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Working Paper

O NOVO CÓDIGO
FLORESTAL
ANÁLISE DA LEI NO. 12.651, DE 25 DE MAIO DE
2012.
Volume I - Versão Preliminar
Autores:

Ronaldo Weigand Jr.

Vera Maria Weigand

Junho - 2012
CONTEÚDO
Apresentação............................................................................................................................ 1
Análise do Texto da Nova Lei..................................................................................................... 1
CAPÍTULO I: DISPOSIÇÕES GERAIS ......................................................................................... 1
Art. 1º ............................................................................................................................... 1
Art. 2º ............................................................................................................................... 2
Art. 3º ............................................................................................................................... 2
CAPÍTULO II: DAS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE .................................................... 7
Art. 4º ............................................................................................................................... 7
Art. 5º ............................................................................................................................. 11
Art. 6º ............................................................................................................................. 12
Art. 7º ............................................................................................................................. 13
Art. 8º ............................................................................................................................. 14
Art. 9º ............................................................................................................................. 15
CAPÍTULO III: DAS ÁREAS DE USO RESTRITO ........................................................................ 15
Art. 10 ............................................................................................................................. 15
CAPÍTULO III-A: DO USO ECOLOGICAMENTE SUSTENTÁVEL DOS APICUNS E SALGADOS ...... 16
Art. 11-A ......................................................................................................................... 16
Considerações sobre esta versão preliminar ........................................................................... 18
APRESENTAÇÃO
No dia 25 de maio de 2012, a presidente Dilma Rousseff sancionou com vetos a Lei no. 12.651,
após um longo e polêmico processo no Congresso Nacional. Devido à extensão dos vetos, a
presidente também editou a Medida Provisória 571, que buscou preencher as lacunas e ir
além, restaurando um acordo feito entre o governo e a bancada ruralista durante a tramitação
do Projeto de Lei no Senado. O resultado (Pl com vetos combinados com MP) tem sido
defendido por governistas, levemente criticado pelos ruralistas e fortemente criticado pelos
ambientalistas.

A Nave Terra – Consultoria Socioambiental vem acompanhando essa reta final e combinou as
especialidades de sua equipe, no caso Ronaldo Weigand Jr., engenheiro agrônomo, Ph.D. em
Antropologia e especialista em políticas públicas para a conservação da natureza, e Vera Maria
Weigand, advogada e mestre em Direito, para produzir uma análise isenta (tanto quanto
possível) do novo texto. O resultado preliminar da primeira parte desta análise é apresentado
neste working paper.

É importante notar que a Lei 12.651 modificada pela MP 571 é complexa e extensa e que há
várias referências internas no texto, que tornam a sua análise em partes, como está sendo
feito aqui, um empreendimento arriscado. Por isso, ressaltamos que é uma análise preliminar,
que poderá mudar ao chegarmos ao final do texto da nova Lei.

Com isso, a Nave Terra procura contribuir para o debate e para o aperfeiçoamento da nova Lei,
que será discutida novamente no Congresso por ocasião da análise dos vetos e da MP 571.

ANÁLISE DO TEXTO DA NOVA LEI


A seguir, apresenta-se o texto da Lei no. 12.651, de 25 de maio de 2012, destacado, com
comentários posteriores, avaliando as mudanças em relação à legislação baseada na Lei 4771,
e as implicações para a conservação dos recursos naturais. Para efeito de concisão e redação
mais agradável, a Lei 12.651 será referida como “nova Lei” ou “nesta Lei” neste texto.

CAPÍTULO I: DISPOSIÇÕES GERAIS


CAPÍTULO I

DISPOSIÇÕES GERAIS

ART. 1º
Art. 1o (VETADO).

Art. 1º-A. Esta Lei estabelece normas gerais com o fundamento central da proteção e uso sustentável das florestas e demais
formas de vegetação nativa em harmonia com a promoção do desenvolvimento econômico, atendidos os seguintes
princípios: (Incluído pela Medida Provisória nº 571, de 2012).

I - reconhecimento das florestas existentes no território nacional e demais formas de vegetação nativa como bens de
interesse comum a todos os habitantes do País; (Incluído pela Medida Provisória nº 571, de 2012).

II - afirmação do compromisso soberano do Brasil com a preservação das suas florestas e demais formas de vegetação
nativa, da biodiversidade, do solo e dos recursos hídricos, e com a integridade do sistema climático, para o bem-estar das
gerações presentes e futuras; (Incluído pela Medida Provisória nº 571, de 2012).

1
III - reconhecimento da função estratégica da produção rural na recuperação e manutenção das florestas e demais formas
de vegetação nativa, e do papel destas na sustentabilidade da produção agropecuária; (Incluído pela Medida Provisória nº
571, de 2012).

IV - consagração do compromisso do País com o modelo de desenvolvimento ecologicamente sustentável, que concilie o uso
produtivo da terra e a contribuição de serviços coletivos das florestas e demais formas de vegetação nativa privadas;
(Incluído pela Medida Provisória nº 571, de 2012).

V - ação governamental de proteção e uso sustentável de florestas, coordenada com a Política Nacional do Meio Ambiente,
a Política Nacional de Recursos Hídricos, a Política Agrícola, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza, a
Política de Gestão de Florestas Públicas, a Política Nacional sobre Mudança do Clima e a Política Nacional da
Biodiversidade; (Incluído pela Medida Provisória nº 571, de 2012).

VI - responsabilidade comum de União, Estados, Distrito Federal e Municípios, em colaboração com a sociedade civil, na
criação de políticas para a preservação e restauração da vegetação nativa e de suas funções ecológicas e sociais nas áreas
urbanas e rurais; (Incluído pela Medida Provisória nº 571, de 2012).

VII - fomento à inovação para o uso sustentável, a recuperação e a preservação das florestas e demais formas de vegetação
nativa; e (Incluído pela Medida Provisória nº 571, de 2012).

VIII - criação e mobilização de incentivos jurídicos e econômicos para fomentar a preservação e a recuperação da vegetação
nativa, e para promover o desenvolvimento de atividades produtivas sustentáveis. (Incluído pela Medida Provisória nº 571,
de 2012).

O governo acertou ao reintroduzir por meio de MP os princípios inseridos pelo Senado na


discussão no Congresso: um ponto importante para a interpretação futura dos casos omissos
da nova Lei, já que os princípios informam as decisões dos tribunais em caso de dúvidas.

ART. 2º
o
Art. 2 As florestas existentes no território nacional e as demais formas de vegetação nativa, reconhecidas de utilidade às
terras que revestem, são bens de interesse comum a todos os habitantes do País, exercendo -se os direitos de propriedade
com as limitações que a legislação em geral e especialmente esta Lei estabelecem.

o
§ 1 Na utilização e exploração da vegetação, as ações ou omissões contrárias às disposições desta Lei são consideradas
uso irregular da propriedade, aplicando-se o procedimento sumário previsto no inciso II do art. 275 da Lei no 5.869, de 11
de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil, sem prejuízo da responsabilidade civil, nos termos do § 1o do art. 14 da Lei no
6.938, de 31 de agosto de 1981, e das sanções administrativas, civis e penais.

o
§ 2 As obrigações previstas nesta Lei têm natureza real e são transmitidas ao sucessor, de qualquer natureza, no caso de
transferência de domínio ou posse do imóvel rural.

Manteve o que estava previsto na Lei 4771.

ART. 3º
o
Art. 3 Para os efeitos desta Lei, entende-se por:

I - Amazônia Legal: os Estados do Acre, Pará, Amazonas, Roraima, Rondônia, Amapá e Mato Grosso e as regiões situadas
ao norte do paralelo 13° S, dos Estados de Tocantins e Goiás, e ao oeste do meridiano de 44° W, do Estado do Maranhão;

Manteve conteúdo da Lei 4771.

II - Área de Preservação Permanente - APP: área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental
de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e
flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas;

Manteve o conteúdo da Lei 4771.

