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Plantando
Certamente, as minhas 'New Leafs' têm o nome certo. Elas fazem parte
de uma nova classe de plantas agrícolas que estão mudando rapidamente
a cadeia alimentar dos Estados Unidos. Este ano, o quarto ano em que
essa semente geneticamente alterada está no mercado, cerca de 45
milhões de acres de terras aráveis americanas foram plantadas com
transgênicos, na maioria milho, soja, algodão e batatas que foram
engenheiradas, ou para produzir seus próprios agrotóxicos, ou para
tolerar os herbicidas. Embora os americanos já tenham começado a
comer batatas, milho e soja geneticamente engenheirados, as pesquisas
industriais confirmam o que os meus próprios levantamentos informais
sugerem: quase nenhum de nós sabe disso. O motivo não é difícil de
encontrar. A indústria biotecnológica, com a concordância do FDA,
decidiu que nós não precisamos saber disso e, então, os
alimentos 'biotec' não trazem rótulos de identificação. Em um
deslumbrante posicionamento, a indústria conseguiu descrever essas
plantas como os pilares de uma revolução biológica - parte de
um "novo paradigma agrícola" que vai tornar a agricultura mais
sustentável, alimentar o mundo e melhorar a saúde e a nutrição - e,
bastante curioso, como o mesmo velho discurso. Pelo menos no que
poderia interessar àqueles de nós que estamos no fim dacadeia
alimentar.
Já ouvimos tudo isso antes, é claro, mas quase sempre dito por
ambientalistas e produtores orgânicos; a novidade é ouvir a mesma
crítica de produtores convencionais, funcionários governamentais e,
até mesmo, de muitas corporações do 'agrobusiness', todos eles
reconhecendo agora que nossa cadeia alimentar está precisando de
reforma. Parecendo mais Wendell Berry do que a gigante
do 'agrobusiness' que é, a Monsanto declarou em seu mais recente
relatório anual que "a tecnologia agrícola atual não ésustentável".
Brotação
Crescimento
Pedi-lhe uma metáfora melhor. "Um ecossistema", ele disse. "Você pode
sempre interferir e mudar algo nele, mas não há maneira de saber
quais serão todos os efeitos posteriores, ou como isso poderia afetar
o meio ambiente. Temos um entendimento tão pobre de como o organismo
se desenvolve a partir do seu DNA, que eu irei me surpreender se não
tivermos um choque assustador após outro."
Florescimento
Kimbrell afirma que, pelo fato de nossas leis sobre poluição terem
sido feitas antes do aparecimento da biotecnologia, a nova indústria
está sendo regulamentada por um regime inadequado, projetado para a
era química. Até agora, o Congresso não aprovou nenhuma lei ambiental
especificamente a respeito da biotecnologia. A Monsanto, por sua vez,
afirma que examinou completamente todos os potenciais riscos de suas
plantas biotec para o ambiente e a saúde, e mostra que três agências
reguladoras - o USDA, o EPA e o FDA - aprovaram os seus produtos.
Falando da New Leaf, Dave Stark disse-me, "Essa é a batata mais
exaustivamente estudada da história."
Mas muita coisa tem de estar adequada para que o Sr. Errado conheça a
Srta. Certa. Ninguém tem certeza do tamanho dos refúgios, onde eles
deveriam estar situados, ou se os produtores vão cooperar (criar
paraísos para uma praga detestada é anti-intuitivo, afinal), isso
para não falar dos besouros. No caso das batatas, o EPA tornou o
plano voluntário e as companhias que o implementem sozinhas; não há
mecanismos no EPA que exijam tal cumprimento. Por isso é que a
maioria dos agricultores orgânicos com os quais eu falei considerou o
esquema regulador como mero engodo.
Mas, mesmo no caso desses cultivos biotec sobre os quais o FDA não
tem jurisdição, fiquei sabendo que as suas normas sobre alimentos
biotec têm sido basicamente voluntárias desde 1992, quando o Vice-
Presidente Dan Quayle emitiu normas para a indústria, como parte da
campanha do Governo Bush para o "amparo regulador". Segundo as
diretivas, novas proteínas engenheiradas nos alimentos são
consideradas como aditivos, a não ser que sejam agrotóxicos mas, como
explicou Maryanski, "a companhia pode determinar se uma nova proteína
é 'GRAS'". Companhias com um novo alimento biotec decidem por si
próprias se precisam ou não consultar o FDA, seguindo uma série
de "roteiros de decisão" que colocam perguntas do tipo sim ou não,
como está:"... A proteína introduzida levanta qualquer preocupação
com a segurança?".
