Vous êtes sur la page 1sur 86

RETRATO VIVO

Poesias Íntimas

Rodolfo Campos

1
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Biblioteca Pública do Estado do RS, Brasil)
_______________________________________________________________

C198r Campos, Rodolfo


Retrato Vivo: poesias íntimas / Rodolfo Campos. –
Porto Alegre : edição do autor, 2008.
88 p.

1. Literatura brasileira – poesia. 2. Literatura Sul-


rio-grandense – poesia. I.Título.

CDU: 821.134.3(81)-1
821.134.3(816.5)-1
______________________________________________________________________

2
"A bondade nas palavras cria confiança; a bondade nos pensamentos cria plenitude; a
bondade nas doações cria o amor."

Lao-Tsé

"Tenha consciência que a expressão do seu rosto conta aos outros o que você está
sentindo, mesmo que as palavras não o digam."
Peter Drucker

"Querer não é o suficiente. Temos que precisar de, para sermos bem sucedidos."
Platão

3
Em memória de Diná, de Luciana,
e de todas pessoas queridas de todos nós
que já não mais estão conosco.

4
Algumas Palavras

Por Poesias Íntimas, Rodolfo se apresenta à possíveis leitores que se procuram à


si mesmos em mundo fragmentado por quadrantes de todas as formas, lembranças,
tempos, cores e gravidades. É assim mesmo: em meio aos próprios fragmentos que o
poeta procura ser inteiro e único. Certa vez, a Pablo Neruda foram pedidas algumas
palavras de incentivo a um jovem poeta com seu primeiro livro de poemas e o grande
poeta teria respondido: “primeiro, faça de cada poema um convite agradável para uma
agradável viagem ao universo das palavras que são de todos, mas suas, em particular e
deixe isso bem claro; segundo, se falar em sentimentos seus, inclua neles o seu próximo,
todos os próximos e também os distantes e quando disser “eu” procure ser apenas
peculiar; terceiro, lembre-se que seu leitor só guardará seu poema se o fizer dele mesmo
por absoluta empatia.”
Em Poesias Íntimas, Rodolfo se diz “existencialista” talvez por privilegiar a
existência, “o ir sendo”, sobre a essência pronta, como um abridor de latas em tudo
funcional e pré-ideado, tal como pregou o velho Mestre (Sartre). Assim, estes são os
primeiros poemas de Rodolfo Campos que pretendem afinal habitar alguma prateleira
de livros grafados em páginas vibrantes de aspiração poética. Parabéns e vamos ao mar
das palavras!

Theresa Medeiros,
Professora, Escritora e Secretária da Associação Gaúcha dos Escritores
Independentes.

5
Minha Apresentação e Dedicatória

Meu nome é Rodolfo Campos, mas sou chamado de muitas maneiras: Rody,
Lord, Parafuso, Dolfo, Fofo, Nenê, etc. (esse etc. inclui alguns apelidos que prefiro não
citar). Sou um porto-alegrense apaixonado por Porto Alegre.

Quanto às minhas poesias, procuro inspiração em várias coisas (entre elas, o


existencialismo), apesar de que na maioria das vezes é ela que vem até mim. Sou uma
pessoa que se considera (e muitos que me conhecem me consideram também) de uma
vida emocionalmente ativa.

O subtítulo do livro é pelo fato de que algumas poesias que escolhi serem de
caráter bem íntimo mesmo, apesar de algumas serem "empáticas", as quais escrevi me
colocando no lugar de outra pessoa e há também as que escrevi querendo mexer, tocar
os sentimentos mais profundos do leitor.

Algumas poesias tratam de religiosidade. Sou um grande questionador, por isso


não me encaixo em nenhuma religião, mas creio em Deus (da forma que está nas
minhas poesias de religiosidade) e estou sempre à busca da sabedoria, em várias
religiões.
Se eu ofender alguém com a minha forma de religiosidade, minhas intimidades e
com a forma com a qual tento tocar as emoções alheias, isso será algo positivo, pois de
alguma forma terei tocado essa pessoa.

Ah! E quanto à dedicatória, dedico à todos aqueles que sabem que é para eles que
dediquei este livro.

Rodolfo Campos

6
Sou eu, eu sou eu
Por um tempo deixei
De ser eu mesmo
Daí me tornei outra pessoa
Que não sou eu

Nunca mais cometerei esse erro novamente

Nunca cometa esse erro

Isto é só um conselho

7
Retrato Vivo

Sou o fruto de teu maior amor,


Que o mundo de ti afastou,
Pelo bem, em suas concepções,
De forma errônea, sem querer te machucar
Sou o retrato vivo do grande amor
De tua vida, aquilo que restou
Para tu olhar e lembrar
Daquele que mais te amou
Sou aquele que vai sempre te lembrar
Que um dia tu chegastes a amar
Alguém que o mundo de ti levou
E que nunca mais voltou
Sou uma lembrança viva
De um grande amor
Sou uma pessoa lúdica,
Por isso sou quem eu sou

8
Rótulos

Não quero ser rotulado


Estar com escrito na testa, algo
Ser, assim, massificado
E a própria personalidade ser deixada de lado
Somos mais que palavras, títulos
Tribos, orientações sexuais, raças e posições sociais
Não somos produtos no supermercado
Com rótulos que foram feitos para nos classificar
E com isso nos dividir para nos conquistar,
Ter-nos em nossas mãos e definir
Quem é quem nessa massa
Para depois nos confundir
Em querer dizer quem nós somos
Quando na verdade somos todos um
E ao mesmo tempo diferentes universos
Que se encontram em ponto algum

9
Do Caos à Criação

Sou um grande caos, uma grande confusão


Um compacto de todas idéias que em um momento
Em explosão entram em expansão
E assim o todo vai se organizando
Preciso como o universo fez, para a criação
Deste caos, para depois organizar meus pensamentos
Tirar tudo do lugar e depois procurar por uma solução
Antes da explosão criativa, compactar em mim todos sentimentos
Para criar preciso tanto ser essa alegoria
Do big bang, do caos que era antes mesmo
Do existir, de algo existir, da poesia
Que é imaginar o universo do tamanho de um átomo
E pensar que tudo um dia voltará
A ser do tamanho de um átomo de novo
O universo se expandirá e depois retornará
E essa alegoria do caos sempre sigo quando escrevo

10
Inspiração Enrustida

A inspiração enrustida é a pior que há


Ela atormenta, o sono te tira
Pego o papel, mas nada consigo externar
Mas ela lá está, trazendo-te agonia
Mil idéias te vêem, mas não saem
E elas ficam a te perturbar
Elas querem ir pro papel, mas não fazem
Nada para te ajudar
Elas gritam: "Ponha-me para fora!"
E tu as xinga, pois não dá
Ela é enrustida, mas quer mostrar a cara
E tudo que se pode fazer é esperar
Até que vem a iluminação, a transição
Quando todas decidem sair de ti
E, no papel, elas vão para a ação
E toda agonia da inspiração enrustida tem seu fim