III - Reserva Legal: área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, delimitada nos termos do art. 12, com a
função de assegurar o uso econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e a

2
reabilitação dos processos ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção de
fauna silvestre e da flora nativa;

Manteve o conteúdo da Lei 4771, mas retirou da definição a expressão “excetuada a de


preservação permanente”.

IV - área rural consolidada: área de imóvel rural com ocupação antrópica preexistente a 22 de julho de 2008, com
edificações, benfeitorias ou atividades agrossilvipastoris, admitida, neste último caso, a adoção do regime de pousio;

A criação do conceito de “área rural consolidada” é um dos pontos mais polêmicos da nova Lei,
pois desobriga quem desmatou de recuperar essas áreas. Para alguns, trata-se de uma anistia,
pois a propriedade foi desmatada de forma ilegal. Para outros, em áreas de desmatamento
muito antigo, a nova Lei reconhece de fato situações mais antigas, anteriores ao Código
Florestal de 1965 ou às suas alterações que, por exemplo, elevaram a reserva legal de 50%
para 80% na Amazônia. A data de 22/7/2008 não tem uma justificativa clara a não ser a
segunda regulamentação da Lei de Crimes Ambientais.

Vamos ver adiante que a aplicação desse conceito reduz as obrigações de conservação de
quem desmatou ilegalmente, tratando de forma desigual os cidadãos. Entretanto, o problema
maior não é a desobrigação de recuperar, mas a desobrigação de manter a conservação das
áreas devidas. A lógica da área rural consolidada seria bem ilustrada se criássemos a figura do
“imposto sonegado consolidado”, em que, não somente se perdoa parte das dívidas antigas,
como se reduz ao sonegador a sua obrigação de pagar os futuros da mesma forma que os
demais cidadãos. Assim, existe uma lacuna na nova Lei para eliminar essa injustiça e para
restaurar as funções ecológicas perdidas.

V - pequena propriedade ou posse rural familiar: aquela explorada mediante o trabalho pessoal do agricultor familiar e
empreendedor familiar rural, incluindo os assentamentos e projetos de reforma agrária, e que atenda ao disposto no art. 3o
da Lei no 11.326, de 24 de julho de 2006;

Conceito que poderia ser importante, não é utilizado na nova Lei. A identificação de pequenas
propriedades é feita simplesmente pelo tamanho da propriedade, em módulos fiscais, como
definido no parágrafo único deste artigo. Adiante na nova Lei, as obrigações também são
definidas em termos da área e não do tipo de uso como no conceito acima.

VI - uso alternativo do solo: substituição de vegetação nativa e formações sucessoras por outras coberturas do solo, como
atividades agropecuárias, industriais, de geração e transmissão de energia, de mineração e de transporte, assentamentos
urbanos ou outras formas de ocupação humana;

Conceito não definido na Lei 4771, embora mencionado.

VII - manejo sustentável: administração da vegetação natural para a obtenção de benefícios econômicos, sociais e
ambientais, respeitando-se os mecanismos de sustentação do ecossistema objeto do manejo e considerando-se, cumulativa
ou alternativamente, a utilização de múltiplas espécies madeireiras ou não, de múltiplos produtos e subprodutos da flora,
bem como a utilização de outros bens e serviços;

Conceito não definido na Lei 4771, embora mencionado.

VIII - utilidade pública:

a) as atividades de segurança nacional e proteção sanitária;

b) as obras de infraestrutura destinadas às concessões e aos serviços públicos de transporte, sistema viário, inclusive aquel e
necessário aos parcelamentos de solo urbano aprovados pelos Municípios, saneamento, gestão de resíduos, energia,

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telecomunicações, radiodifusão, instalações necessárias à realização de competições esportivas estaduais, nacionais ou
internacionais, bem como mineração, exceto, neste último caso, a extração de areia, argila, saibro e cascalho;

c) atividades e obras de defesa civil;

d) atividades que comprovadamente proporcionem melhorias na proteção das funções ambientais referidas no inciso II
deste artigo;

e) outras atividades similares devidamente caracterizadas e motivadas em procedimento administrativo próprio, quando
inexistir alternativa técnica e locacional ao empreendimento proposto, definidas em ato do Chefe do Poder Executivo
federal;

IX - interesse social:

a) as atividades imprescindíveis à proteção da integridade da vegetação nativa, tais como prevenção, combate e controle
do fogo, controle da erosão, erradicação de invasoras e proteção de plantios com espécies nativas;

b) a exploração agroflorestal sustentável praticada na pequena propriedade ou posse rural familiar ou por povos e
comunidades tradicionais, desde que não descaracterize a cobertura vegetal existente e não prejudique a função ambiental
da área;

c) a implantação de infraestrutura pública destinada a esportes, lazer e atividades educacionais e culturais ao ar livre em
áreas urbanas e rurais consolidadas, observadas as condições estabelecidas nesta Lei;

d) a regularização fundiária de assentamentos humanos ocupados predominantemente por população de baixa renda em
áreas urbanas consolidadas, observadas as condições estabelecidas na Lei no 11.977, de 7 de julho de 2009;

e) implantação de instalações necessárias à captação e condução de água e de efluentes tratados para projetos cujos
recursos hídricos são partes integrantes e essenciais da atividade;

f) as atividades de pesquisa e extração de areia, argila, saibro e cascalho, outorgadas pela autoridade competente;

g) outras atividades similares devidamente caracterizadas e motivadas em procedimento administrativo próprio, quando
inexistir alternativa técnica e locacional à atividade proposta, definidas em ato do Chefe do Poder Executivo federal;

“Utilidade pública” e “interesse social” são conceitos utilizados na nova Lei para permitir
exceções à legislação, e foram expandidos e detalhados em relação à Lei 4771. Porém, na Lei
4771, se delegava ao Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) competência para
ampliar os casos previstos no art. 1º, § 2º IV, mediante resolução, o que não está mais previsto
na nova Lei. Com isso, de um lado, inicia-se um movimento dentro da nova Lei de se excluir o
Conama da regulamentação da gestão ambiental rural do país. De outro, engessa a lista.
Ainda, o item “d” menciona as “funções ambientais referidas no inciso II deste artigo”, mas o
inciso II trata de APPs e menciona somente as funções ambientais desempenhadas por essas
áreas.

X - atividades eventuais ou de baixo impacto ambiental:

a) abertura de pequenas vias de acesso interno e suas pontes e pontilhões, quando necessárias à travessia de um curso
d’água, ao acesso de pessoas e animais para a obtenção de água ou à retirada de produtos oriundos das atividades de
manejo agroflorestal sustentável;

b) implantação de instalações necessárias à captação e condução de água e efluentes tratados, desde que comprovada a
outorga do direito de uso da água, quando couber;

c) implantação de trilhas para o desenvolvimento do ecoturismo;

d) construção de rampa de lançamento de barcos e pequeno ancoradouro;

e) construção de moradia de agricultores familiares, remanescentes de comunidades quilombolas e outras populações


extrativistas e tradicionais em áreas rurais, onde o abastecimento de água se dê pelo esforço próprio dos moradores;

4
f) construção e manutenção de cercas na propriedade;

g) pesquisa científica relativa a recursos ambientais, respeitados outros requisitos previstos na legislação aplicável;

h) coleta de produtos não madeireiros para fins de subsistência e produção de mudas, como sementes, castanhas e frutos,
respeitada a legislação específica de acesso a recursos genéticos;

i) plantio de espécies nativas produtoras de frutos, sementes, castanhas e outros produtos vegetais, desde que não implique
supressão da vegetação existente nem prejudique a função ambiental da área;

j) exploração agroflorestal e manejo florestal sustentável, comunitário e familiar, incluindo a extração de produtos
florestais não madeireiros, desde que não descaracterizem a cobertura vegetal nativa existente nem prejudiquem a função
ambiental da área;

k) outras ações ou atividades similares, reconhecidas como eventuais e de baixo impacto ambiental em ato do Conselho
Nacional do Meio Ambiente - CONAMA ou dos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente;

A Lei 4771 não define “atividades eventuais ou de baixo impacto ambiental”, mas somente
menciona em relação à supressão de vegetação em área de APP mediante autorização do
órgão competente. É um conceito importante para dar segurança jurídica e reduzir a
burocracia relacionada com atividades de baixo impacto antes conduzidas na
clandestinidade/informalidade e eventualmente punidas sem muito efeito prático. Mais
adiante na Lei, esse conceito ajuda a integrar melhor as APPs na propriedade rural, facilitando
seu uso econômico sem perda significativa de suas funções ambientais.

