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          Exmo. Sr.

Presidente da Assembleia da República

Exmo. Sr. Primeiro­ Ministro

Exma. Sra. Ministra da Educação

Exmo.Sr.Presidente do Conselho Executivo

Exmos.Srs.Coordenadores de Departamento

Exma. Comissão de Avaliação

Os   professores   da   Escola   Secundária   Dom   Manuel   Martins,   abaixo 

assinados, vêm, por este meio, tomar posição no que respeita à situação que 

passam a expor. 

Não é possível pensar a acção educativa sem conceber a sua avaliação, 

quer se trate dos alunos, dos docentes ou, de um modo geral, de todos os 

profissionais envolvidos no fenómeno do ensino e da aprendizagem. Como 

qualquer actividade humana, a educação está sujeita às mudanças que se vão 

operando   no   seio   das   sociedades,   estruturadas   em   paradigmas   que   variam 

consoante   as   épocas.   Do   mesmo   modo,   os   pressupostos   subjacentes   ao 

conceito de avaliação, bem como os instrumentos pelos quais esta se actualiza, 

devem ser continuamente revistos, numa perspectiva formativa, construtiva, de 

modo a poder dar uma resposta adequada às exigências que as sociedades 

modernas hoje nos colocam em termos dos padrões de conhecimento.

             Avaliar e ser avaliado sempre foram dois aspectos indissociáveis da 

condição   de   professor.   Olhando   para   trás,   ao   longo   das   várias   reformas 

educativas, a avaliação foi um direito que, de alguma maneira, foi negado aos 

professores, na medida em que todo o empenho, profissionalismo, dedicação e 

qualidade científica que muitos deles sempre puseram no seu trabalho foram 

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submersos   na   mediania   igualitária   –   não   necessariamente   justa   –   de   uma 

menção de Satisfaz.

             Vivemos   um   tempo   de   mudança.   Sabemos   que   qualquer   mudança 

digna desse nome provoca sempre alguma instabilidade, encontra resistências, 

causa apreensões. Daí a necessidade e a importância de debater as questões 

em   profundidade,   de   pensar   em   conjunto   sobre   os   problemas,   de   tentar 

perceber a fundamentação dos pressupostos e operacionalizar os modos da sua 

articulação à prática.

            Numa altura em que o modelo de avaliação de desempenho do pessoal 

docente está a ser posto em prática à revelia de toda uma classe, não porque os 

profissionais   rejeitem   ser   avaliados,   mas   porque   exigem   uma   avaliação 

construtiva, não burocrática, que não perca de vista o objectivo principal da 

acção educativa – os alunos e as suas aprendizagens ­ e que não transfira para 

os profissionais do sistema o ónus das fraquezas desse mesmo sistema, urge 

PARAR PARA REFLECTIR.

Está claro para a classe docente que este modelo de avaliação é um 

modelo  atabalhoado,  desajustado,  burocrático,  anti­ecológico  – pense­se  na 

quantidade de árvores que vai ser necessário abater para produzir pasta de 

papel   suficiente   para   todas   as   evidências,   grelhas,   fichas   que   o   modelo 

comporta e obriga – que obriga os professores a desdobrarem­se em múltiplas 

tarefas   cuja   finalidade   não   está   sob   a   sua   alçada   mas   pertence, 

definitivamente, à esfera do governo que para tal foi democraticamente eleito 

pelos   cidadãos   aos   quais   prometeu   as   metas   que   agora   tenta,   por   decreto, 

afectar aos professores.

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             É   óbvio   para   qualquer   pessoa   e,   principalmente,   para   aqueles   que 

vivem, por dentro, a realidade de uma escola ou tutelam essa realidade, que o 

combate   ao   insucesso   e   ao   abandono   escolares   não   são   da 

responsabilidade dos docentes, enquanto indivíduos, mas da escola como 

um todo e do sistema educativo em que se alicerça.

            Também o professor não está no terreno a defender pontos de vista 

ou   posicionamentos   individuais;   faz   parte   do   todo   e   a   sua   autonomia 

esgota­se no cumprimento dos programas e dos curricula delineados pelo 

Ministério da Educação. Logo, não lhe cabe a ele definir objectivos.  Os 

objectivos de todos os docentes estão definidos, à partida, são comuns a todos 

os   professores   e   passam,   indiscutivelmente,   pelo   sucesso   dos   seus   alunos. 