11
Ovacionado ou Apedrejado

Eu tenho algo a dizer,


Eu tenho uma iniciativa
Um propósito para a vida
Não sou só para falar, só alguém
Sim, e aqui eu estou
Pronto para ser ovacionado
Ou até mesmo apedrejado
Pelas coisas que dizer eu vou
Mas é melhor arriscar e receber a miséria
Do que não ser alguém, ser um fracassado
Que nem tenta nada, permanece um coitado
É melhor tentar e fracassar que nunca arriscar
Lutar por um propósito que ser em eternas férias
E nunca, mas nunca mesmo, ficar parado

12
Exigente

Nada é suficiente, ninguém é para mim


Ninguém me preenche como quero
Até preenche maliciosamente falando, isso sim
Mas, ao meu coração, não há quem seja um elo
Elo entre alma e corpo e tudo mais
Não há quem consiga essa façanha
Talvez eu seja muito exigente, mas
Porque peço tanto de uma só pessoa?
Espero e espero, mas o perfeito não vou achar
Pois este realmente não há
E tenho que me controlar e não exigir mais
Mais que uma pessoa pode dar
Mais que eu possa me doar
E tenho que parar de tanto idealizar

13
Oh! Doce POA!

Oh, Porto Alegre, não sabia o quanto te amava


Até eu desejar te deixar para abrir minhas asas
Mas com este teu frio, és tão caloroso ninho
Com teu povo culto, educado e lindo!
Tua história, teus monumentos, todos momentos
Que nesta terra passei: ri, dancei, chorei
Mas por tristezas nela nunca passei
E deixá-la me foi para mim um grande tormento
Mas agora estou de volta, doce Porto Alegre
Não és a cidade mais alegre que há
Mas és aonde eu pertenço, em corpo e alma
Não és muito grande nem tens praias,
Mas não só a ti eu pertenço, como tu a mim me pertences
Sinto-te em minhas veias a correr

14
Retrospectiva

É minha história e quero contá-la


Por isso quero todos detalhes que saibas
Por mais sórdidos que eles sejam
Para eu poder de mim saber
Para eu me conhecer, quero ouvir
Como vim parar no mundo
Porque e onde eu nasci
E, por favor, conte-me tudo
Nessa busca, nessa retrospectiva
Dos fatos acontecidos,
Isso pode causar muita nostalgia
E tenho certeza que há um passado lindo
Que quero saber para construir meu futuro
Que está vindo em meu caminho

15
Nostalgia

Essa sensação de saudade


Da falta que me faz o passado
De quando eu tinha menos idade
De quando não havia nenhum fardo
Toda essa nostalgia
Quando eu era feliz e não sabia
Nada para me preocupara, para fazer
Eu era um livre ser
Mas agora não adianta me lamentar
Em anos olharei para trás e rirei
Até perder todo meu ar
E, no tempo, nunca mais vou parar
É bom olhar velhos álbuns,
Mas não é bom eles vivenciar

16
O Paradoxo Eterno da Existência

Uma série de mudanças me ocorre por segundo,


Ainda não sou quem queria ser
Mas sou o melhor que posso dar ao mundo
E também o pior que alguém possa querer
Sou o paradoxo eterno da existência em pessoa
Ofereço as duas faces da moeda a quem quiser
Não adianta querer um só, pois veio à toa
Então, esteja disposto a tudo quando vieres
Nem tudo que é eterno dura para sempre
Mas serei sempre a morte para o tédio
Pois o eterno é o mais tedioso que se tem
Além das estrelas há algo maior,
Que não dá crédito a coisas paradas que no universo
Existem, por isso, no fundo, até elas se mexem

17
A Vida é Surreal

As flores que nascem no meu pulso


As dores que sinto em ti
As cores todas que vejo em tudo
As lendas mal-contadas de um iluminado
O meu livro na estante que não existe
As pedras dos meus sapatos que não saem
A alegria que sinto quando estou triste
A bandeira invisível que balanço
Tudo é surreal, nada é para se entender
Esqueça tudo o que te disse, esqueça que te disse
Para esquecer, pois tudo que há é um esquecimento
É uma lembrança de um superior ser
Há pessoas que só entendem tudo isso
Depois que lhes chega a hora de morrer
Então não adianta mais, a vida é surreal
Morte ao ontem, vida ao hoje e luz ao eterno
Tempo que temos para aprender e esquecer

18
Perder ou Ganhar

É a hora do dá ou desce
O momento da revelação
Quando a máscara cai e a face empalidece
Em uma patética situação
É a hora de se arriscar
E ser quem se é pela primeira vez
A hora de tudo dito ser
E pelo menos tentar
A hora de perder ou ganhar,
Sendo fiel aos sentimentos
Ainda por cima, a si mesmo
Mesmo que depois só se vá chorar
E gritar aos quatros ventos
O que se esconde a tanto tempo
Vá garota, vá contar
A verdade que vai assustar

19
Egocêntrico

Eu sou eu, sou todo meu


E de mim não consigo fugir
Tento, mas além só há breu
E só consigo é permanecer assim
Tiro-me de meu centro e me perco
Sou eternamente quem sempre fui
E não sou nada além, então permaneço
No meio do meu mundo enquanto ele rui
Não posso ser nada além, nem quero ser
E de meu mundo sou o centro
Muito além de mim não consigo ver
Por que dos outros estou cheio
Eu quero é eu mesmo ser
E não dar a mínima aos outros

20
Felicidade Pós-Moderna

Compre um novo estilo de vida


E seja feliz por mais seis horas por dia
E invista uma bagatela para deletar
Algumas desagradáveis lembranças
Expulsando todos moradores indesejáveis
Que vivem dentro de ti
E esse eterno e moderno sorriso
Poderá ser pago a prazo por dez anos
É tão fácil ser feliz nos dias de hoje
Apenas jogue sua personalidade fora
E compre as mais novas maravilhas da moda
E seja feliz como nos comerciais
Alugue um novo corpo e alma
Troque seu sangue e rosto
Compre novos olhos
E veja tudo completamente diferente

21
Criogenia

Todos correm, enquanto o sol queima nossas peles


E lá do outro lado a fúria do mar deixa tudo alagado
Enquanto muitos oram para o enviado
Chegar o mais breve possível
Encontram mais um fóssil, enquanto alguém é congelado
Até que encontrem a cura de toda tortura,
E um míssil é guardado para uma ameaça
Qualquer de guerra que possa haver
Pra que procurar beleza em Marte,
Se este é o planeta mais belo que há?
Gastar tanto dinheiro para ir tão longe,
Se há tanta coisa aqui para arrumar?
Para que seres quem és se não ajeitas o mundo?
E sei que nunca vai me escutar
Tudo terá que ser recongelado
Até sabermos como arrumar este mundo

