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30/12/2008

Teologia da destruição
O conflito entre palestinos e israelenses entrou de novo em erupção, cuspindo fogo e sangue nos
dois lados do muro, principalmente no lado mais fraco militarmente, o palestino.

O choque atual era tão previsível quanto inevitável.

Após quase 40 anos sob a opressiva ocupação israelense e a corrupta e ineficiente liderança de
Arafat, os desesperados palestinos de Gaza entregaram seu destino a Deus, ou melhor, ao grupo
local que diz falar em nome dele, o Hamas.

E o suposto representante de Deus cobra sangue e morte. Quer transformar (e o faz nestes dias
com grande sucesso) todo palestino em mártir na luta para libertar a Terra Santa dos infiéis.

O grupo palestino segue seu irmão mais velho e poderoso, o Hizbollah, que adotou agenda que
interessa mais a seus patronos no Irã e na Síria que a seus conterrâneos e transformou os libaneses
em mártires sem consultá-los ao atacar Israel e depois vender o conflito como uma vitória
grandiosa e divina apesar de o Líbano que alega defender ter sido devastado pela resposta
israelense!

É uma lógica tão ilógica quanto invencível, pois morrer é vencer em nome desse Deus que
supostamente recompensa com dezenas de virgens no paraíso homens-bomba que se explodem em
pizzarias e ônibus.

Assim, o Hamas disse neste mês que não renovaria o cessar-fogo com Israel. E passou a lançar
diariamente de Gaza dezenas de foguetes contra cidades israelenses aos gritos já familiares de
Deus é grande.

O governo israelense alertou durante dias que responderia com força letal se a barragem diária de
foguetes lançada de Gaza não cessasse. E a força letal agra usada acaba apenas fomentando mais
radicalismo entre a população palestina, o que o Hamas explora a la Hizbollah, com cinismo
exemplar.

É o que vemos agora. Uma repetição extrema dos ciclos de ataques e contra-ataques que há
décadas infernizam israelenses e palestinos e realimentam a guerra.

O pior é que a solução para o problema é evidente a todos os interessados de fato na paz: a criação
de um Estado palestino viável em Gaza, Cisjordânia e partes árabes de Jerusalém que conviva em
paz e segurança com o Estado de Israel.

Mas o extremismo islâmico seqüestrou a agenda palestina e não aceita a convivência com Israel. E,
ironia sem graça da história, com o apoio crescente da esquerda global, numa aliança de forças tão
contraditórias que só um anti-semitismo latente travestido de anti-sionismo raivoso pode explicar.

Não se deixe enganar. Para haver paz no Oriente Médio é preciso ouvir as vozes conciliadoras em
meio aos gritos de guerra. É um conflito onde os oponentes são ao mesmo tempo vítimas e algozes.
A única forma de resolvê-lo é apoiar os moderados dos dois lados e combater os radicais.

O resto é teologia da destruição ou ingenuidade.


Sérgio Malbergier é editor do caderno Dinheiro da Folha de S. Paulo. Foi editor do
caderno Mundo (2000-2004), correspondente em Londres (1994) e enviado especial a países
como Iraque, Israel e Venezuela, entre outros. Dirigiu dois curta-metragens, "A Árvore"
(1986) e "Carô no Inferno" (1987). Escreve para a Folha Online às quintas.
E-mail: smalberg@uol.com.br

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