Vous êtes sur la page 1sur 1

Lutar por uma palha

Nos últimos tempos, tornou-se moda atacar os Professores, a propósito de tudo e de nada, mas
sobretudo elogiando o novo Estatuto da Carreira Docente anunciado pelo Ministério da Educação.
Também a revista SÁBADO (n.º 109, de 1 de Junho de 2006) aderiu aos ataques aos docentes.
Veja-se o Editorial do número supracitado. Depois de referir a “fantochada da avaliação dos
professores”, acrescenta que “os docentes obedecem hoje a critérios rigorosíssimos de avalia-
ção”, fazendo um retrato caricatural do sistema de avaliação que deturpa a realidade. Ora o
Editorial só pode ter sido escrito por alguém que se julga com graça, pois tenta brincar com coisas
que desconhece, tornando-se a sua pretensa brincadeira ridícula. Quem não sabe, deve perguntar a
quem sabe ou então pesquisar na Internet... Fazer considerações malévolas, sem fundamento,
ferem a credibilidade da revista, da qual tenho sido leitor assíduo.
Sou Professor há cerca de 20 anos, já vi muitos ministros da Educação, muitas reformas do
sistema educativo e a verdade é que as coisas estão cada vez piores, como qualquer pessoa de bom
senso tem de reconhecer. Mas culpar os Professores por todos os males que grassam no Ensino é
um exagero e uma falta de respeito por uma classe de mulheres e homens que trabalham todos os
dias com a intenção de formar pessoas críticas, livres e responsáveis, capazes de enfrentar o porvir.
Confesso que estou apreensivo com as mudanças radicais anunciadas pela ministra da
Educação. A avaliação de um Professor é mais complexa do que julga a titular da pasta da
Educação e também a direcção da revista SÁBADO. Deve ser tido em conta que uma mesma
pessoa pode ser considerada bom professor numa Turma e mau professor noutra. Tenha-se em
conta que o Professor trabalha com pessoas e não com materiais. Um pedreiro e um trolha sabem
antecipadamente qual será o resultado do seu trabalho. Mas um Professor umas vezes não precisa
de se aplicar muito para obter bons resultados, outras faz um esforço hercúleo e os seus objectivos
ficam aquém do desejável. Por outro lado, as coisas poderão não correr sempre bem numa mesma
Turma.
Infelizmente, cada vez mais se vai tornando normal os alunos irem à Escola apenas passear os
livros, ficando à espera de passar de ano sem qualquer esforço. Ora se os professores forem
avaliados pelos resultados, o que acontecerá àqueles em cujas disciplinas os alunos apresentam
mais fracos resultados?
Admito que algumas escolas poderão fazer mais para melhorar o sucesso educativo dos seus
alunos. Mas nada mudará, se não mudar o modo como os alunos encaram a Escola, se não se
mentalizarem de que têm de se empenhar mais no processo de ensino-aprendizagem. Cada vez
mais vai aumentando o número dos que vão à Escola como se fossem para uma festa, sem o
objectivo de se empenharem, pondo à prova a cada momento a paciência dos Professores. Nada se
consegue ensinar a quem se recusa a aprender...
Marçal Grilo, antigo ministro da Educação, observou um dia: “A ideia de que educação são os
meninos a saltar e os cavalos a correr, que é tudo muito bonito, muito fácil, não é verdade. A
educação, e a aprendizagem sobretudo, é esforço, é trabalho, é muitas vezes sacrifício.”
É esta ideia que deve nortear a Escola. Durante muitos anos, muitos foram aqueles que
defenderam que tudo deve ser tratado de forma lúdica. E brincou-se com coisas sérias.
A brincar, a brincar, chegámos a esta situação, que todos admitem que é preciso inverter... É
tempo de acabar a brincadeira! Quando os alunos chegam ao 9.º Ano de Escolaridade e não sabem
estar numa sala de aulas, não sabem ouvir, mesmo quando é apresentado um documento em
suporte áudio, não sabem redigir frases correctamente, não dominam a língua materna, alguma
coisa terá falhado no sistema de ensino. Onde? É o que precisa de ser avaliado e corrigido.
Nuvens negras se avizinham, causando temor nos Professores. É preciso estarmos unidos e
vigilantes. Relembro o que disse um dia William Shakespeare: “Para ser-se verdadeiramente
grande, é preciso não vibrar sem grandes razões; mas é preciso também saber lutar por um palha
quando a honra está em causa.”

Telmo Bértolo (Professor de Português-Francês – Cabeceiras de Basto)

Vous aimerez peut-être aussi