22
Imperfeição Digital

Aqui estou eu, infelizmente natural, sujo


Por fora e por dentro, doente e sadio
Como animal, meu corpo não passou por um computador,
Sou apenas mais uma imperfeição digital
Sem voz distorcida, olho-me no espelho
Nada é perfeito, sou cheio de assimetrias
Tento melhorar, mas não há jeito
E assim levo minha vida
E é o que sou, uma imperfeição digital...
Carente, sonhador, enfim, naturalmente humano
Orgânico, carnal, sem retoques, sem arte-final
Uma pedra que não foi lapidada, um mortal
Preso a coisas fúteis, cheio de cicatrizes
Na alma, no corpo, na mente
Sem moral, levemente racional, defeitos
Que não foram maquiados digitalmente

23
Tecnologia e Civilização

A lógica que o homem criou


E que acabou criando a humanidade
Não serve para mim, ela a tudo massifica
E não sou assim, sou único como todo mundo
A civilização em que vivemos
Não é nada civilizada
A tecnologia que temos nos ajuda
Mas também nos afasta
É muita gente para um planeta só
É uma população muito grande
Em algum tempo não haverá mais espaço para todos nós
Mas ainda pode haver uma guerra em nossa civilização
Diminuindo a população
Ou com nossa tecnologia, viveremos debaixo do chão

24
Formatação

Estou precisando de uma formatação


De alguma forma de reconfiguração
Têm muitas informações inúteis
E fúteis em minha mente
Quero um novo sistema
Algo que me tire os dilemas
Dessa minha existência
Que vive de poema em poema
Deve haver algum vírus em mim
Que me faça agir assim
Que me faça impossível de conectar
Que faça meu programa sempre cair
Que me impossibilite de rir
Que me faça tanto chorar

25
Livro Aberto Com Páginas Arrancadas

A minha vida é um livro aberto


Porém, com páginas arrancadas
Todos podem ler o que nele há dentro,
Questionar, mas certas respostas não serão dadas
Há muito que escondo até de mim mesmo,
Há muito de mim que nem eu sei,
Mas há coisas que não quero que leiam
Para meu próprio (e dos outros) bem
Então, as páginas arrancadas eu jogo ao vento
De algumas, ainda sei de cor
Mas é este meu intento
O de certas coisas só eu saber,
De outras, eu esquecer
E de outras ainda, coisas melhores aprender

26
Ombro Amigo

É magnífico como eu não precise falar nada


Para que saibas tudo de mim, enfim
És a pessoa que melhor me conhece, cada
Pensamento que tenho, cada reação que eu possa ter
Sabes meus segredos a muito tempo,
Mesmo antes que eu os tenha contado
Se precisasse fazer um perfil meu
Certamente tu farias bem o trabalho
Impressionante que nem converse tanto contigo
Mas que saibas tudo de mim, que estás sempre ali
Quando preciso de uma palavra, um ombro amigo
Com todos erros que cometi, erros que só
Fizeram-te bem, impressiono-me
Por ainda me considerares tanto

27
Noite Sagrada

Eu hoje vi a felicidade nua e crua,


No teu corpo e na tua aura
Iluminando cintilantemente, como na hora da aurora
A mim, com tua perpétua doçura
Naquela cama sentia-me em outra realidade,
Em algo além do universo existente,
Tal beatas em vigília, que de tanto rezar, entram em transe
O amor que fizemos foi sagrado
Chegamos ao nirvana, juntos, num êxtase
De nossos corpos terem se unido
E se tornado um ser de beleza transcendental,
Que dali nasceu e nos juntará para a eternidade
E mesmo que já estejamos com outros,
Este espírito, as lembranças vão continuar
E quando formos para outro plano,
Ele lá estará para nos visitar

28
Ícaro Enamorado

Se eu pudesse, por uma só noite,


Pôr asas e voar ao mais alto do firmamento
Só para trazer uma estrela pra ti
Não esquecer que és meu único pensamento
Depois voaria até ti para entregar,
Este singelo presente estelar
Fá-lo-ia, por que sei, com toda certeza,
Que amarias esta minha sonhada dádiva
E sei que se minhas asas derretessem,
Tu me apanharias
Sei que se meu vôo não desse certo,
Mesmo assim, tu me apoiarias
Por que me apóias
Mais do que eu á mim mesmo
Pois o amor que me dás
É maior que o que dou a mim mesmo

29
Sensíveis Mãos

Sensíveis mãos que me tocam e acariciam


Com a destreza de um harpista
Em cordas, das quais a sinfonia
De tua voz sai, conforta e excita
Teus belos dançar e olhar,
Teu perfeito beijar
Faz-me querer te
E nunca mais de ti desgrudar
Faço de mim uma rosa sem espinhos
Para que tu me segures nessas
Tuas sensíveis mãos, pois lindos
Serão os dias que nelas passarei
Mãos tão belas que deslizam pelo ar,
Formando grandiosa sincronia
Com teu belo jeito de ser,
Numa perfeita harmonia

30
Bela Visão

Quando te abraço eu desejo


Poder nunca deixar-te ir
E quando te vejo rir
É quando quero eternizar nosso beijo
Posso ver claramente
Que és o melhor antidepressivo
Que posso ter, para minha mente
Estar sempre nesse bem-estar
E assim, tão claro quanto cristal
Posso isso ver, que és para mim
Um ser de carinho puro, afinal
Só tu me tratas assim
E nessa bela visão, nesse alfa
Sinto-me fora de mim
E bem junto a ti
Em uma bela fusão alcançada

31
Do Perdão à Mentira

O que há entre nós começou estruturado


Sobre um pilar de mentira
Mas a verdade veio e desmascarado
Fez-te, despertando-me certa ira
Foi um bom aprendizado, ensinou-nos muito
E raiva de ti não consigo ter
Não há como conceber tal sentimento
Por ti, por tão querido ser
Tudo bem que é uma situação complicada
Mas estou disposto a praticar
O perdão contigo, e de alma lavada,
Ao nosso romance voltar
Pois o que sentimos um pelo outro
É tão raro, tão frágil
E não quero desperdiçá-lo
Por uma mágoa, coisa tonta de humano

32
Inspiras

Não sei como expressar o que sinto por ti


Ou melhor, claro que sei, sei sim
Mas a frase soa um tanto quanto cafona
Quando ela sai de minha boca
E é composta só por três palavras
Mas não é aquela clichê, tradicional
Ela é um tanto vanguarda
Mesmo parecendo ser retrô
Tu me inspiras, é o que sinto por ti
És o combustível que me faz andar
Que me faz todos dias sorrir
Que faz eu cantar mesmo sem ter voz para isso
Escrever com meus garranchos coisas ruins
E dançar, mesmo sem coordenação alguma

