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Caderno Nº3
- EDITORIAL
- COMITÉS SYNDICALISTES
REVOLUCIONAIRES
- SINDICALISMO E
MOVIMENTOS
SOCIAIS
- POR UM NOVO
ASSOCIATIVISMO
AMBIENTAL
Cadernos "LUTA SOCIAL"
Critérios para Publicação Declaração de Princípios
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ENTREVISTA COM MILITANTES FRANCESES DOS
COMITÉS SYNDICALISTES RÉVOLUTIONAIRES
Luta Social : Como definis a vossa Luta Social: Qual é a proporção de jovens, de
organização ? trabalhadores precários, de
desempregados ?
Nós reivindicamo-nos da corrente
sindicalista revolucionária histórica. Esta A nossa organização está sobretudo
corrente começou por existir sob forma da activa nas Uniões Locais da CGT e na
Federação das Bolsas do Trabalho em juventude. Temos portanto uma forte
1892. Estas Bolsas do Trabalho
proporção de camaradas e de
organizavam as lutas operárias locais
numa base interprofissional. Mas estas simpatizantes precários (trabalhadores
estruturas também estavam muito activas temporários, contratados a prazo,
nas estruturas geridas pelos socialistas empregos precários do sector público).
integradas nas Bolsas do Trabalho : Estamos bem mais capazes de organizar
colocação de trabalhadores os jovens trabalhadores, visto que
desempregados, sociedades de socorro
defendemos a criação de sindicatos de
mútuo (subsídios de desemprego, de
doença, de acidentes de trabalho, de indústria que permitam sindicalizar os
reforma …), cooperativas de produção e precários e os trabalhadores das pequenas
de distribuição, centros de saúde, teatros e empresas.
actividades culturais, desporto operário,
escolas profissionais… Luta Social : Qual é o papel das lutas
sindicais e de classe, hoje em dia ?
A Federação das Bolsas do Trabalho
integrou-se, em seguida, na CGT, em Para nós não se trata de multiplicar as
1902. Desde essa data esta confederação lutas sectoriais mas de favorecer as
funciona sobre duas bases : as Uniões convergências interprofissionais.
Locais (Bolsas do Trabalho) e os
sindicatos de indústria. Recusamos os desvios localistas ou
corporativistas, assim como o activismo
Em 1914, a corrente SR perdeu a maioria de tipo esquerdista. O verdadeiro desafio é
na CGT, o que motivou a criação de uma de organizar os trabalhadores no seu
tendência SR : os Comités Sindicalistas sindicato a fim de desenvolver a formação
Revolucionários. Nós reconstituímos essa e as capacidades de gestão de um máximo
tendência em 1997 principalmente no seio de trabalhadores. Esta gestão operária
da CGT mas também na Confederação prepara as condições para a apropriação
«Solidaires» (SUD), na CNT e na CGT- da sociedade pelos sindicatos.
FO.
Uma das nossas actividades principais é
Nós defendemos o programa histórico da portanto de garantir a formação dos
CGT resumido na Carta de Amiens. sindicalizados, nas confederações onde os
nossos militantes têm responsabilidades
neste domínio, mas também enquanto
CSR.
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ENTREVISTA COM MILITANTES FRANCESES DOS
COMITÉS SYNDICALISTES RÉVOLUTIONAIRES
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ENTREVISTA COM MILITANTES FRANCESES DOS
COMITÉS SYNDICALISTES RÉVOLUTIONAIRES
Luta Social : Como definis a vossa Luta Social: Qual é a proporção de jovens, de
organização ? trabalhadores precários, de
desempregados ?
Nós reivindicamo-nos da corrente
sindicalista revolucionária histórica. Esta A nossa organização está sobretudo
corrente começou por existir sob forma da activa nas Uniões Locais da CGT e na
Federação das Bolsas do Trabalho em
juventude. Temos portanto uma forte
1892. Estas Bolsas do Trabalho
organizavam as lutas operárias locais proporção de camaradas e de
numa base interprofissional. Mas estas simpatizantes precários (trabalhadores
estruturas também estavam muito activas temporários, contratados a prazo,
nas estruturas geridas pelos socialistas empregos precários do sector público).
integradas nas Bolsas do Trabalho : Estamos bem mais capazes de organizar
colocação de trabalhadores os jovens trabalhadores, visto que
desempregados, sociedades de socorro
defendemos a criação de sindicatos de
mútuo (subsídios de desemprego, de
doença, de acidentes de trabalho, de indústria que permitam sindicalizar os
reforma …), cooperativas de produção e precários e os trabalhadores das pequenas
de distribuição, centros de saúde, teatros e empresas.
actividades culturais, desporto operário,
escolas profissionais… Luta Social : Qual é o papel das lutas
sindicais e de classe, hoje em dia ?
A Federação das Bolsas do Trabalho
integrou-se, em seguida, na CGT, em Para nós não se trata de multiplicar as
1902. Desde essa data esta confederação lutas sectoriais mas de favorecer as
funciona sobre duas bases : as Uniões convergências interprofissionais.
Locais (Bolsas do Trabalho) e os
sindicatos de indústria. Recusamos os desvios localistas ou
corporativistas, assim como o activismo
Em 1914, a corrente SR perdeu a maioria de tipo esquerdista. O verdadeiro desafio é
na CGT, o que motivou a criação de uma de organizar os trabalhadores no seu
tendência SR : os Comités Sindicalistas sindicato a fim de desenvolver a formação
Revolucionários. Nós reconstituímos essa e as capacidades de gestão de um máximo
tendência em 1997 principalmente no seio de trabalhadores. Esta gestão operária
da CGT mas também na Confederação prepara as condições para a apropriação
«Solidaires» (SUD), na CNT e na CGT- da sociedade pelos sindicatos.
FO.
Uma das nossas actividades principais é
Nós defendemos o programa histórico da portanto de garantir a formação dos
CGT resumido na Carta de Amiens. sindicalizados, nas confederações onde os
nossos militantes têm responsabilidades
neste domínio, mas também enquanto
CSR.