XI - (VETADO);

XII - vereda: fitofisionomia de savana, encontrada em solos hidromórficos, usualmente com a palmeira arbórea Mauritia
flexuosa - buriti emergente, sem formar dossel, em meio a agrupamentos de espécies arbustivo-herbáceas;

XII - vereda: fitofisionomia de savana, encontrada em solos hidromórficos, usualmente com palmáceas, sem formar dossel,
em meio a agrupamentos de espécies arbustivo-herbáceas; (Redação dada pela Medida Provisória nº 571, de 2012).

Novidade importante em relação à Lei 4771, a nova redação de “vereda” dada pela MP, ao não
mencionar a espécie Mauritia flexuosa, deixa o conceito mais abrangente.

XIII - manguezal: ecossistema litorâneo que ocorre em terrenos baixos, sujeitos à ação das marés, formado por vasas
lodosas recentes ou arenosas, às quais se associa, predominantemente, a vegetação natural conhecida como mangue, com
influência fluviomarinha, típica de solos limosos de regiões estuarinas e com dispersão descontínua ao longo da costa
brasileira, entre os Estados do Amapá e de Santa Catarina;

XIV - salgado ou marismas tropicais hipersalinos: áreas situadas em regiões com frequências de inundações intermediárias
entre marés de sizígias e de quadratura, com solos cuja salinidade varia entre 100 (cem) e 150 (cento e cinquenta) partes
por 1.000 (mil), onde pode ocorrer a presença de vegetação herbácea específica;

XV - apicum: áreas de solos hipersalinos situadas nas regiões entremarés superiores, inundadas apenas pelas marés de
sizígias, que apresentam salinidade superior a 150 (cento e cinquenta) partes por 1.000 (mil), desprovidas de vegetação
vascular;

XVI - restinga: depósito arenoso paralelo à linha da costa, de forma geralmente alongada, produzido por processos de
sedimentação, onde se encontram diferentes comunidades que recebem influência marinha, com cobertura vegetal em
mosaico, encontrada em praias, cordões arenosos, dunas e depressões, apresentando, de acordo com o estágio sucessional,
estrato herbáceo, arbustivo e arbóreo, este último mais interiorizado;

Os conceitos de “manguezal”, “salgados”, “apicum” e “restinga” são outras novidades nas


definições, em relação à Lei 4771. Essas definições têm sido criticadas pela comunidade
científica.

XVII - nascente: afloramento natural do lençol freático que apresenta perenidade e dá início a um curso d’água;

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XVIII - olho d’água: afloramento natural do lençol freático, mesmo que intermitente;

A Lei 4771 não define nascente ou olho d´água. Na nova Lei, cada um é definido, mas o
tratamento dos dois na Lei não se diferencia, a não ser em um trecho, adiante na nova Lei, que
trata de “olhos d´água perenes”.

XIX - leito regular: a calha por onde correm regularmente as águas do curso d’água durante o ano;

O conceito de “leito regular” é importante, pois será usado adiante para definir APPs.

XX - área verde urbana: espaços, públicos ou privados, com predomínio de vegetação, preferencialmente nativa, natural ou
recuperada, previstos no Plano Diretor, nas Leis de Zoneamento Urbano e Uso do Solo do Município, indisponíveis para
construção de moradias, destinados aos propósitos de recreação, lazer, melhoria da qualidade ambiental urbana, proteção
dos recursos hídricos, manutenção ou melhoria paisagística, proteção de bens e manifestações culturais;

O conceito de “área verde urbana” não está definido na Lei 4771.

XXI - várzea de inundação ou planície de inundação: áreas marginais a cursos d’água sujeitas a enchentes e inundações
periódicas;

O conceito de “várzea de inundação ou planície de inundação” não é utilizado nesta Lei. Pode
estar aqui somente para diferenciar essas áreas do “leito regular” do rio.

XXII - faixa de passagem de inundação: área de várzea ou planície de inundação adjacente a cursos d’água que permite o
escoamento da enchente;

O conceito de “faixa de passagem”, que não é abordado na Lei 4771, está nesta lei para
delegar sua gestão aos planos diretores municipais, pois só é abordado para áreas urbanas.

XXIII - relevo ondulado: expressão geomorfológica usada para designar área caracterizada por movimentações do terreno
que geram depressões, cuja intensidade permite sua classificação como relevo suave ondulado, ondulado, fortemente
ondulado e montanhoso.

O conceito de “relevo ondulado” não estava definido na Lei 4771, e é utilizado na nova Lei
como complemento na definição de APP de topo de morro e montanha.

XXIV - pousio: prática de interrupção de atividades ou usos agrícolas, pecuários ou silviculturais, por no máximo 5 (cinco)
anos, em até 25% (vinte e cinco por cento) da área produtiva da propriedade ou posse, para possibilitar a recuperação da
capacidade de uso ou da estrutura física do solo; (Incluído pela Medida Provisória nº 571, de 2012).

O conceito de “pousio” não era explicitamente definido na Lei 4771 e foi introduzido no PL de
forma imprecisa, permitindo que qualquer área sem uso pudesse ser definida como pousio,
justificando o veto. A redação da MP permite uma caracterização mais precisa. Porém,
dependendo da região e do tipo de solo, 25% da propriedade e cinco anos poderiam ser
pouco. Nas áreas de populações tradicionais da Amazônia, o pousio pode envolver áreas muito
extensas e ciclos mais longos, de 10 a 20 anos. É melhor do que não ter definição nenhuma,
mas pode dificultar essas práticas tradicionais que dão bom retorno ecológico.

XXV - área abandonada, subutilizada ou utilizada de forma inadequada: área não efetivamente utilizada, nos termos dos §§
3o e 4o do art. 6o da Lei no 8.629, de 25 de fevereiro de 1993, ou que não atenda aos índices previstos no referido artigo,
ressalvadas as áreas em pousio; (Incluído pela Medida Provisória nº 571, de 2012).

A definição de área abandonada incluída pela MP é a mesma da Lei 4771.

XXVI – áreas úmidas: pantanais e superfícies terrestres cobertas de forma periódica por águas, cobertas originalmente por
florestas ou outras formas de vegetação adaptadas à inundação; e (Incluído pela Medida Provisória nº 571, de 2012).

6
O conceito de áreas úmidas é uma novidade importante (introduzido pela MP aparentemente
por pressão da comunidade científica e para atender a tratados internacionais), pois é usado
na definição de áreas de preservação permanente declaradas de interesse social por ato do
Chefe do Poder Executivo.

XXVII – área urbana consolidada: aquela de que trata o inciso II do caput do art. 47 da Lei no 11.977, de 7 de julho de 2009 .
(Incluído pela Medida Provisória nº 571, de 2012).

O conceito de “área urbana consolidada” é novidade em relação à Lei 4771, embora tenha sido
definida em resoluções do Conama.

Parágrafo único. Para os fins desta Lei, estende-se o tratamento dispensado aos imóveis a que se refere o inciso V deste
artigo às propriedades e posses rurais com até 4 (quatro) módulos fiscais que desenvolvam atividades agrossilvipastoris,
bem como às terras indígenas demarcadas e às demais áreas tituladas de povos e comunidades tradicionais que façam uso
coletivo do seu território.