33
Cinzeiro

Nas cinzas de meu cigarro já apagado


Vejo histórias, vejo contos
Vejo mortos neste cinzeiro lotado
De ansiedade que consome aos poucos
O cinzeiro, que é um cemitério disfarçado,
Cheira mal àqueles que nele não são chegados
Mas não é tão mal cheiro para mim,
Por exemplo, que me dou a este vício tão ruim
Mas são as cinzas do passado que realmente incomodam
Não só aos fumantes daí, mas a todos, pois afinal
Todos têm coisas antigas que lhes magoam
E todos têm seus cinzeiros, seus passados
Que, por mais que façam força e de fato apaguem, no fim
As cinzas, aquela sujeira fica, e hora ou outra, incomodam-nas

34
Revival da União

Isto é um revival, não um retrospecto


E sei que vamos arrasar
Mil corações a cantar conosco
Como em alguns anos atrás
Nossa manifestação do amor
Vai chocar, vai manifestar
Em todos o que queremos mostrar
Que para o amor, todos somos iguais
E o mundo vai vibrar, todos vão amar
Nesse revival de arte, revival da união
As pessoas podem não mudar, mas pelo menos vamos tocar
A alma daqueles que estarão lá
Nós os faremos pensar
E teremos feito o que devemos

35
Quando Tu Te Vais

Porque será que eu nem um pouco aproveito


Esses dias que passamos juntos, esses momentos
Que dividimos, unindo-nos a um só
E, quando estou sem ti sinto de mim pura dó?
Porque será que só te amo quando tu te vais
E nos dias que não nos telefonamos?
Eu só consigo te amar quando da porta tu sais
E paro quando, da janela, nos abanamos
Nada posso entender desse amor que só vem
Quando distância entre nós tem...
Quando junto de ti estou,
Sinto algo que é contrário ao amor
E conto as horas para que tu embora vá
Mas conto menos as horas para que venhas
É bizarro, logo não vou contar
Com que tu, esse meu amor, entendas

36
A Errata do Maktub

Sou um erro num edital


Com uma errata logo ao lado
Sou algo que se pensa anormal
E que tenta de si tirar o fatoDa existência, perde os amigos
Pelas loucuras que faz
Não sabe ser, não sabe esperar
Até o dia em que tudo será lido
Pois tudo já estava escrito
Porém com uma errata mais tarde
Crer no Maktub é lindo
Mas temos nossa vontade própria
Fazemos nossas erratas, somos coisas erráticas
No meio de toda essa paranóia

37
Bibelôs

Arranco as cabeças dos bibelôs que me destes


E depois os jogo fora, todos
Para esquecer que um dia me quisestes
E assim faço um tolo esforço
Pobres bibelôs, de nada têm culpa
Nem alma eles têm, nem cérebro também
Mas não ligo, neles desconto a raiva
Que de dentro de mim vem
E se direciona a ti, mas como não posso te alcançar
Acabo em nos bibelôs me rebelar, toco-os no lixo
Por não poder a ti nele tocar
Pois não posso mais suportar isso
E os bibelôs se tornam mártires em teu lugar
Mas no fim, sofrendo, ainda fico

38
Precedendo o Fim

Os dias que precedem o fim


São sempre chuvosos
Eles são sempre assim
Tão deprimentes e horrorosos
E nem dá vontade de sair
Só se quer em casa ficar
E o fim esperar
Após a noite cair
Mais um ciclo se fecha em nossas vidas
E um novo nelas se encaixa
E essa é, das coisas que há, a mais linda
E não saída por onde correr
Da forma como é
Isso que chamamos de viver

39
Sobre Solidão

Eu devia ter te dito desde o início


Que a solidão, para mim, é um vício
É minha verdadeira musa de inspiração
É muito difícil ganharem meu coração
Eu não quero te machucar, porém sei
Que outro como tu não vou encontrar
Tu me conheces melhor do que ninguém
Contigo, muito aprendi e de ti, jamais esquecerei
Espero que seja recíproco, pois
Nunca mais acharei alguém assim
Dar-te adeus, fazer isto me dói Mais, bem mais, do que em ti
Compreenda, sou viciado nessa eterna adolescência
Melancólico, desmundo e cheio de uma carência
Que, na verdade, quero extinguir
Com minha inspiração, minha poesia

40
Mausoléu

Veja o mausoléu que se transformou a vida, a casa,


O coração teu, tudo cheio de remendos,
Postos de modo a manter vivas as velharias mortas
Que com tal zelo mórbido tens guardado
Quadros queimados, pendurados sem mais sentido
Corações quebrados, que já cansaste de ver
Naquela estante, lembranças de tantos
Que já não precisam de teu ser
É hora da reforma, de pôr fora
Trocar tudo de lugar, trazer paz a este lar
Sem este quadro de dor que te consome
E no lugar, um quadro que te conforte colocar
Destruir esse mausoléu que existe em teu eu
E no lugar, pôr algo que de alguma forma te fortaleça
Pegar este espírito antiquado que em ti habita
E trocar por algo verdadeiramente teu

41
A Sombra dos Prazeres

Neste mundo de prazeres há essa sombra


É terrível saber que um querido teu
Foi vitimado por esta bomba
Que não pode ser desativada
Ela só pode ser controlada
Sua explosão, adiada,
Não há antídoto, não há vacina
A única que há é a prevenção
Que às vezes nos dá a sensação
De medo do que fazemos com quem andamos
Da paranóia que a sombra nos traz, mas não
Podemos nos negar do mundo
O único jeito é tomarmos cautela, prevenindo-nos
E sermos felizes no mundo dos prazeres da Terra
Pois a sombra pode atingir a todos,
Não só um grupo específico de pessoas

42
O Abstrato e Eu

O abstrato me trai e atrai


Não quero lhe dar sentido
Mas ele mesmo se dá
E de palhaço me faz
A criatura mandando no criador
Raiva dele eu sinto por assim ser
Por querer mais de mim ter
É um ódio pelo qual tenho amor
Ele vem na mente, sem imagem
Mente que não a tem
Mas na folha grita para mim:
"Olha minha cara, estou aqui!"
E tudo que posso fazer é deixar assim
É esquecer, encará-lo e seguir
A amá-lo como ele é,
Pois o abstrato me traz fé

43
Página em Branco

A página em branco é um paradoxo


É limpa, pura, mas vazia
E morta por não ter conteúdo, tediosa
Mas traz beleza em sua limpeza
Não que as palavras a sujem, e sim
Um conteúdo, algo para na folha se ver
Por mais que seja às vezes melhor vê-la branca, a fim
De nela nenhum conteúdo ruim ter
Mas a página em branco é eterna
E ninguém pode reclamar direitos por ela
Como de palavras escritas, que a querem corromper
E as lacunas, nem sempre temos que preencher
Pois há beleza no vazio, no nada
Inclusive nos vazios que há em nossos seres