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ENTREVISTA COM MILITANTES FRANCESES DOS COMITÉS SYNDICALISTES
RÉVOLUTIONAIRES
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No entanto, queremos que esta adesão seja Luta Social : Qual é a vossa análise
acompanhada de um debate com o IWW, sobre Portugal e o movimento sindical
pois somos críticos em relação a português ?
elementos de táctica e de organização
interna dos IWW. Pensamos que não pode A situação sindical portuguesa parece-nos
muito mais simples que a que
haver apenas um único esquema de
organização dos SR ao nível internacional. encontramos em França. Existem duas
Nalguns países, é possível que se confederações, uma que se diz luta de
justifique criar sindicatos IWW classes e a outra que se gaba da
autónomos. Mas em muitos países colaboração com a burguesia.
existem já confederações onde os SR De facto, a história do sindicalismo
podem agir para o reforço dos sindicatos português é relativamente próxima do que
de indústria e das Uniões Locais. Criar encontramos em França, apesar de que a
sindicatos IWW seria totalmente artificial ditadura salazarista teve um verdadeiro
em França e iria cortar-nos da grande impacto. Com efeito, a [antiga] CGT
portuguesa é uma das confederações que
massa dos sindicalizados. No nosso país,
foi mais longe na imitação do modelo da
o sindicalismo revolucionário está ligado CGT francesa. Isto foi assim no início do
à CGT e a batalha interna não pode ser século XX, quando os sindicalistas
abandonada. revolucionários portugueses se inspiraram
largamente nos seus camaradas franceses
Criar um sindicato novo pode parecer no que diz respeito à estruturação sindical
reconfortante mas no final sacrifica-se (sindicatos de indústria, Bolsas do
frequentemente a formação dos aderentes Trabalho, Juventudes Sindicalistas…).
e se concentram as atenções na construção
de um novo aparelho que repousa sobre Isto também aconteceu no que respeita à
viragem de muitos SR para o PC, tendo a
forças militantes reduzidas e que está
França servido de exílio durante a
sujeito, portanto, a derivar em pequena ditadura. O CSR português foi criado em
burocracia. Para se construir verdadeiras 1923 sobre o modelo do CSR francês de
UL e sindicatos de indústria, é necessário 1919. Depois, o PC português inspirou-se
aderentes numerosos e militantes. da experiência da CGT estalinista francesa
para implantar um modelo sindical
Em França, constatamos o fracasso da bastante parecido em Portugal.
CNT e de SUD por estas razões. Estas
experiências devem servir para que Com todos estes elementos, pensamos que
noutros países os mesmos erros não se as nossas experiências respectivas na
reproduzam. CGTF e na CGTP devem ser debatidas e
dadas a conhecer para melhorarmos a
nossa intervenção sindical.
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Luta Social : Como podemos contribuir revolucionária inserida nas lutas. Depois é
mais activamente para a unidade de muito mais fácil usar a nossa formação e o
classe dos trabalhadores, aos níveis nosso material para propor análises nas
local, regional e internacional. AG de sindicatos. Seria irrealista crer que
a situação actual permite construir
Os nossos militantes participam desde há
sindicatos de massa, revolucionários. É
15 anos em toda uma série de encontros preciso primeiro redefinir um projecto de
internacionais das redes sindicais sociedade e uma estratégia que lhe esteja
alternativas e de influência libertária. associada e isto ainda não pode ser
Infelizmente, estas reuniões serviram, realizado no seio de uma organização de
sobretudo, a produzir textos de princípios massas, devido á ausência de formação
com uma dimensão muito afinitária. Com política da grande maioria dos
excepção de uma verdadeira coordenação sindicalizados. É esta a função que
de 4 ou 5 sindicatos ferroviários (CGT de atribuímos a organizações SR activas
Espanha, SUD, sindicatos de base enquanto tendências em confederações
italianos, RTM britânico…) estes sindicais. Esta estratégia será tanto mais
encontros não deram em grande coisa, fácil de elaborar quanto nós
excepto em fazer crer que existe uma conseguirmos, no seio da IWW, a
verdadeira actividade internacional. colectivizar o trabalho de reflexão.
Pensamos, pelo contrário, que o
A unidade internacional deve portanto ser
movimento sindical internacional deve se
reconstruir a partir de actividades de ramo levada a cabo a dois níveis : coordenar as
de indústria à escala internacional, actividades nos sindicatos de indústria,
coordenando sindicatos nas mesmas com os nossos sindicatos, mas também
multinacionais e nos mesmos sectores elaborar uma estratégia anti-capitalista
profissionais. É também a este nível que graças à existência de organizações que
podemos tecer laços entre sindicatos dos agrupam militantes sindicalistas
países de emigração e dos países de
revolucionários.
imigração.
Por isso, convidamos todos os militantes
No que diz respeito á dimensão anti- favoráveis ao sindicalismo revolucionário,
capitalista, é preciso ter em conta a independentemente das suas filiações
situação de recuo que nós sofremos desde filosóficas, a se reunirem no seio de uma
uma trintena de anos, na maioria dos única organização internacional para
países. Os sindicatos não estão em estruturar essa actividade comum.
situação de se apropriar de uma estratégia [traduzido por MB para o Luta Social]
anti-capitalista, pois os militantes
sindicais têm de se concentrar
constantemente em lutas defensivas. É
Internet : http://www.syndicaliste.fr/
neste quadro concreto que os SR devem
intervir com o objectivo de elaborar
colectivamente, entre militantes
revolucionários motivados, uma estratégia
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Sindicalismo e Movimentos Sociais
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“comissões de base”. Tais genericamente por “CUT pela Base”,
posicionamentos afastavam o grupo que que defendia as teses ainda do estatuto
formou a CUT ainda mais do que, em provisório de 1983, foi derrotada e a
1986, criou a CGT. Assim, a opção da burocracia sindical ganhou, por assim
nascente central sindical colocava-a na dizer, definitivamente a Central Única
linha direta de sucessão da tradição dos Trabalhadores.
sindicalista revolucionária dos
primeiros anos do século XX, não Finalmente, com a vitória eleitoral de
apenas no Brasil como na França, EUA Lula, em 2002, a CUT, que havia se
e outros países em igual período. transformado na maior central sindical
Segundo Leôncio Martins Rodrigues: do país, passou a identificar sua política
“Esses pontos de contato podem ser com as diretrizes defendidas pelo novo
encontrados na valorização do sindicato governo. Um claro desdobramento da
como um instrumento de mudança tese vitoriosa em 1988 e que, por conta
social, na defesa de sua autonomia da fatídica associação, tornou mais
frente aos partidos políticos, na idéia da didático, portanto mais evidente, o
construção de um sindicalismo ‘de acelerado grau de burocratização da
base’, agressivo, sem burocracia, entidade de classe.
desprezando a atuação partidária,
política e parlamentar e exaltação da
ação direta e o conflito, vendo a greve
geral como principal arma do
trabalhador”.
