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da
Responsabilidade
• A responsabilidade civil consiste na necessidade
imposta a quem transgride as suas obrigações,
adoptando comportamento diverso do que lhe era
prescrito, e por tal forma causa prejuízo ao titular do
correspondente interesse tutelado pela ordem jurídica,
de colocar à sua custa o ofendido no estado em que ele
se encontraria se não fosse a lesão sofrida
• Por regra, os prejuízos, os danos, correm por conta de quem os
sofre – só excepcionalmente o lesado pode responsabilizar
terceiro pela verificação de alguma lesão. É uma aplicação de
um antigo princípio: ubi commoda, ibi incommoda. Daí, por
exemplo, a razão de ser do disposto no art. 796º do Cód.Civil.
Contratual
Extracontratual
Pré-contratual
• A responsabilidade contratual ocorre sempre que preexista uma
relação jurídica obrigacional e aquele que nesta ocupa a posição de
devedor não cumpra pontualmente
• Por isso:
i) Só devem admitir-se nos casos previstos na lei (princípio da
taxatividade das penas e medidas de segurança)
ii) Só podem ser atribuídos em processo penal pois só aí estão
instituídas garantias processuais com o nível exigido pela Constituição
A imposição da obrigação de prestar punitive ou exemplary damages depende da
verificação das seguintes condições :
(I) deve provar-se que o devedor/lesante merece ser punido por ter
cometido determinado tort;
(II) deve provar-se igualmente que não sendo imposta tal obrigação a
conduta do mesmo não é adequadamente punida;
(III) por fim, supõe-se que o tortfeasor tenha levado a cabo uma “extreme
and outrageous conduct” (isto é, tenha actuado de um modo
manifestamente censurável – v.g. mesmo conhecendo a ilicitude da sua
conduta, preferiu realizá-la e sujeitar-se à eventual obrigação de
indemnizar pelos inerentes compensatory damages, por, mesmo assim, tal
lhe ser economicamente mais vantajoso do que omitir semelhante
comportamento)
• Na compensação pelos danos pessoais deve conceder-se que a
remissão para a equidade realizada pelo art. 496º do Cód.Civil
implica naturalmente, na operação de conversão em dinheiro dos
danos não patrimoniais, uma certa dose de arbitrariedade
Imputável ao
devedor
Objectivamente
Subjectivamente
(v.g. 800º)
Não imputável
ao devedor
• Como a responsabilidade contratual pressupõe a existência de uma
relação jurídica anterior, é concebível que o não cumprimento da
obrigação daí decorrente para o respectivo sujeito passivo possa ficar
a dever-se tanto a uma conduta que lhe é atribuível, como a um facto
natural, a um comportamento imputável a um terceiro ou,
inclusivamente, a uma conduta da autoria do próprio credor.
Com culpa
(art. 483º/nº1)
Independente
de culpa
(art. 483º/nº2)
Por factos
Pelo risco
lícitos
• A culpa, como adiante se dirá, é um juízo de censurabilidade de que a
conduta de certa pessoa é susceptível por, na realização dessa
conduta, ter revelado certa atitude quando podia e devia ter
revelado outra.
Directa
1.
• Especialidades:
• 1ª - quando exista responsabilidade indirecta
• 2ª: quando exista comparticipação
• Autoria:
Conduta lesiva
Ilicitude
Causas de exclusão da
ilicitude
Culpabilidade (imputação
subjectiva)
Consciência da
Imputabilidade Exigibilidade
ilicitude
Causas de
desculpabilidade
Dano
• Conduta lesiva
Antes de mais, é necessário que o dano indemnizável seja o
produto de uma conduta imputável a alguém
Uma vez que é sobre a referida conduta que assenta o juízo de
ilicitude e de culpa, ela deve ser objectivamente dominável ou
controlável pela vontade humana
• Mas, sobretudo, para engendrar o dano, importa não o grau de perigo a que
se deu causa mas a aptidão para o efeito daquele que concretamente se
produziu. Por outras palavras, o que interessa é adequação entre a conduta
tal qual foi executada (independentemente da quantidade de risco que,
mediante ela, o agente aportou) e o seu resultado.
