta revisão sozinha afetou perto de 7 mil passagens do Antigo Testamento. (5) Uma série de textos que apareciam no rodapé da BLH, agora, na NTLH, voltaram ao texto da Bíblia. Isso refere-se, por exemplo, aos títulos originais dos Salmos, às vezes, difíceis de compreender, os quais aparecem traduzidos no início do respectivo Salmo em tipo itálico (inclinado). Também, no Novo Testamento, algumas passagens que não se encontram em alguns dos melhores e mais antigos manuscritos gregos mesmo assim aparecem, agora, traduzidas entre colchetes ([ ]; ver, por exemplo, Mateus 6.13b). (6) Finalmente, acolheu- se uma série de sugestões encaminhadas à Comissão de Tradução por parte de fiéis das mais diversas igrejas.

A Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH) foi lançada em 2000, e a SBB continuou a acolher as sugestões que lhe foram encaminhadas. Em 2005, quando foi publicada a Bíblia de Estudo NTLH, o texto bíblico sofreu pequenas alterações e ajustes em poucos versículos. Agora, novas mudanças foram feitas no texto bíblico, incorporando as alterações previstas na reforma ortográfica da Língua Portuguesa.

Está aí, portanto, para o uso das igrejas, para o uso individual, familiar e geral, a Nova Tradução na Linguagem de Hoje. Sendo a expressão da Palavra de Deus na linguagem simples do povo, a Comissão de Tradução da SBB pede a Deus e deseja que muitos a recebam com alegria e tenham em sua vida a experiência do salmista: A tua palavra é lâmpada para guiar os meus passos, é luz que ilumina o meu caminho (Salmo 119.105). E Deus conceda também que muitos a utilizem em suas atividades de adoração, evangelização, educação e pregação, como a espada que o Espírito Santo lhes dá (Efésios 6.17).

Outubro de 2008

* Folha de rosto da Bíblia de Lutero, conforme edição fac-similada publicada pela Sociedade Bíblica Alemã.

* Abertura do livro de Salmos da Bíblia de Lutero, conforme edição fac-similada publicada pela Sociedade Bíblica Alemã.

Antigo

Testamento

Rosa de Lutero

Prefácio ao Antigo Testamento

1545

Alguns têm o Antigo Testamento por algo insignificante, que teria sido dado apenas ao povo judeu e que, agora, estaria ultrapassado, relatando apenas histórias do passado. Eles pensam ter já o suficiente com o Novo Testamento e admitem buscar somente um sentido espiritual no Antigo Testamento, assim como também o consideraram Orígenes, Jerônimo e muitas pessoas situadas ainda mais acima deles. Mas, no livro de Jo 5.39, Cristo diz: Examinais a Escritura, pois ela mesma dá testemunho de mim. E S. Paulo ordena a Timóteo que continue a ler a Escritura. Em Rm 1.2, ele exalta o modo com que o Evangelho fora prometido por Deus na Escritura. E em 1Co 15.3ss. ele diz que Cristo veio da descendência de Davi, e que foi morto e ressuscitado da morte de acordo com a letra da Escritura. Assim também faz S. Pedro (1Pe 1.10,16,24-25) ao remeter-nos, mais do que uma vez, para trás na Escritura.

Com isso nos ensinam a não desprezar a Escritura do Antigo Testamento e sim, a lê-la com total dedicação, pois ela mesma fundamenta e comprova de modo extremamente convincente o Novo Testamento através do Antigo Testamento, reportando-se a ele naquilo que dizem. Assim escreve também S. Lucas em At 17.11, dizendo que os de Tessalônica investigavam cotidianamente as Escrituras a fim de descobrir se com elas correspondia o que ensinava Paulo. Ora, assim como não se deve desprezar o fundamento e a demonstração do Novo Testamento, assim também deve-se ter em alta conta o Antigo Testamento. E o que é o Novo Testamento senão uma pregação e proclamação pública de Cristo, instituída através dos ditos do Antigo Testamento e cumprida por meio de Cristo?