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postulados puramente economicistas, pode se perder com impressionante
encarando o governo como um velocidade. Seus métodos acabam por
interlocutor legítimo, uma instância reforçar muito mais o campo do
imprescindível e fundamental na ativismo sindical – importante de fato,
resolução dos problemas. Via de regra, entretanto insuficiente – ao investirem
tentam fazer entender à base que a exclusivamente na reação às medidas
função do órgão de classe é, na sua governamentais. Agem, dessa forma,
essência, pôr em entendimento os estimulados pelas agendas eleitorais e
“interlocutores naturais” – políticas do Estado, ainda que em
governo/patrão e trabalhador – que, por oposição a elas. Assim, a despeito da
uma falha na dinâmica do diálogo, estão forma, no conteúdo orientam-se pela
em posição de oposição provisória. luta imediata, sem referências claras na
Mesmo invocando no campo da retórica própria classe, uma vez que o acúmulo é
imagens tradicionalmente esposadas insuficientemente utilizado para
pelo campo socialista, o que fazem, no formular um projeto de autonomia e
mais das vezes, é re-significar o emancipação definitiva dos
conteúdo das lutas dos trabalhadores em trabalhadores. Ancorados no que é
favor da conciliação de classe. Neste apenas visível, ou seja, as necessidades
caso, as vantagens para a categoria, imediatas, esquecem do que é desejável,
obtidas ou não na ação sindical, passam a mudança radical em favor de todos e
a ser encaradas como um fim em si não apenas da categoria. Aos sindicatos
mesmas, um acumular de “direitos” que que adotam esta conduta podemos
reforça a sujeição às políticas chamar corporativos.
econômicas macroestruturais do Estado,
justamente aquelas que são as A terceira conduta sindical pode ser
responsáveis pelas mazelas salariais da identificada por sua ação em associação
classe. Tal sindicalismo, portanto, com seus postulados teóricos. Em
mistifica a ação sindical determinando comum com as demais, ela caracteriza-
para as bases um papel de coadjuvante se também pela representação da classe.
no conjunto orquestrado das políticas de Preocupa-se com as necessidades
governo. imediatas da mesma e se legitima em
determinados ritos e emblemas
identitários do trabalho coletivo. Mas,
Existem também os sindicatos que, em para além destas semelhanças, o
determinada conjuntura, apresentam sindicalismo de resistência propõe-se a
certo grau de combatividade, sem a um enfrentamento mais claro e efetivo
pretensão de tornar determinante o do Estado burguês. Utiliza o corte
diálogo com o governo. Tais entidades classista não para evidenciar a
de classe entendem a posição que singularidade entre trabalhador e
ocupam no cenário da luta de classes, patrão/governo, mas para explicitar o
buscam o enfrentamento, mas o fazem a fosso que separa a classe trabalhadora
partir de uma pauta quase daqueles que a exploram. Pensa o
exclusivamente econômica, sindicalismo como um meio importante
aproveitando as crises e as agendas para que os trabalhadores dêem
eleitorais para arrancar do governo as combate diuturno ao sistema que
melhorias imediatas. Têm, mais por oprime a eles e aos seus iguais em
instinto que por ideologia, a disposição destino. Nas reivindicações econômicas,
para a luta, fato que se observa em igualmente, enxergam um meio para
momentos de ascenso organizativo, mas mais didaticamente perceberem os da
que, em uma conjuntura desfavorável, classe, por evidências numéricas, as
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suas reais condições de explorados. E, Não as possuem, ao menos, no sentido
uma vez que não se limitam ao sintoma, autônomo do termo, pois, uma vez que
denunciam o capitalismo e suas mais se guiam pelo pragmatismo,
claras manifestações como o motivo de dificilmente vão além do que se
todo o estado de coisas. Destarte, o apresenta de imediato. Além disso,
sindicalismo de resistência articula a diferenciam-se mais na forma do que no
teoria revolucionária, que podemos conteúdo ao se dirigirem ao governo,
chamar de socialismo, com suas ações não indo além da colaboração declarada
políticas e sociais, instituindo a primeira para um e consentida para outro.
em conformidade com a realidade Mutatis mutandis, acabam adotando
específica da segunda. como referencial para a luta as
estratégias do Estado, mesmo que na
Orientações e concepções sindicais forma inversa para os corporativistas,
visto que suas agendas serão sempre
Pode-se, de forma esquemática, determinadas pelos embates com o
apresentar três etapas importantes para governo, contra o qual deveriam estar
o desenvolvimento de um programa criando suas próprias estratégias, mas
estratégico de classe no sindicalismo. que, uma vez presos a este, não fazem
Tais etapas, no entanto, longe de mais do que repetir, como imagem
obedecerem uma linha evolutiva, invertida, o que determina a política
combinam-se e orientam-se oficial. Sofrem os efeitos de uma
mutuamente. São como vasos espécie de tautologia que os remete
comunicantes que formam um mesmo sempre ao mesmo ponto, percorrendo o
corpo vivo e indiviso. A primeira parte mesmo trajeto, em idas e vindas, em um
de um programa estratégico deve versar jogo de soma zero que acaba por
sobre os ganhos de curto prazo. Aqueles favorecer sempre aquele que é, de fato,
que vão orientar as lutas do dia-a-dia, o causador do problema.