O parágrafo único acima transforma o conceito de “agricultura familiar” para efeito desta lei
em tamanho da área da propriedade, que não expressa qualquer parâmetro ecológico. Além
disso, a intenção de se dar tratamento diferenciado ao pequeno produtor se perde quando se
usa como parâmetro o tamanho da propriedade, posse ou imóvel, e não o somatório das áreas
detidas por um só indivíduo ou família. A Lei deveria tratar dos pequenos produtores (aqueles
que detém até um total de quatro módulos fiscais) e não de pequenas propriedades.

CAPÍTULO II: DAS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE


CAPÍTULO II

DAS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE

Seção I

Da Delimitação das Áreas de Preservação Permanente

ART. 4º
o
Art. 4 Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou urbanas, para os efeitos desta Lei:

I - as faixas marginais de qualquer curso d’água natural, desde a borda da calha do leito regular, em largura mínima de:

a) 30 (trinta) metros, para os cursos d’água de menos de 10 (dez) metros de largura;

b) 50 (cinquenta) metros, para os cursos d’água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura;

c) 100 (cem) metros, para os cursos d’água que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura;

d) 200 (duzentos) metros, para os cursos d’água que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura;

e) 500 (quinhentos) metros, para os cursos d’água que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros;

O art. 4º mantém, para conservação, os limites de APPs de beira de rios da Lei 4771. Neste
ponto, algumas interpretações têm divergido sobre as mudanças impostas pela nova Lei.
Alguns críticos mantém que a expressão “leito regular” diminui a proteção antes dada pela Lei
4771: “ao longo dos rios ou de qualquer curso d'água desde o seu nível mais alto em faixa
marginal...” O nível mais alto era, até 2010, definido pela Resolução Conama 303, de 2002,
como “o nível alcançado por ocasião da cheia sazonal do curso d´água perene ou

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intermitente”. Entretanto, a Resolução Conama 303 foi modificada em 20101 e estabeleceu
que o nível mais alto é o “nível máximo alcançado no leito regular ou calha do curso d´água
perene ou intermitente”. Ou seja, as expressões “leito regular” e “nível mais alto” acabam
sendo equivalentes. Assim, não há a alegada mudança entre a aplicação da Lei 4771 e a nova
Lei.

II - as áreas no entorno dos lagos e lagoas naturais, em faixa com largura mínima de:

a) 100 (cem) metros, em zonas rurais, exceto para o corpo d’água com até 20 (vinte) hectares de superfície, cuja faixa
marginal será de 50 (cinquenta) metros;

b) 30 (trinta) metros, em zonas urbanas;

III - as áreas no entorno dos reservatórios d’água artificiais, na faixa definida na licença ambiental do empreendimento,
o o
observado o disposto nos §§ 1 e 2 ;

A Lei 4771 não definia os limites de APPs no entorno de lagos, lagoas e reservatórios. Isso foi
regulamentado pela Resolução Conama 303, com as mesmas metragens. Isto é, a nova Lei
incorpora o que já estava determinado em regulamento, o que é um avanço face à sempre
discutida legitimidade do Conama para emitir normas.

IV - as áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água, qualquer que seja a sua situação topográfica, no raio mínimo de
50 (cinquenta) metros;

IV – as áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água perenes, qualquer que seja sua situação topográfica, no raio
mínimo de 50 (cinquenta) metros; (Redação dada pela Medida Provisória nº 571, de 2012).

Nem a Lei 4771 nem o PL encaminhado pela Câmara diferenciavam olhos d´água perenes de
não perenes no seu grau de proteção. A Resolução Conama 303 determina APP “ao redor de
nascente ou olho d´água, ainda que intermitente, com raio mínimo de cinquenta metros de tal
forma que proteja, em cada caso, a bacia hidrográfica contribuinte”. A MP reduziu a proteção
dos olhos d´água não perenes. É um problema, pois a vegetação protetora pode dar
perenidade a alguns olhos d´água intermitentes. Este ponto carece de regulamentação, pois o
detalhamento seria excessivo em uma Lei federal.

V - as encostas ou partes destas com declividade superior a 45°, equivalente a 100% (cem por cento) na linha de maior
declive;

Esta proteção às encostas é a mesma proteção que foi dada pela Lei 4771.

VI - as restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues;

Esta proteção às restingas também é a mesma dada pela Lei 4771. Nesta parte, a nova Lei não
incorpora o regulamento da Resolução Conama No. 303.

VII - os manguezais, em toda a sua extensão;

Os manguezais não eram definidos como de preservação permanente pela Lei 4771. Essa
proteção é conferida pela Resolução Conama No. 303. Assim, sua incorporação na Lei constitui
um avanço.

VIII - as bordas dos tabuleiros ou chapadas, até a linha de ruptura do relevo, em faixa nunca inferior a 100 (cem) metros em
projeções horizontais;

1
http://www.proam.org.br/2008/imagens/documentos/47.pdf

8
Esta foi a mesma proteção dada pela Lei 4771.

IX - no topo de morros, montes, montanhas e serras, com altura mínima de 100 (cem) metros e inclinação média maior que
25°, as áreas delimitadas a partir da curva de nível correspondente a 2/3 (dois terços) da altura mínima da elevação sempre
em relação à base, sendo esta definida pelo plano horizontal determinado por planície ou espelho d’água adjacente ou, nos
relevos ondulados, pela cota do ponto de sela mais próximo da elevação;

A Lei 4771 não definia a extensão das APPs de topo de morros. Essa definição foi feita pelo
Conama, na Resolução Nº 303: “no topo de morros e montanhas, em áreas delimitadas a partir
da curva de nível correspondente a dois terços da altura mínima da elevação em relação a
base”. A Resolução do Conama estabelece as seguintes definições de morro e montanha: “IV -
morro: elevação do terreno com cota do topo em relação a base entre cinquenta e trezentos
metros e encostas com declividade superior a trinta por cento (aproximadamente dezessete
graus) na linha de maior declividade; V - montanha: elevação do terreno com cota em relação
a base superior a trezentos metros”.

Altura e inclinação mínimas estabelecidas na nova Lei são menos abrangentes, resultando em
perda de proteção, já que os morros precisarão ser mais inclinados e altos para ter seu terço
superior protegido. Por outro lado, montanhas ficam mais bem definidas com o critério de
inclinação, antes ausente. A questão é a função ecológica e o critério que se usa para protegê-
la. Em relação à Resolução 303, ainda, perde-se também a definição específica para as linhas
de cumeada, sem muito prejuízo porque estão incorporadas pela proteção aos morros e
montanhas.

X - as áreas em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, qualquer que seja a vegetação;

A nova Lei dá a mesma proteção dada pela Lei 4771, mas uma proteção que toma como linha
de corte a altitude, independente de outros fatores, parece pouco justificada, e poderia ser
mais específica e detalhada.

XI - as veredas.

XI – em veredas, a faixa marginal, em projeção horizontal, com largura mínima de 50 (cinquenta) metros, a partir do limite
do espaço brejoso e encharcado. (Redação dada pela Medida Provisória nº 571, de 2012).

A proteção das veredas, com faixa marginal, foi importante inclusão feita por esta pela MP,
pois não estavam contempladas pela Lei 4771, sendo sua proteção determinada apenas pela
Resolução Conama No. 303, nos mesmos limites estabelecidos pela nova Lei/MP. Ou seja, com
a redação dada pela MP a norma se fortalece.
o
§ 1 Não se aplica o previsto no inciso III nos casos em que os reservatórios artificiais de água não decorram de barramento
ou represamento de cursos d’água.

Reservatórios artificiais sem barramento ou represamento são, normalmente, acumulações de


água proporcionadas por escavações do terreno com a finalidade de armazenamento de água.
Neste caso, uma vez que uma potencial erosão nas margens ou o risco de assoreamento não
se transmite ao longo de um curso d´água para outras áreas, e que esses reservatórios não são
construídos para desempenhar uma função ecológica de conservação, não há necessidade, do
ponto de vista socioambiental, de APP. Isso não impede os proprietários de implementar
vegetação natural ao redor.