Contudo, para que aqueles que não sabem melhor possuam uma orientação e um ensinamento que lhes possibilite ler com proveito o Antigo Testamento, eu compus este prefácio conforme a minha capacidade, na medida em que Deus ma concedeu. Eu imploro e advirto de coração a cada um dos cristãos piedosos que não se escandalize com a fala e história simples que frequentemente irá surgir diante de si. Antes, que jamais duvide, por pior que possam parecer, que são puras palavras, obra, juízo e história da suprema majestade, poder e sabedoria divinas. Pois esta é a Escritura que transforma todos os sábios e espertos em tolos, e que está aberta apenas aos pequenos e simplórios, como diz Cristo em Mt 11.25. Por isso, deixa de lado tuas fantasias e sentimentos e considera esta Escritura como o mais elevado e precioso de todos os santuários, como o mais rico de todos os mananciais de riquezas que jamais poderá vir a ser suficientemente sondado. Então poderás encontrar a sabedoria divina, que Deus aqui coloca diante de ti de modo tão simples e puro para moderar toda altivez. Aqui encontrarás as fraldas e as manjedouras em que Cristo jaz deitado, lugar que também o anjo indica aos pastores. As fraldas são simples e ínfimas, mas é precioso o tesouro que nelas se encontra: Cristo.

Fica assim sabendo, ainda, que este livro é um livro da lei, o qual ensina o que se deve fazer e o que se deve deixar de fazer. A par disso, ele apresenta exemplos e histórias sobre como essas leis são cumpridas ou transgredidas. Da mesma forma, o Novo Testamento é um Evangelho ou livro da graça, e ensina de onde se deve partir a fim de que se cumpra a lei. Contudo, assim como no Novo Testamento também são dados, ao lado do ensinamento da graça, muitos outros ensinamentos que são lei e mandamento para governar a carne — visto que nesta vida o espírito não se torna perfeito e nem a pura graça pode governar —, de igual forma também se encontram contidos no Antigo Testamento, ao lado das leis, algumas promessas e dizeres da graça pelos quais os santos pais e profetas foram, como nós agora, preservados sob a lei na fé de Cristo. No entanto, assim como o principal e mais próprio ensinamento do Novo Testamento está em proclamar a graça e a paz através do perdão dos pecados em Cristo, de modo semelhante, o principal e mais próprio ensinamento do Antigo Testamento é o de ensinar a lei, apontar os pecados e exigir o bem. Fica ciente, portanto, de que tens de esperar por coisas desse tipo no Antigo Testamento.

E em primeiro lugar, passamos aos livros de Moisés, o qual, em seu primeiro livro, ensina como todas as criaturas foram criadas e (este é o tema central do seu escrito) de onde vieram o pecado e a morte — ou seja, através da queda de Adão a partir da maldade do diabo. Mas logo a seguir, antes que venha a lei de Moisés, ele ensina de onde deve provir o auxílio para expulsar o pecado e a morte, a saber, não por meio da lei nem de obras próprias — visto que ainda não havia lei alguma — e sim, por meio da semente da mulher, Cristo, que fora prometido a Adão e Abraão. Assim, o primeiro livro de Moisés contém muitos e nítidos exemplos de fé e falta de fé, bem como dos frutos produzidos pela fé e pela falta de fé, de sorte que ele é praticamente um livro evangélico.

Depois, no segundo livro, quando o mundo já estava cheio [de gente] e mergulhado na cegueira, de sorte que quase já não se sabia o que era pecado ou de onde teria vindo a morte, Deus suscita Moisés com a lei, tomando um povo particular com a finalidade de nele novamente iluminar o mundo e, de novo, revelar, através da lei, o pecado. Assim constitui o povo com toda a sorte de leis, separando-o dentre todos os outros povos. Ele ordena que construam um pequeno templo e institui um culto divino. Ele institui príncipes e funcionários, e providencia para seu povo tanto leis como pessoas das mais excelentes, dispondo a maneira como ele deve ser governado, tanto física diante do mundo, como espiritualmente diante de Deus.