que devem mobilizar os ânimos e que se
vinculam as necessidades igualmente De outra maneira, os sindicatos de
prementes, inadiáveis e comuns a todos resistência, buscam sempre em seus
indistintamente no interior da classe. programas estratégicos salientar as
Circunstância que pode contar com questões de médio e longo prazo. Tal
campanhas de naturezas diversas, mas preocupação deve-se a já terem os
de preferência com forte apelo sindicalistas, vinculados a esta
conjuntural. As campanhas salariais, concepção, entendido que aquelas
acompanhadas de análises da política entidades que lutam apenas pelas
governamental, são formas bastante questões imediatas, o que fazem, no
utilizadas e, quase sempre, trazem mais das vezes, é garantir ao governo
algum resultado. Nas questões de curto um certo grau de legitimidade. Se por
prazo, os sindicalismos um lado, as reivindicações podem
colaboracionista, corporativista e parecer contestatórias, e algumas vezes
mesmo o de resistência, às vezes se o são, elas induzem, por outro,
parecem muito. subliminarmente, o coletivo da
categoria a acreditar que a resolução
Entretanto, é nas questões de médio e depende sempre da aquiescência do
longo prazo que se distanciam governo. O que retira do trabalhador
sobremaneira as condutas sindicais. Na boa parte de seu princípio decisório e
realidade, tanto os colaboracionistas reforça as teses reformistas. É, portanto,
quanto os corporativistas, não possuem nas projeções mais de fundo, aquelas
as dimensões de médio e longo prazo. que irão possibilitar o contato com um
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universo mais amplo de explorados e, a revolucionária, que apareceu como
partir daí, consolidar a luta ideológica marginal, mesmo herética, teimou em
contra o capital, que se encontra a real registrar as nuances de um fazer
estratégia para o desmonte de toda a proletário de enorme vigor organizativo.
estrutura que garante a manutenção do O eixo insistentemente retomado pelas
atual sistema. Não apenas isso, mas ações organizativas “marginais” dos
também, a elaboração deste programa trabalhadores encontrou sempre seu
auxilia no acúmulo de valores que, por “ponto de Arquimedes” na autonomia.
ser de fato o resultado das experiências Foi com base nela que diversas
de luta e das reflexões extraídas a partir iniciativas culminaram na Revolução
delas, constitui-se na essência de uma Russa, de 1917, e na Espanhola, de
dimensão de mundo genuinamente de 1936. As correntes libertária e
classe. Para reforço de tal raciocínio, autonomista, esta última batizada pela
escreveu E. P. Thompson: “Por classe, derivação da palavra-essência, firmaram
entendo um fenômeno histórico, que seus postulados, ou antes, fizeram partir
unifica uma série de acon¬tecimentos tudo desta premissa. Não era uma
díspares e aparentemente panacéia, mas uma metodologia que
desconectados, tanto na matéria-prima permitiria colocar, em uma mesma
da experiência como na consciência. circunstância histórica, o conjunto da
Ressalto que é um fenômeno histórico. classe na condição de protagonista. Para
Não vejo a classe como uma ‘estrutura’, L. Bruno: “Uma luta é revolucionária
nem mesmo como uma ‘categoria’, mas quando cria relações sociais que
como algo que ocorre efetivamente (e permitem a união dos trabalhadores.
cuja ocorrência pode ser demonstrada) Quando viabiliza a associação de
nas relações humanas”. E ainda, homens livres que é, ao mesmo tempo,
segundo Lúcia Bruno: “A classe forma de luta e transformação social.
operária não é uma realidade moral, Quando os trabalhadores criam
mas social. Ela não tem qualquer organizações onde podem decidir em
realidade além da forma como se conjunto os rumos da luta, realizar uma
organiza”. Outra questão se soma, com nova divisão do trabalho e formas
idêntica importância, às aqui abordadas. comunitárias de existência, estão
Que tipo de organização ou dinâmica criando o terreno sobre o qual o
interna permitiria a plena realização de socialismo pode se desenvolver e
um sindicalismo de resistência? generalizar”. Este é, em poucas
palavras, o princípio lógico dos
O universo das experiências históricas “conselhos de trabalhadores”. Como se
em favor da organização dos organizam então os conselhos de
trabalhadores é generoso, entretanto, trabalhadores?
boa parte dos registros foi alienada de
sua diversidade por força de modelos Os conselhos de trabalhadores definem
hegemônicos que tomaram seu próprio sua representação a partir da base. É na
triunfo por verdade revolucionária. Sob base, organizada em comissões, que os
tal perspectiva, a “Comuna de Paris” delegados classistas são eleitos. Mas a
perdeu vários de seus matizes, os representação é diversa daquela
“sovietes”, viraram a manifestação de preconizada pelo capitalismo. As
um partido único e os “conselhos de diferenças são as seguintes:
trabalhadores”, momentos prévios em • 1ª: Os delegados não decidem por si
situações históricas que careciam de mesmos. São apenas a voz do seu
uma direção de vanguarda. Apesar das conjunto, daqueles que os elegeram;
versões autorizadas, uma outra literatura
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embates contra o capital os elementos
• 2ª: Os delegados eleitos executam as vitais para sua emancipação. Como
tarefas, não determinam as linhas de chamavam os sindicalistas
ação, a menos que sejam sugeridas pelo revolucionários do século passado, é a
coletivo que o indicou; “ginástica revolucionária”. Uma relação
que se forja no fazer contínuo do
• 3ª: Os delegados ficam no cargo até o confronto e que, por ser
termino da tarefa, ou seja, o tempo concomitantemente experiência sensível
suficiente para executá-la, pois do e teórica, realizada por quem mais
contrário poderia haver certa necessita das mudanças, estabelece
cristalização de funções; novas formas de organização
desalienadas.
• 4ª: Os delegados não podem se afastar
por muito tempo de seu local de As tarefas de médio prazo e os
trabalho, junto à base, as suas atividades movimentos sociais
não lhes conferem nenhum privilégio.
Outro ponto importante é que as Uma vez que o sindicalismo de
delegações podem ser revogadas pela resistência se institui na luta e sem o
base a qualquer momento. A forma concurso da classe esta concepção é
sugerida garante também que as quase impossível de ser atingida, cabe
habilidades pessoais de determinados identificar as tarefas que são da
sindicalistas sirvam a todos e não ao responsabilidade dos trabalhadores
próprio indivíduo que, no que se envolvidos com as questões
verifica hoje, uma vez agindo em nome revolucionárias. As construções de
do coletivo, pode, na realidade, colocar médio prazo hoje são da maior
adiante das deliberações coletivas suas importância. Nelas se encontra o
próprias preferências partidárias. caminho através do qual irá a classe
efetivar a direção a ser tomada para a
liquidação final da ordem capitalista.