9
o 2
§ 2 No entorno dos reservatórios artificiais situados em áreas rurais com até 20 (vinte) hectares de superfície , a área de
preservação permanente terá, no mínimo, 15 (quinze) metros.

Não se justifica que os reservatórios tenham APPs menores que o mínimo exigido para os
cursos d´água. Vinte hectares de superfície representa uma área considerável de reservatório
e uma faixa de APP poderia melhor integrar o reservatório ao ecossistema local.
o
§ 3 (VETADO).

o
§ 4 Nas acumulações naturais ou artificiais de água com superfície inferior a 1 (um) hectare, fica dispensada a reserva da
faixa de proteção prevista nos incisos II e III do caput.

o
§ 4 Fica dispensado o estabelecimento das faixas de Área de Preservação Permanente no entorno das acumulações
naturais ou artificiais de água com superfície inferior a 1 (um) hectare, vedada nova supressão de áreas de vegetação
nativa. (Redação dada pela Medida Provisória nº 571, de 2012).

O § 4o, introduzido pela MP, é confuso. Como impede a supressão de novas áreas de
vegetação nativa, não trata de uma dispensa de APP para essas “acumulações” de água, mas
sim de uma dispensa de recomposição. Mas ao contrário dos demais itens que tratam da
dispensa de recomposição, não estabelece data que possibilite verificação. Este parágrafo
deveria ser reescrito e recolocado na seção que trata de regularização, com data (ou
referência ao conceito de área rural consolidada) e outros critérios para essa dispensa.
o o
§ 5 É admitido, para a pequena propriedade ou posse rural familiar, de que trata o inciso V do art. 3 desta Lei, o plantio
de culturas temporárias e sazonais de vazante de ciclo curto na faixa de terra que fica exposta no período de vazante dos
rios ou lagos, desde que não implique supressão de novas áreas de vegetação nativa, seja conservada a qualidade da água
e do solo e seja protegida a fauna silvestre.

Esta é uma prática tradicional da Amazônia e do nordeste e deveria ser contemplada.


Entretanto, as recomendações de que “seja conservada a qualidade da água e do solo e seja
protegida a fauna silvestre” deveriam ser mais específicas.
o
§ 6 Nos imóveis rurais com até 15 (quinze) módulos fiscais, é admitida, nas áreas de que tratam os incisos I e II do caput
deste artigo, a prática da aquicultura e a infraestrutura física diretamente a ela associada, desde que:

I - sejam adotadas práticas sustentáveis de manejo de solo e água e de recursos hídricos, garantindo sua qualidade e
quantidade, de acordo com norma dos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente;

II - esteja de acordo com os respectivos planos de bacia ou planos de gestão de recursos hídricos;

III - seja realizado o licenciamento pelo órgão ambiental competente;

IV - o imóvel esteja inscrito no Cadastro Ambiental Rural - CAR.

V – não implique novas supressões de vegetação nativa. (Incluído pela Medida Provisória nº 571, de 2012).

A aquicultura não estava contemplada na Lei 4771. O § 6o da nova Lei tenta regularizar essa
atividade com certas condições, e a MP tenta garantir que não haja novas supressões de
vegetação nativa, mas, ao fazer isso, transforma o parágrafo em regularização de passivos,
pois proibiu novos desmatamentos nessas áreas. Neste caso, como no caso do § 4o, deveria ser
determinada uma data limite (ou referência ao conceito de “área rural consolidada”), como
nos demais casos de regularização, e o parágrafo deveria ser reescrito na respectiva seção com
esse propósito. Também deveria ser avaliado o impacto da manutenção das atividades de
2
Redação dúbia para entender se é a área rural que deveria ter até 20 hectares ou se é o reservatório. Se entendemos
corretamente, o texto deveria ser redigido assim: “No entorno dos reservatórios artificiais com até 20 (vinte) hectares de
superfície situados em áreas rurais...”

10
aquicultura atualmente implementadas, o que é garantido pelas condições impostas pela nova
Lei.
o
§ 7 (VETADO).

o
§ 8 (VETADO).

Ambos os parágrafos foram vetados pela mesma razão. O texto dos parágrafos vetados diz: §
7º Em áreas urbanas, as faixas marginais de qualquer curso d’água natural que delimitem as
áreas da faixa de passagem de inundação terão sua largura determinada pelos respectivos
Planos Diretores e Leis de Uso do Solo, ouvidos os Conselhos Estaduais e Municipais de Meio
Ambiente; § 8o No caso de áreas urbanas e regiões metropolitanas, observar-se-á o disposto
nos respectivos Planos Diretores e Leis Municipais de Uso do Solo. A presidente vetou com a
seguinte justificativa para ambos os casos: “Conforme aprovados pelo Congresso Nacional, tais
dispositivos permitem que a definição da largura da faixa de passagem de inundação, em áreas
urbanas e regiões metropolitanas, bem como as áreas de preservação permanente, sejam
estabelecidas pelos planos diretores e leis municipais de uso do solo, ouvidos os conselhos
estaduais e municipais de meio ambiente. Trata-se de grave retrocesso à luz da legislação em
vigor, ao dispensar, em regra, a necessidade da observância dos critérios mínimos de proteção,
que são essenciais para a prevenção de desastres naturais e proteção da infraestrutura”. A
razão do veto é discutível e parece desrespeitar as competências constitucionais outorgadas
aos municípios.
o
§ 9 Em áreas urbanas, assim entendidas as áreas compreendidas nos perímetros urbanos definidos por lei municipal, e
nas regiões metropolitanas e aglomerações urbanas, as faixas marginais de qualquer curso d’água natural que delimitem
as áreas da faixa de passagem de inundação terão sua largura determinada pelos respectivos Planos Diretores e Leis de Uso
do Solo, ouvidos os Conselhos Estaduais e Municipais de Meio Ambiente, sem prejuízo dos limites estabelecidos pelo inciso I
do caput. (Incluído pela Medida Provisória nº 571, de 2012).

É adequado deixar a largura das faixas de passagem de inundação em áreas urbanas para os
planos diretores, mas o requerimento de serem ouvidos os Conselhos Estadual e Municipal de
Meio Ambiente parece desnecessário em relação aos processos estabelecidos pela Política
Nacional de Desenvolvimento Urbano para a elaboração e aprovação dos planos diretores, que
devem ser amplamente participativas. Além do mais, em termos de técnica legislativa, a
definição de áreas urbanas no § 9o deveria estar no artigo 3º.

§ 10. No caso de áreas urbanas, assim entendidas as compreendidas nos perímetros urbanos definidos por lei municipal, e
nas regiões metropolitanas e aglomerações urbanas, observar-se-á o disposto nos respectivos Planos Diretores e Leis
Municipais de Uso do Solo, sem prejuízo do disposto nos incisos do caput. (Incluído pela Medida Provisória nº 571, de 2012).

O § 10 repete este problema de técnica legislativa do § 9. O conteúdo é o mesmo da Lei 4771.

ART. 5º
o
Art. 5 Na implantação de reservatório d’água artificial destinado a geração de energia ou abastecimento público, é
obrigatória a aquisição, desapropriação ou instituição de servidão administrativa pelo empreendedor das Áreas de
Preservação Permanente criadas em seu entorno, conforme estabelecido no licenciamento ambiental, observando-se a
faixa mínima de 30 (trinta) metros e máxima de 100 (cem) metros em área rural e a faixa mínima de 15 (quinze) metros em
área urbana.

o
§ 1 Na implantação de reservatórios d’água artificiais de que trata o caput, o empreendedor, no âmbito do licenciamento
ambiental, elaborará Plano Ambiental de Conservação e Uso do Entorno do Reservatório, em conformidade com termo de
referência expedido pelo órgão competente do Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, não podendo exceder a
10% (dez por cento) da área total do entorno.