• que o dano resulte da transgressão de uma norma legal, o que significa que se
torna necessário demonstrar a respectiva existência e não apenas que certo
interesse foi lesado;
• que o referido interesse faça parte dos fins da norma violada, o que traduz a ideia
de que se deve tratar de um interesse directamente protegido por tal norma e
não de uma tutela meramente reflexa;
• que a lesão se efetive no próprio bem jurídico ou interesse privado que a lei
tutela.
• A fórmula “direito de outrem ou qualquer disposição
legal destinada a proteger interesses alheios” utilizada
pelo nº1 do art. 483º do Cód.Civil deve entender-se
como uma expressão única sem distinção de partes
- Objectiva
originária - Subjectiva
- Definitiva
Impossibilidade
- Temporária
superveniente - Total
- Parcial
Se imputável definitiva:
Resolução ou manutenção do vínculo Se não imputável definitiva:
+ Extingue a obrigação
Indemnização
Se imputável provisória:
Manutenção do vínculo
+ Se não imputável provisória:
Indemnização Mantém a obrigação
+
Inversão do risco
+
Conversão em definitiva
• É objectiva e subjectiva consoante se refira
predominantemente à pessoa que deve efectuar a prestação
ou sobretudo à própria prestação (mas só releva no não
imputável)
Gerais
Cumprimento de um dever
Causas
de exclusão Legítima defesa
da ilicitude
Acção directa
Consentimento do lesado
Excepção do não
cumprimento (428º)
Específicas
da responsabilidade
contratual
Direito de
retenção (754º)
• A) Exercício de um direito
• Importa que o titular exercente:
- não esteja em abuso do direito
- não esteja a colidir com um direito perante o qual deva ceder
• B) Cumprimento de um dever
Desde que:
- o dever exista
- esteja ou não em conflito com outro dever da mesma pessoa e
- o dano causado não seja manifestamente superior ao
salvaguardado pelo cumprimento do dever
• 1. Legítima defesa:
• São pressupostos, ou seja, elementos caracterizadores do modelo legítima defesa: (i)
uma agressão (ii) atual e (iii) ilícita (iv) a direitos do agente ou de terceiro (v) que não
possa ser repelida com eficácia mediante a tutela pública.
• São parâmetros da sua procedência (i) a necessidade e (ii) a adequação da resposta.
• V.g. Smith vs Charles Baker & Sons : Joseph Smith foi contratado para operar
uma broca numa pedreira; na sua proximidade, para servir um outro
conjunto de trabalhadores que talhava pedras, usava-se um guindaste a
vapor o qual, frequentemente, as balouçava sobre a cabeça de quem se
encontrasse por baixo; numa ocasião, uma das referidas pedras soltou-se e
caiu sobre o plaintiff causando-lhe graves ferimentos.
Culpa
• (iii) terceiro: o mesmo regime que se institui para os actos dispositivos há-de
estender-se, por igualdade de razão, aos actos de cumprimento que se cifrem na
realização de um negócio jurídico (v.g. outorga de contrato-promessa). Pelo que
o cumprimento que represente acto de administração mas que não se cifre num
acto material ou numa omissão fica submetido ao mesmo regime do acto de
cumprimento que tenha natureza dispositiva.
Consciência da ilicitude
• Ainda que o agente tenha capacidade para “entender ou querer”,
a conduta lesiva pode não ser susceptível de reprovação na
medida em que aquele seja, desculpavelmente, desconhecedor da
ilicitude por:
• 1. o agente desconhecer certa proibição ou interdição (v.g.