O método, cuja centralidade está na Nesse sentido, cabe uma pequena
autonomia dos trabalhadores, propugna ponderação sobre a separação que hoje
também pela ação direta no que diz se constata entre sindicalismo e
respeito aos interesses políticos e movimentos sociais.
econômicos. Para a produção e a
regulação da natureza do trabalho de No início do século XX, há exatos 100
cada categoria, indica o regime da anos, era fundada a Confederação
autogestão generalizada. E ainda o Operária Brasileira (COB). Com a
estímulo a atitudes que unifiquem todas entidade nascia também o seu órgão de
as frentes de luta: a econômica, a propaganda A Voz do Trabalhador, em
política e a ideológica, tendo-se como 1908. Por longos anos, a COB deu
fim a edificação da nova sociedade. suporte e foi espaço organizatório dos
trabalhadores contra a burguesia,
Tal estrutura organizativa é fundamental valendo-se dos métodos do sindicalismo
para impedir a burocratização dos revolucionário. Nas primeiras três
sindicatos, o distanciamento entre a décadas do século XX, a COB foi
base e a direção e a dicotomia entre fundamental para a caracterização da
massa e vanguarda. É também um meio fisionomia social que, em público,
no qual estão embutidos os fins, uma exibiam os operários grevistas e
vez que o trabalhador apreende e insurretos. Entretanto, com o advento
elabora no cotidiano do trabalho e nos do sindicalismo corporativista, elevado
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a política de Estado após o movimento nesse sentido como no passado, por sua
político-militar de 1930, cujo fato prática social.
concreto mais saliente é a criação do
Ministério do Trabalho, Indústria e No caminho inverso estão, entretanto,
Comércio, as bases do sindicalismo se outros setores organizados ou em vias
viram bastante alteradas. O setor de organização. Estes, envolvidos em
reformista, já existente em períodos uma grande membrana conceitual a qual
anteriores, tornou-se paradigmático e as se atribui o nome de movimentos
ações radicais ganharam “foros” de sociais, são de procedência diversa.
crime contra a segurança nacional. Tal Apesar da pluralidade, esta nebulosa de
situação, reforçada por medidas oficiais organizações possui certa identidade.
em “benefício dos trabalhadores”, Existem elementos comuns a elas,
desmobilizou boa parte da massa mesmo com as demandas específicas.
assalariada e consagrou o Estado como Os eixos, como no passado, na
árbitro de todos os litígios entre capital Associação Internacional dos
e trabalho. Estes fatos estão na origem - Trabalhadores, são sempre de viés
inaugurando assim uma ainda presente econômico. O Movimento dos
matriz interpretativa da História do Trabalhadores Desempregados, cuja
Brasil - da perspectiva de que foi no centralidade se encontra na geração de
governo De Getúlio Vargas (1930- renda; o Movimento Nacional dos
1945) que os direitos dos trabalhadores Catadores, que tiram dos resíduos
foram, de fato, alcançados. Fenômeno urbanos a sua sobrevivência; o
conhecido como “ideologia da outorga”. Movimento dos Sem-Teto, que elegeu a
questão da moradia; os inúmeros grupos
O populismo que marcou as décadas que se formam nas comunidades
seguintes, até o golpe Militar de 1964, e faveladas, sob a bandeira da cultura ou
mesmo o sindicalismo de subordinação, da denúncia contra a violência e
praticado durante os “Anos de finalmente o Movimento dos
Chumbo”, alteraram ainda mais a Trabalhadores Sem-Terra, que sustenta
configuração das organizações com maior evidência a defesa da
sindicais. Nos anos posteriores, com o Reforma Agrária, contemporaneamente,
processo de redemocratização, após a assumiram um protagonismo
frustração das esperanças na retomada importante, cujos resultados não podem
de um sindicalismo revolucionário, o ser ignorados, até mesmo pela grande
aparelhamento que fez o PT da CUT mídia.
jogou por terra boa parte das
expectativas e drenou a energia de Em comum, e isso encontra
importantes bases sindicais. No correspondência nos comunicados e
conjunto, estes acontecimentos panfletos, possuem a radicalidade.
colaboraram para o afastamento dos Aquela disposição para o confronto,
sindicatos do que se convenciona típica das pautas de médio e longo
chamar hoje de movimentos sociais. A prazo. Tal característica tem sido
burocracia, triste emblema ostentado utilizada pelo governo, inclusive, para a
pela maioria das entidades, continua, a criminalização destes movimentos que
despeito de louváveis esforços de uns insistem nas táticas de ação direta e
poucos, a representar sérios limites ao gestão coletiva dos meios de produção,
desenvolvimento das políticas de médio esgarçando a formalidade jurídica do
e longo prazo. O sindicato passou a ter sistema. Inovações como as “Comunas”
outra fisionomia, determinada agora, e do MST, no Rio Grande do Sul e São
Paulo, têm obrigado o Incra a reinventar
15
a legislação vigente para adequar muitas demandas. Entre elas, a que mais
parâmetros ao quadro geral já se destacava era a autonomia. No
determinado pela prática concreta dos mesmo país, outros índios e “minorias”,
acampados e assentados. A dinâmica reunidos sob a legenda do magonismo,
social e a ação dos militantes concebeu alusão ao líder revolucionário Ricardo
experiências mistas, urbano-rurais, Flores Magón, já utilizavam a tática da
criando outra alternativa para o desobediência civil para enfrentar o
trabalhador das periferias. Nos grandes governo. Em outras partes de “Nuestra
centros, os desempregados ocupam America”, como Equador, Chile,
fábricas abandonadas, estabelecem Colômbia e Bolívia, empunhando a
novas normas de produção e tentam bandeira da autonomia, levantaram-se
instituir outro padrão de subsistência, também índios e camponeses em
inclusive, na direção inversa do capital. insurreições e levantes. Inaugurando o
novo milênio, os piqueteros na
A despeito da tentativa de apropriação Argentina, também pela ação direta,
dos movimentos por alguns partidos, e lograram sucessos e colocaram a classe
mesmo a clara atuação de militantes como protagonista da história.