No terceiro livro, é especialmente organizado o sacerdócio, com suas leis e direitos segundo os quais os sacerdotes devem agir e instruir o povo. Ali se vê como um ministério sacerdotal é instituído somente por causa do pecado, para que possa dar a conhecer esse pecado ao povo e reconciliá-lo diante de Deus. Essa, portanto, é toda obra do sacerdócio: lidar com pecados e pecadores. Por essa razão, também não é dado nenhum bem temporal aos sacerdotes, e tampouco se lhes ordena ou permite governarem sobre corpos; antes, é sua atribuição cuidar do povo nos pecados.

No quarto [livro], quando já são dadas as leis, constituídos os sacerdotes e príncipes, instituídos os templos e o culto divino e, quando já está pronto tudo que pertence ao povo de Deus, inicia-se a obra e seu exercício e se fazem experimentos de como esse ordenamento vai funcionar e comportar-se. Por isso o mesmo livro escreve acerca de tanta desobediência e aflições do povo. E algumas leis são explicadas e sofrem aditamentos. Assim ocorre em todas as épocas. De imediato se dão as leis, mas quando elas têm de funcionar e ser aplicadas, então não se encontra nada além de meros obstáculos, e ninguém quer proceder conforme exige a lei. Este [quarto] livro é um exemplo notável de como não adianta simplesmente tornar as pessoas piedosas por meio de leis; antes, como diz S. Paulo, as leis somente provocam o pecado e a ira.

No quinto [livro], quando o povo havia sido castigado por causa de sua desobediência, e Deus o atraíra um pouco com sua graça, de sorte que foram movidos pela boa ação de Deus ao lhes haver concedido os dois reinados, a cumprir sua lei com prazer e amor, Moisés repete a lei na íntegra com todas as histórias que lhes haviam acontecido (sem aquilo que concerne ao sacerdócio), e explica de novo tudo o que diz respeito tanto ao regime secular como ao regime espiritual de um povo. Por conseguinte, Moisés, como um perfeito mestre da lei, em tudo esteve à altura de seu ministério e não só concedeu a lei, mas também esteve junto dela a fim de que fosse cumprida, interpretada e reinstituída lá onde se a tivesse deixado de cumprir. Mas esta explicação no quinto livro, na verdade, nada contém exceto a fé em Deus e o amor ao próximo, pois esse é o objetivo de todas as leis de Deus. Por isso Moisés protege com sua explicação, contra tudo que possa corromper a fé em Deus — fazendo-o até o capítulo 20 —, e serve de impedimento ao amor — fazendo-o até o final do livro.

Com respeito a isso, deve-se notar, em primeiro lugar, que Moisés constitui o povo com leis de modo tão preciso que ele não deixa lugar algum para que a razão escolha qualquer obra ou invente qualquer culto. Pois ele não ensina apenas a temer e amar a Deus e nele confiar, mas também institui várias formas de culto exterior, com sacrifícios, juramentos solenes, jejuns, flagelos, etc., de sorte que a ninguém seja necessário escolher outras formas. De igual modo, ele também ensina a plantar, construir e contrair matrimônio; a governar os filhos, os serviçais e a casa; a comprar e vender; a emprestar e receber em pagamento; e tudo o mais que é mister fazer em nível exterior e interior e isso de tal maneira que algumas prescrições devem ao mesmo tempo ser consideradas como tolas e fúteis.

Mas por que é, meu caro, que Deus faz isso? Em última instância porque ele decidiu-se a assumir o povo a fim de que se tornasse seu próprio povo; e porque quis ser seu Deus, razão pela qual também quis governá-los, a fim de que tudo o que faziam fosse certo e direito diante dele. Pois ali onde alguém faz algo em relação a que não se concedeu previamente a palavra de Deus, aquilo que é feito não vale diante de Deus e está perdido. Pois ele também lhes proíbe, nos capítulos 4 (Dt 4.2) e 12 (Dt 12.32) do quinto livro, de acrescentar o que quer que seja às suas leis. E no capítulo 12 (Dt 12.8) ele diz que eles não devem fazer o que lhes parece certo. Também o Livro dos Salmos e todos os profetas levantam seu clamor por causa disso, ou seja, porque o povo fazia boas obras por ele mesmo escolhidas, e que não haviam sido objeto do mandamento de Deus. Pois ele não quer nem pode suportar que os seus empreendam fazer algo que ele não ordenou, por melhor que isso possa vir a ser, pois a nobreza e bondade de todas as obras é a obediência que se apega às palavras de Deus.