Não é difícil ver por que um agricultor como Forsyth, lutando contra
estreitas margens de lucro e preocupado com produtos químicos,
mudaria para a New Leaf - ou nesse caso, uma New Leaf Plus, que é
protegida contra o vírus da folha enrolada e dos besouros. "A New
Leaf significa que eu posso evitar algumas pulverizações, inclusive
com o Monitor. Economizo dinheiro e durmo melhor. E, por acaso,
também é um tubérculo bonito." No entanto, as New Leaf não saem
baratas. Elas custam entre US$ 20,00 e US$ 30,00 a mais por acre,
em "taxas tecnológicas" para a Monsanto.
Perguntei a Heath sobre a New Leaf. Ele não tinha dúvidas de que a
resistência chegaria - "os besouros serão sempre mais espertos do que
nós" - e disse que era injusto a Monsanto aproveitar-se da ruína do
Bt, algo que ele considerava como um "bem público".
Ele também planta fileiras de plantas que florescem nas bordas das
batatas - ervilhas ou alfafa, usualmente - para atrair os insetos
benéficos que comem as larvas dos besouros e os pulgões. Se não
houver benefícios suficientes com isso, ele introduz joaninhas. Heath
também cultiva oito variedades de batatas, com a teoria de que a
biodiversidade na lavoura, como na natureza, é a melhor defesa contra
os desequilíbrios no sistema. Uma ano mau para uma variedade será
provavelmente contrabalançado por um ano bom para outras.
Logo a companhia poderá não precisar disso. Espera-se que ela adquira
a patente de uma poderosa e nova biotecnologia chamada Terminator,
que, na verdade, permitirá à companhia fazer respeitar suas patentes
através da biologia. Desenvolvido pelo Ministério da Agricultura dos
EUA em parceria com Delta and Pine Land, uma companhia de sementes em
processo para ser adquirida pela Monsanto, o Terminator é um complexo
de genes que, teoricamente, pode ser aplicado em qualquer espécie
agrícola, que fará com que toda a semente produzida por tal planta
seja estéril. Uma vez que o Terminator torne-se o padrão da
indústria, o controle sobre a genética das plantas agrícolas
completará seu deslocamento, da lavoura do agricultor para a
companhia de sementes - à qual o agricultor não terá outra escolha, a
não ser retornar ano após ano. O Terminator permitirá a companhias
como a Monsanto privatizar uma das últimas grandes coisas comuns da
natureza - a genética das plantas agrícolas que a civilização vem
desenvolvendo nos últimos 10 000 anos.
Colheita
Eu pressionei. Existe alguma razão para que eu não deva comer estas
batatas?
Era uma boa questão. Então, por um tempo, eu mantive as minhas New
Leafs em um saco na varanda. Levei o saco comigo nas férias, pensando
que talvez eu fosse experimentá-las, mas o saco voltou para casa
intocado.
O saco ficou na minha varanda até o outro dia, quando fui convidado
para uma janta-piquenique de final de verão na praia da cidade.
Perfeito. Eu me comprometi a preparar uma salada de batatas. Eu
trouxe o saco para a cozinha e coloquei uma panela de água sobre o
fogão. Mas, antes que fervesse, fui assaltado por esse pensamento: Eu
teria de dizer às pessoas no piquenique o que elas estavam comendo.
Estou certo (bem, quase certo) que as batatas são seguras mas, se a
idéia de comer alimentos biotec sem sabê-lo me incomodava, como é que
eu poderia pedir que meus vizinhos o fizessem? Assim, eu iria contar-
lhes sobre as New Leafs - e então, sem dúvidas, levar de volta para
casa uma grande saladeira com salada de batatas intocada. Certamente
haveria outras saladas de batatas no piquenique, e quem, podendo
escolher, iria algum dia optar pelo prato com as batatas biotec?