destes nas bases ou direções, boa parte
da massa trabalhadora envolvida Para reforço do exposto, podemos
preserva um grau de independência analisar brevemente os recentes
satisfatório. Suficiente ao menos para acontecimentos no estado mexicano de
esboçar, em momentos de claudicância Oaxaca, no ano de 2006. Uma greve da
dos “quadros partidários” envolvidos, educação, promovida pela 22ª seção
quando estes tentam fazer passar a sindical, acabou por determinar a
política do partido, esquecendo as ocupação da praça central da capital do
demandas genuínas da classe, uma estado. Oaxaca (a capital tem o mesmo
reação dos setores mais organizados. De nome do estado), em maio, parecia ser
qualquer forma, é por força do modo palco de apenas mais uma de muitas
como se organizam os movimentos outras manifestações. O diferencial,
sociais que estes apresentam as entretanto, deu-se com a aproximação
características já bem salientadas aqui. da seção sindical dos movimentos
São eles a expressão sem retoques da sociais da região. As cerca de 16 etnias
luta de classes, a unidade pela ação e indígenas que estão representadas no
pelos propósitos, movimentos que estado, com importante tradição de luta,
conseguem nas suas bandeiras, algumas além de outras organizações populares,
muito simples, sintetizar e aglutinar os formaram a Assembléia Popular dos
esforços e esperanças de todo um setor Povos de Oaxaca, a APPO. Em junho,
de excluídos. os prédios públicos foram ocupados e o
governo popular foi decretado, em
O fenômeno que se caracteriza pelo substituição ao oficial de Ulises Ruiz
crescimento da importância e da Ortiz. Na prática, a capital passou a ser
visibilidade dos movimentos sociais não organizada pela APPO. As principais
é exclusivamente brasileiro. Com um demandas como: democracia, liberdade
número maior de exemplos podemos e autonomia, tudo isso estava resumido
observar, a partir do início dos anos 90 na proposta de deposição do
do século precedente, o ascenso de governador. A greve do sindicado gerou
manifestações nesse sentido. Em 1994, o fato, mas a evolução dos
o levante zapatista, em Chiapas, no acontecimentos e mesmo a reação do
México, revelou ao mundo um governo federal mexicano, que enviou
organização indígena-militar com tropas para reprimir o movimento, só se
16
deu por força da unidade entre entidade Marx, primeiro no Manifesto
de classe e movimentos sociais. Comunista, de 1848, com o reforço do
capítulo 24, de O Capital: “Sua [a
A experiência que se estendeu até burguesia] ruína e o triunfo do
novembro daquele ano, contribuiu proletariado são igualmente
sobremaneira para o acúmulo inevitáveis... Entre todas as classes que
revolucionário em toda a região. A hoje se confrontam com a burguesia, a
chamada “Comuna de Oaxaca” legou à única realmente revolucionária é o
sociedade a manutenção dos organismos proletariado. As outras decaem e
de resistência popular. As rádios desaparecem com a expansão da grande
comunitárias, os comitês de bairros que indústria, enquanto o proletariado é
se formaram no âmbito da APPO desta o produto mais autêntico. Todos
continuam vivos e funcionando na os setores da classe média, o pequeno
perspectiva de novos embates do industrial, o pequeno comerciante, o
aperfeiçoamento da organização. artesão, o camponês (grifos nossos),
combatem a burguesia para assegurar
A tormenta social que atinge a América sua existência como classe média em
Latina representa, assim pensando, nada face da extinção que os ameaça... São
mais que a reação a outro ciclo de reacionários, pois procuram fazer andar
ataques do capital. A posição que as para trás a roda da história”. Para Marx
organizações populares assumem diante existe um sujeito histórico, um que,
desta realidade é de transcendental mesmo sem sabê-lo, tem a missão de
importância para o que se dará a seguir. alterar a ordem social. Este sujeito é o
Os recuos são igualmente importantes, proletariado urbano, a massa que é
entretanto, para auxiliar as forças que explorada pelas indústrias.
exploram desde sempre os
trabalhadores. O sindicalismo, para Se considerado este postulado, a
tanto, deve aproximar-se dos História recente da América Latina
movimentos sociais para novamente encontrar-se-ia em desalinho com a
reencontrar nesta simbiose política a teoria. Uma vez que as forças
vocação revolucionária. insurgentes no continente, e mesmo a
guerrilha que sobrevive, possuem
Os paradigmas da esquerda e os caráter marcadamente camponês ou
partidos políticos indígena. Os grupos que, segundo Marx,
seriam “reacionários, pois procuram
Boa parte do que se discute hoje no fazer andar para trás a roda da história”,
campo estratégico da esquerda é ainda fazem muito mais pela revolução que o
tributário de concepções bastante “proletariado industrial” que, no caso
recuadas no tempo. Se por um lado, a brasileiro, é co-participe da gestão das
leitura e a observância dos clássicos do instituições e do próprio Estado. Razão
socialismo é fundamental, por outro, a pela qual as discussões corporativas,
interpretação dogmática e mecânica dos quase sempre nos limites da legalidade
mesmos traz sérios riscos para o burguesa, ocupam cada vez mais as
resultado das análises e, dessa forma, agendas sindicais.
também para as linhas estratégicas
gerais. Um exemplo claro podemos Outro problema, que deriva igualmente
encontrar, para não irmos muito além, de fonte correlata, é a idéia de que “o
na própria determinação de certos atores sindicato é correia de transmissão do
sociais privilegiados para liderar o partido”. Este primeiro executa e o
processo revolucionário. Segundo segundo pensa as políticas de médio e
17
longo prazo. Tal lógica acaba por podem ser fragmentados, secionados em
conferir status diferenciado a quem câmaras estanques, postos para dialogar
pensa e a quem trabalha, justificando, apenas articulados por direções “bem
inclusive, o afastamento de intencionadas”, porém equivocadas no
trabalhadores por longo tempo da base método. Nesse sentido, é fundamental a
em tarefas de direção que, no mais das criação das organizações de base e a
vezes, tornam-se uma porta para a definição do papel destas no contato
burocratização. Alguns, inclusive, com o coletivo de representantes de
vinculados a partidos político, como toda a unidade de produção.
referido anteriormente, acabam por não
ter clareza entre o papel de quadro O papel da ideologia, entretanto, é
partidário e de liderança sindical. fundamental. O debate de idéias no
interior do sindicato se faz necessário.