44
Casulo

Como em um casulo, fico


Por dias a fio a me transformar
Depois de tudo,sinto
Tudo em mim mudar
Liberto-me de todo mal,
Deixo-o com os restos
Largo o velho eu em total
Comunhão fúnebre com o que deleto
Eu amo essas coisas que deixo,
Mas me preparo para as novas
Depois de largá-las, não mais me queixo
E sigo em frente no meu caminho, até ver quando
Precisarei formar um outro casulo,
Outra renovação em minha pessoa, meu ser, meu tudo e todo

45
Presentes do Presente

Espero tanto por coisas grandiosas


Que não noto as pequenas coisas
Que se passam ao meu redor e dentro
De mim, as mudanças que ocorrem
Martelo e martelo o ferro
Do futuro, mas não olho
Para os presentes do presente
E tudo que se passa em minha volta
Repito eternamente
Os mesmos erros, sempre querendo
E esperando dádivas ilusórias
Enquanto não vejo nada das pequenas
Senão mudar, nunca vou experimentar
O que é ser feliz nessa vida
Estarei sempre preso ao futuro
E nunca terei nada aproveitado

46
Um Ser de Puro Amor

Deus ensinou-me a amar e estou tentando


Também tento formar uma auto-imagem boa
Para eu ser o que estou querendo
E assim transformar-me em outra pessoa
Que é quem sou só que melhorada
Um tanto quanto aperfeiçoada, não amedrontada
Um ser de puro amor, cheio de cor
Como uma bela flor desabrochada
Sei que sou melhor que penso ser
Por ser filho Dele, por quem tenho em volta ter
E isso não se encaixa a mim, somos todos irmãos, especiais
Sei que este fraco que fui até agora foi fingimento
Pois, se verdade aquele fosse
Eu nem teria nascido, pois sou um filho do Senhor do firmamento

47
No Subterrâneo da Minha Alma

Nas áreas obscuras de meu ser


Há angústia, mágoa e dor
Coisas que, do subterrâneo da minha alma
Têm, de vir à tona, o prazer
No subterrâneo da minha alma
Não há coisas racionais humano
Há apenas coisas que herdei
De meus ancestrais
Há ódio, brutalidade, coisas naturais
Que sei que nunca vão acabar
Que sei que nunca vão mudar
Mas que tenho o dever de controlar
No meu subterrâneo há um outro eu
E tudo que posso fazer é trancá-lo
Amordaçá-lo, mas nunca o matar
Senão matarei parte de meu ser
Sou alguém que tenta ser racional
Que teve uma formação espiritual
Mas sem conseguir agir e pensar como tal
Mas que tem o dever, como todos, de ser alguém

48
A Dúvida e os Filósofos

Os filósofos ficam a questionar


Sobre o belo, o bem e o mal, a ética
Mas é difícil a algum ponto um deles chegar
Também, do que escrevem, lê-se nada
Minto, os acadêmicos lêem
E alguns poucos leigos também
São os que se afeiçoam pela a cultura
E pelas questões do ser, que causam angústia
Mas são tantas escolas de pensamento,
Divergem entre si, trazendo dúvida
De qual dos segmentos que está certo
Mas a dúvida é a mãe da filosofia
Senão, nenhum filósofo questionaria
E o próprio questionamento também não haveria

49
O Prazer da Dor

Todas pessoas adoram reclamar


Amor com dor é fácil de rimar,
É mais fácil viver só no sofrimento,
Por isso poucos querem mudar
Isso pelo prazer da dor
Fazemos muito só para nos arrepender,
Para ter um porquê para sofrer
E nos fechar, ver só a escuridão, nenhuma outra cor
Se olhássemos e víssemos a beleza
Das coisas, todas, de tudo que nos rodeia
Com sabedoria, notaríamos a riqueza
Dessa vida, sua magia e grandeza
Mas, como anda o mundo nos dias atuais,
Não adianta fazer discursos tão repetidos,
Iguais aos já feitos por pessoas, de tempos em tempos,
E que não mudaram o mundo em si nem um pouquinho

50
Orquídeas e Ervas Daninhas

Têm algo em comum, esses dois tipos de planta


Alimentam-se da seiva, que das plantas mais fortes,
Discretamente sugam
A diferença é que as orquídeas são lindas,
Disfarçam-se belamente, em forma de flor,
Já as daninhas não escondem
Sua feiúra com pétalas coloridas
Em nosso meio também podemos
Achar pessoas com as duas formas,
São aquelas que te deixam mal,
Mesmo aparentando serem tão boas
Mas, assim como as plantas mais fortes
Sempre têm o alimento para tirar da terra e do sol,
E conseguem se manter, as pessoas do mesmo grau também têm
À Força Interior e Deus para se agarrarem

51
Surrealizando Álbuns

Revirando e rearrumando retratos velhos,


Em alguns não vejo nem sentido, nem nexo,
Relembro neles momentos de alegria
E esse tipo de coisa me traz um tipo de nostalgia
E os que me lembram coisas ruins
Eu rasgo, tentando rasgar aquilo
Do passado, que de forma alguma vai sair de mim,
Ainda disso sabendo, faço mesmo assim
E as fotos, em álbuns bem arrumados,
Por mim e por outros, tento reorganizar
Tentando mudar a trajetória dos fatos,
Tentando, minha vida, modificar
Surrealizando a ordem retratada
Tentando mudar minha vida já passada,
Fingindo que certas coisas não aconteceram
Para me sentir bem e pensar melhor no que vem
E o futuro me aguarda com muitas outras,
Prontas para serem retiradas
Fatos que ficam imortalizadas em fotos,
Que um dia serão, por alguém que,
Nelas não vê sentido, jogar-lhes-á fora

52
Cabeça Erguida

Coluna ereta, cabeça erguida,


Fingindo a todos que tem uma boa vida
Tentando, toda hora, achar uma saída
Para que sinta alguma alegria
Na solidão se sente tão bem
É quando pode chorar pelos problemas que tem
É quando consegue largar o peso que vive a carregar nas costas,
E encontra tempo para se lamentar
Mas o que importa é que tem esperança
De achar a cura destas doenças
E todas as coisas que o atrapalham, seu dia-a-dia
Sabe que não pode só viver na agonia
E prometeu não mais fingir,
Nem para si mesmo, e não vai mais se acomodar
Afinal, já é um novo dia, o sol já vai nascer,
E ele vai deixá-lo suas lágrimas, para sempre, secar