11
o
Art. 5 Na implantação de reservatório d’água artificial destinado a geração de energia ou abastecimento público, é
obrigatória a aquisição, desapropriação ou instituição de servidão administrativa pelo empreendedor das Áreas de
Preservação Permanente criadas em seu entorno, conforme estabelecido no licenciamento ambiental, observando-se a
faixa mínima de 30 (trinta) metros e máxima de 100 (cem) metros em área rural, e a faixa mínima de 15 (quinze) metros e
máxima de 30 (trinta) metros em área urbana. (Redação dada pela Medida Provisória nº 571, de 2012).

o
§ 1 Na implantação de reservatórios d’água artificiais de que trata o caput, o empreendedor, no âmbito do licenciamento
ambiental, elaborará Plano Ambiental de Conservação e Uso do Entorno do Reservatório, em conformidade com termo de
referência expedido pelo órgão competente do Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA, não podendo exceder a dez
por cento do total da Área de Preservação Permanente. (Redação dada pela Medida Provisória nº 571, de 2012).

o
§ 2 O Plano Ambiental de Conservação e Uso do Entorno de Reservatório Artificial, para os empreendimentos licitados a
partir da vigência desta Lei, deverá ser apresentado ao órgão ambiental concomitantemente com o Plano Básico Ambiental
e aprovado até o início da operação do empreendimento, não constituindo a sua ausência impedimento para a expedição
da licença de instalação.

A Lei 4771 remetia ao Conama os detalhes apresentados no art. 5º, alterado pela MP, que
introduziu também a possibilidade de instituição de servidão administrativa das APPs no
entorno de reservatórios. A servidão administrativa envolve apenas o uso do solo para
possibilitar a execução de serviços públicos e não a perda da propriedade. A indenização só é
devida se a servidão provocar prejuízos ao proprietário, que deve provar o prejuízo causado3.

O art. 5º, quando define as faixas mínimas independentemente do licenciamento, parece em


contradição com o inciso III do art. 4º, que diz que são APPs as “áreas no entorno dos
reservatórios d’água artificiais, na faixa definida na licença ambiental do empreendimento,
observado o disposto nos §§ 1o e 2o”. A MP aumentou a faixa de proteção em áreas urbanas.

§ 3º Vetado.

No § 3º o PL aprovado pela Câmara excluía explicitamente as várzeas das APPs. Isso foi vetado
pelo Executivo, o que é um bom sinal, mas faz pouca diferença, já que, como vimos, desde a
Resolução Conama 303, modificada em 2010, se calcula a APP a partir do leito regular ou no
nível mais alto na calha regular do rio.

ART. 6º
Art. 6o Consideram-se, ainda, de preservação permanente, quando declaradas de interesse social por ato do Chefe do
Poder Executivo, as áreas cobertas com florestas ou outras formas de vegetação destinadas a uma ou mais das seguintes
finalidades:

I - conter a erosão do solo e mitigar riscos de enchentes e deslizamentos de terra e de rocha;

II - proteger as restingas ou veredas;

III - proteger várzeas;

IV - abrigar exemplares da fauna ou da flora ameaçados de extinção;

V - proteger sítios de excepcional beleza ou de valor científico, cultural ou histórico;

VI - formar faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias;

VII - assegurar condições de bem-estar público;

VIII - auxiliar a defesa do território nacional, a critério das autoridades militares.

3
Vale ressaltar que o valor da indenização não será nunca correspondente ao valor do imóvel já que a intervenção do Estado não
acarretou a perda da propriedade.

12
IX – proteger áreas úmidas, especialmente as de importância internacional. (Incluído pela Medida Provisória nº 571, de
2012).

A definição de áreas de preservação permanente por ato do Chefe do Poder Executivo já


existia na Lei 4771. Neste caso, o Chefe do Poder executivo poderá declarar essas áreas como
de preservação permanente, mas a novidade é que precisará justificar o “interesse social”. A
questão é se “interesse social” implica desapropriação (como alegado por alguns críticos) ou
não. A proteção neste item também mudou com a nova Lei:

Não há mais a possibilidade explícita de se criar APPs para fixar as dunas ou manter o
ambiente necessário à vida das populações silvícolas.

Foi introduzida a possibilidade de se criar APPs para proteger restingas ou veredas,


várzeas e áreas úmidas, especialmente as de importância internacional.

ART. 7º
Seção II

Do Regime de Proteção das Áreas de Preservação Permanente

o
Art. 7 A vegetação situada em Área de Preservação Permanente deverá ser mantida pelo proprietário da área, possuidor
ou ocupante a qualquer título, pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado.

o
§ 1 Tendo ocorrido supressão de vegetação situada em Área de Preservação Permanente, o proprietário da área,
possuidor ou ocupante a qualquer título é obrigado a promover a recomposição da vegetação, ressalvados os usos
autorizados previstos nesta Lei.

o o
§ 2 A obrigação prevista no § 1 tem natureza real e é transmitida ao sucessor no caso de transferência de domínio ou
posse do imóvel rural.

o
§ 3 No caso de supressão não autorizada de vegetação realizada após 22 de julho de 2008, é vedada a concessão de novas
o
autorizações de supressão de vegetação enquanto não cumpridas as obrigações previstas no § 1 .

Nesta passagem, há vários avanços em relação à Lei 4771:

Ao contrário da Lei 4771, o novo texto não trata todas as florestas localizadas em
terras indígenas como integralmente APPs, o que é apropriado, pois nas TIs deve haver
uma multiplicidade de usos para permitir a qualidade de vida das comunidades. A
nova Lei elimina contradições da Lei 4771 nesse sentido, uma vez que a lei anterior
declarava as florestas em TIs como APPs e ao mesmo tempo autorizava o manejo
florestal nessas áreas (art. 3-A da Lei 4771).

O novo regime de proteção não diz explicitamente que toda supressão de vegetação
nativa em APPs precisa ser autorizada, como dizia a Lei 4771, pois prevê casos em que
a autorização é dispensada (ver abaixo). Consideramos que é um avanço a
desburocratização do procedimento para atividades de baixo impacto ambiental.

No art. 3º, a Lei 4771 só permitia que a autorização da supressão de florestas


declaradas de preservação permanente pelo Poder Público (sem definir se federal,

13
estadual ou municipal) fosse feita pelo órgão federal (Ibama)4, o que é inadequado
porque deveria ser pela esfera correspondente a cada caso de declaração.

No art. 4º, a Lei 4771 detalhava longamente os procedimentos da autorização de


supressão de vegetação e isso ficou mais simples na nova Lei.

O § 3o da nova Lei proíbe novas autorizações de qualquer desmatamento enquanto


não forem recompostas as áreas de APP.

ART. 8º
o
Art. 8 A intervenção ou a supressão de vegetação nativa em Área de Preservação Permanente somente ocorrerá nas
hipóteses de utilidade pública, de interesse social ou de baixo impacto ambiental previstas nesta Lei.

No Art. 8º, fica claro que as hipóteses de utilidade pública, de interesse social ou de baixo
impacto ambiental para justificar a supressão das APPs devem estar explícitas na nova Lei. A
Lei 4771 remetia ao Conama a definição de “demais obras, planos, atividades ou projetos” não
previstos na Lei como de interesse social ou utilidade pública. Assim, o texto parece indicar
que a autorização de supressão de vegetação em APP que não estivesse prevista na Lei 4771
teria que passar individualmente pelo Conama, a partir do exame de cada caso para emissão
de resolução correspondente. Ou seja, um procedimento que sobrecarregaria o órgão. Na
nova Lei, não a flexibilidade da Lei 4471 e os procedimentos se tornam mais simples.