proibição eticamente incolor)
• 2. o agente possuir “todo o conhecimento razoavelmente
indispensável para tomar consciência da ilicitude do facto” e
todavia não o ter alcançado (v.g. suposição errónea sobre a
existência de certa causa de exclusão da ilicitude – v.g. aborto que
era crime na antiga Berlim Ocidental mas não em Berlim Oriental)
• Assim, o agente actua censuravelmente apenas se teve a
possibilidade de determinar-se segundo o que é Direito - o que
pressupõe a susceptibilidade genérica de tomar conhecimento
sobre a ilicitude do facto
Censurabilidade
• Regras gerais:
- Por um lado, no que toca aos danos indemnizáveis, permanecem as
regras gerais constantes dos arts. 562º a 572º do Cód.Civil, salvo se a
lei, para algum modelo particular, instituir normas especiais – como
sucede, por exemplo, no âmbito do disposto no art. 504º do Cód.Civil
- No que respeita aos titulares do direito à indemnização, estendem-
se novamente as regras aplicáveis à responsabilidade subjectiva, a
menos que cânones específicos tenham sido instaurados – como
sucede, outra vez por exemplo, com o referido art. 504º do Cód.Civil
• É no que concerne ao nexo de causalidade que
especialidades de maior monta podem surgir – ainda
que esteja razoavelmente assente que na
responsabilidade objectiva importa apenas determinar
se o dano concretamente ocorrido está (ou não) dentro
do domínio dos riscos imputáveis a alguém
• Pelo que se deve operar aqui também com a
causalidade adequada mas na sua formulação positiva
Responsabilidade do comitente
• Pressupostos
• 1. Para que de um comitente se possa falar é necessário que
exista um comissário e, por isso, uma relação de comissão
entre ambos
• Uma relação de comissão é uma qualquer relação da qual
resulte uma subordinação daquele que é encarregue do
exercício de uma função àquele que disso o encarrega
• Em segundo lugar, é indispensável que o comissário
tenha causado um dano a terceiro “no exercício da
função que lhe foi confiada” (distinguindo-se detour and frolic?)
• É indispensável ainda que sobre o comissário “recaia
também a obrigação de indemnizar”
• O comitente responde objectivamente perante terceiro
pela indemnização que ao comissário cabe também
realizar - na verdade, ambos respondem solidariamente
(art. 497º, por força do disposto no art. 499º, ambos do
Cód.Civil)
• O comitente responde, porém, como garante, isto é,
assegurando ao terceiro lesado a indemnização devida
pela conduta lesiva do comissário
• Se apenas a conduta do comitente for censurável, a
responsabilização deste dá-se nos termos gerais da
responsabilidade extracontratual (art. 483º/nº1) -a
censurabilidade da actuação do comitente pode
revelar-se, por exemplo, na designação do comissário
(culpa in eligendo), nas instruções que lhe tenha dado
(culpa in instruendo) ou na vigilância da sua actuação
(culpa in vigilando)
• As regras relativas à responsabilização do comitente são
extensíveis à responsabilização do Estado ou de outras
pessoas colectivas públicas por actos de gestão privada
praticados pelos seus órgãos, agentes ou representantes
• Noção de produtor:
• 1. O fabricante do produto, de uma parte componente ou
matéria-prima
• 2. Quem se apresente como fabricante através da aposição
do nome, marca ou outro sinal distintivo (fabricante
aparente)
• 3. Aquele que, no exercício da sua actividade comercial,
distribua na União Europeia produtos fabricados no exterior
• 4. Qualquer fornecedor de produto quando o respectivo
produtor ou importador não estiver identificado
• Noção de produto:
- qualquer coisa, originária e naturalmente, móvel (artigo 3º)
ainda que integrada em outra coisa móvel ou imóvel.
- dizendo-se coisa originária e naturalmente móvel, daí decorre
que se aplica o regime da responsabilidade do produtor mesmo
quando ela tenha sido incorporada num imóvel (seja a título de parte
integrante, seja a título de parte componente – artigo 408º/n.º 2,
Cód.Civil), imobilizando-se por associação a este último (artigo
204º/n.º 3, Cód.Civil).
• Noção de defeito:
a falta da segurança esperada tendo em conta, nomeadamente:
– a apresentação do produto;
– a sua função típica;
– o momento da sua entrada em circulação.