Pelo fato, porém, de que essa vida não pode subsistir sem um culto e formas exteriores, [Deus] também colocou diante deles essas múltiplas formas e as constituiu com seu mandamento. Fez isso com o fito de que — se precisassem ou quem sabe quisessem prestar algum tipo de serviço exterior a Deus — se valessem desse mesmo, e não inventassem um próprio, de modo a estarem certos e seguros de que essa sua obra prosseguiria na palavra e obediência de Deus. Por conseguinte, em todas as coisas se lhes obstou seguirem sua própria razão e vontade livre de fazer o bem e viver bem. À parte disso, no entanto, [Deus] determinou e instituiu com suficiente [clareza] lugar, cidades, época, pessoa, obra e forma [do culto], de modo que não pudessem queixar-se nem tivessem que seguir exemplos de cultos estrangeiros.

Em segundo lugar, deve-se notar que as leis são de três tipos. Há algumas que tratam somente acerca de bens temporais, como fazem entre nós as leis imperiais. Estas foram, em sua maior parte, instituídas por causa dos maus, a fim de que não fizessem nada de ainda pior. Por essa razão, essas leis são apenas leis defensivas ou proibitivas, mais do que leis de ensinamento — como quando Moisés proíbe separar-se de uma esposa com uma carta de divórcio. De igual modo, quando proíbe que um homem expulse sua mulher com uma oferta [de manjares] de ciúmes, ou quando proíbe que tome outras mulheres mais. Leis desse tipo são todas leis temporais.

Algumas, porém, ensinam a respeito do culto exterior, como se disse acima.

A esses dois tipos seguem-se, porém, as leis da fé e do amor. Assim, todas as outras leis precisam e devem ter sua medida a partir da fé e do amor. Onde quer que suas obras aconteçam, elas devem acontecer de tal maneira que não contrariem a fé e o amor. Se, porém, contrariarem a fé e o amor, devem ser simplesmente abolidas.

Por isso lemos que Davi não mata o assassino Joabe, ainda que por duas vezes ele tivesse merecido a morte. E em 2Rs 14 [sc. 2Sm 14.11], ele faz um juramento solene à mulher de Tecoa, dizendo que seu filho não morreria apesar de ter estrangulado seu irmão. De igual modo, ele tampouco mata Absalão; ele, o próprio Davi, comeu do pão sagrado dos sacerdotes em 1Rs 21 [sc. 1Sm 21.6); e Tamar pensa que o rei queria concedê-la em casamento a Amnom, seu meio-irmão. A partir dessa história e de histórias semelhantes, bem se vê que os reis, sacerdotes e maiorais do povo muitas vezes intervieram com vigor na lei, lá onde a fé e o amor o exigiram. Assim, a fé e o amor devem ser os mestres de todas as leis e tê-las a todas em seu poder. Pois visto que todas as leis compelem à fé e ao amor, nenhuma delas deve continuar a valer e a ser lei se colidir com a fé e o amor.