Mas tal prática encontra, sim, suporte na Mas tal debate deve obedecer aos fóruns
teoria, uma vez que boa parte dos organizativos e com eles dialogar
partidos de esquerda percebe no permanentemente. A pluralidade das
sindicato um meio para levar adiante o tradições de esquerda, sem a qual tudo
programa do partido, a dualidade se tornaria saber de manual, deve ser
pensamento-ação passa, dentro do contemplada e as diversidades devem
âmbito da classe, a vivenciar seu ser encaradas, todas elas, como um
correspondente prático. Mas, existe aí conjunto patrimonial a ser apropriado
um princípio deletério para a autonomia pela classe. Apropriado na medida das
dos trabalhadores. Uma vez que o necessidades, daquilo que o conjunto de
programa do partido pode substituir o trabalhadores entenda pertinente para o
da classe, este programa igualmente tempo e o espaço presentes. A ideologia
pode estar cumprindo o papel do deve servir à classe e não o inverso. São
Estado. Assim, um tipo específico de os trabalhadores que, em ultima
ideologia substitui o governo e abre instância, vão mudar as coisas. Não
caminho para uma nova burocracia, contribui para a autonomia dos
uma nova instância decisória, que se trabalhadores um sindicalismo que faça
assemelhará, no conteúdo, à ordem que opção tácita por qualquer ideologia de
se pretende derrubar. Ela é parcialmente esquerda; se assim fosse, estaria
estranha à classe, pois foi gestada fora fazendo papel de partido e não de
dela, ou antes, por um princípio que entidade de classe.
acredita pouco nas experiências não
tuteladas. A autonomia, para tal Podemos afirmar que a separação que
concepção, pode não passar de um hoje experimenta o sindicato em relação
“espontaneísmo” ou falta de aos movimentos sociais, para além do
consistência ideológica. fato da burocratização, pode ser
explicada pela associação desse com os
O entendimento que temos é o de que a partidos políticos, confirmada na adesão
organização dos trabalhadores é, de muitos às campanhas eleitorais. É
portanto, indivisa. Não se pode separar bom ainda que se diga que, uma vez que
as instâncias política, econômica e os trabalhadores têm posições políticas
social. O ato de pensar não pode estar diferentes, as paixões eleitorais acabam
desvinculado do ato de fazer. O fracionando ainda mais o corpo sindical.
programa da classe tem que partir dela Um programa próprio, que não
própria, do acúmulo de suas implicasse na utilização de candidaturas
experiências na luta por uma sociedade institucionais, mesmo sob a alegação
livre e socialista. Os corpos sociais não tática, diminuiria significativamente a
18
divisão e atribuiria aos programas de revolucionário e de seus virtuais
médio e logo prazo a importância que parceiros na direção da emancipação
estes realmente possuem. dos explorados. Embutidos na
apreciação geral estão elementos
Outro fato que pode ser verificado, cada importantes a serem considerados para
vez com mais clareza, é que a uma posterior tomada de decisão em
associação dos sindicatos aos partidos relação aos caminhos a serem trilhados
trouxe, com a crise destes últimos, pelos trabalhadores. O diagnóstico,
significativos desgastes para aqueles. longe de evidenciar inteiramente o
Associa-se livremente, com o respaldo problema, convida, a partir de indícios,
de inúmeros exemplos, os sindicatos aos à busca de soluções. Sempre optando
fracassos da democracia representativa pela ação coletiva de indivíduos
burguesa. Figuram as entidades de inseridos em sua classe e representados
classe nos mesmos veículos de denúncia em suas categorias profissionais.
onde deveriam estar apenas os partidos.
O sindicalismo, assim, cai na “vala O socialismo é o eixo propositivo e seu
comum da crise”. Por um motivo que é algoz, ainda tanto quanto o próprio
alheio à sua natural área de atuação capitalismo, a burocracia. Segundo
colhe os frutos amargos da difamação Cornelius Castoriadis: “O socialismo é
junto com as instituições que dele a supressão da divisão da sociedade em
fizeram uso para uma política ainda dirigentes e executantes, o que significa
mais alheia à classe. ao mesmo tempo gestão operária em
todos os níveis – da fábrica, da
economia e da sociedade – e poder dos
organismos de massa – sovietes,
comitês de fábrica ou conselhos. O
socialismo tampouco pode ser, em
nenhum caso, poder de um partido,
qualquer que seja a sua ideologia e sua
estrutura. A organização revolucionária
não é e não pode ser um órgão de
governo. Os únicos órgãos de governo
em uma sociedade socialista são
organismos tipo soviético, abarcando a
totalidade dos trabalhadores. O caráter
burocrático das organizações ‘operárias’
atuais não se expressa somente em seu
programa último, o qual – sob a
cobertura de uma fraseologia
mistificadora – não visa mais do que
modificar as formas de exploração para
Sindicalismo, burocracia e melhorar seu conteúdo. Expressa-se
movimentos sociais igualmente, ao mesmo tempo, em sua
estrutura própria e no tipo de relação
No geral, o que temos abordado desde o que mantêm com a massa operária: quer
início do texto à esta parte é, por assim se trate de partidos ou sindicatos, esses
dizer, o problema da burocracia, da organismos formam ou tentam formar
clausura e dos limites dos métodos direções separadas das massas,
adotados pelos sindicatos. Limites que reduzindo essa a um papel passivo e
afastam o sindicato do paradigma tentando domina-la, reproduzindo uma
19
profunda divisão entre dirigentes e
militantes (ou contribuintes) em seu
próprio seio”. Bibliografia:
http://www.anarkismo.net/article/10648
20
[Carta aberta a todos os trabalhadores, em
particular aos docentes, por ocasião do dia
internacional do professor, 5 de Outubro de
2008]
Reflexão para a acção
21
Foi assim um fácil «quebrar a espinha» movimento sindical fortemente
do movimento sindical por parte do conotado com os partidos, ou se
governo e da ministra da educação, com distanciaram num momento ou
a ajuda da sua própria cúpula. noutro, ou ainda embora
participando em sindicatos, estavam
Depois, apresentou o governo um marginalizados pela burocracia
projecto de ECD com uma série de instalada. Foi esse número diminuto de
aspectos inconstitucionais, subvertendo pessoas (de que eu fiz parte), que
o espírito do anterior estatuto. A enorme impulsionou as primeiras reuniões, as
indignação suscitada em toda a classe primeiras vigílias e os primeiros
docente esteve na base da união de plenários.
sindicatos de docentes numa
plataforma. Infelizmente, devido ao
espírito burocrático e oportunismo que
imperam sobretudo nas cúpulas, esta
plataforma não soube fazer mais do que
uma simbólica e ineficaz manifestação
no dia do docente, a 5 de Outubro.
Fomos nós desfilar (mais uma vez) para
nada.