A Lei 4771 diferenciava a supressão de “florestas de preservação permanente” (que só poderia


ser autorizada pelo poder executivo federal) das supressões de outros tipos de vegetação de
APP (com autorização do órgão ambiental estadual competente, com anuência prévia, quando
coubesse, do órgão ambiental federal ou municipal) quando inexistisse “alternativa técnica e
locacional ao empreendimento proposto”. Assim, diferentemente da Lei 4771, a nova Lei trata
todos os tipos de vegetação nativa de forma igual.
o
§ 1 A supressão de vegetação nativa protetora de nascentes, dunas e restingas somente poderá ser autorizada em caso de
utilidade pública.

o
§ 2 A intervenção ou a supressão de vegetação nativa em Área de Preservação Permanente de que tratam os incisos VI e
o
VII do caput do art. 4 poderá ser autorizada, excepcionalmente, em locais onde a função ecológica do manguezal esteja
comprometida, para execução de obras habitacionais e de urbanização, inseridas em projetos de regularização fundiária de
interesse social, em áreas urbanas consolidadas ocupadas por população de baixa renda.

A Lei 4771 limitava os casos em que a vegetação de nascentes, dunas e manguezais poderia
ser eliminada (somente utilidade pública). A nova Lei adicionou os casos em que as restingas
podem ser eliminadas.

O § 2o não implica na autorização automática de supressão de vegetação de manguezal ou


restinga. A caracterização de função ecológica comprometida não é simples. Entretanto, é
muito inadequado que uma situação de degradação ambiental (no caso, da função ecológica
do manguezal) crie as condições para autorização de outra. Uma forma de lidar com isso seria
estabelecer, como nas áreas agropecuárias, uma data de corte, criando um tipo de “manguezal
degradado consolidado”. Mesmo assim, para a autorização ser concedida, deveria ser

4
§ 1° A supressão total ou parcial de florestas de preservação permanente só será admitida c om prévia autorização do Poder
Executivo Federal, quando for necessária à execução de obras, planos, atividades ou projetos de utilidade pública ou interess e
social.

14
demonstrado que não há condições de recuperação da função ecológica do manguezal. Este é
o único caso em que a nova lei explicitamente permite a supressão de manguezais: o § 2º diz
que a autorização de supressão de manguezais poderá ser feita “excepcionalmente” no caso
explicitado sem mencionar nenhum outro. Porém, ele também permite autorização da
supressão de restinga quando o manguezal estiver degradado, eliminando o valor da restinga
em si mesma, que decorre da definição de restinga, que é caracterizada como de preservação
permanente por proteger os manguezais (art. 4º, “VI – as restingas, como fixadoras de dunas
ou estabilizadoras de mangues”):
o
§ 3 É dispensada a autorização do órgão ambiental competente para a execução, em caráter de urgência, de atividades de
segurança nacional e obras de interesse da defesa civil destinadas à prevenção e mitigação de acidentes em áreas urbanas.

Se usado corretamente, o dispositivo do § 3 o é apropriado e pode favorecer a conservação. Há


riscos de má utilização, porém, especialmente nos casos de “segurança nacional”. Para a
dispensa de autorização, em todos esses casos, deveria ser caracterizada a emergência.
o
§ 4 Não haverá, em qualquer hipótese, direito à regularização de futuras intervenções ou supressões de vegetação nativa,
além das previstas nesta Lei.

O § 4o parece estar no lugar errado (deveria estar na seção sobre regularização) e parece
inconstitucional, uma vez que uma lei não pode impedir outra futura.

ART. 9º
o
Art. 9 É permitido o acesso de pessoas e animais às Áreas de Preservação Permanente para obtenção de água e para
realização de atividades de baixo impacto ambiental.

A Lei 4771 só autorizava a entrada em APPs para obtenção de água (desde que não exigisse a
supressão e não comprometesse a regeneração e a manutenção em longo prazo da vegetação
nativa). Na nova Lei, a realização de atividades de baixo impacto ambiental será o que
permitirá uma integração das APPs aos interesses dos proprietários (como implementar trilhas
de ecoturismo e educação ambiental, instalar estruturas para recreação, implementar
pequenas vias de acesso, construção de moradias de ribeirinhos, etc. – ver Art. 3º, X),
produzindo boa sinergia entre conservação e outras atividades.

CAPÍTULO III: DAS ÁREAS DE USO RESTRITO


CAPÍTULO III

DAS ÁREAS DE USO RESTRITO

ART. 10
Art. 10. Na planície pantaneira, é permitida a exploração ecologicamente sustentável, devendo-se considerar as
recomendações técnicas dos órgãos oficiais de pesquisa, ficando novas supressões de vegetação nativa para uso alternativo
do solo condicionadas à autorização do órgão estadual do meio ambiente, com base nas recomendações mencionadas
neste artigo.

Art. 10. Nos pantanais e planícies pantaneiras é permitida a exploração ecologicamente sustentável, devendo-se considerar
as recomendações técnicas dos órgãos oficiais de pesquisa, ficando novas supressões de vegetação nativa para uso
alternativo do solo condicionadas à autorização do órgão estadual do meio ambiente, com base nas recomendações
mencionadas neste artigo. (Redação dada pela Medida Provisória nº 571, de 2012).

15
A substituição feita pela MP amplia o conceito do Art. 10, passando de “planície pantaneira”
para “pantanais e planícies pantaneiras” (aparentemente abrangendo ecossistemas localizados
em todo o país e não só no Bioma Pantanal), que não são definidos no Art. 3º na nova Lei, mas
incluem-se na definição de “áreas úmidas”, termo que deveria substituir “pantanais e planícies
pantaneiras” no art. 10. Entretanto, as áreas úmidas não são automaticamente APPs na nova
Lei, podendo assim ser declaradas pelo Poder Executivo quando houver interesse social. Então,
o Art. 10 torna, para efeito prático, as áreas úmidas um tipo extraordinário de APP, em que se
regularizam as atividades existentes (se forem sustentáveis, dependendo das “recomendações
técnicas dos órgãos oficiais de pesquisa”) e se condicionam novas supressões às
recomendações de órgãos oficiais de pesquisa. Ou seja, se um órgão oficial de pesquisa
recomendar desmatamento zero de uma área úmida, ela se torna, como consequência
imediata, um tipo de área de preservação permanente. Da mesma forma, se um órgão oficial
de pesquisa recomendar que uma atividade já desenvolvida não é sustentável, ela deixará de
ser permitida. Dessa forma, de um lado, mesmo contando-se as APPs a partir do leito regular
do rio, a proteção das áreas úmidas estará fortalecida na nova Lei em relação à Lei 4771 se os
órgãos oficiais de pesquisa e órgãos ambientais competentes trabalharem de forma integrada
e efetiva. De outro lado, os proprietários ficam em uma situação de maior insegurança, ao
sabor dos avanços da pesquisa oficial.

Art. 11. Em áreas de inclinação entre 25° e 45°, serão permitidos o manejo florestal sustentável e o exercício de atividades
agrossilvipastoris, bem como a manutenção da infraestrutura física associada ao desenvolvimento das atividades,
observadas boas práticas agronômicas, sendo vedada a conversão de novas áreas, excetuadas as hipóteses de utilidade
pública e interesse social.

Novamente, Art. 11 trata de regularização de áreas já ocupadas, e deveria estar na seção


correspondente, com a data limite especificada. Os critérios utilizados (“observadas boas
práticas agronômicas”) são bastante subjetivos e criam insegurança jurídica. O artigo poderia
deixar claro que será obrigatória a implementação de práticas que evitem a erosão do solo,
tais como terraços em curva de nível. Além disso, deveria ser verificada a ausência de
degradação dos solos como consequência das atividades já instaladas.

CAPÍTULO III-A: DO USO ECOLOGICAMENTE SUSTENTÁVEL DOS APICUNS


E SALGADOS
CAPÍTULO III-A

DO USO ECOLOGICAMENTE SUSTENTÁVEL DOS APICUNS E SALGADOS


(Incluído pela Medida Provisória nº 571, de 2012).