Por essa razão, ainda hoje em dia erram os judeus, e muito, ao manter-se tão rigorosos e rígidos em relação a algumas das leis de Moisés. Eles, muito antes, prefeririam deixar sucumbir o amor e a paz a comer ou beber conosco, ou a fazer qualquer coisa do feitio. Não consideram corretamente a intenção da lei; não obstante, este entendimento é imprescindível para todos que vivem sob as leis, e não somente para os judeus. Pois assim diz também Cristo em Mt 12.11; Lc 14.5, a saber, que se pode violar o sábado se um boi tiver caído numa cova, e se pode ajudá-lo a sair dela, um ato, porém, que somente podia representar uma necessidade e um mal temporais. Quanto mais não se deveria romper energicamente com todos os tipos de lei lá onde a necessidade do corpo o exige, e quando nada de mais acontece que pudesse contrariar a fé e o amor. É como diz Cristo acerca do que fez Davi quando comeu o pão sagrado, Mc 3 [sc. 2.26].

Mas por que motivo Moisés mistura tão desordenadamente as leis? Por que ele não coloca as [leis] temporais em um grupo, as espirituais em um [outro] grupo, e também a fé e o amor em um terceiro? Para que, em dados momentos, ele repete com tanta frequência uma lei, e tantas vezes acentua uma única palavra, tanto assim que logo se torna monótono de ler e de ouvir? Resposta: Moisés escreve do mesmo modo que as coisas se dão, de sorte que seu livro é uma imagem e um exemplo do modo de governo e de vida. Pois, no frigir dos ovos, é justamente assim que acontece que, ora essa, ora aquela obra tem de ser feita. E ninguém consegue ordenar sua vida (se é que ela deve ser de ordem divina) de modo a num dia praticar leis puramente espirituais e em outro, leis puramente temporais. Antes, Deus comanda todas as leis deste modo, misturadas entre si, assim como as estrelas se apresentam no céu e as flores no campo, de sorte que o ser humano deve, a toda hora, estar preparado para cada uma delas e cumprir aquela que primeiro se apresenta diante dele. Assim também o livro de Moisés está misturado.

Mas também nisso, a saber, no fato de que acentua em tão grande medida e tantas vezes repete a mesma e única coisa, está indicada a espécie do ministério [de Moisés]. Pois quem tem de governar um povo com leis sempre terá de freá-lo; sempre precisará açulá-lo e passar trabalho com o povo, como se faz com mulas. Pois nenhuma obra da lei ocorre com prazer e amor, tudo é coagido e forçado. Ora, visto que Moisés é um mestre da lei, ele precisa indicar, com suas [contínuas] exigências, de que maneira as obras da lei são obras coagidas, e fatigar o povo até que este reconheça, por meio desta instigação incessante, a sua enfermidade e desprazer para com a lei de Deus, e busque pela graça, como veremos a seguir.

Em terceiro lugar, a verdadeira intenção de Moisés é a de revelar o pecado por meio da lei, e de causar vergonha a todo o atrevimento das capacidades humanas. Pois é por isso que em Gl 2.17; 3.19 S. Paulo o designa de ministro do pecado, e em 2Co 3.7 designa seu ministério de ministério da morte. E em Rm 3.20; 7.7 ele diz que através da lei nada vem exceto o conhecimento do pecado. E em Rm 3.20,28 que pela obra da lei ninguém se torna piedoso diante de Deus. Pois, através da lei, Moisés não consegue fazer mais do que indicar o que se deve fazer e deixar de fazer. Mas ele não dá a força e a capacidade de fazer e deixar de fazer isso, e assim nos deixa atrelados ao pecado.

Pois, quando ficamos presos ao pecado, a morte se atira sobre nós, como uma vingança e punição pelo pecado. É por essa razão que S. Paulo denomina o pecado o aguilhão da morte (1Co 15.56), querendo dizer que através do pecado a morte acaba possuindo em nós todo seu direito e poder. Mas se não existisse a lei, tampouco existiria pecado algum. Por isso, tudo é culpa do ministério de Moisés; ele atiça e censura o pecado com veemência através das leis, e assim a morte segue-se com violência ao pecado. Por isso, o ministério de Moisés é justificado e corretamente chamado por S. Paulo de ministério do pecado e da morte, pois através de sua concessão de leis ele nada nos traz exceto pecado e morte.