53
Contrariedades

Sou sim um ser contraditório


Tenho convicções opostas entre si
A cada momento, tenho uma incerteza
E sigo a investigar
Pois a certeza de uma realidade para mim é uma doença
É assentar-se numa verdade e não mais se levantar
É nas minhas contrariedades que está
Toda a minha sabedoria, inteligência e beleza,
Na certeza de que certas respostas nunca se mostrarão
E por mais que sejas convicto em tua opinião
Sei que também te pegas em dúvida, contra a tua vontade,
Por mais que penses que tens a verdade, que tens razão

54
Além de Mim (Não Posso Ser)

Para quê ser perfeito se tenho a chance


De ser o que eu quiser ser?
E assim sigo, sem querer ter
Qualquer traço de cinismo
Posso não ser o que querem de mim,
Mas pelo menos sou algo
Enquanto muitos não são, o que é ruim
E questão de ser eu faço
Defeitos todos em mim encontram
Mas não posso ser outra pessoa
Além de mim, de quem eu sou
E eu sou, sou sim
E crio motivos para existir
Diferentemente de muitos por aí

55
Desvendando as Palavras

Leio e releio o que tu escreves


Como quem faz uma prece
Quase que em transe
Como se assim te desvendasse
Assim tento, por tolo meio,
Encontrar-te no seio
Das páginas do livro,
Onde fazes o mais lindo,
Mais belo dos ofícios,
O de escrever a beleza
De criar, como a natureza
O ofício de criar em palavras
Um mundo à parte
Assim te faz como uma deusa
Pois este mundo parte de tua alma,
Que tento desvendar nas palavras

56
O Cultivo do Eu

Não sabemos quem somos, perdemo-nos


Alienamo-nos no meio do povo,
Massificamo-nos, tornamo-nos um todo,
Esquecendo de cultivar a alma que nós temos
Devemos todos nos sentar e encontrar
Aquilo que perdemos, o "eu",
O teu, o de cada um que há,
Aquilo que temos de especial e no individualizar
Egoísmo tem o seu lado ruim,
Mas também tem seu lado correto
(E há o egotismo, que é o pior, mas a questão não é essa)
Devemos ser egoístas do jeito correto
Encontrar quem somos, sem influências externas,
E, com isto, fazer do "eu" um cultivo
E amar o que temos de individual, e também das outras pessoas
Relembrar que não somos uma massa
Cada qual com sua luz, iluminando aos outros,
Assim, talvez, trazer paz as nossas ruas e casas
E nos amarmos, como pequenas partes que formam um todo

57
Cores

Sou um homem de muitos sonhos,


Que quando a realidade me assusta,
É neles que me escondo
Mas muitos deles não quero materializar
Só para poder vivê-los em seu estado lúdico,
Fantasioso e colorido e assim contrariar
O cinza que seriam se efetuados
Porque nada real é cor total,
As cores são só fruto de nossa mente
Que, como vemos, entende-as,
Dependendo de como nelas reflete a luz do sol
E, por as cores serem fruto de nosso cérebro,
Só lá elas podem existir, e não quero realizar,
Tirar alguns certos projetos de lá,
Para que eu tenha, em meus sonhos, belos quadros para olhar

58
Indivíduo Bem Individualizado

Não trocaria de jeito algum


Minha individualidade por um senso comum
Não seria, de forma alguma
Um ser de forma massificada
Se eu me vendesse a algum todo, seria qualquer um
Não que eu seja superior, mas sou um
Indivíduo bem individualizado, seria só mais algum
Numa soma, sem muito, entre eles, para diferenciar
Onde são todos entre si quase iguais,
Não existem sozinhos, não têm razão para existir, nem opinião própria têm,
Ficam sempre com as mesmas conversar e sempre as mesmas conclusões,
Até parece que nem sentem
Claro, ser parte de um grupo é necessário,
Mas deve ser um diferenciado entre si,
E ter noção que tu és um ser e, tem o dever de ser individualizado

59
Plantio e Colheita

Na vida há sempre dois tempos:


O de plantar e o de colher
O que se colhe depende do jeito
Que tu plantastes a semente
Há um tempo certo para o plantio
E um tempo certo também para a colheita
Não se deve ser, com esse tempo, querer que ele seja corrido,
Ser afobado, nem que seja muito de maneira muito lenta
É também importante que saibas bem
Escolher as sementes que vais a plantar
É necessário, elas, saber selecionar
Tudo que colhes é como é
Pela forma que tu mesmo plantastes,
Não por outra coisa qualquer

60
Jardim Cândido

Um jardim de flores e cores


Odores e perfumes pueris
Sincero e sem dores
Num todo de espíritos juvenis
Um jardim cândido
Devemos cultivar, puro
Doce e brando
Onde haja bem em tudo
Foi o que nos foi ordenado
Criar e cultivar boas coisas
E esquecer, deixar as ruins de lado
Para serem boas as que colhermos

61
Orgasmos

Esse momento que nós dividimos,


Oh, momento de puro prazer
Que me faz eterno ele ser
Quando estivemos com nossos corpos unidos
No momento que nos violamos
Violentamo-nos com amor
Unimo-nos e fomos, em prazer, um só
Nós dois em um, naquele momento
Orgasmo, glória de Jeová, da criação,
Fim dum longo prazer, duma união
Não só carnal, de muita emoção
Tudo começa e acaba com essa sensação,
Os franceses chamam isso de "a pequena morte"
E eles não estão errados não,
Nossa vida é uma sucessão de orgasmos,
É o que sentem nossos pais quando somos feitos
E, desse gozo, somos uma extensão

62
O Todo Uno

Vejo Deus no olho dum gato,


No sexo, no amor, numa árvore,
Numa almofada e até num sapato
Vejo-O até em ti, seu paspalho
E Ele, Ele do que falo sabe
Pois está em todo lugar
Des’das pedras até às nuvens,
Em todo o ar que respiramos
E além
É onipresente em espaço e tempo
É tudo que somos,
Dividiu-Se no Todo, no que vemos e no que nem sentimos,
Está em tudo e ao mesmo tempo é Uno
E assim Ele sempre foi e continuará sendo
Por toda eternidade, interminável,
Sendo sempre essa presença amável

63
A Lótus Espinhosa

A verdade é uma lótus que é espinhosa


Nasce do lodo, aonde acorda
Com beleza, e sutileza ela exala,
Mas faz sangrar segurá-la
E é difícil de contá-la
Deve-se entregar d quem a quer,
Fazer esta pessoa tocá-la
De forma a lhe sangrar
E fazê-la com que sinta,
Fazê-la ver como é nas mãos ter
Algo tão belo e doloroso, a mais fina
Das flores, que da sujeira vem
Mas essa lótus tem um diferencial
Tem espinhos, e causam uma dor mortal
Dor que ilumina o caminho e traz claridade
Tanto pro passado quanto pro futuro
Tu queres a verdade?

