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Características estilísticas
Submissão da expressão ao conteúdo: a uma ideia perfeita corresponde
uma expressão perfeita;
Forma métrica: ode;
Estrofes regulares em verso decassílabo alternadas ou não com
hexassílabo;
Verso branco;
Recurso frequente à assonância, à rima interior e à aliteração;
Predomínio da subordinação;
Uso frequente do hipérbato;
Uso frequente do gerúndio e do imperativo;
Uso de latinismos ( atro, ínfero, insciente,...);
Metáforas, eufemismos, comparações;
Estilo construído com muito rigor e muito denso;
Ricardo Reis
• Contemplativo (observa);
• Racional (conclui resignando-se);
• Clássico:
equilibrio
linguagem
forma
• Horaciano
“aurea mediocritas”
“carpe diem”
ode
• Pagão
Crença nos deuses/Fado (destino)
crença na presença divina das coisas
• Estoico-epicurista
Estoicismo
○ supremacia nos Deuses e no Fado
○ aceitação voluntária das leis do universo (ilusão de liberdade)
○ ideal de apatia (indeferença)
Epicurismo
○ procura a felicidade moderada (= ausência de sofrimento)
○ ideal de ataraxia (indiferença)
○ “carpe diem”
Apesar deste prazer que procura e da felicidade que deseja alcançar, considera
que nunca se consegue a verdadeira calma e tranquilidade, ou seja, a ataraxia
(tranquilidade). Sente que tem de viver em conformidade com as leis do destino,
indiferente à dor e ao desprazer, numa verdadeira ilusão da felicidade.
"O poema "Prefiro rosas..." de Ricardo Reis, como outros deste heterónimo de Fernando Pessoa, é marcado por temas
fortes e constantes da sua obra. Nomeadamente observamos, quase de imediato, a atitude expectante perante a vida, a
resignação e a nobreza de espectador perante a realidade que se desenrola perante os seus olhos.
Heterónimo clássico por definição, Reis tem de Pessoa toda a sua disciplina mental, incorporando quase em ícone um
classicismo perfeito, quer na forma quer no conteúdo dos seus poemas. Terá surgido a Pessoa como contraposição ao
futurismo, representando em teoria uma perfeita imagem do passado no presente - um verdadeiro poeta neoclássico.
Por ser clássico Reis traz uma atitude contemplativa da vida, mas que já não é ingénua como a de Caeiro. Reis é um
homem perturbado e a sua aceitação, a sua ataraxia é uma aceitação muito menos pacífica. Por isso podemos dizer
que Reis vê na sua atitude perante a vida uma decisão nobre e não apenas uma necessidade, embora esta última
perspectiva seja também essencial para o compreender.
Reis sabe que é diferente da Natureza e está revoltado com isso, em vez de, como Caeiro, procurar a proximidade com
as coisas. Afasta-se para dentro e encontra nesse afastamento a razão de viver. Austero e contido, ele é - usando
palavras de Jacinto do Prado Coelho - civilizado, na beleza do artificio e na prática constante e perfeccionista da Ode.
Esta indiferença, aceitação da vida, recusa do esforço ou do compromisso - tudo isto encontramos nesta Ode que
analisamos agora.
"Prefiro rosas, meu amor, à pátria, / E antes magnólias amo / Que a glória e a virtude." - Reis demite-se da vida, e
prefere as flores à realidade. Não é em vão que Reis clama pelas rosas ao iniciar este poema. As rosas, para os Gregos
representam um ideal estético por excelência e opõe-se eficazmente à realidade crua e dolorosa da vida imposta. Estas
flores, sobretudo as rosas, são um símbolo da contraposição entre o ideal estético nobre do poeta face à obrigação de
viver. Efémeras e belas, as flores não prolongam a dor. Reis prefere as rosas (símbolo do amor), mas ama as
magnólias (símbolo da nobreza).
"Logo que a vida me não canse, deixo / Que a vida por mim passe / Logo que eu fique o mesmo." - marcada
indiferença pela vida, um leit motif de Reis ao longo de todas as suas odes. A vida ao passar, deixa-o na margem do
rio, do mesmo rio onde ele se senta com Lídia, apenas a observar. Ser alheio, ser estrangeiro é a forma de Reis se
proteger da dor, mesmo que assim tenha de se proteger da vida. De notar também aqui os traços clássicos ("Logo que
a vida" e "Que a vida").
"Que importa àquele a quem já nada importa / Que um perca e outro vença, /
Se a aurora raia sempre," - o ritmo morto do poema sugere isto mesmo, que Reis está indiferente à vida, às tribulações
e movimento, em favor de um "quietismo" assustador, mas ao mesmo tempo mágico e infinito. Para além do homem e
das suas preocupações, afinal está o destino e a natureza. Tudo se move e acontece mesmo sem as nossas acções e o
egoísmo (de quem vence ou perde) dilui-se no momento.
"Se cada ano com a primavera / As folhas aparecem / E com o Outono cessam?" - eis o reforço do que dizíamos antes.
Os ritmos incessantes da natureza. Da primavera (símbolo da renovação) e do Outono (símbolo da negatividade e do
fluir do tempo).
"E o resto, as outras coisas que os humanos / Acrescentam à vida, /
Que me aumentam na alma?" - o que os homens acrescentam à vida opõe-se ao que é natural, às flores de gosto
clássico. O passar pela vida sem a modificar opõe-se também à mudança, ao que os homens acrescentam à vida.
A interrogação retórica de Reis fica no ar e leva-nos de novo à pátria (em minúsculas, diminuída), à glória e à virtude
- "as outras coisas".
"Nada, salvo o desejo de indiferença / E a confiança mole / Na hora fugitiva." - responde Reis à sua própria
interrogação. As coisas da vida trazem-lhe apenas indiferença. Reis espera apenas pela "hora fugitiva", pelo passar do
tempo, e fica sereno, sempre igual.
Veja-se agora como é curioso todo o poema. Reis dirige-se a alguém (ao seu amor), mas fala como a um confidente,
de maneira calma e solitária. Como se quem o ouvisse não existisse, senão na sua concepção ideal. Até a maneira
como o vocativo está intercalado no verso 1 é clássica, fria, formal. Reis fala, mas é como se falasse consigo mesmo,
não conseguindo quebrar a barreira que o impede de se encarar o exterior. Esta contemplação, sinal do seu
epicurismo, não permite comunicação sincera, nem laços emocionais.
Estilisticamente o poema constitui-se por 6 estrofes isomórficas, com um verso decassílabico e dois hexassílabos
cada. Os versos são brancos, sem rima, uma marca também de Reis, que lhe advém da influência Horaciana."
• EPICURISMO
- Busca da felicidade
- Moderação dos prazeres
- Fuga à dor (aponia)
- Ataraxia (tranquilidade capaz de evitar a perturbação)
• ESTOICISMO (conformismo)
- Aceitação das leis do destino (apatia)
- Indiferença face às paixões e à dor
- Abdicação de lutar
- Auto disciplina
• HORACIANISMO
- Carpe diem: vive o momento
- Aure mediocritas: a felicidade possível está na natureza
• PAGANISMO
- Crença nos deuses
- Crenças na civilização da Grécia
- Intelectualização das emoções
- Medo da morte
• NEOCLASSICISMO
- Poesia construída com base em ideias elevadas
- Odes
Características estilísticas