E, no entanto, este ministério do pecado e ministério da morte é bom, e extremamente necessário. Pois onde não existe a lei de Deus, a razão humana em sua totalidade é tão cega que não é capaz de reconhecer o pecado. Isso porque nenhuma razão humana sabe que a descrença e o desespero diante de Deus são pecados; sim, ela não sabe nada quanto ao fato de que se deve crer e confiar em Deus. Assim, ela perece empedernida em sua cegueira e nem mesmo sente mais esse pecado. Enquanto isso, ela faz algumas boas obras e leva uma vida honrada no nível exterior das aparências. Então ela chega a opinar que está em boa situação e que teria estado à altura das exigências da vida, assim como vemos nos pagãos e nos hipócritas, quando estes vivem o melhor que podem. De igual modo, ela tampouco sabe que má inclinação da carne e ódio contra os inimigos é pecado. Porém, porque vê e sente que todas as pessoas são dispostas desta maneira, ela tem isso por uma coisa natural e razoavelmente boa, e opina que é suficiente defender-se apenas exteriormente de tais obras. Assim ela acaba perecendo e considera sua enfermidade uma força, seu pecado algo direito e seu mal algo de bom, sem poder ir além disso.

Nota que é para expulsar essa cegueira e esse atrevimento empedernido que se faz necessário o ministério de Moisés. Só que ele não pode expulsá-los a não ser que os revele e os dê a conhecer. Faz isso por meio da lei, quando ensina que se deve temer a Deus, confiar e crer nele e amá-lo, além de não carregar nem ter nenhum mau desejo ou ódio diante de pessoa alguma. Ora, se a natureza ouve isso bem distintamente, ela tem de apavorar-se, pois, com certeza, ela não encontra em si nem confiança nem fé, nem temor nem amor a Deus. De maneira semelhante, ela tampouco encontra em si amor ou pureza diante do próximo, mas somente mera descrença, dúvida, desprezo e ódio para com Deus, e mera má vontade e um mau desejo para com o próximo. Mas quando ela descobre isso, a morte logo surge diante de seus olhos, quer devorar esse pecador e tragá-lo para dentro do inferno.

É isso que significa impelir a morte sobre nós através do pecado e matar-nos através dele. Isso significa atiçar o pecado por meio da lei e colocá-lo diante dos olhos e, forçosamente, dirigir todo nosso atrevimento a um [simples] hesitar, tremer e desesperar. Aí, então, o ser humano nada mais pode fazer exceto clamar com o profeta: Fui rejeitado por Deus; ou, como se diz em alemão, Sou do diabo, jamais poderei alcançar a bem-aventurança. É isso que significa ir para o inferno. Com breves palavras é o que quer dizer S. Paulo em 1Co 15.56: O aguilhão da morte é o pecado, mas a força do pecado é a lei. É como se quisesse dizer que a morte apunhala e nos estrangula, é efeito do pecado que em nós se encontra [e nos torna] culpáveis de morte. Mas o fato de que o pecado é encontrado em nós e que tão poderosamente nos entrega à morte, resulta da ação da lei, a qual nos revela e ensina a reconhecer o pecado, ao passo que antes não o conhecíamos e estávamos seguros.

Vê, ainda, com que força Moisés leva adiante e executa esse seu ministério. Pois com o fim de envergonhar em grau máximo a natureza, ele não somente concede as leis que falam de pecados naturais e verdadeiros, como os dez mandamentos que aí estão, mas também faz pecado aquilo que por natureza não é pecado algum, urgindo e compelindo a natureza com uma multidão de pecados. Pois a descrença e o mau desejo são, por sua própria constituição, pecado e dignos da morte. Mas que não se deva comer pão fermentado na Páscoa, nem comer carne de animal impuro, nem fazer sinal algum no corpo, nem fazer tudo o mais que o sacerdócio levítico cria em termos de pecados, isso por si só não é pecado e nem é mau, mas somente se torna pecado pelo fato de ser proibido pela lei, uma lei que bem poderia faltar. Mas os dez mandamentos não podem sumir da mesma maneira, pois, nesse caso, existe pecado, ainda que não houvesse

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