64
A Luz e Suas Ausências

Não há pecado, não há benfeitoria,


Tudo o que existe é a luz e sua ausência,
O Deus Uno, o universo que nos permeia
É quem rege nossas vidas
O que vemos é pura ilusão e o que há de verdade,
A luz e suas ausências, não podem ser vista ou tocada,
Não pode ser explicada com nossas palavras,
Com a linguagem que criamos para explicar a materialidade
Todos tentam explicar, criam pontos-de-vista,
Cada qual correto para si, criam guerras por isso
Mas não há jeito de, através de nossas línguas,
O que em nossas mentes não entendemos, pôr-mos em um livro
Somos muito limitados ainda,
Não saberemos a verdade em vida,
Porque com a mente e a tecnologia que temos e usamos
Só podemos é explicar a natureza, pondo nomes e definições,
Mas não há jeito ainda de explicar o Deus que a cria
E tudo que sabemos é que há a luz e suas ausências

65
Um Novo Prazer

Quero algo completamente novo


Diferente do que têm os outros
Que não seja estranho, nem muito louco,
Mas que fuja desse cotidiano
Não quero nada ilícito nem perigoso,
Mas que não esteja ao alcance de todos
Algo que seja real e totalmente prazeroso
Que me tire de mim e me faça sentir-me poderoso
Quero prazer, um novo prazer,
Que eu nunca tenha experimentado antes,
Do qual seja o descobridor, o inaugurador,
Que eu seja o primeiro a sentir, a fazer
Vou encontrar este prazer que não sei
Onde é que ele pode estar
O inventor disso eu serei
Estou cansado com esses que por aí há

66
Delfos

Delfos nos dava difícil tarefa,


Conhecemos melhor quem é o outro
Do que a nós mesmos, o que leva
A crer que é impossível chegar a esse ponto
Entrar numa busca do verdadeiro eu...
Não temos tempo hoje em dia para isso
Mal sabemos do que fazer gostamos,
E nem temos tempo para algo fazermos
Estamos tão massificados, padronizados,
Que nos perdemos no meio do povo
Sem nunca descobrirmos quem somos
E trocamos nossas desconhecidas individualidades
Pelas características das tribos em geral
Perdendo, assim, toda nossas identidades

67
Dias Simples

Dias simples, onde nada acontece


Onde meu mundo, parado permanece,
Esperando que algo a mim viesse
E a mim, uma chance desse
Talvez pudesse eu amar
Todos que por mim passaram
Mas não foi isso, não
E os anos se foram sem mim
Nada se passa por aqui
Nem vem, nem vai
Dias simples, vazios, sem nada de mais
Tudo estagnado ao meu lado
Só o murmúrio de um rádio
Embalando alguém badalado
Trazendo e levando emoções
Cantadas por alguns bons chorões

68
Abra os Olhos, Criança

Abra os olhos, criança,


A venda que os protege, com inocência,
Dos mistérios da vida já é desnecessária
Já tens tudo para sair da infância
Criança, lave a cara e olhe em volta
Veja o pesadelo terreno que te rodeia,
Transforme-o em areia,
E molde em teu maior sonho
Ponha-te de pé, criança
Pare de engatinhar feito um bebê
Confie em tuas pernas, elas podem te levar
Aonde quiseres ir, à qualquer lugar
Levante e ande, Tu podes
És bonito e forte, por fora e por dentro
Pegue as armas que tens e vá lutar!
Abra os olhos, criança
Não és mais um bebê
Podes ter o mundo, é só parar de só sonhar,
E lutar para seu sonho se concretizar
E lutar
E lutar
E lutar

69
O Caminho

Procuras por uma nova inspiração,


Um novo sentido para tudo que te rodeia,
Algo maior, um motivo pra tua existência,
Que te dê, para estar aqui, uma razão
Olhas por todos lados, nada encontras
Não achas sentido na música, nos livros,
E nem mesmo no sagrado prato de comida
Mas há este lugar que nunca procuras:
Olhe para dentro de si, lá está
Tudo que precisa para seguir,
Só lá que podes encontrar
Deus na Sua forma mais pura
Livros, músicas ou palavras,
Nada vai te levar a Deus
Se estiveres fechado para
Ele em tua pura alma

70
Mausoléu II (Coisas Que Eu Não Disse na Hora Certa)

Às vezes ainda me sinto num mausoléu


Com coisas repetitivas ao meu redor,
Erros do passado que me escurecem como breu
E pensamentos mortos, que se levantam do pó
E me parece tão difícil redecorar isso,
Jogar esses quadros fora me dói
Estou, por esses fatos todos, viciado
Mas esse passado ruim me corrói
Não, nunca vou me esquecer, essas coisas todas vão sempre me perseguir
Mas preciso mudar, botar fogo nisso
Por mais que, na memória, insista em existir
As dores me tomam conta, de coisas que não disse,
Atormentam-me até hoje, onde existe
Ódio no lugar do amor construidor
Mas o tempo de serem ditos já se passou

71
Marketing

Não importa o que falem de mim,


O que importa é o meu marketing
Nada mais conta, sendo assim,
Faço de tudo para ser comentado,
Para ser notado, falado
Quero meu nome na boca do povo
De ficar no anonimato, estou cansado
Quero que falem de mim em côro
Assim, de tudo faço para ser apontado
No meio do resto das pessoas,
Cutucando-se e cochichando,
Meu nome baixinho no ouvido dos outros
E o marketing cresce, e vai
Para além dos limites da cidade
A coisa toma conta de mim e sai,
Tomando conta de outros lugares

72
Coisa Inacabada

Não há razão, para mim não há,


Tudo anda, tudo se mexe, é um movimento só
A coisa toda fica de ponta cabeça
Dança, remexe-se, mas morre de inércia
E por que querer achar algo deste tipo?
Eu fico a me perguntar, E A ME PERGUNTAR FICO!
Sinto algo chegar, mas é puro alarme falso
E, na indagação, idioticamente eu sigo
E só vêm frases sem sentido, histórias sem moral
Coisa inacabada, pintura no canto jogada
Não há nem esboço e nem arte-final
Mas a coisa se mexe e respira, é animada!
O pior, a tal coisa fala, apesar de ser idéia abortada
E ela não quer morrer, dou-lhe o conselho, mas ela não se mata
Tem grande vontade de viver e mostrar para quê veio
Tem sentido, por mais que não o ache, por mais que seja coitada