ART. 11-A
Art. 11-A. A Zona Costeira é patrimônio nacional, nos termos do § 4o do art. 225 da Constituição, devendo sua ocupação e
exploração se dar de modo ecologicamente sustentável. (Incluído pela Medida Provisória nº 571, de 2012).

Difícil de entender o porquê dessa repetição de um preceito constitucional, aplicável outros


biomas, especificamente para a Zona Costeira, adicionada pela MP. Por que a MP não o faz
para todos os biomas que também são patrimônio nacional?
o
§ 1 Os apicuns e salgados podem ser utilizados em atividades de carcinicultura e salinas, desde que observados os
seguintes requisitos: (Incluído pela Medida Provisória nº 571, de 2012).

16
I - área total ocupada em cada Estado não superior a 10% (dez por cento) dessa modalidade de fitofisionomia no bioma
amazônico e a 35% (trinta e cinco por cento) no restante do País, excluídas as ocupações consolidadas que atendam ao
disposto no § 6o; (Incluído pela Medida Provisória nº 571, de 2012).

II - salvaguarda da absoluta integridade dos manguezais arbustivos e dos processos ecológicos essenciais a eles associados,
bem como da sua produtividade biológica e condição de berçário de recursos pesqueiros; (Incluído pela Medida Provisória
nº 571, de 2012).

III - licenciamento da atividade e das instalações pelo órgão ambiental estadual, cientificado o Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - Ibama e, no caso de uso de terrenos de marinha ou outros bens da União,
realizada regularização prévia da titulação perante a União; (Incluído pela Medida Provisória nº 571, de 2012).

IV - recolhimento, tratamento e disposição adequados dos efluentes e resíduos; (Incluído pela Medida Provisória nº 571, de
2012).

V - garantia da manutenção da qualidade da água e do solo, respeitadas as Áreas de Preservação Permanente; e (Incluído
pela Medida Provisória nº 571, de 2012).

V - respeito às atividades tradicionais de sobrevivência das comunidades locais. (Incluído pela Medida Provisória nº 571, de
2012).

§ 2o A licença ambiental, na hipótese deste artigo, será de 5 (cinco) anos, renovável apenas se o empreendedor cumprir as
exigências da legislação ambiental e do próprio licenciamento, mediante comprovação anual inclusive por mídia
fotográfica. (Incluído pela Medida Provisória nº 571, de 2012).

§ 3o São sujeitos à apresentação de Estudo Prévio de Impacto Ambiental - EPIA e Relatório de Impacto Ambiental - RIMA os
novos empreendimentos: (Incluído pela Medida Provisória nº 571, de 2012).

I - com área superior a 50 (cinquenta) hectares, vedada a fragmentação do projeto para ocultar ou camuflar seu porte;
(Incluído pela Medida Provisória nº 571, de 2012).

II - com área de até 50 (cinquenta) hectares, se potencialmente causadores de significativa degradação do meio ambiente;
ou (Incluído pela Medida Provisória nº 571, de 2012).

III - localizados em região com adensamento de empreendimentos de carcinicultura ou salinas cujo impacto afete áreas
comuns. (Incluído pela Medida Provisória nº 571, de 2012).

§ 4o O órgão licenciador competente, mediante decisão motivada, poderá, sem prejuízo das sanções administrativas, civis e
penais cabíveis, bem como do dever de recuperar os danos ambientais causados, alterar as condicionantes e as medidas de
controle e adequação, quando ocorrer: (Incluído pela Medida Provisória nº 571, de 2012).

I - descumprimento ou cumprimento inadequado das condicionantes ou medidas de controle previstas no licenciamento, ou


desobediência às normas aplicáveis; (Incluído pela Medida Provisória nº 571, de 2012).

II - fornecimento de informação falsa, dúbia ou enganosa, inclusive por omissão, em qualquer fase do licenciamento ou
período de validade da licença; ou (Incluído pela Medida Provisória nº 571, de 2012).

III - superveniência de informações sobre riscos ao meio ambiente ou à saúde pública. (Incluído pela Medida Provisória nº
571, de 2012).

§ 5o A ampliação da ocupação de apicuns e salgados respeitará o Zoneamento Ecológico-Econômico da Zona Costeira -


ZEEZOC, com a individualização das áreas ainda passíveis de uso, em escala mínima de 1:10.000, que deverá ser concluído
por cada Estado no prazo máximo de 1 (um) ano a partir da data de publicação desta Lei. (Incluído pela Medida Provisória
nº 571, de 2012).

§ 6o É assegurada a regularização das atividades e empreendimentos de carcinicultura e salinas cuja ocupação e


implantação tenham ocorrido antes de 22 de julho de 2008, desde que o empreendedor, pessoa física ou jurídica, comprove
sua localização em apicum ou salgado e se obrigue, por termo de compromisso, a proteger a integridade dos manguezais
arbustivos adjacentes. (Incluído pela Medida Provisória nº 571, de 2012).

§ 7o É vedada a manutenção, licenciamento ou regularização, em qualquer hipótese ou forma, de ocupação ou exploração


irregular em apicum ou salgado, ressalvadas as exceções previstas neste artigo. (Incluído pela Medida Provisória nº 571, de
2012).

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A MP reintroduziu na nova Lei toda esta passagem, muito criticada pelos ambientalistas e por
parte da comunidade científica quando saiu do Senado, e retirada pela Câmara dos Deputados.
Um problema é que os limites de ocupação são dados por Estado: como isso se transforma em
limites aos empreendimentos individuais? Um outro aspecto é que a regularização prévia dos
terrenos de marinha com titulação perante a União parece bastante difícil (o que pode ser
bom para a conservação). Por outro lado, este assunto não era tratado pela Lei 4771 5.

CONSIDERAÇÕES SOBRE ESTA VERSÃO PRELIMINAR


Até este ponto, a nova Lei traz vários avanços e alguns problemas sérios. Os grandes
problemas estão relacionados com a consolidação de áreas e seus critérios. O critério mais
problemático é a definição de pequena propriedade ou posse em termos de área relacionada
com o módulo fiscal rural. A nova Lei deveria buscar o tratamento diferenciado dos pequenos
produtores e não das pequenas propriedades:

Podem ser várias pequenas propriedades de um só dono, sendo na prática uma grande
propriedade. Assim, se um produtor tiver três pequenas propriedades na Amazônia
com até quatro módulos fiscais, pode ter em sua posse mais de 1200 hectares que são
tratados como pequena propriedade.

Podem não ser de produtor rural, e servir apenas para o lazer.

Assim, para fazer jus aos benefícios da nova Lei, o pequeno produtor deveria ter que se
apresentar como tal, tendo só uma pequena propriedade (até o tamanho definido)6, e tendo
produção agropecuária. Além disso, o módulo rural não expressa um critério ecológico, nem
limita obrigatoriamente o espaço disponível para a conservação numa propriedade, sendo
somente uma relação entre a área disponível para atividades e as condições econômicas onde
está localizada a propriedade.

Outros problemas desta parte dizem respeito a várias passagens em que se está regularizando
áreas que foram ocupadas de forma ilegal, sem prazo ou data de corte como em geral a nova
Lei o faz. Essas passagens deveriam, no mínimo, ser transferidas para a seção que trata da
regularização da propriedade rural, e ter definidos critérios e meios de verificação. Isto é, isso
em caso de se julgar importante a regularização dessas situações (nem sempre o caso).

A equipe da Nave Terra segue com a análise do Código, que será apresentada no Volume II
desta publicação (que poderá ser consolidada em um único volume na sua versão final), e
disponibiliza uma tabela comparativa da nova Lei coma Lei 4771, trecho a trecho, incluindo as
referências às resoluções Conama pertinentes. Interessados, podem solicitar outras
informações e recebimento dos produtos futuros pelo e-mail ronaldo@naveterra.net.

Conheça mais sobre a Nave Terra em www.naveterra.net.

5
Entretanto, é um capítulo tão extenso que talvez merecesse sua própria lei.
6
Mesmo isso poderia ser burlado por meio de “laranjas”.

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