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Josué de Castro
nasceu no Recife,
no ano de 1908.
Formado em Medicina,
dedicou todas as suas
energias em prol da
construção de um mundo
livre da mais cruel e
aviltante calamidade social:
a Fome.
Condenou com veemência
a conspiração de silêncio que,
na mídia, nas academias, e
nos parlamentos, teimava
em não abordar a questão
da fome no país.
A inserção da temática da
fome no panorama político,
científico e moral no Brasil
deve-se aos seus
incansáveis esforços.
A seu respeito, afirmou
Darcy Ribeiro:
Influente médico,
professor, sociólogo,
escritor, intelectual,
humanista, ativista
brasileiro, nordestino,
humano.
Para marcar o centenário
de seu nascimento,
o “Jornal do Commercio”,
do Recife, veiculou um
caderno especial chamado
“Feridas Abertas da Fome.”
A reportagem seguiu
os caminhos da fome
baseando-se em estudos
e mapas elaborados,
há cinqüenta anos, pelo médico
e geógrafo Josué de Castro.
Uma equipe formada
pelo fotógrafo Arnaldo
Carvalho, pela repórter
Ciara Carvalho, e pelo
motorista Reginaldo Araújo
rodou quase dez mil
quilômetros, em 15 dias,
pelos nove estados do
Nordeste do Brasil.
Uma equipe formada
pelo fotógrafo Arnaldo
Carvalho, pela repórter
Ciara Carvalho, e pelo
motorista Reginaldo Araújo
rodou quase dez mil
quilômetros, em 15 dias,
pelos nove estados do
Nordeste do Brasil.
O que eles testemunharam,
- o seu contato com
as pessoas “invisíveis” aos
olhos da nossa sociedade -,
demonstra que ainda
temos um longo
caminho a percorrer
até a realização dos ideais
de Josué de Castro.
O fotógrafo Arnaldo
Carvalho relata:
Sertão nordestino
Setembro de 2008
Serra do Cafundó, CE
Ouricuri, PE
Ouricuri, PE
Ipubi, PE
Marta, jovem mãe,
moradora da Vila dos Costas,
distrito de Natura, Paraíba,
recebe a equipe do jornal
na desolação de seu lar.
A fome de seus filhos,
somada à sua própria fome.
Fome de comida, de esperança,
de dignidade...
No seu povoado, Vila dos Costas,
as famílias vivem como refugiados.
As terras onde moravam foram
inundadas pela barragem de Acauã.
O governo levantou as casas
no endereço novo,
mas se esqueceu de levar
dignidade para a nova morada.
Quando a reportagem pede para conhecer
a cozinha de sua humilde casa,
descobre que no armário de duas portas
tudo o que tem é resto.
Restos de fuba, de sal e
um pacote aberto de açúcar.
O arroz e o feijão
acabaram há uma semana.
A mulher forte, com um jeito discreto,
quase cabreiro, que cria sozinha os filhos
e ainda cuida de dois sobrinhos,
já ao final da visita da equipe de
reportagem, desaba num choro incontido
que a todos impressiona.
O choro de Marta, nos relata o fotógrafo,
não é um choro de humilhação,
de resignação, de tristeza
por não ter o que comer.
De quem aceita o destino
porque assim Deus quis.
O seu choro não é senão
um choro-explosão, um choro-revolta,
um choro de indignação
e de vergonha porque
assim o homem quis.
Marta Maria da Silva, 28 anos,
é analfabeta e parece ter a exata
consciência de que o flagelo da fome,
imposto a ela e aos seus três filhos,
não é obra divina. E sim humana.
Coisa do homem contra o homem.
Essa noite
sem remédio,
Serra do Cafundó, CE
Essa eterna
espera sem fim...
O tempo passa
igual para todos,
mas não os
seus efeitos.
O peso de um dia
é mais severo
para uns do que
para outros.
Algumas pessoas
passam por tanto
infortúnio nas
suas vidas que
não estariam
mentindo acaso
dissessem:
Tenho morrido
muitas vezes.
Tenho morrido
mil mortes...
Quanto tempo
ainda levará até
que aprendamos
a ler nos olhares
aquilo que não
se traduz por
palavras?...
Em quinze dias,
a equipe de reportagem
percorreu quase dez mil
quilômetros,
pelos nove estados do
Nordeste do Brasil.
Quatorze milhões
de bocas incertas da
comida de amanhã.
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Em especial com a classe política,
com governantes e dirigentes.
De modo que, quando entre uma CPI e outra
no conforto de seus gabinetes estiverem,
ao menos saibam da existência
das vidas aqui relatadas:
A Maria que espera,
a Marta que chora.
A pequena Ana Vitória,
que, quando em breve começar
a dar os
seus primeiros passos...,
...haverá de tatear seu caminho pelo mundo,
uma vez que a fome lhe secou os olhos
ainda criança pequenina.
As desigualdades sociais se tornaram
tão cruelmente excludentes
que aqueles que vivem à margem da sociedade,
por falta da mínima instrução, e devido à luta
diária que travam pela sobrevivência,
Uma longa e
penosa espera.
Por trás das frias
estatísticas oficiais que
camuflam a verdade,
Existem tragédias
particulares que se
perdem na frieza
dos números.
As emboscadas das
estatísticas oficiais
revelam com pompa
as melhoras econômicas
e sociais,
mas escondem
e não fotografam
os rostos daqueles que,
a despeito de tudo,
ainda sobrevivem do lado
mais rasteiro dos gráficos.
14 milhões
de brasileiros.
Por quanto tempo ainda
ignoraremos os nossos
irmãos castigados pela
miséria e pela fome?
Aquele cujo coração
se dispõe a ajudar
encontrará os meios
necessários.
O programa apenas
alcançará os seus objetivos
com a participação da
sociedade.
Para os que queiram
ajudar, há também a aridez
das condições de vida de
tantas e tantas crianças
nas periferias de
toda cidade grande...
Serra do Cafundó, CE
Se cada um de nós cuidar
dos interesses da nossa
família biológica apenas,
as crianças necessitadas
jamais conseguirão se
levantar do chão.
a Mim o fizestes.”
Bíblia Sagrada,
Novo Testamento
Quem ama
não mata, não humilha.
Quem ama socorre,
ampara...
Frágeis corpos modelados pela fome.
Crianças que falam a nossa língua,
mas que habitam um mundo tão distante.
O mundo da exclusão,
da espera, da resignação, da fome...
Sempre que o amor e a justiça
se fazem ausentes...
...resta a desolação,
a seriedade precoce impressa nos olhares.
A indisfarçada vergonha dos que,
sentindo fome, não têm o que comer.
Um punhado de farinha
de mandioca ralada.
Mais uma noite, seguida
por outro dia igual.
Dores caladas.
Olhares que pedem
esperança, dignidade...
Que a espera por
aquilo que sacia
a fome,
e que concede
a dignidade,
possa ser breve...
Tema musical: Sonata ao Chiado Antigo,
de Silvestre Fonseca
Formatação: um_peregrino@hotmail.com
O programa “UNICEF e o Semi-árido Brasileiro”
conta com o apoio e as doações de particulares.
As quantias recebidas são destinadas à melhoria das
condições de vida (alimentação, saúde,
educação) das crianças do Nordeste
Para saber mais sobre o programa
“UNICEF e o Semi-árido Brasileiro”, e sobre como
ajudar, escreva para: semiarido@unicef.org.br
ou futurocrianca@unicef.org
Um outro mundo é possível.
“Mudar é difícil,
Mas não é impossível.”
Paulo Freire
“Não te deixes desiludir pelo
mundo que te cerca.