73
Refém da Fama

Não quero jogar meus ideais


Ralo a baixo, mas é o que parece
Que a maioria das pessoas faz
Quando sua popularidade cresce
Não quero me transformar em um nada
Em um bonequinho que é manipulado
Cujas palavras a serem ditas são dadas
E a boca tem cordas dos dois lados
Não quero ser o que tu és,
Um refém da fama
Que faz o possível para ser aclamado
Para ser, para todos lugares, convidado
Usando ideais falsos como propaganda
Para algo que se diz apartidário
Fazendo disso tudo, para idiotas, uma ciranda

74
Máscaras

Quando as máscaras caem e se mostra


O verdadeiro Eu das pessoas,
O interesse real das coisas
A realidade, ela se desdobra
Ela grita na nossa cara e assusta,
E nos faz ter que mudar
Faz-nos uma máscara também ter que usar,
E para fora da verdade nos chuta
E esta máscara não me enobrece,
Ao contrário, espiritualmente me empobrece,
Enquanto não chegar aonde quero estar
E a verdade me faz mentir,
Enquanto a dos outros se faz cair,
Temos que uma colocar

75
Mise-en-Scéne

Perdi-me em minha mise-en-scéne


Sim, hoje eu surtei de vez
E joguei tudo para o alto,
Esquecendo quem sou de fato,
Não tem problema, hoje eu surto,
Estrago tudo, amanhã eu arrumo
Amanhã, os cacos, eu junto
E refaço como era antes tudo
Recupero amanhã minha mise-en-scéne,
Hoje não quero ser dirigido,
Hoje serei um pássaro ferido
Por uma espingarda a cair, com uma asa furada
Sem edição, direção, nada
Que me faça ser de outra forma
Amanhã o diretor retorna
E me retoma

76
Fortuna da Alma

Nunca se fala do que vem após a bonança


Este vazio, falta de propósito,
Isto até parece uma doença
Isto, que é qualquer coisa
Mas vem sempre uma nova tempestade
Que é causada pelo, do vazio que se sente, choro
Como se, para existir, isto fosse um imposto
Então tudo se reestrutura, vem a nova bonança,
A fortuna da alma, um motivo para se levantar, a simetria,
Até que, nova tempestade virá, um dia

77
Um Homem Verdadeiro

Vejo a realidade, e não gosto do que vejo


Pois ela se opõe ao que desejo
Que ela seja, escondo-me na fantasia
Analiso minha vida, volto e deleto
Tiro da minha realidade o que me desagrada
E me torno o que quero ser
Sem precisar de artifícios para esconder
Qual é minha verdadeira cara
E sou quem sou porque sou
Quem não sou, porque me ensinaram
A ser sempre um homem verdadeiro
E sou coroado de felicidade pelos meus atos
Ele é bom e sabe, é o único que sabe
Toda e qualquer verdade

78
Licor dos Deuses

Preciso a cada dia de um novo mundo,


Uma nova forma de me expressar, um novo sentimento
Fazendo-me ir atrás de tudo
Que possa me inspirar, por fora e por dentro
Então penso e penso, tento e experimento
Todas experiências que me levem a tal intento
Correndo atrás (às vezes um pouco lento)
De,de sentir a cada dia, um novo jeito
E assim sigo nessa jornada emocional
De sentir-me como um mortal
Que experimenta o licor dos deuses
Que embriaga de emoções, total
Até que se possa ver que nossos quereres
Não são coisas só de um ser carnal

79
Anjos Não Morrem (À Diná)

Um milhão de poesias farei pelo amor que tenho por ti,


Minha guardiã, meu anjo sem asas, cheia de esperança e perdão
Sempre fostes forte, um exemplo, e sempre estarás
Viva em minha alma, em meu coração
Não morrestes, eu sei, apenas vestistes tuas asas
E voastes alto e de lá, cuidas de teus entes
Com a tua proteção, sempre estaremos bem,
Sempre haverá a bonança,
Mesmo nos momentos de tempestade
E quanto a mim, sempre serei a tua criança

80
Nautique

Tenho navegado a tanto tempo por estas ruas desertas de emoção,


No meu barco à vela, contra o vento, sempre chegando à Ilha da Solidão
Ainda espero desembarcar naquela esquina inexistente,
Paula Soares com Coronel Vicente, e tu estar lá
Mas também tenho estado naufragado
Nesta ilha de carinho, que é meu lar
Isto entra por todos lados do meu barco,
Enche-me de pessoas que só posso é amar
Quanto a ti, ainda vou te achar, através de uma estrela enfeitada,
Guiando-me para onde estás,
Esperando para navegar comigo, nesse barco de amor, até que eu vá aportar em um cais

81

Estava vindo e, ao mesmo tempo, ouvindo


Tua voz a me chamar, meu nome a clamar,
A lembrar-me quem sou, este lindo
Ser que, desde cedo, aprendi a ser
Parece-me que dele esqueci lá
Lá estava sendo tão diferente,
Lá esqueci quem eu era
Mas voltei, e nunca mais esquecerei
Naquela terra de bárbaros, muito aprendi
Mas agora estou de volta, a ser quem sou
E à terra amada, onde nasci e cresci,
E tão cedo daqui não quero sair
Muito senti falta daqui, agora
Estou de volta e quero ficar aqui

82
Amor a Retribuir

Depois que descobri o sentido para minha vida


Tudo mudou, e pensar que saí dela
Passei muito tempo sem compreendê-la,
Mas nunca deixei de amá-la
Recebi muito amor,
Agora tenho que retribuir
Não precisas ter medo,
O que tu não entendes
Muita gente não entende também
E muitas coisas para sempre
Ficarão nesse non-sense

83
A Árvore da Vida

Vejo, no horizonte de minha vida,


Uma árvore a me chamar ao seu topo,
Onde há conforto e calor, de onde posso tocar
O sol e repousar nas nuvens
Mas, para isto, ela me diz,
Devo escalar todos seus galhos,
Experimentar suas frutas amargas,
Verei muitas belas flores, mas terei que me ferir em muitos espinhos
Mas farei tudo isso para tocar os céus
Tenho que fazê-lo, pois todos estamos aqui
Para isto, e por isso tudo, devemos passar

Temos que enfrentar a existência, até o fim


Devemos escalar esta árvore da vida,
Todos merecemos tocar o céu
E eu vou me esforçar, com a finalidade
De chegar à eternidade

84
Imortalidade Material

Só há um jeito de tornar a existência terrena


Algo além da nossa passagem mortal
Pois vivemos no tempo, somos coisa passageira
Morremos e só então nos tornamos algo atemporal
E o jeito de tornarmos nossa passagem imortal
É deixando matéria para os que vierem depois
Algo para olharem e lembrarem do tal
Ser que existiu mas já se foi
Então serás eterno, terás um sinal,
Um símbolo, uma marca, uma obra terrena, uma materialidade imortal
E serás tatilmente transcendente
Não só alguém que por aqui passou
Mas que algo deixou e se destacou

85
86

Vous aimerez peut-être aussi