22
Houve uma consciência aguda de O mandato que os membros dos
traição das cúpulas, quando esta sindicatos dão aos seus dirigentes é
movimentação se traduziu no acordo revogável, embora as cláusulas dos
da Páscoa de 2008. Um acordo que estatutos por vezes sejam omissas, é um
desarmava as hostes que queriam lutar direito que assiste sempre a um grupo
nos locais de trabalho, que iria dar de sócios (convocar uma AG de Sócios
campo para todas as manobras do ME. para revogar o mandato de dirigentes
traidores).
Apesar dessa consciência de ter sido
traída, é dramático que muita gente Será que ainda estão na ilusão do
obnubilada pelo «complexo de «complexo de esquerda»?
esquerda» (o que é de esquerda é bom,
os dirigentes sindicais «de esquerda», Pensarão alguns: «os dirigentes são
estarão sempre do nosso lado e outras membros de partidos socialistas ou
ingenuidades do género...) não viu que a comunistas ou de esquerda; terão algo
condição mesmo para esta política de bom, porque comungam com a
passar é que tinha pela frente um minha ideologia». Nada mais falso: a
movimento sindical largamente ideologia verdadeira deles é a ideologia
controlado por umas cúpulas do poder. Podem mascarar-se de várias
burocráticas, que «fazem que andam coisas, mas apenas para se manterem no
mas não andam»... gritam muito, mas poder, nos seus lugares. São hierarcas e
não mordem, enfim cúpulas que servem são apenas fieis aos seus interlocutores
perfeitamente o fim de manter a governamentais: não se sentem
ilusão nos trabalhadores de que estes obrigados perante as «massas», mas
estão a ser «defendidos» quando não cavalgam-nas, como eu já ouvi, da boca
estão. Os seus direitos estão a ser dalguns desses «dirigentes», com mal
vendidos (é «negociado»... o que disfarçado desprezo pelos seus colegas.
deveria ser inegociável!) em sucessivas Um grupo profissional, que no passado
rondas de pseudo negociações. se posicionou «à esquerda», foi foco de
O poder PS é totalitário por vocação, «rebeldia» face ao poder, está hoje
mas só pode sê-lo porque tem a proletarizado e sem nenhum prestígio
conivência disfarçada (caso da social que já teve, em eras longínquas.
CGTP) ou aberta (todos os outros) Mas, o essencial ultrapassa - em
dos sindicatos. muito - a questão de uma «classe»
A miopia política e social que afecta profissional e diz respeito a todos os
muita gente em Portugal, também afecta trabalhadores:
(e até um pouco mais) os docentes, pois - Os métodos usados para vergar os
apesar de tanta evidência de traições docentes são particularmente anti-
sucessivas, não realizam o democráticos, arbitrárias as categorias
saneamento necessário das estruturas em que foram encerrados,
sindicais, não compreendem que a luta violentamente hierárquicas as formas de
sindical é para ser organizada desde a avaliação impostas, sem qualquer
base, desde dentro dos respeito pelos direitos e garantias
estabelecimentos e não a partir das consignados na constituição e na lei (em
secretárias e gabinetes alcatifados dos particular, o direito de tratamento com
dirigentes sindicais. equidade, o direito de recurso, o direito
23
de iguais oportunidades...). pública se degrada haverá um reforço e
não uma atenuação das desigualdades
- A um nível mais amplo, o governo age sociais: certamente serão os filhos dos
como um órgão de propaganda trabalhadores, não os da burguesia, a
permanente, lançando campanha sofrer com isso.
demagógica atrás de campanha, para
fazer crer que está a fazer «obra». Num
povo castigado muitos anos pelo
analfabetismo, é fácil fazer passar gato Por um sindicalismo democrático,
por lebre e é difícil fazer distinguir o independente, de base e combativo!
trigo do joio. Mas os docentes e os
outros tinham e têm o dever de explicar
(com toda a pedagogia que são capazes, Solidariedade,
a quem não tem contacto directo e
pessoal com o quotidiano do sistema), Manuel Baptista
como estas pseudo-reformas, na
realidade são recuos, vão piorar a prazo
(senão imediatamente) a situação das
aprendizagens na escola pública.
24
Por um Novo Associativismo Ambiental
26
EDITORIAL
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«controlando» o movimento de Qualquer que seja o desfecho destas
massas, como capatazes úteis à casta lutas, o certo é que a classe
dominante. trabalhadora e todo o povo aprende -
com a prática das lutas sociais - a
A traição dos dirigentes deve ser
auto-determinação da sua vontade,
compreendida como corolário de se
impondo aos dirigentes que
terem transformado paulatinamente
respeitem o mandato que lhes foi
numa casta ou «classe
conferido. Embora estes tenham
coordenadora», usufruindo de
tendência permanente para se
privilégios diversos, com estatuto -
substituir à vontade dos que os
aparentemente inamovível - de
elegeram, já perderam a hegemonia
«interlocutores sociais»
sobre o movimento social.
indispensáveis, para o grande circo
da «concertação social», da busca de Neste momento, em Portugal, as
(falso) consenso entre exploradores e pessoas estão a compreender cada
explorados, para chamar a coisa pelo vez mais e melhor, que a sua auto-
nome. organização, horizontal,
democrática, com uma solidariedade
Porém, quer no Brasil (ver o artigo
actuante, inter-grupos profissionais,
de Alexandre Samis sobre
unindo na acção todos,
Sindicalismo e Movimentos Sociais),
independentemente da sua
quer em França (ver entrevista a
preferência partidária ou ideológica,
membros dos CSR) quer mesmo no
é a chave para conseguirem impor a
nosso país, as organizações sindicais
sua vontade a todos os níveis,
estão sujeitas a mudança, a rupturas
defendendo a sua dignidade, a sua
por vezes, por vezes a reunificações,
subsistência e o seu futuro.
sobretudo a uma dinâmica das bases.
É necessário que este movimento se
Debaixo dos nossos olhos (ver
aprofunde e se alargue ainda mais,
também neste número, Carta aos
pois o objectivo último do mesmo
Trabalhadores da Educação) a luta
será a eliminação do capitalismo, a
dos docentes da escola pública, pela
construção do socialismo desde a
dignidade, pela preservação da
base, a mudança profunda que nós
autonomia e qualidade do próprio
designamos por «revolução social».
acto de ensinar, mostra como as
pessoas se organizam espontânea,
autonomamente, forçando as
O Colectivo «Luta Social»
máquinas pesadas dos sindicatos a
mexerem-se, a tomar posições que
na véspera eram rejeitadas como
«demasiado radicais».
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