Porém,   não   está   na   sua   mão   garantir   resultados.   Há   todo   um   conjunto   de 

factores ­ como o meio onde a escola está inserida, a situação sócio económica 

dos agregados familiares, a cultura de hábitos de trabalho ou a ausência dela, a 

falta de expectativas de alunos e encarregados de educação, o papel atribuído 

à escola na formação dos jovens, vista por alguns como um espaço natural de 

aquisição de competências e saberes e por muitos como o local onde deixar as 

crianças e os jovens durante as horas de expediente ­ que não dependem do 

professor mas são resultado de anteriores políticas educativas e económicas e 

de que todos, professores, alunos e a sociedade em geral, sofremos os efeitos.

            Estes factores suscitam, igualmente, outras tantas questões:

1. Nunca   antes   houve,   em   Portugal,   uma   avaliação   respeitante   à 

implementação das várias políticas educativas de sucessivos governos. 

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Porquê,   agora,   imputar   aos   professores   a   responsabilidade   dos   erros 

dessas mesmas políticas?  
2. Por   que   motivo   a   “culpa”,   nas   palavras   da   Senhora   Ministra,   do 

insucesso dos alunos tem de ser, necessária e exclusivamente, atribuída 

aos professores?  
3. Que   responsabilidade   têm   os   professores   na   decisão   de   algumas 

famílias de retirarem os jovens da escola para, assim, poderem fazer 

face a uma situação económica desfavorável?  
4. Por que razão os professores têm de se comprometer, no início de cada 

ano lectivo, com metas que, desde logo, não dependem só de si, como a 

melhoria dos resultados dos alunos e a diminuição da taxa de abandono 

escolar?  
5. Numa   lógica   empresarial   de   desempenho   por   objectivos,   como   se 

depreende dos diplomas emanados do Ministério da Educação, estando 

envolvidas no processo três entidades distintas – professores, alunos e 

encarregados de educação – por que motivo só aos primeiros se exige 

deveres e se cobra resultados?  
6. Qual a justiça de um modelo de avaliação de desempenho, ADD, que 

obriga   o   trabalhador,   neste   caso   os   professores,   a   despenderem 

inúmeras horas, para além das 35 consagradas nos seus horários, em 

tarefas   burocráticas   ou   extra   curriculares,   umas,   de   formação   e 

investigação, outras, que não são contabilizadas, ou sequer pagas, mas 

que contribuem, perversamente, para a sua avaliação?  

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7. Qual a lógica de um modelo de avaliação docente que:  

. avalia do mesmo modo professores em início, meio e final de carreira?

. não respeita a especificidade da área de especialização de cada docente?

.   não   melhora   a   qualidade   de   ensino   e   não   valoriza   profissionalmente   os 

professores? 

.   não   contempla   a   actualização   pedagógico­científica   dos   docentes   – 

preparação de aulas, formação profissional , etc. – ou o seu investimento em 

formação pós­licenciatura?

. não dá formação, ou fá­lo tardiamente, e apenas a alguns, dos intervenientes 

no processo?

. impõe quotas quanto à atribuição das menções qualitativas, de acordo com o 

despacho 20131/2008, condicionando, à partida, os resultados da avaliação e 

comprometendo a sua imparcialidade?

             Num processo normal, bem pensado, bem planeado e minimamente 

credível, deveria ter havido um tempo previamente estabelecido para reflexão 

e   debate   dos   objectivos   da   avaliação,   dos   diplomas   que   lhe   conferem 

enquadramento   legal   bem   como   dos   instrumentos   que   a   servem.   Tal   não 

aconteceu e o processo foi imposto unilateralmente.  

             Em   conclusão,   é   necessário   reformular   este   modelo   de   avaliação, 

dando­lhe sentido, credibilidade e eficácia e reparando as injustiças que os 

diplomas legais impostos pelo Ministério da Educação consagram.
(adaptação do texto produzido pelos colegas da Escola Secundária /3 Camilo Castelo
Branco, de Vila Real)

Setúbal, 23 de Outubro de 2008

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